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PEÇA: A Semente
PESQUISADOR: RIBEIRO, Lucas Henrique
RESUMO
A Semente, de Gianfrancesco Guarnieri, é uma peça que
retrata o cotidiano de militantes operários de uma fábrica de São
Paulo, e como suas relações com o trabalho afeta os outros
aspectos de suas vidas. A peça foi vetada alguns dias antes de
sua estreia, em 1961, pela Secretaria de Segurança Pública do
Estado de São Paulo, devido a sua, nas palavras dos censores,
“intenção de demolir o regime democrática brasileiro”, e, mesmo
que o veto tenha sido revogado após um curto período de tempo,
sua influência sob o modo como a peça é vista hoje em dia é
considerável. O processo que levou ao veto da peça está
disponível no Arquivo Miroel Silveira (AMS), vinculado à Biblioteca
da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo (ECA-USP), e possui peculiaridades, discutidas nesse
trabalho, quando comparado aos outros seis mil cento e
dezesseis arquivos presentes no Arquivo.
Palavras-chave: censura, Gianfrancesco Guarnieri, A
Semente, teatro, peças vetadas, Arquivo Miroel Silveira.
AUTOR: GIANFRANCESCO GUARNIERI (1934 – 2006)
O envolvimento de Gianfrancesco Guarnieri com o mundo artístico se
deu desde sua infância. Nascido em Milão em 1934, sob o nome de
Gianfrancesco Sigfrido Benedetto Martinenghi de Guarnieri, o futuro
dramaturgo convivia com a música devido a ocupação de sua mãe e de seu
pai, a primeira sendo uma harpista de renome, Elsa Martinenghi, e o segundo
um maestro de sucesso, Edoardo Guarnieri, ambos italianos vindos para o
Brasil ao sentirem os primeiros efeitos da perseguição política imposta por
Mussolini na Itália aos militantes com posições políticas de esquerda.
A saída de Gianfrancesco e de seus pais foi autorizada sem muitos
empecilhos, já que, “para o governo italiano, era ótimo mandar embora do país
todas as pessoas que fossem de esquerda” (ROVERI, 2004). O enfrentamento
político, entretanto, não acabou na Europa, já que Elsa e Edoardo encontraram
no Brasil o governo de Getúlio Vargas, explicitamente inspirado em ideais
fascistas1. O pai de Gianfrancesco chegou a possuir ligações com o Partido
Comunista no Rio de Janeiro, num pequeno grupo focado em fazer pichações
pela cidade. Sobre a posição política de Edoardo, o dramaturgo diz:
Eu não diria que meu pai tenha sido um anarquista, pois se
presume que o anarquismo possua alguma ideologia. Ele não.
Ele era um cara que gostava de subverter, mas subverter tudo,
entende? (GUARNIERI apud ROVERI, 2004, p. 19)
Guarnieri começou a lidar com o teatro durante a adolescência, ao
ingressar no Colégio Santo Antonio Maria Zacaria e ao participar do grupo
teatral da escola como ponto2 em suas apresentações (ROVERI, 2004). Seu
contato com a arte continuou sempre permeado por um viés político, o que
mais tarde o ajudou a criar, junto a outros artistas, um teatro de discussão dos
problemas sociais e com pretensões nacionais. Sua ligação com o universo
teatral é amplamente intensificada no período em que se envolve com o
movimento estudantil e a União Nacional dos Estudantes (UNE). Chegando a
1 “Sob influência das doutrinas nazi-fascistas, Vargas procurou controlar e dominar a produção simbólica, as artes e as comunicações. Inovou, ao perceber a importância da cultura popular na formação dessa estrutura ideológico-cultural que, segundo ele, lançaria as bases do Brasil contemporâneo, industrial e desenvolvimentista.” (COSTA, 2006, p.96) 2 Pessoa que, durante uma apresentação teatral, posiciona-se perto do palco e lê as falas de um ator caso ele as esqueça.
assumir o cargo de secretário-geral na União Paulista dos Estudantes
Secundaristas (UPES), é nesse meio que Guarnieri começa a frequentar mais
os teatros paulistas, já que ia às apresentações de peças para conseguir
convites gratuitos para os estudantes. (KHOURY, 1983)
Inserido neste contexto, o italiano ajuda a criar o Teatro Paulista do
Estudante (TPE), grupo de teatro amador formado por estudantes militantes
ligados à Juventude Comunista. Guarnieri, no TPE, participava das peças
como ator, chegando inclusive a ganhar o Troféu Arlequim no Festival de
Teatro Amador de São Paulo ao atuar na segunda peça apresentada pelo TPE,
Está Lá Fora um Inspetor, de J.B. Priestley. (ROVERI, 2004)
Ficando cada vez mais famoso por seu sucesso no TPE, Guarnieri e
outros nomes do Teatro Paulista do Estudante passam a ser agraciados com
outros prêmios e a ganhar visibilidade no meio artístico. Isso culmina na fusão
do TPE com o Teatro de Arena, criado há pouco tempo na cidade de São
Paulo pela primeira turma formada na Escola de Arte Dramática (EAD).
Finalmente, no Teatro de Arena, escreve sua primeira peça de sucesso, o que
acaba por renovar a dramaturgia brasileira e ajuda a criar um teatro com
intenções nacionais, Eles Não Usam Black-Tie. A peça, que estreia em 1958,
traz um conteúdo explicitamente político, diretamente influenciada pela
bagagem acumulada pelo italiano no movimento estudantil e no meio operário
(do qual não participou ativamente, porém).
O sucesso da peça de Guarnieri salvou o Teatro de Arena de uma grave
crise econômica pela qual passava. Gianfrancesco então segue com êxito no
meio e continua trabalhando a problemática dos conflitos sociais na vida das
pessoas pobres do Brasil em suas duas seguintes peças, Gimba, de 1959, e A
Semente, de 1961.
Enfrentando problemas com o Estado devido ao explícito conteúdo
político expresso em suas peças, como o veto de A Semente em 1961,
Guarnieri passou por certos desafios após o Golpe de 1964. Na noite do início
da ditadura militar o dramaturgo estava realizando um debate sobre sua peça
O Filho do Cão, que trazia a questão da miséria no Nordeste do Brasil, na
Universidade de São Paulo (USP) localizada na rua Maria Antônia, quando
Entrou um cara correndo e disse: Foi dado o golpe, é a
revolução, é a revolução. Foi aquele zum-zum-zum no teatro, eu
tinha a certeza de que o golpe viria. Os alunos ficaram me
olhando, eu os encarei e disse: Viram só? C.Q.D – conforme
queríamos demonstrar! Eu e os estudantes saímos correndo do
teatro e fomos para a frente da sede do jornal Última Hora, na
Av. Prestes Maia.
Naquela época eu era colunista do jornal, escrevia historinhas
bem populares. Corremos para o jornal para tentar descobrir
qual seria a posição do general Amauri Kruel, comandante do
Segundo Exército, e do governador Ademar de Barros. No
fundo, nós esperávamos que eles oferecessem alguma
resistência, mas que nada. Não houve resistência. Ou melhor,
quem resistiu, ou caiu ou foi cassado. (GUARNIERI apud
ROVERI, 2004, p. 120)
No dia 1 de abril de 1964, logo após o golpe, os integrantes do Teatro de
Arena decidiram fechá-lo, antes que fossem obrigados a fazer isso pela força
ditatorial do novo regime. Uns tempos depois, porém, o Arena volta à ativa com
a peça Tartufo do francês Molière
“Que negócio é esse?”, gritamos na época! “Não pode ser
encenado o Guarnieri? Então vamos de Molière em cima deles!”
(Pausa.) Agora, nós não queríamos abrir mão da nossa
dramaturgia e estava difícil. Estava difícil porque a Censura
imediatamente radicalizou mesmo e não queria saber de nada.
Existiam temas-tabus, e então durante algum tempo e muita
gente de fibra partiu para a História e começamos a descobrir
analogias: “Vamos falar do hoje lançando mão do ontem”.
(GUARNIERI apud KHOURY, 1983, p. 47)
Após o fim do Arena, Guarnieri continua construindo sua carreira de
dramaturgo com algumas peças para o TBC e o Teatro São Pedro. De acordo
com Guarnieri (2006 apud ROVERI, 2006), na década de 1980 começou a
investir em sua carreira de atuação televisiva, tendo interpretado papeis em
novelas em inúmeras redes de televisão. Filmava um papel na novela
Belíssima da Rede Globo quando, em 2 de junho de 2006, devido a
complicações vindas de uma hemodiálise, foi internado no Hospital Sírio-
Libanês. Após 20 dias, Guarnieri morreu devido a insuficiência renal crônica.
(FOLHA ONLINE, 2006)
A OBRA: A SEMENTE
As três primeiras peças escritas por Guarnieri podem ser consideradas
uma tríade que resume a posição e a crítica política do dramaturgo. O
protagonismo do operário em Black-tie e em A Semente e o contexto da vida
na favela em Gimba (que guarda certa semelhança com a vida camponesa
retratada em O Filho do Cão) demonstram a percepção do autor ao considerar
e analisar os conflitos sociais construídos historicamente no Brasil, numa
perspectiva que Pupo e Arantes (2008) definem como Realismo Crítico3.
Os textos, entretanto, guardam certas diferenças entre si. Enquanto
Gimba é ambientada em uma favela carioca e trata dos conflitos inerentes a
esse espaço, Eles Não Usam Black-tie e A Semente são peças características
do autor que retratam o meio operário. O enredo de ambas desenvolve-se a
partir de uma greve de fábrica, mesmo que ela tenha um significado diferente
em cada uma das peças: em Black-tie é tida como meio de conquista de
melhores condições de vida, em A Semente é essencialmente uma arma
revolucionária. (PRADO, 1993)
A representação revolucionária da greve em A Semente de Guarnieri e a
sua relação com os personagens operários filiados ao PCB dialoga
profundamente com as práticas e tendências sindicais da segunda metade da
década de 1950, sendo que
A luta pelo aumento dos salários, intensificada devido ao
fenômeno inflacionário crescente, provocou no movimento
operário uma politização sensível. Os sindicatos, sobretudo as
bases, começam a aprender os mecanismos mais globais que
determinam a sua condição de explorados e iniciam um
processo de intervenção consciente na economia e política
3 “O Realismo Crítico está ligado à realidade social do nosso tempo e implica em considerar que há várias perspectivas desta realidade pois cada um conhece os objetos através dos seus próprios sentidos.” (PUPO; ARANTES, 2008, p. 6)
nacionais que desembocarão nos anos 60 na proposição de
reformas estruturais. (CASTRO apud LOWY, 1980, p. 67)
A crítica de Guarnieri nas peças, especialmente em A Semente, não
para na burguesia e no aparato policial do Estado, que agia sob os
trabalhadores das fábricas através da Divisão de Polícia Política e Social (DPS)
(PUPO; ARANTES, 2008). O dramaturgo tece suas opiniões em relação ao
Partido Comunista do Brasil (PCB) e a exacerbada burocracia com a qual ele
se organiza através do retrato de um grupo atuante na fábrica em que o
protagonista, Agileu, trabalha no enredo.
A peça A Semente retrata a vida de pessoas operárias de São Paulo e
lida com a influência que a exploração do trabalho gera e que permeia as
diversas relações nas quais elas se envolvem, sejam afetivas, políticas ou de
outros caráteres. O protagonista supracitado possui um ideal revolucionário
que transborda os limites impostos pela célula do PCB atuante na história, e
sua posição política, quase sempre expressa de forma explosiva, reverbera em
suas ações com os companheiros militantes, a esposa, os outros
trabalhadores. Nos trechos em que Agileu lida com moradores de rua e com o
personagem João (após o segundo perder a esposa grávida de seu filho
durante repressão policial em uma greve) percebe-se que a incisividade de seu
discurso durante toda a peça, necessária em seus termos de luta, decorre de
uma esperança no potencial revolucionário de movimentos grevistas.
Além das críticas à organização do PCB, Guarnieri (1978) condena
veementemente as forças policiais do Estado, retratando tanto a repressão
física durante a greve (GUARNIERI, 1978, p. 113-118) quanto a corrupção no
aparato burocrático da instituição, como a manobra do testemunho de Rosa
(esposa de Agileu) para incriminá-lo (GUARNIERI, 1978, p. 49-52).
Outra questão polêmica na qual tocou Guarnieri em A Semente e que
não passou despercebida pelos olhos dos censores foi a instituição da Igreja.
Ao presenciar o velório do filho de um companheiro trabalhador, o protagonista
da peça tenta convencer o pai de que aquele devia ser um motivo propulsor
para a greve. Como na maior parte da peça, Agileu está exaltado em seu
discurso, quando
HOMEM 1 – Respeita o cadáver, anticristo!
AGILEU – Anticristo, porque luto pela libertação da esmagadora
maioria da humanidade? Anticristo porque quero a morte desses
infeliz sirva ao mentos para alguma coisa? Anticristo porque eu
quero que o sacrifício dessa criança possa abrir os olhos de
seres iguais a mim? Anticristo, eu? E Cristo não morreu também
por isso e não é usado como bandeira, e bandeira avacalhada
por todos vocês?! Apaga essa velas, Américo, carrega o corpo
do teu filho nas costas e caminha para a praça. Berra bem forte
o teu sofrimento. Atira esse cadáver junto a milhões de outros e
forma uma barricada, uma barricada de mortos para os que
ainda estão!
Apesar das críticas incisivas às formas de organização do Brasil de seu
período, que levou a problemas com os órgãos censórios e com instituições
civis, a peça foi bem recebida pela crítica especializada quando de sua estreia,
em 27 de abril de 1961. O crítico Paulo Duarte, na Revista Anhembi de maio de
1961 4 , destaca A Semente como a melhor obra do autor e, quiçá, da
dramaturgia brasileira, dando crédito ao caráter político da obra.
Guarnieri tem escolhido um “tema proibido” como constante: a
luta de classes. E “A Semente” vai adquirindo dimensões
maiores como autêntica obra de arte, na exata medida em que
nos damos conta das dificuldades que implicam o tratamento de
um tema de tal sorte cru, onde autores menos experientes
tiveram suas melhores intenções transformadas em meros
panfletos políticos repudiados pelas nossas plateias. Isso pela
simples razão de que discutir política na Praça da Sé é bastante
diverso de discutir política sobre um palco, principalmente
quando o nosso atual público de teatro se habituou a encher as
salas de espetáculos para se entreter ou desfastiar-se. (...)
(...) “A Semente”, além de primorosa obra artística, se presta à
liquidação de um preconceito. Não se limitou o autor à discussão
da luta de classes ou à cirurgia das mazelas do atual sistema
social. Foi mais longe: desbastou a questão até o cerne e
descortinou ao público, em toda a sua autenticidade, a vida do
4 Conferir Apêndice 4.
operário paulista empenhado nos movimentos reivindicatórios ao
lado da sua própria organização partidária. Com toda a
sinceridade, despida de demagogias ou radicalismos, “A
Semente” fotografa a tragetória (sic) do líder operário à frente da
massa que vanguarda, não lhe escondendo as fraquezas, a
paixão da sua batalha ou as renúncias que lhe impõe a
liderança. Mostra-nos um operário humano, sem auréola,
continuamente às voltas com seus problemas domésticos,
sentindo o peso de uma conjuntura social adversa, amando,
errando, solidarizando-se; mostra-nos a base e o vértice da
pirâmide social capitalista: a gerência da grande indústria
escudada no poder constituído e o depósito de lixo, em cujo
monturo vão se alimentar os velhos mendigos e as crianças
famintas, numa geografia bastante nossa: os bairros do Brás e
da Mooca. (DUARTE, 1961)
Outro elemento que chama atenção em A Semente é sua estrutura
formal. O diretor da primeira montagem, Flávio Rangel, relata, na Apresentação
do volume 2 da Coleção Teatro de Guarnieri da Editora Civilização Brasileira,
que
O tratamento da peça não é realista; havia alguns elementos de
“teatro total”, havia uma destacada influência cinematográfica,
mas havia sobretudo uma liberdade completa no que respeita à
maneira formal. Lida, a peça apresenta enormes dificuldades
para a encenação, e aceitá-la era de algum modo uma disputa.
A tentativa de solucionar as vinte e duas sequencias esparsas
por dez cenários de maneira realista, afigurou-se impraticável.
Hoje, tenho quase que certeza de que seria também um erro.
(RANGEL, 1978)
A influência cinematográfica na peça é constante, tanto é que, de acordo
com Schmidt (2010), “algumas rubricas de Guarnieri chegam a ser cômicas
(um bom exemplo é a presença de urubus no lixão onde Agileu conversa com
os mendigos), quando imaginamos a dificuldade de realizá-las num palco
italiano tradicional como o do TBC”. Schmidt (2010) diz que essa interferência é
proposital, já que Guarnieri e Flávio tinham como objetivo levar o texto aos
cinemas, o que não chegou a acontecer.
O grande número de cenários e as rápidas mudanças entre eles,
expressões típicas de obras audiovisuais, são, para Duarte, partes
fundamentais para contribuir com o clima do enredo.
A unidade da ação é conduzida numa contínua fragmentação de
espaços: a praça pública, a casa do líder, o depósito de lixo, o
quarto do casal de operários, a sala de reunião da base
partidária, a porta da fábrica, o interior da fábrica, a delegacia de
polícia e vários outros sítios onde o desespero, a traição, a luta e
a morte vão encontrar uma compensação final no amor, na
esperança e na solidariedade. Poder-se-ia mesmo dizer que
esses sentimentos são as determinantes da obra de Guarnieri.
Daí a razão pela qual, através de “A Semente”, vislumbramos
um amanhã sem dores, sem maldade, um amanhã quando as
crianças famintas terão “... todos os aviões do mundo”, quando
os mendigos não carecerão de matar a fome nos monturos, nem
os homens terão as suas mulheres metralhadas por gritarem por
“... queremos pão, feijão com arroz!” (DUARTE, 1961)
A CENSURA
O processo censório da peça A Semente está registrado no Arquivo
Miroel Silveira (AMS) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, sob
o código DDP 5157. O documento é composto por dezessete telegramas
enviados à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-
SP), três recortes de jornais, dois abaixo-assinados (um com treze e outro com
sessenta e três assinaturas), uma carta da diretora do Ginásio “Boni Consilii” e
outra em nome das famílias de Sumaré, o contrato de representação de peça
teatral entre a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) – da qual
Guarnieri fazia parte – e o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), duas cópias do
parecer dos censores da Divisão de Diversões Públicas do Setor de Órgãos
Auxiliares Policiais da Secretaria de Segurança Pública, o despacho do Diretor-
Substituo do DDP vetando a apresentação de A Semente, quatro cópias do
parecer de Benjamin Raymundo da Silva da Delegacia Especializada de
Ordem Social do DOPS acerca da censura da peça, o requerimento de censura
assinado por Roberto Freire (representando a Sociedade Brasileira de
Comédia), um comprovante de devolução do manuscrito da peça assinado por
um representando do DOPS, um ofício do diretor substituto da SSP-SP
dirigindo-se ao secretário da segurança pública a respeito de um pedido de
apresentação da peça para um censor em específico, uma autorização de
direitos de representação da peça e um exemplar datilografado do texto. Há
ainda um ofício não assinado do SOAP lamentando a liberação da peça por
parte do Secretário da SSP-SP.
O processo censório de A Semente difere um pouco do padrão
encontrado em outros processos do Arquivo Miroel Silveira. A principal
diferença é o fato de não haver um documento que relate com clareza a
liberação da peça após o seu veto inicial. Entretanto, os recortes de jornais
encontrados e o ofício dirigido ao Secretário da SSP-SP nos mostram como a
peça pôde ser encenada. Outro tópico que foge do padrão dos processos é o
fato de haver, além do típico parecer dos censores, um documento escrito por
Benjamin Raymundo da Silva – respondendo pela Delegacia Especializada de
Ordem Social do DOPS – analisando a peça e aconselhando o veto.
Benjamin Raymundo, em seu parecer5 (PROCESSO DDP 5157, AMS-
ECA-USP, p. 28-31), diz que o comportamento do protagonista possui “o
rancor próprio que os comunistas votam ás [sic] coisas religiosas”. Os censores
da Secretaria de Segurança Pública também utilizaram o argumento de que “há
na peça [...] cenas que são flagrantes despeito aos sacerdotes, o que,
consentida a representação de ‘A Semente’, daria margem a justos protestos
do clero”.
De fato, a dramaturgia da peça não agradou a inúmeros setores da
sociedade ligados à Igreja Católica. Após a emissão do veto de A Semente, a
Secretária de Segurança Pública de São Paulo recebeu onze telegramas de
entidades católicas parabenizando a decisão da Comissão de Censura, dois
5 Conferir Figuras 13 à 16
abaixo-assinados e duas cartas. Isso demonstra que havia sintonia entre as
considerações dos censores e a opinião pública de setores conservadores da
sociedade.
Um dos principais argumentos usados pelos censores Nestor Lips, Dalva
Janeiro e Willy de Paula Teixeira, da Secretária de Segurança Pública de São
Paulo, no parecer da Comissão de Censura6 que decidiu pelo veto da peça foi
o fato de
As nossas autoridades policiais também não foram poupadas,
pois elas são nitidamente, abertamente, desconsideradas e
desacatadas, em algumas cenas de “A Semente”.
Há um Delegado de Polícia que, chamado para apaziguar uma
greve, faz, dentro da própria fábrica, declarada apologia a um
extinto partido político7.
Em determinada cena, passada na Delegacia, a autoridade força
uma testemunha (a esposa de um dos cabeças do movimento
subversivo) a assinar uma folha de depoimento em branco.
A crítica à polícia também é afirmada por Benjamin Raymundo da Silva
em seu parecer para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS)8
como um dos principais fatores, se não o principal, para o veto da peça
Depois, e aqui está a parte mais negativa da peça, é
desaprimorosa (sic) a maneira como é tratada a polícia, na
6 Conferir Figuras 17 e 18. 7 Os sensores fazem referência ao movimento integralista mencionado no seguinte trecho: “[...] PATRÃO – O senhor como delegado, fala muito livremente! DELEGADO – Talvez. Mas sei o que digo. O Brasil esteve a pique de seguir o bom caminho. A situação internacional decidiu para pior! PATRÃO – Como assim? DELEGADO – O caminho do integralismo. [...]” (GUARNIERI, 1978, p. 112) 8 “À Delegacia de Ordem Política e Social [subordinada ao Departamento de Ordem Política e Social] cabia fiscalizar o fabrico, a importação, a exportação, o comércio, o emprego ou o uso de matérias explosivas; fiscalizar a entrada e permanência de estrangeiros; instaurar, avocar, prosseguir e ultimar inquéritos relativos a fatos de sua competência; proceder ao registro de jornais, revistas e empresas de publicidade em geral; inspecionar hotéis, pensões e semelhantes; fiscalizar aeroportos, estações ferroviárias e rodovias; proceder investigações sobre pessoas suspeitas, lugares onde se presuma qualquer alteração ou atentado contra a ordem política e social; organizar, diariamente, boletins de informações de todos os serviços executados nas últimas 24 horas; e finalmente, ‘identificar e prontuariar os indivíduos suspeitos por crimes e contravenções atentatórias à ordem política e social, organizados em fichário apropriado, “de modo a facilitar os trabalhados estatísticos de seu movimento e toda e qualquer investigação’” (CORRÊA, 2015)
pessoa de agentes que entram em cena para o desempenho dos
papéis desleais, antipáticos e violentos. Assim é que se atribui a
um Delegado de Polícia o haver feito a mulher de Agileu assinar
uma declaração em branco que, preenchida a seu bel prazer
constituia (sic) um libelo contra a pessoa do marido que a polícia
tinha interesse em prejudicar.
Ainda num diálogo entre o dono de uma indústria e um Delegado
que comparecera ao estabelecimento para debelar uma gréve
(sic), a autoridade confessa que o mundo teve o ensejo de
escolher, no último conflito mundial o caminho certo – o
integralismo – e preferiu a estrada oposta.
Em última análise, pela palavra de uma autoridade, a polícia era
FASCISTA (sic).
Finalmente, quando a peça chega ao fim a polícia ainda é
apresentada como desleal, ao soltar Agileu para que êste (sic)
fosse apontado como traidor pelos próprios companheiros,
enquanto prendia outros comunistas que seguiam a orientação.
A trama foi preparada pela autoridade policial, em cuja equipe
figuram homens falsos e violentos.
É sabido que, para os comunistas, a instituição que deve ser
combatida com veemência e intransigência é o policial porque
constitui a ação corecitiva (sic) que impede a propagação do
ideal vermelho. Isso o autor consegue com maestria.
O apontamento de Benjamin e dos censores para a questão da Igreja e
da força policial está de acordo com as manifestações contrárias à peça que
estão presentes no processo arquivado (PROCESSO DDP 5157, AMS-ECA-
USP, p. 11-25). A enorme quantidade de contatos realizados por colégios
católicos é a forma pela qual a Igreja se faz presente no processo censório,
mesmo que sob um manto de instituição civil. No Telegrama Urbano Nº
532629, assinado por Maria de A. Souto, encontra-se o seguinte texto, que
resume as críticas recebidas nos outros telegramas, cartas e abaixo-assinados:
Diretoria Corpo Docente Colégio “Sacré-Coeur de Marie” louvam
ato Vossência proibindo peça “A Semente” autoria Guarnieri
altamente prejudicial mentalidade costumes juventude sã.
Agradecem interesse Vossência integridade caráter e espírito
família paulista.
Tal argumento liga-se àquele presente no parecer dos censores da SSP-
SP, cujo texto é
“A Semente” é, ora implícita ora explicitamente, uma obra
claramente subversiva; desobediente aos preceitos legais do
país, com intenção de demolir o regime democrático brasileiro,
cuja estrutura jurídica é solidamente definida.
Interessante notar, porém, que os censores utilizam termos que
enobrecem a figura de Guarnieri, mesmo que estejam constatando que a peça
deve ser vetada. Caracterizações como “jovem e talentoso escritor
Gianfrancesco Guarnieri”, “ilustre teatrólogo”, “Gianfrancesco Guarnieri, de cujo
talento indiscutível esperamos outros trabalhos que venham enaltecer, ainda
mais, a bela, difícil e complexa arte, que é o Teatro.” A contradição entre
algumas ideias é expressa, por exemplo, quando os censores consideram
Que a peça do ilustre teatrólogo – cujos ideais políticos e sociais
ignoramos – faz do palco veículo, direto ou indireto, como
dissemos, para propaganda de caráter subversivo, contrariando
a organização política e social do Brasil e a índole da população
brasileira.
Ao mesmo tempo, Benjamin Raymundo diz que Guarnieri “parece um
Lenine redivivo”. Essa dualidade na descrição do autor é padrão nos processos
do AMS, às vezes utilizando-se da fama e da carreira artística do escritor para
a liberação da peça, outras vezes constatando seu histórico e suas relações
políticas e sociais para justificar o veto ou a censura.
5. A INFLUÊNCIA DA CENSURA
No caso de Guarnieri, sua ligação com o movimento estudantil e o
Partido Comunista do Brasil, como relatado anteriormente, influenciou e muito
no veto de sua peça. O contexto brasileiro e internacional no momento da
estreia da peça era alimentado pela tensão da Guerra Fria. A luta por influência
entre os blocos capitalista e socialista, representados respectivamente pelos
Estados Unidos da América (EUA) e pela União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS), tornava os aparelhos repressores estatais atentos às
manifestações contrárias ao sistema vigente. Uma peça como A Semente, que
critica o sistema capitalista, não era bem vista por uma sociedade
conservadora como a brasileira dessa época. Interessante notar que além dos
setores conservadores, o Partido Comunista do Brasil também se opôs à peça,
já que ela criticava sua burocracia como um empecilho na luta revolucionária.
O processo censório que levou ao veto de A Semente é um tanto
complexo. Os materiais jornalísticos presentes e a pesquisa feita no arquivo da
Folha de São Paulo permitem-nos concluir que havia uma expectativa pela
estreia da montagem, já que Guarnieri havia se consagrado desde o
lançamento de Eles Não Usam Black-Tie e o seguinte sucesso de Gimba. Tal
expectativa, somada ao histórico da atuação política de Guarnieri, contribuiu
para a manifestação de setores civis, principalmente ligados à Igreja, pedindo o
veto da peça. Além disso, o fato de conter um parecer de um diretor do DOPS
prova que os ferrenhos comentários do dramaturgo acerca da polícia foram um
incômodo um tanto quanto significativo. Tal parecer de Benjamin Raymundo
contribuiu para dar legitimidade à decisão dos censores.
Entretanto, os contatos de Guarnieri e do diretor da peça, Flávio Rangel,
com o secretário da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, Virgílio
Lopes da Silva, permitiram que uma comissão especial fosse criada para
reavaliar a peça (ROVERI, 2006) e, realizando alguns cortes, liberar sua
encenação, como relatado em uma das notícias, que diz que
Achavam-se presentes os srs. Constantino Milano Neto,
presidente da Federação dos Trabalhadores em Empresas de
Difusão Cultural e Artística do Estado de São Paulo; Sylvio
Checchia, presidente da Associação dos Empresarios de
Teatros e Casas de Diversões; Daniel Bernardes e Paulo
Seyssel, presidente e vice-presidente, respectivamente, da
Associação dos Empresarios de Circos; Abrahão Kaniefsky, 1º
secretário do Sindicato dos Músicos Profissionais; Otávio
Gonçalvez, presidente do Sindicado dos Atores
Cinematográficos; Antonio Vieira e Paulo F. Marques, presidente
e tesoureiro, respectivamente, do Sindicato dos Empregados em
Teatros e Cinemas; Nicolau Rato, presidente do Sindicato dos
Empregados em Empresa Distribuidoras de Filmes; Eugenio
Braga, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas
Editoras e de Publicações Culturais; e Francisco Nunes,
presidente do Sindicato dos Radialistas e Publicitários do Estado
de São Paulo.
O estigma do veto, as manifestações da Igreja, do PCB e de outros
setores, majoritariamente conservadores, porém, fizeram com que a peça não
passasse de uma temporada de montagem, mesmo que com relativo sucesso.
Ao analisar a trajetória da peça após o veto, é interessante notar que
seu ano de estreia foi 1961, período marcado pela tensão da Guerra Fria citada
anteriormente, que refletiu na América Latina em inúmeros governos militares
ditatoriais, como o imposto ao Brasil em 1964. Após o Golpe, e ainda mais
após o AI-5, a censura e a perseguição política realizadas pelo Estado
aumentaram (COSTA, 2006), o que tornou muito difícil a encenação de peças
com críticas tão explícitas como A Semente.
Tal fato elucida o porquê da peça quase nunca ser destacada nos
estudos e nas notícias acerca da vasta obra de Gianfrancesco Guarnieri,
mesmo com a seguinte declaração do dramaturgo
S[érgio Khoury] – O grito parado no ar foi um grande sucesso,
Botequim nem tanto. Você tem uma peça que está relutando em
ser levada, que é Basta... De tudo que você escreveu até hoje,
qual a peça que mais gosta, aquela que seria sua obra-prima?
G[ianfrancesco Guarnieri] – São duas: Eles não usam black-tie,
que não é pelo fato de ser a primeira, não, acho a peça bem
construída, bem feita... a outra é A semente, que se fosse levada
hoje talvez eu mexesse um pouquinho no texto. (KHOURY,
1984, p. 68)
A peça só aparece nos meios de comunicação atuais devido a seu
processo. A pesquisa acerca das notícias sobre a peça foi realizada através do
mecanismo de busca do arquivo online do jornal Folha de São Paulo, cobrindo
os anos de 1960 à 2015 e abrangendo todos os cadernos das edições. Os
termos pesquisados foram “Guarnieri”, “Gianfrancesco Guarnieri” e “A
Semente”. No arquivo da Folha de São Paulo, a notícia mais recente com
conteúdo específico sobre A Semente ironiza o processo arquivado no AMS
pela acusação de Guarnieri ser um “Lenine redivivo”9.
9 Conferir Apêndice 9
CONCLUSÃO
O veto aplicado à peça A Semente, de Gianfrancesco Guarnieri, resultou
da abordagem objetiva do dramaturgo em relação aos conflitos sociais e às
formas de resistência e repressão existentes no Brasil durante a década de
1950 e início de 1960. O histórico político de Guarnieri, assim como as críticas
realizadas em suas peças anteriores e os contextos teatrais nos quais se
inseria (tanto o TPE quanto o Teatro de Arena tinham ideias políticas de
esquerda), também foram fatores que contribuíram para a censura não poupar
a peça. Interessante notar que, diferentemente da maioria dos processos
arquivados no AMS, o processo de A Semente possuía, além do parecer dos
censores, um parecer censório de um secretário do DOPS (supostamente
requisitado pelos censores do DEIP), adicionando, junto com as manifestações
civis ligadas à entidade religiosas, legitimidade ao veto da peça.
Mesmo que o veto tenha caído muito rápido devido à rede de contatos
de Guarnieri e do diretor da peça, Flávio Rangel, a peça não é tão conhecida
nos dias atuais. Sem registros de encenações após a década de 1960, e quase
completamente ignorada pela mídia (que apenas lhe faz referências como mais
uma das peças de Guarnieri, sem destaque), A Semente e seu processo
censório servem como documento de como a disputa entre projetos políticos
antagônicos que fica clara nos anos de 1960 devido ao auge da Guerra Fria
impacta sobre a produção cultural mundial e, lidando especificamente com o
Brasil, como esse impacto que reverbera até os dias atuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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LÖWY (ET ALÜ). Coletivo "Edgar Leuenroth". Movimento Operário
Brasileiro. Belo Horizonte: Vega, 1980. p. 52-81.
CORRÊA, Larissa Rosa. O Departamento Estadual de Ordem Política e
Social de São Paulo: As atividades da polícia política e a intrincada
organização de seu acervo. Disponível em:
<http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao33/mat
eria04/>. Acesso em: 10 set. 2015.
COSTA, Maria Cristina Castilho. Censura em cena: Teatro e censura no
Brasil: Arquivo Miroel Silveira. São Paulo: Edusp, 2006.
DUARTE, Paulo. "A semente", de Gianfrancesco Guarnieri. Revista Anhembi,
São Paulo, v. 42, n. 126, p.825-828, maio 1961.
FOLHA ONLINE (Ed.). Gianfrancesco Guarnieri morre aos 71 anos em São
Paulo. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u62714.shtml>. Acesso em:
01 set. 2015.
GUARNIERI, Gianfrancesco. Teatro de Gianfrancesco Guarnieri: A Semente.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
KHOURY, Simon. Gianfrancesco Guarnieri. In: KHOURY, Simon. Atrás da
Máscara: Segredos pessoais e profissionais de grandes atores brasileiros. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. p. 11-71.
LÖWY, Michael. Do Movimento Operário Independente ao Sindicalismo de
Estado: (1930-1945). In: MICHAEL LÖWY (ET ALÜ). Coletivo "Edgar
Leuenroth". Movimento Operário Brasileiro: 1900/1979. Belo Horizonte:
Vega, 1980. p. 24-51.
COUTINHO, Lis. de Freitas. O Rei da Vela e o Oficina (1967-1982): censura e
dramaturgia. 2011, 209 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Comunicações e
Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
NEVES, Lucília de Almeida. CGT no Brasil: 1961-1964. Belo Horizonte: Vega,
1981.
PUPO, Thaís; ARANTES, Luiz Humberto Martins. O mito na dramaturgia de
Gianfrancesco Guarnieri. Horizonte Científico, Uberlândia, v. 2, n. 1, p.1-30,
out. 2008.
RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível: Estética e política. São Paulo:
Exo Experimental Org; Ed. 34, 2005.
ROVERI, Sérgio. Gianfrancesco Guarnieri: Um grito solto no ar. São Paulo:
Cultura - Padre Anchieta, 2004.
SCHMIDT, Bernardo. "A Semente", de Guarnieri. Disponível em:
<http://bernardoschmidt.blogspot.com.br/2010/02/semente-de-guarnieri.html>.
Acesso em: 02 set. 2015.
SCHMIDT, Bernardo. Sobre o filme "Gimba, Presidente dos Valentes".
Disponível em: <http://bernardoschmidt.blogspot.com.br/2010/11/sobre-o-filme-
gimba-presidente-dos.html>. Acesso em: 02 set. 2015.
HEMEROTECA: APÊNDICE – LISTA DAS MATÉRIAS DE JORNAIS E
REVISTAS DA ÉPOCA
TÍTULO AUTORIA DATA JORNAL CADERNO FIGURAS
1. As estreias do
mês
Carlos de
Moura
11 de
abril de
1961
Folha de
São
Paulo
Ilustrada
1
2. Preparativos
finais para a
estreia de “A
Semente”
Carlos de
Moura
22 de
abril de
1961
Folha de
São
Paulo
Ilustrada
2
3. Após sua
liberação,
estreia hoje “A
Semente” no
TBC
Carlos de
Moura
28 de
abril de
1961
Folha de
São
Paulo
Ilustrada
3
4. “A semente” de
Gianfrancesco
Guarnieri
Paulo
Duarte
Maio de
1961
Revista
Anhembi
Artes de
30 dias
4-7
5. O conflito
básico em “A
Semente”
Carlos
Von
Schmidt
09 de
maio de
1961
Folha de
São
Paulo
Ilustrada
8
6. Encontro com
os estudantes:
conferência
sobre “A
Semente”
Carlos de
Moura
12 de
maio de
1961
Folha de
São
Paulo
Ilustrada
9
7. Debate sobre a
peça “A
Semente” na
União Cultural
Brasil-URSS
-
04 de
junho de
1961
Folha de
São
Paulo
Primeiro
Caderno
10
8. Festivais de
Teatro
Carlos de
Moura
15 de
junho de
Folha de
São Ilustrada
11
1961 Paulo
9. Para censor,
Guarnieri era
“Lênin
redivivo”
-
24 de
dezembro
de 2003
Folha de
São
Paulo
Ilustrada
12
HEMEROTECA: MATÉRIAS DE JORNAIS E REVISTAS DA ÉPOCA
Figura 1
“As estréias do mês
‘Sem Entrada e Sem Mais Nada’, de Roberto Freire vai a cena na
próxima quinta-feira, em uma montagem do Pequeno Teatro de Comédia, sob
a direção de Antunes Filho. *
A Cia. Nidia Licia e o Teatro da Cidade, em sua primeira coprodução,
anunciam para o dia 20 a ‘premiere’ de ‘Quarto de Despejo’, uma teatralização
de Edi Lima do livro de Carolina de Jesus, em uma encenação de Amir
Haddad. *
Empenhado ao máxima na valorização do autor nacional, o Teatro
Brasileiro de Comédia apresenta no dia 27 o texto de Gianfrancesco Guarnieri.
“A Semente”, sob a direção artística de Flavio Rangel.”
Figura 2
“PREPARATIVOS FINAIS PARA A ESTRÉIA DE ‘A SEMENTE’
[...] pelo menos 5 ensaios gerais. A estréia será dia 27 * Para melhor se
familiarizarem com o ambiente da peça, os atores estão visitando várias
fábricas da cidade, principalmente as indústrias metalúrgicas. Nas cenas de
interior da fábrica, aparecem várias máquinas, ceidades por uma empresa
paulista. * Como ‘Sem Entrada e Sem Mais Nada’ de Roberto Freire, também
‘A Semente” foi impressa pela editora Massao Ohno, que pretende lançar essa
nova edição no dia da estréia. As [...] presença teatral) * Já estão totalmente
gravados os temas musicais de ‘A Semente’. A ‘Canção do Amor
Desesperado’, de Caetano Zamma está chamando a atenção dos gravadores e
talvez seja lançada por ocasião da estreia.* Participam de ‘A Semente’ os
seguintes atores: Cleide Iaconis, Leo Vilar, Natália Timberg, Amelia Bittencourt,
Gianfrancesco Guarnieri, Estenio Garcia, Juca de Oliveira, Flavio Migliaccio,
Ilema de Castro e muitos outros.”
Figura 3
“Após sua liberação, estréia hoje ‘A Semente’ no TBC
Afastados todos os empecilhos legais que ameaçavam impossibilitar sua
encenação, estreia hoje no Teatro Brasileiro de Comedia, a peça de
Gianfrancesco Guarnieri. A Divisão de Diversões Públicas interditara a
apresentação do espetáculo sob a alegação de que o texto continha
características subversivas.
Não se conformando com a medida, o autor, juntamente com o diretor
Flavio Rangel e com Roberto Freire, diretor-representante do TBC, requerio ao
sr. Virgílio Lopes da Secretaria da Segurança do Estado a formação de uma
comissão que opinasse sobre a validade daquela proibição, composto por
Aloisio Marques, diretor da Escola de Arte Dramática e presidente da Comissão
Estadual de Teatro Dulce Sales Cunha, Ernesto Leme representante da
Academia Paulista de Letras, Decio de Almeida Prado, presidente da
Associação Paulista de Criticos Teatrais, Carlos Pinto Alves, escritor Quirino da
Silva, crítico e Vicente de Paula Melilo, da Confederação das Famílias Cristãs.
Após ter assistido ao espetáculo nas primeiras aulas de ontem, a
comissão, por cinco votos contra dois, manifestou-se favoravelmente à exibição
de ‘A Semente’.
Entretanto, em vista dos numerosos problemas, surgidos com a
paralisação do teatro por mais de 12 horas, ficou transferida para hojea estreia
do espetáculo, que consta com um numeroso elenco, em que se destacam
Leonardo Vilar, Cleide Iaconos, Natalia Timberg, Elisio de Albuquerque,
Gianfrancesco Guarnieri, Amelia Bitencourt, Juca de Oliveira, Stenio Garcia e
Caetano Zama.”
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
Figura 10
Figura 11
Figura 12
IMAGENS DO PROCESSO DE CENSURA
Figura 13
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 18