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. ' - PERIÓDICO DOS POBRES ,. O QUERIDO DAS .MOÇAS PROPRIEDADE "DE A. M. MORANDO.— EDICTORA, ETELVINA MARIA DO AMOR DIVINO Este periódico é critica e jocoso, para fazer rir.—Sahlrá todos os sabbados.—Os Srs. assignantes terão a garantia de publicar os.seus artigos grátis, aã» sendo políticos ou offensiyos á moral publica. Assigná-sc, por tres mezes 2$000; por seis mezes 4#000 e por um mez 1 $000 (pagos adiantados). Folha avulsa 80 vi. Assigna-se e vende-se nas seguintes lojas: rua Sete de Setembro n. 22, rua do Parto n. 96, e rua d'Kl-Rei n. 150, em Niclheroy. ANNOI Saibrado 4 d.o Fevereiro de 1871 3V. IO PERIÓDICO DOS POBRES Tribunal do jiiry feminino (*) JULGAMENTO É SENfENÇÍ do pueto José Sebastião Rosa Pelos crimes : De Sortilegios.—Evocações.—Estellionatos.—Rou- bos.—Defloramentos.—Mortes.—PropinacÕes de venenos.—Abusos de confiança.—Ataques á re- ltoiao.-^Seitas prohibidas —Reuniões secretas. -4Feitiçarias. . Terceira sessão em 3 de Fevereiro de 187 i. Presidência ãa Sra. D. Constança. Prowotoria ãa Sra. D. Firmeza. Defmota do réo D. Jul/ia. , Emais senhoras juradas. (Continuação do n. §;) A's. 10-lioras da manhã comparece á barra do tribunal o feiticeiro Jucá Rosa, acompanhado de sua defensora. O réo traja calça branca, palitot, de merinó preto, coliete branco, e gravata de setim verde; o réo entra no tribu- nal com desembaraço comprimentaiido a Sra. presidente e mais senhoras, e vai sentar-se rio banco dos.réos. A Sra. Presidente :—Antes de co- mecar os nossos trabalhos, tenho de dar algumas ordens, para manutenção da boa ordem, e segurança nossa; e nao se reproduzirem as scenas tumul- tuosas, que houveram, no fim da ses- são passada, na oceasião da sabida do réo. D. Emilia:—E eu que o diga, que bastante me custou sahir do tribunal, tendo o vestido rasgado, por esses cu- riosos. A Sra. Presidente :—(Toca a cam- painha) e apparece o porteiro. O Porteiro :—Estou âs ordens de V. Ex., determina alguma cousa? A Sra. Presidente :—Determino, que nao deixe entrar homens neste tribu- nal, os que acompanhavam estas senhoras. Agora, chame o sargento da guarda. . O Porteiro:—Farei o que V. Ex. determina. Um Sargento :—-(Moço bonito, e ar- (*) Para dar espaço á publicação de outros arti gos, .foi preciso cortar esta sessão. N. da Redacção. reganho militar) : —Prompto para re- ceber ás ordens de V. Ex. •;. A Sra. Presidente :— D.ítermino, que execute, estas ,,ordchs que lhe vou dar; mande coilocar duas; praças no jardim para evitar que entre alguém pela porta e salte pelas grades; tam- bem deverá coilocar duas sentinellas ao lado do porteiro, para auxiliar o mesmo, e espero que haja toda a pru- dencia, na execução destas ordens. O Sargento •/ —Obedeço, ás suas ordens serão cumpridas, e a forca será respeitada. A Sra. Presidente :— De que foiça pÓde dispor? O Sargento : Tenho a minha dis- posição vinte homens e um cabo, além da-escolta que acompanhou o preso que sâo oito praças. A Sra. Presidente:—E' suficiente, para um tribunal de senhoras; pôde retirar-se.- O Sargento : A's ordens deV. Ex. (Fazendo uma bonita continência). A Sra. Presidente :—Desta maneira estaremos tranquillas, livres de qual- quer alvoroço; a Sra. Promotora pôde continuar os seus trabalhos. A Sra. Promotora:—Entre as pes- soas que foram capturadas, por ocea- sião da prisão do réo, encontram-se seis mulheres que são as segtímtés: Belniira,—Marcolina, —Henriquèta. —Generosa, —Leocadia,—Simphronia Maria; e não ha uma destas mulhe- res que se ache presente, para deporem o que sabem a respeito do réo. Uma Voz:—Estou eu aqui, e quero fazer uma declaração, nada de enganos (descendo da galeria).^ Uma Mulher, (trajando roupa ordi- naria): Desculpe Sra. Presidente, entrar na sua sala, mas é para fazer uma declaração, e não quero enganos. A Sra. Presidente :—Se é a respeito do réo pôde fazer a sua declaração. Uma Mulher:—Então vai; como aquella Sra. Promotora fallou no nome de Simphronia Maria, venho dizer a Vmct*. que não sou eu, porque nunca fui a casa Üessé feiticeiro (olhando para o réo). Que diabo estás tu, virando os olhos pararaitn, eu te arrenego, cruzes, anjo biento, olho verde; tu pensas que tenho medo de ti? Olha que esta que aqui está, servio nas fileiras da Sra. Maria da Fonte (que Deos tenha em gloria) e com a minha pequena fouce, derrubei á mais de quatro, toma sentido e senão... A Sra. Presidente : Se a senhora veio para isto, então pôde retirar-se da sala. A mulher : Tenha paciência, mi- nha senhora, ia passando a mal creada, sernm* lembrar do lugar em que estou: sempre tive arrelia a estes feiticeiros ; év verdade que na minha terra ha bruxas, mas nunca fizeram,;o que fez este negro, estou no numero dessas mulheres; qne veza esse papel, mas nãò s)ú eu; sou pobre e honrada e mesmo velha, ainda tenho os meus freguezes de roupa lavada e engomma- da, e não vivo dessas feitiçarias, como as outras; quero então fazer a minha declaração'para se honrar o meu nome; a senhora entende? A Sra. Presidente : Perfeitamente, e mandarei [liminar o seu nome. A mulher : Isso é o que me não agrada, o allumiar o meu nome, basta quando eu morrer como se faz aos defuntos para a gente se lembrar delles; o meu nome allumiado nada nada, ainda estou viva. A Sra. Presidente: —Faça a sua declaração se a quer fazer e deixe-se de mais historias. A mulher : Ora não se agás te eu vou dizer o que quero, para evitar en- ganos; quero com esta minha mão, escrever naquella sentença, por cima do meu nome estas palavras, e não quero que seja outra que o faça.—Sim - fronia Maria, borrou-se por si"mesma— [estrepitosas rizadas) porque assim ficam sabendo os meus patrícios, aqui, ela na terra, que fui eu mesma que borrei o meu nome e não chouve recado encom- raendado. A Sra. Presidente [sustendo o rizo: Não é possival, escrever pela sua mão, ',,

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PERIÓDICO DOS POBRES,. O QUERIDO DAS .MOÇAS

PROPRIEDADE "DE

A. M. MORANDO.— EDICTORA, ETELVINA MARIA DO AMOR DIVINO

Este periódico é critica e jocoso, para fazer rir.—Sahlrá todos os sabbados.—Os Srs. assignantes terão a garantia de publicar os.seus artigos grátis, aã»sendo políticos ou offensiyos á moral publica. Assigná-sc, por tres mezes 2$000; por seis mezes 4#000 e por um mez 1 $000 (pagos adiantados).Folha avulsa 80 vi. Assigna-se e vende-se nas seguintes lojas: rua Sete de Setembro n. 22, rua do Parto n. 96, e rua d'Kl-Rei n. 150, em Niclheroy.

ANNOI Saibrado 4 d.o Fevereiro de 1871 3V. IO

PERIÓDICO DOS POBRES

Tribunal do jiiry feminino (*)JULGAMENTO É SENfENÇÍ

do pueto José Sebastião RosaPelos crimes :

De Sortilegios.—Evocações.—Estellionatos.—Rou-bos.—Defloramentos.—Mortes.—PropinacÕes devenenos.—Abusos de confiança.—Ataques á re-ltoiao.-^Seitas prohibidas —Reuniões secretas.-4Feitiçarias. .Terceira sessão em 3 de Fevereiro de 187 i.

Presidência ãa Sra. D. Constança.Prowotoria ãa Sra. D. Firmeza.Defmota do réo D. Jul/ia. ,Emais senhoras juradas.

(Continuação do n. §;)A's. 10-lioras da manhã comparece á

barra do tribunal o feiticeiro JucáRosa, acompanhado de sua defensora.

O réo traja calça branca, palitot, demerinó preto, coliete branco, e gravatade setim verde; o réo entra no tribu-nal com desembaraço comprimentaiidoa Sra. presidente e mais senhoras, evai sentar-se rio banco dos.réos.

A Sra. Presidente :—Antes de co-mecar os nossos trabalhos, tenho dedar algumas ordens, para manutençãoda boa ordem, e segurança nossa; enao se reproduzirem as scenas tumul-tuosas, que houveram, no fim da ses-são passada, na oceasião da sabida doréo.

D. Emilia:—E eu que o diga, quebastante me custou sahir do tribunal,tendo o vestido rasgado, por esses cu-riosos.

A Sra. Presidente :—(Toca a cam-painha) e apparece o porteiro.

O Porteiro :—Estou âs ordens deV. Ex., determina alguma cousa?

A Sra. Presidente :—Determino, quenao deixe entrar homens neste tribu-nal, só os que acompanhavam estassenhoras. Agora, chame o sargento daguarda. .

O Porteiro:—Farei o que V. Ex.determina.

Um Sargento :—-(Moço bonito, e ar-

(*) Para dar espaço á publicação de outros artigos, .foi preciso cortar esta sessão.

N. da Redacção.

reganho militar) : —Prompto para re-ceber ás ordens de V. Ex.

•;. A Sra. Presidente :— D.ítermino,que execute, estas ,,ordchs que lhe voudar; mande coilocar duas; praças nojardim para evitar que entre alguémpela porta e salte pelas grades; tam-bem deverá coilocar duas sentinellasao lado do porteiro, para auxiliar omesmo, e espero que haja toda a pru-dencia, na execução destas ordens.

O Sargento •/ —Obedeço, ás suasordens serão cumpridas, e a forca serárespeitada.

A Sra. Presidente :— De que foiçapÓde dispor?

O Sargento : — Tenho a minha dis-posição vinte homens e um cabo, alémda-escolta que acompanhou o preso quesâo oito praças.

A Sra. Presidente:—E' suficiente,para um tribunal de senhoras; pôderetirar-se. -

O Sargento : — A's ordens deV. Ex.(Fazendo uma bonita continência).

A Sra. Presidente :—Desta maneiraestaremos tranquillas, livres de qual-quer alvoroço; a Sra. Promotora pôdecontinuar os seus trabalhos.

A Sra. Promotora:—Entre as pes-soas que foram capturadas, por ocea-sião da prisão do réo, encontram-seseis mulheres que são as segtímtés:

Belniira,—Marcolina, —Henriquèta.—Generosa, —Leocadia,—SimphroniaMaria; e não ha uma só destas mulhe-res que se ache presente, para deporemo que sabem a respeito do réo.

Uma Voz:—Estou eu aqui, e querofazer uma declaração, nada de enganos(descendo da galeria).^

Uma Mulher, (trajando roupa ordi-naria):

— Desculpe Sra. Presidente, entrarna sua sala, mas é só para fazer umadeclaração, e não quero enganos.

A Sra. Presidente :—Se é a respeitodo réo pôde fazer a sua declaração.

Uma Mulher:—Então lá vai; comoaquella Sra. Promotora fallou no nomede Simphronia Maria, venho dizera Vmct*. que não sou eu, porque nuncafui a casa Üessé feiticeiro (olhando para

o réo). Que diabo estás tu, virando osolhos pararaitn, eu te arrenego, cruzes,anjo biento, olho verde; tu pensas quetenho medo de ti? Olha que esta queaqui está, já servio nas fileiras daSra. Maria da Fonte (que Deos tenhaem gloria) e com a minha pequenafouce, derrubei á mais de quatro, tomasentido e senão...

A Sra. Presidente : — Se a senhoraveio para isto, então pôde retirar-se dasala.

A mulher : — Tenha paciência, mi-nha senhora, ia passando a mal creada,sernm* lembrar do lugar em que estou:sempre tive arrelia a estes feiticeiros ;év verdade que na minha terra habruxas, mas nunca fizeram,;o que fezeste negro, estou no numero dessasmulheres; qne veza esse papel, masnãò s)ú eu; sou pobre e honrada emesmo velha, ainda tenho os meusfreguezes de roupa lavada e engomma-da, e não vivo dessas feitiçarias, comoas outras; quero então fazer a minhadeclaração'para se honrar o meu nome;a senhora entende?

A Sra. Presidente : — Perfeitamente,e mandarei [liminar o seu nome.

A mulher : — Isso é o que me nãoagrada, o allumiar o meu nome, bastasó quando eu morrer como se faz aosdefuntos para a gente se lembrar delles;o meu nome allumiado nada nada, aindaestou viva.

A Sra. Presidente: —Faça a suadeclaração se a quer fazer e deixe-se demais historias.

A mulher : — Ora não se agás te euvou dizer o que quero, para evitar en-ganos; quero com esta minha mão,escrever naquella sentença, por cimado meu nome estas palavras, e nãoquero que seja outra que o faça.—Sim -fronia Maria, borrou-se por si"mesma—[estrepitosas rizadas) porque assim ficamsabendo os meus patrícios, aqui, elana terra, que fui eu mesma que borreio meu nome e não chouve recado encom-raendado.

A Sra. Presidente [sustendo o rizo: —Não é possival, escrever pela sua mão,

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mas vá descançada que nada lhe acon-tecerá. ^ íHfeSfi <-¦-¦

A mulher : — Muito obrigado, tirou-me vossa mercê deste pezadello. Agoravou me embora, porque basta de maça-da; quanto á este melro [olhando parao réo)' é mesmo um melro, preto comoo carvão, vejam as senhoras se lhe ar-ranjam bem a cama, porque elle me-rece. Até logo minha senhora, fazendouma grande mizura.

Durante este engraçado epizodio,reina confuzão na sala todos se riem anão poder mais, a Sra. tachigraphalevanta-se também rindo, e a sessãoacha-se interrompida, e poucos minu-tos depois está tudo na mesma ordem,reinando perfeito socego.

A Sra. Promotora :—Todas estasmulheres se acham compromettidas,visto serem encontradas na residênciado réo e....

A mulher : — Veja, éu que já fiz aminha declaração e se continuarem,vou lá em baixo, e ponho tudo empratos limpo, e que tal 1

A Sra. presidente:—Toca a campai*nha e apparece a porteira senhora jáidosa; á qual lhe ordena, faça sahiraquella mulher da galeria.

A mulher :—Então já me não queremaqui? também é o mesmo, vou tratarda minha roupa, que deixei estendidano campo; sempre são reuniões de mu-lherés.

Uma voz:—E' muito interessante estamulher; é mesma uma Maria da fonte.

Outra voz:—-Só assim se estabele-ceria a ordem ; por causa destas ninha-rias, acabam as sessões tão tarde.

Outra voz:—E nós ineommodadas,faltando ao nosso serviço doméstico.

A Sra. promotora:— Continuarei seme derem licença, senão teremos sessãopor uma eternidade, deixarei essesnomes de parte, e tratarei do crime deenvenenamento praticado pelo réo.

A filha de Jucá Rosa, levada ao prós-tibulo por seu próprio pai, apenas com17 annos de idade. A maneira com queo feiticeiro procedeu para com esta me-nina, e sua mãi, ambas brancas, é detal fôrma horrorosa que anão podemosdescrever sem os estremecimentos queproduzem os actos de sèlvageria e sema indignação que promove o conheci-mento de taes factos. Pois bem, JucáRosa teve uraa amante na rua do Senado.Esta mulher deu a luz da vida a umacriança pe manteve até os 12 annos.Jucá Rosa, seu pai, á maneira que amoça ia crescendo seus desejos se aug-mentavam, a ponto de maltratar a mãique .guardava o seu frueto, como sefosse um penhor sagrado. Jucá Rosanão se preoecupou mais com a reluetan-cia da que então já era sua mulher; embello dia propinou-lhe uma das suas

poções •venenosasie a iniMiz rendeu §

a|pa a &us.Jucá Rpsa levou çif| filhapara a rua do Núncio oncle morava, eahi satisfez seus sacrilegos intentos,expulsáiido-a pouco depois. A míserachama-se Francisca Feliciana de Souza.

A Sra. promotora:—Este nefandocrime, não tem commentarios, explica-se por si mesmo, a que ponto chegou amalvadez do réo.

(Continuar-se-ha). >

VISITA DAS PRIMINHAS

Imagine o leitor e leitora vêr umabonita sala bem mobiliada, na qual seacham duas bellas moças, costurandodois primorosos vestidos a fantasia paraservirem nos bailes mascarados; haven-do entre ellas algumas observações,acerca dos mesmos.

dialogoOra, prima Oandinha, na verdade,

não sei como se possa coser tanto, nestetempo de calor; ainda nós temos o se-tim, o velludo e seda que não mortifíçaos nossos dedos; outro tanto não acpn-tece áquellas que cosem para o arsenal.

Diz muito bem, prima Lulú; equanto não custa hoje obter essas cos-turas; de dia em dia estão estes senho-res inventando novas ordens.

Acho isso muito ináo, priminha,e quem padece é a triste costureira.

Ainda você nao sabe de outramelhor: recolheram as cartas defiança,assignadas por pessoas muito respeita-veis, exigindo agora novas cartas denegociantes matriculados, firma reco-nhecida, e outras cousinhas mais.

Matriculados são elles no orde-nado, priminha, e lia alguns nessa re-partição que bastante choram daremessas costuras, como se fossem donosdellas.

Aquella repartição, priminha,precisa de uma visita do nosso queridoe amado Imperador, como muitas vezestem acontecido; e então veremos comotudo se arranja, e essas pobres costu-reiras attenclidas nos seus pedidos.Quem sabe, priminha, se ahi ha-verá affeiçoadas e empenhos para rece-ber essas costuras; dizem por ahi tantacousa

O que admira, priminha, ,são cer-tas tafulonas que ahi se apresentam norigor da moda, bem vestidas, a pediremcostura; e são essas muitas vezes aquem esses senhores dedicam mais at-tencão.

Não ha nada como a tafularia,priminha, no entanto as que não sãotafulas, e se apresentam modestamentevestidas, ficam para o resto, se é queha resto; e as pobres viuvas e filhas dobenemérito voluntário, que derramou o

sangue ern^ favor cia pátria, ficam semíiér cpni que comprar um vestido, nemterem pão para comer.

São cousas do nosso paiz,, primi-nha, e se alguma dellas afflicta pelaprecisão se dirige a alguém para reme-diar a necessidade, a resposta é sempreà do costume, para elles : — você estámoça, vá trabalhar, tem muita costurano arsenal — e a pobre senhora ficachorando mais õ sèiiinfeliz estado.

Olhe, priminha, são três cousasque ha muito afflige a creatura: a mádisírição cias costuras., o impo.sto pes-soai, e a falta çle dinheiro, não fallandona falta de água, que já se vai sen-tmdo.

Oh J priminha,, será verda.de que osempregados da officina de alfaiate doarsenal de guerra vão ter augmeuto deordenado, pela grande vantagem davenda de trapos e ourelos ? Em outrotempo davam-se ou deitavam-se fora,hoj.e vendem-se ; quem sabe se (Jaqiii a,pouco tempo se venderão os cavacos,para uso das cosinhas? A lembrança éeconômica e não merece censura.

O nosso paiz é bomE rico, »sem igual;Não precisa que se vendaEsses trapos no arsenal.

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E aqui estamos nós com estasobservações, unicamente para pugnarpelo nosso sexo, quasi sempre depri-mido ; triste cousa é ser mulher! Agorareparo, eu julgo que estes galões dizemmelhor nestas mangas, em logar defranja e fofos, não lhe parece, pri-minha ?

Deve ser assim mesmo, e essa côrdestaca mais, veja o figurino, que foiuma das recommendações que nos feza moca.

Minha senhora, minha senhora,as suas primas vão ahi passando, e pa-rece que não sobem.

Lulú, chega á janella e pede paraellas subirem.

Já vou. Então vão passando semdizerem adeos, subam para descançarum bocadinho. Elias ahi vem.

Ora, aqui estamos nós, priminhas,esta sua Faustina é muito chocalheira,Não sounão,sinhá?abença,abença.Deos te abençoe e te faça feliz."Sentem-se, e descance" um boca-

dinho; então onde iam com tanta pressa,sem querer dizer adeos, a quem tantoas estima.

Fazia-mos tencão de vir aqui nanossa volta.

Vamos a .saber como passam em suasimportantes .saúdes?

Ora como havemos estar, fatiga-das com o immenso calor, não se dormea gosto, para comer não ha muito ap-

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PERIÓDICO DOS POBRES——¦.—u

petite e aqui nos achamos em um Iam-bique, sempre suando.

Por cá vai a mesma cousapriminhae se assim continuar a estação, esta-mos resolvidas a ir para Therezopolis,lugar, onde me dizem, que ainda, seconsente cobertor na cama; veja quedifferença de atmosphera.

Se assim o fizerem, como sabere-mos nós as noticias do que por ahi vai;vejam se mudam de resolução, não nosdeixem.

Veremos se assim o poderemosfazer; deixando de ir para uma terraonde não temos conhecimentos ; a idéanão foi nossa mas sim do primo Jucá.

Se se demoram um hocadinho,me contem alguma novidade; estamoscom escassez dellas.

A mais fresquinha é da procissão deS. Sebastião, que seria melhor não tersahido, para não haver tanta censura ;e senão fosse a vantagem que tive, dariapor mal empregado o tempo que acom-panhámos a mesma.

-—Julguei que a fossem vêr de casadas nossas primas; mas o quéacon-teceu? *

Eu lhe digo, Candinha, para fazera vontade a mano Jüca, fomos.esperara procissão no adro da Capella Imperial,pensando elle apreciar as descargas daguarda de honra; esperamos e torna-mos a esperar, e elle sempre teimoso,m% fez apostar urn meio bilhete da lo-teria, em como a guarda não faltaria.Eram seis horas e já a procissão prin-cipiava a desfilar em muito boa ordem;mas a respeito de guarda, nem um sóhomem, isto me fez acreditar que haviaganho a aposta.

Assim foi bom, Maricota, um meiobilhete não se pôde perder.Lulú não diga isso todos censura-ram esta grande falta, a primeira vezque se deu, depois que se instituioaquella devoção.

Mas o que deu lugar a essa faltatão irreprehensivel falta que nuncahouve mesmo no tempo em que osnossos soldados se achavam na guerra.

Muitas são as versões e boatosque por ahi correm; uns dizem, quefoi tarde o aviso para reunir a guarda ;outros, dizem, que èra por levar musicaa dita guarda e atrahir assim os bandosde capoeiras ; outros, que foi para pou-par de se queimar uma boa porção decartuxame; e finalmente apparece oJornal da Tarde illucidando a todoscom a sua explicação.

Que esplendor I que brilhantismo !Nunca se viu cousa igual ISé faltou guarda de honra,E a Câmara Municipal I

Foi tocante a ceremonia,For uma pena geral,Só faltaram guarda de honraE a Câmara Municipal.

Duvidam algumas pessoas que a II-lustrissima tivesse por devrr acompa-nhar o prestito; entretanto que o tem;e a sua falta foi naturalmente o que oc-casionou a da guarda, pois que estatalvez dissesse comsigo:

Quando a Illustrissima, que é adona da festa, não comparece, o quevamos nós lá fazer ?

Desta maneira parece que estádada a explicação dessa falta, mas nãopodemos deixar de sensurar; nesta nos-sa boa terra, onde tudo se consente;ou ha de hever muito explendor, ouentão esses actos religiosos, feitos á ca-pucha.

Apoiado, priminha, diz muitobem; houve tempo em que as procis-soes levavam duas musicas, uma era ados barbeiros na frente, a Qutra eraa que pertencia aguarda de honra; noentanto que a procissão de S. Sebastião,padroeiro do império, nem musica nemg-uarda, para auxiliar essas religiosascorporações e tornar-se mais brilhanteesse acto.

-— Olhe, priminha, os irmãos revés-tiram-se todos de um aspecto defensivo,e tomariam a peito, se houvesse o talsarilho dos capoeiras, supprind<r assima falta da força armada.

-*- Você tem lembranças Carola; comopoderia haver a defeza nos irmãos seelles não levavam armas ,

pr. Se os capoeiras tivessem esse ar-rojo a prima havia de ver como erasubstituído uma carga de bayoneta poruma carga de tochas...

Cá, cá, cá, e os sereeiros muitohaviam de gastar, pelo interesse quedeviam ter, pela troca das tochas par-tidas pelas inteiras, foibom acabar ludoem paz.

Mudando de assumpto, que nu-mero é o do bilhete, Maricota, dá-menelle interesse?

Com muito gosto, o meu palpitefoi o 191; numero feliz por todos osmotivos, o anno passado deu elle a sortegrande, e a loteria passada deu dezcontos; também é feliz este numero porque é o da residência do benemérito eillustre caritativo o S. Dr. Hilário deGouvêa, que nas suas acertadas opera-ções tem dado a vista a muitas pessoasque o procuram; sendo hoje uma dascapacidades oculistas que existem nonosso paiz, já vê que por todos os mo-tivos o numero deve ser feliz ; e pôdecontar com um ou dous interesses.

Obrigado, priminha, só assim iria-mos nós á loteria

Gentes I a tarde vai adiantada, e

nós ainda temos p fazer algumas com-pras; ainda vamos á loja do sol na ruado Rosário, da qual tivemos aviso deum rico sortimento de fazendas bonitase preço commodo, açcrescendo a isto &delicadas attenções do Mendonça.e doCosta, que fazem com seu bonito modocomprar mesmo sem ter vontade; sãobellos moços, depois iremoo mais acimana mesma rua, á loja da Lua que tam-bem offerece muita novidade, o sym-pathico Barros, tem bom gosto na es-colha das fazendas que offerece a seusíreguezes, é attenciosoe ninguém deixade comprar.

Ora, prirninhas, vocês parecemum tanto apaixonadas pelos planetas,o sol, alua, e não vão ás estrellas?...Maldoza, você o que quer é deter-nos. Adeozinho adeozinho, até breve,tenho muito que lhe contar.Veremos se falta o que promeííe,Carola; compre chitas e cassas bonitas,e mande-me ás amostras para vêr oseu gosto. *

Sim, sim, adeozinho, me gmardeuma cousa boa, já vio?—- Conte com o meu coração, que é

todo seu. Deos as leve em paz.Lulú adeozinho, sonhe comig-o,já vio.

Sim, sim, não me esquecerei, nãofaltem a sua promessa.Faustina fecha hein a cancella ea porta da escada, esses malditos la-drões que por ahi ha nem deixam agente tomar um-pouco de ar.

UM POUCO DE TUDOCousas que nutrem, mas não encitem

barrigaTitulos e commendas.Beijos de moça bonita.Elogios de poeta.Saudades de quem ama ausenteiCorrespondência de namorada.Cortezias de figurões.Postos da guarda nacional,

Despezas temíveisDentes postiços.Concertos de relógio.Trabalhos de seg*eiro.Diligencias de procurador.Razões de advogado*s.Operações cirúrgicas.Alugueis de sobrados.Enterros com luxo.

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Cousas diflleeis de se aekarAmigo verdadeiro-Mulher que falle pouco.Moça que não queira casar.Dinheiro no meio da rua.Sigano sincero no negocio.Italiano aue não saiba cintar.

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PERIÓDICO DOS POBRES

Musico sem ser glotão.Marinheiro delicado. MNegro sem catinga.Gêneros baratos na rua do Ouvidor.

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Cousas que mais gosíaam os rapaate.Beijos.Namoro. -Apalpadellas.Beliscões.

Actos de grande prazer e soliresalto.Avistar terra depois de longa via-

£»*em.oFallar com' a namorada estando ella

só. .Noticia da sorte grande.Deitar-se em cama fresca depois de

um dia de calor.Cobrar divida velha em mão de ca-

loteiro.Tomar banhos de mar em companhia

de moças bonitas.Chegada de um filho depois de. grau*

de ausência.

Natalicio afortunado.Dona Brites, senhora de quarenta e

tantos annos, appareceu na sala parareceber as numerosas famílias amigas-no baile com que festejava o anniver-sario natalicio.

Manoel, o seu Manoel delia, que. aamava muito receiando vel-a expostaao ridículo de uma fraqueza, queé pec.cado de muitas senhoras, disse-lhe:

—-Minha Brites, estás bella como umanjo; mas pôde haver entre a genteque esperamos algum curioso de máugosto....

—Então....-—Olha.... tu.... deixa dizer-te.... tu

tens o costume de diminuir excessiva-mente a tua idade....

Não creio.= Ora !.... dize : quantos annos

completas hoje?....Trinta dous.

Vês ?.... desde quatro annos quete declaras com trinta e um.

^-E' isso.= Como pois é isso ?....

Que dia é hoje do mez ?....Vinte e nove de Fevereiro.Pois bem: até completar quarenta

contei os meus annos á razão de tre-sentos e sessenta e cinco dias; mas de-

pois a medo da velhice mudei de conta,e tomando por ponto de partida os trinta,marquei os annos pelo meu anniver-sario natalicio.

—E desse modo....Como nasci em anno bisexto e a

vinte nove,áq Fevereiro, só de quatroem quatro annos tenho feito natalicio ?e assim....

Assim só d'aqui a quarenta annosconfessarás a idade que ja tens hoje....

Oh, senhor !.... eu sou culpada deter nascido a vinte 3 nove de Feve-

CONCEITO.

Eu tenho um amigoQue a pátria reclamaQue tem sua mãiQue assim sé chama

Ao amigo estimadoE' o maior galardãoQue pode offertar-lheEste meu coração

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reiro[O-. Social.)

Charadas.

Numero. 1Indulgência. -3.

• C — Infortúnio.

1y i

Povoacão. 3s* ¦

C—Fortuna.

Amargôso.Vogai.

Oathedral.Musica.Do leite.

C.—Musica.

1I2

Sou uma preposiçãoE nao deixo de ó serSe tens bondoso coraçãoFaze que é sacro dever

Que sou metade de um navioEu te posso aniançàrMas presta toda atteuçãoNão te vás lá esbarrar

CONCEITO.

De instrumentos uteisSou d'elles o inventorE de Créta o LabyrinthoEu fui o seu auctor.

1

i

S. A.

Sou peixe d'agoa doceSe meu a em o mudaresSem dentes e espinhosoEu agrado aos paladares.

Se me anteposeres,Para a nossa vidaSou mui necessárioCom a venia devida

%

Se um—r—no fim accrescentaresDe realesa titulo encontrarásSe no arabe procurares entre os verbosCòmô nome appellativo me acharás.

A primeira letra entre os gregosA cinco correspondiaAs outras duas reunidasServem muito á melodia. 2

Sou medida itineráriaNo Celeste Império usadaMas comtudo sem ser chimFi-1'o ácartinha estimada. 1

Sou letra breve, também sou surdaQue quinhentos valia entre os romanosE se ura—r—também accrescentaresElemento terás, útil aos humanos 1 ^

CONCEITO

Pois que delle mui digna sempre fosteDoce nome d'irmã eu posso dar-te,No prazer, na dor, em qualquer tempo,Amizade fraternal hei de votar-te.

A. C. A:

DECIFUACÃO DAS CHAItADAS DO N. 8.

Regato.Pegado.Nodoa.Desmaio.Sereno.Coroa.Airosa.Rebuço.

¦ ...... ¦ . ¦

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...:-:,¦.¦¦/•¦ ...

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Typ Americana , rua dos Ourives n. 1ÍK