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PARTE IV DTI 4 Educomunicação

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  • PARTE IV DTI 4Educomunicao

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    Comunicao, Cultura e Mdias Sociais XIV Congresso Internacional de Comunicao Ibercom 2015 Anais

    Educomunicao: uma reflexo terica sobre a rdio escola

    Educommunication: a reflection theory abouth radio school

    A n g l i c A Mo r e i r A P e r e i r A 1

    Resumo: O presente artigo aborda uma reflexo terica das prticas educomu-

    nicativas, em especfico a Rdio Escolar, cruzando com as reflexes dos autores

    Boaventura de Souza Santos e Edgar Morin, a partir das obras Renovar a Teoria

    Crtica e Reinventar a Emancipao Social e Os Sete Saberes Necessrios Educa-

    o do Futuro, respectivamente. Percebeu-se que muitos dos saberes e dos precei-

    tos abordados pelos autores dialogam com a epistemologia da educomunicao.

    Palavras-chave: Educomunicao, Ecologia dos saberes, Rdio escola.

    Abstract: This article approaches a theoretical contemplation of the educommu-

    nicational practices, particularly the School Radio, crossing with the reflections

    of the authors Boaventura de Souza Santos and Edgar Morin, based on the

    works Renewing the Critical Theory and Reinvent the Social Emancipation and

    The Seven Knowledge Required for Future Education, respectively. It became

    clear that many of the knowledge and the precepts approached by the authors

    dialogue with the epistemology of the educommunication.

    Keywords: Educommunication, Knowledge Ecology, School Radio.

    INTRODUO

    NESTE ARTIGO apresenta-se uma reflexo terica a respeito do campo da Edu-comunicao e dos saberes que podem emergir com esta prtica, por meio do cruzamento terico entre os autores Boaventura Souza Santos e Edgar Morin. O objetivo que permeia esta pesquisa refletir sobre possveis competncias que podem surgir com as prticas educomunicativas por meio da rdio escola.

    Uma das obras que daro sustento para o presente artigo livro Renovar a Teoria Crtica e Reinventar a Emancipao Social, cuja autoria do socilogo Boaventura Souza Santos. Na viso do autor, a sociedade atual cresceu e se emancipou muito rpido, gerando problemas de regulao e ordem, surgindo assim, a necessidade de novas solues para problemas antigos. Santos defende a necessidade de uma reinveno da emancipao social, pois as teorias das cincias sociais que existem hoje, so elaboradas pelos pases do Norte, o que acarreta em problema para os pases do Sul. A proposta apresentada no livro a unio de cientistas sociais do Sul para propor a realizao de um projeto que se chamaria Reinventar a Emancipao Social a Partir do Sul, ou seja, a partir de pases perifricos e semiperifricos do sistema mundial, totalizando seis pases:

    1. Mestranda em Tecnologias Educacionais em Rede da Universidade Federal de Santa Maria. Artigo produzido na disciplina de Mdia e Pluralismo. E-mail: [email protected]

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    ANGlIcA MOREIRA PEREIRA

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    Portugal, Colmbia, Brasil, frica do Sul, ndia e Moambique. O objetivo foi pensar sobre as contradies mais persistentes entre o Norte e o Sul, aliando cinco temas, tais como: 1) democracia; 2) produo no capitalista - as formas de economia solidria, de economia social e popular; 3) multiculturalismo -diversidade cultural, cidadania cultural, direitos indgenas, entre outros; 4) conhecimentos rivais a capacidade que o Norte tem de negar a validade ou a existncia dos conhecimentos cientficos (populares, indgenas) e por fim o novo intervencionismo operrio.

    As abordagens destes temas levaram os cientistas a vrias reflexes, entre elas, a de que as transformaes sem compreenso levam a sociedade para situaes de desastre, pois as dicotomias e as hierarquias no nos permitem pensar fora das totalidades. No se pode pensar o Norte sem pensar no Sul; pensar no escravo sem pensar no homem; pensar no homem sem pensar na mulher. O que deve ser questionado se nessas realidades no h coisas que esto fora dessa totalidade: o que h na mulher que no depende do homem; o que h no Sul que no depende do Norte?

    A partir destes questionamentos que surgem as cinco monoculturas, que posteriormente so transformadas em ecologias, conforme mostra o quadro a seguir:

    Quadro 1. Ecologia dos saberes

    Monocultura do rigor cientfico Ecologia dos saberes

    Monocultura do tempo linear Ecologia das temporalidades

    Monocultura da naturalizao das diferenas Ecologia do reconhecimento

    Monocultura da escala dominante Ecologia da transescala

    Monocultura do produtivismo capitalista Ecologia da produtividade

    Fonte: elaborado pela autora baseado em Boaventura de Souza Santos (2005)

    O segundo livro que oferece suporte para o presente trabalho de autoria de Edgar Morin - Os Sete Saberes Necessrios para a Educao do Futuro. Estes saberes surgiram de uma reflexo geral sobre os problemas da educao para o atual sculo, chegando aos sete buracos negros que tangem todos os sistemas de educao conhecidos, desde o Ensino Fundamental at o Ensino Superior.

    Os conceitos das ecologias apresentadas por Santos (2005) sero dialogados com as prticas educomunicativas, por meio da rdio escola, e com os conceitos dos saberes de Edgar Morin, esperando-se, assim, que a partir destes cruzamentos tericos o trabalhado dos educomunicadores possa ser complementado e conduza a uma reflexo sobre o campo educacional e comunicacional.

    O CAMPO DA EDUCOMUNICAO No Brasil, o campo de estudo que uniu as reas da Educao e Comunicao surgiu

    na Universidade de So Paulo (USP), em 1996. No mesmo ano foi criado o Ncleo de Comunicao e Educao (NCE), que congrega pesquisadores engajados em temas que circundam as reas citadas. Segundo o Prof Dr. Ismar de Oliveira Soares, Coordenador do Ncleo de Comunicao e Educao da ECA/USPO, o conceito de Educomunicao est associado como um conjunto de aes destinadas a:

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    1) integrar s prticas educativas o estudo sistemtico dos sistemas de comunicao; 2) criar

    e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaos educativos (o que significa criar e rever

    as relaes de comunicao na escola, entre direo, professores e alunos, bem como da

    escola para com a comunidade, criando sempre ambientes abertos e democrticos. Muitas

    das dinmicas adotadas no Educom apontam para as contradies das formas autoritrias

    de comunicao); 3) melhorar o coeficiente expressivo e comunicativo das aes educativas.

    Com a revoluo tecnolgica, as possibilidades de comunicao expandiram-se e os educadores passaram a ter novas possibilidades de contribuir com o ensino em sala de aula, consequentemente, potencializando o processo didtico-pedaggico. A insero de aparatos tecnolgicos ao ensino essencial, pois amplia as possibilidades de aprendizado, alm de exercitar novas capacidades e habilidades dos jovens, entretanto, essa aliana requer um cuidado de no apenas inserir uma nova tecnologia, mas de adapt-la dentro de uma linha pedaggica.

    Segundo Citelli et al. (2014), nas primeiras dcadas do sculo XX no Brasil, o rdio tinha enorme importncia cultural, informativa e mesmo educacional. Cabe observar que 75% da populao vivia no campo e 80% da populao total era analfabeta. Dois educadores, Roquette-Pinto e Ansio Spnola Teixeira, identificaram no veculo radiofnico uma enorme possibilidade para ajudar a reverter o cenrio de abandono dos brasileiros educao formal. Ambos os educadores revelaram uma profunda compreenso sobre a importncia do rdio para auxiliar nos processos de alfabetizao e de difuso cultural.

    Neste panorama, de acordo com Gaia (2001), o rdio vem sendo utilizado experimen-talmente, de maneira bem sucedida, com outras mdias, tornando-se uma valiosa fonte de informao e propostas pedaggicas, que tenham a midialidade e a intermidialidade com base metodolgica (p.85). O objetivo da rdio escola transmitir em circuito aberto ou semifechado, no interior da escola, contedos que possibilitam aos alunos a produo de seus prprios contedos radiofnicos, sob a orientao de educadores.

    A escola, por muito tempo, foi uma estrutura isolada da sociedade em que seu aluno est inserido. Na procura por essa interao da escola com a sociedade, a comunida-de escolar busca utilizar-se dos recursos que os meios de comunicao tm a oferecer. Fazendo com que o seu aluno se aproxime, havendo uma comunicao de mo dupla entre a escola e o aluno.

    Diante desse contexto, para que esse aprendizado seja efetivado, necessrio compreender a educomunicao. Ela entendida como um campo de mediaes, um referencial terico que sustenta a inter-relao comunicao/educao como campo de dilogo, espao para o conhecimento crtico e criativo, para a cidadania e a solidariedade (SOARES, 2000, p.12).

    Com essa aproximao entre aluno e escola com a ajuda dos meios de comunicao, o estudante passa a ser produtor e no somente um sujeito passivo, de modo que esses elementos geram a capacidade de deciso do que importante para a comunidade em que est inserido, constituindo-se como sujeito crtico. A escola e a comunidade nesse momento se beneficiam dessa prtica para fazer com que os alunos se tornem sujeitos participativos e opinativos que podem mudar a sua realidade e da comunidade que o rodeia. A Educomunicao busca a ligao entre escola e sociedade de uma maneira

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    diferente, de modo que o aluno se identifique com questes do dia a dia, oportunizando prticas de cidadania, autoestima e a capacidade de julgamento do mundo que o cerca, o que faz com que a escola, alm de ensinar as matrias bsicas, tambm forme cidados aptos para vivncia social.

    E neste contexto que os conceitos de Edgar Morin, sobre os sete saberes necessrios para a educao do futuro dialogam com as prticas educomunicativas. Ele acredita que qualquer reforma de educao dever, antes de mais nada, comear pela reforma dos educadores.

    O primeiro saber apresentado o conhecimento, pois segundo Morin (2000), no ensinado o que significa esta palavra, a sua importncia. Muitos conhecimentos e crenas do passado contm erros ou iluses, pois o conhecimento nunca o espelho do reflexo da realidade (p.82), ele uma traduo seguida de uma reconstruo. Ele marcado pelo imprinting cultural, ou seja, so as impresses que os pais, a escola e demais instituies sociais imprimem nas crianas desde cedo. Essa viso que imposta para as crianas desde cedo puramente cultural, mas no quer dizer que no seja fundamentado sobre uma experincia verdadeira.

    Este primeiro saber de Morin (2000) vai ao encontro com as ecologias dos saberes de Boaventura de Souza Santos (2005), que defende a ideia de no utilizar a cincia apenas como monocultura, mas como parte de uma ecologia dos saberes, em que o saber cientfico possa dialogar com o laico, com o popular, com o indgena, com o saber das populaes urbanas marginais, com o campons, etc. Todo saber cultural vlido e o principal argumento contrariar a hierarquia abstrata do conhecimento.

    O segundo saber o conhecimento pertinente, que no se constitui em pertinente por conter uma grande quantidade de informaes. O problema consiste em como organizamos essa grande quantidade de informao. Esse segundo saber tenta lidar/situar as informaes a partir de um conceito global, e se possvel, num contexto geogrfico e histrico, para isso, necessrio ter uma viso do todo, do conjunto e entender que as partes tambm compem esta totalidade.

    O terceiro saber o da identidade humana, da condio humana. Quem somos ns? Qual a nossa condio? Morin (2000) defende que somos indivduos de uma sociedade e fazemos parte de uma espcie, mas estamos em uma sociedade e a sociedade est em ns, pois desde o nosso nascimento a cultura se imprime em ns. O conhecimento hoje em dia se encontra separado, compartimentado, tais como a sociologia, a psicologia, histria, economia, etc. Esse terceiro saber dialoga muito com o segundo saber, pois para conhecermos algo, necessrio que haja alguma distncia, ao mesmo tempo em que haja um pertencimento comum.

    O quarto saber o da identidade terrena, a compreenso humana, que visa entender o ser humano no apenas como objeto, mas tambm como sujeito. Compreender no s os outros como tambm a si mesmo, pois necessrio se auto examinar, se olhar, pois o mundo est cada vez mais devastado pela incompreenso entre os seres humanos. Este quarto saber de Morin pode ser relacionado com a ecologia das temporalidades de Boaventura de Souza Santos que contrape a monocultura do tempo linear, constituindo-se em diferentes concepes de tempo, principalmente para algumas tribos, como camponeses, comunidades africanas, indgenas, etc, pois estas acreditam que cada

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    pessoa individual ou grupos de pessoas possuem tempos diferentes para compreender e assimilar fatos/acontecimentos.

    O quinto saber refere-se a entender as incertezas, ou seja, aprender a enfrentar as incertezas, pois o que se ensina so apenas as certezas histricas e cientficas. Ensinar as incertezas incitar coragem, incentivar futuras decises que devem ser tomadas levando em conta o risco do erro e de estabelecer estratgias que possam ser corrigidas no processo de ao. Este saber tambm bem prximo a ecologia do reconhecimento, que prope a descolonizao das mentes para produzir algo que se distinga dos produtos advindos da hierarquia e s aceitar as diferenas depois que a hierarquia for descartada.

    O sexto saber ensinar a compreenso, ou seja, compreender a era planetria, os tempos modernos, a globalizao do sculo XX. Torna-se necessrio compreender que vivemos em uma era constituda por uma comunidade de destinos sobre a Terra. Como ento, compreender partes da humanidade sem chegar a uma homogeneizao, ou seja, sem destruir ou nivelar as culturas? Morin (2000) diz que conhecer nosso planeta difcil, pois os processos de todas as ordens sociais, econmicas, ideolgicas esto imbricadas e so to complexas que tornam-se um desafio para o conhecimento.

    O stimo e ltimo saber a antropotica, ou seja, a tica em escala humana que exige que desenvolvamos simultaneamente nossa autonomia pessoal, nosso individualismo, responsabilidade e participao no gnero humano. a tica que conduz os humanos a uma ideia de democracia, a tica do gnero humano com associaes no governamentais, como Mdicos Sem Fronteiras, Green Peace, etc.

    A RDIO ESCOLA E O ESPAO PARA A CONSTRUO DO SABER COLETIVO

    Estas interseces tericas com o campo da educomunicao mostram-se muito efi-cazes para analisar as propostas educomunicativas que as escolas tm trabalhado com os alunos em sala de aula. sabido que as escolas, durante muito tempo, foram conside-radas como um espao isolado da sociedade em que o aluno est inserido. Na procura por essa interao da escola com a sociedade, a comunidade escolar busca utilizar-se dos recursos que os meios de comunicao tm a oferecer. Isso faz com que o seu discente se aproxime, havendo uma comunicao de mo dupla entre a escola e o aluno.

    A aproximao entre os estudantes, a escola e as mdias escolares pode acontecer por diversas maneiras, seja atravs do rdio, do jornal, da fotografia, desenhos, histrias em quadrinhos ou atravs de um programa de televiso. A possibilidade encontrada nestas prticas a de incentivar no aluno o desenvolvimento pessoal, a capacidade de refletir criticamente o que est sendo produzido e como este processo ocorre. O projeto rdio escola, por exemplo, realizado em escolas de Ensino Fundamental e Mdio, visa que o aluno trabalhe no rdio a interdisciplinaridade e a participao, ou seja, o que est sendo ensinado em sala de aula sobre qumica, portugus, matemtica ou redao, tambm seja trabalhado no rdio e contextualizado com a sua realidade social.

    A educomunicao, neste contexto, busca um elo entre escola e comunidade, inserindo o aluno no apenas como um sujeito passivo, mas como um cidado crtico, que compreenda onde est inserido, que ele abranja o seu mundo. A autonomia, o protagonismo e o empreendedorismo juvenil so elementos essenciais estimulados pela

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    produo coletiva de comunicao. Trata-se de um tempo e espao onde a criana, o adolescente e o jovem podem exercer livremente sua criatividade e expressar seus anseios. Ele busca sua pauta, pesquisa, escreve, analisa e opina com o suporte do ambiente escolar, mas no subordinado a ele. Uma das consequncias dos processos educomunicativos a aproximao dos educadores e educandos nas conversas, ocasionando a desmistificao da figura dos educadores como nicos detentores de saber, podendo causar uma tenso inicial, pois transforma as relaes de poder e hierarquia, trazendo como ponto positivo a possibilidade de se criar novos espaos de dilogos dentro do ambiente escolar.

    O uso das mdias nas escolas, como o exerccio da rdio escolar possibilita, inclusive, interao com diversos temas. possvel realizar entrevistas sobre meio ambiente, divulgar uma competio da escola, criar campanhas para a melhoria da convivncia na escola e para a promoo de uma cultura de paz. Uma rdio escola pode, ainda, ser uma ferramenta poderosa para trabalhar o direito livre expresso e opinio. , tambm, uma estratgia para se debater a responsabilidade inerente ao exerccio desse direito com os estudantes, professores e demais pessoas da comunidade escolar.

    Para a escola implementar a sua rdio, necessrio criar um projeto que esteja de acordo com o projeto pedaggico da escola. O Programa Mais Educao2, por exemplo, disponibiliza um kit de rdio escolar que composto por uma srie de materiais de apoio atividade de comunicao na escola. So eles: aparelho microsystem; microfones que podem ser utilizados para o exerccio de rdio ao vivo e para a gravao de notcias e spots educativos; gravador digital; fones de ouvido para uso dos locutores na rdio e para gravao dos contedos e caixas de som. Na maioria das vezes, as rdios escolares funcionam no horrio do recreio, do almoo ou entre os intervalos das aulas.

    RELATOS DE WEB RDIOS NO BRASIL sabido que a escola precisa estar em sintonia com a comunidade, envolvendo

    em suas atividades, alm do corpo docente, familiares e amigos dos alunos. Com as constantes mudanas mundiais, torna-se necessrio que as escolas acompanhem a evoluo tecnolgica e as alteraes comportamentais relacionadas com o processo de ensino e aprendizagem, bem como o fluxo de informaes e conhecimento. Em detrimento disso, muitas so as Rdios Escolas que trabalham por meio da internet, transmitindo virtualmente a sua programao.

    Com o intuito de exemplificar algumas prticas educomunicativas por meio das Rdios Web, ser citado apenas algumas iniciativas adotadas por Escolas da Rede Pblica que vo ao encontro dos objetivos do presente artigo. Por saber da importncia deste tema e da diversidade de escolas que adotaram estas prticas, o assunto no ser esgotado neste captulo, e sim apresentado de maneira a elucidar o que j foi colocado.

    Um exemplo a Rdio Escola Web de So Paulo3, pioneira neste formato de rdio no Estado e oportuniza crianas e adolescentes da Rede Municipal a participar das

    2. O Programa Mais Educao, institudo pela Portaria Interministerial n 17/2007 e regulamentado pelo Decreto 7.083/10, constitui-se como estratgia do Ministrio da Educao para induzir a ampliao da jornada escolar e a organizao curricular na perspectiva da Educao Integral.Fonte: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16690&Itemid=1113. Acessado em 08 de dezembro de 2014.3. Disponvel em http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/educom/Anonimo/wr/wr.htm.. Acesso em 20 de mao de 2015.

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    produes e edies de diversos programas. A rdio faz parte do Projeto de Educomu-nicao Programa Nas Ondas do Rdio, que busca nesta iniciativa integrar as rdios escolares em um canal comunitrio de promoo do protagonismo infanto juvenil e de direito a comunicao.

    Com o intuito de complementar a formao de alunos dos cursos de Comunicao Social, a Escola de Rdio Web4, localizada no Rio de Janeiro, foi fundada em 1994 e oferece cursos presenciais e online profissionalizantes para jovens que desejam se aperfeioar nesta rea.

    Na cidade de Santa Maria, localizada no Estado do Rio Grande do Sul, algumas Escolas Pblicas implementaram em 2011 as Rdios Escolares, em parceria com a 8 CRE (Coordenadoria Regional de Educao) e contando com o apoio de um Projeto de Extenso do Curso de Comunicao Social da Universidade Federal de Santa Maria. No total foram contabilizadas 18 escolas5 que esto com o projeto em andamento, tais como: Rdio Fala Galera; Rdio Conexo CESS; Rdio Escola Revoluo Jovem; Rdio Escola Castelo Branco; Rdio CB; Rdio Voluntrios em Ao; Rdio Ruschi; Rdio Caetaninho Tribal Show, entre outras.

    Dentro deste esforo coletivo das Instituies promotoras da educomunicao que os sete saberes necessrios para a educao do futuro e as ecologias dos saberes se cruzam e se entrelaam com o exerccio da rdio escola, pois so preceitos bsicos no apenas para a vida acadmica dos estudantes, mas para a vida pessoal, para a convivncia em grupo, para a compreenso e transformao da realidade que cada indivduo est inserido.

    CONSIDERAES FINAISA rdio escola se constitui como uma prtica educomunicativa que visa a construo

    do saber, a formao cidad e crtica, que compreende o mundo a sua volta. Muitos dos preceitos fundamentais da educomunicao e da rdio escola vo ao encontro dos Sete Saberes Necessrios para a Educao do Futuro, pois o foco no somente no contedo exposto em sala de aula, nas cincias exatas ou humanas, mas se completa atravs da reflexo de que vivemos em uma sociedade e que entender as partes para compreender o todo, torna-se fundamental.

    A compreenso humana, quem somos, onde estamos inseridos, a existncia de mltiplas culturas, so saberes que Morin aborda e que dialoga com o exerccio da rdio escolar, com a inteno que os educadores esperam poder trazer para o mbito escolar e refletir com os estudantes durante suas prticas. Da mesma maneira que Boaventura de Souza Santos apresenta as Ecologias dos Saberes, pode-se fazer uma conjectura com os saberes que so desenvolvidos atravs do exerccio nos laboratrios radiofnicos, visando a compreenso e o entendimento das diferentes culturas, o saber trabalhar no coletivo, aceitar opinies contrrias e advindas a partir de um ponto de vista que baseado na realidade social e econmica de cada aluno, aceitar os diferentes tempos que cada estudante tem para assimilar as notcias e os produtos radiofnicos que esto sendo produzidos ou desconstrudos na rdio escola.

    4. Disponvel em http://escoladeradioweb.com.br/. Acesso em 20 de maro de 2015.5. A lista de Escolas Estaduais um relatrio do Projeto, constando a data de 12 de maio de 2014 como sendo a ltima atualizao das informaes.

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    Educomunicao: uma reflexo terica sobre a rdio escola

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    A proposta deste artigo era de dialogar com estes dois autores Morin e Boaventura - que trazem conceitos extremamente importantes para a melhor compreenso e a reflexo das prticas educomunicativas que utilizam diferentes mdias, em especial o meio rdio. Acredita-se que foi de grande valia a reflexo terica, pois muitos dos saberes abordados neste artigo possibilitam o cruzamento com as intenes da educomunicao.

    REFERNCIASANDRES, Sagrilo F. et al (orgs). Estudos das Mdias: do relacionamento ao engajamento nas

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    Da meritocracia na educao a uma sociedade desescolarizada

    Meritocracy in education to a society deschooled

    c A r o l i n A c A r d o s o d u t r A evA n g e l i s tA 1

    Resumo: Este excerto tenta discorrer sobre a sociedade meritocrtica e sua insero no contexto da rede de ensino. Para isso, dada uma contextualizao de como

    ocorreu esta insero, primeiramente mundial e depois no contexto brasileiro,

    considerando a hiptese de que ela foi difundida tambm pela democratizao

    do ensino. tratado tambm da meritocracia como razo para uma sensao de

    injustia, que leva a uma sociedade da desconfiana, passando pela descrena

    no sistema de ensino, at a ideia de uma sociedade desescolarizada.

    Palavras-Chave: Meritocracia, Educao, Sociedade Desescolarizada, Sociedade da Desconfiana.

    Abstract: This excerpt aims to discuss the meritocratic society and its place in the context of the school system. For it is given a context of how this insertion occurred,

    first in the world and then in the Brazilian context, considering the hypothesis that

    it was also broadcast by the democratization of the education. It is also treated of

    meritocracy as a reason for a sense of injustice, which leads to a society of distrust,

    through unbelief in the education system, until the idea of a deschooling society.

    Keywords: Meritocracy, Education, Deschooling Society, Society of Distrust.

    INTRODUO

    EMBORA SEMPRE presente no senso comum das sociedades individualistas e igua-litrias, modernas e tradicionais, a meritocracia h muito um tema que gera controvrsias (BARBOSA, 1999, p. 29), sobretudo nos sistemas de ensino. E deste incmodo que surgiu a ideia de aprofundar os estudos sobre este contexto (merito-cracia e educao) e tentar entender o porqu deste sistema me parecer to injusto.

    Temos pela definio dicionarizada de meritocracia2: predomnio numa sociedade, organizao, grupo, ocupao etc. daqueles que tm mais mritos (os mais trabalhadores, mais dedicados, mais bem dotados intelectualmente etc.). No sentido que aqui proponho, a palavra meritocracia apareceu provavelmente pela primeira vez no livro Rise of the meritocracy, de Michael Young (1958). Para Young meritocracia a caracterizao de um sistema de governo ou gesto que utiliza o mrito individual para a ascenso social e poltica. o livro de Young me interessou particularmente, pois uma das crticas que o autor fez sobre esse sistema a aluso ao fato de que as medidas referentes a esse mrito, que pode ser validado em inteligncia ou esforo, no so muito especficas e, geralmente, so arbitrrias, elegidas pela classe social ou modo de vida dominante.

    1. Mestranda na rea de Cincia da Informao (ECA-USP). Bacharel em Letras, habilitao Portugus/Alemo (FFLCH-USP) e em Licenciada em Portugus e Alemo (FE-USP), [email protected]. HOUAISS. Dicionrio eletrnico Houaiss da Lngua Portuguesa.

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    Da meritocracia na educao a uma sociedade desescolarizada

    cAROlINA cARDOSO DuTRA EVANGElISTA

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    Em minha hiptese inicial, a meritocracia funciona de maneira justa como sistema de oportunidades em tipos de comunidades reduzidas, em que as condies das pessoas costumam ser restritas de distino; dentro destes nichos, habitual que as chances das pessoas sejam similares, como, em times de futebol, ou mesmo empresas em que os profissionais tenham currculos, objetivos e aspiraes parecidos. No adentrei nesta hiptese, claro, no contexto da lgica de mercado ou da seleo que feita para que se possa atingir esse tipo de comunidade. E por isso, parto do pressuposto que no d para se trabalhar pequenos nichos como justos se a sociedade se mostra meritocrtica como um todo. Assim, acabo por renegar esta primeira hiptese e um clssico exemplo disso nosso sistema de ensino, altamente meritocrtico.

    Voltada educao, muitos defendem e concordo a hiptese de que em um sistema educacional lidamos com pessoas diferentes, e mesmo que adaptado realidade da comunidade de uma escola, de um pequeno nicho, a meritocracia no tratar a todos, necessariamente, com a igualdade e justia que ela supostamente pressupe. E muito mais, uma escola meritocrtica contribui para a propagao e d sustentao para uma sociedade baseada no sistema da meritocracia, o que, segundo Souza (2013): exacerba o individualismo e a intolerncia social, supervalorizando o sucesso e estigmatizando o fracasso, bem como atribuindo exclusivamente ao indivduo e s suas valncias as responsabilidades por seus sucessos e fracassos.

    A FUGA DA MERITOCRACIA DESENFREADA3

    O artigo de Bucci (2009a) inicia citando o filsofo Baudrillard, cujo texto inspirou o filme Matrix, dos irmos Wachowskis, que simula o planeta terra em um futuro em que a realidade fruto de um poder nico que controla todas as nossas aes. Sob essa perspectiva, vivemos em uma cena escrita e dirigida por uma mquina chamada Matrix. Os seres humanos so apenas pea de uma grande mquina e no trabalham com o pensamento realmente criativo (apesar de no saberem). Eles movem um mundo que, em realidade, no participa. Na sequncia, o artigo apresenta a teoria de Charles Darwin, a Evoluo das Espcies, que postula, basicamente, que as espcies competem entre si: a espcie que melhor se adapta sobrevive. Bucci (2009) e antes dele Jacques Lacan (tambm citado no artigo) acreditam que essa teoria pode ser lida como a aplicao do iderio liberal vida no planeta Terra, principalmente pela poca em que ela foi apresentada comunidade cientfica. A natureza, assim, seria a expresso final do liberalismo.

    Da teoria de Darwin temos uma metfora da ao capitalista. Sobrevive quem tem mais recursos para isso, assim como no capitalismo o fenmeno da hereditariedade: o capitalista acumula a riqueza e os meios de vida para sua famlia, e compete com outros pela riqueza: Por meio da ideia de que competir um valor vital, Darwin consagrou, indiretamente, a ao humana em busca da sobrevivncia (ou da riqueza) como um vetor natural, instintivo, vital (Bucci, 2009). Portanto:

    VIDA = MRITO

    3. Este tpico foi livremente inspirado no texto: Aquilo de que o humano instrumento descartvel: sensaes tericas, do Professor Dr. Eugnio Bucci. In: NOVAES, Adauto (Org.). A condio humana: as aventuras do homem em tempos de mutaes. Rio de Janeiro: Agir e So Paulo: Edies SESC SP, 2009. p. 375-394.

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    A teoria de Darwin prega, nada mais, do que a predao que acontece dia a dia no s na natureza, mas na sociedade econmica. Bucci (2009) faz ainda um paralelo: o espcime de Darwin anlogo ao empresrio de Adam Smith ... o seu laissez-faire na natureza reverbera a livre iniciativa (reverbera o prprio liberalismo).

    Contextualizando Darwin (1809-1882) em sua poca, o autor lembra que o sculo XIX foram os anos da ascenso e propagao dos direitos fundamentais, dos direitos sociais:

    Prosperaram a os valores da fraternidade e da igualdade, mas, que fique bem claro, sem a

    liberdade econmica, que supe egosmo e a ambio, a sociedade no avanar. Portanto,

    o que alguns passaram a chamar de darwinismo social , desde logo, contrabalanado

    pela vigncia de direitos fundamentais, que redundariam mais tarde tambm nos direitos

    sociais. Bucci (2009)

    Assim, no foi s a meritocracia que ascendeu naquele sculo, mas os direitos sociais tambm. Esses direitos vinham para deixar a sociedade mais igualitria, porque se fosse depender apenas da economia, em tese, sempre haveria pessoas com recursos insuficientes para a sobrevivncia. Apenas a conquista do pensar sobre esses direitos significou que a humanidade evoluiu em relao aos bichos, a conquista deles significa a evoluo para o estado civilizado. No entanto, o questionamento que fao sobre o quanto nossa sociedade realmente civilizada, o quanto os direitos sociais alcanados suprem a necessidade de uma sociedade to revigorada pelos simulacros da meritocracia?

    O SISTEMA MERITOCRTICO E A DESCONFIANA PROVOCADAEles no suprem. Mesmo com todos os direitos conquistados, continuamos sele-

    cionando e diferindo exacerbadamente. Toda a seleo de um a rejeio de mui-tos (Young, 1958). E analisando significadamente, muito difcil mensurar o que uma rejeio pode causar na individualidade do ser social, que ao nascer, segundo Freud, j castrado e vive sempre em busca do objeto de sua castrao4. Este ser nem sempre est preparado para lidar com a rejeio, e a possibilidade dessa rejeio, causada pelo sistema meritocrtico exacerbado, gera uma sensao de eterna desconfiana que nos intrnseca, que no natural, mas j nos acostumamos.

    A sociloga Claudine Haroche, em seu artigo escrito em 2010, fala da sociedade da desconfiana, em que os valores podem ser difusos e mutveis, pois se baseia no medo causado pela constante avaliao que passamos em nossas vidas, que vem des-de o nascimento at nossa morte, que no respeitam a individualidade do ser; e que homogenezam as pessoas.

    Seguindo este raciocnio, em meu ponto de vista, o sistema meritocrtico contribui para uma sociedade contrria ao que ele prope inicialmente. Em vez de justia, a sensao da falta dela que ele propaga. Muito da sensao de que a vida injusta, que temos a impresso de estar em nossa essncia pelo simples fato de sermos humanos, parece-me vir da ideia da sociedade moldada pelas questes do mrito.

    4. Para um melhor entendimento ver o texto de Eugnio Bucci e Rafael Venncio: O valor de gozo: um conceito para a crtica da indstria do imaginrio (2014).

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    A MERITOCRACIA NO CONTEXTO ESCOLARFoi na Revoluo Intelectual, que teve incio na Inglaterra em 1870, que o mrito se

    tornou rbitro decisivo na sociedade moderna ocidental em detrimento da hierarquizao de pai para filho5. Nessa poca, em vrias reas a hereditariedade foi sendo substituda pela compensao do talento. As guerras do sculo XX foram o pice da competio entre naes, e representaram grande justificativa para o princpio do mrito. Os testes de crianas de escolas elementares que entrariam no servio militar eram por mrito, pelo medo da nao perder as guerras em que estava inserida, a escola incorporou definitivamente a base meritocrtica. Muito disso foi postulado pelo pensamento tecnocrata, que diferente da meritocracia, mas muitas vezes complementar a ela, fundamentado na supremacia tcnica.

    Foi em busca do sonho de oportunidades iguais, que denunciavam a herana da propriedade intelectual que o processo de mudana social legitimou uma sociedade do mrito, que acabou apropriando seu sistema de ensino baseada nessa premissa. E minha hiptese que este sistema foi difundido pela democratizao do ensino no Brasil.

    Jos Mario Pires Azanha (2004) discorre acerca da apropriao de qualquer ideolo-gia6 sobre o ideal da democracia7, ele fala de um ponto histrico em que foi a premissa fundamental de todas as posies: a valorizao do ideal democrtico que mesmo com certas controvrsias, todos concordaram na aceitao da democracia como a mais alta forma de organizao poltica e social8 (Azanha, 2004). E por essa aceitao e pela ambiguidade da noo de democracia, ainda segundo Azanha, que a noo de ensino democrtico se distorceu. Neste perodo, os governos pelo mundo tomaram o ensino como responsabilidade sua e o disponibilizaram como obrigatrio. Em muitos pases essa democratizao atingiu um ensino pblico dito de qualidade mesmo que sirva apenas para a reproduo de um sistema, para a reproduo da sociedade do espetculo9.

    Em nome do ensino democrtico, deu-se a democratizao do ensino o ensino para todos , que se mostrou to aceitvel e tomou forma de soluo milagrosa para diversos problemas, o qual a educao estava inserida no Brasil10 principalmente como bloqueio do crescimento econmico.

    5. Ver Toledo Piza, apud Young, 1985, p. 212-213.6. Saliento aqui os postulados sobre ideologia de Louis Althusser em seu livro Aparelhos ideolgicos do estado, que olham a ideologia do plano social e so citados e didaticamente explicados por Cassian (2005) e Bucci (1997). Althusser diz: 1. A ideologia uma representao da relao imaginria dos indivduos com suas condies reais de existncia. no caso da democratizao do ensino, perceptvel como a apropriao do ideal da democracia foi determinante em como as pessoas iriam agir em sociedade (a apropriao da democracia levou a suposta democratizao de inmeras coisas); 2. A ideologia tem existncia material.: a prpria ideologia da democracia, neste exemplo, que traa o plano de ao; e 3. A ideologia interpela os indivduos enquanto sujeitos: no exemplo, a interpelao da ideologia foi tamanha, que fez com que o indivduo enquanto sujeito pensasse no coletivo.7. Para Weber, a democracia uma operao impessoal, que d condies para que o estado no seja clientelista, no seja privado, para que o estado seja administrado sem amor ou dio (Weber, 1994). 8. Azanha cita nestas aspas o estudo: McKleon, R. (Ed.) Democracy in a world of tensions (a symposium prepared by Unesco), The University of Chicago Press, 1951.9. Ver o texto O olho que vaza, de Eugnio Bucci em que o autor explica que o espetculo do mundo o trabalho.10. Veja o texto de J. Nagel citado por Azanha (2004): Educao e sociedade na Primeira Repblica, E. P. U. EDUSP, So Paulo, 1974, p. 206-207.

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    No Pas, a falcia da democratizao foi ainda maior, ainda mais ilusria do que em outros lugares. Em grande parte das abordagens das polticas pblicas, as medi-das adotadas acabaram por diminuir a qualidade do ensino, com o intuito de que se abrangesse mais pessoas. Como exemplo, cito a Reforma Sampaio Dria, instituda pelo ento diretor de instruo pblica do Estado de So Paulo em 1920 (Azenha, 2004). poca, havia a necessidade de duplicar a rede de ensino para abranger toda a popu-lao que precisava ser escolarizada, precisava-se erradicar, de uma vez por todas, o analfabetismo, sem grandes recursos financeiros para tal. Um dos principais objetos da Reforma era reorganizar o ensino bsico, que passou a ter sua obrigatoriedade no mais a partir dos sete, mas a partir dos nove anos, as sries foram concentradas e o ensino primrio passou a ter durao no mais de quatro, mas de dois anos. A Reforma, munida do ideal democrtico optou pelo mnimo para todos ao melhor para poucos. Nas palavras de Azanha (2004): Esta trivialidade do credo democrtico em educao, to facilmente aceita no plano terico, parece que causa repugnncia na prtica, porque exaspera a sensibilidade pedaggica dos especialistas preocupados com a qualidade do ensino.

    No entanto, o prprio Azanha defende a inevitabilidade e desejabilidade de planos para a educao11. Considera-a vencedora, porque hoje a exigncia de um plano educacional foi um triunfo elencado pela Constituio. Azanha extrapola suas consideraes aos planos sociais, fala sobre a necessidade de planos como uma aspirao politicamente assentada, para que se viva em sociedade necessrio os planos governamentais, e esses planos so sim outra conquista social. Hoje, por exemplo, praticamente impossvel, na nossa sociedade, um candidato se eleger sem colocar em pauta seus planos diretivos.

    No entanto, h quem tenha uma ligeira discordncia quando o caso a educao. Em Educao para alm do capital, o filsofo hngaro Istvn Mszaros critica, de certa ponto, planos como esses, apelando para concepo de educao mais vasta:

    Apenas a mais ampla das concepes de educao nos pode ajudar a perseguir o objetivo

    de uma mudana verdadeiramente radical, proporcionando instrumentos de presso que

    rompam a lgica mistificadora do capital. Essa maneira de abordar o assunto , de fato, tanto

    a esperana como a garantia de um possvel xito. Em contraste, cair na tentao dos reparos

    institucionais formais passo a passo, como afirma a sabedoria reformista desde tempos

    imemoriais significa permanecer aprisionado dentro do crculo vicioso institucionalmente

    articulado e protegido dessa lgica autocentrada do capital. Essa forma de encarar tanto os

    problemas em si mesmos como as suas solues realistas cuidadosamente cultivada e

    propagandeada nas nossas sociedades, enquanto alternativa genuna e de alcance amplo e

    prtico desqualificada aprioristicamente e descartada bombasticamente, qualificada como

    poltica de formalidades. Essa espcie de abordagem incuravelmente elitista mesmo

    quando se pretende democrtica. Pois define tanto a educao como a atividade intelectual,

    da maneira mais tacanha possvel, como a nica forma certa e adequada de preservar os

    padres civilizados dos que so designados para educar e governar, contra a anarquia

    11. AZANHA, Jos Mrio Pires. Poltica e planos de educao no Brasil: alguns pontos para reflexo. Caderno de Pesquisa, n. 85, pp. 70-78, 1993.

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    e subverso. Simultaneamente, ela exclui a esmagadora maioria da humanidade do mbi-

    to da ao como sujeitos, e condena-os, para sempre, a serem considerados como objetos (e

    manipulados no mesmo sentido), em nome da suposta superioridade da elite: meritocrtica,

    tecnocrtica, empresarial, ou o que quer que seja.

    Esta passagem de Mszaros interessante porque ele critica os processos de mudanas graduais, os quais chama de resolues realistas, dizendo que estamos conformados com elas. Ele coloca realistas entre aspas porque so realmente realistas apenas para alguns setores da sociedade. E este setores realistas desqualificam qualquer transformao social profunda, a viso elitista chama de poltica de formalidades qualquer medida mais aprofundada. Mszaros coloca este termo tambm entre aspas para transcrever um discurso comum hoje em dia: a poltica, ao ver de muitos, seria uma mera formalidade frente aos interesses do mercado.

    Mais adiante ele fala e critica a educao tecnocrata, seguida dos estudos de Gramsci, que argumentava enfaticamente, h muito tempo que no h nenhuma atividade humana da qual se possa excluir qualquer interveno intelectual o Homo faber no pode ser separado do homo sapiens.... Gramsci difere o trabalho fabril da atividade intelectual que pode ser realizada pelo ser humano, ressaltando a crtica educao tecnocrata e meritocrtica.

    Sabemos que o discurso de Mszaros, na maioria de sua obra por uma sociedade que clame por uma poltica de transio, o que fica bem explcito no subttulo de seu livro Para alm do capital: rumo a uma teoria da transio, mas entendemos que no caso da educao, o filsofo tende a ser mais radical.

    Alm disso, ainda sobre o contexto escolar, vamos ao encontro da tese da j citada pensadora Claudine Haroche: as avaliaes meritocrticas nas escolas, isto , as mais tradicionais e completas de austeridade, com notas afixadas e com modelos nicos para todos, sem distino, so tambm quantificadas por valores que no respeitam o ser humano, so uma afronta a individualidade.

    DESCRENAObservando linearmente, a diferena entre o incio e o trmino do sculo XX,

    segundo Toledo Piza (1985) que nos tempos mais recentes, vemos concretamente a luta de classes e as formas de inteligncia divididas entre essas classes como processo social, ou seja, as formas de inteligncia mais bem remuneradas economicamente, geralmente,12 pertencem aos que fazem parte das classes dominantes, dos que j detm o capital, tornando a passagem de uma classe social para outra mais difcil. Toledo Piza cita uma frase do livro de Young13 a civilizao no depende da massa slida, mas da minoria criativa, como base para explicao dessa mudana de paradigmas na deteno da inteligncia. Hoje, conseguimos observar uma tendncia intensificada desse pensamento na educao brasileira.

    12. Frisei a palavra geralmente na passagem a fim de salientar o fato de saber e assumir que h excees, que podem no ser to raras.13. YOUNG, Michael. The rise of the meritocracy (classics in organization and management series). Nova Jersey: Transaction Publishers, 1994.

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    Vemos o empobrecimento dos valores da instituio escola para seus jovens usurios, que deixam de ser agentes do sistema educacional, para se tornarem meros frequentadores, j que estar ali, muitas vezes, no representar mudanas efetivas em sua vida, pelo contrrio, representar apenas a reproduo do seu j estabelecido papel social em um sistema que precisar dele apenas como uma engrenagem, no como protagonista14. exatamente esse tipo de sociedade que Young preconiza em seu livro, baseada no conceito j defasado do QI (coeficiente de inteligncia) e do esforo individual. Uma sociedade em que No h revolues, somente o acrscimo lento de mudanas incessantes que reproduzem o passado enquanto o transformam.15 (Young, 1994).

    Soma-se a isso, que tal sensao de descrdito no sistema educacional brasileiro visvel tambm no fato de que nem o prprio sistema consegue se reproduzir por meio deste ensino defasado. A imprensa est sempre a expor notcias sobre a falta de mo de obra qualificada16, influenciando e inserindo a sensao de descrdito, mesmo que tacitamente, na opinio pblica17.

    A educao est circunscrita, hoje, e na histria do Pas como um todo, muito mais como um distanciador social do que uma escolha18. Com uma viso ainda, no incio do sculo XX, a educao demarcava os lugares do privilgio (a exemplo das Repblica das Oligarquias; o voto de cabresto, entre outros). Mudamos. Com a democratizao do ensino passamos para um estgio diferente. Mas ainda h um caminho rduo para uma escola justa.

    DESESCOLARIZAO COMO MEIOIvan Illich, pensador e polmata austraco, j no incio dos anos 1970, vai alm na

    sensao de descrdito do sistema do ensino. Ele no fala de uma sensao, sequer restringe o descrdito ao sistema educacional brasileiro, em seu Sociedade sem escolas, defende o fim da institucionalizao da sociedade: No possvel uma educao universal atravs da escola., ele diz que preconizando uma atitude em que o sujeito buscar transformar sua vida, a escola como instituio, se esvaece. O autor cita brevemente a palavra latina schola, que significa tempo ocioso, folga. Em tempos em que at o olhar e o entretenimento19 podem ser considerados fora de trabalho, em nossa sociedade moderna e supramoderna20, a folga tambm foi roubada da escola.

    14. Este jovem est estaria inserido em uma espcie de Matrix?15. E por isso, quando se faz um estudo histrico sobre derterminado assunto, muitas temos a impresso de vivermos loopings histricos.16. Veja: Falta de mo de obra especializada se agrava e atinge 91% das empresas (matria de Rene Pereira, em O Estado de So Paulo, de 12 de janeiro 2014); e Pesquisa revela que falta de mo de obra qualificada prejudica empresas (matria do Bom Dia Brasil, de 29 de outubro de 2013).17. Usando o conceito de Habermas, citado por Bucci e Venncio: opinio pblica o recurso por meio do qual a esfera pblica faz a mediao entre o estado e a sociedade. (Bucci, 2014).18. At bem pouco tempo, h 44 anos, o Brasil contava com pouco menos de cinco milhes matriculados no Ensino Mdio Veja: IBGE, Sries Estatsticas Retrospectivas, 1970; IBGE, Estatsticas da Educao Nacional, 1960-1971; INEP/MEC, Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, n. 101.19. Para saber mais, ver: Bucci, Eugnio. Em torno da instncia da imagem ao vivo. MATRIZes, ano 3, n. 1, p. 65-79, ago./dez. 2009; e O olho que vaza o olho. In: NOVAES, Adauto (org.). A experincia do pensamento. So Paulo: Edies Sesc-SP, 2010, pp. 289-321.20. Conceito de Marc Aug, que considera que ainda no ultrapassamos os tempos modernos, discordando do conceito de ps-modernidade do pensador David Harvey. Marc Aug citado por Egnio Bucci em Ubiquidade e instantaneidade no telespao pblico: algum pensamento sobre televiso. Caligrama, v. 2,

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    Para completar, Illich v a escola como forma de emburrecimento dos alunos, uma instituio que no transformadora, e sim formadora. Ser meramente formadora, em nosso tempo, acaba sendo insuficiente, j que est muito mais perto de apenas moldar os alunos para a reproduo do sistema do que para uma transformao social. Ele relaciona, sobretudo, os estudantes de baixa renda, que no Brasil so, em geral, os alunos da rede pblica de ensino:

    Muitos estudantes, especialmente os mais pobres, percebem intuitivamente o que a escola

    faz por eles. Ela os escolariza para confundir processo com substncia. Alcanado isto,

    uma nova lgica entra em jogo: quanto mais longa a escolaridade, melhores os resultados;

    ou, ento, a graduao leva ao sucesso. O aluno , desse modo, escolarizado a confundir

    ensino com aprendizagem, obteno de graus com educao, diploma com competncia,

    fluncia no falar com capacidade de dizer algo novo. (Illich, 1985)

    E no s a escola, como instituio que est fadada ao fracasso na concepo de Illich. Ele elenca tambm, em uma lgica nica, que as instituies que devem ser mantidas na sociedade so as que contribuem para para ela, no as que fazem os seres humanos agirem como dependentes. Essas instituies no transformam o ser, apenas o utilizam como forma de sua prpria manuteno.

    O autor cita o exemplo das instituies sociais que trabalham desta forma, pois em seu entendimento, esse tipo de instituio no deveria existir, pois elas s existem porque h um problema. Enxerga-se a escola assim delineada como uma dessas instituies, que hoje coloca a formao das pessoas como soluo, sendo que teria de fazer muito mais. Para Illich, a escola no consegue transformar, por conta da maneira de como est institucionalizada.

    O aprender est, afinal, muito alm da institucionalizao:

    Pobres e ricos dependem igualmente de escolas e hospitais que dirigem suas vidas, formam

    sua viso de mundo e definem para eles o que legtimo e o que no . O medicar-se a si

    prprio considerado irresponsabilidade; o aprender por si prprio olhado com descon-

    fiana; a organizao comunitria, quando no financiada por aqueles que esto no poder,

    tida como forma de agresso ou subverso. (Illich, 1985)

    COMENTRIOS FINAISO debate sobre o ensino, seja ele pblico ou privado, um assunto da esfera pblica,

    por isso a discusso sobre mudanas viveis em um sistema escolarizado e meritocrtico como o nosso sero debatidas e enfrentadas com muito mais cautela e implicar muito mais tempo, muito mais geraes do que o desejado.

    Mas o fato que no h como pensar meritocracia sem estourarmos a bolha. No vivemos tambm em uma tela de vdeo game em que esforo, sucesso e riqueza sempre parecem ser uma premiao justa. Os esforos dados por cada um so relativos, so diferentes e individuais, e isso decisivo na hora de educar e transformar nossas crianas,

    p. 1-27, 2007.

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    pois habilidade, conhecimento, importncia so valores individuais e no em valores sociais universais (direito vida, justia, liberdade, solidariedade, etc.) (Souza, 2013).

    Por isso, pensamos em uma escola cada vez mais abrangente, quanto mais fatos sociais forem aceitos por elas, mais comportamentos sociais sero considerados bem-sucedidos.

    Quando comecei a escrever este excerto j no acreditava na meritocracia implicada no sistema educacional, agora tenho dvidas tambm sobre a escolarizao como melhor maneira de transformar as pessoas.

    No entanto, sabemos que a histria da humanidade, sobretudo a histria da sociedade, feita de processos e passagens, s percorrendo um estgio, que atingiremos outro. Nossa histria fadada ao desafio constante. Assim, o processo de concepo das escolas, da criao das escolas pblicas, da democratizao da escola foram extremamente importantes. Processos esses que foram necessrios e nos levaram a pensar em uma sociedade desescolarizada, apesar de ela ser hoje quase uma utopia.

    REFERNCIASAzanha, Jos Mario Pires. Poltica e planos de educao no Brasil: alguns pontos para

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    Educomunicao como proposta metodolgica na formao em Comunicao Social

    Educommunication as a proposed methodology in Social Communication formation

    di vA so u z A s i lvA 1

    c h r i s t i A n e P i tA n g A se r A f i M d A s i lvA 2

    Resumo: Este artigo relata pesquisa em desenvolvimento sobre prticas educomunicativas no ensino superior, fruto do projeto interdisciplinar que vem sendo realizado h dois anos pelas disciplinas Comunicao e Educao e Mdias e Comunicao, que integram o currculo do Curso de Comunicao Social habilitao em Jornalismo, da Universidade Federal de Uberlndia. So objetivos da pesquisa: investigar a educomunicao como processo e metodologia na formao do saber jornalstico dos estudantes; analisar como acontece a interveno social das prticas educomunicativas e sua contribuio na formao dos sujeitos atores do processo; e investigar se as prticas sociais dos projetos contribuem para o repertrio crtico, de contedo e tecnolgico dos estudantes. Assumiu-se a pesquisa de abordagem qualitativa com procedimentos de anlise de contedo dos planos de ensino das disciplinas, dos projetos e produtos do trabalho interdisciplinar, bem como entrevistas narrativas com professores, alunos e membros da comunidade onde os projetos so desenvolvidos. As anlises iniciais apontam que o estudo e empoderamento do campo de educomunicao tm contribudo para o desenvolvimento de prticas educativas crticas em diferentes espaos e ampliado o dilogo entre educao, comunicao e mdias.Palavras-Chave: Educomunicao. Prticas Educomunicativas. Comunicao e Educao. Interdisciplinaridade. Comunicao Social.

    Abstract: This paper reports on research in developing educommunicatives practices in higher education, based to the interdisciplinary project that has been realized along two years through by the subjects: Communication and Education and Media and Communication, which form the curriculum of Social Communication Course - qualification in Journalism, from the Federal University of Uberlndia. The objectives of the research are: to investigate the educational communication as a process and methodology in the formation of journalism students; analyze how happens social intervention of educommunicatives practices and their contribution to the formation of the subjects actors in the process; and investigate whether the social practices of the projects contribute to the growing of critical repertoire, contents and technology by the students. We assumed the qualitative research with content analysis procedures of

    1. Doutora em Educao, Mestre em Comunicao Social, Graduada em Pedagogia. Professora da Universidade Federal de Uberlndia - UFU - e-mail: [email protected]. Mestre em Comunicao Social, Graduada em Design Grfico. Professora da Universidade Federal de Uberlndia UFU - e-mail: [email protected].

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    Educomunicao como proposta metodolgica na formao em comunicao Social

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    teaching plans of disciplines, projects and products of interdisciplinary work and narrative interviews with teachers, students and members of the community where the projects are developed. Initial analyzes indicate that the study and empowerment of educational communication field have contributed to the development of critical educational practices in different spaces and expanded dialogue between education, communication and media.Keywords: Educommunication. Educommunicatives practices. Communication and Education. Interdisciplinarity. Social Communication.

    EDUCAO E COMUNICAO

    OS PROcESSOS de educao e comunicao, hoje permeados pelas tecnologias miditicas, so, tambm, elementos constituintes da prtica cotidiana e deman-dam melhor entendimento. H muito j se reconhece a ao educativa como uma prtica social, concebida coletivamente numa reciprocidade estrutural, isto , numa interlocuo respeitosa entre as realidades culturais e sociais nas quais esto inseridos educadores e educandos. Nesse sentido, o saber do educando no pode ser negado, pois a construo do conhecimento conjunta. Tal perspectiva, cuja base terica principal encontra-se no trabalho de Paulo Freire (1985), refora que os homens se educam entre si e, na medida em que constroem o conhecimento e a prtica pedaggica, transformam a realidade e libertam o ser humano.

    Por outro lado, o avano das tecnologias da informao e comunicao (TICs) contribuiu com a democratizao do acesso ao ferramental de produo e publicizao de contedos (textos, sons e imagens) os mais diversos. A criao de plataformas digitais com interfaces amigveis facilitou o manuseio de softwares e a produo de contedos miditicos, que no se limita mais a profissionais da comunicao. Atualmente, qualquer indivduo, mesmo com pouca habilidade nas reas de informtica e/ou comunicao, capaz de produzir informao e disponibiliz-la na internet, seja nas redes sociais digitais, seja em sites ou blogs prprios.

    A disseminao das TICs influenciou e tm influenciado o comportamento de muitos segmentos da sociedade, alterando a maneira como as pessoas se comunicam, que em grande parte ocorre de forma mediada e interativa. A internet, por exemplo, transformou-se numa rede na qual os indivduos passaram a se conectar no s para terem acesso a informaes, mas para realizarem transaes comerciais, pesquisas, entretenimento, compartilharem contedos, interagirem, manifestarem e expressarem opinies. Castells (1999) enfatiza que a constituio das sociedades em rede vem permitindo um fluxo de informaes sem precedentes. O acesso e o compartilhamento de informaes abrem perspectivas nas mais variadas reas, incluindo a educao, pois, as novas geraes tendem a absorver conhecimento, dentro ou fora das instituies educacionais, atravs de novos suportes tecnolgicos e miditicos.

    No universo educacional, cada vez mais crescente o uso das mdias em sala de aula, seja como recurso didtico, seja como ferramentas que colaboram para a construo de um conhecimento mais amplo e multidisciplinar do aluno. O fazer pedaggico deve estimular a investigao, a reflexo, a produo do prprio conhecimento pelos alunos

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    de forma mais participativa e dinmica. Freire (1985) destaca, em sua clssica obra Extenso ou Comunicao, a importncia da participao coletiva, da troca, do dilogo e da comunicao para a arte do ensino.

    Dessa forma, a utilizao de mdias e das tecnologias digitais pelas escolas tornou-se quase um imperativo para despertar interesse nos alunos e inseri-los no processo de construo do conhecimento. Na viso de Barbosa (2010), as tecnologias digitais so recursos mediadores a serem agregados ao processo educativo e ao projeto pedaggico das escolas. E o professor passa a atuar como uma interface do processo de interao, estimulando os alunos a utilizarem tecnologias digitais no contexto da aprendizagem.

    O uso fluente e especializado dos recursos de comunicao tem modificado alguns con-

    ceitos de aprendizagem, dando destaque a uma dinmica em que o estudante demonstra

    maior autonomia para a experimentao, o improviso e a autoexpresso. Nesse sentido, a

    tecnologia se torna, igualmente, uma aliada do educador interessado em sintonizar-se com

    o novo contexto cultural vivido pela juventude (Soares, 2011, p.29).

    Numa sociedade cada vez mais midiatizada e que faz uso frequente das tecnologias digitais, percebe-se que as crianas e os jovens, principalmente, assimilam os avanos tecnolgicos paralelamente ao seu desenvolvimento educacional, acessando e compartilhando contedos a que so expostos de maneira rpida e intensa. Tal comportamento desafia profissionais de educao, comunicao e tecnologias, exigindo conformaes por parte das instituies de ensino e de seus educadores para melhor compreender a realidade social de seus alunos.

    (...) meios e tecnologias so para os mais jovens lugares de um desenvolvimento pessoal

    que, por mais ambguo e at contraditrio que seja, eles converteram no seu modo de estar

    juntos e de expressar-se. Ento, devolver aos jovens espaos nos quais possam se manifestar

    estimulando prticas de cidadania o nico modo pelo qual uma instituio educativa, cada

    vez mais pobre em recursos simblicos e econmicos, pode reconstruir sua capacidade de

    socializao. Cortar o arame farpado dos territrios e disciplinas, dos tempos e discursos,

    a condio para compartilhar, e fecundar mutuamente, todos os saberes, da informao,

    do conhecimento e da experincia das pessoas; e tambm as culturas com todas as suas lin-

    guagens, orais, visuais, sonoras e escritas, analgicas e digitais (Martn-Barbero, 2014, p.120).

    O que se apresenta neste artigo um relato da pesquisa em andamento que pretende discutir as prticas educativas do ensino superior, em especial do curso de Jornalismo, diante da revoluo tecnolgica e a relao do professor com o mundo da informao e os saberes do aluno. Partindo do pressuposto que os alunos ingressam na universidade trazendo um repertrio tecnolgico e certo domnio das ferramentas miditicas, surgem algumas inquietaes: para os alunos que j tm habilidade com as ferramentas miditicas, como aproveitar os seus saberes e estimular a produo de conhecimento? Ou melhor, numa viso freireana, como aproveitar o repertrio tecnolgico dos alunos para produzir conhecimento e potencializar a aprendizagem? E ainda, como alinhar o conhecimento e experincia do professor com os saberes do aluno no processo de aprendizagem?

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    EDUCOMUNICAOUma prtica pedaggica que, aparentemente, contribui para sanar essas inquietaes

    a educomunicao, uma conjugao entre educao e comunicao, que pretende estimular a aprendizagem, aproveitando os saberes dos alunos numa construo coletiva do conhecimento. Soares (2002, p.24) apresenta uma definio de Educomunicao como o conjunto das aes inerentes ao planejamento, implementao e avaliao de processos, programas e produtos destinados a criar a fortalecer ecossistemas comunicativos e espaos educativos presenciais ou virtuais. Articula-se a esse processo diferentes sujeitos e cenrios permeados por expresses de criatividade. Para Soares,

    os trabalhos em educomunicao tm hoje um papel fundamental em canalizar essas habili-

    dades j evidentes para a produo de mdia de qualidade, marcada pela criatividade, moti-

    vao, contextualizao de contedos, afetividade, cooperao, participao, livre expresso,

    interatividade e experimentao (Soares, 2011, p.8).

    A Educomunicao trilha o caminho apontado pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases)3 para uma educao revolucionria, que compreenda e respeite a trajetria do aluno, que caminhe no mesmo ritmo do mundo e acompanhe as transformaes ocorridas no ambiente onde o aluno se insere. Uma educao pautada pela pedagogia de projetos, pela interdisciplinaridade, buscando despertar e valorizar as habilidades e competncias. Essa concepo de educao exige ousadia e criatividade de professores e alunos, numa constante preparao pessoal que visa a soluo de problemas que surgem a partir da prpria prtica social.

    As perspectivas terico-metodolgicas desse novo campo do saber apontam para aes de interveno social. Assim, as aes oriundas dos projetos so reunidas em seis reas de interveno: educao para a comunicao; expresso comunicativa atravs das artes; mediao tecnolgica nos espaos educativos; pedagogia da comunicao; gesto da comunicao nos espaos educativos; e reflexo epistemolgica sobre a prpria prtica.

    A prxis social a essncia das prticas educomunicativas, isto , para a educomu-nicao no importa o ferramental tecnolgico ou a mdia utilizada, mas se o processo de mediao promove o dilogo social e educativo. De acordo com Martn-Barbero (apud SOARES, 2011, p. 43), o desafio que o ecossistema comunicativo coloca para a educao no se resume apenas apropriao de um conjunto de dispositivos tecnolgicos (tec-nologias da educao), mas aponta para a emergncia de uma nova ambincia cultural. Na verdade, interessa educomunicao o uso que as audincias/receptores dos meios de comunicao fazem dos contedos compartilhados, como reagem e articulam as informaes e ressignificam o seu cotidiano e as suas relaes sociais.

    desse encontro de sujeitos busca da significao do significado, momento particular de

    ativao dos princpios da reciprocidade, ou da retroalimentao, que os atos comunicati-

    vos ganham efetividade, conquanto sustentados por mediadores tcnicos ou dispositivos

    amplificadores do que est sendo enunciado (Citelli e Costa, 2011, p. 64).

    3. Ver em BRASIL. MINISTRIO DA EDUCAO E CULTURA. Lei das Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Braslia, 1996. Disponvel em: . Acesso em: 15 ago. 2014.

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    O carter transformador da educomunicao consiste em possibilitar o acesso dos jovens ao mundo da comunicao e de suas tecnologias, dentro de uma perspectiva a servio do bem comum e da prtica da cidadania (SOARES, 2011). Os projetos educo-municativos estimulam a criatividade dos jovens, ampliam o vocabulrio, instigam a participao e a viso crtica do mundo. Ou seja, a educomunicao processo de aprendizagem que parte dos saberes e fazeres que o aluno traz consigo, coloca-o em contato com outros saberes e, por meio da prtica social (aes de interveno social), busca ressignificar esses saberes e fazeres.

    Ao vislumbrar a educomunicao como uma metodologia aplicada formao de jovens jornalistas, surgem outras questes: de que forma as prticas sociais redefinem o repertrio tecnolgico? E mais, essas prticas sociais provocam alguma interveno no curso, nas prticas educativas? Dessa forma, aponta-se uma hiptese: se a educomu-nicao, como prtica educativa e social, parte do pressuposto que os alunos possuem repertrios e habilidades (saberes e fazeres), ento a formao do saber jornalstico ocorre pelas ressignificaes dos saberes por meio das relaes sociais estabelecidas no processo da aprendizagem. Da, a pergunta norteadora desta pesquisa: possvel a educomunicao perpassar a formao do saber jornalstico, implicando numa meto-dologia, como forma de absorver o repertrio tecno-miditico dos alunos, estimular o aprendizado, a criatividade, a viso crtica, e promover uma interveno social por meio dos projetos educomunicativos?

    PRTICA EDUCOMUNICATIVA COMO PROPOSTA METODOLGICAA proposta desta pesquisa buscar respostas s inquietaes aqui expostas,

    analisando as prticas educomunicativas que ocorrem no curso de Comunicao Social - Jornalismo da Universidade Federal de Uberlndia (UFU), em Uberlndia/MG. O curso foi escolhido por possuir em sua gnese a interface com a educao, pois est instalado na Faculdade de Educao (FACED). O projeto pedaggico do curso indica que a relao entre educao e comunicao no apenas institucional, mas vivenciada na prtica. No primeiro perodo, ofertada a disciplina Comunicao e Educao que, juntamente com a disciplina Mdias e Comunicao, realiza um trabalho interdisciplinar em que os alunos experimentam as prticas educomunicativas e desenvolvem um trabalho educomunicativo em ambientes escolares ou comunidades, grupos sociais ou culturais.

    A relao com as duas disciplinas, Comunicao e Educao e Mdias e Comunicao, de forma interdisciplinar tem possibilitado o desenvolvimento de postura crtica de conhecimento, pois relaciona teoria e prtica a partir do envolvimento com uma realidade e a construo coletiva e cooperativa de compreenso dessa realidade a partir de uma interveno educomunicativa. uma vivncia de uma proposta metodolgica que os graduandos tm a possibilidade de se envolverem como atores tambm desse processo. As ementas das disciplinas esto assim constitudas atravs das respectivas Fichas de Disciplinas (PPC, 2009).

    Comunicao e Educao

    A demanda do mundo contemporneo por educao e comunicao. A constituio do

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    Educomunicao como proposta metodolgica na formao em comunicao Social

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    campo de estudos da Educomunicao. A interface educao/comunicao e seus reflexos

    nas prticas educativas e na formao de professores.4

    Mdias e Comunicao

    Conceitos de Comunicao e suas reas de confluncia. Introduo conceitual sobre Jorna-

    lismo, Publicidade, Rdio e TV, Relaes Pblicas e sobre as mdias impressas, eletrnicas

    e digitais. Jornalismo e Responsabilidade Social. Os meios de comunicao e o jornalismo

    no Brasil. Introduo linguagem Jornalstica.5

    O objetivo principal desse trabalho interdisciplinar despertar no aluno a conscincia da interveno social da prtica jornalstica por meio da educomunicao, considerando suas habilidades e competncias. Esse trabalho contempla um dos mbitos da educomunicao na prtica educativa ao propor que os educandos se apoderem das linguagens miditicas, ao fazer uso coletivo e solidrio dos recursos da comunicao tanto para aprofundar seus conhecimentos quanto para desenhar estratgias de transformao das condies de vida sua volta (SOARES, 2011, p.19).

    Diante do objeto de investigao, a abordagem de pesquisa que melhor dialoga com os propsitos apresentados a qualitativa. Bogdan e Biklen (1994) afirmam que a investigao qualitativa exige que o mundo seja examinado com a idia de que nada trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreenso mais esclarecedora do nosso objeto de estudo (p. 49). Denzin e Lincoln (2006) afirmam que a pesquisa qualitativa consiste em um conjunto de prticas materiais e interpretativas que do visibilidade ao mundo.

    Nesse nvel, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista, interpretativa,

    para o mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenrios

    naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenmenos em termos dos significados que

    as pessoas a eles conferem. (Denzin e Lincoln, 2006, p.17).

    Metodologicamente a pesquisa tem se firmado nessas bases qualitativas e pro-cedimentos de anlise de contedo do Projeto Pedaggico do Curso, dos Planos das Disciplinas, da Proposta Educomunicativa e o desenvolvimento dessas etapas durante o semestre letivo. Segundo os procedimentos a serem adotados, a pesquisa documental, pois dever consultar documentos que ainda no receberam um tratamento analtico, mas que so relevantes para cumprir os objetivos propostos (GIL, 2008). Para Bardin (2002, p. 38) a anlise de contedo um conjunto de tcnicas de anlise das comunica-es que utilizam procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens. Assim, esto sendo consultados os seguintes documentos: as Diretrizes Curriculares dos cursos de Jornalismo (BRASIL, 2014), o Projeto Pedaggico do Curso de Jornalismo da UFU, os planos de ensino e cronogramas das disciplinas envolvidas nas prticas educomunicativas, o roteiro dos projetos e os produtos educomunicativos resultantes do processo. Os mesmos tm sido analisados no sentido de compreender o

    4. Ficha de Disciplina Comunicao e Educao no Projeto Pedaggico do Curso. Disponvel em: http://www.faced.ufu.br/sites/faced.ufu.br/files/Ficha%20de%20Disciplina%20comunica%C3%A7%C3%A3o%20e%20educa%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 01 de maro de 2015.5. Ficha de Disciplina Mdias e Comunicao no Projeto Pedaggico do Curso. Disponvel em http://www.faced.ufu.br/sites/faced.ufu.br/files/1P_midias_comun.pdf. Acesso em: 01 de maro de 2015.

    http://www.faced.ufu.br/sites/faced.ufu.br/files/Ficha de Disciplina comunica%C3%A7%C3%A3o e educa%C3%A7%C3%A3o.pdfhttp://www.faced.ufu.br/sites/faced.ufu.br/files/Ficha de Disciplina comunica%C3%A7%C3%A3o e educa%C3%A7%C3%A3o.pdfhttp://www.faced.ufu.br/sites/faced.ufu.br/files/Ficha de Disciplina comunica%C3%A7%C3%A3o e educa%C3%A7%C3%A3o.pdfhttp://www.faced.ufu.br/sites/faced.ufu.br/files/1P_midias_comun.pdfhttp://www.faced.ufu.br/sites/faced.ufu.br/files/1P_midias_comun.pdf

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    Educomunicao como proposta metodolgica na formao em comunicao Social

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    processo da Educomunicao como proposta metodolgica na formao em Comuni-cao Social. A partir desses dados categorias tm emergido para que auxilie melhor no processo investigativo, em consonncia com os objetivos propostos.

    A partir dessas anlises procedem-se as entrevistas narrativas onde os envolvidos se constituem a partir das narrativas. Para Bolvar (2001, p.220), a narrativa uma estrutura central no modo como os seres humanos constroem o sentido. O curso da vida e a iden-tidade pessoal so vividos como uma narrao. Esse procedimento compreende mais diretamente os envolvidos no processo educomunicativo na tentativa de compreender como ocorre o processo, em que medida h a ressignificao dos saberes e fazeres dos alunos, ou seja, em qu os projetos educomunicativos, como processo de aprendizagem, acrescentam/modificam os seus saberes. Da mesma forma sero entrevistados alguns membros das comunidades onde so realizados os projetos, para saber se ocorreu e em que medida ocorreu a interveno social.

    Um procedimento paralelo a entrevista em profundidade no sentido de uma con-versao orientada, em que os objetivos e os procedimentos metodolgicos devem ser bem definidos para validar as informaes coletadas. Trata-se de uma tcnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informaes, percepes e experincias de informantes para analis-las e apresent-las de forma estruturada (DUARTE e BAR-ROS, 2012, p.62). Essa tcnica foi escolhida justamente pela flexibilidade e por explorar ao mximo determinado tema, permitindo ao entrevistado liberdade para abordar os temas investigados. Dessa forma, pretende-se entrevistar o (a) coordenador (a) do curso de Jornalismo da UFU e os professores das disciplinas que utilizam a prtica educomunicativa para compreender como se estabelece a interface entre educao e comunicao, como so planejados e elaborados os projetos educomunicativos, e quais so os resultados esperados dessa prtica. Todos os procedimentos contemplam as questes ticas de pesquisa.

    As entrevistas narrativas e em profundidade procuram investigar e compreender a educomunicao como processo e metodologia na formao do saber jornalstico dos estudantes. Saberes mobilizados e articulados com outros conhecimentos, bem como perceber se as prticas sociais dos projetos contribuem para o repertrio crtico, de con-tedo e tecnolgico dos estudantes. Para Bruner (1997, p. 34), a narrativa um modo de pensamento, pois ela se apresenta como princpio organizador da experincia humana no mundo social, do seu conhecimento sobre ele e das trocas que ele mantm.

    Os procedimentos em movimento tendem a levar compreenso do cenrio educomunicativo de forma mais ampla, requerendo dos pesquisadores uma imerso no campo e na anlise de como acontece a interveno social das prticas educomunicativas e sua possvel contribuio na formao dos sujeitos atores do processo.

    CONSIDERAES A educomunicao, uma interface entre educao e comunicao, contribui para uma

    educao revolucionria, que compreenda e respeite a trajetria dos sujeitos envolvidos e promova ressignificaes dos seus saberes, pois, as prticas educomunicativas pretendem estimular a aprendizagem, aproveitando os saberes dos sujeitos numa construo coletiva do conhecimento.

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    Educomunicao como proposta metodolgica na formao em comunicao Social

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    A educomunicao possui, em sua essncia, pressupostos que visam superar possveis limites conceituais entre as reas da educao e da comunicao, configurando-se como a interface entre estes campos. A educao enquanto ao comunicativa um fenmeno que permeia todas as maneiras de formao de um ser humano e, assim, sob a mesma tica, toda ao de comunicao tem, potencialmente, uma ao educativa. Nesse sentido, a construo de uma comunicao dialgica e participativa no ambiente educacional, pautada em uma eficaz gesto compartilhada por rgos governamentais, administrao escolar, docentes, alunos e a comunidade abre oportunas perspectivas de melhoria motivacional e de fortalecimento dos laos entre alunos e professores ao longo do processo de aprendizagem.

    A investigao em desenvolvimento, a partir da anlise inicial de documentos e primeiras imerses em campo, tem revelado que os estudos e o empoderamento do campo de educomunicao tm contribudo para o desenvolvimento de prticas educativas crticas em diferentes espaos e ampliado o dilogo entre educao, comunicao e tecnologias da informao e comunicao.

    Os estudantes do curso de Comunicao Social da UFU tm vivenciado h pelo menos dois anos a proposta educomunicativa e as vivncias tm possibilitado um desenvolvimento crtico e formativo para todos os atores do processo. A pesquisa continua e pretende contribuir no cenrio de processos educomunicativos como proposta metodolgica no ensino superior.

    REFERNCIAS Barbosa, R. M. (2010). Ambientes virtuais de aprendizagem. So Paulo: Penso.Bardin, L. (2002). Anlise de contedo. Lisboa: Edies 70. Bogdan, R. C.; Biklen, S. K. (1994). Investigao Qualitativa em Educao. Traduo Maria J. A.;

    Sara B. S. e Telmo M. B. Porto: Porto Editora.Bolvar, A. (2001). Profisso Professor: o itinerrio profissional e a construo da escola. Porto

    Alegre: EDIPUCRS.Brasil. Ministrio da Educao e Cultura. (1996). Lei das Diretrizes e Bases da Educao Nacio-

    nal. Braslia. Recuperado em 15 de agosto, 2014, de: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf

    Brasil. Ministrio da Educao e Cultura.(2013). Conselho Nacional de Educao. Cmara de Educao Superior. Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduao em Jornalismo, bacharelado. RESOLUO n 1, de 27 de setembro de 2013.

    Bruner, J. (1997). Atos de significao. Traduo por Sandra Costa. Porto Alegre: Artmed.Castells, M. (1999). A sociedade em rede a era da informao: economia, sociedade e cultura

    volume 1. So Paulo: Paz e Terra.Citelli, A. O.; Costa, M. C. C. (Org.). (2011). Educomunicao: Construindo uma nova rea de

    conhecimento. 2. ed. So Paulo: Paulinas.Denzin, N. K.; Lincoln, Y. S. (2006). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens.

    Porto Alegre: Artmed.Duarte, J.; Barros, A. (Org.). (2012). Mtodos e Tcnicas de Pesquisa em Comunicao. 2. ed. So

    Paulo: Atlas.

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    Comunicao, Cultura e Mdias Sociais XIV Congresso Internacional de Comunicao Ibercom 2015 Anais

    Educomunicao como proposta metodolgica na formao em comunicao Social

    DIVA SOuzA SIlVA chRISTIANE PITANGA SERAfIM DA SIlVA

    Freire, P. (1985). Extenso ou Comunicao? 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.Gil, A. C. (2008). Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. So Paulo: Atlas. Martn-Barbero, J. (2014). A comunicao na educao. So Paulo: Contexto. Soares, I. O. (2011). Educomunicao: O conceito, o profissional, a aplicao. Contribuies

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    nicao Social: Jornalismo. Uberlndia, MG. Recuperado em: 15 de fevereiro, de 2015, de: http://www.faced.ufu.br/graduacao/comunicacao-social/projeto- pedagogico

    http://www.faced.ufu.br/graduacao/comunicacao-social/projeto- pedagogico

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    Comunicao, Cultura e Mdias Sociais XIV Congresso Internacional de Comunicao Ibercom 2015 Anais

    Comunicao Pblica, Educao e Cidade Educadora

    Public Communication, Education and City Educator

    P r i s c i l A A n AyA d A s i lvA P i vAt o 1

    Resumo: A comunicao pblica caminha de mos dadas com a educao

    instruindo e orientando os novos cidados, educandos, que constroem novas

    maneiras de se relacionar. O poder pblico precisa agilidade para acompanhar

    a imediata atualizao de novos conceitos e informaes. Desafio constante para

    uma esfera conhecida por sua morosidade, que muitas vezes desacreditada e

    recolhida insignificncia quando o assunto eficincia. Surge como opo de

    poltica pblica o conceito de Cidade Educadora, modelo de gesto em que muni-

    cpios tomam para si a responsabilidade de proporcionar aos cidados acesso e

    permanncia educao garantindo assim, desenvolvimento humano e social.

    O municpio de Santos adota a ideia de Cidade Educadora como poltica pblica.

    Palavras Chave: Comunicao Pblica, educao, cidade educadora, poltica pblica, espao pblico.

    Abstract: The public communication goes hand in hand with education

    instructing and guiding the new citizens, students, building new ways of

    relating. The government needs agility to monitor the immediate update of

    new concepts and information. Constant challenge for a ball known for its

    slowness, which is often discredited and retracted into insignificance when it

    comes to efficiency. Arises as a public policy option the concept of Educating City,

    management model in which municipalities take on the responsibility to provide

    citizens access to education and permanence thus ensuring human and social

    development. The city of Santos adopts Educating City of idea as public policy.

    Keywords: Public Communication, education, educating city, public policy,

    public space.

    A cIDADE DE Santos ocupa hoje o 6 lugar no IDHM - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal, de acordo com o Pnud, rgo das Naes Unidas que realiza a pesquisa mediante dados do IPEA e do IBGE. O IDHM de Santos de 0,840, em 2010, considerado muito alto (IDHM entre 0,8 e 1)2. Entre 2000 e 2010, a dimenso que mais cresceu em termos absolutos em Santos foi a da Educao (com crescimento de 0,093), seguida por Longevidade e por Renda.

    A poltica educacional de uma cidade interfere na qualidade de vida dos cidados. No caso do municpio de Santos, destaca-se a participao na Associao Internacional

    1. Mestranda em Educao pela UNISANTOS, especialista em Gesto Empresarial tambm pela UNISANTOS e Relaes Pblicas pela UNIFACS. Email:[email protected]. http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/santos_sp#idh

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    comunicao Pblica, Educao e cidade Educadora

    PRIScIlA ANAyA DA SIlVA PIVATO

    Comunicao, Cultura e Mdias Sociais