Pobres negociações: consumidor e anunciante que já não discutem tanto
Click here to load reader
-
Upload
fernando-carvalho-tabone -
Category
Documents
-
view
460 -
download
0
description
Transcript of Pobres negociações: consumidor e anunciante que já não discutem tanto
Fernando Carvalho Tabone
USP 6805440
Pobres negociações: consumidor e anunciante que já não discutem tanto
Resenha do livro de João Anzanello Carrascoza, “Razão e sensibilidade no
texto publicitário”.
Trabalho apresentado como requisito
parcial para conclusão da disciplina
Redação Publicitária II, ministrada no
Departamento de Publicidade e
Propaganda, da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo.
Prof. Dr. João Anzanello Carrascoza
São Paulo
Setembro/2012
Obviamente, não é uma obra levezinha e sintética, assim como não é levezinho
e sintético o próprio nome do autor.
Washington Olivetto, prefácio do livro.
Introdução (informal e longe da ABNT)
Primeiro: transformar o banal em algo importante, divertido e marcante.
Segundo: convencimento de compra para os que procuram e que não
procuram motivos.
Com dois anos de experiência no mercado publicitário, e após quatro anos do
curso de graduação em Publicidade e Propaganda, quando preciso definir para
alguém o que é Publicidade, são com esses dois pontos que começo a
conversa. Talvez os mais experientes diriam que, na verdade, em ordem de
importância, o segundo ponto vem na frente primeiro. Mas, insisto em deixar
assim, pois é justamente nessa controvérsia que almejo focar a discussão
deste trabalho. Na minha humilde percepção, a propaganda tem veiculado
preponderantemente anúncios que buscam muito mais atrair o consumidor
para marca ou produto, demonstrando relevância, do que simplesmente
convencer com argumentos lógicos que o produto “x” é melhor que o “y”.
Concomitantemente, faço deste trabalho uma pequena resenha da obra
“Razão e sensibilidade no texto publicitário”, de João Anzanello Carrascoza.
Concordo com Washington Olivetto quando este diz que trata-se de uma que
não é “levezinha”. O autor demonstra vasto repertório de vocabulário e
referências de outros autores, o que certamente obriga ao mais culto leitor
pausar por diversas vezes para reler alguns trechos a fim de compreendê-los
melhor. No entanto, discordo profundamente quando Olivetto diz que a obra
não é sintética. Creio que um dos pontos altos do livro seja sua concisão.
Conteúdo objetivo e sintético contrapondo ao peso das palavras e referências.
Em, praticamente, menos de 100 páginas, o autor nos apresenta sua teorias
sobre os tipos de texto publicitário Apolínio e Dionisíaco. São dois conceitos
bastante abrangentes, que contemplam toda produção textual na publicidade,
apresentados em poucas páginas recheadas de exemplos de peças
publicitárias.
Muito pouca roupa no mercado
Logo nos primeiros parágrafos, o autor desenvolve a origem da palavra texto,
que, segundo o próprio, “provém do latim texus e significa tecido” (p.15). A
partir deste significado, Carrascoza faz uma analogia da criação do texto
publicitário como a criação de uma veste para a mensagem. Se a “’propaganda
é a alma do negócio’, é lícito dizer que o texto publicitário constitui o tecido que
reveste a alma da marca”.
Podemos dizer, portanto, que a “roupa da mensagem” deva ser específica para
cada público alvo. Se, por exemplo, a mensagem é para um publico das
classes A e B, entre 25 e 40 anos, talvez a linguagem possa ser mais culta e
rebuscada, e, se a mensagem é para um público das classes C e D, entre 18 e
25 anos, a linguagem provavelmente deva ser mais simples e objetiva.
Além do “tipo de roupa”, também podemos considerar na mensagem a variável
“quantidade de roupa”, consistindo, basicamente, em ter muito ou pouco texto
no anúncio. Uma estrutura padrão para redação de um anúncio publicitário
contempla Título, Subtítulo, Argumentos, etc. Claro que esta estrutura não é
uma regra, é comum encontrarmos grande variação, mas, é interessante
observar como os anúncios atualmente estão com “pouca roupa”, ou seja,
ignoram esta estrutura, apresentando muitas vezes apena uma proposição,
que as vezes não se enquadra nem mesmo como título, apenas como uma
mera tradução da imagem.
O seguinte anúncio, do perfume masculino da Boticário, Malbec, demonstra a
opção criativa por utilizar pouco texto, bastante simples, facilitando rápida
interpretação do leitor. Ressaltando que o público alvo da linha de perfumes, é
justamente a classe C e D, homens, aproximadamente entre 25 e 40 anos.
Este anúncio, revela também, em pouco texto, outra tendência, que é a de em
poucas palavras, almejar transmitir o máximo de sentido.
No texto “Homens marcantes usam Malbec. Os outros, não sabemos, porque
não prestamos atenção”, com menos de 140 caracteres, ou seja, o suficiente
para caber em um post do microblog Twitter, o redator conseguiu expressar a
voz do anunciante, afirmando que “Homens marcantes usam Malbec.”, um
argumento de valor Utópico, segundo o Quadrado Semiótico de Floch (p. 27) e
na sequência, surpreendendo, expressou uma personagem feminina,
reforçando o argumento. Operou nos dois campos da função hedônica (p. 26),
o primeiro estético (fazer saber, que “Homens marcantes usam Malbec”) e o
segundo místico (fazer crer, através da voz feminina dizendo “Os outros, não
sabemos, porque não prestamos atenção”).
Obviamente, seguindo o padrão de anúncios do segmento de perfumes,
trabalhou no campo Dionisíaco, já que segundo Carrascoza, “a linha dionisíaca
explora mais a valorização utópica (a vida, a aventura etc.) e a lúdica (o luxo,
os caprichos etc.).” (p. 27).
Esfriando as negociações
O autor traz a tona a teoria de McLuhan sobre mensagem “fria” e “quente” (p.
37), na qual, basicamente, mensagens “quentes” são as que transmitem alta
quantidade de informação, e “frias”, as que transmitem pouca informação,
facilitando o entendimento ao destinatário. Seguindo a linha de anúncios com
pouco texto, é praticamente direta a também a conclusão de que as
mensagens estão mais frias.
Abaixo o exemplo de um anúncio do segmento de Higiene, especificamente
produtos para cuidado bucal (pasta de dente), no qual o padrão seria utilizar
argumentos de valores mais Práticos (segundo o Quadro Semiótico de Floch),
no entanto, é um anúncio frio, com pouco texto, ressaltando apenas o endosso
ao produto da atleta olímpica e do dentista credenciado.
Portanto, verificando a utilização recorrente de pouco texto, na maior parte dos
casos de mensagens frias, podemos perceber além da simples preferência
pela utilização do discurso Dionisíaco, o empobrecimento das negociações
entre anunciante e consumidor através dos anúncios.
Se anteriormente as negociações se davam predominantemente por parte da
utilização de argumentos lógicos e do convencimento racional, hoje,
predomina-se os argumentos lúdicos e a opção pelo convencimento emocional.