Educação Empreendedora e Educação Escolar: Uma ......2. Educação empreende dora . 3. Ensino...
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PUC RIO
Educação Empreendedora e Educação Escolar: Uma Aplicação no Ensino Médio
Josenilton de Aragão Lima
Orientadora: Prof.ª Beatriu Canto Sancho
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de
Especialização em Educação Empreendedora, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de
especialista.
Rio de Janeiro
Junho de 2017
Ficha Catalográfica
CDD: 370
Lima, Josenilton de Aragão Educação empreendedora e educação escolar : uma aplicação no ensino médio / Josenilton de Aragão Lima ; orientadora: Beatriu Canto Sancho. – 2017. 39 f. ; 30 cm Curso em parceria com o Instituto Gênesis (PUC-Rio), através da plataforma do CCEAD (PUC-Rio). Com o patrocínio do Sebrae em parceria com o MEC. Trabalho de Conclusão de Curso (especialização)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação Empreendedora, 2017. Inclui bibliografia 1. Educação – TCC. 2. Educação empreendedora. 3. Ensino médio. 4. Metodologia da pedagogia empreendedora. I. Canto Sancho, Beatriu. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Educação. III. Título.
Josenilton de Aragão Lima
Graduado em Licenciatura em Computação pela
Universidade Estadual do Piauí. Tem atuado na educação
profissional, no ensino de computação, há sete anos.
Atualmente exerce a função de professor de informática
pela Secretaria Estadual de Educação do Piauí.
Para minha mãe Antônia Deusimar, pelo amor e apoio.
Amo – te.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus pela vida. Aos meus pais Luiz Carlos e
Antônia Deusimar, por tudo que já fizeram por mim. Aos meus irmãos Jaiane e
Josean pelo companheirismo, e à minha noiva Vivian pelo incentivo e
compreensão.
À minha orientadora Professora Beatriu Canto Sancho pela disponibilidade
durante todo o período necessário para a realização deste trabalho.
A todos os professores da especialização em educação empreendedora, do
Instituto Gênesis – PUC Rio, pelo conhecimento transmitido.
Ao SEBRAE e demais envolvidos na realização desse curso.
RESUMO
A presente investigação busca refletir sobre a metodologia adequada para a
introdução do empreendedorismo no currículo escolar do ensino médio com o
foco no desenvolvimento sustentável humano, social e econômico. Nessa
perspectiva analisa alguns pressupostos teóricos sobre o assunto, validados através
de implementação de teste-piloto de educação empreendedora numa escola
localizada no sul do Piauí. Configura-se numa pesquisa qualitativa, visando
identificar e descrever as possibilidades de inclusão da educação empreendedora
no ensino médio. Orientou-se pela metodologia da pedagogia empreendedora, em
consonância com ideais de concepção de ensino médio integrado à educação
profissional na formação integrada do ser humano, dividido socialmente pelo
trabalho entre a ação de executar e a ação de dirigir, pensar ou planejar.
Palavras-chave: Educação empreendedora. Ensino médio. Metodologia da
pedagogia empreendedora.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 8
2 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA ................................................................. 11
3 EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA E EDUCAÇÃO ESCOLAR .................... 14
4 REFERENCIAIS TEÓRICOS SOBRE A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
NO ENSINO MÉDIO ............................................................................................ 26
4.1 O EMPREENDEDORISMO EM UMA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO, NO
MUNICÍPIO DE URUÇUÍ – PIAUÍ ..................................................................... 29
5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 33
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 35
7 APÊNDICES E ANEXOS .................................................................................. 38
“O fundamento do empreendedorismo
é a cidadania. Visa a construção do
bem-estar coletivo, do espírito
comunitário, da cooperação. Antes de
ser aluno, o estudante deve ser
considerado um cidadão.”
(Fernando Dolabela, 2006)
8
1 INTRODUÇÃO
Entendemos a escola, dentre outras instituições sociais, com destaque por
realizar a mediação entre o indivíduo e a sociedade. É nesse espaço que crianças e
adolescentes são orientados em conhecimentos e ações devidos para a atuação na
sociedade. Mas, a educação não se desenvolve exclusivamente no ambiente
escolar. Deve-se considerar o repertório de conhecimentos adquirido pelo aluno,
consequência de sua particularidade enquanto indivíduo no meio social.
Esse trabalho se desenvolveu no ensino médio, última etapa da educação
básica, que possibilita aos egressos continuação nos estudos e/ou inserção no
mercado de trabalho. Os alunos do ensino médio geralmente são adolescentes, que
além da formação obtida na escola existe a possibilidade de maior repertório de
conhecimentos prévios adquiridos na experiência social. Esses conhecimentos
incluem as atividades que despertam o interesse desses jovens, por exemplo, um
artesanato aprendido dos familiares ou pessoas próximas.
A implementação dos conceitos apresentados nessa proposta de trabalho
de conclusão de curso será através do desenvolvimento de um projeto de
intervenção em uma escola pública estadual, localizada no sul do Piauí, que
atende jovens em sua maioria oriundos de família de baixa renda. Esse teste-piloto
consiste em trabalhar a habilidade de uma aluna no artesanato de crochê. Partindo
disso, propôs a confecção de produtos utilizando o reaproveitamento de lixo
eletrônico com o artesanato de crochê numa tentativa de agregar, além do valor
econômico sustentável, o valor social.
Como trabalhar o empreendedorismo nas escolas de ensino médio,
partindo da habilidade ou “sonho” do aluno no desenvolvimento de alguma
atividade que pode ser lucrativa e contribuir na melhoria da renda da família e no
desenvolvimento local, norteia os resultados a serem perseguidos na realização
dessa pesquisa.
Embora a preocupação principal da escola seja com a formação formal dos
alunos, não se deve desconsiderar nesse processo formativo as habilidades
provenientes da cultura e vivência social, porque isso pode ser, de certa forma, a
identidade do aluno para o trabalho.
9
A experiência docente permite perceber que ninguém deseja tanto
“terminar os estudos” para trabalhar do que os alunos do ensino médio de baixa
renda. A essa necessidade, muitos por não ter tido uma orientação adequada do
mundo trabalho submetem-se a qualquer tipo de trabalho para ajudar na renda
familiar. Será que a escola, enquanto mediadora entre o indivíduo e a sociedade,
não pode antecipar, de forma prática e responsável, conhecimentos do mundo do
trabalho e a possibilidade de geração de renda pelos alunos, como foco na
sustentabilidade e desenvolvimento local, já que esses serão o futuro próximo
daquele local?
Nesse contexto, se insere conhecimentos de empreendedorismo
oportunizando aos envolvidos o desenvolvimento de qualidades e habilidades
empreendedoras associadas ao talento ou “sonho” do aluno na realização de uma
atividade possivelmente mercadológica, na busca da redução da pobreza e
desenvolvimento sustentável.
Objetiva-se nesse estudo refletir sobre a metodologia adequada para a
introdução do empreendedorismo no currículo escolar do ensino médio com o
foco no desenvolvimento sustentável humano, social e econômico; reconhecer nos
talentos dos alunos a possibilidade de desenvolvimento das habilidades
empreendedoras; agregar aos “sonhos” dos discentes formação empreendedora e
assim promover o crescimento econômico para reduzir a pobreza e a
desigualdade; e gerar produtos ou serviços economicamente sustentáveis para o
desenvolvimento local.
Este estudo será percorrido, inicialmente, na busca de informações sobre
educação empreendedora. Será utilizada fonte de dados relacionadas ao tema,
como livros, vídeos, notas de aulas e artigos científicos em bibliotecas virtuais
selecionados conforme os assuntos: função social da escola, empreendedorismo e
inovação, empreendedorismo nas escolas e empreendedorismo para o
desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza.
Configura-se numa pesquisa qualitativa, visando identificar e descrever a
possibilidade de inclusão de educação empreendedora no ensino médio de uma
escola localizada no sul do Piauí, a partir da implementação de um projeto de
intervenção que envolve a habilidade de uma aluna no artesanato de crochê
10
associado ao reaproveitamento de lixo eletrônico para a confecção de novos
produtos.
Predominante, este trabalho será desenvolvido em campo. Assim, quanto
aos procedimentos técnicos para fazer a pesquisa, trata-se de um estudo de campo.
O projeto intervém ao ambiente escolar por meio da prática docente diante da
provocação sobre a introdução de empreendedorismo no currículo escolar do
ensino médio na perspectiva de desenvolvimento sustentável humano, social e
econômico. Por meio da observação e relatos dos envolvidos, serão realizados os
registros que declaram o resultado dessa pesquisa.
Contudo, o desafio foi trabalhar uma iniciativa empreendedora inovadora
atendendo um dos requisitos para conclusão da especialização em educação
empreendedora e por meio dessa iniciativa possibilitar aos alunos envolvidos
desenvolvimento de habilidades empreendedoras na geração de valor econômico
sustentável e social. Ao mesmo tempo ficou perceptível que as possibilidades de
sucesso podem ocorrer quando o aluno está no centro do processo de ensino.
A primeira parte deste estudo fornece uma orientação dos assuntos
preliminares contidos nos próximos capítulos. Trata-se desta introdução. O
segundo capítulo, partindo de uma análise histórica da educação, busca provocar
uma reflexão sobre o papel da instituição escola para a sociedade. No terceiro
capítulo, explora alguns teóricos na área do empreendedorismo e suas
contribuições para a educação empreendedora. Busca relacionar essa educação
com a educação escolar. O quarto capítulo volta-se para a compreensão do ensino
médio e a possibilidade de inserção de educação empreendedora nessa etapa da
educação escolar, validada pela descrição de implementação de teste-piloto neste
contexto em uma escola localizada ao sul do Piauí. O quinto capítulo tece as
considerações finais dessa investigação de educação empreendedora no ensino
médio. Constam nos dois últimos capítulos as indicações bibliográficas
empregadas e apêndices.
11
2 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
O processo socializante de uma sociedade acontece na educação informal e
formal. Embora, usa-se a expressão educação para apontar especificamente a
educação formal. Nesse caso, a educação refere-se aquela desenvolvida na escola
e que contempla objetividade e planejamento, ou seja, a forma de educação que é
direcionada na formação do indivíduo para a atuação em sociedade.
Nas civilizações primitivas, predominavam os métodos informais de
educação. Os valores, princípios e costumes eram transmitidos à descendência por
meio do convívio social. Isso perdurou durante muitos estágios da evolução
humana. O surgimento da instituição escola é marcado pelo momento histórico em
que o homem afastando-se da vivência coletiva detém a apropriação privada da
terra. Assim, configura a divisão dos homens em classes, que conforme Saviani
(2007, p. 155) “[…], essa divisão dos homens em classes irá provocar uma divisão
também na educação”.
A partir desse fato, a escola será o local designado para a educação dos
filhos dos homens que possuem o domínio da propriedade privada, e
consequentemente dispõem de tempo livre por passarem a viver do trabalho
alheio. Enquanto a outra parte da sociedade permanece no método educativo
baseado na experiência acumulada e repassada as futuras gerações. Daí,
etimologicamente, o termo escola significar o lugar do ócio, tempo livre.
O ideal de educação para todos, na perspectiva da educação formal
acessível a todos os indivíduos, destaca-se no século XVIII com o movimento
iluminista, momento histórico de mudanças políticas, econômicas e sociais
baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Mesmo assim, a escola
que sempre foi elitista não estava preparada para tornar-se numa escola
democrática, e esse processo de democratização e universalização da educação
contínua a ser um desafio até os dias atuais.
Exposto o contexto histórico do surgimento da instituição escola, faz-se
oportuno relacionar educação e trabalho na formação humana, visto que há uma
estreita ligação entre esses dois assuntos. Como afirma Saviani (2007, p. 152)
“trabalho e educação são atividades especificamente humanas”. Isso explica o
12
trabalho e a educação como atributos do ser humano, numa necessidade de adaptar
a natureza a si para a existência e produção da própria vida.
Ainda segundo o mesmo autor, a relação trabalho e educação nas
comunidades primitivas coincidia na produção coletiva de meios da existência e
nesse processo educavam-se e educavam as novas gerações. Com isso, fica
evidente que a educação era desenvolvida nos meios produtivos e os
conhecimentos acumulados perpassavam entre as gerações. Podemos perceber
naquele momento o trabalho como princípio educativo. Já, o desenvolvimento da
sociedade de classes assegurou a separação entre educação e trabalho.
Na contemporaneidade, a escola tornou-se uma instituição social que “[…]
está tão imbricada na sociedade que fica difícil imaginarmos a sua extinção, uma
vez que, objetivamente, não orientamos, com o mesmo aparato, outra instituição
programada para desempenhar suas funções.” SOUZA (2013, p. 38).
No decorrer da história, a escola passou a agregar várias funções sociais.
Segundo a autora supracitada, pela educação, o homem instrui as novas e atuais
gerações de sujeitos a produzirem e reproduzirem o ato de transformação da
natureza, de si e dos outros, em mutualidade, por meio do trabalho. Percebe-se, a
função da escola na transmissão de conhecimentos acumulados e responsabilidade
de socialização dos sujeitos. O trecho seguinte retirado da obra Educação e
Sociologia, escrita por Durkheim, ilustra o papel da escola em determinados
momentos das civilizações antigas:
A educação tem variado infinitamente, com o tempo e o meio. Nas
cidades gregas e latinas, a educação conduzia o indivíduo a
subordinar-se cegamente à coletividade, a tornar-se uma coisa da
sociedade. Hoje, esforça-se em fazer dele personalidade autônoma.
Em Atenas, procurava-se formar espíritos delicados, prudentes, sutis,
embebidos de graça e harmonia, capazes de gozar o belo e os prazeres
da pura especulação; em Roma, desejava-se especialmente que as
crianças se tornassem homens de ação, apaixonados pela glória
militar, indiferentes no que tocasse às letras e às artes. Na Idade
Média, a educação era cristã, antes de tudo; na Renascença, toma
caráter mais leigo, mais literário; nos dias de hoje, a ciência tende a
ocupar o lugar que a arte outrora preenchia (DURKHEIM (1955, p.
27) apud SOUZA (2013, p. 30)).
Nesse entendimento, a função da escola está ligada ao desenvolvimento do
ser humano para viver em sociedade. Em SOUZA (2013, p. 48), quanto a essa
função da escola esclarece: “Sua função é transmitir conhecimentos que
desenvolvam as capacidades humanas e que permitam a continuidade do modelo
13
de sociedade existente”. A compreensão do modelo de sociedade existente
provoca uma análise reflexiva do papel desempenhado pela escola na sociedade
atual. CURY (1995) apud SOUZA (2013), alerta que numa sociedade com
interesses diferentes, a função da escola pode-se tornar ambígua. E nesse aspecto,
ficamos postos às seguintes questões: O modelo de sociedade que temos é o que
queremos? E qual é a função da escola na sociedade da atualidade?
Conforme a legislação brasileira vigente, no âmbito da educação, a
Constituição Federal define: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
14
3 EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA E EDUCAÇÃO ESCOLAR
Discorridas as formas de educação e a função social da escola, propõe-se
direcionar o detalhamento de informações sobre a educação empreendedora.
Antes, entenderemos o conceito de empreendedor como alguém que inova e
propõe formas diferentes para realizar as coisas e produz ganhos reorganizando os
recursos. LAVIERI (2010). Nessa definição, o empreendedor é sobretudo um
inovador. Considere a prática educativa inovadora de um professor que visa o
desenvolvimento social, pode ser caracterizado esse agente como um
empreendedor no contexto da atividade exercida. Esse entendimento afasta a
percepção de muitas pessoas associar a habilidade empreendedora para os que se
destinam a administração de negócios ou empresas, conforme DORNELAS
(2001) apud CUNHA; SOARES; FONTANILLAS (2009), essa noção estava
voltada exclusivamente para o aspecto econômico num perfil de pessoas que
organizam empresas, pagam os empregados, planejam, dirigem e controlam as
ações desenvolvidas na organização, mas sempre a serviço do capitalista.
O termo educação empreendedora foi proposto por Jean Baptiste Say
(1767 – 1832), economista francês influenciado pelas ideias iluministas sendo
discípulo de Adam Smith. Esse tipo de educação procura despertar nos alunos a
vontade de empreender. Muito já foi questionado sobre a possibilidade de ensinar
alguém a ser empreendedor, agora o foco se deslocou na perspectiva como é
possível educar, qual o conteúdo, metodologias e técnicas devem ser
implementados na formação de habilidades empreendedoras. (LOPES, 2010)
O ensino de empreendedorismo não teve origem na educação básica e
escolas regulares. Historicamente, foi nos Estados Unidos, nas faculdades de
administração, que se desenvolveu a orientação sobre o empreendedorismo. O
primeiro curso de empreendedorismo aconteceu em Harvard sob orientação do
professor Myles Mace, em 1947. No Brasil, a oferta de curso nessa área foi
introduzido pelo professor Ronald Degen, em 1981. Tratava-se de uma disciplina,
com foco na criação de negócios, ministrada em um curso de especialização da
Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.
(LAVIERI, 2010)
15
Sobre essa primeira iniciativa de ensino de empreendedorismo no Brasil,
em estudo publicado pelo próprio professor Ronald Degen conhecemos detalhes
da organização do curso:
As suas aulas iniciavam com a apresentação da dramática
desigualdade de renda e da extrema pobreza de uma significativa
parcela da população brasileira e desafiavam os jovens alunos, como a
futura elite do país, a fazerem algo para mitigar esta situação. O
objetivo do curso era propor aos alunos a ser empreenderes, a
desenvolverem negócios próprios, a gerarem riqueza e, assim,
contribuírem para o desenvolvimento econômico, a redução da
pobreza extrema e a desigualdade social, como opção à carreira de
executivo em uma grande empresa. DEGEN (2008, p. 13)
Esta postura do professor Ronald Degen adotada nas aulas foi motivada
pela situação de pobreza extrema nas favelas e uma das maiores desigualdades
mundiais de renda entre ricos e pobres encontradas no Brasil quando aqui chegou,
nos anos 70. (DEGEN, 2008)
O ensino de empreendedorismo deve desenvolver as qualidades e
habilidades necessárias a um empreendedor. De acordo com o Consórcio para a
Educação Empreendedora (2004) apud LOPES; TEIXEIRA (2010), essa educação
inclui as habilidades de reconhecer oportunidades, de perseguir essas
oportunidades, criar novas ideias e organizar os recursos necessários, e de pensar
de forma criativa e crítica.
O professor Fernando Dolabela, conceituado professor e escritor na área de
Educação Empreendedora, recomenda que essa educação deve basear-se muito
mais em fatores motivacionais e em habilidades comportamentais do que em
conteúdos instrumentais. Nesse ensino, os alunos devem aprender muito mais do
que criar os próprios negócios. O citado Professor estabelece o ciclo de
aprendizagem empreendedora: Parte com o aluno desenvolvendo um projeto – um
projeto futuro que deseje implementar ou algo que deseje alcançar ou se tornar.
Depois procura formas de realizar esse sonho, e para isso deve identificar e
aprender o que seja necessário para concretizá-lo (LOPES; TEIXEIRA, 2010).
O entendimento de educação empreendedora esclarece-se com o uso de
duas metáforas propostas pelo professor Dolabela. Na primeira, considere o verbo
em inglês develop, que significa “revelar uma foto”: A imagem já existe, mas não
está ativa. Com isso, a educação empreendedora tem por objetivo desenvolver um
potencial presente na espécie humana – o espírito empreendedor. A outra metáfora
16
exige que imaginemos uma garrafa tampada. Destampar a garrafa para libertar o
empreendedor ali aprisionado por um sem número de obstáculos culturais
representa a educação empreendedora para adultos. No que se refere a educação
empreendedora para crianças seria impedir que se tampe a garrafa e aprisione o
potencial empreendedor presente no ser humano (DOLABELA, 2006).
O desenvolvimento e implementação de programas na área da educação
empreendedora seguem as recomendações para a educação do século XXI
definidas pela UNESCO que são: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser.
A educação empreendedora no âmbito brasileiro existe a necessidade e a
consequente oportunidade de potencializar uma educação que possibilite na maior
proporção do seu capital humano para o desenvolvimento do seu potencial
empreendedor (SCHAEFER; MINELLO, 2016). Em outro capítulo
apresentaremos iniciativas brasileiras na área da educação empreendedora. “Os
Estados Unidos parece ter sido o primeiro país em que as primeiras iniciativas
importantes de educação e treinamento para o empreendedorismo foram
tomadas”. (LOPES, 2010 p.31)
Alguns autores, entre eles o professor Dolabela, alertam que o ensino de
empreendedorismo deve utilizar uma metodologia diferente da utilizada no ensino
tradicional.
Não é possível transferir conhecimentos empreendedores — ao
contrário do que acontece, por exemplo, em uma aula de geografia,
porque o empreendedorismo não é um conteúdo cognitivo
convencional. Nesse sentido, não é possível ensinar, mas é possível
aprender a ser empreendedor, desde que através de um sistema
bastante diferente do ensino tradicional. DOLABELA (2006, p. 30)
LAVIERI (2010), considera: “Na realidade, há indícios de que a educação
formal, mesmo aquela oferecida hoje, seja um estímulo ao empreendedor e a seu
sucesso”. Esse mesmo autor, no seu estudo, utiliza a declaração de Dolabela que o
mais importante não é o conteúdo, mas ensinar o futuro empreendedor a aprender,
num processo ativo, em certa medida inspirado nas propostas da andragogia,
indicando uma resposta para o questionamento “o que ensinar?”. Depois, expõe
que “há outros professores e educadores com diferentes propostas para o ensino
do empreendedorismo”.
Considerando as particularidades de cada proposta de ensino observadas
por Dolabela, SCHAEFER; MINELLO (2016) sintetiza num quadro:
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Quadro 1. Diferentes entre a educação tradicional e a educação empreendedora.
Educação convencional Educação empreendedora
Ênfase no conteúdo, que é visto como
meta
Ênfase no processo, aprender a
aprender
Conduzido e dominado pelo instrutor Apropriação do aprendizado pelo
participante
O instrutor repassa o conhecimento O instrutor como facilitador e
educando; participantes geram
conhecimento
Aquisição de informações “corretas” de
uma vez por todas
O que se sabe pode mudar
Currículo
programados
e sessões fortemente Sessões flexíveis e voltadas a
necessidades
Objetivos do ensino impostos Objetivos do aprendizado negociados
Prioridade para o desempenho Prioridade para a autoimagem
geradora do desempenho
Rejeição ao desenvolvimento de
conjecturas e pensamento divergente
Conjecturas e pensamento divergente
vistos como parte do processo criativo
Ênfase no pensamento analítico e linear;
parte esquerda do cérebro
Envolvimento de todo o cérebro;
aumento da racionalidade no lado
esquerdo do cérebro por estratégias
holísticas, não-lineares, intuitivas;
ênfase na confluência e fusão dos dois
processos
Conhecimento teórico e abstrato Conhecimento teórico amplamente
complementado por experimentos na
sala de aula e fora dela
Resistência à influência da comunidade Encorajamento à influência da
comunidade
Ênfase no mundo exterior; experiência
interior considerada imprópria ao
ambiente escolar
Experiência interior é contexto para o
aprendizado; sentimentos
incorporados à ação
Educação encarada como necessidade
social durante certo período de tempo,
para firmar habilidades mínimas para um
determinado papel
Educação vista como processo que
dura toda a vida, relacionado apenas
tangencialmente com a escola
Erros não aceitos Erros como fonte de conhecimento
O conhecimento é o elo entre aluno e
professor
Relacionamento humano entre
professores e alunos é de fundamental
importância
Fonte: DOLABELA (2008) apud SCHAEFER; MINELLO (2016, p. 62)
18
O empreendedorismo faz parte da natureza humana. Assim, todos
nascemos empreendedores. Não se trata de modismo ou um novo tema, existe
desde a primeira ação humana inovadora, com a intenção de melhorar a relação do
homem com os outros e com a natureza. Porém, não é possível indicar certamente
se uma pessoa vai ou não ser bem-sucedida como empreendedora.
DOLABELA(2006)
Esse mesmo autor referenciado define a importância do empreendedorismo
para o indivíduo e para a sociedade. Essas informações constam de forma sucinta
no quadro a seguir:
Quadro 2. Importância do empreendedorismo para o indivíduo e para a sociedade.
Indivíduo Sociedade
Geração de autonomia,
autorrealização, busca do sonho;
Obrigatório para qualquer tipo de
atividade profissional.
Responsabiliza-se pelo crescimento
econômico e pelo desenvolvimento
social;
Aponta para a sustentabilidade;
É uma resposta ao desemprego.
FONTE: DOLABELA (2006)
Como visto anteriormente, alguns estudiosos defendem que o ensino na
educação empreendedora tem particularidades próprias. Estabelece-se o papel do
aluno e do professor no processo ensino – aprendizagem. Em relação ao papel do
aluno, FRIEDLANDER (2004) apud SCHAEFER; MINELLO (2016) resgatando
a pedagogia de Paulo Freire, um dos pensadores mais notáveis na história da
pedagogia mundial, considera que a responsabilidade da educação deve estar no
próprio estudante, detentor das forças de crescimento e autoavaliação. “Deve-se
estar atento ao fato de que saber ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar
as possibilidades para sua própria produção ou construção”. FREIRE (2002) apud
SCHAEFER; MINELLO (2016, p.65)
LOPES (2010) também reconhece que o ensino deve estar centrado no
aluno, numa forma mais experiencial, mais prática e contextualizada no mundo
real. “Essa educação enfatiza o uso intenso de metodologias de ensino que
permitam aprender fazendo e se caracteriza por isso, pois o indivíduo se defronta
com eventos críticos que o forçam a pensar de maneira diferente, buscando saídas
e alternativas, ou seja, aprendendo com a experiência, com o processo”. LOPES
(2010, p.29)
19
Ainda segundo a autora supracitada, a aprendizagem na educação
empreendedora se relaciona com a teoria da aprendizagem experiencial de David
A. Kolb, com as pedagogias Aprendizagem pela Ação, Aprendizagem Contextual
(processo de construir o significado com base na interação social e na
experiência), Aprendizagem Centrada em Problemas e Aprendizagem Cooperativa
(trabalhar em grupos heterogêneos exercitando a comunicação, liderança, coesão
de equipe, etc.). Ainda, vale a implementação de outras técnicas: visitas a
empresas, feiras, competições, jogos interativos, workshops, dinâmicas de grupos
e outras.
Outro aspecto relevante para a formação empreendedora diz respeito ao
convívio com empreendedores. Existe um ditado no campo do empreendedorismo
que afirma: “Dize-me com quem andas e eu te direi quem queres ser”. Isso
enaltece a importância das incubadoras, e outras iniciativas, no fortalecimento de
novos negócios potencialmente inovadores. DOLABELA (2006, p. 36) afirma:
“Um dos pontos básicos do ensino de empreendedorismo é fazer com que o aluno
busque estabelecer relações que dêem suporte ao seu negócio. Assim, a
convivência é muito importante nessa área.”.
Contudo, o desafio da educação empreendedora consiste na possibilidade
de desenvolver as qualidades e habilidades necessárias a um empreendedor. Como
já visto anteriormente as habilidades propostas pelo Consórcio para a educação
empreendedora, também HENRIQUE; CUNHA (2008) apud SCHAEFER;
MINELLO (2016, p.68) lista habilidades a serem desenvolvidas ao longo da
formação: comunicação, especialmente persuasão; criatividade; capacidade de
reconhecer oportunidades empreendedoras; pensamento crítico e habilidades de
avaliação; liderança; competências gerenciais, incluindo planejamento,
comercialização, contabilidade, estratégia, marketing, RH e network; negociação e
capacidade de tomar decisões.
O professor na educação empreendedora assumi um novo papel, o de
catalisador e facilitador. SCHAEFER; MINELLO (2016). A estratégia didática
nessa educação está no sonhar e no buscar realizar o sonho. “O indivíduo que está
motivado para realizar seu sonho saberá desenvolver, segundo seu estilo pessoal,
métodos para aprender o que for necessário para a criação, o desenvolvimento e a
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realização de seu sonho.” DOLABELA (2006, p. 42). Nesse entendimento, o
professor Dolabela critica a escola por não trabalhar os sonhos dos alunos, visto
que a principal preocupação é lidar com conteúdos e exercer o controle. E
acrescenta que essa postura não é somente da escola, é uma questão social.
“Socialmente, o sonho não é estimulado, porque sonhar é perigoso: comunidades
que sonham constroem o seu futuro e não se deixam dominar.”. DOLABELA
(2006, p. 41)
A prática docente no ensino do empreendedorismo volta-se para o
acompanhamento dos alunos em suas realizações, como afirma SCHAEFER;
MINELLO (2016, p. 69) “Eles passam a estimular, inspirar, criar ou orientar
ideias, ações concretas e colaborativas em torno das realizações dos alunos.”.
Esses autores também consideram que para isso é necessário fazer uso de
ambientes de colaboração, capacitações, gameficações e realização de eventos,
que podem originar empresas, projetos, pesquisas, inovações, incubações, etc.
Para que os professores possam atuar sob essa nova perspectiva, deve-se
também pensar na preparação de docentes em práticas pedagógicas que estimulem
a disseminação da cultura empreendedora. Em capítulo posterior apresentaremos
ações nesse sentido. Na formação dos professores as instituições devem sugerir
novos métodos, como assinala (HENRIQUE; CUNHA, 2008) apud SCHAEFER;
MINELLO (2016, p. 71): a) incluir o agir como experiência didática, além do
falar, ler e escrever; b) incentivar o contato com empreendedores; c) ter mediações
de resultados ligados a projetos que resultem em novos negócios; d) criar uma
escola empreendedora; e) não limitar as experiências empreendedoras ao
calendário escolar; f) ao avaliar a instituição de ensino, contemplar a produção em
projetos e subprojetos de criação de empresas.
De acordo com UNIVERSIA BRASIL (2017), existem 4 (quatro)
características do professor empreendedor, inclui:
1. Intimidade com a tecnologia – ideias inovadoras dos professores
devem estar relacionadas com as últimas tecnologias. Por isso, se você quer ser
um professor empreendedor, aprenda a lidar com a tecnologia de maneira benéfica
e descubra como ela pode ajudá-lo a elaborar aulas mais criativas e interativas.
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2. Espírito colaborativo – pense como a tecnologia tem o poder de ajudar
as pessoas ao seu redor e a própria educação em si. Pense no todo e não somente
em si mesmo.
3. Últimas tendências – professores abertos para as novidades. Eles
sabem como anda a área de atuação, conhecem nomes importantes e não deixam
de lado a oportunidade de testar as novidades na sala de aula.
4. Conhecer o aluno – acima de tudo, sabem adequar as suas aulas e as
novas tendências de acordo com o perfil de cada aluno.
Para atingir os objetivos da educação empreendedora, necessita envolver e
capacitar os professores para a adoção do enfoque do empreendedorismo no
desenvolvimento do currículo. LOPES (2010). São necessárias novas formas de
ensino e relacionamento. Enquanto o aluno assume o centro do processo, é o
professor que atua como catalizador e facilitador, propondo e oportunizando
atividades desafiadoras aos alunos, utilizando novos instrumentos e técnicas
didático-pedagógicas voltados a esse tipo de educação. SCHAEFER; MINELLO
(2016).
Observando que a educação empreendedora busca inspirar nos alunos a
vontade de empreender, outra questão a ser resolvida seria como desenvolver
programas ou cursos para tal objetivo, isto é, capacitar potenciais empreendedores.
FOWLER (2010). Os programas e atividades relacionados com a educação
empreendedora surgem em exigência a educação para o século XXI. São
iniciativas destinadas ao ensino de empreendedorismo para todas as fases da vida
escolar do ser humano. “É tempo de disseminar essa educação desde o ensino
fundamental, até o superior.”. BOLSON (2006) apud CUNHA; SOARES;
FONTANILLAS (2009, p. 71).
DOLABELA (2006) declara que o empreendedorismo é tema universal e
não específico. Assim deve estar na educação básica e ofertado para todos os
alunos. Já DEGEN (2010) volta-se para o ensino do empreendedorismo para
graduados como ênfase em oportunidades de negócio voltadas para o
desenvolvimento sustentável, a inclusão social e a redução da pobreza.
O professor Dolabela propõe um programa para inserção de conhecimentos
de empreendedorismo no currículo escolar. Trata-se de uma metodologia de
22
ensino de empreendedorismo para a educação básica: educação infantil,
fundamental e médio que denominou-se pedagogia empreendedora.
Segundo o site fernandodolabela.wordpress.com, são elementos dessa
metodologia: utiliza o professor da própria instituição, que conhece a cultura da
casa, dos alunos e do meio ambiente onde cada unidade está inserida; dinamiza
conhecimentos já dominados pelo professor; é voltada para a prática, sendo de
fácil implementação; não se trata de uma receita, um passo a passo: a metodologia
é recriada pelo professor na sua aplicação, respeitando a cultura da comunidade,
dos alunos, da instituição, do próprio professor; possui material didático
específico e inédito, construído inteiramente para a realidade brasileira; agente de
mudança cultural; permite a rápida disseminação da cultura empreendedora, sendo
concebida para ser aplicada em larga escala, com alta dispersão geográfica; não
cria a necessidade de formação de “especialistas”; não gera dependência da escola
a consultores externos; integra professores de áreas diferentes; baixíssimo custo:
não duplica meios e esforços; a comunidade participa intensamente, como
educadora e educanda; considera a escola como umas das referências de
comunidade; é geradora de capital humano e social; apoia-se na geração do sonho
coletivo, na construção do futuro pela comunidade; tem como alvo a construção
de um empreendedorismo capaz de gerar e (principalmente) distribuir, renda
conhecimento e poder.
O autor anteriormente referenciado, relata a implantação do teste piloto da
pedagogia empreendedora: em 2002, foram escolhidas localidades e situações que
oferecessem experiência diferenciada em termos de cultura, extrato social,
contexto econômico. Os testes foram feitos no município de Japonvar, MG (6
escolas) Belo Horizonte, (8 escolas), Santa Rita do Sapucaí (MG) (todas as
escolas das redes públicas municipal, estadual e particular, Guarapuava-PR, (todas
as escolas da rede pública municipal), Três Passos – RS, (todas as escolas da rede
pública municipal) e São José dos Campos – SP, (todas as escolas da rede pública
municipal). DOLABELA (2005)
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE
insere-se no incentivo à cultura empreendedora em todas as etapas da educação
básica e ensino superior. No ensino fundamental (EF) oferece o curso Jovens
23
Empreendedores Primeiros Passos, composto por nove módulos: 1º ano do EF: O
mundo das ervas aromáticas, duração: 26 horas de aplicação com os estudantes; 2º
ano do EF: Temperos naturais, duração: 24 horas de aplicação com os estudantes;
3º ano do EF: Oficina de brinquedos ecológicos, duração: 26 horas de aplicação
com os estudantes; 4º ano do EF: Locadora de produtos, duração: 22 horas de
aplicação com os estudantes; 5º ano do EF: Sabores de cores, duração: 22 horas de
aplicação com os estudantes; 6º ano do EF: Ecopapelaria, duração: 30 horas de
aplicação com os estudantes; 7º ano do EF: Artesanato sustentável, duração: 30
horas de aplicação com os estudantes; 8º ano do EF: Empreendedorismo social,
duração: 30 horas de aplicação com os estudantes; 9º ano do EF: Novas ideias,
grandes negócios, duração: 25 horas de aplicação com os estudantes. Segundo
SEBRAE Nacional (2017), “esse curso procura apresentar práticas de
aprendizagem, considerando a autonomia do aluno para aprender, além de
favorecer o desenvolvimento de atributos e atitudes necessários para a gestão da
própria vida.”. Para o ensino médio, o SENAC articula o Programa Nacional de
Educação empreendedora do Sebrae para estimular o empreendedorismo entre os
jovens. São três cursos compõem o portfólio desse programa: Formação de Jovens
Empreendedores, Despertar e Crescendo e Empreendendo. Para participar desses
programas oferecidos, as secretarias e/ou instituições de ensino devem realizar o
acordo de parceria com o SEBRAE.
Na educação superior, há mais de 80 anos, as universidades de Harvard e
de Michigan parecem ter sido as pioneiras a ofertar programas de educação
empreendedora. LOPES (2010). No Brasil, temos alguns exemplos de instituições
de ensino superior (IES) que implementaram programas de desenvolvimento de
empreendedorismo (PDE). Sobre a criação dos PDEs, HISRICH (1999) apud
FOWLER (2010, p. 128) apresenta um modelo geral para criação desses
programas, conforme a figura 1.
24
Figura 1. Modelo geral para PDE
Esse modelo organiza a parte prática do programa. A avaliação técnica, os
estudos de viabilidade comercial, o desenvolvimento ou as modificações no
produto e as avaliações que sejam necessárias, por professores e estudantes,
apoiam o indivíduo (inventor, empreendedor) quando tem uma ideia ou habilidade
para fazer algum produto ou serviço. Essa ideia ou habilidade forma a base para
um plano de negócios que visa a criação de uma nova empresa; caso um
financiamento seja preciso, um fundo (seed money) voltado para pequenos
investimentos financeiros seria utilizado. A propriedade da nova empresa,
inclusive os lucros, são repartidos entre todos os envolvidos (universidade,
estudantes, inventores, empreendedores etc). FOWLER (2010).
Nesse cenário apontam iniciativas brasileiras para educação
empreendedora no nível da graduação, observa-se: os projetos do SEBRAE
voltados para a inserção de conhecimentos de empreendedorismo nos cursos de
graduação. Alguns deles: Disciplinas e Projeto de Extensão – oferece para
instituições de ensino superior duas disciplinas, por meio da capacitação de
professores da IES: 1) Empreendedorismo e 2) Empreendedorismo e Inovação,
além de um Projeto de Extensão em Empreendedorismo Social e Negócios de
Impacto Social; Palestra Empreendedorismo em Dois Tempos; Plataforma
Desafio Universitário – Compõe uma plataforma com iniciativas educacionais
para universitários; Programa de Mentoria; Macker Hacklab: a maratona de
negócios em internet das coisas, SEBRAE Nacional (2017). Também, o Projeto
Escola de Empreendedores e o Centro GEFEI implementados na Universidade
25
Federal de Itajubá, FOWLER (2010); o Instituto Gênesis para Inovação e Ação
Empreendedora, criado em março de 1996 pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC – Rio), GUARANYS (2010).
Acrescenta-se as ações de promoção do empreendedorismo na pós-
graduação, essas defendidas pelo professor Ronald Degen na formação de
empreendedores por oportunidade. “[…], o que reforça o argumento do autor, de
que os graduados estão mais bem preparados para o empreendedorismo por
oportunidade.” DEGEN (2010, p. 219). Geralmente são cursos de especialização
ou MBA na área de empreendedorismo. A título de exemplo, na formação docente
para a educação empreendedora, observa-se a oferta do primeiro curso de
especialização em educação empreendedora realizado no Brasil, pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, visando qualificar professores do ensino
técnico e profissional nacional.
“A iniciativa foi concebida para atender a uma demanda do Sebrae a
partir de acordo de cooperação com o Ministério da Educação (MEC)
no âmbito do Pronatec Empreendedor, sendo que o Programa
responde por uma demanda nacional a qual estas entidades tomaram
para si a responsabilidade de implementá-la como política pública
estratégica nacional.”. MELLO et al. (2016, p.01)
Estas iniciativas apenas ilustram a mobilização das instituições brasileiras de
ensino superior no incetivo e promoção da cultura empreendedora.
26
4 REFERENCIAIS TEÓRICOS SOBRE A EDUCAÇÃO
EMPREENDEDORA NO ENSINO MÉDIO
A legislação brasileira que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional (LDBEN), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece no artigo
primeiro, parágrafo segundo, a necessária vinculação da educação ao mundo do
trabalho e à prática social. Ainda, destaca-se no artigo segundo quanto a finalidade
da educação escolar o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Em relação ao ensino
médio, etapa final da educação básica, terá como finalidades: a consolidação e o
aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental,
possibilitando o prosseguimento de estudos; a preparação básica para o trabalho e
a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se
adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento
posteriores; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico; a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.
PLANALTO (2017).
Segundo LIBERATO (2007) o ensino médio coincide com uma fase na
vida dos jovens de inquietações, uma etapa de transição entre a adolescência e a
vida adulta, identificada por uma série de questionamentos conflitantes: como se
preparar para o futuro profissional, num mundo cada vez mais competitivo e sem
empregos? Quais as perspectivas econômicas mundiais, que nortearão a minha
vida profissional e pessoal? Que rumo seguir quando sair da escola? Onde e como
buscar um meio de renda?
A formação escolar desses jovens deverá levar em conta todos esses
desafios. Sobre o currículo, a LDBEN assegura componentes curriculares
definidos pela base nacional comum, a ser complementada, por uma parte
diversificada exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e dos educandos. Na perspectiva de referenciais para a
27
formação de atitudes e habilidades empreendedoras retoma a crítica feita por
alguns autores sobre a educação básica brasileira. Inclui,
Mesmo sendo tema fora do âmbito analítico deste texto, não se pode
deixar de mencionar o chão em que está plantada a Educação Básica
brasileira, ameaçada por tentativas históricas de esterilização
ideológica e política, pela ausência de construção cidadã e
democrática, pela distância da comunidade e desvalorização do
mestre. Some-se a isto, a inconsciência da importância de temas que
constituem a essência da formação empreendedora: o estudo das
oportunidades e o desenvolvimento do conceito de si e da capacidade
de formular e realizar sonhos. DOLABELA (2005, p. 08)
Restrito a orientação do currículo do ensino médio definida pela LDBEN
assemelha-se a essência da formação empreendedora exposta na citação anterior
do professor Dolabela, como consta no artigo trinta e cinco – A, parágrafo sétimo:
“Os currículos do ensino médio deverão considerar a formação integral do aluno,
de maneira a adotar um trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida e
para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.”.
PLANALTO (2017).
Sobre os “conteúdos” a serem empregados na educação empreendedora do
ensino médio, expõe o que foi discutido no Fórum de Treinamento para
Empreendedorismo, no ano 2000 em Nice – França: “Enfatizou-se a importância
de inserir, gradualmente, no currículo, o desenvolvimento de qualidades e
habilidades pessoais, num processo evolucionário, de tal modo que os estudantes
fossem conduzidos por esse processo de aprendizagem.”. LOPES; TEIXEIRA
(2010, p. 50)
Na Pedagogia Empreendedora, acrescenta-se ao que já exposto no capítulo
anterior, o professor Dolabela sugere como material didático para a educação
empreendedora os livros: Pedagogia Empreendedora, para os professores
contendo os princípios teóricos e metodológicos, A ponte mágica, para alunos de
10 a 15 anos, O segredo de Luísa, alunos a partir de 16 anos, e Mapa dos Sonhos
para os alunos, que se constitui no livro de trabalho do aluno de todas as séries.
Além, Cadernos, para os professores, obra composta por 14 volumes, um para
cada série da educação básica, contendo trabalhos para o desenvolvimento dos
sistemas de suporte mencionados por Filion. DOLABELA (2005)
Conforme SEBRAE Nacional (2017) a educação empreendedora para o
Ensino Médio está estruturada com o objetivo de colaborar para o
28
desenvolvimento integral dos jovens, procurando estimular o protagonismo
juvenil, sensibilizar e preparar os estudantes para os desafios do mundo do
trabalho, instigando-os a identificarem oportunidades e planejarem seu futuro por
meio de atitudes empreendedoras.
A Pedagogia Empreendedora restringe-se a uma metodologia na área do
empreendedorismo, não se propões a uma metodologia educacional de uso amplo.
Conforme DOLABELA (2005, p. 08), “Restrita ao campo do empreendedorismo,
conviverá com as diretrizes fundamentais de ensino básico adotadas no ambiente
de sua aplicação. A estratégia didática irá materializar-se pela apresentação de
duas propostas de ação aos alunos: a formulação do sonho e a busca de sua
realização.”.
A Pedagogia empreendedora trata o empreendedorismo com uma forma de
ser e não somente de fazer. Nesse sentido, “antes de ser aluno, o estudante deve
ser considerado um cidadão.” DOLABELA (2006, p. 30). Essa compreensão
assemelha-se a de outros autores que estudam o ensino médio e indicam um
projeto de ensino médio no sentido da formação com base na integração de todas
as dimensões da vida do ser humano em contradição ao modelo de ensino médio
que conserva a cultura escravocrata no Brasil de outras épocas, pela divisão social
do trabalho. “[…] a necessidade de se desvincular as finalidades do ensino médio
do mercado de trabalho e colocá-las sobre as necessidades dos sujeitos” RAMOS
(2008, p. 15)
Uma das formas de oferta do ensino médio é o ensino médio integrado à
educação profissional. Comumente, o ensino de empreendedorismo aparece na
grade curricular dos cursos técnicos ofertados. Embora não seja exclusivamente
escopo deste trabalho, a questão consiste na metodologia empregada na formação
de empreendedores nessa modalidade de ensino. O que sabemos, como já exposto
em capítulo anterior, é que existe uma relação entre trabalho e educação. E sobre
isso, SAVIANI (1987) apud RAMOS (2008, p. 08) afirma: “No ensino médio,
além do sentido ontológico do trabalho, toma especial importância seu sentido
histórico, posto que é nesta etapa da educação básica que se explicita mais
claramente o modo como o saber se relaciona com o processo de trabalho,
convertendo-se em força produtiva.”.
29
4.1 O EMPREENDEDORISMO EM UMA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO,
NO MUNICÍPIO DE URUÇUÍ – PIAUÍ
Com a objetivação de validar os pressupostos teóricos da educação
empreendedora do ensino médio será apresentado um teste piloto no
desenvolvimento de qualidades e habilidades empreendedoras para alunos do
ensino médio de uma escola pública localizada no Sul do Piauí.
A motivação para trabalhar essa iniciativa partiu de dois pontos: 1) O fato
do “agente socializante” participar de curso de especialização em educação
empreendedora para professores da educação profissional e técnica na
disseminação da cultura empreendedora para seus alunos; 2) As inquietações dos
alunos do 3º ano do ensino médio integrado, quanto ao seu posicionamento no
mercado de trabalho e geração de renda familiar. Salienta-se que o “agente
socializante” exerce a função de professor para essa turma do ensino médio
integrado ao curso técnico de informática.
Essa escola oferta somente o ensino médio. A maioria dos alunos
matriculados são oriundos de família de baixa renda, residentes da zona urbana ou
rural. A escola está localizada no município de Uruçuí – PI, um dos municípios
brasileiros com maior PIB (Produto Interno Bruto) per capita do estado. Segundo
portal de notícias cidadeverde.com, 2016: “A cidade de Uruçuí (a 453 km de
Teresina) tem o maior PIB per capita do Estado: R$ 45 mil de renda. O valor é
maior que o da cidade de São Paulo, por exemplo, que é de R$ 42 mil, e bem
maior que a média brasileira, que é R$ 28 mil.”. Porém, concentra uma
distribuição desigual de renda entre a população, consequentemente desigualdade
social.
Segundo dados do Mapa de Pobreza e Desigualdade lançados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, com base no Censo
Demográfico 2000 e Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF 2002/2003, mais
da metade da população do Piauí (PI) estão vivendo na pobreza.
Consequentemente, inclui a população do município de Uruçuí (PI) nesse
indicador, e alerta sobre a necessidade de projetos que reduza a desigualdade
social e aumente a geração de renda das pessoas.
30
Números elevados do PIB diz respeito principalmente ao destaque desse
município na produção agropecuária, principalmente de soja e milho. Para o
presidente da Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí,
Antônio José Medeiros, o resultado de Uruçuí é "excepcional", mas é preciso
analisar com cuidado o que mantém a renda tão alta. Alerta: “Precisamos ver
como essa renda se distribui, porque a soja, com alto nível de tecnologia, pode
estar produzindo uma renda alta, mas de maneira concentrada”. Cidadeverde.com,
2016.
Durante a orientação de uma atividade para uma disciplina do curso
técnico em informática percebeu-se uma possibilidade de envolver os dois pontos,
já mencionados em parágrafo anterior. A referida atividade daquela disciplina
consistia em os alunos desenvolverem um projeto de pesquisa envolvendo os
conhecimentos abordados durante as três séries do curso técnico em informática.
Em síntese, era um trabalho de conclusão de curso (TCC) para o ensino médio
técnico. Essa disciplina está definida no plano de curso do ensino médio integrado
ao técnico em informática elaborado pela secretaria estadual de educação do Piauí.
Com a turma organizada em duplas, durante a exposição e diálogo sobre a
proposta de TCC do ensino médio, uma das duplas indagou que não tinha vontade
de desenvolver alguma proposta relacionada as competências técnicas do curso.
Não tinha interesse em desenvolver aplicativos ou algo relacionado à informática.
Embora o autor ainda não conhecesse a metodologia dos sonhos da Pedagogia
Empreendedora, aceitou o posicionamento dos alunos naquele primeiro momento
e marcou que conversariam mais sobre o assunto em outro momento, com o
propósito de sondar a dupla sobre quais seriam suas atividades de interesse
(sonhos), e orientá-la da possibilidade de relacionar esse interesse com as
habilidades técnicas do curso de informática.
Ao acontecer a conversa com aquela dupla, um dos integrantes revelou a
habilidade que possuía em artesanato de crochê. Ao perceber isso, o professor
daquela disciplina falou que era possível da dupla trabalhar o assunto: TI
(Tecnologia da Informação) Verde, uma tendência mundial voltada para o impacto
dos recursos tecnológicos no meio ambiente. Diante disso, a dupla concordou que
trabalharia aquela temática.
31
Volta-se para a proposta da iniciativa empreendedora exigida na citada
especialização. Antes de perceber essa potencial inovação na atividade dos alunos,
o autor pós-graduando estava decidido que a ação inovadora e empreendedora
seria a realização de uma feira com produtos confeccionados pelos alunos a partir
do reaproveitamento do lixo eletrônico. Durante a pesquisa bibliográfica, ao ler
sobre a Pedagogia Empreendedora questionou tal ação empreendedora, essa
iniciativa não levou em consideração “os sonhos” de todos os envolvidos! O
processo estava centrado no professor, o que deveria ser o contrário no
desenvolvimento de qualidades e habilidades empreendedoras nos alunos. Dali em
diante percebeu que não podia continuar com aquela proposta.
Agora, insere-se um projeto-piloto empreendedor e inovador reformulado
pautado na habilidade de alunos no artesanato de crochê para confecção de novos
produtos a partir do reaproveitamento do lixo eletrônico, pautado nos
conhecimentos da pedagogia empreendedora e concepção do ensino médio
integrado à educação profissional na perspectiva de formação para todas as
dimensões da vida humana.
Para o desenvolvimento da proposta empreendedora, os alunos envolvidos
realizaram primeiramente uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto lixo
eletrônico. Por meio dessa etapa obtiveram os conhecimentos gerais sobre esse
tema. Como afirma DEMO (2006, p. 16): “Pesquisa é processo que deve aparecer
em todo trajeto educativo, como princípio educativo que é, na base de qualquer
proposta emancipatória.”. Também ficaram informados que precisavam definir
uma linha de produtos a serem confeccionados. Descobriram ainda que o CD /
DVD estava muito sendo descartado devido a substituição desse por mídia
eletrônica, como pendrive, HD externo e cartão de memória. Assim, decidiram
que confeccionariam produtos relacionando a reciclagem de CDs / DVDs com
artesanato de crochê. Os produtos escolhidos foram uma bolsa e uma cesta.
Na intenção de conhecer a realidade da comunidade local quanto a
problemática do lixo eletrônico, foi feita uma pesquisa de campo com aplicação
de questionário. Os entrevistados foram alguns moradores do município com
perfis sociais distintos. Descobriu-se que no município não possui posto de coleta
adequado para o descarte do lixo eletrônico, tudo é descartado juntamente ao lixo
32
doméstico. Até o momento da escrita desse trabalho, os alunos se organizavam
para realizar ações educativas abordando a necessidade do descarte correto desse
tipo de lixo na proteção dos recursos ambientais. Além, para provocar as demais
autoridades e órgãos competentes para um posicionamento sobre essa
problemática.
Como já mencionado que no município não existe local para coleta e
reaproveitamento do lixo eletrônico, os alunos perceberam uma oportunidade para
iniciar um negócio. Após três meses de projeto foram confeccionados os primeiros
produtos que serão comercializados, gerando valor econômico sustentável para os
alunos. Desejam também oferecer oficina para outros alunos interessados na
confecção desses produtos. Em conversa informal, um dos alunos envolvidos
confidenciou que planeja optar em cursar graduação em administração.
Outra conquista dessa iniciativa foi o desenvolvimento e inscrição de
artigo científico abordando o lixo eletrônico no III Seminário Regional de
Educação Ambiental e Escolas Sustentáveis que acontecerá em julho na cidade de
Teresina – PI. É uma importante oportunidade para provocar um debate sobre o
tema.
Alguns registros do projeto teste-piloto, como o questionário utilizado
pelos alunos na pesquisa de campo e figuras foram incluídos no capítulo seguinte
– apêndices e anexos.
33
5 CONCLUSÃO
O desenvolvimento deste estudo possibilitou analisar as observações de
estudiosos no assunto sobre como deve ser a prática docente no ensino de
educação empreendedora. Inclusive, entendeu-se que o empreendedorismo não
pode ser ensinado, mas pode ser aprendido. Além disso pontuou sobre as
possibilidades e desafios para inserção de educação empreendedora no ensino
médio. Ainda, possibilitou avaliar os resultados de um teste piloto de intervenção
empreendedora para o desenvolvimento de habilidades de empreendedorismo
implementados em uma escola pública localizada no sul do estado do Piauí a
alunos do ensino médio integrado ao curso técnico em informática.
Na possibilidade de desenvolver uma proposta de intervenção
empreendedora inovadora que contribua para a prática educativa de educação
empreendedora escolheu orientar-se pela metodologia da pedagogia
empreendedora, cuidando para que o aluno fosse o centro do processo de
ensino/aprendizagem em consonância com os pressupostos de concepção de
ensino médio integrado à educação profissional na formação integrada do ser
humano, dividido socialmente pelo trabalho entre a ação de executar e a ação de
dirigir, pensar ou planejar.
O principal papel da escola encontra-se na transmissão de conhecimentos
reunidos historicamente com o desenvolvimento do ser humano. Nesse aspecto, a
escola deve desenvolver o homem para viver criticamente em sociedade.
Enquanto instituição social, cabe a escola buscar a reflexão na direção da
sociedade que temos e a sociedade que queremos para as nossas futuras gerações.
Por meio da análise histórica da educação humana percebeu-se o relacionamento
entre educação e trabalho.
Existem autores que declaram a organização da educação escolar dificultar
no desenvolvimento de habilidades empreendedoras. Assim, a educação
empreendedora deve ser planejada para empregar uma metodologia diferente da
utilizada no ensino tradicional. Consequentemente, a postula do docente precisa
ser diferente. Volta-se para o acompanhamento dos alunos em suas realizações,
que perseguem na concretização dos seus sonhos.
34
Vimos que a ação empreendedora desenvolvida na escola do sul no Piauí
reconheceu nos “sonhos” dos alunos a motivação para o desenvolvimento de
qualidades e habilidades empreendedoras economicamente sustentáveis para o
desenvolvimento humano e local. Por meio dessa abordagem, foi possível
perceber o envolvimento dos alunos na intervenção junto a sociedade de
problemas identificados.
A educação empreendedora pode ser empregada em todas as etapas da
educação escolar. Isso foi constatado através da exemplificação de alguns
programas de educação empreendedoras desenvolvidos pelas instituições de
ensino brasileiras. A concepção de educação empreendedora está de acordo com as
exigências de educação para o século XXI definidas pela UNESCO. Em resumo, o
ensino de empreendedorismo deve desenvolver as qualidades e habilidades
necessárias a um empreendedor. Essas habilidades estará voltadas mais para o
desenvolver do ser, do que fazer empreendedor, ou seja, desenvolver um potencial
presente na espécie humana – o espírito empreendedor.
35
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23 de junho de 2017.
38
APÊNDICES E ANEXOS
Figura 2. Confecção de cesta com artesanato de crochê e CD /
DVD reaproveitados
Figura 3. Cesta finalizada
Figura 4. Confecção de bolsa com crochê e
CD/DVD reaproveitados
Figura 5. Bolsa finalizada
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Questionário da Pesquisa de Campo
1. Você possui algum material eletrônico em sua residência para ser descartado?
a) ( ) Sim
b) ( ) Não
2. Você sabia que os materiais eletrônicos possuem substâncias tóxicas para o
meio ambiente?
a) ( ) Sim
b) ( ) Não
3. Onde você costuma descartar os componentes eletrônicos de sua residência
quando perdem a utilidade ou não tem conserto?
a) ( ) Joga fora junto com o lixo comum.
b) ( ) Leva até ao local de coleta.
c) ( ) Acumula em casa para se desfazer depois.
4. Você conhece algum ponto de coleta de materiais eletrônicos em Uruçuí?
a) ( ) Sim
b) ( ) Não
5. Qual é a sua percepção de descartar corretamente o lixo eletrônico?
a) ( ) Reutilizar de alguma forma.
b) ( ) Jogar no lixo comum.
c) ( ) Devolver no local adequado.