Perfil Sócio-Demo Epide Trab Atenção Bás

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  • 7/24/2019 Perfil Scio-Demo Epide Trab Ateno Bs

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    Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, 24 Sup 1:S193-S201, 2008

    S193

    Perfil scio-demogrfico e epidemiolgico dostrabalhadores da ateno bsica sade nasregies Sul e Nordeste do Brasil

    Epidemiological and socio-demographic profileof primary care workers in the Southand Northeast of Brazil

    1Universidade Catlica de

    Pelotas, Pelotas, Brasil.2Secretaria Municipal de

    Sade e Bem Estar, Pelotas,

    Brasil.3Programa de Ps-graduao

    em Epidemiologia,

    Universidade Federal de

    Pelotas, Pelotas, Brasil.4Faculdade de Enfermagem

    e Obstetrcia, Universidade

    Federal de Pelotas, Pelotas,

    Brasil.

    Correspondncia

    E. Tomasi

    Universidade Catlica

    de Pelotas.

    Rua Marechal Deodoro 1078,

    apto. 304, Pelotas, RS

    96020-220, Brasil.

    [email protected]

    Elaine Tomasi 1,2

    Luiz Augusto Facchini 3

    Roberto Xavier Piccini 3

    Elaine Thum 4

    Denise Silva da Silveira 2,3

    Fernando Vinholes Siqueira 2,3

    Maria Apareci da Rodrigues 2,3

    Vera Vieira Paniz 3

    Vanessa Andina Teixeira3

    Abstract

    In order to describe the profile of primary health

    care teams in 41 municipalities with more than

    100 thousand inhabitants each, a total of 4,749

    health workers in two States from the South

    (1,730) and five from the Northeast (3,019) of

    Brazil were included from a sample of tradi-

    tional primary care units and the Family HealthProgram (FHP). After providing informed con-

    sent, the health workers answered a self-applied

    questionnaire with demographic, work-related,

    and their own health-related data. The principal

    differences between the two models involved the

    structuring of the teams, with the FHP including

    more community health age nts, more women,

    more young workers, fewer hired on the basis of

    formal admissions exams, more with a single job,

    more precarious employment arrangements, less

    employment satisfaction, less time on the job,

    larger workloads, greater specialization in the

    area, and better pay. The FHP also showed worseself-perceived health and more medical appoint-

    ments. Management efforts are needed to support

    these workers, who form the basis of the health

    system and are key protagonists in the develop-

    ment and consolidation of primary care.

    Primary Health Care; Family Health; Occupa-

    tional Health; Working Conditions

    Introduo

    O impacto do trabalho sobre a sade tem sido

    investigado com regularidade em diversas ca-

    tegorias profissionais 1,2,3. Com o crescimento

    mundial do setor de servios, os trabalhadores

    de sade tornaram-se um dos maiores contin-

    gentes da fora de trabalho. Essencial para a vida

    humana, o trabalho em sade insere-se na esferada produo imaterial, que se completa no ato

    de sua realizao. Ele coletivo, contando com a

    participao de diversos trabalhadores e envolve

    caractersticas tanto em sua forma assalariada e

    fragmentada, quanto artesanal 4.

    Estudos sobre o trabalho em sade devem

    considerar a complexidade das demandas em

    sade, as relaes entre as equipes e a articulao

    dos diferentes trabalhos em uma equipe de sa-

    de, determinando possibilidades e limites de res-

    postas s necessidades de sade das pessoas 5,6.

    O desgaste profissional, a satisfao no trabalho

    e a morbidade psquica entre mdicos de atenoprimria vm sendo estudados por diversos au-

    tores 7,8,9, tendo sido detectadas elevadas preva-

    lncias de sndrome de burnout(de 25% a 70%).

    No mbito do Programa Sade da Famlia

    (PSF) 10 sabe-se que atividades concernentes

    gerncia das unidades bsicas de sade e (UBS)

    representam acmulo de trabalho. Vnculos de

    trabalho precrios geram insegurana, dificulda-

    de no gozo dos direitos trabalhistas e reivindica-

    es quanto ao reconhecimento profissional.

    ARTIGOARTICLE

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    Tomasi E et al.S194

    Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, 24 Sup 1:S193-S201, 2008

    Embora os trabalhadores da ateno bsicaconstituam um enorme contingente de fora detrabalho, no contexto do SUS e do pas, poucose sabe sobre suas condies de trabalho e sa-de. Acredita-se que esses profissionais so a basedo sistema de sade e, portanto, protagonistasdo desenvolvimento e melhoria deste sistema 11.Seu processo de trabalho bastante peculiar, noqual interagem habilidades tcnicas e relaesinterpessoais, alm do compromisso implcito epara muitos desconhecido, com o entender cole-tivo do processo sade-doena, recaindo sobreeles grandes e crescentes responsabilidades.

    O Projeto de Expanso e Consolidao doSade da Famlia (PROESF) uma iniciativa doMinistrio da Sade, dirigida ao fortalecimentoda Ateno Bsica Sade, particularmente emmunicpios com mais de 100 mil habitantes 12.

    A avaliao dos perfis profissionais, das con-dies de trabalho e desgaste ocupacional podesubsidiar programas de readequao de proces-

    sos de trabalho, com o objetivo de melhorar oatendimento da populao.

    O objetivo deste estudo avaliar o perfil dasequipes de sade da rede bsica em 41 muni-cpios com mais de 100 mil habitantes de seteestados das Regies Sul e Nordeste, de acordocom caractersticas demogrficas, da formaoprofissional, do trabalho e da situao de sadefsica e psquica.

    Mtodos

    O universo do estudo foi constitudo por 41 mu-nicpios com mais de 100 mil habitantes, assimdistribudos: 17 do Rio Grande do Sul e quatro deSanta Catarina (Lote 2 Sul); dois em Alagoas, trsna Paraba, dez em Pernambuco, dois no Piaue trs no Rio Grande do Norte (Lote 2 Nordeste)12. Os trabalhadores foram includos a partir daamostra das UBS segundo o modelo de ateno(PSF ou tradicional) e proporcionalmente ao totalde UBS nos municpios 13,14,15. Por meio dos Pro-

    jetos de Adeso ao PROESF, foram identificadas855 UBS no Nordeste e 655 UBS no Sul. Em cadalote foram sorteadas aleatoriamente 120 UBS. No

    Sul, a amostra foi composta por 69 UBS do PSF e51 tradicionais, enquanto no Nordeste 79 eramdo PSF e 41 tradicionais. Todos os trabalhadoresdas 240 UBS foram convidados a participar doestudo, incluindo mdicos, enfermeiros, nutri-cionistas, odontlogos, psiclogos, tcnicos e au-xiliares de enfermagem, recepcionistas e agentescomunitrios de sade.

    A coleta de dados ocorreu entre os meses demaro e agosto de 2005, com uma equipe de 15auxiliares de pesquisa (entrevistadores) vincula-

    dos ao Estudo de Linha de Base de Avaliao doPROESF 16. Aps consentimento, os trabalhado-res responderam a um questionrio auto-apli-cado constitudo de informaes demogrficas,scio-econmicas, caractersticas do trabalho ede situao de sade. A avaliao de condiesestressoras no ambiente de trabalho 17 incluiuaspectos do ambiente fsico, fatores prpriosdas tarefas, aspectos institucionais e pessoais.

    A aferio dos transtornos mentais comuns foirealizada usando-se o Self-Report Questionnai-re-20 (SRQ-20) 18. Digitados no programa EpiInfo 6.04b (Centers for Disease Control and Pre-vention, Atlanta, Estados Unidos), os bancos dedados foram exportados atravs do aplicativoStat Transfer 5.0 (Circle Systems, Seattle, Esta-dos Unidos; http://www.stattransfer.com/index.html) para o pacote estatstico SPSS 10.0 (SPSSInc., Chicago, Estados Unidos). Inicialmente,procedeu-se s anlises descritivas, verificandoa distribuio dos casos em cada varivel. A an-

    lise bivariada examinou o comportamento dasvariveis segundo o modelo de ateno (PSF etradicional) e a regio (Sul e Nordeste).

    Para as variveis dependentes qualitativas asassociaes foram testadas por meio da compa-rao entre propores, utilizando-se o teste doqui-quadrado. No caso de variveis dependentesdo tipo quantitativas, as associaes foram testa-das usando-se a comparao entre mdias, utili-zando-se o teste F (ANOVA). Para ambos, foramconsideradas significativas as diferenas com va-lor de p inferior a 0,05.

    O estudo foi apreciado pelo Comit de tica

    da Universidade Federal de Pelotas, tendo obe-decido todos os requisitos para sua aprovao.

    Resultados

    Foram estudados 4.749 trabalhadores de sade,1.730 no Sul e 3.019 no Nordeste. A Figura 1 apre-senta a distribuio da amostra de acordo coma funo desempenhada no servio de sade, aregio e o modelo de ateno. Chama ateno amaior proporo de mdicos em UBS tradicio-nais no Sul e a expressiva presena de agentes co-

    munitrios de sade no Nordeste, tanto no PSFquanto na ateno tradicional.A renda bruta mensal referida pelos trabalha-

    dores, de acordo com a sua formao ou nvel deescolaridade, foi relacionada com o emprego naUBS. Comparando-se os dois lotes, as mdias sa-lariais para os mdicos (p < 0,001), os demais pro-fissionais de nveis superior (p < 0,001) e mdio(p = 0,03) e os auxiliares de enfermagem (p