Passos para a Eternidade
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Transcript of Passos para a Eternidade
Círculo do Graal
Carmo Vasconcelos Página 2
ÍNDICE
I – Construindo a Ponte
II – Começo a Entender
III – Rugas
IV – A Arte de Viver
V – (In) Direitos Humanos
VI – Ferve ao Poeta
VII – De Narciso… a Narcisista
VIII – A Metamorfose
IX – Se a Natureza Grita…
X – Poemas em Tempo de Guerra – Hoje como Ontem…
XI – Quero-te Flor Primeira!
XII – E… Fez-se Luz!
XIII – Reconstruindo Pontes
XIV – Estrela-Guia
XV – Oração à Virgem
XVI – Amigo
XVII – Luz na Escuridão
XVIII – Quando Choras…
XIX – Êxtase
XX – Canção à Vida
Círculo do Graal
Carmo Vasconcelos Página 3
I
CONSTRUINDO A PONTE...
Suave e lentamente, desligo-me do mundo.
Sem pena nem tristeza; nem asceta...
Sem depressão ou euforia, apenas circunspecta,
preparo a outra vida que vislumbro ao fundo...
Para trás, a estrada já vencida, o “dejá-vu”
que, perdido o espanto,
tal amantes desgastados de eu e tu,
já não empolga mais...
Na nova esfera introspectiva há silêncios de catedrais,
cores a desbravar num imo de vitrais.
Dos satélites pulsantes ao redor,
já conheço os estafados movimentos e quadrantes.
O caminho, sem arestas de temor, faz-se agora para dentro,
numa rota ponderada de regresso ao antes.
Guardo os olhos para Paisagens Superiores,
e os ouvidos para Sinfonias Divinais.
Prevejo, até...
Uma nova poesia por sinais aromados de incensos:
luzes, toques, brisas calmas;
a linguagem enigmática das almas.
Pressinto orgias transcendentais,
orgasmos cósmicos deslumbrantes,
anjos e vestais fazendo amor num céu de debutantes.
Círculo do Graal
Carmo Vasconcelos Página 4
Largo as vestes da vaidade, a nudez visto de branco;
descalço-me de intentos,
despeço louvores, rebaptizo sentimentos.
Experimento o desapego franco!
Abafo o ego prepotente; queimo o lixo material e poluente.
Na mala... apenas os valores invisíveis:
aprendizado, conhecimento, justeza,
doação, desprendimento.
Não há limite de peso para a bagagem dos possíveis
que estou juntando em sossego.
Quantos mais... maior leveza!
Ah! Minha vontade fraqueja…
Pesos ainda da carne que lateja.
Das paixões, persistem sombras torturantes,
pecados veniais, sedutores e fascinantes.
E as feras, sequiosas de prazer, rondam-me a fonte...
Mas, por entre a força e a fraqueza, a certeza
do paraíso defronte!
Sem data agendada para a passagem,
estou construindo a ponte!
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Carmo Vasconcelos Página 5
II
COMEÇO A ENTENDER...
Começo a entender
a inutilidade do, teimosamente, querer...
Lentamente, dispo a frustração
do não ter...
Pragmática,
visto a minha gramática.
“Passar” é o meu verbo,
não, “Ficar”.
Chuva miúda que cai,
entranha, vivifica, revigora,
e se vai,
homeopática!
Brisa forte, mais que aragem,
menos que suão,
espaneja, sacode, areja,
e se vai,
errática!
A todos os meus amores
amei intensamente
e desejei eternos.
Mas isso... seria outra gramática,
estática!
Círculo do Graal
Carmo Vasconcelos Página 6
Meu verbo é “Passar”,
não, “Ficar”.
Água corrente, transparente,
refresca, tonifica, reverdece,
e se vai,
profiláctica!
Chama quente e rubra,
acalenta, purifica, alumia,
e se vai,
carismática!
Começo a entender-me, sem lamento,
da Natureza elemento.
Chuva, brisa, água, chama,
gente e agente
do Super-Regente
que, em Sua divina táctica,
enigmática,
escreveu minha gramática,
sistemática.
“Servir”, “Servir”, “Servir”,
depois... “Partir”!
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Carmo Vasconcelos Página 7
III
RUGAS
Em cada ruga houve um caminho percorrido,
Em cada estria outra jornada sem avesso,
Marcas de um tempo irreversível e pregresso,
Fundos sinais de antigo carma já vencido.
Todas afago sem revolta e sem lamentos,
E bendizendo-as me desdobro em oração,
De alma ora leve e apaziguado coração,
Grata e liberta de penhores e tormentos.
Esculturais sulcos divinos a lembrar
Que o purgatório tem morada permanente
Aqui na Terra onde se saldam fatalmente
Dívidas cármicas deixadas por pagar.
Outrora filhas de actos vãos, irreflectidos,
As minhas rugas, mais que contas liquidadas,
São no presente as mães de luz, purificadas,
Destes meus versos, de pecado redimidos.
Círculo do Graal
Carmo Vasconcelos Página 8
IV
A ARTE DE VIVER
Nem sempre é fácil a arte de viver...
Renúncia exige em meio a sacrifícios,
Há que fechar os olhos pra não ver
A falsidade eivada de artifícios.
Calar os sapos rente ao coração,
Riscar da mente abruptos desenganos,
De orgulho e brios, sem mágoa, abrirmos mão,
E dar amor a crentes e profanos!
Essa a palavra ouvida à cristandade:
Amar o nosso irmão, qual Jesus Cristo,
Que já na cruz, perdoa ao Judas falso!
Mas desse exemplo longe, eu preces alço
Pra que essa luz me toque enquanto existo
E possa ser-me leve a Eternidade!
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Carmo Vasconcelos Página 9
V
(In) DIREITOS HUMANOS
Quanta esperança esse justo enunciado
Já trouxe ao ser humano desvalido...
Num maná de direitos prometido,
Depois de longas eras aviltado.
Um halo novo iluminou as mentes!
Quantas almas fremiram de euforia!
Corações se inflamaram de utopia!
Que homens ainda os há, puros e crentes!
Porém, a vilania dos dementes,
De poder e ambição gananciosos,
Faz-se cega aos direitos proclamados...
Sobra calçada prós desalojados,
Recheada têm a bolsa os ardilosos,
E grassa a fome sobre os inocentes!
Círculo do Graal
Carmo Vasconcelos Página 10
VI
FERVE AO POETA…
Fervem-lhe os sãos direitos esquecidos
Aos homens, às mulheres e às crianças,
Ferve-lhe um amanhã nulo de esp'ranças
Para os pobres viventes desvalidos.
Ferve-lhe, inda, a justiça surda e cega
Que deixa soltos, ímpios e ladrões,
Ferve-lhe a impunidade que lhes lega
E mete os indigentes nas prisões.
– Inocentes se roubam um milhão
Culpados se com fome roubam pão!
Fervem-lhe ao rubro os luxos desmedidos,
Vaidades sem acerto e probidade,
Fervem-lhe os que de tudo desprovidos
Dia-a-dia, são mendigos sem idade.
Fervem-lhe as verdes matas derrubadas
Para servir aos reis da construção,
Ferve-lhe este planeta sem espadas,
Que em fúria se insurge à degradação.
– Ferve-lhe o homem d'agir louco e macabro
Conducente do mundo ao descalabro!
Ferve-lhe, quente, o sangue de poeta,
Gritam-lhe a dor, as letras em cachão,
Ferve-lhe n’alma a mágoa não secreta,
E na mente, a denúncia p’la razão.
Ferve-lhe a compulsão pela justiça
Tomar de vez o rumo rectilíneo,
Ferve-lhe a mão pra actuar na dura liça,
Em resgate da Paz em extermínio.
- Na pena... a garra d’abolir o imundo!
Ao poeta... A força de mudar o Mundo!
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VII
DE NARCISO... a NARCISISTA
Carmo Vasconcelos
Narciso
Na mitologia greco-romana, Narciso ou O Auto-Admirador (Língua grega:
Νάρκισσος), era um herói do território de Téspias, Beócia, famoso pela sua
beleza e orgulho. Várias versões do seu mito sobreviveram: a de Ovídio,
das suas Metamorfoses; a de Pausânias, do seu Guia para a Grécia; e uma
encontrada entre os papiros achados em Nag Hammadi, ou Chenoboskion,
também chamada Oxyrhynchus. Era filho do deus-rio Cefiso e da ninfa
Liríope. No dia do seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que
Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura.
Narcisismo
O narcisismo tem o seu nome derivado de Narciso, e ambos derivam da
palavra Grega narke, "entorpecido" de onde também vem a palavra
narcótico. Assim, para os gregos, Narciso simbolizava a vaidade e a
insensibilidade, visto que ele era emocionalmente entorpecido às
solicitações daqueles que se apaixonaram pela sua beleza.
Como Pausânias também nota, outra história conta que a flor narciso foi
criada para atrair Perséfone, filha de Deméter, para longe das suas
companheiras e permitir que Hades a raptasse.
Versão de Ovídio
Em Metamorfoses, Ovídio conta a história de uma ninfa bela e graciosa
tão jovem quanto Narciso, chamada Eco e que amava o rapaz em vão. A
beleza de Narciso era tão incomparável que ele pensava que era
semelhante a um deus, comparável à beleza de Dionísio e Apolo. Como
resultado disso, Narciso rejeitou a afeição de Eco até que esta,
desesperada, definhou. Para dar uma lição ao rapaz frívolo, a deusa
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Némesis condenou Narciso a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo na
lagoa de Eco. Apaixonando-se profundamente por si próprio, inclinou-se
cada vez mais para o seu reflexo na água, acabando por cair na lagoa e se
afogar.
***
DE NARCISO... a NARCISISTA
Nas lendas de Narciso, a bela flor
Serviu paixões e fúteis leviandades...
Cúmplice foi do rapto por amor
Da adorada Perséfone, por Hades.
Porém, a estória dita, apenas é
Uma das ricas faces mitológicas;
Mas é doutra, a de Ovídio, que vem fé
De renegarmos tais vias analógicas.
Lembre-se a lenda antiga de Narciso!
O jovem que adorando a própria imagem,
De egocêntrico amor, morreu, sem siso,
Havendo os que hoje ainda, tal qual agem!
Se remiram no lago da vaidade,
Julgando-se no Cosmos, sem igual,
Não vendo que no espelho da verdade,
Seu rosto é reflectido de amoral.
Se afogam na água fétida do egoísmo,
Ignorando os iguais, pares e irmãos,
Alheados dum fraterno e são altruísmo,
Carregando em si, péssimos senãos!
Que lhes baixe a luz ígnea do saber
Existir em global humanidade,
A iluminar o anverso do seu Ser,
E a guiá-los à sagrada eternidade!
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VIII
A METAMORFOSE
Desde criança ouvi o vaticínio
Que em dois mil seria o morticínio
De todos nós, na Terra em extinção...
Mas, talvez, pla mudança dos vectores
Que do planeta são os regedores,
A Esfera continua em rotação.
Indubitavelmente, os seus valores
São hoje testemunhos dos horrores,
Perpetrados plos génios da ambição...
Que do espiritual alvo distanciados,
Fazem dos bens venais deuses amados,
A que ajoelham em louca obsessão.
Se auto-destruindo em lutas e chacinas,
Revestem-se de crenças peregrinas,
Em nome de um suposto Deus Maior...
Olvidando que irmãos somos do Cristo,
Que morrendo por nós se fez benquisto,
Filho do mesmo Pai, de insigne Amor!
Mas a metamorfose, que requer
Novel tempo do "Ser" e não do "Ter",
Deixou de ser um mito imaginário...
Uma nova Era não é mais opção,
Imposta já se fez! E em transição,
Caminhamos pra Luz da Era de Aquário!
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Carmo Vasconcelos Página 14
IX
SE A NATUREZA GRITA...
É sábia a Natureza em seu poder,
Que sempre há-de acudir a rude lance,
Inda que algum de nós tal não alcance,
Duvidoso do seu divo saber.
Se à fúria da Invernia oferece a gruta
Que em alto mar espera acolhedora,
Já no queimar do estio dá estrada afora,
A árvore cuja sombra se desfruta.
Todos os seres são seus protegidos,
Se o perfeito equilíbrio não lhe ofendem
Co'a ambição em seus actos desmedidos...
Que é brava a Natureza quando grita,
Revoltada plos males que lhe acendem;
E pla afronta ao planeta, ruge, aflita!
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X
Poemas em tempo de guerra
HOJE COMO ONTEM...
Hoje os rios correm vermelhados de vergonha,
Plúmbeos os céus, envergam traje de ímpar dor,
Na atmosfera gaseifica-se o estertor,
Poeira de sangue sem limite que se oponha.
É uma barbárie turbulenta que regressa,
A insanidade da feroz Roma de Nero,
A arena ignóbil do bestial exemplo fero,
A demoníaca loucura, vã, pregressa.
Qual a que à morte condenou natos varões,
Pra aniquilar a voz do Cristo Redentor,
Chegado ao Mundo pra pregar a paz e o amor,
Mote enjeitado por Herodes e vilões.
A mesma que, ímpia, conduziu à Inquisição,
Injustamente, os desafectos, fés avessas,
E fez rolar na guilhotina essas cabeças,
Sem vacilar um só momento em compaixão.
Hoje, motivos e razões bem divergentes,
Vestem a Guerra igual, no sangue mergulhada,
E capitula a Paz, às mãos da malfadada
Carnificina que dizima os inocentes.
Novo Dilúvio venha à Terra! E que extermine
Os vis demónios que a ambição trazem aos pés,
E nos devolva o Mundo, tal o que Deus fez,
Um Mundo Novo que a violência recrimine!
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XI
QUERO-TE FLOR PRIMEIRA!
Quando eu futuramente regressar,
Noutro corpo, diversa alma prefiro,
Despida de memórias, qual papiro
Liso... Que esta enrugou-se de chorar!
Quero-a nua de passados já sofridos,
Flor primeira, enxertada de ignorância,
Alheada de lembranças que em constância,
A tolham pelos erros conhecidos!
Erros que antes de fluírem largos prantos,
Se vestiram de riso, gozo, encantos,
Inefáveis momentos de prazer!
Então, que venha a mim alma inocente,
A aventurar-se, audaz, inconsciente,
Que entre riso e pranto há vida a viver!
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XII
E… FEZ-SE LUZ!
(Soneto de Natal)
Eram tempos de angústia, tenebrosos,
Quando os servos do mal e da ambição
Reinavam neste mundo, poderosos,
Espalhando terror, desolação…
Mas dessa escuridão, soturna e fria,
Emerge a Luz por dentre a palha loura,
Abrem-se as nuvens, brilha a estrela-guia,
E eis que nasce Jesus na manjedoura!
E a Luz iluminou os corações,
Com Deus feito o Menino que chegou
Para mudar o senso às multidões
Pla Palavra que ao Mundo proclamou!
Que o Seu Verbo Divino contra o mal
Renasça, vivo em nós, cada Natal!
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XIII
RECONSTRUINDO PONTES
Derrubem-se as paredes orgulhosas,
Erigidas na raiva dos repentes,
Triturem-se os tijolos insolentes
E as pedras de arremesso, belicosas!
E desfeitos os muros corrompidos,
Reconstruam-se pontes migratórias
Que resgatem afectos e memórias,
Em águas rancorosas imergidos!
Retome-se a palavra naufragada,
Recolham-se os abraços afundados,
Desafoguem-se os réus, por nós julgados…
- E a travessia da paz faz-se alcançada!
Que a morte espreita e surge inesperada,
E o que sabemos dela é quase nada!
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XIV
ESTRELA-GUIA
(Aos meus filhos)
Quando um dia, filhos meus, eu vos deixar,
Não chorem por meu corpo já cansado,
Que já não pode ter-vos ao cuidado,
Se é tempo de partir e descansar.
Revejam-me no céu, já estrela-guia,
Que do alto vos protege e por vós zela,
Seguindo vossos passos, sentinela,
A adoçar-vos a mágoa que angustia.
Espalhem minhas cinzas pelo mar,
Que sempre vossos pés virei beijar,
Em ondas segredantes de carinho.
E em seus murmúrios, hão-de ouvir, baixinho,
Vindo da profundeza dos corais,
Que zelo e amor de mãe são imortais!
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XV
ORAÇÃO À VIRGEM
Senhora, de alva tez com olhos d’água,
Suplicamos a vós, lavai da mágoa
Este mundo que sofre em provação…
Resguarda-nos em teu manto de amor,
Preserva de teus filhos toda a dor,
Ave Mãe! Te imploramos protecção!
Por todos nomes que usas te invocamos,
E aos teus sagrados pés nos arrojamos
Virgem Santa, Maria ou Conceição…
De Fátima, de Lourdes, ou do Mundo,
Escuta nossas preces, do mais fundo
Amargor que nos fere o coração!
E de nossos pecados nos perdoa,
Tira de nós a angústia que magoa,
Despe-nos de vingança e desamor…
Inunda-nos com vosso olhar de luz,
E intercede por nós junto a Jesus,
Pra que o Mundo renasça em Seu esplendor!
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Carmo Vasconcelos Página 21
XVI
AMIGO
Amigo, as minhas mãos são tuas!
Cavalgam no luar das tuas luas,
Aquecem no sol que te bafeja…
Navegam no mar das tuas mágoas,
Remam contigo por marés e fráguas,
Unem-se para orar a Deus que te proteja!
E o meu maior desejo é estar contigo,
És tu que me dás consolo e abrigo,
Quando dos meus olhos corre o choro…
Que me aconchegas, suave, no teu peito,
Se de tristeza e amor insatisfeito,
Sofro… E na tristeza me demoro!
Por isso te dou as minhas mãos,
Façamos a viagem como irmãos,
De mãos dadas nas pedras do caminho…
E quando a nossa mente desnorteia,
Que seja o meu amor tua candeia,
Que seja a minha luz o teu carinho!
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Carmo Vasconcelos Página 22
XVII
LUZ NA ESCURIDÃO
Nossos erros do passado,
Nossas metas incumpridas,
Pedem mais caminho andado,
Numa, duas, ou mil vidas!
Por nós sermos ignorantes
Desta e de outras verdades,
Somos cegos caminhantes
Neste mundo de vaidades!
De olhos vendados entramos,
Às cegas e iludidos,
Em portas onde vibramos
Pela evasão dos sentidos!
E loucos, não percebemos,
P’las tentações atraídos,
Que desses falsos terrenos
Só sairemos caídos!
É tempo de dizer não!
Busquemos a rota certa
Que leva da confusão
À consciência desperta!
Acharemos muitas “velas”
Alumiando a estrada,
Que luzindo, paralelas,
Dão mais luz à caminhada!
Se nos juntarmos a elas
Ressurgirá um clarão…
- De muitas pequenas velas
Se faz Luz na escuridão!
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Carmo Vasconcelos Página 23
XVIII
QUANDO CHORAS
Quando choras sem querer,
Sem motivos aparentes,
E choras sem perceber
Por que sofres e o que sentes
Que tanto te faz doer…
O que choras, sem saber,
É o profundo desgosto
Das crianças maltratadas,
Dos sem-lar não acolhidos,
Das raças discriminadas…
É o sofrimento sem rosto
Dos pobres desprotegidos,
Da miséria envergonhada,
Das rameiras e oprimidos…
Tanta vítima calada! …
É o longo fogo posto
Do dependente agarrado,
Dos carentes de afeição,
Do inocente acossado,
Dos velhos em solidão…
É do fel o duro gosto
Das matas incendiadas,
Do mar azul poluído,
Das aves envenenadas,
Das guerras de ímpio sentido…
Quando choras, sem querer,
Sem motivos aparentes,
E sem saber o que sentes…
O que choras, na verdade,
São as dores da Humanidade!
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Carmo Vasconcelos Página 24
XIX
ÊXTASE
Quando sentires com desalento
Que foste traído pela vida,
E te achares impotente na subida
Do poço onde se afoga o teu tormento,
E na escalada do abismo em que caíste…
Não julgues inaudível teu lamento,
Lembra-te sempre que Ele existe!
Quando sentires, amargurado,
Que o túnel para ti não tem saída,
Julgando-te no mundo abandonado,
Cão raivoso, águia ferida,
E que a vida assim já nada vale…
Açaima a tua fúria aguerrida,
Aguarda apenas que Ele fale!
Busca-O no sol e no vento,
No verde mar que te rodeia,
No céu, ora azul ora cinzento,
Nas estrelas, na brilhante lua cheia,
Ou até numa lembrança de outro tempo!
Busca-O na paz do moribundo,
No primeiro gemido da criança,
Na rotação eterna deste mundo,
No germinar do grão lançado fundo,
Na derradeira força de uma esperança!
Ouvirás em tudo a Sua Voz!
Sentirás então a Sua Paz!
Julgarás, em êxtase, que a Terra se virou
E que a outra dimensão tu aportaste…
Verás depois que nada se mudou,
A não ser tu que sem saber mudaste!
***
(1º Prémio Jogos Florais da Associação Portuguesa de Poetas/1997)
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Carmo Vasconcelos Página 25
XX
CANÇÃO À VIDA
Eu canto a cada alvorada
Que à vida me traz de novo,
Canto a alegria de um povo
Que ri de alma atormentada!
Canto o riso da criança
E a sua pura inocência,
Canto a minha irreverência
E a minha eterna esperança!
Canto as searas repletas
E o Sol em cada manhã,
Canto um melhor amanhã
Pra justiças incompletas!
Canto a vida que não pára,
A noite que segue o dia,
Canto até, quem tal diria…
O silêncio que os separa!
Canto os peixes e o mar,
E as fontes de água fria,
Canto esta minha alegria
E o meu desejo de amar!
Canto a deusa poesia,
Meus devaneios risonhos,
Canto a ilusão dos meus sonhos
E a minha doce utopia!
Canto o ter sido nascida,
E o nosso Deus Criador,
Canto o meu profundo amor
Pela dádiva da Vida!
Círculo do Graal
Carmo Vasconcelos Página 26
EPÍLOGO
Amigo/a que me leste,
Estes “Passos para a Eternidade”, mais do que mera produção literária, são
catarses d’alma, necessidade comum a todos nós, caminhantes, face aos
pesos da humanidade que nos reveste. São longos e muitos os caminhos a
trilhar e as vias buscadas para a libertação desses pesos que nos oprimem,
até que encontremos o verdadeiro caminho da espiritualidade, e a alma se
torne leve o bastante para ascender definitivamente à Eternidade. Se os
meus passos, ainda incertos, se fazem, também, através da poesia, é porque
me foi concedida a bênção divina de encarnar como aprendiz de poeta.
Sinto, pois, que é meu dever partilhar o que, semeado em mim, por
privilégio divino, vem sendo por mim lavrado – o melhor e o menos bom –
consciente de que o caminho se vai fazendo progressivamente, seguindo
um percurso em tempo próprio, inerente a cada um de nós, na diferença
que, afinal, nos completa.
Leituras atentas levam-nos a descobrir, por detrás do apenas pretenso
escritor ou poeta, igualmente um ser que se veste de prosa e/ou verso para
transmitir, não só sentimentos e estados, humanos e pessoais, fruto da sua
tríade, corpo/alma/mente, mas também, as mensagens que, através de sutis
vibrações, recebe do Cosmos, ainda que, na maioria das vezes, não tenha
consciência da sua acção de agente receptor/transmissor da Voz Divina do
Universo.
Partilhando nossas letras, mutuamente, se ensina e se aprende, não apenas a
via literária, mas, sobretudo, como fazer “o caminho”, como almas
encarnadas, cujas vidas terrenas se cruzaram na mesma estrada, onde,
empunhando armas semelhantes (letras diversas), buscamos tornar, a nós
próprios e ao mundo que nos rodeia, menos imperfeitos, como irmãos,
filhos do mesmo Deus Supremo, abraçando os altos ideais de Humildade,
Amor e Fraternidade, conducentes à União Cósmica e Divina.
De mim para ti, companheiro de estrada, com Amor, em Paz e Luz.
Carmo Vasconcelos