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*Grupos de baleia são definidos

como um ou mais indivíduos

próximos, navegando na mesma

direção, geralmente exibindo

comportamentos similares [4].

Uma jornada de ≈4.000km que culmina no nosso litoral, após quatro meses se alimentando no verão Antárctico. Hoje, a

população de jubartes que migra para a costa leste da América do Sul (estoque reprodutivo A) é composta por cerca de

≈25.000 baleias [1], que ocupam desde São Paulo até o Rio Grande do Norte [2]. Apesar da ampla distribuição, a maior

concentração de indivíduos é encontrada no Banco dos Abrolhos, provavelmente devido às características singulares

desta região: águas quentes, calmas e rasas, bastante convenientes para um berçário [3,4], desde 1983 protegida pelo

Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, quando a caça baleeira ainda era permitida no Brasil (proibida apenas em 1986).

ABROLHOSe as baleias-jubarte brasileiras

Na porção centro-norte do Banco dos

Abrolhos, o Parque dos Abrolhos protege o

Arquipélago de mesmo nome. Localizado no

epicentro da área reprodutiva, a navegação

até as ilhas oferece uma oportunidade rara

para a observação de baleias-jubarte

(whale watching). Durante esta experiência,

nos sentimos  imersos  em um 'mar de

baleias', onde presenciamos um amplo

repertório de comportamentos destas

gigantes: desde vigorosos movimentos

competitivos, até delicados momentos

maternos entre mães e recém-nascidos que

descobrem o Oceano ao seu redor.

O Whale Watching é uma prática de turismo sustentável, portanto cada visitante

que passa por aqui contribui para a conservação das baleias. Felizmente, o

monitoramento de visitas do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (abaixo)

mostra que cada vez mais as pessoas estão buscando esta experiência.

Além do caldeirão de sentimentos provocado pelas baleias, Abrolhos é também um local único para a geração de conhecimento.

Monitoramentos sistemáticos do Projeto Baleia Jubarte no entorno do Arquipélago revelam a quantidade de grupos de baleiasavistados no pico da temporada reprodutiva:

PARQUE NACIONAL MARINHO DOS ABROLHOS MINUTO ABROLHOS - MAIO | 2020

Estamos no final de maio e, enquanto o

mundo desacelera diante de uma

pandemia, as baleias-jubarte chegam à

costa brasileira para o início da

temporada reprodutiva de 2020.

Daniel Venturini - bolsista GEFMar PARNAM Abrolhos

Foto: ECO360

Foto: IBJ

Gráfico 1. Número de visitas por mês ao PARNAM Abrolhos, no período de 2015-2019.

Gráfico 2.  Número de grupos de baleias*

amostrados pelo PBJ ao longo de cinco

temporadas de monitoramento.

A linha em amarelo indica o número médio de

grupos amostrados por dia durante os meses de

pico em cada ano (julho, agosto e setembro).

# b

ale

ias

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A recuperação das populações de baleia-jubarte em todo o mundo, após a proibição da caça comercial, é reconhecida como um

exemplo emblemático de sucesso da conservação. A cidade de Caravelas-BA, que em meados do século XIX foi um dos pólos

baleeiros no país [8], hoje é a porta de entrada para o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. As baleias passaram a ser

valorizadas vivas, e o turismo de whale watching beneficia toda a região da Costa das Baleias, no extremo sul da Bahia. Em 2016,

o status de ameaça das baleias-jubarte foi revisado pela International Union for Conservation of Nature (IUCN), agora classificada

como ‘pouco preocupante’ [9] - deixando a lista de espécies ameaçadas, uma grande conquista para a conservação.

A pandemia do Covid-19 marcou 2020 de incertezas: as baleias estão por chegar, e não sabemos como será a temporada que

se inicia tipicamente em julho e vai até novembro. Em todo caso, uma coisa é certa: o mar de Abrolhos logo estará repleto de

baleias. Caravelas se consolida, ano após ano, como um dos destinos mais incríveis do  mundo para a observação destes

animais magníficos e carismáticos. O turismo de whale watching representa a valorização destes animais vivos, em detrimento

de séculos de massacre com a caça comercial. A baleia é um símbolo, agente direto da conservação do Oceano - seja

desempenhando seu papel ecológico, seja despertando a consciência de quem se sensibiliza com estes encontros.

Mas não foi sempre assim. As baleias-jubarte foram

caçadas até a beira da extinção no século XX -

marcando a maior evento de exploração da vida

selvagem na história humana [6]. As baleias jubarte do

Brasil foram capturadas tanto nas áreas de alimentação

quanto de reprodução, em números na ordem de dezenas

de milhares de indivíduos [7]. Abrolhos guarda as marcas

desta exploração, seja nos ossos enterrados, nas casas

coloniais construídas com óleo de baleia, tachos e arpões

remanescentes, ou ainda nos nomes de locais como a

Praia dos Caldeiros, no Arquipélago dos Abrolhos.

Estimadas em ≈35.000 indivíduos no período anterior à

caça comercial, esta população foi dizimada à menos de

10% deste número, que se manteve baixo por pelo menos

4 décadas após a proibição da caça em 1986 e cresceu

exponencialmente a partir da década de 90 [1].

REFERÊNCIAS[1] Zerbini A.N., et al. (2019). Assessing the recovery of an Antarctic predator from historical

exploitation. R. Soc. open sci.

[2] Bortolotto, G. A., et al. (2016). Whale, Whale, Everywhere: Increasing Abundance ofWestern South Atlantic Humpback Whales (Megaptera novaeangliae) in Their WinteringGrounds. PloS one, 11(10).[2]

[3] Martins, C.C.A., et al. (2001). Aspects of habitat use patterns of humpback whales in theAbrolhos Bank, Brazil, breeding ground. Memoirs of the Queensland Museum 47(2). Brisbane.

[4] Corkeron, P.J. and Connor, R.C. (1999), Why do Baleen Whales Migrate? Marine Mammal

Science, 15: 1228-1245.

Foto: Acervo New Bedford Whaling Museum

Foto: ECO360 Foto: IBJ Foto: ECO360

Foto: IBJ

Gráfico 3. Trajetória da população "A" de baleias-jubarte - costa leste da

América do Sul - (em cinza), e números de baleias capturadas durante a caça

comercial (vermelho). A série histórica cobre desde o período pré-caça, até

estimativas para o crescimento populacional até 2030. Fonte: Zerbini et al. 2019.

[5] Félix, F. (2004) Assessment of the level of surface activity in humpback whales during the

breeding season. The Latin American Journal of Aquatic Mammals 3(1): 25-36.

[6] Clapham, P.J. 2016. Managing leviathan: Conservation challenges for the great whalesin a post-whaling world. Oceanography 29(3):214–225.

[7] de Morais I.O.B., et a. (2017) From the southern right whale hunting decline to thehumpback whaling expansion: a review of whale catch records in the tropical westernSouth Atlantic Ocean. Mammal Rev 47:11−23.

[8] Hartt CF (1870) Geology and physical geography of Brazil. Fields Osgood, Boston.

[9] IUCN (International Union for Conservation of Nature) (2016) IUCN Red List of ThreatenedSpecies, Version 2016.

PARQUE NACIONAL MARINHO DOS ABROLHOS MINUTO ABROLHOS - MAIO | 2020

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Rota Migratória. Caminho percorrido pela população 'A' de baleias-jubarte, na costa leste da América do Sul. Os indivíduos passam o verão Antártico se alimentando nos

arredores das ilhas Geórgia e Sanduíche do Sul, e migram para a costa brasileira nos meses de inverno, onde se reproduzem e têm seus filhotes. Os estados demarcados em

vermelho (RJ e RN) marcam os limites sul e norte da distribuição das baleias. O Banco dos Abrolhos representa a área de maior concentração de indivíduos.

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