percurso metod

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  5. O percurso metodológico    P    U    C      R    i   o      C   e   r    t    i    f    i   c   a   ç    ã   o    D    i   g    i    t   a    l    N       0    6    1    0    4    2    4    /    C    A

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  • 5. O percurso metodolgico

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    5. O percurso metodolgico

    5.1. Etapas e procedimentos metodolgicos

    5.2. Percurso para a leitura e anlise da semiose no design nas cidades digitais

    5.3. Limitaes do mtodo

    [a semitica ] uma lgica que, em rede contnua, ensina a projetar, experimentar e conhecer, ao mesmo tempo em que estimula a descoberta para responder ao desafio e complexidade dos problemas cotidianos. Uma estratgia que ensina a pensar e, nesse sentido, muito mais que um mtodo.

    Ferrara (2004, p.56).

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    5. O percurso metodolgico

    Inicialmente, antes de apontarmos o percurso metodolgico propriamente dito, caracterizaremos nossa pesquisa segundo os objetivos, as fontes utilizadas na coleta de dados e os procedimentos de coleta. Esses so os critrios classificatrios para uma pesquisa cientfica propostos por Santos (2002).

    Considerando os objetivos, nossa pesquisa pode ser dividida em duas fases caracterizadas, respectivamente, como (1) exploratria e (2) descritiva. Segundo as fontes de dados da pesquisa, tambm podemos mencionar duas fases52 e caracteriz-las como (1) bibliogrfica e (2) pesquisa de campo. A pesquisa de campo se fez necessria, j que almejvamos capturar os sites das cidades diretamente do meio no qual eles esto disponibilizados, ou seja, diretamente da Internet. Finalmente, segundo os procedimentos de coleta de dados, nossa pesquisa pode ser caracterizada como um estudo de mltiplos casos.

    De acordo com Santos (2002, p.29), os procedimentos de coleta so os mtodos prticos utilizados para juntar as informaes necessrias construo dos raciocnios em torno de um fato/ fenmeno/ processo. Optamos, inicialmente, pelo estudo de caso, pois acreditvamos que, a partir da investigao de uma determinada cidade digital exemplar, pudssemos extrair concluses ampliveis s demais. No entanto, constatamos a necessidade de aumentar o corpus da pesquisa, o que a caracterizou como um estudo de mltiplos casos.

    5.1. Etapas e procedimentos metodolgicos

    Levando-se em considerao as fases de uma pesquisa proposta por Lopes (2005), podemos dizer que a nossa pesquisa foi sistematizada em quatro etapas, a

    52 importante ressaltar que o estabelecimento de duas fases, neste caso, no implicou em

    necessidade de finalizar uma para que pudssemos iniciar a outra, ou seja, ambas as fases foram desenvolvidas concomitantemente.

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    saber: (1) definio do objeto; (2) observao; (3) descrio e interpretao; (4) concluso.

    As principais operaes metodolgicas foram: (1) reviso de literatura; (2) pesquisa exploratria; (3) definio do problema e das hipteses; (4) definio do corpus da pesquisa; (5) definio da dimenso e do dispositivo de anlise; (6) pr-teste e reviso da dimenso e do dispositivo de anlise; (7) anlise descritiva e interpretativa; (8) verificao das hipteses e elaborao das generalizaes.

    O quadro abaixo expressa uma tentativa de relacionar as operaes metodolgicas com as etapas da pesquisa:

    ETAPAS OPERAES METODOLGICAS reviso de literatura pesquisa exploratria Definio do objeto definio do problema e das hipteses

    Observao definio do corpus da pesquisa definio da dimenso e do dispositivo de anlise pr-teste e reviso da dimenso e do dispositivo de anlise

    Descrio e interpretao

    anlise descritiva e interpretativa

    Concluso verificao das hipteses e elaborao das generalizaes.

    Quadro 3 Etapas e operaes metodolgicas.

    Embora tenhamos dividido todo o processo de pesquisa em etapas, devemos ressaltar que elas no so absolutamente autnomas nem estanques. Conforme aponta Lopes (2005, p.135), a dinmica do processo de pesquisa exige interaes, voltas, novas combinaes lgicas entre as etapas. O relacionamento entre as operaes metodolgicas pode ser expresso no seguinte grfico:

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    Figura 5 Relaes entre as operaes metodolgicas.

    No grfico acima, esto destacadas as duas fases que marcaram o incio e o fim da pesquisa: a definio do objeto marca o comeo e a concluso se d com a verificao das hipteses e elaborao das generalizaes. As setas indicam a relao de causa e conseqncia, ou de implicncia e dependncia, entre os procedimentos. Elas partem dos procedimentos de causa e chegam aos procedimentos conseqentes. Por exemplo, a relao entre a definio do corpus e as anlises uma relao de mo-nica, pois as anlises no exercem nenhuma implicncia na definio do corpus da pesquisa. Na verdade, para que possamos realizar as anlises necessrio que se tenha previamente definido o corpus.

    Vejamos, como mais um exemplo, a relao entre a definio do problema e das hipteses com a reviso de literatura. Essa uma relao de mo-dupla, ou seja, a definio do problema e das hipteses est diretamente relacionada com a reviso de literatura e, ao mesmo tempo, a reviso de literatura influenciada pela definio do objeto.

    Verificamos, assim, a criao de um modelo metodolgico, o qual, ao ser aplicado nossa pesquisa, pode, ainda, ser reescrito da seguinte maneira:

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    Figura 6 Relaes entre as operaes metodolgicas aplicadas ao estudo das cidades digitais.

    A seguir, so descritos os procedimentos metodolgicos empregados na pesquisa.

    1) Reviso da literatura A reviso de literatura contemplou, principalmente, os seguintes temas: (1)

    cidade digital, mais especificamente, cidade digital governamental; (2) design como fenmeno de linguagem; (3) relaes transversais do design com as teorias semiticas e da comunicao e com os campos da arquitetura e do urbanismo. Tal pesquisa foi fundamental para que pudssemos conhecer o estado da arte.

    O contato com a bibliografia sobre Comunicao e Semitica foi essencial para o estabelecimento do marco terico do trabalho. E, no menos importante, a bibliografia sobre metodologia cientfica nos garantiu conduzir a pesquisa e a redao final da dissertao dentro dos pressupostos socializados pela comunidade acadmica.

    As consultas bibliogrficas foram realizadas concomitantemente s demais etapas da pesquisa, tanto em bibliotecas pblicas, quanto em acervos particulares do pesquisador e da orientadora. A busca pela bibliografia tambm se deu atravs de pesquisas na Internet, principalmente em sites de programas de ps-graduao e de ncleos de pesquisa vinculados s instituies de ensino superior.

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    2) Pesquisa exploratria De acordo com Santos (2002, p.26), explorar visa criar maior familiaridade

    em relao a um fato ou fenmeno. O corpus53 (ou amostra) utilizado na pesquisa exploratria foi composto pelos sites oficiais das capitais de todos os estados brasileiros. A pesquisa teve por finalidade entramos em contato com todos esses sites, dentro de um mesmo referencial temporal, j que o contedo dos sites freqentemente alterado. O objetivo da pesquisa exploratria foi melhor definir a hiptese e dar subsdios para a constituio do corpus da pesquisa principal.

    Essa pesquisa foi realizada atravs do motor de busca Google (www.google.com.br), em 19 de agosto de 2006. A busca se deu pelas seguintes palavras prefeitura + . Em todas as buscas o endereo eletrnico das capitais se encontrava no primeiro registro da lista apresentada pelo site. Assim, foi elaborado um quadro (Apndice 1) contendo todas as capitais e seus respectivos endereos eletrnicos, bem como um banco de dados contendo todas as homepages54 dos sites visitados.

    A escolha por realizar a pesquisa exploratria com as capitais se deu pelo fato de serem elas, dentro de cada estado, cidades de relevncia poltica e concentrao em capitais de poderes pblicos, e, portanto, dotadas de alta carga simblica. Alm disso, de acordo com Cambraia e Abdalla (2002, p.2), este grupo de cidades normalmente se sobressai economicamente, financeiramente, industrialmente e comercialmente. As capitais estaduais so, ainda, cidades que possuem maior visibilidade tanto no cenrio nacional quanto no internacional.

    Com base na pesquisa exploratria, verificamos a existncia de uma pequena diversidade de contedo e de solues de design adotadas nas representaes das capitais no meio digital. Alm de outros fatores, dentre os quais esto os de cunho ideolgico e diferenciados graus de relevncia atribuda pelos governantes s questes de implantao de polticas de e-gov (governo eletrnico), tal diversidade resultante da desigualdade financeira entre as

    53 A palavra corpus de origem latina e significa, em portugus, corpo. Dentro das cincias

    histricas, esse vocbulo se refere a uma coleo de textos. Barthes (1976, p.96 apud Bauer e Gaskell, 2004, p.44), define corpus como uma coleo finita de materiais, determinada de antemo pelo analista, com (inevitvel) arbitrariedade, e com qual ele ir trabalhar.

    54 Homepage, de acordo com Leo (2005, p.140), um termo que pode significar tanto a porta

    de entrada de um endereo na WWW, como tambm a pgina principal de uma seo.

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    cidades, j assinalada na pesquisa desenvolvida por Cambraia e Abdalla (2002). Com relao s constantes, pudemos identificar que, em todos os sites, as matrizes da linguagem e pensamento so exploradas de forma semelhante e que o design est a servio de um contedo predominantemente jornalstico e publicitrio.

    3) Definio do problema e das hipteses O problema e as hipteses da pesquisa foram lanados levando-se em

    considerao as pesquisas bibliogrfica e exploratria. O problema e as hipteses constituem a definio terica do objeto da pesquisa. Eles esto explicitados no captulo 155.

    4) Definio do corpus da pesquisa

    Para definirmos o corpus da pesquisa principal, recortamos do corpus da pesquisa exploratria o grupo formado pelas capitais da regio sudeste. Tal tomada de deciso se deu em funo da exigidade de tempo e de recurso humano disponveis para a pesquisa. Utilizamos os critrios apontados por Barthes (apud Bauer e Gaskell, 2004, p.55) para a delimitao do corpus de uma pesquisa, a saber: (1) relevncia, (2) homogeneidade e (3) sincronicidade.

    A regio sudeste foi selecionada por apresentar as capitais mais populosas56 do pas e, conseqentemente, grandes concentraes de recursos. Ainda considerando a questo populacional, o grupo formado pelas capitais do sudeste brasileiro se destaca porque, nessas capitais, residem, no total, 10,65%57 da populao urbana brasileira. Assim, chegamos ao corpus formado por Belo Horizonte, Rio de Janeiro, So Paulo e Vitria.

    preciso, no entanto, evidenciar que no pretendemos, com tal amostra, estabelecer uma representatividade de todas as cidades brasileiras, tampouco de

    55 Ver p.20-24.

    56 De acordo com as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), levando-

    se em considerao as populaes residentes, em 01 jul. 2006, So Paulo e Rio de Janeiro so, respectivamente, as cidades mais populosas do Brasil. A quinta cidade mais populosa Belo Horizonte. Vitria, a menos populosa das capitais do sudeste brasileiro.

    57 Clculo realizado a partir dos dados do IBGE, em 01 jul. 2006. Disponvel em: . Acesso em 05 mar. 2007.

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    todas as capitais dos estados do Brasil58, mas sim, por meio de um processo metodolgico, eleger casos que sejam expresses qualitativas da representao das cidades brasileiras no meio digital.

    Cabe, ainda, assinalar que a escolha de quatro estudos de caso nos permitiu uma dinmica de comparao e confrontao, com possibilidades de concluses mais amplas. Essa escolha se alinha com o pensamento de Ferrara (2000, p.23), quando expe que a cidade nos leva a estud-la em confronto ou em comparao com outras cidades-irms.

    5) Definio da dimenso e do dispositivo de anlise Mesmo cientes de que a compreenso de um objeto (ou produto) se d de

    forma global, no caso de nossa anlise, por estarmos mais interessados nos aspectos e elementos de representao, focamos, inicialmente, nosso estudo na dimenso semntica.

    Consideramos relevante a anlise da dimenso semntica no estudo das cidades digitais pois essa dimenso possibilita-nos compreender como um produto (cidade digital) representa o objeto (cidade real) que est fora de si e, quando associada s dimenses sinttica e pragmtica, fornece subsdios para verificarmos quais so efeitos que tal objeto est apto a produzir em uma mente interpretadora.

    Para a compreenso dessa dimenso, lanamos mo da teoria geral dos signos, da Semitica, cincia desenvolvida por Charles Sanders Peirce. nela que encontramos os fundamentos e instrumentais para a observao, a descrio e a anlise das cidades digitais. Alm disso, como dispositivo de anlise, recorremos s matrizes da linguagem e pensamento propostas por Santaella (2005), apresentadas no captulo 4. Segundo a autora,

    () as modalidades e submodalidades das matrizes da linguagem e pensamento criam condies para a leitura e anlise dos processos lgico-semiticos que esto na base e toda e qualquer forma de linguagem, possibilitando ao analista divisar semelhanas e diferenas entre as manifestaes concretas de linguagem. O objetivo ltimo das classificaes o de funcionar como um dispositivo que permita perceber as formas semiticas de que partem os diversos processos sgnicos ou linguagens e as relaes que so possveis entre eles, o que nos leva

    58 Uma metodologia de composio de uma amostra que representa todas as cidades digitais

    brasileiras pode ser encontrada em Cambraia e Abdalla (2002) e, em Vilella (2003), encontramos uma amostra que representa todas as capitais do Brasil.

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    superao das divises estanques entre as linguagens na medida em que so fornecidas novas bases para uma viso intersemitica fundada em matrizes lgicas (Santaella, 2005, p.380-381).

    6) Pr-teste e reviso da dimenso e do dispositivo de anlise

    Uma vez definidos a dimenso e o dispositivo de anlise, bem como o corpus da pesquisa, aplicamos um pr-teste, o qual constituiu-se em uma leitura e uma anlise semitica do site oficial da cidade do Rio de Janeiro59. No pr-teste constatamos que as matrizes da linguagem e pensamento constituem um dispositivo extremamente pertinente para o estudo das cidades digitais como um objeto do Web Design, cuja linguagem a hipermdia. No entanto, foi diagnosticada a necessidade de uma anlise prvia da dimenso sinttica, a qual forneceria as bases para a anlise semntica.

    Constatamos, tambm, a necessidade de um percurso metodolgico que melhor conduzisse a lgica das anlises das cidades digitais. Encontramos em Santaella (2005a) um aporte terico e prtico, o qual est detalhadamente descrito no item 5.3 deste captulo e aplicado nas anlises demonstradas no prximo captulo.

    7) Anlise descritiva e interpretativa Enquanto signos e objetos do design, as cidades digitais foram enfocadas

    principalmente sob duas dimenses: (1) sinttica e (2) semntica. O dispositivo de anlise foram as trs matrizes da linguagem e pensamento propostas por Santaella (2005a). Foram realizadas anlises descritiva e interpretativa dos sites oficiais das capitais do sudeste brasileiro.

    Devemos ressaltar que as anlises empreendidas dizem respeito somente s homepages60 (pginas principais) dos sites oficiais das cidades estudadas. A homepage, por ter maior visibilidade, recebe maior ateno por parte dos

    59 Essa anlise foi parcialmente publicada no artigo intitulado La imagen y el imaginario urbano de la Era de la Cultura Digital: dos representaciones del Rio de Janeiro (Brasil) en el ciberespacio, apresentado na IX Jornardas del Imaginario Urbano, Buenos Aires, Argentina. Cf. Braida e Nojima (2007).

    60 A pesquisa foi realizada somente com as homepages porque as demais pginas que compem os

    sites oficiais das cidades brasileiras possuem diagramaes diversas e no criam uma idia de conjunto. Isso ocorre porque, em muitos casos, as pginas so desenvolvidas por diferentes equipes, sob a orientao de diversas secretarias municipais.

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    designers. Para Mitchell (2002, p.195), a homepage equivale fachada de uma edificao e, segundo Mamede (2001, p.4), a pgina inicial de um site representa sua instituio do mesmo modo simblico que a fachada do prdio que a hospeda.

    As anlises sero apresentadas, na ntegra, no prximo captulo.

    8) Verificao das hipteses e elaborao das generalizaes O ltimo passo metodolgico foi a verificao da validade das hipteses e

    conseqentes generalizaes, procedimentos necessrios pesquisa cientfica. Uma vez enunciadas as hipteses61, com base nas pesquisas preliminares (exploratria e bibliogrfica), tratamos de confront-las com os resultados das anlises empreendidas. Ao final, aps a confirmao da validade das hipteses, foram elaboradas consideraes e generalizaes vlidas para as demais cidades digitais brasileiras, as quais servem, tambm, como subsdios e pontos-de-partida para novas pesquisas.

    5.2. Percurso para a leitura e anlise da semiose no design nas cidades digitais

    Conforme j foi dito no captulo anterior, a Semitica filosfica de Peirce, tambm denominada Lgica, caracteriza-se pelo elevado grau de abstrao. No entanto, Santaella (2005c, p.XIII) afirma que alm de ser uma teoria do conhecimento, a semitica tambm fornece as categorias para a anlise da cognio j realizada. Com isso, ela tambm uma metodologia.

    Nesse sentido, os pesquisadores tm procurado desenvolver metodologias de aplicao da semitica em anlises das linguagens manifestas baseadas especificamente na gramtica especulativa, um dos ramos da semitica62 no qual so estudados os variados tipos de signos.

    Alm de fornecer definies rigorosas do signo e do modo como os signos agem, a gramtica especulativa contm um grande inventrio de tipos de signos e de misturas sgnicas, nas inumerveis gradaes entre o verbal e o no-verbal at o

    61 Sobre as hipteses da pesquisa, ver p.22-24.

    62 Os trs ramos da semitica so: (1) gramtica especulativa ou teoria e classificao dos signos;

    (2) lgica crtica que estuda os trs tipos de argumentos: abdutivos, indutivos e dedutivos; e (3) retrica especulativa ou metodutica ou, ainda, teoria do mtodo cientfico.

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    limite do quase-signo. Desse manancial conceitual, podemos extrair estratgias metodolgicas para a leitura e anlise de processos empricos de signos () (Santaella, 2005c, p.XIV).

    Santaella (2005c, p.5) prossegue afirmando:

    De fato, a gramtica especulativa nos fornece as definies e classificaes para a anlise de todos os tipos de linguagens, signos, sinais, cdigos etc., de qualquer espcie e de tudo que est neles implicado: a representao e os trs aspectos que ela engloba, a significao, a objetivao e a interpretao. Isso assim se d porque, na definio de Peirce, o signo tem uma natureza tridica, quer dizer, ele pode ser analisado: -em si mesmo, nas suas propriedade internas, ou seja, no seu poder para significar; - na sua referncia quilo que ele indica, se refere ou representa; e - nos tipos de efeitos que est apto a produzir nos seus receptores, isto , nos tipos de interpretao que ele tem o potencial de despertar nos seus usurios.

    Entretanto, no h um mtodo nico para a anlise da semiose63. Ferreira (1997, apud Santaella, 2005c, p.43) menciona que

    no h nenhum critrio apriorstico que possa infalivelmente decidir como uma dada semiose funciona, pois tudo depende do contexto de sua atualizao e do aspecto pelo qual ela observada e analisada. Enfim, no h receitas prontas para a anlise semitica. H conceitos, uma lgica para sua possvel aplicao. Mas isso no dispensa a necessidade de uma heurstica por parte de quem analisa e, sobretudo, da pacincia do conceito e da disponibilidade para auscultar os signos e para ouvir o que eles tm a dizer.

    A seguir, tomando por base o percurso para a aplicao da semitica proposta por Santaella (2005c), mencionamos os passos utilizados para a leitura das cidades digitais. Os conceitos tericos explicitados no captulo 4 funcionam como alicerces para as leituras e anlises empreendidas.

    Segundo Ferreira (1997, apud Santaella, 2005c, p.41),

    a caracterstica fundamental do percurso de uma anlise semitica que seus passos buscam seguir a prpria lgica interna das relaes do signo. Essa lgica, alis, j est explicitada nas numeraes de 1, 2 e 3 que seguem a lgica das categorias. Assim, o fundamento do signo, em nvel 1, deve ser analisado antes da relao do signo com o objeto, nvel 2. O objeto imediato, nvel 2.1, deve anteceder o exame do objeto dinmico, nvel 2.2, e assim por diante. claro que, na percepo, todos esses nveis sempre se misturam, mas o percurso analtico, que um percurso autocontrolado, e tanto quanto possvel autocriticado, deliberadamente estabelece passos para a anlise.

    63 A semiose, de acordo com Peirce, um processo ininterrupto, que regride infinitamente em

    direo ao objeto dinmico e progride infinitamente em direo ao interpretante final (Ferreira, 1997, apud Santaella, 2005c, p.42).

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    Vejamos, abaixo, um grfico que evidencia a lgica interna das relaes do signo:

    Figura 7 A lgica interna das relaes do signo. Fonte: Niemeyer (2003, p.33).

    Um outro grfico, apresentado por Santaella (2001, p.59) tambm ilustra a lgica interna das relaes do signo com os objetos e os interpretantes:

    Figura 8 Objetos e interpretantes do signo. Fonte: Santaella (2001, p.59).

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    Seguindo essa lgica, devemos proceder a leitura e anlise dos signos levando-se em conta as tricotomias propostas por Peirce. Devemos concentrar nossa ateno, num primeiro momento, no signo em si mesmo, depois na relao do signo com os objetos e, por ltimo, na relao do signo com os interpretantes.

    Figura 9 A lgica para leitura e anlise de um signo.

    Respeitando essa lgica das relaes internas dos signos, Santaella (2005c) prope trs passos para a leitura semitica: (1) abrir-se para o fenmeno e para o fundamento do signo; (2) explorar os poderes sugestivo, indicativo e representativo dos signos; e (3) acompanhar os nveis interpretativos do signo. A seguir, os trs passos so mais bem explicitados.

    5.2.1.1. Abrir as portas do esprito e olhar para os fenmenos: contemplar, discriminar e generalizar

    Santaella (2005c, p.29, grifos nossos) menciona que para se ler semioticamente um signo o primeiro passo a ser dado o fenomenolgico: contemplar, ento discriminar e, por fim, generalizar em correspondncia com as categorias da primeiridade, secundidade e terceiridade. A autora ainda afirma que Peirce nos adverte que o exerccio da fenomenologia exige de ns to-s e apenas abrir as portas do esprito e olhar para os fenmenos (Santaella, 2005c, p,29).

    Contemplar significa desautomatizar nossa percepo e disponibilizar-nos por inteiro para o que est diante de nossos sentidos, sem julgamentos ou interpretaes. Contemplar dedicar-se arte de olhar demoradamente e captar

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    dos fenmenos64 somente as qualidades, ou seja, mir-los como quali-signos. Para Peirce, essa capacidade contemplativa corresponde rara capacidade que tem o artista de ver as cores aparentes na natureza como elas realmente so, sem substitu-las por nenhuma interpretao (Santaella, 2005c, p.30).

    A discriminao implica em um olhar observacional sobre os fenmenos, encarando-os como sin-signos. Segundo Ferreira (1997, apud Santaella, 2005c, p.231), discriminar implica em observar as caractersticas existenciais dos fenmenos, daquilo que irrepetvel e nico. Devemos identificar as singularidades dos fenmenos e reconhecer os limites que o diferenciam do contexto ao qual pertence, ou seja, distinguir partes do todo.

    Por fim, conforme Santaella (2005c, p.32) apresenta, generalizar abstrair o geral do particular, extrair de um dado fenmeno aquilo que ele tem em comum com todos os outros com que compe uma classe geral. As generalizaes so realizadas a partir da identificao do aspecto de lei de um determinado fenmeno, reconhecendo-o como um legi-signo.

    Nesse primeiro nvel da leitura, consideramos os trs fundamentos do signo (qualidade, existncia e aspecto de lei), propriedades que permitem que as coisas funcionem como signos, ou seja, que possibilitam s coisas representarem algo que est fora delas e produzirem um efeito em uma mente interpretadora.

    5.2.2. Explorar os poderes sugestivos, indicativos e representativos dos signos

    Uma vez observado o signo em si mesmo, analisamos a relao dele com seu objeto. Como sabemos, na verdade, o signo tem dois objetos: um dinmico (externo ao signo) e outro imediato (interno ao signo). A anlise semitica nesse nvel deve ser iniciada pelo objeto imediato, pois por meio dele que o objeto dinmico se faz presente.

    O modo pelo qual o signo se refere ao objeto dinmico determinado pelo fundamento do signo e, por isso, so trs as espcies de olhares que devemos

    64 De acordo com Santaella (2005c, p.33), quando analisamos o fundamento, que o nvel

    primeiro dos signos, estamos ainda no domnio da fenomenologia, pois, nesse nvel, os signos nos aparecem como fenmenos.

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    desenvolver. Cada olhar leva em considerao um dos aspectos do signo: qualitativo, de existncia e de lei. Dessa distino surgem os trs tipos de objetos imediatos: descritivos, designativos e copulantes.

    De acordo com Santaella (2005c, p.34)

    a apreenso do objeto imediato do quali-signo exige do contemplador uma disponibilidade para o poder de sugesto, evocao, associao que a aparncia do signo exibe. Sob esse olhar, o objeto imediato coincide com a qualidade da aparncia do signo, uma vez que qualidades de aparncia podem se assemelhar a quaisquer outras qualidades de aparncia.

    Num segundo olhar, levando-se em considerao o sin-signo, o objeto imediato a materialidade do signo como parte do universo a que o signo existencialmente pertence (Santaella, 2005c, p.34). O objeto imediato aparece como parte de um outro existente (objeto dinmico). E, finalmente, uma terceira espcie de olhar, leva em considerao a propriedade de lei do signo, ou seja, o legi-signo com fundamento. Dessa forma, o objeto imediato um certo recorte que o objeto imediato apresenta de seu objeto dinmico (Santaella, 2005c, p.35).

    Por outro lado, e, na seqncia, devemos analisar o signo a partir do seu objeto dinmico, o qual determina o modo como o signo se refere ao que busca representar. So trs os modos atravs dos quais os signos se reportam aos seus objetos dinmicos: icnico, indicial e simblico. Nos cones, a referencialidade aberta e se concretiza por meio de similaridades; nos ndices, ela direta e pouco ambgua; nos smbolos, torna-se mais complexa, porque, tendo sua base nos legi-signos, so quase sempre convenes culturais.

    Tal como nos lembra Ferreira (1997, apud Santaella, 2005c, p.42),

    o signo mltiplo, varivel e modifica-se de acordo com o olhar do observador (). Mas preciso lembrar que o signo tem uma autonomia relativa em relao ao seu intrprete. Seu poder evocativo, indicativo e significativo no depende inteiramente do intrprete. Este apenas atualiza alguns nveis de um poder que j est no signo.

    5.2.3. Acompanhar os nveis interpretativos do signo

    Da anlise da referencialidade dos signos, passamos para anlise do processo interpretativo em todos os seus nveis. na relao do signo com o interpretante que o signo completa sua ao como tal. E, considerando a lgica

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    peirciana do inclusivo65, a interpretao embute outros dois aspectos do signo, quais sejam o de seu fundamento e o da sua relao com o objeto.

    Seguindo a complexidade da semiose, devemos nos aproximar dos trs interpretantes do signo na seguinte seqncia: (1) interpretante imediato, (2) interpretante dinmico e (3) interpretante final. A anlise semitica deve, ento, dar conta desses trs interpretantes, seguindo essa mesma ordem de aproximao.

    Quando analisamos o interpretante imediato [o qual interno ao signo] em um processo de signos, temos de levar em considerao o fato de que, por ser um interpretante em abstrato, potencial, o que fazemos na realidade, no ato da anlise, levantar, a partir do exame cuidadoso da natureza do signo, da relao com o objeto e do potencial sugestivo, no seu aspecto icnico, referencial, no seu aspecto indicial, e significativo, no seu aspecto simblico, algumas das possibilidades que julgamos que o signo apresenta (Santaella, 2005c, p.38-39).

    No lugar do interpretante dinmico aparece a figura do analista, ou seja, do intrprete. Enquanto receptores e analistas, ns nos encontramos na posio lgica

    do interpretante dinmico e colocamo-nos na pele de um intrprete singular com sua interpretao tambm particular. De acordo com Santaella (2005c, p.40), quando chegamos na etapa do interpretante dinmico, estaremos explicitando os nveis interpretativos que as diferentes facetas do signo efetivamente produzem em um intrprete. Tais nveis distribuem-se em trs camadas: (1) camada emocional (qualidades de sentimento), (2) camada energtica e (3) camada lgica (a mais importante quando o signo visa a produzir cognio).

    J o interpretante final, para o qual o interpretante dinmico tende, este no pode ser nunca efetivamente alcanado por um intrprete particular (Santaella, 2005c, p.41). Cabe, ainda, citar que so trs os nveis de interpretante existente na relao do signo com o interpretante final: rema, dicente e argumento.

    Podemos dizer, enfim, que um rema um signo que entendido como representando seu objeto apenas em seus caracteres; que um dici-signo um signo que entendido como representando seu objeto com respeito existncia real e que um argumento um signo que entendido como representando seu objeto em seu carter de signo (Santaella, 2005c, p.27).

    Ao chegarmos ao interpretante final, completa-se o processo de anlise do signo e da semiose, da interpretao analtica da potencial ao do signo.

    65 Ver p.72.

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    5.3. Limitaes do mtodo

    De acordo com Serra (2006, p.130), a escolha de um determinado mtodo ou mtodos adequados determinada pesquisa crucial para o seu maior ou menor sucesso e tal escolha deve ser feita em funo do reconhecimento do problema, do objeto, dos objetivos, das hipteses, dos recursos disponveis e das restries inerentes s pesquisas. No entanto, ao elegermos um mtodo, ou seja, um caminho a ser percorrido, demarcado, do comeo ao fim, por fases e etapas (Rudio, 1992, p.15 apud Santaella, 2006, p.133), devemos estar cientes das limitaes de abordagem intrnsecas a ele.

    Para ns, a conscientizao e a explicitao das limitaes impostas pelo mtodo to importante quanto a prpria exposio detalhada do mtodo utilizado. Por isso, devemos evidenciar que a principal limitao est no fato de as anlises e leituras das cidades digitais terem sido empreendidas por um nico analista, o qual carrega consigo um repertrio prprio.

    De acordo com Chiachiri Filho (2004, p.12),

    evidentemente, toda interpretao necessita de uma mente interpretadora. Sabemos que, ao realizar uma anlise sgnica, acabamos por ocupar, queiramos ou no, a posio lgica do interpretante dinmico, isto , a posio de uma mente singular, existente, psicolgica, com o repertrio cultural e intelectual de que ela dispe.

    Nesse sentido, h uma indagao deve ser feita: no seriam as interpretaes de um nico analista extremamente singulares, incompletas e, portanto, falveis? Santaella (2005c, p.39-40) prope uma resposta para tal inquietao:

    Como contraponto para as anlises individuais, e na tentativa de evitar a singularidade que lhes prpria, a cincia faz uso das pesquisas de campo, pois estas tm por funo avaliar que efeitos um dado processo de signos est produzindo em um determinado universo de pessoas. No obstante a importncia desse tipo de pesquisa, no se pode esquecer de que seus resultados se baseiam em quantificaes de atos interpretativos meramente intuitivos. Assim sendo, o que ganha em coletivizao da interpretao perde-se em acuidade analtica. A importncia dessa acuidade para se conhecer o potencial comunicativo de um determinado processo de signos advm do fato de que, quando analisamos signos, estamos diante de um processo interpretativo que tem por objeto um outro processo que tambm tem natureza comunicativa e interpretativa.

    Devemos ressaltar que, se por um lado a deciso de no privilegiar a consulta a um universo representativo de pessoas evidenciou uma limitao da pesquisa, por outro, ressaltou a primazia pela acuidade analtica. Tal deciso foi

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    ao encontro, ainda, dos objetivos estabelecidos, das restries e dos recursos disponveis para a pesquisa. A partir de leituras e anlises dos sites oficiais das capitais do sudeste brasileiro pudemos discursar qualitativamente sobre as trs dimenses semiticas das cidades digitais, ao passo que a consulta a um universo vlido de pessoas geraria dados prioritariamente quantitativos e envolveria, sobretudo, questes relacionadas dimenso pragmtica.

    Ainda, segundo Chiachiri Filho (2004, p.12),

    a prpria semitica peirciana que nos revela que a mensagem apresenta uma objetividade sgnica da qual no podemos escapar, se realizamos uma leitura que fica atenta a essa objetividade. Toda mensagem, de qualquer tipo que seja, apresenta um interpretante imediato, a saber, um potencial para ser interpretada, sua interpretabilidade. A leitura cuidadosa dos meandros da construo sgnica visa justamente ficar rente a esse potencial. Embora saibamos que uma interpretao de um intrprete particular no seja jamais capaz de atingir a interpretabilidade das mensagens em sua completude, o dilogo com a mensagem no seu modo de se fazer, na objetividade semitica que apresenta, pode nos deixar com alguma certeza de que algo de sua verdade pode ser revelado.

    Ento, uma vez diagnosticados os limites da pesquisa, pudemos vislumbrar o real alcance da mesma.

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