PASCHOAL, Antonio_O Procedimento Genealógico Em Nietzsche (1)

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Revista Diálogo Educacional ISSN: 1518-3483 [email protected] Pontifícia Universidade Católica do Paraná Brasil Paschoal, Antonio Edmilson O PROCEDIMENTO GENEALÓGICO DE NIETZSCHE Revista Diálogo Educacional, vol. 1, núm. 2, julio-diciembre, 2000, pp. 1-21 Pontifícia Universidade Católica do Paraná Paraná, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=189118252010 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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  • Revista Dilogo EducacionalISSN: [email protected] Universidade Catlica do ParanBrasil

    Paschoal, Antonio EdmilsonO PROCEDIMENTO GENEALGICO DE NIETZSCHE

    Revista Dilogo Educacional, vol. 1, nm. 2, julio-diciembre, 2000, pp. 1-21Pontifcia Universidade Catlica do Paran

    Paran, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=189118252010

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    Projeto acadmico sem fins lucrativos desenvolvido no mbito da iniciativa Acesso Aberto

  • Revista Dilogo Educacional - v. 1 - n.2 - p.1-170 - jul./dez. 2000 1

    O PROCEDIMENTO GENEALGICODE NIETZSCHE

    Antonio Edmilson Paschoal *

    IntroduoO presente artigo tem por finalidade apresentar de forma sucinta

    alguns pontos para uma reflexo sobre o procedimento genealgico deNietzsche. O texto base, que modificado deu lugar a este artigo, surgiu comoparte introdutria de uma tese de doutorado intitulada "A dinmica da vonta-de de poder como proposio moral nos escritos de Nietzsche". Sua publica-o isolada, neste momento, tem por objetivo ampliar algumas discusses,que se desenvolvem no curso de Mestrado em Educao da PUCPR, ligadasespecialmente ao programa "Epistemologia e metodologia da pesquisa emeducao". Nesse contexto especfico, ele se apresenta como um subsdiopara a reflexo acerca da relao entre a busca do conhecimento e formas deexerccio de poder.

    O que Nietzsche entende por genealogia no pode ser reduzido auma frmula definida e esttica. Mesmo a clssica compreenso da genealogiacomo a investigao das condies que permitiram a origem, transformao,deslocamento e desaparecimento de formas, discursos ou instituies em re-laes de poder, como se ver, no suficiente para dar conta do procedi-mento nietzschiano, especialmente em se tratando de uma anlise desse pro-cedimento nos escritos de 1886 a 1887. Nietzsche os articula como o exercciode uma forma de vontade de poder e como uma arte de interpretao, queultrapassa em muito qualquer associao com a idia de pesquisa, produoe acmulo de conhecimentos.

    Quanto sua construo, este texto ter incio por uma aproximaoao termo "genealogia", seu surgimento, significado e a forma como apreen-

    * Professor/Pesquisador do Programa de Ps-Graduao em Educao da PUCPR

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    dido e utilizado por Nietzsche; em seguida, no item genealogia, genealogista eum primeiro contato com a questo dos valores, ser feita uma abordagem doque caracteriza uma "investigao" como sendo genealgica e o papel prpriodo genealogista que, a partir da tomada do termo "genealogia" por Nietzsche,dificilmente se afasta do contexto de uma axiologia. Mais adiante, ter lugar,em termos comparativos, uma distino entre a genealogia de Nietzsche e ade outros genealogistas da moral; em seguida, nos itens a linguagem comoproblema e a relao entre a genealogia e a histria, sero analisados oslimites que uma compreenso tradicional da linguagem e da histria impe pesquisa genealgica e a forma como Nietzsche as concebe e se apropriadelas em seu trabalho.

    O termo "genealogia"

    O termo "gen", ou "gene", que juntamente com o sufixo "logia" (estu-do, conhecimento), compe o termo "genealogia", designa, modernamente,os cromossomos nos quais se localizam os fatores hereditrios, a herana dosantepassados na espcie, que determina (geneticamente) a formao da gera-o atual ou de um indivduo. Em sua origem grega, o termo "genealogia"pode ser associado ao radical "gene", que designa "gnero", "espcie" ou,mais propriamente, "gerao" e "famlia"; e ao radical "gnos", que designa"nascimento", "origem". Da composio desses radicais com o sufixo "logia"tem-se o significado do termo "genealogia" na lngua grega, que "linhagem","descendncia" ou , mais especificamente, o estudo dos progenitores e ascen-dentes de um indivduo ou famlia.

    Na lngua alem, a utilizao do termo "genealogia" procede do scu-lo XVII e tem seu uso associado ao conhecimento acerca da linhagem dosantepassados que constituem o "tronco" de uma famlia, como se pode verifi-car pela moderna utilizao do termo.

    Entendido como pesquisa sociolgica para a definio de traos deparentesco entre famlias e pessoas, o termo "genealogia" teve dois significa-dos distintos. Um primeiro, mais prprio de sociedades marcadas por laos deconsanginidade no estabelecimento das relaes bsicas de hierarquia, nasquais a pesquisa genealgica se associa garantia de certos direitos e se fazpara comprovar a participao de alguns indivduos em determinadas famli-as, normalmente de ascendncia nobre. Um segundo, mais moderno, quetoma o estudo genealgico dos traos de uma famlia, seja ela pobre ou rica,para auxiliar na compreenso de um determinado agrupamento social peloconhecimento dos traos bsicos de uma ou mais famlias, o que visa facilitara compreenso das relaes entre famlias e do aparecimento de solidarieda-des inesperadas, resistncias imprevisveis ou reaes imponderadas. Nesse

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    sentido genrico, de pesquisa sociolgica, a genealogia pode ser vertical ouhorizontal. Entende-se por uma pesquisa genealgica vertical tanto a busca deum ascendente quanto de um descendente, conforme se queira estabelecer osantepassados de um determinado indivduo, ou a descendncia de um deter-minado progenitor. Por sua vez, uma pesquisa genealgica horizontal apontapara o estabelecimento de laos de parentesco e relaes entre famlias.

    Por esse primeiro e rpido contato com o termo "genealogia", j setem a idia de uma busca do conhecimento das "origens", daquelas "marcas"inscritas como sintomas nos corpos das geraes presentes; uma busca queremete ao passado, a geraes que foram, por exemplo, submetidas a domi-naes, que passaram por guerras ou por longas etapas de privaes ou,diferentemente, por estgios de fartura. Falhas e acertos vo constituindo ostraos de uma famlia e se inscrevem no herdeiro. E inscries no ocorremgraas a algum antepassado divino, mas pluralidade de elementos que semisturaram com a permanente entrada em cena de novas figuras econsequentemente novos "gens", os quais se associaram at formar a atual"famlia". deste movimento de aparecimento de marcas que o genealogistaprocura fazer a leitura at onde pode atingir, antes que se perca na escuridodo passado.

    Na filosofia, Nietzsche quem utiliza pela primeira vez o termo"genealogia", e o toma preservando seu sentido de busca de herana dosantepassados, de conhecimentos sobre a origem daquele que ainda vive. Mas,quando se trata da utilizao do termo "genealogia" por Nietzsche, deve-seacrescentar idia de "pesquisa" (melhor traduzida pelo termo "investiga-o"), da busca pela origem e pela herana deixada pelos antepassados, o seuengajamento, a partir do qual sua investigao ganha forma.

    Alm da prpria idia de busca das "origens", pode-se tambm infe-rir, agora, a partir da utilizao do termo "genealogia" antes de Nietzsche,alguns pontos que correspondero ao conceito, na forma como ele passar autiliz-lo. Primeiro: a busca pela entrada em cena das marcas que constituema gerao atual no remete a unidades, mas a pluralidades que se agitam e seconfrontam na dinamicidade das "origens" do que temos hoje. Segundo: pararesistir ao seu necessrio destino, que finalmente perder, no escuro do pas-sado, as "pistas", os "fios condutores" da entrada em cena daquilo que produ-ziu a herana o fio das emergncias que se multiplicam numa progressogeomtrica, quanto mais se avana na prpria procura o genealogista deveser cuidadoso na coleta de dados, deve reuni-los de forma meticulosa no"cinza" dos documentos e, ao mesmo tempo, admitir que sua pesquisa supeum trabalho com hipteses, com perspectivas, que so as nicas que podemcaminhar at l, onde a falta de documentos sobre a "origem" torna o olharimpossvel. Terceiro: a pesquisa sobre uma famlia normalmente se faz, ou

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    encomendada, por algum da prpria famlia, por algum diretamente interes-sado nos resultados da pesquisa. Ele, o genealogista , portanto, parte dafamlia. Faz a genealogia de si mesmo e no pode negar o solo de onde partesua pesquisa, pois este solo mesmo que ele procura entender.

    Genealogia, genealogista e a questo dos valores

    O procedimento genealgico, apontado anteriormente como a aoprpria do genealogista, tem sua origem, em Nietzsche, como umacontraposio, uma resposta efetiva tendncia ao conformismo niilista dohomem moderno. Segundo Nietzsche, na raiz dessa tendncia encontra-se umproblema axiolgico: a tentativa de cristalizao de um conjunto de valoresque possui, como meta, a auto-diminuio do homem e, como uma de suasestratgias, para se perpetuar no "palco dos acontecimentos", o reforo ten-dncia de no se colocar mais a moral e os valores em questo. Portanto, agenealogia tem sua emergncia diante da necessidade de se recolocar emmovimento o que tende a se estagnar, a se converter em "gua parada".

    Outra face desse mesmo problema a forma como os filsofos,por exemplo, Kant e Hegel, colocam-se diante dos valores estabelecidos noOcidente, sem se perguntarem, em momento algum, pelo valor desses valo-res; tomam-nos como pressupostos intocveis e os utilizam para estabelecersuas frmulas sobre a moral, a cincia, a poltica etc. A partir do momento emque assumem os valores como sendo anteriormente dados ora por Deus, orapela natureza, ora pela razo, sua labuta passa a consistir, por um lado, emjustific-los e, por outro, em torn-los compreensveis, pensveis, racionais.Por esta caracterstica de se colocarem a servio de valores anteriormentedados que Nietzsche os denomina de "trabalhadores filosficos" .

    Diferentemente do procedimento desses "filsofos", o genealogistatoma como tarefa revirar as profundezas, numa anlise das foras em jogo nomomento da emergncia dos valores e de sua manuteno enquanto valores.Pressupondo que "le haut et le bas, le noble et le vil ne sont pas des valeurs,mais reprsentent llment diffrentiel dont drive la valeur des valeurs elles-mmes" , o genealogista ir se ocupar da busca deste "elemento diferencial",que se encontra na "origem" de tais valores e de sua manuteno.

    Por seu ato bsico de colocar o valor dos valores em questo, ogenealogista j est rejeitando a postura de "servial da filosofia" e procurandorealizar a tarefa prpria do filsofo, qual seja a de criar valores. Mas, para isto,ele precisa ter em si tambm um "elemento diferencial", um tipo de vontadede poder nobre, que lhe d a autoridade de se colocar diante dos valores como mesmo respeito que "golpes de martelo" podem ter. Ele precisa negar os

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    pressupostos estabelecidos, ou no ser diferente dos "trabalhadores filosfi-cos", pois o "brandir de seu martelo" no uma banal ao destruidora quedeixaria em runas aquilo que na concepo da filosofia tradicional "era"; eestas mesmas runas, merc das infindveis interpretaes de um relativismosem sentido. A ao do martelo antes uma forma de demolir uma priso, derevelar uma figura que se esconde na pedra, na qual dorme "uma imagem, aimagem das imagens". Ela , portanto, ao de uma vontade criadora, plstica,como define sua ao o prprio Nietzsche ao afirmar: "...em direo ao ho-mem, com constncia para o novo, leva-me minha fervorosa vontade de criar;assim levado meu martelo pedra" . Trata-se, portanto, de um projeto cons-trutivo, no qual o procedimento genealgico se articula com uma "transvalorao[e no uma mera destruio] de todos os valores". A ao criadora dogenealogista se assemelha ao da "criana de Herclito", e o homem, apedra qual dirige seu martelo, "desperta por si um interesse, uma tenso,uma esperana, quase uma certeza, como se com ele algo se anunciasse, algose preparasse, como se o homem no fosse uma meta, mas apenas um cami-nho, um incidente, uma ponte, uma grande promessa..." . Por seu "elementodiferencial" o genealogista se insere na paradoxal histria do homem paralev-la ainda mais adiante.

    O filsofo, como Nietzsche o concebe, um determinador, umcriador de valores, e seu agir, como algum que d nomes, pressupe um"pathos de distncia" . Uma necessria tomada de distncia da massa disforme,que se constituiu em nome do "bem-estar geral", para poder legislar. Ele pre-cisa ter por princpio que sua ao no pressupe justificativas, que ela sejustifica em si mesma, em sua obra, em sua prpria ao plasmadora. E parapoder plasmar que o filsofo tem que arriscar o diferente, tomar como hipte-se o que estranho moral, num esforo por ser diferente daquilo que oconstitui, por se afastar de seus pressupostos. Este o esforo de Nietzscheque, apesar de seu prprio "solo", do prprio comprometimento com suas"razes", com os valores "dados", enfim, com a cultura de seu tempo, procuraapontar algo diferente. E mais, procura faz-lo a partir justamente deste "solo",no se comprometendo com os subjugamentos passados, mas tomando-os etomando tambm aos prprios "operrios da filosofia" como instrumentos,meios para seu fim. A Nietzsche s possvel atingir tal grau de liberdadesendo um "imoralista".

    Pode-se aqui, num rpido parnteses, rever a forma pela qualNietzsche vai configurando o termo "genealogia", indo para alm de um "co-nhecimento" genealgico das origens, desprendendo-se do termo "pesquisa"no sentido de simples acmulo de informaes e tambm do termo "mtodo",considerado como "caminho", "via" mais apropriada para se chegar a umaverdade que se encontraria perdida no passado. Com Nietzsche a "vontade deverdade" da genealogia "vontade de poder" . Ela se exprime simultaneamen-te como crtica e como ao criadora.

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    Ainda num sentido muito especfico do termo no pensamento deNietzsche, a genealogia interpretao. Ela se prope a reinterpretar, a inver-ter o sentido da interpretao dominante. Assim sugere Nietzsche: "e bempoderia vir algum que, com inteno e arte de interpretao opostas, soubes-se ler na mesma natureza, tendo em vista os mesmos fenmenos, precisamen-te a imposio tiranicamente impiedosa e inexorvel de reivindicaes depoder" , mostrando, tanto pela contraposio dada pela inverso quanto pelapossibilidade mesmo da inverso, que os valores tomados como "dados" pe-los filsofos so tambm "interpretao e no texto", um "estado de foras" . E,diante da possibilidade, de mesmo sua "perspectiva" se contra-argumentarque tambm ela no texto, mas interpretao, responde Nietzsche: "bem,tanto melhor!" . O que ele pretende tomar as regras do jogo, assumir oprprio "impulso tirnico" da filosofia, sem, contudo, querer ocultar o solo deonde se exprime, sua realidade perspectiva. Com isto, Nietzsche no se pro-pe simplesmente a "desmascarar" a filosofia ou a pretenso verdade dosfilsofos; como estes, pretende portar uma mscara (tendendo mesmo parauma caricatura) como forma de mostrar que todas as demais filosofias tambmso mscaras. A diferena que ele no procura cristalizar sua perspectivacomo uma "verdade" , com o que estaria negando o jogo das perspectivas,mas fazer seguir o prprio jogo, mant-lo em movimento se que ele pode-ria parar. Nietzsche atua como uma vontade de poder ativa que torna o inter-pretar ativo, que pelo seu dizer "sim" ao prprio jogo quer oferecer-lhe apossibilidade de dar seus prximos passos e com isto levar o homem moder-no sua auto-superao. O genealogista Nietzsche no pode dispensar, porexemplo, o texto de Para a Genealogia da Moral, pois carece dele, assim comocarece do "cinza" dos documentos. Mas o prprio texto se compe comoparte de um procedimento. Ele, portanto, antes de querer "provar" algumacoisa, alguma "verdade", fixando-a num "texto", busca servir-se do texto parase apossar das regras do jogo, para, "ao seu modo, fazer guerra". Tambm seutexto apenas "sinal" do atuar de uma determinada forma de vontade depoder.

    Diferenas entre a genealogia de Nietzsche e a de outrosgenealogistas da moral

    Nietzsche no nega o valor de outros pesquisadores que se ocu-param da origem dos valores morais, mas faz constante meno, por exemplo,aos genealogistas ingleses e ao Dr. Paul Re. Aos primeiros, por terem sido osresponsveis, at ento, pelas "nicas tentativas de reconstituir a gnese damoral" ; ao Dr. Paul Re, por ter despertado nele o primeiro impulso paradivulgar tambm suas especulaes sobre a moral.

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    Referindo-se particularmente aos genealogistas ingleses, Nietzscheafirma que seu problema comea quando se propem a buscar a origem doconceito "bom" naquilo que primeiramente foi til e nas aes no egostas.Com o passar do tempo, pelo hbito e pelo esquecimento, estas aes teriamse distanciado de suas origens e passado a ser consideradas como boas em si,num movimento "azul", sem grandes embates ou rupturas. Segundo Nietzsche,esse gesto inicial bsico j suficiente para descaracterizar esta pesquisa comouma genealogia.

    Os genealogistas acreditam que, pelo fato de no tomarem por fina-lidade um "bem" metafsico, estariam se opondo metafsica e fazendo cin-cia. Mas seu procedimento em relao moral revela apenas "um certo desa-mor e rancor subterrneo ao cristianismo (e a Plato)" , alm de revelar umaconfuso com dois problemas distintos: o da finalidade e o da origem, poisquando tomam uma finalidade atual de algo e a remetem sua origem, tor-nam esse algo inteligvel em sua origem por meio de sua finalidade atual (porexemplo, que o castigo existe desde sua origem para intimidar ou vingar).Deslocando a utilidade atual de uma ao para a origem da mesma, estopensando sua finalidade atual como uma causa j estabelecida desde a ori-gem. Algo que, como uma "essncia", perpassa o tempo sem sofrer sua ao,desenvolvendo-se linearmente na histria para uma perfeio cada vez maior,como um trabalho obscuro de algo pr-estabelecido que procura vir luzdesde o primeiro momento. Eles continuam, assim, presos a um sistema definalidades, e por isso que no se livram da camisa de fora da metafsica;pelo contrrio, so seus sucessores mais modernos e tambm os mais vulga-res. O que os genealogistas ingleses fazem , para Nietzsche, "tartufcie moral,dessa vez oculta sob a forma nova da cientificidade" . Na tentativa de seremdiferentes, acabam por jogar a anlise dos valores num campo mais baixo,assumem a "perspectiva da r" , sem com isto resolver a questo dos valoresou realmente problematiz-los. Em ltima instncia, o que eles fazem, toman-do o princpio da utilidade, reproduzir a idia inglesa de utilidade, a moralidadeinglesa, que se expressa nas frmulas: "o benefcio geral ou a felicidade damaioria" , que tem por base o igualitarismo e o nivelamento e que apenasuma das formas de expresso da moral do rebanho.

    Tomando os valores atuais e introduzindo-os numa longa histriaatravs da qual perseveram, desde sua origem, passando pelo esquecimento,pelo hbito..., na realidade os genealogistas ingleses no os introduzem nahistria, mas os isentam da ao da histria e do tempo. E, ao coloc-los numaanterioridade inalcanvel a qualquer crtica, os protegem e os justificam. Apsesse movimento de justificativa, o mximo que podem fazer criticar eventosparticulares, instituies, direito etc., em nome dos valores estabelecidos. Omesmo fazem, por exemplo, Kant, Hegel e Schopenhauer que, como "tra-

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    balhadores filosficos", no criticam os valores morais, mas os respeitam, co-locando-os acima de qualquer questionamento.

    Para Nietzsche, compreender a utilidade de algo, de uma formaou de uma instituio, est longe de significar a compreenso de sua gnese.Para ele, "todas as utilidades so apenas indcios" da ao das foras noprocesso histrico. Uma utilidade atual denota apenas uma apropriao, queocorre numa cadeia de apropriaes e que produz sempre novas utilidades.Para refletir sobre a moral de maneira perigosa, os genealogistas teriam queser, de alguma forma, "imoralistas": rejeitar os pressupostos da moral, colocarseus valores em questo, olh-la em sua realidade ltima, que indcio daao de uma determinada forma de vontade de poder; o que eles no fazem.

    Os genealogistas, com suas especulaes, acabam se convertendoem advogados da moral que gostariam de criticar, pois, como os "trabalhado-res filosficos", tambm eles no descem aos subterrneos da moral, mas atornam inteligvel e aceitvel a partir de uma nova roupagem, uma roupagemcientfica; o que no significa qualquer combate moral, mas quilo que nela ressecamento, dogmatizao, de tal forma que permitem a ela se afirmar eexpandir em novos tempos e em circunstncias que exigem um "decoro cien-tfico". Por fim, tomando como pressuposto que, para a moral, interessante"que o menor nmero possvel de pessoas reflita sobre moral" , eles se colo-cam, tambm por essa via indireta, a servio da moral, pois com suas especu-laes a tornam algo nada interessante, associando, ainda, o estudo da moralao esforo por colocar em evidncia algo vergonhoso do interior do homem.

    Apesar da postura crtica de Nietzsche em relao ao trabalho dosgenealogistas, seu esforo no no sentido de refutar suas teorias, pois, almdos mritos indicados no primeiro pargrafo deste item, eles possuem ainda,para Nietzsche, uma importncia como opositores, enquanto sinais de umavontade de poder nos moldes do ressentimento. Mas no somente nestesentido que eles so importantes, ou recairamos na idia de refutao, e simpelo fato de serem os representantes mais modernos do travestimento dametafsica e deste trabalho de justificao da moral, bem como por represen-tarem um momento privilegiado da prpria tenso que o trabalho de forma-o de uma moralidade no homem produz. No se deve, portanto, desprez-los, da mesma forma que no se deve desprezar o trabalho dos "trabalhadoresfilosficos", mas "tomar seu trabalho como um meio", tentar dar "a um olharto agudo e imparcial uma direo melhor" . A crtica dos valores passa, pois,pela crtica aos que se ocupam da questo dos valores, na prpria anlisedaquilo que eles, sem o saber, oferecem em termos de condies de se pensarpara alm do prprio homem, motivo pelo qual a genealogia de Nietzsche tambm uma genealogia das genealogias.

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    A linguagem como problema

    Considerando o papel da genealogia de desestabilizar entidades fi-xas, deve-se analisar alguns aspectos da forma como Nietzsche compreende alinguagem e lana mo dela para apresentar sua prpria perspectiva. Paraelaborar sua perspectiva, Nietzsche precisa desmontar o emaranhado de fic-es que ali foi construdo. Ele faz essa desmontagem por meio da etimologia,da filologia e da histria, numa espcie de "histria da emergncia do pensa-mento", que utiliza para mostrar que esses conceitos, tidos como absolutos,tambm foram "gestados" , e para reconduzi-los ao jogo das interpretaes,que lhes prprio.

    Nietzsche identifica a histria da linguagem como "a histria de umprocesso de abreviao" . Em primeiro lugar, porque, das muitas vivncias deum indivduo, somente aquelas que se repetem inmeras vezes so compre-endidas e designadas por palavras. Em segundo, porque para haver comuni-cao no basta nomear experincias de um indivduo, mas devem ser nome-adas as experincias que so comuns a vrias pessoas. Em terceiro, porque anecessidade de um bom entendimento entre os indivduos, no intuito de evi-tar perigos (mal entendidos), exige que a comunicao seja mantida no cam-po das expresses mais habituais, de tal forma que "comprendre cest galer". As experincias mais raras no ganham direito de cidadania no campo dalinguagem, ao contrrio, so as "vivncias medianas e vulgares" que, de for-ma privilegiada, se convertem em linguagem.

    Para Nietzsche, a linguagem e a lgica so recursos que o intelec-to humano produz e de que lana mo para tornar o mundo formulvel,calculvel. Por sua vez, o intelecto humano tambm algo til, uma "ferra-menta" utilizada com o propsito simples de facilitar a vida . E, se o utiliza, seo homem pensa, isto no significa que ele apreenda qualquer conhecimento(Erkenntnis), muito menos, qualquer "conhecimento em si", mas apenas quefaz abstraes, simplificaes e redues, sempre com fins prticos de "desig-nar, de ordenar o acontecer, para torn-lo manejvel para nosso uso" .

    Com a concepo do intelecto como um instrumento, surge a per-gunta: instrumento para que finalidade? Por que tornar o mundo formulvel,calculvel? Se, num primeiro momento, aceitvel como resposta que isto sefaz como "condio para a vida", deve-se ter presente, que seria umreducionismo da perspectiva nietzschiana querer entender o esforo do inte-lecto para interpretar o mundo apenas como "condies para a vida".

    De acordo com Nietzsche, "a realidade consiste a cada vez no parti-cular jogo-conjunto de aes e reaes conduzido no interior de complexasformaes de centros de fora" . E, nesse jogo, o que cada ser vivente preten-de tornar-se senhor deste mundo, das coisas, para o que ele lana mo dointelecto. Nesse contexto, "condies para a vida" deve significar condies

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    para a sua "expanso". Nessa relao, disposto como conflito, tambm o co-nhecer tem uma funo instrumental, pois ele mesmo sempre algo que sedispe por alguma finalidade. Conhecer sempre conhecer algo em umarelao de vontade de poder, como meio para se conseguir estabelecer umadominao, para se obter mais poder: "o conhecimento trabalha como instru-mento do poder" . E a linguagem, que surge no contexto do "anseio por poderde formaes de domnio", isto , no contexto de uma interpretao, , elamesma, "uma maneira de expresso do querer-poder" .

    A compreenso da expresso "condio para a vida", pela qual se do processo de reconhecimento da realidade, no pode deixar margem idiade uma "tendncia de autoconservao", ou da prpria vida como simples"adaptao". Todo esse processo se d como meio de expanso de poder,como forma de se assenhorar de algo.

    As aes do intelecto esto numa relao de subordinao s nossasestimativas de valor, que expressam nosso impulso para poder. Em um frag-mento de 1885, Nietzsche afirma que, por sua vez, "nossos impulsos soreduzveis vontade de poder" e, tambm, que "a vontade de poder o fatoltimo, para o qual somos tragados" . Portanto, a linguagem tambm "vonta-de de poder e nada alm disso".

    Mas, porque a prpria linguagem simula unidades, ela acaba, nor-malmente, sendo compreendida como uma articulao de coisas que podemser "apreendidas" como "entes", numa evidente superestimao da capacidadedo intelecto. justamente aqui, segundo Nietzsche, que se inicia um proble-ma que culmina em estabelecer, como realidade, conceitos como "substncia","predicado", "objeto", "sujeito", "ao", "realidade" etc., isto , em conceber ummundo metafsico, vale dizer, mundo verdadeiro" . Para Nietzsche, a necessi-dade metafsica que se criou em relao a conceitos como "ser", "substncia","coisa em si" tem sua origem num tipo de superestimao da linguagem, dagramtica e tambm da lgica.

    Segundo Nietzsche, esses "mais elevados conceitos" com os quais searticula esta linguagem convertida em uma espcie de metafsica no so nadamais que "conceitos mais vazios" . No h qualquer "coisa em si". A crena em"algo em si" a crena em uma fico, da mesma forma que a crena napossibilidade do conhecimento da "coisa em si" . Esses "conceitos" se origi-nam da necessidade que se tem da linguagem e da cristalizao da formapopular de compreender os acontecimentos em um hbito. O povo se habituaa traduzir o mundo por meio de uma "interpretao errada das experincias" ,separando, por exemplo, a fora de sua exteriorizao. Por sua vez, os filso-fos que no conseguem se distanciar do preconceito popular tomam-no e oexageram.

    Resumidamente, pode-se fazer uma anlise lingstica da emergnciadaqueles conceitos entendidos como os "mais elevados", que possibilite de-

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    monstrar que eles possuem, como pressupostos para o seu "valor em si",apenas uma espcie de crena metafsica. O "eu" um dos primeiros concei-tos bsicos que o homem inventa e que aprende a utilizar quando retm namemria "cinco ou seis eu no quero" . Outro conceito o "ser" (sein), quese produz em oposio ao conceito "nada" (nichts) . Numa decorrncia dosconceitos iniciais "eu" e "ser", o homem passa a falar em eu (ego), "alma" e,por fim, chega ao conceito "sujeito". a experincia da abstrao que permiteao homem falar em "sujeito", e a partir dela que cria outros conceitos como"ente", "substncia" etc. tambm a partir do conceito "sujeito" que ele estabe-lece relao com "objetos", "coisas" etc., acrescentando ainda os conceitos de"movimento", que retratam as diferentes relaes do "sujeito" com "objetos" ea relao de objetos entre si. A esse conjunto, deve-se remeter a noo de"conhecimento", que indica uma forma peculiar de relao do sujeito com osobjetos. Nessa espcie de "fbula", pode-se acrescentar aqueles que afirmamque o "conhecimento" tornado possvel por "categorias", como "causalida-de", formas puras como "espao" e "tempo", que so dadas "a priori", intrnse-cas, no "sujeito"...

    Para Nietzsche, essa grande corrente de conceitos, que vo se agar-rando uns aos outros para se garantir, no possuem qualquer valor de realida-de. Eles so, antes, sintomas de que determinada forma de vontade de podertomou a linguagem a seu servio, conferiu-lhe um modo determinado deinterpretao e teve poder suficiente para apresentar essa forma de interpreta-o como sendo "a" interpretao, ou melhor, no mais como interpretao,mas como "a" verdade de conceitos que "so" e que no "emergem" de inter-pretaes. Com isto, ela confere uma espcie de funo transcendental pura acoisas que tiveram, inicialmente, funes regulativas para a vida.

    Apesar de Nietzsche ser um crtico em relao linguagem, nose deve pensar que ele queira negar seu valor, o valor da gramtica, ou dopensar lgico. Tal atitude seria algo sem sentido, pois ele nem poderia articu-lar os conceitos necessrios para fazer sua crtica, que, no caso se dirige contraa pretenso que se estabeleceu, no campo da gramtica e da lgica, de seproduzir e de se utilizar conceitos de validade perene, que remetem a essn-cias. Para ele, os conceitos no "remetem a algo", so apenas indcios, sinto-mas de dominaes e, disposta em seus escritos, a linguagem tambm devecorresponder idia de meio, de instrumento para a desarticulao de forma-es de poder e para a imposio de novas formas, de novas interpretaes.

    A relao da genealogia com a histriaO primeiro ponto que deve ser considerado ao se tomar a relao

    entre genealogia e histria, particularmente no que se refere ao texto daGenealogia da Moral, que o leitor no se encontra diante de uma descriohistrica, de algum "relato histrico", de uma "histria dos sistemas ticos", ou

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    ainda de qualquer "histria tradicional" ou "histria natural da moral" . Nietzscheutiliza a histria, serve-se do conhecimento histrico como de um instrumen-tal, de uma ferramenta, assim como se serve da filologia, sem no entantoconferir aos seus escritos o carter de uma filologia. para fazer uma crticado valor dos valores morais e isto no contexto de um engajamento deNietzsche , que ele procede ao levantamento histrico e filolgico das condi-es que possibilitaram a produo desta moral; para isso, leva a efeito suagenealogia (Ahnenforschung).

    A pesquisa pela "origem" de algo, como foi visto anteriormente, estligada ao termo "genealogia" antes mesmo de sua utilizao por Nietzsche. Notexto de Para a Genealogia da Moral, o sentido de uma busca da gnese apresentado nos seguintes termos: "...para isso necessrio um conhecimentodas condies e circunstncias nas quais nasceram, sob as quais se desenvol-veram e se modificaram" , indicando a busca pelo "solo" de onde se originame onde se enrazam os valores morais, uma busca por sua provenincia, porsua emergncia no "palco dos acontecimentos", o que Nietzsche define tam-bm ou como "histria da emergncia" ; ou, querendo diferenci-la da histriano sentido tradicional, como uma "histria efetiva da moral" .

    O olhar do genealogista considera "...que algo existente, que de al-gum modo chegou a se realizar, sempre reinterpretado para novos fins,requisitado de maneira nova, transformado e redirecionado para uma novautilidade". Ele parte do princpio "...que todo acontecimento no mundo org-nico um subjugar e assenhorar-se" e pressupe ainda "que todo subjugar eassenhorar-se um novo arranjo, um ajuste, no qual o sentido e a finalidadeanteriores so necessariamente obscurecidos ou apagados" .

    Considerando que a utilidade de "algo" como por exemplo "deuma instituio de direito, de um costume social, de um uso poltico, de umadeterminada forma nas artes ou no culto religioso" resultado da ao deuma forma especfica de vontade de poder que, num determinado momentodo jogo, se assenhora de suas regras, impondo-se sobre as demais, o "conhe-cimento" que o genealogista vai buscar produzir tem a ver com o surgimentodeste "algo" enquanto um significado que resultado dessas foras em confli-to. Considerando tambm que este "algo" entendido como sua utilidade, sig-nificado, no anterior ao conflito, e que sua prpria "realidade" resultadodeste conflito ainda no resolvido, no se pode imputar-lhe uma estabilidade,mas concluir que ele possui uma "mudana de formas" (Form-Verwandlungen),caracterizada pela fluidez (flssig) e, se sua forma "fluente", "o sentido mais ainda". "Algo" no realidade ou "representao" da realidade, "mastodos os fins, todas as utilidades so apenas indcios de que uma vontade depoder se assenhorou de algo menos poderoso e lhe imprimiu o sentido deuma funo" . A nica realidade , portanto, aparncia, reflexo de "processosde subjugamento" ,e a genealogia, uma sintomatologia.

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    Tomando "algo" como um signo e sua histria como uma "ininterruptacadeia de signos de sempre novas interpretaes e ajustes" , o genealogista irjustamente mostrar que em seu "comeo histrico" no h uma "identidadeprimeira", mas a discrdia e o disparate; que sua construo no pode serapontada como "obra" da "razo", mas do acaso do jogo; e que, se h umcarter de "necessidade" e de "calculabilidade" no curso desse jogo, isto "noocorre porque nele vigoram leis, e sim porque faltam absolutamente as leis".Nele, a nica "lei" a da vontade de poder, que em sua busca por assenhorar-se, interpretar e impor sua interpretao para todo o resto tira, "a cada instan-te, sua ltimas conseqncias" . nesse estado de foras em conflito que setem a emergncia de "algo". Uma emergncia que pode ser entendida comouma entrada em cena de foras. E a "cena" pode ser entendida como o movi-mento da distribuio das foras umas frente s outras, umas sobre as outras num campo que no fechado, controlado, mas que se fixa, a cada momen-to, de diferentes formas, e cuja nica regra o prazer calculado da obstinaopelo reativar incessante do jogo.

    A idia de "algo" associado a um "signo" se ope diretamente idiade "coisa" no sentido aristotlico. Mas Nietzsche no pretende marcar umadiferena somente em relao a Aristteles, mas a toda uma tradio que vaide Scrates a Schopenhauer e que se caracteriza pela busca da "essncia"exata "da coisa", daquilo que lhe confere uma "identidade", da sua "forma"imvel e anterior a tudo o que externo, acidental, sucessivo, daquilo quepermanece apesar dos conflitos e astcias, uma vez que estes ltimos s alte-ram suas afeces exteriores.

    A metafsica, ao postular a conservao da "essncia" das coisas, estpropondo uma forma de se relacionar com os conceitos de "finalidade" e"sentido" que pode ser definida como uma "teleologia da auto-conservao" ,pois afirma que todas as coisas tm, por finalidade, permanecer, na essncia,aquilo que so. Contra essa idia, Nietzsche apresenta o princpio do acaso."O acaso pode encontrar a mais bela melodia" .

    A compreenso histrica de "algo", como faz a histria tradicional, etambm os genealogistas ingleses ou Hegel, respeita o princpio teleolgicoda metafsica, de que esse "algo" atravessa a histria sempre idntico a simesmo, estvel a partir de um fim j dado de forma essencial em sua origeme de uma tendncia a evoluir na direo desse fim. Este "algo", entendidocomo um ser cuja identidade e evoluo se do por uma determinao intrn-seca e que no depende de outrem, ou de fatores externos, , por isso mes-mo, em ltima instncia, subtrado da histria, que um constante dominar esubjugar. O prprio conhecimento de seu "processo histrico", segundo estaforma de se ler a histria, s se torna possvel graas ligao entre os concei-tos "origem", "fim" e "desenvolvimento".

    A oposio que Nietzsche pretende estabelecer , portanto, entre

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    histria e metafsica. Mas, para isso, ele precisa resgatar a prpria histria dagide da metafsica. Ele ope aos conceitos "estticos" da metafsica o princ-pio de que nada se "fixa" na histria, mas que a histria um fluir de signos,dominaes, enfim, de vontade de poder. Pelo prprio movimento de recolocaralgo na histria (numa "wirkliche Historie"), o genealogista descobre aindaque este "algo" no tem "essncia", justamente porque "sinal" de um movi-mento que, como ele, no "independente", mas que s concebvel em umarelao que tem por princpio a instabilidade. A prpria histria que ogenealogista faz no a histria de uma coisa, mas de um "signo". A "coisa",entendida como signo, salta do princpio da estabilidade para o daprovisoriedade e se converte, de algo posto e estvel, em um sentido provis-rio. Esse o significado de resgatar a fluidez de "algo", e isso eqivale arecoloc-lo na histria. "Algo" s seu sentido, e todo sentido s dura at queoutra vontade de poder mais forte lhe imponha uma nova significao.

    Considerando a idia de sintomatologia, o papel do genealogista sero de buscar apontar a constituio de sinais, mostrar as diferentes interpreta-es que lhes do sentido, indicando as foras em ao que lhes possibilita-ram a emergncia, a forma como essas foras jogam, a maneira como lutam,como se esforam para escapar da degenerescncia e recobrar o vigor. Poreste movimento de retorno efetivo histria, descobre-se, enfim, que nas"origens", por exemplo, do homem moderno (que se apresenta como o picede um "processo civilizatrio", como seu "fruto maduro"), no h nada desublime, mas que ele tambm um "fruto tardio" , engendrado pela violnciae pela crueldade, um alto preo que seu prprio processo de constituioprocura ocultar.

    possvel desde j perceber o importante papel que desenvolve otermo "origem" para o procedimento genealgico. para distinguir entre umaconcepo de "origem" que remete a pesquisa histrica a uma busca poraspectos intrnsecos que se encontram no incio de algo, e que se desenvol-vem na histria rumo a uma perfeio cada vez maior, e outra concepo deorigem que remete a movimentos de foras que determinam sentidos e queentende a prpria finalidade atual como fora como parte de uma estratgia, que Nietzsche diferencia, ainda que por um momento, os termos "Herkunft"(para apontar a prpria "investigao") e "Ursprung" (para apontar a pesquisados outros genealogistas da moral).

    O texto mais significativo da utilizao demarcada desses termos oPrlogo de Para a Genealogia da Moral, em que o autor aponta, por um lado,o seu objetivo, que o de se ocupar com "a origem (Herkunft) de nossospreconceitos morais" e, por outro, o trabalho dos demais genealogistas que seocupam com "a origem (Ursprung) de nossas impresses morais" . Ele distin-gue tambm, por esses termos, suas pesquisas da fase madura (Herkunft) desuas especulaes infantis (Ursprung) quando, aos 13 anos, se perguntava

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    sobre a origem (Ursprung) do mal e a buscava "atrs do mundo" . A tentativado "Nietzsche infantil" de ser imoralista foi to bem sucedida quanto a dosgenealogistas ingleses e a de Paul Re. Em ambos os casos, no se pde darconta de fazer uma crtica moral, pois aceitaram os fundamentos dessa moralno prprio ato de se propor a buscar sua "origem" alm deste mundo. No tambm pouco importante o fato de que esse modo de especulao infantil deNietzsche o tenha conduzido a Deus como origem do mal. Diferentemente, o"Nietzsche maduro" vai buscar "neste mundo" as condies de inveno(Erfindung ) dos valores morais, demonstrando que eles no passam de pre-conceitos, de coisas muito humanas.

    A preocupao de Nietzsche com a provenincia (Herkunft) dos va-lores morais tem incio, segundo ele, em Humano Demasiado Humano e,embora faa meno a esses escritos como uma "expresso primeira, modestae provisria" daquilo que se desdobrar em Para a Genealogia da Moral, deve-se notar que ele se refere a eles como pesquisa pela "Herkunft". Isto nosignifica que neles, ou na prpria seqncia do texto da Genealogia , elemanter o uso demarcado desses termos. O que Nietzsche quer deixar claro"nesse momento" , com a utilizao diferenciada dos termos "Ursprung" e"Herkunft", que suas pesquisas, a partir de Humano, Demasiado Humano,so de outra ordem em relao s demais pesquisas sobre a moral; que ali seestabelece algo novo em relao a uma busca que sempre esbarrou nas ma-lhas da metafsica, diga-se, da prpria moral.

    Nietzsche deixa clara a oposio de seus escritos ao postulado bsicoda filosofia tradicional, de que na "origem" encontra-se a "verdade" da "coisa",anterior ao conhecimento positivo, s ideologias, ao discurso e proliferaode erros que a obscureceria. Ao rejeitar a pesquisa da "origem", est rejeitandoos postulados de "essncia", "identidade", "coisa em si" etc., e, ao tomar a"verdade" de algo como sintoma de uma interpretao, quer chegar no "origem", mas ao "destrinchamento", "desemaranhamento" do jogo de forasque se encontra na provenincia (Entstehung) de algo, mostrando que ondese via "sacralidade" h um comeo "baixo", "impuro" .

    Uma vez desconstitudas as premissas bsicas que norteavam a pes-quisa sobre os incios da moral, uma vez demonstrado que seus pressupostosabsolutos eram apenas preconceitos e resultados de jogos de interpretao,Nietzsche pode colocar ento a questo: "sob que condies o homem inven-tou para si os juzos de valor bom e mau? e que valor tm eles?". Tem-se aquia chave da relao entre a genealogia e a histria, pois a partir dessa questoe desses pressupostos que ele vai olhar para a histria: "para isso encontrei earrisquei respostas diversas, diferenciei pocas, povos, hierarquias dos indiv-duos..." ; que ele vai, enfim, dispor do que lhe fora colocado ao alcance dasmos, a fim de revirar as "mesquinharias" presentes na provenincia da moralpara fazer aparecer as suas condies de inveno, o interpretar e o apoderar-se, dos quais procede o valor de seus valores.

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    Em um fragmento de 1885/86, pode-se encontrar uma formulaosinttica do princpio-chave da genealogia, de seu desdobramento e do ganhoque ela proporciona, qual seja uma liberdade diante da moral: "bem e mal soapenas interpretaes, e de modo nenhum algum fato, algum em si. Pode-sedescobrir a origem deste tipo de interpretao, pode-se fazer a procura e, comisso, lentamente se libertar da arraigada necessidade (coao) de interpretarmoralmente" .

    Considerando estes ltimos pressupostos, pode-se recolocar, ago-ra em uma nova esfera, a questo da diferena entre genealogia e histria apartir de dois pontos bsicos:

    Primeiro. Enquanto a histria tradicional supe em sua reconstruodo passado "une vrit ternelle, une me que ne meurt pas, une consciencetoujours identique soi" passvel de ser apreendida em sua totalidade, em ummovimento contnuo, a genealogia "rintroduit dans le devenir tout ce quonavait cru immortel chez lhomme" , num esforo que, por um lado, prescindeda histria "pour conjurer la chimre de lorigine" e, por outro, precisa seprevenir contra os prprios postulados de origem, verdade em si, continuida-de, teleologia etc., da histria, para poder servir-se dela. Sua cor deve ser "ocinza", "a coisa documentada, o efetivamente constatvel, o realmente havido;em sntese, a longa quase indecifrvel escrita hieroglfica do passado moralhumano" .

    A genealogia pressupe um trabalho meticuloso que lhe possibilitefugir das simplificaes que se fazem para reduzir a realidade a algo compre-ensvel, azul, e manter o que passou na disperso que lhe prpria, no cinza,na proliferao de acontecimentos que formaram o que aparece como nico;mas nem por isso ela deve produzir um comportamento "teso" diante da mo-ral, pois, servindo-se da histria, revela que em sua "origem" tambm "nossavelha moral coisa de comdia" e nada puro, fantasticamente sado das mosdo criador. Ela se serve da histria, e a prpria histria, entendida ento como"histria efetiva", lhe possibilita rir das "solenidades da origem".

    Para o genealogista, o conhecimento histrico, tanto em sua pro-duo, quanto em sua utilizao por exemplo, para oferecer um "carterinteligvel" ao mundo , s faz sentido como parte e ramificao de uma formade vontade de poder. Portanto, ver o mundo "de dentro" equivale a v-locomo vontade de poder , nica "realidade", que permanece no desdobrar dojogo, e filosofar buscar conhecer a emergncia e os jogos de manuteno edesaparecimento das foras neste "palco", envolver-se em sua emergncia parapoder l tomar parte, ser legislador, criador de valores.

    Segundo. A genealogia no se coloca no palco das discusses com apretenso de fazer uma "observao desinteressada", o que seria "um absurdosem sentido" , e que o que pretende o historiador tradicional ao olhar paraa histria: um saber neutro, insensvel, sem escolha e, ao mesmo tempo, sem

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    que nada lhe escape, que se pretende objetivo e exato no tratamento dos"fatos". O historiador tradicional toma sua perspectiva como sendo universal eesconde seu querer para mostrar um pretenso querer eterno, que acaba seidentificando com a crena na "Providence, aux causes finales et la teleologie".Diferentemente, pelo fato de que por trs das coisas no h essncia, de queelas so sem essncia, o nico saber aceitvel para o genealogista um saberperspectivo. Portanto, algo sem sentido, para ele, no querer conferir ao seusaber um carter perspectivo, buscando, por exemplo, ocultar o lugar desdeonde lana seu olhar. Ele no teme conceber seu saber como um saberperspectivo e tambm no esconde sua opo avaliadora: "moral como conse-qncia, como sintoma, mscara, tartuferia, doena, mal-entendido; mas, tam-bm, moral como causa, medicamento, estimulante, inibio, veneno" .

    Por seu procedimento, que no simples apresentao de fatos, ogenealogista faz deliberadamente o que o historiador neutro no pretendefazer (mas faz): ele se envolve com os "fatos", melhor, com os "jogos de inter-pretao". Sua anlise tambm avaliao e tentativa de cura. Ela apresenta,por exemplo, um diagnstico: superestimao da compaixo que um ca-minho para um passivo niilismo como a doena; mostra sua procednciapelo conhecimento das condies e circunstncias nas quais nasce, sob asquais se desenvolve e se modifica; e a partir dessa histria da procedncia aponta o procedimento necessrio para a cura: uma crtica ao prprio valordos valores morais que seja capaz de fazer a prpria moral seguir adiante, darseus prximos passos, o que condio para se pensar para alm desta moral.Ao procurar, por meio dos signos, identificar a vontade de poder que seassenhorou das regras produzindo significados, o genealogista pretende tam-bm dar a essas regras uma nova interpretao, produzir novos significados,pois ele tambm vontade de poder atuante.

    Notas Bibliogrficas

    1Stegmaier, 1994, p. 63.

    2Cf., p. ex., Der Brockhaus: "Sondagem sobre a linhagem, pesquisa dos antepassados, doutrina sobre aorigem das relaes de parentesco entre pessoas ou famlias...".

    3 Cf.: Stegmaier, 1994, p. 63.

    4 Cf.: Brusotti, 1992, p. 81ss.

    5 ABM, 211.

    6 Deleuze, 1991, p. 2.

    7 EH, Zaratustra, 8.

    8 GM II, 16.

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    9 P. ex.: ABM, 257, GM I, 2 e II, 16.

    10 ABM, 211.

    11 ABM, 22.

    12 Cf.: Deleuze, "Pensamento Nmade". In: Escobar (org.), s/d, p. 13.

    13 ABM, 22.

    14 ABM, 9.

    15 Em ABM, 25, Nietzsche recomenda aos filsofos: "evitem o martrio! O sofrimento pela verdade!". Maisadiante, no mesmo texto, pode-se ler tambm: "afinal, sabem muito bem que no pode ter importn-cia o fato de vocs terem razo, sabem que nenhum filsofo at hoje teve razo, e que poderia haveruma veracidade mais louvvel no pequeno ponto de interrogao que colocarem depois de suaspalavras de ordem e doutrinas favoritas (e ocasionalmente de si mesmos) do que em todos ossolenes gestos e triunfos diante de promotores e tribunais!".

    16 GM, Prlogo, 7.

    17 GM I, 1.

    18 Cf.: GM, Prefcio, 4.

    19 GM I, 1.

    20 Cf. p. ex.: GM I, 1 e 2.

    21 GM I, 1. Cf.: ABM, 228.

    22 ABM, 228 ["...moralische Tartuferie ist, dies Mal unter die neue Form der Wissenschaftlichkeit versteckt"].Cf. tambm: GM II, 11.

    23 Cf. GM I, 1; ABM, 2.

    24 ABM, 228.

    25 Cf.: A, Prefcio, 3.

    26 GM, II, 12.

    27 ABM, 228.

    28 GM, Prefcio, 7.

    29 KSA 11, p. 613.

    30 ABM, 268.

    31 KSA 12, p. 51.

    32 ABM, 268. Cf.: KSA 12, 34 e 105.

    33 KSA 11, p. 661. Cf. tambm, ABM, 24: " santa simplicidade! Em que curiosa simplificao e falsificaovive o homem! (...) Como tornamos tudo claro, livre, leve e simples nossa volta!...".

    34 KSA 11, p. 167. Cf.: KSA 13, p. 279.

    35 KSA 11, p. 637. Cf., tambm, p. ex.: KSA 11, p. 164, 645, 701 e KSA 12, p. 369.

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    36 Mller-Lauter, 1974, p. 23 24. Ele toma como referncia: KSA 13, p. 371.

    37 Cf.: KSA 12, p. 142 e KSA 13, p. 303.

    38 KSA 13, p. 302.

    39 Mller-Lauter, 1974, p. 17.

    40 KSA 11, p. 661.

    41 KSA 12, p. 390.

    42 CI, "A razo na filosofia", 4.

    43 KSA 11, p. 614 - 615.

    44 KSA 11, p. 633. Cf.: GM I, 13.

    45 GM II, 3.

    46 Cf.: KSA 11, p. 64.

    47 Tome-se como exemplo especialmente o pargrafos 13 e os seguintes da Primeira Dissertao da Genealogia,quando Nietzsche apresenta aspectos da "outra origem do bom", lanando mo de uma construoque lhe permite mostrar o carter perspectivo de valores que se apresentam como perenes e univer-sais.

    48 Stegmaier, 1994, p. 63.

    49 GM, Prefcio, 6.

    50 Cf.: Giacia, 1989, p. 100.

    51 P. ex.: KSA 11, p. 613 (Entstehungsgeschichte).

    52 GM, Prefcio, 7.

    53 GM II, 12.

    54 GM II, 12.

    55 GM II, 12.

    56 KSA 11, p. 654 (Schein).

    57 GM II, 12 (Uberwltigungsprozessen).

    58 GM II, 12.

    59 ABM, 22.

    60 Spaemann, 1981, p. 194.

    61 Citado por Spaemann, 1981, p. 195. Como veremos adiante, o acaso o que rompe com a pretensalinearidade da histria.

    62 GM II, 3.

    63 GM, Prefcio, 2.

    64 GM, Prefcio, 4. Nietzsche menciona o livro A origem das impresses morais, do Dr. Paul Re.

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    65 GM, Prefcio, 3. Cf. AC, 57.

    66 Cf.: Foucault, "A Verdade e as Formas Jurdicas", p. 11.

    67 Lembre-se que o Prlogo Para a Genealogia da Moral foi feito aps o texto (KSB, 8, p. 154. Cf.:Stegmaier, 1994, p. 34).

    68 Cf.: Foucault, "Nietzsche, la gnalogie, lhistoire". In: Dits et crits II, 1994, p. 136ss.

    69 Veja-se, p. ex., "como se fabricam ideais na terra?" In: GM I, 14.

    70 GM, Prefcio, 3.

    71 KSA 12, p. 131s.

    72 Foucault, 1994, p. 146.

    73 Foucault, 1994, p. 147.

    74 Foucault, 1994, p. 140.

    75 GM, Prefcio, 7.

    76 GM, Prefcio, 7.

    77 Cf.: ABM, 36.

    78 GM III, 12.

    79 Foucault, 1994, 151.

    80 GM, Prefcio, 6.

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