Pedagogia empreendedora

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  • Pedagogia emPreendedora

  • PRESIDENTE DA REPBLICA: Dilma Vana RousseffMINISTRO DA EDUCAO: Aloizio Mercadante

    SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILDIRETOR DE EDUCAO A DISTNCIA DA COORDENAO DE

    APERFEIOAMENTO DE PESSOAL DE NVEL SUPERIOR CAPES:Joo Carlos Teatini de Souza Clmaco

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTEUNICENTRO

    REITOR: Aldo Nelson BonaVICE-REITOR: Osmar Ambrsio de Souza

    DIRETOR DO CAMPUS SANTA CRUZ: Ademir Juracy Fanfa Ribas VICE-DIRETOR DO CAMPUS SANTA CRUZ: Darlan Faccin Weide

    PR-REITOR DE PESQUISA E PS-GRADUAO - PROPESP: Marcos Ventura FariaCOORDENADORA NEAD/UAB/UNICENTRO: Maria Aparecida Crissi Knppel

    COORDENADORA ADJUNTA NEAD/UAB/UNICENTRO: Jamile Santinello

    SETOR DE CINCIAS SOCIAIS APLICADASDIRETOR: Carlos Alberto Maral Gonzaga

    VICE-DIRETORA: Elieti Ftima de Gouveia

    CHEFIA DEPARTAMENTO DE ADMNISTRAO/IRATI CHEFE: Laura Rinaldi de Quadros

    VICE-CHEFE: Mauricio Joo Atamanczuk

    COORDENAO DO CURSO DE ESPECIALIZAO EM EDUCAO E FORMAO EMPREENDEDORA MODALIDADE A DISTNCIA

    COORDENADORA DO CURSO: Srgio Lus Dias Doliveira COORDENADORA DE TUTORIA: Monica Aparecida Bortolotti

    COMIT EDITORIAL DO NEAD/UABAldo Bona, Edelcio Stroparo, Edgar Gandra, Jamile Santinello, Klevi Mary Reali,

    Margareth de Ftima Maciel, Maria Aparecida Crissi Knppel,Rafael Sebrian, Ruth Rieth Leonhardt.

  • Jussara Isabel Stckmanns

    Pedagogia emPeendedora

  • REVISO ORTOGRFICADaniela Leonhardt

    Maria Cleci VenturiniSoely Bettes

    PROJETO GRFICO E EDITORAOAndressa Rickli

    Espencer vila GandraLuiz Fernando Santos

    CAPAEspencer vila Gandra

    GRFICA UNICENTROxxx exemplares

    Nota: O contedo da obra de exclusiva responsabilidade dos autores.

  • Sumrio

    Para incio de conversa 07

    Educao empreendedora: pressupostos e significados 09

    Pedagogia empreendedora e suas bases tericas 17

    Proposta e estratgia pedaggica da pedagogia empreededora 33

    Consideraes finais 45

    Referncias 47

  • Para incio de conversa

    A Pedagogia Empreendedora um dos instrumentos de que a comunidade pode dispor para aprender a formular o sonho coletivo, estabelecer uma proposta de futuro feita pela prpria comunidade. Empreender essencialmente um processo de aprendizagem proativa, em que o indivduo constri e reconstri ciclicamente a sua representao do mundo, modificando-se a si mesmo e ao seu sonho de autorrealizao em processo permanente de autoavaliao e autocriao.

    (DOLABELA, 2003 p. 32)Prezado(a) aluno(a)!A formao pedaggica para a docncia e o aprofundamento de novas

    teorias tem sido objeto de estudos, apontando a necessidade de pesquisas constantes sobre novas concepes epistemolgicas e as prticas pedaggicas, as quais trazem questionamentos frequentes, tanto para o docente como para a comunidade educativa, tais como: novas prticas pedaggicas para qu? qual o sentido da formao continuada? Quais os desafios que a escola hoje enfrenta perante as mudanas constantes da sociedade? Por que conceber a Pedagogia Empreendedora no mbito da escola? Nessa perspectiva, importante aprofundar e compreender as concepes epistemolgicas no mbito educacional e, considerando os desafios que surgem da sociedade local, regional e mundial.

  • 8Apresentamos-lhe as temticas, Unidades que iro compor este estudo:

    a primeira unidade de estudo, direcionada compreenso de alguns significados conceituais, histricos, bem como pressupostos da Educao Empreendedora;

    a segunda unidade de estudo, aprofunda a Pedagogia Empreendedora, a partir da tica de vrios autores, especialmente, de Fernando Dolabela.

    a terceira unidade de estudo aprofundar as concepes e metodologias da proposta e estratgia da Pedagogia Empreendedora, conforme teoria de Fernando Dolabela.

    Um bom estudo de aprofundamento a todos!

    Professora Ms Jussara Isabel Stockmanns

  • educao emPreendedora: PressuPostos e significados

    O saber empreendedor ultrapassa o domnio de contedos cientficos, tcnicos, instrumentais.

    Fernando Dolabela (2003, p. 29)

    consideraes PreliminaresO entendimento da importncia do papel do empreendedorismo,

    no contexto da sociedade atual cada vez mais relevante, considerando os fenmenos da economia local e global, o processo de globalizao, a evoluo tecnolgica e o desenvolvimento das potencialidades humanas. Antes de iniciarmos a temtica da Educao Empreendedora, vamos nos reportar concepo da palavra empreendedora ou empreendedorismo. O conceito de empreendedorismo, nos ltimos anos tem-se difundido no Brasil, especialmente no final da dcada de 1990. Um fator pelo qual tem-se discutido o empreendedorismo, no campo da educao, um estudo realizado em vrios pases onde se comprova a influncia da cultura empreendedora no processo de desenvolvimento econmico da sociedade atual, voltada para a

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    telecomunicao e tecnologias. O que se percebe nos estudos que quando uma populao tem perfil empreendedor, maior a possibilidade daquela sociedade se desenvolver economicamente e produzir maior potencial de riquezas.

    Como educadores crticos, precisamos considerar que estamos numa sociedade capitalista, da globalizao, do materialismo. Necessitamos nos perguntar, se estamos formando seres humanos que tm habilidades e competncias, que tm uma vida pessoal, social e profissional e que esto inseridos numa cultura local e num contexto global. Para que estamos formando a nova gerao? O foco do nosso trabalho pedaggico est voltado somente para a produo, para a profissionalizao, o gerenciamento do capital? Qual a preocupao da escola com estrutura emocional, afetiva, as relaes pessoais e sociais dos estudantes de hoje(considerando crianas, jovens e adultos)?

    O foco terico/metodolgico do curso, aqui em ao, o da Pedagogia Empreendedora, que contempla uma metodologia de ensino de empreendedorismo voltada para a Educao Bsica: educao infantil, ensino fundamental, o ensino mdio e educao profissional bsica e mdia, objetivando vincular as aes pedaggicas docentes e discentes com as tecnologias de desenvolvimento local, sustentvel. Por essa razo, voltamo-nos para as aes da escola como um todo, previstas nos projetos pedaggicos, e, no como ao isolada do docente em sala de aula, visto que o nosso pblico deva atingir toda a comunidade educativa. A proposta pedaggica deve estimular a capacidade criadora dos alunos, deixando-os sonhar, criar e inovar. Concepo aqui difundida como o empreendedorismo sendo uma forma de ser e no somente de fazer, transportando o conceito que nasceu na empresa para todas as reas da atividade humana. Portanto, parto do princpio de que a educao tem um papel de propor novas possibilidades aos sujeitos que so construtores da sua histria pessoal, como diz DELORS quando se reporta ao papel da educao: Parece ter como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentidos e imaginao de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possvel, donos de seu prprio destino. (DELORS, 2001, p. 100).

    educao emPreendedora: contextualizao histrica e concePes Preliminares

    para compreender a amplitude da Educao Empreendedora se faz mister compreender alguns conceitos e o contexto histrico. O termo empreendedorismo se originou com o desenvolvimento do capitalismo, no

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    perodo das grandes navegaes, do surgimento das mquinas, da necessidade de ampliar a capacidade de produo e do potencial humano, visando estimular o progresso econmico. Este termo surgiu pela primeira vez na Frana por volta dos sculos XVII e XVIII. Mas foi no sculo XIX que o economista francs, Jean Baptiste Say, apresenta o conceito empreendedor como sendo o sujeito que capaz de viabilizar a movimentao de recursos de baixa produtividade com rentabilidade e maior retorno financeiro. Posteriormente, o austraco, Joseph Schumpeter, economista do sculo XX, conceituou o empreendedorismo como a atuao de agentes de promoo com potencial de inovao por meio do desenvolvimento da tecnologia.

    Com o processo da globalizao da economia, especialmente desde o incio de 1980, houve transformaes radicais pelas quais, ainda hoje, a sociedade vem passando fortes mudanas e crises no setor da economia. Segundo FONSECA (1997, p. 2):

    Reflexo ocorrido pela juno de trs foras poderosas: 1) a terceira revoluo tecnolgica (inteligncia artificial; tecnologias ligadas a busca, processamento, difuso e transmisso de informaes; engenharia gentica); 2) a formao da rea de livre comrcio e blocos econmicos interligados [...]; 3) a crescente interligao patrimonial e a interdependncia dos mercados industriais e financeiros, em escala planetria, ou seja, no apenas entre as principais economias capitalistas, mas com participao tambm dos pases socialistas (FONSECA, 1997,p.2).

    As mudanas das trs foras poderosas, apresentadas por Fonseca, trouxeram novos desafios para a sociedade, pois, se anteriormente com o modelo taylorista/fordista com caractersticas da produo em massa, dava-se conta das demandas de mercado. A partir da revoluo tecnolgica, da rea livre de mercado e da interligao patrimonial e a interdependncia dos mercados industriais e financeiros, em escala planetria, a lgica do capital ou da forma de gerir riqueza passou a valorizar as habilidades e competncias humanas como processo fundamental das relaes de mercado. Desta forma, o foco da produo no se concentra mais na produo em larga escala, produo em srie, mas, sim, na especializao flexvel, dando origem ao surgimento de mdias e pequenas empresas, valorizando a produo regional e as vezes num sistema artesanal (ANTUNES, 2007). Em consequncia deste contexto, surge a crise do emprego clssico, devido ao estilo tradicional do mundo do trabalho, e como estratgia de sobrevivncia pessoal, ampliam-se o contingente de subempregos com foco nas atividades de venda ou prestao de servios. Este contexto ampliou, no mercado de trabalho os processos de cooperativizao, terceirizao, flexibilizao e informalizao como processo produtivo, tambm fruto de avanos das polticas neoliberais.

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    Frente a estes desafios da subsistncia humana, do mundo do trabalho, da necessidade formao humana permanente, Dolabela (2003) afirma:

    Assim, o emprego (forma de relao dependente) e o know-how (contedo), que constituram o paradigma das relaes de trabalho nos ltimos dois sculos, so substitudos na era da velocidade e da informao em tempo real por um outro modelo o da capacidade de gerar novos conhecimentos e identificar oportunidades (contedos), em uma relao de interdependncia (autonomia relativa), sob a forma empreendedora. (DOLABELA, 2003, p. 23)

    As alteraes nas condies de vida, de gerir a economia, trouxeram novas exigncias e desafios para a educao. Para responder aos desafios e demandas da sociedade globalizada, nos anos 90, a UNESCO instituiu uma Comisso internacional sobre a Educao para o Sculo XXI, visando discutir com toda a sociedade os desafios da sociedade e qual o papel da Educao nesse contexto. Como sntese do trabalho, foi produzido um relatrio, elaborado pela comisso internacional para a educao, intitulado Educao, um tesouro a descobrir, tambm conhecido como Relatrio Delors e objetiva estabelecer diretrizes para a educao, a fim de preparar o indivduo para o sculo XXI. Este relatrio aponta como o principal papel est reservado educao que consiste em fazer com que cada um tome seu destino nas mos e contribua para o progresso da sociedade em que vive (DELORS, 2001, p. 82). A Comisso prope quatro pilares para a educao (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver com os outros) que devem permear parte da educao ao longo de toda a vida. Ao mesmo tempo, provoca a toda a sociedade no compromisso de educar. No papel somente da instituio escolar a funo da educao, mas sim da sociedade como um todo, visto que a educao para a vida toda. Nesta tica, a educao passa a ser um processo intrnseco, permanente ao ser humano, ao longo de toda a sua vida. E, segundo Delors (2001, p. 105): deve fazer com que cada indivduo saiba conduzir o seu destino, num mundo em que a rapidez das mudanas se conjuga com o fenmeno da globalizao para modificar a relao que os homens e mulheres mantm com o espao e tempo. A partir do relatrio da UNESCO, descrito por Delors (2001), refletiu-se que a educao concebida a partir de princpios que constituem os quatro pilares da educao, so eles:

    a. Aprender a conhecer: Aquisio de um vasto repertrio de saberes e o domnio dos prprios instrumentos do conhecimento. Supem habilidades cognitivas - aprender a aprender. o eixo da competncia cognitiva. Trata-se de preparar o indivduo para ser um caador de conhecimentos, ou seja, criar o desejo de educar-se constantemente, cuidando do seu prprio desenvolvimento, do autodidatismo.

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    b. Aprender a fazer: Aquisio de uma qualificao profissional e competncias para enfrentar as variaes, as mudanas constantes. o eixo da competncia produtiva. Mais do que desenvolvimento de habilidades voltadas para a qualificao profissional, mas, em sentido ampliado, preparando o indivduo para enfrentar e superar experincias sociais de maneira efetiva.

    c. Aprender a conviver com os outros: Aquisio da aprendizagem progressiva do outro e da interdependncia quanto a projetos comuns. Enfrentamento das diversidades e do multiculturalismo. o eixo da competncia relacional. a relao do indivduo com os outros e com o meio-ambiente entendida na sua concepo mais ampla. Relaciona-se com a cidadania, com a participao e a democracia.

    d. Aprender a ser: Contribuir para o desenvolvimento total da pessoa: esprito e corpo, inteligncia, sensibilidade, responsabilidade pessoal, sentido esttico. o eixo da competncia pessoal. a relao do indivduo consigo mesmo, desenvolvendo e fortalecendo sua identidade, autoestima, autoconceito, autoconfiana, autodeterminao, autocuidado.

    O quadro abaixo retrata os saberes no processo de construo de competncias, na tica dos Pilares da educao, segundo documento da UNESCO.

    Quadro n 01: Construo de Competncias dos quatro pilares da Educao

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    A Comisso possui uma perspectiva de que esses pilares representam Um conjunto de conhecimentos e competncias indispensveis na perspectiva do desenvolvimento humano (DELORS, 2001, p. 89). O Relatrio da UNESCO acima descrito considera quatro pilares da educao, visando formao do ser integral, o desenvolvimento de competncias e habilidades mnimas para viver e conviver numa sociedade moderna. Assim, a educao bsica (Educao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mdio, Educao Profissional Mdia), na perspectiva da educao continuada, deve possibilitar a todos condies de cada um modelar, livremente, a sua vida. Portanto, diante desta realidade educacional e do cenrio econmico e social de instabilidades em que vivemos, preciso estimular o homem, a partir de sua capacidade de criativa e de iniciativa prpria, criao de recursos prprios de sobrevivncia ou tambm podemos chamar de esprito empreendedor. Se faz mister desenvolver, no homem, a iniciativa prpria, um sujeito que sabe empreender desde a educao bsica escolar.

    A Educao Empreendedora viabiliza a formao de um sujeito que conhece suas potencialidades e fragilidades, suas habilidades e competncias, capaz de criar, sobressair e enfrentar a realidade social e econmica, ou seja, que possa enfrentar e criar diferentes formas de garantir sua subsistncia. O empreendedorismo atualmente se estabelece como um fenmeno cultural fortemente relacionado ao processo educacional na formao de novas geraes. Segundo DOLABELA, (2003, p. 31)

    Educar quer dizer evoluir sem mudar as nossas razes; pelo contrrio, reconhecendo e ampliando as energias que dela emanam. tambm despertar a rebeldia, a criatividade, a fora da inovao para construir um mundo melhor. Mas principalmente construir a capacidade de cooperar, de dirigir energias para a construo do coletivo. substituir a lgica do utilitarismo e do individualismo pela construo do humano, do social, da qualidade de vida para todos.

    Portanto, educar, nesta perspectiva, exige concepes tericas, prticas pedaggicas, metodologias de ensino, anlise de currculo, prtica avaliativa e desejo coletivo da instituio escolar, previstas no projeto poltico pedaggico. A Pedagogia Empreendedora compreende que o empreendedorismo potencializa o desenvolvimento humano, social e econmico sustentvel.

    saiba mais:1. acesse tambm no site http://www.maringamanagement.com.br/

    novo/index.php/ojs/article/viewFile/18/74 e leia a reflexo da resenha realizada por Alan Andr Aparecido Bezerra, editada pela Revista Maring Management.

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    2. O livro O segredo de Lusa escrito por Fernando Dolabela, lanado em 1999, descreve de forma descontrada e quase romanceada uma experincia de auto-aprendizagem. A repercusso do sucesso desse livro foi tanto que a CNI, por meio do IEL(Instituto Euvaldo Lodi), acreditando na proposta criativa e engenhosa do autor, participou do lanamento do livro junto com parceiros, como Sociedade Brasileira para Promoo da Exportao de Software (Softex), Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), e SEBRAE. Hoje O segredo de Lusa tornou-se uma referncia bibliogrfica brasileira sobre empreendedorismo. Ao lado do reconhecimento do setor industrial, conjuntamente com o setor da academia, constituiu-se em veculo e catalisador da cultura empreendedora. Acesse o site ftp://ftp.unilins.edu.br/silvio/Pr%E1ticas%20Administrativas%20II/O-Segredo-de-Luisa.pdf e, leia o livro O segredo de Lusa.

    3. Gaudncio Frigotto no texto Os circuitos da histria e o balano da educao no Brasil na primeira dcada do sculo XXI1 disponvel no site: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n46/v16n46a13, faz um retrospectiva histrica da educao brasileira. Sugiro realizar uma leitura de forma crtica.

  • Pedagogia emPreendedora e suas bases tericas

    Sob a tica da Teoria dos Sonhos, empreendedor coletivo aquele que tem como sonho promover o bem-estar da coletividade, a melhoria das condies de vida de todos. Em outras palavras, chamo de empreendedor coletivo e indivduo capaz de aumentar a capacidade de conversao de uma comunidade, ampliando ou criando a conectividade entre seus diversos setores, gerando o capital social, que insumo bsico do desenvolvimento, e cujo trabalho consiste em criar as condies para que a comunidade desenvolva sua capacidade de sonhar.

    Fernando Dolabela (2003, p. 47)

    Pedagogia emPreendedora: reflexes conceituaisA abordagem acerca das concepes da Pedagogia Empreendedora se

    faz necessrio para que possamos compreender melhor o objeto de estudo em questo. Quando se reflete o ensino de empreendedorismo na escola, temtica pouco refletida no contexto pedaggico, percebe-se que h necessidade de compreende a educao a partir de uma mudana cultural e de compreenso

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    do contexto mundial em que vivemos e qual o papel da educao a partir dos desafios que so postos hoje com a sociedade do conhecimento e o desenvolvimento econmico e social, como j refletimos na primeira unidade. Abordar a temtica Pedagogia Empreendedora no mbito da educao escolar bsica nos remete refletir concepes educacionais no mbito das propostas pedaggicas, currculo, metodologias de ensino, avaliao da aprendizagem etc.

    A concepo de educao, para Saviani (2011), pertence ao trabalho no material, no fsico, logo, o que no se mostra concretamente, mas ele garantido pela sua natureza e produzido historicamente pelo homem, hora de forma objetiva, mas muitas vezes presente na subjetividade. Para ele, s se aprende de fato, quando o objeto de aprendizagem (conhecimento) se transforma em uma espcie de segunda natureza, ou ainda, quando se adquire um habitus. A prtica educativa se constitui no ato de produzir de cada indivduo, e, no conjunto dos homens, a humanidade produz histrica e coletivamente o conhecimento. Desta forma, o objeto da educao ou da ao pedaggica remete-nos tanto a perceber os elementos culturais, que devem ser compreendidos para que o homem se torne humano, como identificar qual o caminho para se atingir esse objetivo. Em relao ao caminho que deve descobrir para se alcanar os objetivos educacionais Saviani (2011, p. 14) coloca que pela mediao da escola, acontece a passagem do saber espontneo ao saber sistematizado, da cultura popular erudita, destacando-se que essa mediao trata-se de um movimento dialtico. E conclui com o seguinte trecho:

    A compreenso da natureza de educao enquanto um trabalho no material, cujo produto no se separa do ato de produo, permite-nos situar a especificidade da educao como referida aos conhecimentos, ideias, conceitos, valores, atitudes, hbitos, smbolos sob o aspecto de elementos necessrios formao da humanidade em cada individuo singular, na forma de uma segunda natureza, que se produz, deliberada e intencionalmente, atravs de relaes pedaggicas historicamente determinadas que se travam entre os homens. (SAVIANI, 2011, p. 20).

    Como educadores, temos um ato de educar, a partir de uma prtica pedaggica, e ela est pautada por concepes. Ento, frente temtica da Pedagogia Empreendedora, precisamos compreender o que Pedagogia e o que Empreendedorismo ou ser Empreendedor.

    Saviani(2011), ao abordar o conceito de Pedagogia, afirma que um processo pelo qual o homem se torna plenamente humano. Ele diferencia a pedagogia geral da pedagogia escolar, aponta que a geral envolve a noo cultural como um todo, tudo o que o homem constri. Na pedagogia escolar, aquela ligada ao saber sistematizado, estruturado a partir de mtodos prprios, descobrindo processos pedaggicos, organizando metodologias,

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    tendo como foco a assimilao de um contedo determinado historicamente. Para SAVIANI (2001, p. 102), a Pedagogia tem ntima relao com uma teoria da prtica educativa, salienta que:

    Na verdade o conceito de Pedagogia se reporta a uma teoria que se estrutura a partir e em funo da prtica educativa. A pedagogia, como teoria da educao, busca equacionar, de alguma maneira, o problema da relao educador-educando, de modo geral, ou, no caso especfico da escola, a relao professor-aluno, orientando o processo de ensino e aprendizagem(SAVIANI, 2001, p. 102).

    Portanto, Pedagogia um campo de conhecimento sobre a temtica educativa, tanto construda historicamente como diretriz orientadora da ao educativa. Podemos dizer, a Pedagogia se ocupa do ato educativo, volta sua ao pela prtica educativa, esta fazendo parte da atividade humana e da vida social do indivduo. Concebe-se que a educao prtica humana e social que transforma os seres humanos nos seus aspectos fsicos, mentais, espirituais, culturais, possibilitando a transformao ou a configurao da nossa existncia humana individual e coletiva.

    Podemos dizer que Empreendedor algum que tem a capacidade de tomar iniciativas e de reunir recursos diversos e criativos, de maneira nova, visando iniciar ou dar continuidade de atividades, gerindo uma organizao relativamente independente, cujo sucesso incerto. Segundo na concepo de Drucker (1987), empreendedor aquele que cria algo novo, algo diferente, aquele que muda ou transforma valores e, tambm, pratica a inovao sistematicamente, com fontes de inovao, criando oportunidades novas. J Kaufmann (1990) ressalta que a capacidade empreendedora est na habilidade de inovar, de se expor a riscos de forma sbia, e de se adequar s rpidas e contnuas mudanas do ambiente de forma gil e eficiente. Na opinio de Filion (1999), um empreendedor uma pessoa criativa que imagina, desenvolve e realiza suas vises, marcada pela capacidade de planejar e atingir objetivos, mantendo um nvel de percepo do ambiente em que vive e utilizando-o para identificar novas oportunidades de negcios.

    Porm, Segundo Dolabela(2003, p. 43), empreendedor um ser autnomo que coopera e gera valores para a comunidade, ele afirma:

    O que define empreendedor um ser a um tempo autnomo e cooperante sua capacidade de identificar e aproveitar oportunidades em seu campo de atuao, gerando valores para a comunidade sob a forma de conhecimento, bem estar, liberdade, sade, democracia, riqueza material, riqueza espiritual, etc. por isso que a educao empreendedora deve explicitar uma vontade e apoiar-se em racionalidades compatveis com tal desiderato.

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    Portanto, estimular a ao empreendedora desde o ambiente familiar e escolar, faz-se necessrio, criando uma cultura com poder de induzir a capacidade empreendedora. Percebe-se que o desafio da Pedagogia Empreendedora que se impe para a dinmica ou proposta educacional de construir novos valores positivos em uma sociedade heterognea com uma diversidade cultural. Porm, um outro desafio que se impe o fator negativo pelas diferenas imensas de renda, relaes de poder e conhecimento cientfico. Entra a o papel do professor, ele em seu trabalho pedaggico dirio se prope a ser empreendedor em sala de aula, porque estar diante de uma tarefa desenvolver potenciais humanos, com naturezas peculiares e viso de mundo diversos, e, no somente de transferir informaes (SAVIANI, 1994). necessrio como escola e na ao docente se perguntar: que perfil de homem estamos formando, empreendedores ou apenas profissionais que desempenharo bem o seu papel de funcionrio ou colaborador? Podemos lembrar dos nossos pais ou professores, dizendo: voc precisa estudar e ser um bom aluno para conseguir um bom emprego no futuro? Quais so as causas pelas quais no ouvamos nunca: Voc precisa estudar para ser um grande empresrio ou um grande empreendedor? Os futuros empreendedores esto dentro de casa, nas escolas e na comunidade, muitas vezes deixados de ser estimulados para uma cultura empreendedora, limitando as futuras geraes de sonhar.

    O contexto atual aponta uma era de fim dos empregos, e uma das alternativas que se apresenta para a soluo deste impasse educar as futuras geraes para o esprito empreendedor. No se trata aqui de criar novas disciplinas, no mbito curricular da escola, e, sim tomada de atitudes, metodologias que propiciem e favoream a construo do conhecimento, estimulem a criatividade, insiram os alunos no contexto social com aes de pesquisa de campo e discutindo alternativas ou ampliao de aes voltadas para o contexto real e o conhecimento cientfico de cada rea do conhecimento do currculo escolar. Para isso, necessitamos de quebra de paradigmas na prtica pedaggica, nas aes didticas do contexto de sala de aula. Novos elementos no contexto de sala de aula devem ser introduzidos pelos educadores, como a estimulao e valorizao das atitudes, emoes, sonhos, comportamentos. No contexto curricular, abordar os contedos em suas dimenses conceituais, procedimentais e atitudinais. No somente otimizar os contedos conceituais no mbito da escola, veremos o que afirma COLL(2000,p.14), quanto concepo de contedos escolares:

    Nas propostas curriculares da Reforma considera-se que os fatos e conceitos so somente um tipo de contedos e que juntamente com eles devem ser levados em considerao os outros tipos de contedos aos quais pertencem os exemplos anteriores, ou seja, os

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    procedimentais e as atitudes, valores e normas. Os saberes e as formas culturais cuja assimilao pelos alunos e alunas procura favorecer a educao escolar podem pertencer a uma ou outra dessas categorias, devido ao qual no h motivo algum para reservar a denominao de contedos, como tem sido feito, tradicionalmente, categoria de fatos e conceitos. importante mencionar que no se trata de uma questo puramente terminolgica. Considerar os procedimentos e as atitudes, os valores e as normas como contedos, no mesmo nvel que os fatos e conceitos, requer chamar a ateno sobre o fato de que podem e devem ser objeto de ensino e aprendizagem na escola; pressupe aceitar at as suas ltimas consequncias o princpio de que tudo o que pode ser aprendido pelos alunos pode e deve ser ensinado pelos professores. (COLL, 2000, p. 14)

    Considerar contedos procedimentais e atitudinais no mbito curricular tem mais implicaes pedaggicas, supe-se, por parte dos docentes e da equipe diretiva da escola, a anlise das estratgias didticas e os processo psicolgicos atravs dos quais so ensinados e aprendidos os fatos, conceitos, procedimentos e as atitudes, os valores e as normas. Segundo Dolabela (2003), todos nascemos empreendedores, isto quer dizer curiosos, criativos e questiona porque o deixam de s-lo no decorrer dos tempos, consequncia pela convivncia de contra valores empreendedores na educao familiar, escolar, nas relaes sociais, parmetro este, conservador a que o indivduo exposto e se coloca numa atitude de sdito. O quadro a seguir retrata os contedos de aprendizagem por conceitos, procedimentos e atitudes:

    Quadro n 02: contedos de aprendizagem por conceitos, procedimentos e atitudes, segundo Coll.

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    DOLABELA, ao falar da abordagem dos contedos do trabalho docente (2003, p. 30), afirma:

    Na escola convencional, os contedos so tratados como verdades definitivas, destinadas a transmitir a quem os adquire a sensao de segurana e a quem os propaga, a aparncia de autoridade. No entanto, no campo empreendedor a incerteza substitui a suposta verdade como componente estrutural. Por essa razo, pela necessidade de trilhar caminhos nunca trilhados, a educao empreendedora deve desenvolver a autoestima e valorizar o potencial de persistncia dos alunos diante de resultados no esperados, diante do erro e do que os outros consideram fracasso.

    Tambm podemos dizer que Paulo Freire (2000, p. 76), o sbio educador brasileiro, sintetizou esse esprito inovador, empreendedor, na seguinte frase: A vida na sua totalidade me ensinou como grande lio que impossvel assumi-la sem risco. Nos deparamos na vida com constantes riscos, e so eles que nos impulsionam a tomar atitudes, tomar decises e a enfrentar os desafios cotidianos e, neste contexto da educao empreendedora, esta ao deve comear na mais tenra idade.

    Portanto, as aes pedaggicas da Pedagogia Empreendedora permeiam a formao de atitudes, de desenvolvimento de tcnicas de planejamento e aes concretas fundamentadas em conhecimentos tericos. Como prtica pedaggica cabe a tarefa formar intelectos preparados a sonhar, a inovar, a planejar e assumir riscos visando sucesso. Os pressupostos desta formao empreendedora baseiam-se em dois eixos importantes: habilidades comportamentais e conhecimento cientfico. Segundo DOLABELA (2003, p. 33): O autoconhecimento e a autoestima so elementos fundamentais na aprendizagem e na construo da pulso empreendedora, influenciando tanto o processo cognitivo quanto as relaes do indivduo com o outro e com o mundo. Isto pressupe condies favorveis no mbito escolar para que o aluno possa se desenvolver em suas habilidades e competncias com uma formao significativa, levando em considerao a bagagem existencial, afetiva, social e cognitiva.

    Pedagogia emPreendedora na concePo de fernando dolabela

    Aprofundar a concepo e a teoria da Pedagogia Empreendedora a partir da tica de Dolabela, faz-se mister, visto que tem uma parceria e obteno

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    de dados, a partir de uma pesquisa de campo vasta, com a aplicao da proposta da Pedagogia Empreendedora em vrias escolas pblicas e privadas no Brasil.

    Compreender Fernando Dolabela, a partir de sua formao e de seu espao profissional e intelectual, remete-nos a entender melhor sua teoria. graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Direito e Administrao, ps-graduado pela Fundao Getlio Vargas-SP, e mestre pela UFMG. Foi pioneiro na rea da Pedagogia Empreendedora, com um sonho de disseminar a cultura empreendedora no pas, nesta trajetria recebeu apoio de instituies como CNPq, Sociedade Softex, CNI-IEL e SEBRAE para criar e implantar a Oficina do Empreendedor, programa este de ensino de empreendedorismo. Atua como conferencista, palestrante e aplica seminrios para professores universitrios e da educao bsica. Possui nove livros publicados e vrios artigos cientficos na rea, apresentados em congressos nacionais e internacionais. O seu livro O Segredo de Luisa contribuiu para o estudo do empreendedorismo, e como obter, lutar e abrir seu prprio negcio a partir da histria de Luisa. A obra apresenta todas as etapas de crescimento de Luiza at chegar ao seu objetivo, ou seja, a conquistar o seu prprio negcio, o perfil empreendedor, at ela conseguir realizar o seu sonho. Tambm com o apoio da organizao no-governamental Viso Mundial e uma equipe multidisciplinar, a partir de 2002, Dolabela comeou a concretizar seu novo sonho: desenvolveu e testou a teoria e metodologia da Pedagogia Empreendedora, envolvendo mais de 20 mil alunos da Educao Infantil e do Ensino Fundamental em quatro regies do Brasil. Toda essa experincia resultando na publicao do seu livro Pedagogia Empreendedora, o ensino de empreendedorismo na Educao Bsica, voltado para o desenvolviemnto social sustentvel. Segundo DOLABELA (2003), grifo destacado na contracapa desta obra, afirma:

    A tarefa da educao empreendedora principalmente fortalecer os valores empreendedores na sociedade. dar sinalizao positiva para a capacidade individual e coletiva de gerar valores para toda a comunidade, a capacidade de inovar, de ser autnomo, de buscar a sustentabilidade de ser protagonista. Ela deve dar novos contedos aos antigos concietos de estabilidade e segurana impregnados na nossa cultura, mas referentes a contextos hoje inexistentes. Atualmente, estabilidade e segurana envolvem a capacidade da pessoa de correr riscos limitados e de se adaptar e antecipar s mudanas, mudando a si mesma permanentemente.

    Para tanto, Dolabela se interroga: Qual a emergncia na formao de novos empreendedores? Como ele mesmo interroga: Quais motivos esto por trs da necessidade de motivar os nossos jovens a abrir o prprio negcio ou ter atitudes empreendedoras na rea que escolheram para atuar? (DOLABELA,

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    1999, p. 29). A resposta parte da anlise da histria dos anos 1970, os conflitos econmicos para as sociedades. Percebe que se faz necessria a qualificao do trabalhador, pautado na formao de empreendedores. Ento efetiva prticas pedaggicas empreendedoras e escreve sobre a Pedagogia Empreendedora. Para Dolabela (1999, p. 32), a nova organizao da produo no mundo coloca a pequena e a mdia empresa em seu centro e refora sua importncia para o crescimento econmico. Com o desenvolvimento econmico e abertura de sucesso em pequenos negcios, as sociedades so estimuladas a formar pessoas com uma nova atitude , o autor (2003, p. 21) reconhece que a Pedagogia Empreendedora possibilita uma resposta necessidade da formao de uma nova gerao e de novos espaos de trabalho. Dolabela (1999, p. 30) reitera que o desenvolvimento econmico funo do grau de empreendedorismo de uma comunidade. Desta forma, a formao empreendedora deixa de ser uma exceo para alguns e passa a ser uma necessidade para todos.

    A possibilidade de novas oportunidades uma questo central na Pedagogia Empreendedora, que parte do princpio que o empreendedor um sujeito capaz de gerar novos conhecimentos, que abrangem tanto o ambiente do sonho e o macroambiente quanto caractersticas do indivduo (DOLABELA, 2003, p. 26), como a ousadia de criar, de perseverar, de assumir riscos, e que com suas opes podem causar mudanas. Na proposta de Dolabela, sua proposta de educao empreendedora encontra-se fundamentada nas orientaes da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo XXI, da UNESCO, j apresentado na primeira unidade, que confia educao o papel de impulsionar a humanidade na capacidade de domnio de seu prprio desenvolvimento, pois cabe a educao fazer com que cada um tome o seu destino nas mos e contribua para o progresso da sociedade, baseando o desenvolvimento na participao responsvel dos indivduos e das comunidades (DELORS, 2001, p.82). De acordo com esse Relatrio, o papel da educao formal e no formal, como princpio geral de sua ao, deve ser o de incitamento iniciativa, ao autoemprego, ao trabalho em equipe, ao esprito empreendedor. O documento provoca a cada pas a ativar os seus recursos mobilizando aos novos saberes e s autoridades e iniciativas privadas a criarem novas atividades que afastassem o desemprego decorrente era tecnolgica que estava por vir. Nos pases em desenvolvimento, potencializar o ser humano, estimulando-o a sonhar e a criar, a melhor via de se conseguir e alimentar processos de desenvolvimento econmico e social (DELORS, 2001).

    Com esta percepo e compreenso de mundo futuro/presente, Dolabela (2003) afirma que o conhecimento do empreendedor vai alm contedos cientficos ou tcnicos j construdos pela humanidade. O saber pertinente ao empreendedor remete capacidade de representar a realidade de forma diferenciada e congruncia entre o seu eu e a realidade individualmente

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    construda (DOLABELA, 2003, p. 29) que, ambas prximas, proporcionam confiana e autoestima. Ele se questiona ao perceber que o empreendedor perceber a realidade em sua volta e sente necessidade de representar o mundo de uma forma diferenciada e ampliada. somente a inovao que vai lhe permitir iniciar e desenvolver uma caminhada empreendedora. A capacidade de identificar oportunidades fruto do olhar e, portanto, atributo do indivduo que aprendeu a ver o que outros no distinguem (DOLABELA, 2003, p. 29).

    Assim, a prtica empreendedora configura-se no momento que um sonho ou uma ideia se torna realidade. Para o autor, alm da criao de novos produtos, novas propostas ou processos, empreender, significa, inicialmente, modificar o contexto real, pela auto realizao, oportunizando valores positivos no ambiente coletivo, e estimular a criao visando gerar e distribuir riquezas fsicas ou cientficas por meio de ideias e conhecimentos. Empreender um processo essencialmente humano, com toda a carga que isso representa: aes dominadas por emoo, desejos, sonhos, valores; ousadia de enfrentar as incertezas; rebeldia e inconformismo; crena na capacidade de mudar o mundo; indignao diante de iniqidades sociais. Empreender , principalmente, um processo de construo do futuro (DOLABELA, 2003, p. 30).

    A sociedade deve dispor da Pedagogia Empreendedora como metodologia de ensino visando a aplicao da Teoria dos Sonhos e estimulando a aprender a formular o sonho coletivo, que se viabiliza por meio do capital social existente na comunidade. Segundo Dolabela (2003, p. 49), ao falar do pressuposto da incluso social, afirma que o desenvolvimento est relacionado ao capital humano, social, empresaria e natural, vejamos:

    Essa concepo implica, desde logo, o pressuposto da incluso social ou acesso das massas marginalizadas cidadania e a constatao de que o crescimento econmico, embora necessrio, no suficiente se no for sustentvel e no se orientar para uma distribuio equitativa de seus frutos, compreendendo a riqueza produzida, mas tambm conhecimento e poder(entendido como capacidade e possibilidade de influir nas decises pblicas). Assim sendo, tudo indica que o desenvolvimento est relacionado a outros tipos de capital humano, social, empresaria e natural - , alm daquele vinculado a renda, bens e servios.

    O autor denomina de empreendedor coletivo como fruto da construo do capital social, construdo no dilogo com uma comunidade. A ligao entre seus diversos setores da comunidade, que gera o capital social, denominado tambm de insumo bsico do desenvolvimento, porque consiste em fomentar condies visando o desenvolvimento da comunidade na sua capacidade de sonhar. Dolabela (2003, p.73) afirma que as caractersticas empreendedoras nascem da relao do indivduo com o sonho, vejamos:

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    As caractersticas empreendedoras nascem da relao que o indivduo estabelece entre o sonho e a sua realizao. Se a relao proativa, dinmica, mutuamente alimentadora, produz a necessidade e a capacidade de aquisio do saber, assim como os elementos funamentais ao comportamento empre-endedor: perseverana, criatividade, capacidade de lidar com o desconhecido, o ambguo, o incerto, de inovar, de ousar.

    Dolabela(2003) apresenta a seguinte figura onde apresenta a conexo entre o sonho e sua realizao:

    Quadro n 03: Sonho e realizao em conexo, apresentado por Dolabela (2003), p. 73.

    A intencionalidade de qualquer sonho coletivo deve ser a ao propulsora da construo permanente do desenvolvimento da comunidade, visando a promoo do desenvolvimento humano, social e sustentvel de todas os envolvidos. Esse desenvolvimento deve estar relacionado a todos os tipos de capitais mencionados por Dolabela (2003, p. 49ss), assim definidos:

    Capital humano: diz respeito ao desenvolvimento das potencialidades humanas. Na nossa poca, significa, a capacidade de gerar conhecimento, inovar, transformar conhecimento em riqueza, que so tarefas tpicas do empreendedor.

    Capital social: pode ser entendido como a capacidade dos membros de uma comunidade se associarem e se organizarem em torno da soluo de seus problemas e da construo de sua prosperidade social e econmica.

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    Capital empresarial: refere-se capacidade de organizao produtiva para a gerao de bens e servios. Significa conhecimento de como se processam os negcios. Essa capacidade empresarial consequncia direta da capacidade empreendedora, integrante do capital humano.

    Capital natural: as condies ambientais e fsico-territoriais herdados constituem o capital natural (sol,mar, clima, paisagem), cuja utilizao eficaz depende do volume disponvel de capital humano e social.

    A partir da compreenso do sonho humano e frente s diversas formas de capitais, para Dolabela (2003), o segmento social da educao, na prtica da Pedagogia Empreendedora tem como ao central o desenvolvimento humano, econmico sustentvel e social, pois tem uma tarefa importante de diminuio entre a distncia de ricos e pobres. Para ele, tambm os sistemas educacionais no esto preparados para atender as exigncias da formao de empreendedores. Contudo, ressalva que os mtodos de ensino atuais no se aplicam ao aprendizado empreendedor.

    Dolabela (2003) toma a escola como instituio de referncia primordial na constituio da comunidade, ambiente de aprendizado e de construo do futuro. Afirma que, nesse sentido, a escola o prprio futuro e pode ser vista como um meio para o desenvolvimento de construo de sonhos coletivos. Isso porque a educao sempre poltica, no neutra, como costumava dizer Paulo Freire (1991). A construo da proposta pedaggica necessita de um contedo tico, pois, para educar supe sonhar e trabalhar coletivamente por uma causa. Sabemos que muitos so os fatores que envolvem o processo educacional, fatores estes emocionais, sociais, cognitivos, desenvolvimento psicolgico das faixas etrias, hereditrios. No podemos deixar esta responsabilidade da formao do indivduo somente para a escola. Ela contribui, mas no nica responsvel. Muitos so os desafios externos que nos apresentam a realidade educacional hoje, representada no quadro abaixo:

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    Quadro n 04: os desafios a realidade educacional atual.

    Logo, necessitamos de equilbrios nas relaes humanas, e os envolvidos com a educao atuam exclusivamente com seres humanos, que esto em fase de desenvolvimento da personalidade, do cognitivo, do afetivo, do emocional e social. Necessitamos de equilbrios na proposta pedaggica que coletivamente construmos no ambiente escolar. Perguntemo-nos: quais equilbrios necessitamos? Quem so os rgos parceiros do processo educacional na sociedade? Qual o papel das polticas pblicas no compromisso da coletividade com a educao? Muitos desafios afrontam as instituies escolares em seus aspectos administrativos, pedaggicos e sociais.

    Para fazer um contra ponto na teoria de Dolabela (2003) trago o educador Paulo Freire com sua obra Pedagogia da Autonomia: saberes necessrios e prtica educativa(1991). Ele j propunha um papel fundamental da escola, especialmente no papel do professor, trazendo uma proposta educativo-progressiva em favor da autonomia dos educandos. Por isto, Paulo Freire (1991) reflete sobre os saberes fundamentais do professor. No prefcio de seu livro escreve sobre a importncia da eticidade na prtica docente: Este pequeno livro se encontra cortado ou permeado em sua totalidade pelo sentido da necessria eticidade que conota expressivamente a natureza da prtica educativa, enquanto prtica formadora. Educadores e educandos no podemos, na verdade, escapar rigorosidade tica. Mas, preciso deixar claro que a tica de que falo no a tica menor, restrita, do mercado, que se curva obediente aos interesses do lucro. Nessa obra, traz trs captulos, sendo que, no primeiro aborda que ensinar no transferir conhecimentos e que no h docncia sem discncia, as duas caminham juntas e seus sujeitos, com suas diferenas, no so objetos umas das outras, nesta tica afirma que quem

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    ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina ensina alguma coisa a algum.(FREIRE, 1991, p. 12). Represento, num quadro, as temticas abordadas no primeiro captulo:

    Quadro n 05: sntese do primeiro captulo do livro Pedagogia da Autonomia.

    Paulo Freire tem muito presente a importncia da pessoa do professor no processo educacional, sua formao, seu embasamento terico. Para ele, ensinar no transferir conhecimento, reafirma que o conhecimento primordial no processo educativo, afirma o conhecimento no apenas precisa ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razoes de ser ontolgica, poltica, tica, epistemolgica, pedaggica, mas tambm precisa ser constantemente testemunhado, vivido. (FREIRE, 1991, p.27) . Como Dolabela(2003, p. 103), afirma, quando fala do papel do professor:

    Na Pedagogia Empreendedora, a nfase no autoaprendizado no diminui o mbito de ao do educador. Pelo contrrio, aumenta sua importncia, j que cabe a ele ampliar as referncias e fontes de aprendizado e redefinir o prprio conceito do saber. O que muda em relao ao ensino convencional a posio do professor como detentor do saber, assim como as estratgias para aquisio do saber empreendedor.

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    Vejamos o quadro abaixo, sntese do segundo captulo do livro da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire (1991):

    Quadro 06: sntese do segundo captulo do livro Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire.

    Paulo Freire (1991, p. 56), ao abordar o terceiro captulo expe que ensinar uma especificidade humana ele afirma ao falar do perfil docente:

    Creio que uma das qualidades essenciais que a autoridade docente democrtica deve revelar em suas relaes com as liberdades dos alunos a segurana em si mesma. a segurana que se expressa na firmeza com quem atua, com que decide, com que respeita as liberdades, com que discuti suas prprias posies, com que aceita rever-se. ...Segura de si, ela por que tem autoridade, porque a exerce com indiscutvel sabedoria.

    O quadro seguinte retrata uma sntese do terceiro captulo do livro que ensinar uma especificidade humana.

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    Quadro 07: sntese do terceiro captulo do livro Pedagogia da autonomia, Ensino uma especificidade humana, segundo Paulo Freire.

    Apresento este contraponto da reflexo de Paulo Freire (1991) sobre a pedagogia da autonomia, com a teoria da Pedagogia Empreendedora de Dolabela (2003). Ambos tm aspectos em comum, especialmente no que tange ao desenvolvimento humano, a partir do papel da educao formal, trazendo presente a importncia dos saberes, do papel da escola na sua coletividade e, especialmente, a relao prtica pedaggica do docente. Dolabela (2003, p. 105) ao falar do papel do professor, afirma: inteiramente vlido dizer que tambm o professor se prope a ser empreendedor em sala de aula, porque no estar diante de transferir informaes, mas de desenvolver potenciais, levanto em conta a natureza peculiar e a viso de mundo de cada aluno. E, Paulo Freire (1991, p.12), quanto ao papel do educador, nos diz:

    neste sentido que ensinar no transferir conhecimentos, contedos, formar ao pela qual um sujeito criador d forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. No h docncia sem discncia, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenas que os conotam, no se reduzem condio de objeto, um do outro.

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    Assim, conceber a Pedagogia Empreendedora supem provocao da mudana cultural, mudana esta no a de transferncia de um contedo cognitivo convencional, mas sim na forma relacional. O relacionamento que estimula ou inibe a capacidade empreendedora, pois um relacionamento, pautado na hierarquizao, autoritarismo, tende a destruir a capacidade empreendedora. J um relacionamento, pautado na democracia, na comunicao entre pares, onde todos tm a mesma autonomia, tende influenciar no desenvolvimento do seu prprio futuro e o de sua comunidade, portanto, tende a disseminar o empreendedorismo .

    saiba mais1. entre no site da ashoka (www.ashoka.org.br), uma organizao

    mundial e no governamental, preocupada no campo da inovao social, estimulam e apoiam o trabalho de empreendedores sociais. Compreende-se, aqui, empreendedores sociais as pessoas com ideias criativas e inovadoras capazes de provocar transformaes com amplo impacto social. Essa ONG est presente em 60 pases. Fundada, em 1980, na ndia, pelo norte americano Bill Drayton. No Brasil, constam 320 empreendedores sociais j vinculados. A ONG promove protagonismo, transformao e empatia em diversas esferas na sociedade. Acesse o site http://www.ashoka.org.br e assista o vdeo no link http://www.ashoka.org.br/empreendedor-social/ e reflita como voc professor ou gestor escolar, pode contribuir no empreendedorismo social a partir do contexto de sua escola.

    2. Sugiro fazer a leitura do livro FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Editora Paz & Terra, 1991. Faa uma reflexo sobre os pressupostos necessrio da prtica docente.

    3. Acesse o site: http://www.anpad.org.br/enanpad/2006/dwn/enanpad2006-esoc-2556.pdf e leia o artigo Ensino do Empreendedorismo na Educao Bsica, voltado para o Desenvolvimento Econmico e Social Sustentvel: um estudo sobre a metodologia Pedagogia Empreendedora de Fernando Dolabela. O artigo vai tratar de uma experincia com escolas de Mandaguari/PR que inseriram no currculo disciplinas de empreendedorismo.

  • ProPosta e estratgia Pedaggica da Pedagogia emPreendedora

    A Pedagogia Empreendedora uma estratgia didtica para o desenvolvimento da capacidade empreendedora de alunos da educao infantil at o nvel mdio, que utiliza a Teoria Empreendedora dos Sonhos, no se propondo a ser uma metodologia educacional de uso amplo. Restrita ao campo do empreendedorismo, conviver com as diretrizes fundamentais de ensino bsico adotadas no ambiente de sua aplicao: a escola.

    Fernando Dolabela, 2003, p. 55)

    ProPosta PedaggicaA Proposta Pedaggica da Pedagogia Empreendedora, apresentada

    por Fernando Dolabela(2003), permeia a teoria empreendedora dos sonhos, voltada para o pblico de crianas, jovens e adultos, independentemente do nvel escolar. Para as crianas possibilitar e estimular os valores

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    empreendedores, j para os jovens e adultos o sonho para se concretizar deve se transformar em uma viso e, posteriormente, em uma nova ideia e em um novo empreendimento.

    Conforme j mencionado, anteriormente, o sonho a base desta proposta pedaggica da Pedagogia Empreendedora. De acordo com Dolabela(2003), o sonho o combustvel que ir impulsionar as habilidades, as capacidades, as competncias e conhecimentos necessrios para que o indivduo possa transform-lo em realidade. O processo de construo do sujeito empreendedor, a partir dos seus sonhos, deve ser acompanhado e estimulado pelo docente. O professor em sua prtica docente deve potencializar o sonho do aluno, a partir de sua faixa etria e das caractersticas de desenvolvimento, permitindo ao aluno a liberdade de escolher e definir seu prprio sonho, o mesmo pode ser coletivo ou individual.

    Segundo Dolabela (2003), a linguagem da pedagogia empreendedora deve ser simples, clara em sua comunicao dos contedos e dos processos metodolgicos, visando a construo do conhecimento pelo prprio aluno, seguindo dois aspectos: a) as perguntas formuladas que seguem a matriz Qual o seu sonho e como voc vai realiz-lo? e, b) Os elementos de suporte que so as estratgias de ensino utilizadas para fomentar e realizar os sonhos. Em contrapartida, esta ao envolve a formulao do sonho e a busca de sua realizao, visando uma ao autocriativa. Na fase da formulao do sonho, o aluno deve ter presente o auto conhecimento, o conhecimento da realidade em que est inserido e o conhecimento da natureza do seu sonho. Estes elementos so importantes tanto nos momentos do sonho como no momento da realizao deste sonho.

    Segundo Dolabela (2003, p. 60), ao abordar a temtica do sonho na construo do saber empreendedor, no traz necessariamente o sucesso ou o compromisso da realizao do sonho, pois existem vrios fatores envolventes alm do pessoal, fatores externos ao sujeito, como sorte, destino, proteo divina e outros, e afirma:

    Nada mais distante das bases da Pedagogia Empreendedora, que tem como pressuposto a autonomia do sonhador tanto na definio do sonho(que deve corresponder a suas aspiraes de autorrealizao) quanto na busca de realizao do sonho. Na proposta pedaggica, o sonhador deve ter o controle da energia e das foras que apoiam a realizao do seu sonho.

    O foco central da Pedagogia Empreendedora a formulao e a realizao dos sonhos, isto implica na definio de atividades de forma clara, com detalhamento dos meios que proporcionam a realizao do sonho. Dolabela (2003 p. 76) afirma, ao falar da viso do sonho que se transforma em um objeto de ao:

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    Todo o sonho em condies de ser realizado contm uma viso. A viso originada por causas circunstanciais, influenciadas por mltiplos fatores. formada e conformada por tudo o que envolve a vida de um indivduo, pelas transformaes etrias, aquisio de conhecimentos, maturidade, relaes, crenas, valores, variaes na forma de representao do mundo. da sua histria de vida que o indivduo extrai seu caminho, a atividade capaz de conduzi-lo realizao do sonho. Um mesmo sonho pode ensejar vrias vises que se alternam de acordo com as mudanas pelas quais passa o indivduo.

    Dando continuidade reflexo, exemplifica, ainda, Dolabela (2003, p. 76), ao abordar a possibilidade de conquistar o sonho:

    Uma pessoa cujo sonho ajudar crianas subnutridas poder construir diversas vises: abrir uma ONG, ser mdico pediatra, ser economista e trabalhar em um rgo no governamental que lida com sade, ser administrador e operar sistemas de distribuio de alimentos que barateiam o custo de intermediao, ser engenheiro agrnomo e desenvolver alimentos mais baratos. A escolha depender de suas tendncias pessoais, experincia de vida e oportunidades.

    O aluno empreendedor ao identificar qual o seu sonho, tem um impulso ou uma energia para traar o caminho da realizao. Dolabela (2003 p.80) comenta: O empreendedor deve descobrir sozinho o que necessrio para alcanar o que deseja. Essa a capacidade central. Quanto mais rpido ele conseguir isso, maiores sero suas chances. A partir da se busca o que aprender? Por que aprender? Como aprender? E, Quando aprender? Neste movimento, para da concretizao do sonho, gera um impulso em direo do saber empreendedor que tem quatro fases, segundo Dolabela(2003, p.81), das quais podemos fazer um contraponto em relao aos quatro Pilares da Educao, apresentados no Relatrio da UNESCO, como consta na primeira unidade deste estudo:

    a) o saber ser: fecunda a pulso empreendedora; b) o saber fazer: especfico e individual, dirige-se formulao do sonho e ao que necessrio para a sua realizao, como recursos, competncias, conhecimentos; c) o saber conviver: rede de relaes; d) o saber conhecer: conhecimento sobre o sonho e seu ambiente.

    Dolabela (2003) apresenta elementos de suporte, descritos por FILION(1999) que apresentam uma adaptao na Teoria Empreendedora dos Sonhos, e tm a funo de dar ao sonho uma dimenso possvel e ajudar o sonhador a encontrar e construir instrumentos que auxiliaro na concretizao dos sonhos. So os seguintes os elementos de suporte ou pressupostos necessrios para a realizao do sonho do empreendedor:

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    a. Conceito de si: a forma de como o empreendedor tem sua autoimagem. Primordial pois as pessoas somente realizam algo se se julgarem capazes de faz-lo.

    b. Energia: a origem da emoo gerada pelo sonho e tem influncias do conceito de si.

    c. Liderana: lder quem capaz de convencer colaboradores para a realizao dos sonhos. E esta exercer grande impacto sobre a amplitude da ao do empreendedor.

    d. Conhecimento sobre o ambiente do sonho: conhecer tudo o que necessrio para a realizao do sonho, como condies econmicas, sociais, polticas, legais, tecnolgicas, culturais e outros.

    e. Rede de relaes: procura ampliar as relaes humanas como fonte de apoio (especialmente familiares), fonte de informaes e conhecimentos.

    f. Espao de si: remete-se ao espao interior, psicolgico de cada um, que possibilita novas vises na realizao dos sonhos.

    g. Internalidade e intuio aprendizados fundamentais: uma caracterstica importante do empreendedor, pois seria como a ao de autopercepo do indivduo como algum que influi sobre eventos, sobre a realizao do sonho.

    Portanto, a tarefa da pedagogia empreendedora com sua proposta pedaggica no mbito escolar fortalecida por predisposio e sonhos no mbito do ser humano. A escola com sua proposta curricular e seus encaminhamentos pedaggicos embasa e propicia ao novo empreendedor suporte terico a partir do trabalho docente. A sociedade contribui dando sinalizao positiva e, s vezes, negativas para a capacidade individual e coletiva de potencializar os sonhos dos empreendedores, propiciando a capacidade de inovar, de ser autnomo, de buscar a sustentabilidade, de ser protagonista.

    a estratgia Pedaggica: A Pedagogia Empreendedora uma estratgia pedaggica destinada

    a estimular o indivduo com caractersticas de autonomia e liberdade, para que este possa fazer a sua escolha na construo da aprendizagem. A criana, ao formular seu sonho, conforme veremos a partir desta estratgia de ensino, a tentar transform-lo em realidade, assumir o controle de todo o processo da aprendizagem, analisando a viabilidade do seu sonho e sua capacidade de gerar auto realizao. Desta maneira, o aprendiz sonhador assume o controle e a responsabilidade, em graus compatveis com seu grau de desenvolvimento e maturidade, por meio de exerccios que a acompanham toda educao bsica.

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    Viabilizando este aprofundamento das estratgias pedaggicas da Pedagogia Empreendedora, Dolabela (2003) apresenta um trabalho por oficinas, para tal aprofundamento, traamos o seguinte roteiro de estudos:

    imPlementao da Pedagogia emPreendedora:Visando a implementao da Pedagogia Empreendedora, no mbito

    escolar da educao bsica, permeia a seguinte indagao: Como apresentar a questo sonhar e buscar realizar sonhos aos alunos, srie por srie, e introduzi-la nos espaos curriculares existentes no mbito das diversas disciplinas? H dois desafios que no mbito escolar se reflete ao se implementar a Pedagogia Empreendedora. O primeiro ser compreender a capacidade do aluno, na sua diversidade cultural, etria, familiar; o segundo consistir em que linguagem e quais processos motivacionais pedaggicos oportunizar para que os alunos respondam com ao pergunta fundamental sobre qual o seu sonho.

    ensinar e a nfase no auto aPrendizado:Para implementar a Pedagogia Empreendedora no existe um padro,

    modelo ou frmula . A cada implementao, considerando as peculiaridades do aluno, do professor, da escola e da realidade local. O que temos clareza o de que o ensino, para o desenvolvimento do saber empreendedor, no constitudo de forma tradicional, pela transferncia de conhecimentos, mas sim, o que nos coloca o desafio pela induo criao, prtica, possibilitando condies para que o aluno possa desenvolver suas potencialidades, sua capacidade de aprender. necessrio criar condies ambientais para desenvolver o seu sonho e criar estratgias de ensino para a sua realizao, na nfase no autoaprendizado.

    Dolabela (2003, p. 93) aborda que a reflexo das estratgias pedaggicas no se iniciam com a transmisso do conhecimento prvios, ento afirma:

    Mas em vrios momentos a estratgia pedaggica no s prescinde da transmisso de contedos pelo professor como se completa com eles, j que tais contedos, em ltima anlise, dizem respeito ao sistema de valores culturais. Isto acontece quando: aborda os contedos de intencionalidade (tica, coletividade, cidadania); mostra que a dade sonhar e buscar realizar sonhos elemento construtor do saber empreendedor; demonstra, atravs da construo coletiva em sala de aula que so os princpios ticos que daro intencionalidade aos sonhos; apresenta e descreve os elementos de suporte que preparam e fortalecem a capacidade do aluno de transformar o seu sonho em realidade.

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    Neste processo, a tarefa do professor mais apoiar o aluno na busca da construo do conhecimento do que ensinar, com tambm apresentar a pergunta fundante do sonho almejado pelo aluno.

    o maPa do sonhoNa concepo de Dolabela (2003, p. 94), o Mapa do Sonho (MS)

    um roteiro do aluno para auxili-lo na formulao do seu sonho e objetiva o planejamento da sua execuo. O mesmo constitui o plano de trabalho a ser realizado durante o curso. Na concepo dele, um instrumento de reflexo e planejamento de tudo o que necessrio para a realizao do sonho. Na tabela, abaixo, seguem as etapas do Mapa do Sonho, segundo Dolabela(2003):

    Quadro n 09: das etapas do Mapa do Sonho apresentado por Dolabela(2003, p.94)

    AS ETAPAS DO MAPA DO SONHO

    Etapa 1: Concepo do SonhoIdentificar aquilo de que gosta, que lhe trar maior felicidade, emoo. O que lhe traz auto realizao e como fazer para conseguir isso?

    Etapa 2: Autoconhecimento (conceito de si)Descobrir e acionar rede de relaes. Quais pessoas, livros, informaes podem ajud-lo a conhecer mais sobre o seu sonho e a realiz-lo.

    Etapa 3: Rede de relaesConstruir e acionar rede de relaes. Quais pessoas, livros, informaes podem ajud-lo a conhecer mais sobre o seu sonho e a realiz-lo.

    Etapa 4: Conhecimento do ambiente do sonhoConhecer profundamente o setor escolhido. Identificar oportunidades para realizar o sonho.

    Etapa 5: Anlise do sonho em relao ao sonhadorO que esse sonho pode lhe oferecer? Vai ficar alegre? Vai ficar mais feliz? Durante quanto tempo? O sonho se adapta ao que , s suas preferncias, ao seu jeito de ser? Aos seus hbitos?

    Etapa 6: Anlise do sonho em relao s outras pessoasO seu sonho til para os outros, para a comunidade?

    Etapa 7: Estratgias para realizar o sonho (buscar recursos necessrios)Lista de tudo o que necessrio para que o sonho seja realizado: dedicao, perseverana, criatividade, iniciativa, relaes, liderana, cooperao de outras pessoas, leituras, conhecimentos, informaes, recursos financeiros, recursos tcnicos. Em sntese todos os recursos materiais e imateriais.

    Etapa 8: Anlise da viabilidade do sonho, considerando os recursos do sonhadorAnlise dos pontos fortes e pontos fracos do sonhador em relao realizao do sonho. Lista dos recursos (materiais e imateriais) j dominados (e a adquirir) pelo sonhador.

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    Etapa 9: Anlise da viabilidade do sonho, considerando os recursos de terceirosLista dos recursos de terceiros que o sonhador ter que buscar.

    Etapa 10: Estratgias para conseguir os recursosComo ir buscar os recursos que voc no tem? Tratar separadamente os recursos de terceiros e os prprios (que dever desenvolver, como, por exemplo, conhecimentos).

    Etapa 11: LideranaComo voc ir convencer os outros sobre a importncia do seu sonho, sobre a sua capacidade de realiz-lo, com a finalidade de atrair colaboradores?

    Etapa 12: Como organizar e usar os recursosComo os recursos devem ser utilizados de forma a ajud-lo a alcanar o sonho? A organizao dos recursos.

    Etapa 13: Quando ser possvel realizar o sonhoDistribuio no tempo dos processos que levam realizao do sonho.

    Etapa 14: Narrativa do sonho e dos processos que levam sua realizaoFormalizao e apresentao do Mapa do Sonho.

    Etapa 15: Qual o prximo sonho?O sonho realizado deixa de gerar a emoo em intensidade necessria para dar sentido vida e contribuir para a auto realizao. Portanto, preciso continuar sonhando.

    Dolabela (2003) apresenta uma estrutura ou etapas de apresentao do mapa dos sonhos. O primeiro passo, nesta proposta, realizar o mapeamento do sonho, ou seja, um roteiro para auxiliar o aluno na busca da identificao e realizao do seu sonho. Esta tarefa se organiza a partir de cinco momentos apresentados por Dolabela, como: momentos estruturantes:

    O primeiro desses momentos voltado para a concepo do sonho; O segundo, para a anlise do sonho; O terceiro para o planejamento da busca de realizao do sonho; O quarto para o levantamento de recursos necessrios realizao do sonho; O ltimo ser um balano do que foi realizado durante o ano (DOLABELA, 2003, p. 96).

    A partir disto, o professor orientador dever iniciar a aula com os seguintes questionamentos: qual o seu sonho? Fruto das temticas, o professor pode levantar problematizaes como: o que gosta? Ou, o que te traz o sentimento de auto realizao, de felicidade? E o que necessita para ser feliz? Como segunda etapa, o professor pode pedir aos alunos, que, a partir da oralidade ou por escrito ou mesmo em forma de desenhos, demonstrem os seus sonhos. O professor pode tambm dar exemplos de profissionais bem sucedidos na sociedade. Identificado o sonho a prxima etapa consiste em aprofundar a rea ou setor em que este sonho se concentra. Isto deve ser feito atravs de atividades de busca de informaes, pesquisa em livros ou a campo, visando conhecer mais profundamente o ambiente do sonho. De posse destes conhecimentos, o aluno realiza uma anlise das relaes entre si(autoconhecimento) e o sonho(almejado).

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    Tendo o aluno definido, neste processo de auto conhecimento, as relaes entre o sonho e a auto satisfao, a etapa seguinte a anlise das relaes entre o seu sonho e a comunidade. Como j dissemos, anteriormente, para essa perspectiva pedaggica, o indivduo assume toda responsabilidade por sua condio social, pois foi atravs da iniciativa prpria e dos conhecimentos adquiridos que ele assume ser o senhor do seu prprio destino. Sabe-se que a proposta pedaggica, defendida por Dolabela (2003), no est centrada na transmisso/aquisio de saberes sistematizados, funo esta da escola tradicional desempenhada pelos espaos escolares. Frente s exigncias da economia globalizada, cada vez mais competitiva e excludente, exigem do ser humano o desenvolvimento de um conjunto de habilidades e competncias que permitam ao indivduo lidar com as mudanas no processo produtivo, a fim de criar estratgias de auto emprego para a garantia da prpria sobrevivncia, preconizao j refletida anteriormente e prevista no Relatrio da UNESCO.

    Neste processo, o educador atua como estimulador e orientador do desenvolvimento do aluno, buscando alternativas para a realizao do sonho. Para isso, o professor deve apontar para o universo de possibilidades, ou seja, para os caminhos pelos quais os sonhos dos seus alunos podem ser construdos e realizados. Neste sentido, Dolabela (2003, p. 97) destaca que:

    [...] O foco do aprendizado so as relaes que o indivduo estabelece consigo mesmo e com o mundo, havendo portanto mudanas contnua dos contedos e tambm, e principalmente do prprio ser do aluno no processo de construo do auto conhecimento. Assim, o auto-aprendizado permanente e acompanha o fato de que os sonhos se alteram com o passar do tempo.

    Conforme percepes do autor, a produo de conhecimento e o desenvolvimento do educando de se d a partir da atuao do prprio aluno. Neste sentido, o professor deve propor novas estratgias e didticas que ampliem, estimulem e orientem o aluno na busca da construo e da realizao do sonho, proporcionando a percepo do aluno que ele mesmo protagonista de sua prpria histria.

    A avaliao nesta proposta de ensino se d por meio da anlise e reflexo dos avanos do sujeito empreendedor, ou seja, medida que o aprendiz, respondendo as concepes que permeia a construo do sujeito empreendedor, elabora conceitos sobre si, sobre sua atuao na comunidade. O foco da anlise dos conhecimentos adquiridos pelo aluno no se centram na realizao do sonho, mas nas etapas de desenvolvimento em que o aluno avana para sua realizao.

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    o PaPel do Professor na Pedagogia emPreendedoraO papel do professor, na prtica da Pedagogia Empreendedora,

    no diminui mesmo que o processo de ensino e aprendizagem d nfase no auto aprendizado. Contrariamente, necessrio uma ampliao na formao dos docentes, visto que os protagonistas da Pedagogia Empreendedora so os professores. Ele quem ir preparar um ambiente favorvel para que o aluno tenha condies de construir seu prprio saber. O papel do professor maior na ao provocadora de desequilbrio nas relaes do aluno com o mundo, atravs de perguntas, questionamentos desafios. Mas o docente, ao mesmo tempo, oferece o apoio necessrio para que o aluno, diante de conflitos cognitivos, desenvolva uma ao de novos conhecimentos, de auto disciplina e organizao do trabalho pedaggico. Segundo Dolabela, podemos perceber a amplitude da ao docente:

    Na Pedagogia Empreendedora, a nfase no auto aprendizado no diminui o mbito de ao do educador. Pelo contrrio, aumenta a sua importncia, visto que cabe a ele ampliar as referncias e fontes de aprendizado e redefinir o prprio conceito de saber. O que muda em relao ao ensino convencional a posio do professor como detentor do saber, assim como as estratgias para aquisio do saber empreendedor.(DOLABELA, 2003, p.103)

    Portanto, se faz mister perceber que o professor se prope a ser empreendedor em sala de aula, porque no est como um transmissor de informaes, mas potencializa o desenvolvimento dos alunos, levando em conta as diferenas individuais e a natureza peculiar e a viso de mundo de cada um.

    a oPo coletiva da escola Pela Pedagogia emPreendedoraA proposta da Pedagogia Empreendedora por se tratar de uma nova

    concepo e viso de educao e, no somente de metodologia de ao, isto supe uma mudana cultural, partindo deste princpio a Pedagogia Empreendedora jamais poder ser imposta a um professor e muito menos a uma organizao institucional de ensino. Sua adoo deve ser uma deciso poltica da escola, paralela viso de mundo que a comunidade educativa concebe. Por exigir grandes mudanas do corpo docente, para efetivar a proposta, imprescindvel total comprometimento da escola, quer seja a clareza em sua proposta pedaggica, na organizao do seu espao fsico, na organizao do tempo para sonhar, na metodologia de ensino, nos instrumentos de referncias, no sistema de avaliao e na organizao curricular e extra curricular da escola. Dolabela

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    (2003, p. 116) afirma: O saber empreendedor continuo, no dominvel, na medida em que os conhecimentos adquiridos sobre ele contribuem para transform-lo.

    Morin (2003) tambm nos desafia a projetar o ideal para a educao do futuro, ele comenta:

    A educao do futuro dever ser o ensino primeiro e universal, centrado na condio humana. Estamos na era planetria; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer se encontrem. Estes devem reconhecer-se em sua humanidade comum e ao mesmo tempo, reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo o que humano (MORIN, 2003, p. 47).

    Logo, implementar a Pedagogia Empreendedora em uma escola supem trabalho coletivo, inteno coletiva e construo de instrumentos didticos adequados s prprias especificidades e aos modos de ser e agir dos envolvidos, como a escola, os alunos, os professores e a comunidade.

    integrao da escola com a sociedadeA integrao da escola com a comunidade local e global se faz

    mister, ou pressuposto bsico para a aplicao da proposta da Pedagogia Empreendedora, pois traz a comunidade para a sala de aula, utilizando a socializao como fonte de conhecimento e de experincia de vida. O aluno deve perceber que a comunidade uma fonte de pesquisa para a realizao do seu sonho. A chave para o sucesso deste processo a interao com a comunidade.

    Segundo Dolabela (2003, p. 117) A sala de aula transformada em uma cultura, em que o aluno ir praticar a dinmica sonhar e buscar realizar sonhos e vivenciar situaes em que poder desenvolver os elementos de suporte.

    Para tanto, a perspectiva da Pedagogia Empreendedora, proposta pedaggica apresentada por Dolabela (2003), serviria como prtica pedaggica responsvel para dar sentido em acreditar que o sonho individual e o coletivo promovem sujeitos em seu desenvolvimento integral e, assim, contribuir para o necessrio progresso social e econmico.

    atividade comPlentares1. para aprofundamento da temtica aqui abordada vamos conhecer

    mais quem Fernando Dolabela. Para tanto, convido vocs a navegar

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    no site: http://fernandodolabela.wordpress.com e conhea mais o autor a partir de suas obras e artigos.

    2. Entre no site http://www.youtube.com/watch?v=B24C2wfYajI e assista o site de Fernando Dolabela onde ele aborda a temtica: Empreendedorismo: uma forma de ser.

    3. Leia a entrevista de Fernando Dolabela, no site http://www.educacional.com.br/revista/0408/pdf/06_Entrevista_FernandoDolabela.pdf onde o mesmo aborda vrias vises do empreendedorismo na educao bsica.

  • consideraes finais

    O propsito deste trabalho foi aprofundar a temtica da Pedagogia Empreendedora, possibilitando aos profissionais docentes um aprofundamento sobre a Educao Empreendedora e suas bases tericas e significados, a compreenso terica da Pedagogia Empreendedora e os elementos que a constituem e os princpios bsico da proposta pedaggica e das estratgias da Pedagogia Empreendedora.

    O discurso da Pedagogia Empreendedora sustenta-se na perspectiva neoliberal de que a alternativa para o desemprego est no microempreendimento da juventude e, em decorrncia, na preparao e educao das crianas e jovens da educao bsica, potencializando-os para serem futuros empreendedores. As reflexes e encaminhamentos, aqui apresentados, sobre a adoo da Pedagogia Empreendedora na educao bsica, objetiva formar sujeitos empreendedores, desde a mais tenra idade, com finalidades de manter as relaes sociais vigentes. Podemos tambm considerar o atual cenrio, cujas caractersticas so de instabilidade econmica dos mercados, os avanos tecnolgicos, a ruptura do mercado de trabalho formal, precarizao dos postos de trabalho e a desqualificao da mo de obra, desafiam a educao a se transformar em um instrumento potencial de formao de indivduos que possam, a partir de caractersticas desenvolvidas atravs da educao escolar, fomentar capacidades prprias e individuais de autoemprego como forma de sobrevivncia.

    Nesse sentido, na atualidade, as polticas educacionais vm sendo fomentadas sob diversas pedagogias (pedagogia das competncias, pedagogia

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    empreendedora, pedagogia do aprender a aprender, dentre outras), visam a manuteno do sistema poltico e econmico, como forma de sustentabilidade das relaes capitalistas. Assim, o indivduo, responsvel pelo seu prprio desenvolvimento e sobrevivncia, deve estar continuamente se adequando s mudanas e alteraes incessantes do mercado.

    Embora nosso objeto de estudo, seja o aprofundamento e a reflexo sobre a Pedagogia Empreendedora, como uma proposta educacional, ao analis-la, somos levados a uma profunda reflexo sobre a natureza e especificidade da educao escolar no atual cenrio econmico, poltico e social.

    Segundo percepes, as novas concepes educacionais, reduzem a vida humana a objeto das relaes de mercado, do capital. Nesta perspectiva, a Pedagogia Empreendedora minimiza significadamente o papel da educao, pois ela est reduzida a preparar o indivduo para competir e para atuar num mundo de incertezas, especialmente no que diz respeito sua prpria subsistncia e, no voltada formao humana em sua totalidade, cognitiva, afetiva, emocional, social, psicolgica e mstica. Contudo, no processo da educao escolar acontece o processo de humanizao do homem. A educao , antes de tudo, apropriao dos saberes historicamente acumulados e socialmente produzidos, e desenvolvimento de potencialidades, objetivando a formao integral do homem. Tal reflexo implica em assimilar que a educao deve ser muito mais do que simplesmente ensinar sujeitos a tomar para si as rdias da prpria vida ou buscar a sua prpria subsistncia. Portanto, se consideramos que a partir da educao formal, que acontece no mbitos das instituies de ensino, funo no exclusiva, mas primordial, que os homens se apropriam dos conhecimentos historicamente produzidos e dos bens culturais, quando transferimos este olhar ou funo para a pedagogia empreendedora, objeto de nossa discusso, possvel percebermos uma negao da funo da instituio escolar como ambiente fundamental de construo e socializao dos conhecimentos cientficos.

    Desse modo, adotar uma pedagogia empreendedora, cujo objetivo primordial formar sujeitos capazes de sobreviver em situaes de crises econmicas e sociais de um sistema poltico e econmico capitalista, reduzir a educao a uma lgica economicista, imediatista e individualista. , sobretudo, omitir a educao como processo de desenvolvimento pleno dos sujeitos, negar-lhes a socializao do saberes sistematizados e historicamente construdos. privar as novas geraes a saberes construdos na histria e estruturados nos currculos, no decorrer da histria.

    Portanto, no decorrer deste aprofundamento me pus, em diversos momentos, a questionar, embora venham sendo produzidas novas tentativas de conciliar a educao e economia, primordial que tenhamos, como base para a prtica pedaggica, as seguintes reflexes: Quem so os sujeitos que se pretende formar? Para qual sociedade?

  • referncias

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