Parnasianismo

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Parnasianismo Brasileiro Leia o texto abaixo para responder a questão 01. “O Parnasianismo foi outra vítima da Inteligência do século XIX. Foi essa Inteligência que construiu a prisão onde quis encarcerar o poeta. Preso, o poeta era obrigado a esmagar seus sentimentos sublimes, a deformar suas idéias, a cortar, diminuir, fazer o que não queria, porque à porta vigiavam carcereiros terríveis com pencas de chave de ouro à cintura. Coitado de quem dizia o que queria, e como queria! Era preciso medir as idéias como se medem fazendas* nas lojas de turco. (...) Foi na prisão sem ar que morreu o Parnasianismo. Não há prisioneiro encarcerado, convicto, arrastando correntes, que não queira romper cadeias, fugir, bradando um grito de liberdade... Esse grito foi o verso livre. ” (Rubens Borba de Morais, em 1922) Vocabulário: * tecidos 01. Que metáforas ou expressões o autor utiliza para criticar o Parnasianismo? Grife-as e, com base em seus conhecimentos sobre a estética parnasiana, interprete as referências que Rubens Borba utiliza em sua crítica. A primeira metáfora que sustenta a crítica à estética parnasiana é a comparação implícita entre o poeta parnasiano e um prisioneiro: “Foi essa Inteligência que construiu a prisão onde quis encarcerar o poeta.”. Segundo Rubens Borba, o Parnasianismo “aprisionou” o poeta em sua estética, pois o mesmo foi desprovido da liberdade de compor. Para compreendermos a metáfora, é preciso recorrer ao conceito de “arte pela arte”, que pregava a perfeição estética, a rigidez da métrica e o vocabulário objetivo e rebuscado como requisitos essenciais à beleza. Ainda aproveitando a metáfora da prisão, Rubens Borba ironiza o apego aos metais preciosos e às suntuosidades clássicas em “à porta vigiavam carcereiros terríveis com pencas de chave de ouro à cintura”. A segunda metáfora é construída no seguinte período: “Era preciso medir as idéias como se medem fazendas* nas lojas de turco.”. Aqui, o crítico associa o raciocínio extremamente lógico e o rigor métrico dos sonetos e dos versos alexandrinos à prática de medir tecidos, ou seja, Rubens Borba afirma que o poeta parnasiano media os seus versos e os seus pensamentos, como os donos de lojas medem tecidos. Ao final, o crítico retorna à metáfora da prisão, ao afirmar que, na carceragem em que se fechou, o Parnasianismo morreu sufocado e que, quase como consequência natural dessa prisão, surgiu o desejo de liberdade e essa libertação foi concretizada com a consagração do verso livre. Para compreender a finalização da crítica, é preciso recorrer ao contexto literário do Modernismo brasileiro, que tinha como principal reivindicação o fim da superficialidade e do perfeccionismo estético pregados pelos parnasianos. Leia o poema abaixo para responder as questões 02. Literatura – Profa. Érica –2º Médio- 1º Trimestre de 2011 1

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Parnasianismo Brasileiro

Leia o texto abaixo para responder a questão 01.

“O Parnasianismo foi outra vítima da Inteligência do século XIX. Foi essa Inteligência que construiu a prisão onde quis encarcerar o poeta. Preso, o poeta era obrigado a esmagar seus sentimentos sublimes, a deformar suas idéias, a cortar, diminuir, fazer o que não queria, porque à porta vigiavam carcereiros terríveis com pencas de chave de ouro à cintura. Coitado de quem dizia o que queria, e como queria! Era preciso medir as idéias como se medem fazendas* nas lojas de turco. (...) Foi na prisão sem ar que morreu o Parnasianismo. Não há prisioneiro encarcerado, convicto, arrastando correntes, que não queira romper cadeias, fugir, bradando um grito de liberdade... Esse grito foi o verso livre. ” (Rubens Borba de Morais, em 1922)

Vocabulário: * tecidos

01. Que metáforas ou expressões o autor utiliza para criticar o Parnasianismo? Grife-as e, com base em seus conhecimentos sobre a estética parnasiana, interprete as referências que Rubens Borba utiliza em sua crítica.

A primeira metáfora que sustenta a crítica à estética parnasiana é a comparação implícita entre o poeta parnasiano e um prisioneiro: “Foi essa Inteligência que construiu a prisão onde quis encarcerar o poeta.”. Segundo Rubens Borba, o Parnasianismo “aprisionou” o poeta em sua estética, pois o mesmo foi desprovido da liberdade de compor. Para compreendermos a metáfora, é preciso recorrer ao conceito de “arte pela arte”, que pregava a perfeição estética, a rigidez da métrica e o vocabulário objetivo e rebuscado como requisitos essenciais à beleza. Ainda aproveitando a metáfora da prisão, Rubens Borba ironiza o apego aos metais preciosos e às suntuosidades clássicas em “à porta vigiavam carcereiros terríveis com pencas de chave de ouro à cintura”.

A segunda metáfora é construída no seguinte período: “Era preciso medir as idéias como se medem fazendas* nas lojas de turco.”. Aqui, o crítico associa o raciocínio extremamente lógico e o rigor métrico dos sonetos e dos versos alexandrinos à prática de medir tecidos, ou seja, Rubens Borba afirma que o poeta parnasiano media os seus versos e os seus pensamentos, como os donos de lojas medem tecidos. Ao final, o crítico retorna à metáfora da prisão, ao afirmar que, na carceragem em que se

fechou, o Parnasianismo morreu sufocado e que, quase como consequência natural dessa prisão, surgiu o desejo de liberdade e essa libertação foi concretizada com a consagração do verso livre. Para compreender a finalização da crítica, é preciso recorrer ao contexto literário do Modernismo brasileiro, que tinha como principal reivindicação o fim da superficialidade e do perfeccionismo estético pregados pelos parnasianos.

Leia o poema abaixo para responder as questões 02.

Vaso Chinês, de Alberto de OliveiraEstranho mimo aquele vaso! Vi-o, Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado, Nele pusera o coração doentio Em rubras flores de um sutil lavrado,

Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura, Quem o sabe?... de um velho mandarim Também lá estava a singular figura.

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, Sentia um não sei quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa.

02.Com base na interpretação do poema, analise abaixo:

a) Os aspectos formais e temáticos que são característicos da poesia parnasiana.

Vaso Chinês é um poema tipicamente parnasiano. Quanto a sua forma, é possível observar o rigor métrico (versos decassílabos) e estético, pois o poema é um soneto; o perfeccionismo também presente nas rimas ricas e preciosas, como no par “vi-o” e “luzidio”

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(1º e 3º versos da 1ª estrofe); o preciosismo, que pode ser observado nos hipérbatos, sobretudo na 3ª estrofe, no enjamement, em praticamente todas as estrofes, e no vocabulário rebuscado. Quanto ao aspecto temático, é possível antever o caráter descritivo do poema, que retrata de modo objetivo um vaso chinês, bem como o apego a objetos de arte, característica típica do conceito de “arte pela arte”, compartilhado pelos poetas dessa estética.

b) Um exemplo de enjambement. “Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, Sentia um não sei quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa..”

Na estrofe acima, o enjambement ou encadeamento sintático é usado como técnica para atribuir preciosidade ao poema. Como é possível observar, ocorre a distribuição dos complementos sintáticos em versos distintos: o sujeito “A gente”, no 1º verso, está separado de seu predicado “sentia um não sei quê”, no 2º verso, configurando, assim, o enjambement.

Leia os poemas abaixo para responder as questões de 03 a 05.

Poema 01

Profissão de fé...Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso, Por tão subtil,Possa o lavor lembrar de um vaso De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo, O olhar atento,A trabalhar, longe de tudo O pensamento.

Porque o escrever - tanta perícia, Tanta requer,Que oficio tal... nem há notícia De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena Segue esta norma,Por te servir, Deusa serena, Serena Forma!

Deusa! A onda vil, que se avoluma

De um torvo mar,Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma Deixa-a rolar!...Não morrerás, Deusa sublime! Do trono egrégioAssistirás intacta ao crime Do sacrilégio....Ver esta língua, que cultivo, Sem ouropéis,Mirrada ao hálito nocivo Dos infiéis!......Vive! que eu viverei servindo Teu culto, e, obscuro,Tuas custódias esculpindo No ouro mais puro.

Celebrarei o teu oficio No altar: porém,Se inda é pequeno o sacrifício, Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança, Porém tranqüilo,Inda, ao cair, vibrando a lança, Em prol do Estilo!

Poema 02

Inania Verba

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Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,O que a boca não diz, o que a mão não escreve?- Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve,Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...

O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,Que, perfume e dano, refulgia e voava.

Quem o molde achará para a expressão de tudo?Ai! Quem há de dizer as ânsias infinitasDo sonho? E o céu que foge à mão que se levanta?

E a ira muda? E o asco mudo? E o desespero mudo?E as palavras de fé que nunca foram ditas?

E as confissões de amor que morrem na garganta?!

Os dois poemas acima, embora tragam visões completamente distintas sobre o processo de composição poética, foram escritos pelo mesmo poeta: Olavo Bilac. De posse dessa informação e com base em seus conhecimentos sobre o Parnasianismo:

03.No poema Profissão de fé, analise o conceito perfeccionista de “arte pela arte” proposto pelos parnasianos. Ilustre sua resposta com versos que sustentem a sua análise.

O conceito de “arte pela arte” é o responsável pela abordagem do poema como sendo fruto de uma meta simplesmente estética, ou seja, não importa que o poema não nos cause emoções ou reflexões, importa que ele seja perfeito, pois, assim como o artesão espera que sua obra seja apreciada pela beleza, o parnasiano espera que eu poema seja admirado pelo rigor estético e pela perfeição de sua forma. Esse conceito é o tema dos seguintes versos: “Quero que a estrofe cristalina, /Dobrada ao jeito /Do ourives, saia da oficina /Sem um defeito.” e em “E que o lavor do verso, acaso,/Por tão subtil,/Possa o lavor lembrar de um vaso/De Becerril.”.

04. Compare a visão estética sobre a “forma” e sobre a “palavra” presentes em ambos os poemas. Ilustre sua resposta com versos que sustentem a sua análise.

As visões sobre a palavra e sobre a forma são completamente distintas nos dois poemas. Em Profissão de fé, Olavo Bilac exalta a forma, endeusando-a, colocando-se como um servo : “assim procedo. Minha pena Segue esta norma,/Por te servir, Deusa serena, /Serena Forma!”. Nesses versos se concentra o princípio perfeccionista da estética parnasiana, que preconiza a forma em detrimento do conteúdo. O mesmo ocorre com a palavra:” Ver esta língua, que cultivo, /Sem ouropéis,/Mirrada ao hálito nocivo /Dos infiéis!...”, nesses versos, o poeta se coloca como um guardião da Língua Portuguesa, fiel a sua erudição e ao seu vocabulário. Já no poema Inania Verba, Olavo Bilac desenvolve uma visão crítica em relação ao próprio estilo e passa a questionar o conceito de forma e de palavra propostos pelo Parnasianismo, como é possível observar nos seguintes versos:” O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:/A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve.../E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,” . Ao comparar a forma a um sepulcro de neve, o poeta questiona a frieza e a objetividade do perfeccionismo parnasiano; ao afirmar que a palavra pesada abafa a idéia leve, critica o eruditismo e o vocabulário rebuscado, acusando-os de serem inexpressivos e,

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dessa forma, atribuindo importância ao conteúdo em detrimento da forma, o exato oposto do que pregara em Profissão de fé.

05. O poema Inania Verba, expressão em latim que significa "Palavras vazias", é uma auto-crítica que Olavo Bilac tece à estética parnasiana. De posse dessa afirmação e assumindo uma postura reflexiva:

a) Transcreva um verso que condense a crítica ao vocabulário rebuscado e erudito praticado pelos

parnasianos.

“E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,”.

b) Transcreva um verso que contradiz a postura anti-romântica pregada pelos parnasianos e o analise.

“E a ira muda? E o asco mudo? E o desespero mudo?E as palavras de fé que nunca foram ditas?

E as confissões de amor que morrem na garganta?!”

A última estrofe contraria completamente o conceito de objetividade da estética parnasiana e, dessa forma, configura uma contradição, pois retoma a subjetividade e o sentimentalismo típicos da poesia romântica, tão criticada pelos parnasianos. Esse sentimentalismo pode ser comprovado no 1º e no último verso da estrofe transcrita. Outra temática que também contradiz a postura anti-romântica é a expressão da religiosidade, no 2º verso dessa mesma estrofe.

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