Plantas antiofídicas

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Plantas Antiofídicas Cerca de 20.000 acidentes ofídicos ocorrem por ano no Brasil, e destes casos 0,4% chegam ao óbito. Muitos efeitos colaterais são atribuídos à soroterapia, uma vez que, são administrados anticorpos estranhos ao nosso organismo. Há ainda, a difícil neutralização da lesão tecidual local no envenenamento provocado por serpentes do gênero Bothrops sp. e Crotalus sp. Na busca por terapias alternativas complementares e mais econômicas recorre-se ao uso de plantas medicinais. A utilização de extratos vegetais é comum em locais onde o acesso à soroterapia se torna demorado ou quase impossível. A flora brasileira possui uma ampla variedade de plantas medicinais com potencial antiofídico. Muitas espécies da flora brasileira são pouco estudadas quanto à avaliação da eficácia e dos efeitos terapêuticos de extratos brutos vegetais e compostos isolados. Uma dessas plantas é a espécie Serjania erecta Radlk, conhecida popularmente como “retrato de teiú” e “cipó cinco folhas”, pertencente á família das Sapindaceas. Em estudo anterior foi realizada a detecção de metabólitos secundários de interesse farmacológico, como flavonóides e saponinas. Até hoje não foi realizado nenhum estudo avaliando o potencial antiofídico desta espécie vegetal. Outra espécie da mesma família, Sapindus saponaria L., comumente denominada saboneteira, morcegueira ou cassiteira é caracterizada como um complexo químico com diversas atividades e ações farmacológicas devido a presença de lipídeos, flavonóides e saponinas. Outra espécie vegetal é a Schizolobium parahyba, conhecida popularmente como guapuruvú; e umbela;, pertencente á família Caesalpinoideae e que é usada na forma de chá e infusão no tratamento de acidentes ofídicos. Desde o ponto de vista biotecnológico é interessante o uso de cultura de células vegetais para a obtenção de compostos biologicamente ativos, uma vez que essa produção independente de condições climáticas e ambientais. Até hoje não foi realizado nenhum estudo avaliando o potencial antiofídico destas espécies vegetais, bem como de seus compostos isolados. A obtenção de cultura de células vegetais destas espécies é algo inédito, assim como o estudo de seu potencial farmacológico. Neste estudo será realizado a avaliação da atividade inibitória dos extratos vegetais, das frações e dos compostos isolados de Serjania erecta (in natura e in vitro), Sapindus saponaria (in natura e in vitro) e Schizolobium parahyba (in natura) sobre os efeitos tóxicos e farmacológicos induzidos pelas peçonhas de serpentes do gênero Bothrops e Crotalus, além de proteínas isoladas, a fim de verificar seu potencial antiofídico. Também serão realizados estudos estruturais de interação molecular entre a toxina e seus inibidores através de técnicas experimentais de co-cristalização ou simulação molecular computacional. (AU) Os envenenamentos ofídicos constituem um problema relevante de saúde pública em diversas regiões do mundo, particularmente em países da zona tropical e neotropical. A fisiopatologia do acidente ofídico é constituída por uma série de eventos complexos tanto a nível local quanto sistêmico, e o soro antiofídico é o único tratamento utilizado. No entanto, os efeitos tóxicos locais induzidos durante

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ensaios atuais sobre ervas antiofídicas

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Plantas Antiofídicas

Cerca de 20.000 acidentes ofídicos ocorrem por ano no Brasil, e destes casos 0,4% chegam ao óbito. Muitos efeitos colaterais são atribuídos à soroterapia, uma vez que, são administrados anticorpos estranhos ao nosso organismo. Há ainda, a difícil neutralização da lesão tecidual local no envenenamento provocado por serpentes do gênero Bothrops sp. e Crotalus sp. Na busca por terapias alternativas complementares e mais econômicas recorre-se ao uso de plantas medicinais. A utilização de extratos vegetais é comum em locais onde o acesso à soroterapia se torna demorado ou quase impossível. A flora brasileira possui uma ampla variedade de plantas medicinais com potencial antiofídico. Muitas espécies da flora brasileira são pouco estudadas quanto à avaliação da eficácia e dos efeitos terapêuticos de extratos brutos vegetais e compostos isolados. Uma dessas plantas é a espécie Serjania erecta Radlk, conhecida popularmente como “retrato de teiú” e “cipó cinco folhas”, pertencente á família das Sapindaceas. Em estudo anterior foi realizada a detecção de metabólitos secundários de interesse farmacológico, como flavonóides e saponinas. Até hoje não foi realizado nenhum estudo avaliando o potencial antiofídico desta espécie vegetal. Outra espécie da mesma família, Sapindus saponaria L., comumente denominada saboneteira, morcegueira ou cassiteira é caracterizada como um complexo químico com diversas atividades e ações farmacológicas devido a presença de lipídeos, flavonóides e saponinas. Outra espécie vegetal é a Schizolobium parahyba, conhecida popularmente como guapuruvú; e umbela;, pertencente á família Caesalpinoideae e que é usada na forma de chá e infusão no tratamento de acidentes ofídicos. Desde o ponto de vista biotecnológico é interessante o uso de cultura de células vegetais para a obtenção de compostos biologicamente ativos, uma vez que essa produção independente de condições climáticas e ambientais. Até hoje não foi realizado nenhum estudo avaliando o potencial antiofídico destas espécies vegetais, bem como de seus compostos isolados. A obtenção de cultura de células vegetais destas espécies é algo inédito, assim como o estudo de seu potencial farmacológico. Neste estudo será realizado a avaliação da atividade inibitória dos extratos vegetais, das frações e dos compostos isolados de Serjania erecta (in natura e in vitro), Sapindus saponaria (in natura e in vitro) e Schizolobium parahyba (in natura) sobre os efeitos tóxicos e farmacológicos induzidos pelas peçonhas de serpentes do gênero Bothrops e Crotalus, além de proteínas isoladas, a fim de verificar seu potencial antiofídico. Também serão realizados estudos estruturais de interação molecular entre a toxina e seus inibidores através de técnicas experimentais de co-cristalização ou simulação molecular computacional. (AU)

Os envenenamentos ofídicos constituem um problema relevante de saúde pública em diversas regiões do mundo, particularmente em países da zona tropical e neotropical. A fisiopatologia do acidente ofídico é constituída por uma série de eventos complexos tanto a nível local quanto sistêmico, e o soro antiofídico é o único tratamento utilizado. No entanto, os efeitos tóxicos locais induzidos durante o envenenamento por serpentes, principalmente do gênero Bothrops, não são eficientemente neutralizados pela soroterapia tradicional. Por esta razão, procuram-se alternativas complementares, como as plantas medicinais antiofídicas que são usadas por comunidades que não têm acesso a soroterapia. A flora brasileira possui uma ampla variedade de plantas medicinais com potencial antiofídico, as quais têm sido pouco estudadas cientificamente. Neste estudo foram realizados ensaios in vitro e in vivo de neutralização de peçonhas ofídicas com o extrato aquoso das entrecascas de Anacardium humile (EAAh), e, o isolamento e a caracterização fitoquímica de um inibidor de miotoxinas, o ácido gálico (AG). Para os ensaios de inibição, foram utilizadas soluções contendo peçonha bruta ou toxina isolada misturadas com diferentes quantidades de extrato vegetal que foram previamente incubadas por 30 min a 37°C. Também foi realizada administração do extrato após o envenenamento em diferentes intervalos de tempo para os testes de inibição da miotoxicidade. Observou-se que EAAh tem atividade inibitória sobre os efeitos tóxicos (letalidade, miotoxicidade, e hemorragia) e farmacológicos/enzimáticos (edema, atividade fosfolipásica e coagulante) induzidos pelas peçonhas de serpentes dos gêneros Bothrops, Crotalus, Lachesis e das toxinas isoladas. O extrato vegetal inibiu 100% a letalidade induzida pela peçonha de C. d. terrificus e sua principal neurotoxina, a crotoxina. O EAAh foi submetido a fracionamento cromatográfico analítico, e em condições polares foi possível identificar e isolar o ácido gálico, o qual demonstrou tempo de retenção e espectros de ressonância magnética nucleares similares ao padrão comercial e a dados de literatura deste mesmo composto, respectivamente. O ácido gálico isolado foi capaz de inibir a atividade miotóxica induzida pela peçonha bruta de B. jararacussu e sua principal miotoxina, a bothropstoxina-I, uma PLA2-símile Lys49. A análise dos espectros de dicroísmo circular e os estudos de interação por modelagem molecular sugerem que o ácido gálico forma um complexo com a BthTX-I de B. jararacussu em seu sítio ativo, inibindo sua atividade tóxica. A ligação do ácido gálico com as miotoxinas não modificou nem a forma e nem a intensidade dos espectros de dicroísmo circular, não induzindo alterações

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significativas na porcentagem dos diversos domínios que constituem a estrutura secundária destas proteínas. O ácido gálico assim como outros taninos, tem revelado-se um bom inibidor das ações tóxicas de peçonhas de serpentes e está relacionado com a ação inibitória do extrato de Anacardium humile.Título en inglésEvaluation of Antiophidian Activity from Anacardium humile Plant Extract: Isolation and Phytochemical Characterization of the Gallic Acid with Antimyotoxic PotentialPalabras clave en inglésAnacardium humileantiophidian medicinal plantsmyotoxinsnatural inhibitorsphospholipase A2.snake venoms

A grande diversidade de espécies vegetais existente no bioma do cerrado brasileiro impõe destaque para o grande potencial de moléculas biologicamente ativas de interesse para a humanidade. Porém; nos últimos 40 anos esse bioma vem sendo degradado; principalmente devido a crescente expansão das atividades agropecuárias; a construção de barragens para hidrelétricas; dentre outros. Além de provocar alterações ecológicas irreparáveis; também acarretam um aumento de animais silvestres em áreas urbanas; inclusive os peçonhentos; gerando um grave problema de saúde pública. Os envenenamentos causados por serpentes peçonhentas se caracterizam por uma fisiopatologia complexa que inclui desde os efeitos locais; até alterações sistêmicas. A soroterapia é o tratamento mais efetivo nos casos de acidentes ofídicos. Neste contexto; destaca-se a fitoterapia antiveneno; alvo de pesquisas na busca de substâncias alternativas para o tratamento antiofídico. A espécie Galactia glaucescens (Kunth) (Leguminosae) foi selecionada a partir do levantamento etnobotânico baseado no conhecimento empírico de curandeiros pertencentes à comunidade de remanescentes de negros Barra D'Aroeira - TO. O presente trabalho teve como objetivos validar in vitro o efeito antiofídico do extrato etanólico da planta Galactia glaucescens (EGG) usando-se preparações neuromusculares de camundongos; verificar bioquimicamente a ocorrência da atividade inibidora na liberação da enzima Creatina Quinase (CK) induzida pelos venenos de Crotalus durissus terrificus e Bothrops jararacussu; além do efeito inibidor da atividade fosfolipásica (PLA2); gerar informações sobre a potencialidade medicinal das espécies do bioma cerrado visando sua preservação. O extrato nas concentrações testadas (50 &#956;g/mL e 500 &#956;g/mL) não alterou a força de contração muscular em preparação nervo frênico-diafragma de camundongo e; neutralizou de forma significativa (n=5; p<0;05) a atividade neurotóxica induzida pelos venenos de Crotalus durissus terrificus (10 &#956;g/mL) e Bothrops jararacussu (100 &#956;g/mL) e das subfrações crotálicas; crotoxina (20 &#956;g/mL) e crotamina (1 &#956;g/mL). Também reverteu o efeito bloqueador neuromuscular induzido pelo veneno de C.d.terrificus (10 &#956;g/mL) quando administrado após a incubação dessa peçonha; sendo a eficácia desse tratamento; tempo-dependente. Verificou-se; também; uma inibição no aumento dos níveis da enzima CK produzido pelos venenos de Crotalus durissus terrificus (100 &#956;g/kg) e Bothrops jararacussu (150 &#956;g/kg) (n=5; p<0;05; respectivamente) demonstrando uma ação anti-miotóxica. A atividade PLA2 produzida pelos venenos de Crotalus durissus terrificus (50 &#956;g/ 20 &#956;L); Crotalus durissus cascavella (50 &#956;g/ 20 &#956;L); Bothrops moojeni (50 &#956;g/ 20 &#956;L); Bothrops marajoensis (50 &#956;g/ 20 &#956;L) e Bothrops jararacussu (50 &#956;g/ 20 &#956;L) também foi inibida significativamente. Estes resultados validam cientificamente a atividade farmacológica antiofídica da planta G. glaucescens previamente descrita pelo conhecimento tradicional. Assim; este trabalho pode estimular a discussão sobre a potencialidade medicinal das espécies do cerrado e contribuir para a valorização e conseqüente preservação deste importante bioma.

Trabalhos pioneiros em dois estados brasileiros trazem novidades para o tratamento de

picadas de cobra. Em São Paulo, pesquisadores criaram um método diferente de

produção de soro antiofídico que aumenta seu poder neutralizante e diminui tanto os

custos de sua fabricação quanto a agressão às ovelhas, utilizadascomo animais

soroprodutores no lugar de cavalos. Já no Rio de Janeiro foram desenvolvidas pela

primeira vez substâncias sintéticas capazes de inibir toxinas presentes no veneno de

diferentes espécies de serpentes. 

Criada pelo Centro de Veneno e Animais Peçonhentos (Cevap) da Universidade

Estadual de São Paulo (Unesp) em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas

O soro produzido

pela Unesp traz

menor risco 

de causar reações

alérgicas do que o

usado

tradicionalmente

(foto: Rui

Seabra/Cevap)

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Nucleares (Ipen) da Universidade de São Paulo (USP), a nova técnica de produção de soro apresenta

maior capacidade de neutralização do veneno, além de torná-lo 50% menos tóxico às ovelhas. Segundo o

veterinário Rui Seabra, do Cevap, um dos motivos para a substituição dos animais é que as ovelhas

produzem um soro de maior qualidade, com risco bem menor de causar choque anafilático (reação

exagerada do organismo a uma substância estranha) no usuário. "O soro de ovelhas, ao contrário do

produzido por cavalos, não possui um anticorpo responsável por esse efeito colateral." 

O novo método diminui a toxicidade do veneno graças a um processo de irradiaçãocom cobalto-60, que

modifica as proteínas do antígeno sem prejudicar a qualidade do soro. O objetivo dos pesquisadores era

diminuir o índice de morte dos animais produtores, que atualmente gira em torno de 10%. Segundo a

biomédica Nanci do Nascimento, do Ipen, o soro obtido a partir do veneno irradiado tem poder

neutralizante duas vezes maior que o tradicional. 

Com base em trabalhos de pesquisadores indianos, o Ipen começou a usar radiação em venenos de

cascavel ( Crotalus durissus terrificus ) e jararaca (Bothrops jararaca ). Nascimento destaca que mais de

90% dos 20 mil acidentescom serpentes que ocorrem no Brasil por ano envolvem animais do

gêneroBothrops . Apesar de mais freqüentes, acidentes com jararacas não são tão letais quanto

os com cascavel. Enquanto uma picada de jararaca tem ação local, podendo levar à amputação de

membros, a de cascavel atua no sistema nervoso central do indivíduo. 

Os pesquisadores de São Paulo aguardam uma autorização do Ministério da Saúde para

poder comercializar o soro, primeiramente para uso veterinário e depois em humanos. "O produto deve

estar no mercado em até quatro anos", estima Seabra. 

Moléculas sintéticas 

Embora os resultados preliminares tenham sido bastante promissores, as substâncias sintéticas

desenvolvidas por pesquisadores do Laboratório de Química Bioorgânica (LQB) do Núcleo de Pesquisas

de Produtos Naturais (NPPN) e do Laboratório de Farmacologia de Toxinas (LFT) do Departamento de

Farmacologia Básica e Clínica (DFBC), ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ainda

não têm previsão para chegar aos postos de saúde. Farmacólogos e químicos trabalham nesse projeto

desde 1997, com o apoio do Pronex - programa governamental que promove a integração de cientistas

de diversas áreas do conhecimento. 

O início da pesquisa com substâncias antiofídicas na UFRJ remonta a 1994, quando o químico Walter

Mors (NPPN) e o médico Paulo Melo (LFT-DFBC) isolaram o produto natural wedelolactona da

planta Eclipta prostata , conhecida popularmente como erva-de-botão, e demonstraram a sua ação in

vitro . Outro produto natural que apresentou ação antiofídica in vitro (edunol) foi isolado em 1997 da

planta Harpalicia brasiliana , pelo químico Francisco Matos, da Universidade Federal do Ceará. 

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Tendo como modelo os produtos encontrados nessas duas plantas, usadas na medicina popular como

antiofídicos, os pesquisadores do LQB-NPPN sintetizaram novas moléculas, que foram capazes de inibir

as atividades hemorrágica e proteolítica do veneno, responsáveis pela destruição dos tecidos. "Os

produtos naturais servem como protótipos e as suas estruturas podem ser racionalmente modificadas

para produzir, em laboratório, novas substâncias ainda mais ativas", diz o farmacêutico Paulo Costa,

diretor científico do LQB e coordenador da pesquisa. 

Os novos derivados sintéticos preparados mostraram-se ativos nos testes in vitro , protegendo as células

expostas ao veneno. As substâncias que apresentaram os melhores perfis nessa etapa de triagem foram

utilizadas nos testes in vivo em camundongos. Um dos derivados sintéticos foi estudado em maior

profundidade e, quando administrado antes de o veneno ser injetado nos animais, protegeu-os dos efeitos

deletérios. As experiências sugerem que essa substância pode ser utilizada profilaticamente. "Tudo leva a

crer que essa substância poderia ser administrada por via oral. Então, antes de entrar em uma área de

risco, a pessoa poderia tomar um comprimido e, caso ela fosse mordida, já estaria protegida", aposta

Paulo Melo.

Em outro estudo, a substância foi administrada intraperitonialmente depois do veneno, mostrando-se mais

eficiente em proteger os animais, os quais sobreviveram com danos mínimos, quando comparada aos

principais soros antiofídicos disponíveis no Rio de Janeiro e São Paulo. 

Potenciais vantagens sobre o soro 

Venenos de cinco espécies de serpentes pertencentes aos gêneros Crotalus(cascavel)

e Bothrops (jararaca) foram utilizados na pesquisa e as substâncias sintéticas responderam bem a todos

eles. "O soro antiofídico é específico para cada tipo de veneno, enquanto as substâncias desenvolvidas

sinteticamente demostraram uma ação polivalente, atuando através da inibição da enzima fosfolipase A-II,

que se encontra presente nesses diferentes venenos", diz Paulo Costa. 

Diferentemente do soro, o produto sintético é estável, não precisa ser conservado em geladeira e também

tem menos chance de provocar reações alérgicas. "O soro é uma mistura de macromoléculas que é

substituído por uma única molécula, o que diminui a possibilidade de efeitos colaterais", compara o

farmacêutico Alcides Monteiro da Silva, do LQB. 

O próximo passo da pesquisa é realizar experiências com animais de maior porte,como coelhos e

cachorros, e fazer um estudo toxicológico. Caso esse estudo ratifique os resultados

obtidos com camundongos, a síntese da substância deverá ser realizada em maior escala para viabilizar

estudos pré-clínicos. Os pesquisadores entendem que a participação de laboratórios oficiais e da

iniciativa privada seria indispensável para transformar a nova substância em um medicamento. 

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The use of plant extracts as antidote against animals venoms is an old practice, mainly envenomations by snakes, besides also may used as supplemental of serum therapy. Snake venoms are a rich mixture of proteins involved in a complex series of events that depends on the synergic action of these molecules. The present study explores the ability of Triacontil p-Coumarate (PCT) an active compound isolated from root bark of Bombacopsis glabra vegetal extract (Bg) against harmful effects of Bothropoides pauloensis snake venom and isolated toxins. For assays Bg or PCT were previously incubated with venom or toxins at ratios 1:1 and 1:5 (w/w; venom/PCT) for 30 min at 37 C before the tests. Treatment condition was also assayed to simulate a snake bite with PCT inoculated at same site of venom or toxin. The PCT was able to neutralize brinogenolytic activity and plasmatic brinogen depletion induced by B. pauloensis venom or toxins tested. This compound was also able to inhibit the myotoxicity and hemorrhage caused by Bothropoides pauloensis venom or jararhagin toxin. These results were conrmed by histological studies of inoculated gastrocnemius muscle showing that jararhagin is strongly inhibited and is possible see the protective effect of PCT by larger number of regenerative cells after one week of inoculation. Our results suggest that PCT present a specicity to inhibit snake venom metalloproteinases. To determinate the possible inhibition mechanism from PCT a molecular modeling was made with docking simulations using Neuwiedase structure data. Thus, we suggest that Neuwiedase inhibition by PCT is due an interaction inside of the catalytic domain causing steric hindrance and/or disorganization of the catalytic net. In this way, PCT may provide new complementary alternative to treatments for ophidian envenomations.

Planta conhecida como leiteiro de vaca inibe letalidade de veneno da cascavel09/08/2004

Valéria DiasUma planta da América do Sul, conhecida como "leiteiro de vaca" (Tabernãmontana catharinensis), poderá se tornar uma importante ferramenta da Farmacologia por sua capacidade antiofídica e antitumoral. Compostos retirados do extrato da planta mostraram-se capazes de inibir a letalidade do veneno da cascavel (Crotalus durissus terrificus) e demonstraram uma potente ação contra células tumorais. Os estudos foram realizados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP. 

"Uma aluna relatou que a população rural da região de Assis (SP) costumava usar a raiz ralada do "leiteiro de vaca" como emplastro em mordidas de cobra e que esta solução caseira amenizava os efeitos do

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veneno. Resolvemos então testar cientificamente", conta a orientadora das pesquisas, professora Suely Vilela, do Departamento de Análises Clínicas, Toxicológicas e Bromatológicas da FCFRP e pró-reitora de Pós-Graduação da USP. 

Os pesquisadores injetaram doses letais do veneno da cascavel em ratos Wistar e, após 30 minutos, o extrato da planta também foi injetado. Em outro teste, veneno e extrato foram injetados juntos. De acordo com Suely, em ambos os experimentos, a Tabernãmontana catharinensis mostrou-se eficaz na inibição da letalidade. "A eficácia do último procedimento foi ainda maior, em relação ao primeiro", conta. 

O estudo foi o tema do mestrado de Maria de Fátima Batina Cardoso, na FCFRP. Segundo a pró-reitora, os pesquisadores conseguiram isolar e identificar o composto responsável pela inibição da letalidade. Estes resultados foram publicados na revista Planta Médica em 2000. 

Ação antitumoralEm um outro composto retirado do extrato de "leiteiro de vaca" foi constatada atividade antitumoral. Os testes in vitro utilizaram células tumorais humanas dos tipos SK- BR-3 e MCF-7 (adenocarcinoma de mama), JURKAT (leucemia T) e C-8161 (melanoma). O composto de T.catharinensis foi capaz de exercer potente atividade fitotóxica em todas as células tumorais testadas, mas não em leucócitos do sangue humano. "O efeito deste composto foi mais potente que o metotrexato e taxol, drogas usadas no tratamento de certos tipos de câncer", conta a pró-reitora. 

No entanto, o caminho para se chegar até um medicamento ainda é longo. "Por enquanto, sabemos apenas que não é o mesmo composto da atividade antiofídica. Precisamos continuar as pesquisas visando a determinação da estrutura da molécula e, portanto, a identificação do referido composto. A idéia é patenteá-lo e continuar os estudos no sentido de utilizá-lo, no futuro, como agente terapêutico". 

O estudo foi realizado pela pesquisadora Lucilene de Almeida, na FCFRP, com orientação da professora Suely. Um artigo sobre a atividade antiofídica e antitumoral do leiteiro de vaca foi publicado na revista Comparative Biochemistry and Physiology - Part C em janeiro de 2004.