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    Resumo

    Objetivo: descrever a epidemiologia, etiologiae formas de diagnstico precoce das desordensauditivas na criana, assim como as implicaesno desenvolvimento. Fontes pesquisadas: arti-gos da base de dados Medline do perodo de 1985

    a 2005. Livros tcnicos, teses, publicaes do Mi-nistrio da Sade e documentos disponveis naInternet tambm foram pesquisados. Sntese dosdados: a perda auditiva da criana pode ocorrerem diferentes faixas etrias, em decorrncia dedoenas diversas, e pode ser reversvel, progressi-va ou permanente. Para o diagnstico etiolgico, necessrio considerar os indicadores de risco:agentes pr, peri e ps-natais, o quadro clnico,

    tipo de perda auditiva, faixa etria, comporta-mento social e acadmico da criana. Testes audi-tivos objetivos e subjetivos e testes do desempe-nho escolar so teis para o correto diagnstico.As principais conseqncias da perda auditiva nainfncia so: distrbio no aprendizado da lingua-gem, com possvel retardo da aquisio de lingua-gem oral, distrbios de ateno, de compreenso,de leitura e alteraes de comportamento social.

    O tratamento pode demandar a utilizao de pr-tese e/ou outros meios de amplificao do sinalsonoro, acompanhamento mdico, orientao fa-miliar e escolar, e fonoterapia. Concluses: o

    diagnstico da perda auditiva na criana deve serprecoce, atravs do programa de triagem auditivaneonatal como tambm deve haver uma triagemposterior em escolares, Os casos suspeitos devemser encaminhados pelos diversos profissionais dasade e do ensino para avaliao especializada,para evitar seqelas.

    Descritores: Perda auditiva. Diagnstico. Criana

    Abstract

    Objective:to describe the hearing disorders epi-demiology, etiology, and the tools for early diagnosisin children, as well as the implications on child de-velopment. Data sources:Medline database was re-

    viewed in the period between 1985 and 2005. Tech-nical books, thesis, publications from the Ministry ofHealth and documents available on the Internet werealso reviewed. Data synthesis:in children, the hear-ing loss-related diseases can occur at different ages.The damage can be progressive, permanent or re-versible. For the etiological diagnosis, it is necessaryto consider the risk factors: pre, peri, and postnatalagents, clinical status, type of hearing loss, the

    childs age, and social and academic behavior. Objec-tive and subjective auditory tests and school perfor-mance tests are useful for attaining the correct diag-nosis. The main consequences of hearing loss in

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    O diagnstico da perda auditiva na infncia

    The diagnosis of hearing loss in childhoodEl diagnstico de la prdida auditiva en la infancia

    Andrza Batista Cheloni Vieira1, Luciana Resende de Macedo2, Denise Utsch Gonalves3

    Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina

    da Universidade Federal de Minas Gerais (FMUFMG)1 Fonoaudiloga. Mestranda do Centro de Ps-graduao em Cincias da Sade,

    rea de Infectologia e Medicina Tropical da FMUFMG2 Fonoaudiloga. Professora-assistente do Curso de Fonoaudiologia da UFMG3 Otorrinolaringologista. Professora Adjunta do Departamento de Oftalmologia,

    Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia da FMUFMG

    Revises e Ensaios Reviews and Essays Revisiones y Ensaios

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    childhood are: disorders in language learning, withdelayed or lack of acquisition of the verbal language,

    attention, comprehension, or reading deficits and so-cial behavior disturbs. The use of hearing aidsand/or other ways of sonorous signal amplificationadded to medical follow-up, family/school guidanceand speech therapy constitute the adequate treat-ment. Conclusions: the hearing loss diagnosis inchildren should be precocious, through a neonatalscreening program, and hearing should be recheckedlater at the school in a second screening evaluation.Suspected cases of hearing loss have to be referred byhealth and education professionals to specializedevaluation, in order to avoid sequels.

    Keywords: Hearing loss. Diagnosis. Child

    Resumen

    Objetivo:describir la etiologa, epidemiologa yformas de diagnstico precoz de las perturbaciones

    auditivas del nio y sus implicaciones en el desar-rollo. Fuentes pesquisadas: artculos de la basede datos Medline del periodo de 1985 a 2005. Tam-bin fueron pesquisados, libros tcnicos, tesis, pu-blicaciones del Ministerio de la Salud y documentosdisponibles en Internet. Sntesis de los datos: laprdida auditiva en el nio puede ocurrir en dife-rentes fajas etarias, decurrente de varias enferme-dades y sta puede ser reversible o permanente.

    Para el diagnstico etiolgico es necesario conside-rar los indicadores de riesgo: agentes pre, peri y posnatales, el cuadro clnico, tipo de prdida auditiva,faja etria, comportamiento social y acadmico delnio. Testes auditivos objetivos y subjetivos y testesde desempeo escolar son tiles para el diagnsticocorrecto. Las principales consecuencias de la prdi-da auditiva en la infancia son: disturbios de apren-dizaje del lenguaje, con retardo o no, de la adquisi-

    cin del lenguaje oral, disturbios de atencin, decomprensin, de lectura y alteraciones del compor-tamiento social. El tratamiento puede demandar lautilizacin de prtesis ou otros medios de amplifi-cacin la seal sonora, acompaamiento mdico,orientacin familiar y escolar, y fonoterapia. Con-clusiones:el diagnstico de la perdida auditiva enla infancia debe ser precoz, travs de los programasde triagem neonatal, con una segunda triagem pos-

    terior en la escuela. Los casos sospechos de perdidaauditiva deben ser encaminados por los profesiona-les de la salud y educadores para una evaluacinespecializada, evitando las complicaciones.

    Palabras clave: Prdida auditiva. Diagnstico.Nio

    Introduo

    Perda auditiva a reduo da audio em qual-quer grau que reduza a inteligibilidade da mensa-gem falada para a interpretao apurada ou para aaprendizagem1,2. Qualquer tipo de perda auditivapode comprometer a linguagem, o aprendizado, odesenvolvimento cognitivo e a incluso social dacriana. Por estes motivos, o diagnstico da defi-cincia auditiva deve ser o mais precoce poss-vel1,2, e neste sentido as Polticas de Sade Pbli-ca tm preconizado e desenvolvido o Programa deTriagem Auditiva Neonatal (PTANU). Tambm, recomendada a realizao da triagem auditiva dosescolares3. No Hospital das Clnicas da Universi-dade Federal de Minas Gerais (UFMG) a triagemauditiva neonatal universal parte integrante darotina de atendimento ps-parto do neonato des-

    de 20024; e os escolares tambm tem sido objetode avaliao na UFMG em estudos sobre progra-mas de triagem5,6.

    Na criana, a perda auditiva tem peculiarida-des quanto s causas, ao diagnstico, e ao trata-mento, que variam com a faixa etria. Isto deveser do conhecimento dos pediatras, para que sepossa suspeitar e diagnosticar o quadro o mais ra-pidamente possvel. A ateno destes profissio-

    nais deve estender-se desde o nascimento, emque predomina a surdez neurossensorial profun-da, at os escolares, que apresentam dficits levesou moderados, determinados por infeces daorelha mdia. Com o objetivo de ampliar os co-nhecimentos dos pediatras e outros profissionaisda sade quanto perda auditiva, os autores, pro-fissionais da rea, fizeram o presente ensaio.

    Classificao das perdas auditivas

    As perdas auditivas podem ser classificadassegundo o local do aparelho auditivo que apre-senta disfuno, o acometimento uni ou bilate-ral, e a intensidade ou grau7.

    Quanto ao local do aparelho auditivo afetado,a perda auditiva pode ser de transmisso, per-cepo (neurossensorial) ou mista. As perdas

    auditivas que decorrem de alguma afeco dasorelhas externa e mdia so denominadas detransmisso ou condutivas. As perdas neuros-sensoriais decorrem de leses nas clulas ciliadas

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    do rgo coclear de Corti (orelha interna) e/oudo nervo coclear. Quando h afeco condutiva

    e neurossensorial concomitantes, classifica-se aperda auditiva como mista.Quanto intensidade da perda auditiva, o cri-

    trio de classificao do grau depende de avalia-o instrumental, e se baseia nas mdias dos li-miares audiomtricos7. O grau discreto de perdaauditiva tem como parmetro limiares auditivosde 15 a 25 dB, o grau leve de 26 a 30, o grau mo-derado de 31 a 50 dB , a perda auditiva severaentre 51 e 70 dB, e a perda profunda >70 dB7.

    Etiologia e epidemiologia

    No recm-nascido e lactente a perda auditivapode ocorrer por causas pr, peri ou ps-na-tais1,3,7,8. Os fatores pr-natais so: 1) herana ge-ntica, em que as mutaes do gene GJB2 so asmais freqentes, 2) sndromes genticas, em quemais de 400 podem apresentar perda auditiva

    como uma de suas caractersticas, 3) malforma-es da orelha interna, 4) infeces congnitaspelo vrus da rubola, citomegalovrus, herpessimples, toxoplasmose, e sfilis, 5) uso gestacio-nal de substncias teratognicas - talidomida, l-cool, cocana, e medicamentos ototxicos, 6) ra-dioterapia no primeiro semestre da gestao.

    Os fatores perinatais associados perda auditi-va abrangem: 1) anxia, 2) prematuridade com

    peso abaixo de 1500 gramas, 3) hiperbilirrubine-mia, 4) traumatismo cranianos, 5) trauma sonoro.

    Os fatores ps-natais de risco para a perda au-ditiva so de variada natureza. Compreendemcausas metablicas, como hipotireoidismo e dia-betes, infeces virais (rubola, varicela-zoster,influenza, vrus da caxumba, citomegalovirus,entre outros), labirintite e meningite bacteriana,encefalite e otite mdia crnica. H outras cau-

    sas, menos freqentes, como doenas auto-imu-nes, acidose tubular renal, neoplasias, traumacraniano, trauma acstico, e utilizao de drogasototxicas aminoglicosdeos, diurticos deala, cisplatina, entre outras1,3,7,8.

    Nas triagens auditivas neonatais, estudos epi-demiolgicos mostram predominncia das perdasneurossensoriais, responsveis por 87,3% dosdiagnsticos de perda auditiva1,3,7,8. Neste pero-

    do, as perdas condutivas respondem por 6,7%, eas mistas por 6,0%. Quanto intensidade, as per-das neurossensoriais so severas/profundas em47,3% dos recm-nascidos e moderadas em

    52,7%9,10. A etiologia das perdas auditivas neona-tais tem causas variadas, em duas casusticas um

    gene determinante foi encontrado em 22% doscasos, e a concomitncia de sndromes genticasem 8%. A malformao congnita das orelhas foiencontrada em 3% dos bebs, fatores perinataisem 19%, enquanto as infeces pr e ps-nataisresponderam por 10% das perdas auditivas. Aetiologia no pode ser esclarecida em 38% dascrianas9,10.

    No pr-escolar e escolar, a perda auditiva de-

    corre, de modo geral, de alteraes adquiridasque abrangem o acmulo de cerume, corpo es-tranho, otite externa e, nos casos persistentes, aotite mdia com efuso2,11-13. Perda auditiva levede conduo a mais comum6. Casos de perdaauditiva moderada so, geralmente, conseqn-cia de otite mdia crnica com perfurao timp-nica, supurao e, por vezes, colesteatoma. Estescasos associam-se com tratamento inadequadode infeces agudas ou recorrentes e m condi-o socioeconmica do paciente1,2.

    A otite mdia com efuso caracteriza-se pelapresena de lquido na orelha mdia por mais detrs meses, com a membrana do tmpano nte-gra13. A maior prevalncia entre dois e 5 anos,perodo de aquisio da linguagem. O quadro geralmente bilateral sem dor significativa, sendoque a suspeita diagnstica surge a partir de quei-xa dos familiares em relao dificuldade audi-

    tiva ou distrbio de linguagem13. O quadro ,muitas vezes, conseqncia de hipertrofia daadenide com obstruo da tuba auditiva. Dessemodo, respirao oral um sinal indireto de pos-svel deficincia auditiva por otite com efuso.Logo, a faixa etria de maior crescimento da ade-nide na criana coincidente com a de aumen-to da freqncia de casos de otite com efuso eperda auditiva condutiva13.

    Estudo com populao de escolares de Goismostrou que 24% das orelhas testadas apresenta-va alteraes na audiometria, sendo a perda con-dutiva leve responsvel por metade dessas altera-es. Em outro estudo, a perda neurossensorialde grau leve foi verificada em 7% dos estudan-tes12.

    Diagnstico

    O diagnstico de perda auditiva, assim comodo grau e tipo, baseia-se na histria atual e pregres-sa, focalizada na pesquisa de fatores de risco gesta-

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    cionais, peri e ps-natais, no histrico de doenasinfecciosas e respiratrias, na avaliao otorrinola-

    ringolgica, e nos testes audiolgicos7,14

    . Estes tes-tes dividem-se em subjetivos e objetivos, e tm aindicao feita na dependncia da idade da crian-a, e do grau de desenvolvimento neuropsicomo-tor global e cognitivo.

    Os testes subjetivos so menos precisos, poisdependem da resposta do paciente, o que pode in-terferir no resultado. Os testes tm o resultado in-fluenciado pelo interesse, cognio e participaoda criana, o que exige habilidade, experincia epacincia do examinador8,9,14. Por isso, esses exa-mes devem ser realizados preferencialmente porprofissionais com formao especfica para essefim, sendo o audiologista o mais capacitado. Ostestes subjetivos mais importantes so a audiome-tria comportamental, a audiometria tonal e a vocal.

    A avaliao audiolgica comportamental realizada em neonatos e lactentes at os 2,5 anos.Baseia-se na observao das respostas comporta-

    mentais evidenciadas por estmulos acsticosinstrumentais (instrumentos musicais de percus-so), tons puros (audimetro peditrico) e sonsverbais8,9,14. As respostas esperadas so reflexas,como, por exemplo, reflexo ccleo-palpebral,procura da fonte sonora, cessao da atividadecorporal, mudana na expresso facial e visual,choro, risos, entre outros8,9,14. Os estmulos soapresentados em ordem decrescente de intensi-

    dade, sendo que os bebs de at trs meses devida devem estar em estado de sonolncia e, apsessa faixa etria, em estado de alerta8,9,14.

    A partir dos seis meses de vida, a avaliaoaudiolgica pode ser feita atravs do audimetropeditrico, que possibilita noo aproximada dograu de perda auditiva. Ainda assim, este tipo deavaliao tem caracterstica mais qualitativa doque quantitativa. As vantagens so baixo custo,

    fcil realizao e aparelhagem pouco sofistica-da8,9,14. A principal desvantagem a suscetibili-dade a interferncias ambientais, como rudos,pistas visuais e interferncia dos pais8,9,14.

    A audiometria tonal e a vocal buscam quanti-ficar os limiares auditivos. A audiometria tonalafere a menor intensidade sonora capaz de gerarsensao auditiva na criana para tons puros, en-quanto a audiometria vocal o faz para estmulos

    de fala8,9,14

    . Em funo da complexidade de co-mandos, estas avaliaes so indicadas paracrianas a partir de 6 anos de idade. O equipa-mento utilizado consiste em cabina acstica, au-

    dimetro, fones de ouvido, material para reforovisual e brinquedos pedaggicos.

    A audiometria condicionada uma variante daaudiometria vocal e tonal, que pode ser realizadaem crianas a partir de dois anos de idade. O obje-tivo fazer com que a criana faa a associao en-tre o estimulo sonoro apresentado e um estmulovisual de reforo. A audiometria ldica uma ou-tra alternativa de teste possvel para a faixa etriade dois a 6 anos que pode ser realizada em acor-do com o desenvolvimento neuropsicomotor dacriana. Por exemplo, a criana solicitada a reali-zar um ato motor, como encaixar uma pea de umbrinquedo, ao ouvir o estmulo acstico8,9,14.

    Os testes audiolgicos objetivos so mais pre-cisos do que os acima citados e compreendem aimitanciometria, a avaliao das emisses otoa-csticas e os potenciais auditivos evocados8,9,14. Aimitanciometria verifica a conduo sonora pelaorelha mdia atravs da mensurao e anlise dosdeslocamentos do sistema timpanossicular em

    resposta variao da presso do som8,9,14. O exa-me emprega uma sonda que colocada no con-duto auditivo externo, que deve estar desimpedi-do de cermen. A imitanciometria no definelimiar auditivo, e indica apenas se a conduo dosom est normal ou alterada na orelha mdia8,9,14.

    A avaliao das emisses otoacsticas (EOAT)busca, primordialmente, avaliar se a cclea estcom funo normal, e para isto uma sonda co-

    locada no conduto auditivo externo. Aps a pro-duo de um estmulo sonoro especfico - o click,a cclea deve produzir sons de freqncias varia-das, conforme o estmulo; estes so detectadospela sonda, e a seguir filtrados e amplificadospelo equipamento acoplado a um computador. Oexame indolor, no invasivo, rpido, de baixocusto, tem elevada sensibilidade, e a aparelha-gem porttil8,9,14. Essas caractersticas torna-

    ram a EOAT o mais adequado e utilizado para astriagens auditivas em recm-nascidos. Um resul-tado normal indica integridade da fisiologia co-clear para o nvel de audio social normal, que de at 25 dBNA8,9,14. Porm, um resultado alte-rado, em que as emisses otoacsticas esto au-sentes, pode ser um falso-positivo. Neste caso,h a necessidade de se avaliar tambm a orelhamdia, visto que um simples acmulo de cerume

    pode alterar o teste. Desta forma, no caso de au-sncia de respostas, o exame repetido, e rea-lizada a imitanciometria para confirmao do re-sultado8,9,14.

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    O potencial evocado auditivo ou audiometriade tronco cerebral um exame que avalia objeti-

    vamente a integridade do nervo coclear. reali-zado por meio de eletrodos de superfcie coloca-dos no couro cabeludo que buscam captarestmulos eltricos gerados desde a cclea at otronco enceflico, aps um estmulo auditivo(click) gerado por meio de um fone de ouvi-do8,9,14. Os registros so constitudos por ondasseqenciais, em que cada onda representa o tem-po em que ocorreu uma sinapse na via auditivacentral. As cinco primeiras ondas so as mais im-portantes8,9,14. O tempo de latncia, intervalos detempo entre ondas, conformao da onda e com-parao entre orelhas so os parmetros analisa-dos. Caso haja retardo, ausncia de ondas, alte-rao do formato da onda ou assimetrias entre oslados, o exame considerado como alterado8,9,14.

    A audiometria de tronco cerebral indica o tipoe o grau de perda auditiva com elevada especifi-cidade e sensibilidade, alm de ser um exame de

    rpida realizao, indolor e no invasivo9,14. Ape-sar da imaturidade das vias auditivas, j no re-cm-nascido, esse exame possibilita a determina-o objetiva e com boa acuidade do grau de perdaauditiva. Contudo, o registro bastante prejudi-cado pelas contraes dos msculos mastigat-rios e movimentos de deglutio, freqentes emrecm-nascidos e lactentes. Este fato constitui aprincipal desvantagem para a realizao do exa-

    me, que deve ser feito com a criana em comple-to relaxamento. Por este motivo a sedao ou aanestesia inalatria torna-se, na maioria das ve-zes, necessria na criana menor8,9,14.

    Triagens auditivas neonatais e em escolares

    A prevalncia de perda auditiva neonatal noBrasil situa-se entre 2 e 6 casos para 1.000 recm-

    nascidos vivos (NV). uma incidncia relativa-mente elevada se comparada com as doenas datriagem neonatal obrigatria, como a fenilceton-ria (1/10.000 NV), hipotireoidismo (2,5/10.000NV) e anemia falciforme (2/10.000 NV)18.

    No Brasil, a triagem auditiva neonatal obri-gatria no municpio de So Paulo19. Atualmen-te, est em fase de regulamentao no Senado oartigo 10 da lei 8069 de 13/07/1990, para insti-

    tuir a triagem auditiva neonatal universal no m-bito federal. Pases com incidncia de perda au-ditiva menor do que a observada no Brasilpreconizam a triagem auditiva neonatal univer-

    sal desde o incio da dcada de 9020. As triagensneonatais so realizadas utilizando como exames

    o teste das emisses otoacsticas e/ou a audio-metria de tronco enceflico. O objetivo detec-tar as perdas auditivas neurossensoriais neona-tais de todas as crianas (universal), uma vezque 50% dos casos de perda auditiva ao nasci-mento no apresentam indicadores de risco1,8.

    As triagens auditivas em escolares tambm es-to em processo de obrigatoriedade pela legislaobrasileira3. Os exames mais utilizados nessas tria-gens so a imitanciometria, a audiometria tonal eas otoemisses acsticas12,16,21,. Os testes visam de-tectar principalmente as perdas condutivas, queso mais freqentes nessa populao8. Nestes pro-gramas de triagem auditiva em escolares o objeti-vo diagnosticar as crianas com perda auditivaleve, visto que a perda moderada, associada a umaclara dificuldade para se comunicar, j teria sidoreconhecida nesta fase da vida11,16.

    Alguns comportamentos so indicativos deperda auditiva, e devem suscitar a ateno dospediatras e outros profissionais da sade. So es-tes: pedidos freqentes para que se repitam fra-ses, virar a cabea em direo ao orador, falarcom intensidade elevada ou reduzida, demons-trar esforo ao tentar ouvir, olhar e concentrar-senos lbios da professora, ser desatento quandoh debates na sala de aula, preferir o isolamentosocial, ser passivo ou tenso, cansar-se com facili-

    dade, no se esforar para demonstrar capacida-de, ter dificuldade no aprendizado. Alguns sinaise sintomas podem estar associados perda audi-tiva e merecem ateno, como a respirao oral,tontura, otalgia e zumbido7,11,15. Tambm devemter avaliao auditiva as crianas com dificulda-des escolares de linguagem oral (confuses fon-ticas, inverses, dissimulaes e trocas na articu-lao), de linguagem escrita (trocas, dificuldades

    na expresso escrita e na leitura), e de outra na-tureza (dislexia, disfasia e alteraes comporta-mentais); isto possibilita um diagnstico maisprecoce de parte dos casos2,11,17.

    Implicaes da perda auditiva nodesenvolvimento

    A perda auditiva na infncia, mesmo leve, ori-

    gina dificuldades escolares. Crianas com perdasauditivas discretas podem apresentar problemasde desenvolvimento de linguagem, dificuldadesde leitura e distrbios comportamentais1,7,15.

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    Estudos descrevem as conseqncias da per-da auditiva bilateral de acordo com o tipo e grau

    da perda1,8,15,22

    . Assim, a perda discreta com li-miar audiomtrico de 15 a 25 dB, causada maisfreqentemente por impedimento condutivo,permite que a criana oua os sons das vogais,mas dificulta a adequada percepo das consoan-tes. Quando se considera o nvel de rudo pre-sente no ambiente e a distncia existente entre ofalante e o ouvinte, esta criana pode perder de25 a 40% do sinal de fala1,8,15,22.

    A perda de audio leve com limiar audiom-trico de 25 a 30 dB faz com que alguns sons dafala e consoantes sonoras no sejam percebidas.Geralmente, crianas com esta perda apresentamdisfuno de aprendizado auditivo, retardo levede linguagem e da fala, e falta de ateno1,8,15,22.No sentido de superar estes problemas das crian-as com perda auditiva leve devemos facilitar acompreenso da fala pela proximidade do falan-te (local preferencial na sala de aula) e emprego

    de tecnologia auxiliar, como o uso de aparelhosauditivos individuais ou equipamentos de fre-qncia modulada1,8,15,22.

    A perda moderada da audio em limiares au-diomtricos de 30 a 50 dB verificada em crian-as com doenas crnicas de orelha mdia oucom perdas neurossensoriais. Com esses limiares,no se consegue ouvir a maioria dos sons da faladurante a conversao e apresenta problemas de

    articulao, como omisses, substituies e dis-tores na fala. Essas crianas podem se benefi-ciar com o uso de aparelho auditivo e local prefe-rencial na sala de aula, alm de necessitarem detreinamento auditivo e de leitura labial1,8,15,22.

    Na perda auditiva severa (entre 50 e 70 dB) ouprofunda (>70 dB), a criana no consegue perce-ber qualquer som da fala na conversao normal.Estas perdas auditivas graves so, geralmente,

    causadas por leses neurossensoriais. A crianacom perda auditiva severa apresenta problemasgraves de fala (se no estiver em uso de amplifica-o sonora), alm de dificuldade de comunicaoem grupo ou na presena de rudo. Necessitam,alm do aparelho de amplificao sonora, de fo-noterapia e treinamento de leitura labial1,8,15,22.

    A criana com perda auditiva profunda notem suficiente audio para propiciar o desen-

    volvimento espontneo de fala e linguagem. Es-tas podem ser desenvolvidas por meio do treina-mento extensivo e com amplificao sonora,dependendo da idade em que for iniciada a inter-veno1,8,15,22. Quanto mais precoce for o diag-nstico e o trabalho de (re)habilitao auditiva,mais prximo do normal ser o desenvolvimen-to da fala e linguagem1,8,15,22.

    Os efeitos da perda auditiva unilateral so me-nores do que os causados pela perda bilateral, po-rm, tambm podem ocasionar problemas. Empresena de rudo ambiental, as crianas comperda unilateral encontram maiores dificuldadesque as ouvintes normais para compreender a fala,mesmo quando a orelha melhor est posicionadaem direo fala22. Alm disso, a localizao es-pacial das fontes sonoras fica comprometida22.

    Concluso

    A perda auditiva na infncia um importanteproblema de sade pblica, tanto pela freqnciacomo pelos intensos prejuzos lingsticos, edu-cacionais e psicossociais que pode determinar. Anecessidade de triagens auditivas no perodoneonatal e nos escolares consensual.

    A qualificao e a ateno dos profissionaisda sade e do ensino para a perda auditiva pos-

    sibilita tanto a preveno quanto um encaminha-mento precoce e adequado dos casos suspeitos.Por sua vez, disto pode resultar o tratamento dadoena causal e as adaptaes fonoaudiolgicas,sociais e escolares necessrias compensao daperda auditiva. Ressalta-se a importncia da ade-quada orientao do pediatra, que, muitas vezes, o nico profissional da sade que v a crianacom perda auditiva. recomendvel que os neo-

    natos com fatores de risco pr, peri ou ps-nataispara perda auditiva e os pr-escolares com com-portamentos sugestivos de perda auditiva devamser encaminhados para avaliao especializadada audio.

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    Endereo para correspondncia:Sra. Andrza Batista Cheloni VieiraAvenida Professor Alfredo Balena, 190, sala 3.005

    Santa Efignia, Belo Horizonte - MGCep 30130-100E-mail: [email protected]@medicina.ufmg.br

    Enviado para publicao: 4/10/2006Aceito para publicao:15/2/2007