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Polidactil ia pós-axial e miopia progressiva Postaxial polydactyly and progressive myopia Rita Cristina M. R. Moura Ana Beatriz A. Perez Clélia M. Erwenne M. F. Galera Décio Brunoni. Depento de Oftalmologia e Dciplina de Genéti- da Escola Paulista de Medicina, São Paulo, S. P., Brasil. ARQ. BRAS. OAL. 57(3), NHO/1994 RUMO o presente trabalho apresenta três casos d e associação de miopia prog res- siva com polid actili a pós-axial, sendo que dois são irmão s do sexo masculino, filhos de casal não consanguí neo e o t erc eiro caso é de uma menina filha de p ais consanguíneos. Verific ou-se na lit eratu ra apen as um relato, d e Czeizel e Brooser, em 1986, em qu e é d escrita a mes ma associaçã o de def eitos, transmi tindo-se em quatro geraçõ es de forma aut ossômica do minante. Acre- ditamos que n osso s pacient es apresentam a mesma síndrome, porém nesta s duas f amíli as exi stem indícios de qu e a transmissão oc orra de forma autossô m ica recessiva. Palavrashave: Polidacli lia pós-axi al: Miopi a progressiva. INTRODUÇÃO Polidacti lia pós-axial caracteriza-se pela presença de wn dedo extra-Ilwne - rio d istalmente ao prime iro dedo. Miopia progressiv a e polidactil ia pós- axial associ adas têm sido descrit as como a nova síndrome ge nética. Há somente o caso de wna f amíli a descrito anteriormente (CZEIZEL). O objetivo de nosso trabalho é apresentar três c a- sos de duas famílias, onde estas mal- formações associ adas também foram encontradas. RELATO DOS CASOS Família 1: -1 A. M. R., 16 anos, sexo masculino, pa is jovens, não consan- guíneos, gestação e p arto sem in- tercoênci, diagnosticada ao nasci- mento polidac til ia em mão e pé direi- tos. Desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) adequado, miopi a progressiva diagnost icada em idade pré- escolar. Exame sico: P eso, altur a e períme- tro cefálico (P, A e PC) proporci onais à ida de, pal ato alto, depressão est emal, polidact ilia pós- axial em mão e pé di- 2 RMÁIS POUDACTlUA E MIOPI A REFERI COMO ALTA MIOPIA Gráfico 1 - Heredograma da família 1. 205 http://dx.doi.org/10.5935/0004-2749.19940049

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Polidactilia pós-axial e miopia progressiva

Postaxial polydactyly and progressive myopia

Rita Cristina M. R. Moura Ana Beatriz A. Perez Clélia M. Erwenne M. F. Galera Décio Brunoni.

Departamento de Oftalmologia e Disciplina de Genéti­ca da Escola Paulista de Medicina, São Paulo, S. P., Brasil.

ARQ. BRAS. OITAL. 57(3), JUNHO/1 994

RESUMO

o presente trabalho apresenta três casos de associação de miopia progres­siva com polidactilia pós-axial, sendo que dois são irmãos do sexo m ascul ino, filhos de casal não consanguíneo e o terceiro caso é de uma menina filha de pais consanguíneos. Verificou-se na literatura apenas um relato, de Czeizel e Brooser, em 1986, em que é descrita a m esma associação de defeitos, transmitindo-se em quatro gerações de forma autossôm ica dominante. Acre­ditamos que nossos pacientes apresentam a mesma síndrome, porém nestas duas famílias existem indícios de que a transm issão ocorra de forma autossôm ica recessiva.

Palavras-chave: Polidacli l ia pós-axial: Miopia progressiva.

INTRODUÇÃO

Polidacti l ia pós-axial caracteriza-se pela presença de wn dedo extra-Ilwne­rário d i stalmente ao prime iro dedo. Miopia progressiva e pol idacti l ia pós­ax ial associadas têm sido descritas como uma nova síndrome genética. Há somente o caso de wna família descrito anteriormente (CZEIZEL) . O obj et ivo de nosso trabalho é apresentar três ca­sos de duas famíl ias , onde estas mal­formações associadas também foram encontradas.

RELATO DOS CASOS

Família 1: Il-1 A. M. R . , 1 6 anos, sexomasculino, pais jovens, não consan­guíneos , gestação e parto sem in­tercorrências, diagnosticada ao nasci­mento polidactilia em mão e pé direi­tos. Desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) adequado, m iopia progressiva

diagnosticada em idade pré-escolar. Exame físico: Peso, al tura e períme­

tro cefálico (P, A e PC) proporcionais à idade , palato alto, depressão e stemal, polidact i l ia pós-axial em m ão e pé d i-

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NORMÁIS POUDACTlUA E MIOPIA

REFERIDO COMO ALTA MIOPIA

Gráfico 1 - Heredograma da família 1 .

205 http://dx.doi.org/10.5935/0004-2749.19940049

HEREDOGRAIIA • FAIIIUA 2

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IV

o REFERIDOS COMO NORMAIS

Gráfico 2 - Heredograma da família 2.

re itos (tipo IA); ou seja, dedo extra nu­merário totalmente desenvolvido late­ralmente ao quinto dedo em mão e pé direitos (polidacti l ia pós-axial tipo IA).

Exame oftalmológico : Nistagmo ho­rizontal manifesto em ambos os olhos, desvio convergente, hipertropia de olho

Figura 1 - Polidactilia pós-axial t ipo 1 A.

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Polidactilia pós-axial e miopia progressiva

esquerdo (OE) sobre o olho direito (00), fundo de olho apresentando cres­cente miópico e rarefação difusa do epitél io pigmentar da retina em anlbos os olhos (AO) e discreta palidez de papila em 00. Refração 00 = - 1 9,00 dioptrias esféricas e OE = - 1 8 ,00 dioptrias esféricas.

Comprimento axial medido por ultrassonografía A: 00 = 29 .96 mm e OE = 29,89 mm. Biomicroscopia e to­nometria de aplanação : dentro da nor­malidade em am bos os olhos.

Fall1 l1iaI : 1I-2 - R. A. B . , 14 anos , sexo masculino, innão do caso 1 , gestação e parto sem intercorrências , d iagnos­ticada ao nascimento polidact il ia nas duas mãos e em pé d ire ito . DNPM ade­quado, m iopia progressiva diagnos­ticada em idade pré-escolar.

Exame fisico: P, A e PC nonnais para a idade, pol idacti lia pós-axial nas duas mãos e em pé dire ito (t ipo IA) .

Exame oftalmológico: Nistagmo ho­rizontal manifesto, ausência de desvio ocular, fundo de olho apresentando crescente miópico, rarefação difusa do epitélio pigmentar da ret ina, papi las

nonnais AO. Refração: 00 = - 8 ,00 dioptrias es­

féricas e OE = - 9,00 dioptrias esfé­ricas.

Comprimento axial medido por ul­trassonografia A: OD = 25,93mm e OE = 26,63 mm . Biom icroscopia e to­nometria de aplanação dentro da anor­malidade em ambos os olhos.

Família 2: IV-2 - P. A. N. , 6 anos, sexo fem ini no , gestação e parto sem iu­tercorrências, pais j ovens . Polidactilia nos dois pés, diagnosticada ao nasci­mento , operada aos 4 anos. Miopia pro­gress i va d iagnost icada aos 4 anos . DNPM adequado para a idade.

Exame físico: P , A e PC nonnais para a idade, raiz nasal deprimida, c i­catriz cirúrgica em ambos os pés para correção de polidact i l ia pós-axial (tipo IA) .

Exanle oftalmológi co : Exame exter­no sem alterações . Fundo de olho mos­trando rare fação do epitélio pigmentar da retina e papi las discretamente páli­das em AO.

Refração : 00 = - 1 0 ,00 dioptrias es­féricas e OE = - 1 0 , 0 0 dioptrias esféri­cas.

Compr i m ento ax ia l m e d i do por ultrassonografía A : 00 = 26 .9 8mm e OE = 27 , 1 7mm

DIscussAo

A associação de pol idactil ia com miopia progressiva foi observada em 1 9 86, por Czeizel & Brooser. Os auto­res relataram o caso de wna menina de 1 0 anos de idade com polidactilia nas mãos e nos pés e miopia leve, detenni­nando um padrão de herança autos­sômica dominante em quatro gerações desta fam ília.

A pol idactilia descrita nestes casos é do tipo IB (dedos não articulados ou apêndices) e o exame oftalmológico em indivíduos desta família, com idades variadas, mostrou que a miopia ini­ciava-se na idade escolar e evoluia de fonna progressiva, com lesões de fundo

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Figura 2 - Polidact il ia pós-axial tipo l A (radiografia).

de olho, caracterizando uma correlação óbvia entre a idade e a severidade do comprometimento ocular.

Descreveremos duas famíl ias em que observamos miopia, aparentemente progressiva. Na primeira família o afe­tado com mais idade tinha miopia mais severa que o seu innão mais novo . Co­mo não se examinou afetados de gera­ções anteriores, não temos parâmetros para diagnósti co de outras alterações degenerativas. A polidact i l ia encontra­da nos três casos foi do tipo IA. Na família I é referido wn tio paterno por-

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Polidaclilia pós-axial e miopia progressiva

tador de miopia severa e na famíl ia 2 ,

wna tia-avó materna com polidacti l ia nas mãos e nos pés e miopia muito se­vera, que não puderam ser examinados .

Na análi se da genealogia da famí l ia I o padrão de herança autossômico do­mimUlte com penetrância incompleta é possível , porém pelo fato dos pais de ambas as famíl ias serem normai s não permi te descartar o autossômico re­cessivo.

Na família 2 a consaguinidade pa­rental é dado fortemente sugesti vo de herança autossômica recessiva.

CONCLUSÃO

o relato destes 3 casos vem corrobo­rar para a caracterização dessa associa­ção como uma síndrome que é descrita com o t ipo de herança pro váve l autossômico dominante , porém que pode apresentar expressividade variá­vel ou mesmo heterogeneidade genéti­ca, já que uma de nossas famíl ias está se portando provavelmente como de herança recessiva.

SUMMARY

Postaxial polydactyly and

progressive myopia syndrome was described as a nel\' syn dro me. Th is

paper repores 3 cases of this associalion. Two of them were brochers with normal parents and che ochers had consanguinity among parents. These two e vidences suggesls an autossomal recessive inheritance.

There is only one similar paper in

lhe literall lre that sllggests an a l l tossomal dom inam origino

REFERÊ�CIAS BIBLIOGRÁ FICAS

CZEIZEL & B R OOSER - A postax i a l p o l y­

dact y l y and progressive m yopia s yn drome o f

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2 TBITAMY. A . & MCKUSIK V. A. - T h e

Genetirs o f H a n d Mal formations. B i rt h Defects:

Orig inal Al1 ic les Scries, Vol u m e XIV, ;-';ulllbcr 3, 1 97 8. Edi tor Daniel B ergsma . Alan R . L i ss , In c . ,

Ncw York. P a g 366-372.

CIISHHO B il u S l l E i ú u D E G f HLL � C L O G \ � CGC 48.939.250íOOOl-18

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