Paper produção florestal não madeireiros

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1 Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento da Amazônia Legal Nota Técnica Produção na Amazônia Recursos Florestais não Madeireiros Luiz Roberto Barbosa Morais (Consultor) Brasília-DF Agosto 2013

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Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento da Amazônia Legal

Nota Técnica

Produção na Amazônia Recursos Florestais não Madeireiros

Luiz Roberto Barbosa Morais (Consultor)

Brasília-DF Agosto 2013

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Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento da Amazônia Legal

Nota Técnica

Produção na Amazônia Florestal: Características, Desafios e Oportunidades

Supervisão Antonio Carlos F. Galvão (Diretor) Consultor Luiz Roberto Barbosa Morais Equipe técnica do CGEE Henrique Villa da C. Ferreira Carmem Silvia Corrêa Bueno

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SUMÁRIO

Primeiras Notas

1. Introdução

2. Principais Produtos Florestais não Madeireiros

2.1 Fruticultura 2.2 Oleaginosas 2.3 Cipós 2.4 Ervas 2.5 Resinas 2.6 Óleos Essenciais

3. A Falta de Instrumentos Estatisticos Confiaveis para Avaliações Tomada de Decisões

4. Pequenos Projetos que Podem Servir de Exemplo

5. Conclusões

6. Bibliografia

Anexos

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PRIMEIRAS NOTAS

Segundo Eduardo Bueno, em seu livro, Náufragos Traficantes e Degredados

(Bueno, 1998), o primeiro branco a chegar a Amazônia foi Vicente Pinzón, para

ser mais exato, segundo o mesmo autor, o navegador desembarcou na hoje

denominada baia do Marajó. Ao olhar a cor da água mandou jogar um balde

para retirar água da baia e constatou que se tratava de água doce, razão pela

qual chamou a baia de “mar Dulce”. O encantamento com as riquezas florestais

não madeireiros na Amazônia é antigo. “Recentemente no caderno “Paladar” do

jornal O Estado de São Paulo de 05/06/2013, Daniel Teles escreve “no Norte é

óleo a perder de vista”, onde faz uma alusão a qualidade dos óleos que não são

oliva Olea europaea L.. O deslumbre com os produtos florestais não madeireiros

da Amazônia atravessam os séculos. É importante equacionar as questões que

fazem com que não se consiga transformar tal potencial em qualidade de vida

para os povos da floresta e a preservação do mesmo.

“A Amazônia, sob qualquer ponto de vista que se possa observar, tem sido até

hoje, uma grande vitima de suas próprias grandezas.”

Alfredo Ladislau

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1. INTRODUÇÃO

Os discursos coevos sejam eles oficiais ou não remetem sempre a mesma

questão, como aproveitar a floresta? Pela falta de conhecimento em outras

épocas, poucos se preocupavam com a degradação provocada pela utilização

dos recursos naturais, sem se preocuparem com o, hoje conhecido, impacto

ambiental.

No inicio do século passado a ordem era desmatar, criar gado, fazer estrada de

seringa, produzir látex, madeira e cacau nativo, por exemplo. Com a abertura da

Belém – Brasília e da Transamazônica, esta pratica se acentuou e gerou um

êxodo para varias regiões da Amazônia. O conflito de culturas fez com que

surgisse uma forma impar de relacionamento entre as comunidades que já

existiam em regiões já habitadas e os novos habitantes que chegavam para se

estabelecer. Os novos habitantes começam, então, a trabalhar exaustivamente,

retirando tudo o que podiam das áreas de floresta onde se estabeleciam. Os que

resistiam as dificuldades, como doenças ou falta de estrutura, seguiam

acumulando capital, pratica esta que não existia nas culturas locais. Aqueles que

conseguiam se estabelecer com pratica agrícola de silvicultura e extrativistas

intensivas transformavam as comunidades, já existentes, em mão de obra

barata, porem de difícil administração.

A cultura local sempre esteve, na contramão do capitalismo, pois não tem a

cultura do acumulo. Esta cultura extremamente criticada pelas correntes

desenvolvimentistas passa a ser respeitada como estilo de vida, nos dias de

hoje, mesmo que somente nos discursos, sejam de estatais ou da iniciativa

privada. Este comportamento faz com que produtos de origem não florestal

percam em competitividade para produtos extrativistas de outras localidades do

mundo, com propriedades semelhantes – faz parte do chamado custo Amazônia.

A pergunta que faz é: vale a pena pagar este custo, como pratica de

preservação florestal? Na pratica a floresta é benevolente com quem a

compreende e respeitas os povos que nela vivem, em caso contrario,

transforma-se em um verdadeiro inferno, onde o tempo é diferente, seja ele de

trabalho ou físico, as horas são longas, as temperaturas insuportáveis, os

horários variam de acordo com as marés ou secas, com as cheias dos rios ou

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com as chuvas. O caboclo trabalha de acordo com as suas necessidades

imediatas, as distâncias enormes e os transportes fluviais coletivos e de cargas,

lentos e indolentes.

Em um mundo que se comunica on-line o caboclo deita em sua rede no barco de

passageiros, viaja com o seu equipamento eletrônico à mão, e onde tem

cobertura de sinal de comunicação recebe e emite mensagens, faz postagem

em redes sociais e se comunica com o mundo. Porem se uma arvore cai no rio

impedindo a passagem do barco, se é noite ou esta chovendo, a situação muda.

A ordem de “liberação da passagem só amanhã”, só quando a chuva passar, ou

só quando a maré subir ou baixar muda a situação vivida. O contexto de

comunicação imediata do mundo digital interligado é diferente - mensagens são

enviadas de pronto, mas prazos de entrega de produtos locais não são da

mesma forma. A pressa não é compreendida, os colaboradores locais que

atuam nestes projetos tem sempre uma solução, que geralmente chega da

seguinte forma: “Doutor, para que a pressa? Amanhã quando der cobertura o

Senhor passa outra mensagem e fala que a arvore caiu no meio do rio”. Pronto,

está resolvido o problema. Fato recorrente (experiência própria): uma vez ao

pressionar uma cooperativa para cumprir prazos ou perderíamos o cliente obtive

como resposta: “vivíamos sem ele e continuaremos a viver se ele desistir do

projeto”.

O texto atual não tem o objetivo de se constituir em “livro de estórias”, mas tais

explicações são fundamentais para se ter noção do desafio da utilização de

recursos florestais não madeireiros na região. Não se trata apenas de oferta, de

demanda ou de preços, mas, sobretudo uma questão cultural.

A pesquisa sobre produtos florestais não madeireiros da Amazônia existe desde

o descobrimento do Brasil. O óleo resina de copaíba, por exemplo, existe na

farmacopeia britânica desde 1667 e na americana desde 1820. No Brasil a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVS (Resolução ANVS/MS nº 18),

não considera copaíba como alimento, proibindo a sua comercialização para

ingestão terapêutica, estando liberada apenas como complemento alimentar

pelo Ministério da Agricultura misturado a mel e outros ingredientes. Estas

explicações são necessárias para reiterar que o grande desafio amazônico para

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a utilização de produtos florestais não madeireiros é cultural. Não houve

mudança cultural efetiva em 400 anos e talvez leve mais 400 anos para qualquer

mudança efetiva. Mas é fato que a cultura evoluiu, se desenvolveu, sobreviveu e

sobrevive, com soluções para problemas de transporte, saúde, comunicação,

por exemplo, que são exclusivas da região. Até os mais experientes engenheiros

ficam catatônicos ao verem suas maquinas funcionarem com a mesma

desenvoltura das originais, com “gambiarras” que nem mesmo Leonardo da

Vinci imaginaria.

Existe um cipoal de oportunidades e riscos onde os culpados se confundem com

vitimas e as oportunidades de hoje, podem ser riscos enormes amanhã,

exemplos não faltam, mas é preciso ser insistente, tolerante e acima de tudo

aprender com os erros e não repeti-los. O exemplo do copaibeiro é

representativo, conforme registro anexo (Anexo 1).

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2. PRINCIPAIS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIREIROS

2.1 – Fruticultura

Tabela 1: Relação das principais espécies da fruticultura regional

Produto

Nome Científico

Principal Característica Inovação Status de Produção

Principal Estado Produtor

Abiu

Pouteria caimito Antioxidante (Barreiros A. L., 2011) Vitaminas

Aproveitamento de cascas e sementes

Feiras Livres Pará

Açaí

Euterpe oleracea Energético e antioxidante (Rogez, 1996)

Óleo como auxiliar em tratamentos pos AVC

Em escala industrial

Pará

Araça

Psidium cattleianum Alto teor de minerais: calcio, magnesio, manganês e cobre (Caldeira, Sandriani Darine, 2004)

Casca é aprovitada para tratamento de pele (conhecimento Tradicional)

Feiras Livres Pará

Bacaba

Oneocarpus bacaba Energético e antioxidante (Finco, 2012)

Previne Doenças Crônicas (Finco, 2012)

Batedores de Açaí do Pará

Pará

Bacabi

Oneocarpus minor Energético e antioxidante Pode ser uma alternativa ao açaí

Domesticações Experimentais

Pará

Bacuri

Platia insignis mart Antioxidante Bioflavonoides na casca (Batista, 2011)

Em Escala Industrial

Pará

Bacuri Pari

Garcinia gardneriana Antioxidante Polpa anticarie (Pereira, 2009)

Feiras Livres Pará

Biribá

Rollinia mucosa Antioxidante Contem βCariofilenos (Barreiros M. L., 2011)

Feiras Livres Produção Polpa escala artesanal

Pará e Amazonas

Buriti

Mauritia flexuosa/vinifera Antioxidante Compostos Fenólicos (Carneiro)

Feiras Livres Produção Polpa escala artesanal

Pará Santarem

Abaetetuba Igarapé Miri

Cacau

Theobroma cacao Antioxidante Compostos Fenólicos Em Escala Industrial

Pará e Rondônia

Castanha do Pará

Bertholletia excelsa Antioxidante Alta concentração de selênio

Previne o câncer de mama

Em Escala Industrial

Pará e Acre

Cupuaçu

Theobroma grandiflorum Vitaminas e sais minerais Compostos Fenólicos (Santos, 2007)

Em Escala Industrial

Pará

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Patauá

Oneocarpus bataua Antioxidante Compostos Fenólicos Feiras Livres Pará

Pupunha

Bactris gasipaes Antioxidante Compostos Fenólicos Feiras Livres Pará

Tucumã

Astrocaryum vulgare Antioxidante Compostos Fenólicos Feiras Livres Produção Polpa escala artesanal

Pará

Tucumã Açu

Astrocaryum giganteum Antioxidante Compostos Fenólicos Feiras Livres Produção Polpa escala artesanal

Amazonas

Cubiu

Solanum sessiliflorum Antioxidante Combate a obesidade (Filho)

Feiras Livres Produção Polpa escala artesanal

Amazonas

Camu Camu

Myrciaria dubia H. B. K. (McVough)

Aminoácidos, flavonoides, vitamina C

Compostos Fenólicos Feiras Livres Produção Polpa escala artesanal

Amazonas

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A questão das frutas oriundas ou próprias da floresta amazônica é

impressionante. Existe uma enorme variedade de frutas com composições e

gostos capazes de suprir deficiências proteicas das mais variadas, além de

agradar os paladares mais exigentes na região. A grande questão é como

desenvolver as cadeias produtivas das mesmas? Existe um estoque de pesquisa

considerável, inúmeros estudos, da área de nutrição à de engenharia de

alimentos, por exemplo.

Mas quais são os ganhos da indústria com o lançamento de novos produtos

oriundos da Amazônia? Os custos envolvidos com a apresentação e lançamento

de novos produtos são altos. Quem conhece tais produtos e como fazê-los

conhecidos? Quais os riscos do cultivo em pomares resultado de domesticação?

Só conhecer as propriedades e benesses destes alimentos, quase na sua

totalidade funcionais, não é o suficiente. A cadeia tem que ser olhada de forma

integral, completa, da floresta ao supermercado ou aos pratos da merenda

escolar. Aliás, o caso da merenda escolar é digno de registro – pois pode ser uma

forma eficiente de divulgação direta e barata, e com benéficos inquestionáveis

para as crianças, que vão além do simples fato de estarem sendo alimentadas.

Tomemos como exemplo a cadeia produtiva do açaí, que foi montada à revelia

dos institutos de pesquisa que acompanharam atônitos o desenvolvimento de um

arranjo produtivo, que em menos de dez anos cresceu a taxas de mais de 300%

ao ano, segundo o Sindifrutas - PA. Neste período a indústria deu um salto

tecnológico que evoluiu de maquinas semi-artesanais utilizadas há quase 100

anos, nos subúrbios de Belém, para equipamentos industriais desenvolvidos na

base de erros e acertos, todos desenvolvidos no sul e sudeste do Brasil. As

exigências fitossanitárias foram sendo cumpridas a duras penas. Primeiro para

suprir o mercado interno e depois para o mercado externo, onde agentes dos

órgãos reguladores norte-americanos de vigilância sanitária viajaram até o Brasil

para inspecionar as unidades produtivas (Mario Moller - Pamar/Breves–PA).

O açaí teve sua iniciação no mercado norte-americano graças à visão de

empresários americanos que visitando o Pará, se encantaram com o fruto e

criaram a Sambazon e divulgaram o alimento. O açaí ganhou o mundo, a partir de

uma indústria que se ergueu rapidamente. Cooperativas foram criadas e

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desfeitas, associações também, indústrias vieram de outras regiões, se instalaram

na Amazônia, umas produziram, outras sucumbiram ao custo regional e à sua

cultura, incompreensível para os moldes produtivos do mundo globalizado. As que

se adaptaram suprem o mundo de polpa congelada de açaí. É uma indústria

grande, porem frágil. As indústrias do Pará e Amazonas visam o mercado

internacional, existem empresas especializadas em agenciar a venda de polpa de

açaí no mercado internacional, uma delas é a 100% Amazônia, que somente no

ano passado agenciou a exportação de 200 teladas de polpa congelada de açaí.

Empresas como a 100% Amazônia (Stefani, 2013), atendem grandes

conglomerados e microempresas (Anexo 2). Frequentam as feiras internacionais

do setor, orientam padrões de produção internacional, embalagens, condições de

armazenagem, além de lidarem com a burocracia de exportação com grande

desenvoltura. Para o micro e pequeno produtor, esta pode ser a única forma de

acessar o mercado internacional. Os governos investem, através de algumas

agencias, na participação de empresas em eventos internacionais, porem a

burocracia é grande só quem consegue este tipo de incentivos são médias e

grandes empresas, uma vez que as pequenas e micro empresas não tem acesso

a este tipo de incentivo. Mesmo assim de acordo com o Sindifrutas - PA, o risco

do mercado de polpa congelada de açaí é grande. As empresas nacionais, por

conta da crise econômica mundial de 2008 estão endividadas, embora em 2011 o

setor tenha crescido mais de 43% em relação ao mesmo período do ano de 2010

(Brazil, 2011).

Algumas sugestões são discutidas para a redução dos riscos à cadeia do açaí na

região. Poder-se-ia, por exemplo, criar preço mínimo para a polpa de açaí, para

dar segurança à indústria. O que se tem atualmente é um preço mínimo para o

fruto do açaí, que é de R$ 0,90 o quilo, (Conab, 2012). Para o ribeirinho no

Estado do Pará ou do Amazonas, este preço mínimo vai é recebido como piada.

No pico da safra no Pará, por exemplo, no porto das associações e cooperativas

de produtores de frutos, o preço mínimo do quilo é de R$ 1,00 preço este que

dificilmente se mantém por 30 dias. Na entressafra chega a atingir R$ 5,00 por

quilo, (Gutjahr, 2013), para um fruto que tem como rendimento de polpa 60%, em

média para um açaí com 11% de sólidos (na classificação industrial é médio, a

polpa ou mesmo o suco, fica com preços fora de mercado).

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Em 1995 a rasa de 14 kg era comprada por R$ 3,00 em Gurupá (Floriano Pastore

Jr, 1997). Na tabela abaixo é possível ver a evolução destes preços na Amazônia

- a indústria se desloca cada vez mais para áreas onde o produto é menos

valorizado e inicia um processo maciço de domesticação com plantios em

Santarém, Mocajuba, Igarapé Mirim e Abaetetuba no Pará onde os preços são

maiores. Esta é a forma que a indústria encontra para ter alternativas aos preços

impulsionados pela lei da oferta e procura.

Tabela 2: Açaí (fruto) Preço médio pago ao Extrativista (em R$/kg)

Estados (Média Nacional)

Unidade Maio/2012 Abril/2013 Maio/2013 Preço Mínimo (Julho/12 a Julho/13)

Acre (AC) kg 1,00 1,05 1,06 0,90 Amapá (AP) kg 1,80 2,80 2,80 0,90 Amazonas (AM) kg 0,81 0,90 0,83 0,90 Maranhão (MA) kg 1,37 2,07 2,32 0,90 Pará (PA) kg 2,27 3,72 2,99 0,90 Rondônia (RO) kg 1,25 2,13 2,00 0,90 Fonte: Conab

Tabela 3: Rendimento de extração de açaí, a partir da despolpa de 5 kg de frutos.

Tipo Rendimento

Nascimento (1992)

Guimarães e Henrique Fraham (1996) Poulet (1997) Cavalcante

(1991) Açaí fino 4,5 a 7,0 litros - 2,5 litros 6,0 litros

Açaí médio 3,0 a 4,5 litros 2,5 litros - Açaí grosso 1,5 a 2,5 litros 2,0 litros 1,7 litros

Fonte: Rogez (2000).

Nos primeiros plantios, com finalidade agroindustrial, financiado pelos bancos

estatais a EMATER-PA, orientava os ribeirinhos a desmatar toda a área para

plantio das mudas de açaí, mudas estas feitas a partir de material genético

fornecido pela EMBRAPA/CPATU.

O desmatamento das várzeas foi um desastre, o desequilíbrio foi tamanho que a

Cooperativa Mutirão, em Igarapé-Mirim no Pará, por exemplo, procurou ajuda da

UFPa e criou um viveiro para repor os espécimes florestais derrubados

(Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos

Solidário - PITCPES-UFPa). Os efeitos desta prática são sentidos até hoje - como

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o açaí foi a palmeira que predominou na várzea, o barbeiro Triatoma megistus, se

concentrou nela, causando problemas fitossanitários sérios, que não fizeram

maiores estragos na indústria, em função desta comercializar polpa congelada

pasteurizada. Porem as populações ribeirinhas consomem o fruto in natura,

processado direto nas máquinas espalhadas nas zonas urbanas e rurais sofrem

com o mal de chagas. Foram registrados 35 novos casos da doença em 2012

sendo 11 em Abaetetuba, um dos maiores produtores de fruto do estado do Pará,

(Agência Pará de Notícias, atualizado em 20/08/2012).

Segundo o pesquisador Alfredo Homma (da EMBRAPA/CPATU) o aumento

indiscriminado dos cultivos de açaí, brindada á condição de monocultura, teria

consequências catastróficas para a floresta e para a comunidade em geral. Bem

antes do aumento de produção a indústria do açaí detinha 25.000 empregos

(NOGUEIRA, 1998). As preocupações do pesquisador de outros representantes

da academia levaram os plantios a virarem manejo rapidamente. Os viveiristas,

que tinham grandes perdas na fase de plantio, tiveram também o seu

aprendizado, e as sacolas para mudas passaram a ser maiores, de 2 Kg, maiores

que o convencional, com maior tempo de residência no viveiro (Souza, 2005). As

informações que comprovam tal fato estão disponíveis nos bancos de dados das

indústrias ou nas estatísticas das praticas florestais desenvolvidos pelos

produtores.

É importante ressaltar a diferença de dados no campo e as estatísticas oficiais.

De todos os dados disponíveis pelos órgãos oficiais, um é no mínimo

preocupante: o IBGE coloca no ultimo censo agropecuário o Município de

Limoeiro do Ajuru como o maior produtor de fruto de açaí do Pará, o que não

corresponde à realidade verificada no campo. A falta de dados confiáveis leva a

tomada de decisões equivocadas pelas indústrias que querem se estabelecer no

Estado do Pará, para industrializar o fruto do açaí, o que tem levado ao fracasso,

vários novos empreendimentos que tentam se estabelecer na Amazônia. Exemplo

recente foi a Bolthouse que se estabeleceu no Distrito de Icoaraci, na grande

Belém no Pará e sucumbiu em menos de três anos, por uma serie de erros

sucessivos, de aquisição de maquinas à equipamentos e logística, passando pela

aquisição de matéria prima.

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Há que se aprender com a experiência do açaí na região para não se repetir

iniciativas desastrosas em outras culturas de frutas na Amazônia. A questão que

se levanta é como desenvolver uma indústria forte e planejada no setor? Uma

estratégia a ser perseguida é a de ampliar o conhecimento dos frutos regionais ao

restante do país e ao mundo, apresentar estes frutos, que são ilustres

desconhecidos, para todos, como fez a Sambazon no caso do açaí, e fazer os

“quintais da Amazônia” gerarem lucro e contribuir para a preservação ambiental.

Ou se faz tal movimento ou corre-se o risco destas oportunidades escaparem

entre os dedos dos cidadãos da região, a exemplo da acerola, cultivada em larga

escala no Brasil e comercializada no mundo todo. Hoje a tonelada de polpa

congelada de acerola no Vietnã custa 50% menos do que no Brasil (Stefani,

2013).

2.2 – Oleaginosas

Tabela 4: Relação das principais espécies de oleaginosas endêmicas na região

Produto

Nome Científico

Status

Maiores Produtores

Matéria Prima na Amazônia Açaí Euterpe oleracea No mercado Pará

Babaçu Orbignya phalerata, Mart

No mercado Maranhão

Bacaba Oneocarpus bacaba Em consolidação Pará

Bacuri Platia insignis mart No mercado de maneira tímida

Pará

Buriti Mauritia flexuosa/vinifera

No mercado Para e Maranhão

Bussu Manicaria saccifera Em processo de experiência

Para

Cacau Theobroma cação No mercado Para e Amazonas Castanha do Pará Bertholletia excelsa No mercado Pará

Cupuaçu Theobroma grandiflorum

No mercado Pará

Inajá Amêndoa Maximiliana maripa Em processo de experiência

Pará

Inajá Polpa Maximiliana maripa Em processo de experiência

Pará

Jupatí Raphia taedigera Em processo de experiência

Pará

Muru-Muru Astrocaryum murumuru

No mercado Pará/Acre

Patauá Oneocarpus bataua No mercado de maneira tímida

Pará

Pracaxi Pentaclethra macroloba

No mercado de maneira tímida

Pará

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A história dos óleos da Amazônia daria um capitulo a parte na evolução da região.

Em 1980, Raymundo Araújo, escreve uma monografia para o curso de extensão

em oleoquímica na UFPa ( Resolução 641 do CONSEP 1980), onde coloca um

quadro desestimulante para a indústria de oleaginosas da região, com exceção do

projeto da DENPASA que se iniciava na Zona do Salgado no estado do Pará,

precursora da indústria de palma na região. A indústria de oleaginosas

praticamente desapareceu, então. Nos anos do pós-guerra toda a indústria de

óleos alimentícios e indústria saboeira, era toda de origem extrativista. Com a

abertura de estradas e o acesso mais facilitado a commodities gordurosas, a

indústria de óleos amazônicos não resistiu, ficando restrita ao comercio informal

dos mercados de Belém e Manaus. As produções artesanais de toda a Amazônia,

resinas como copaíba e breu, mantiveram seu curso normal, sem necessitar de

grandes processos. Após serem retiradas da floresta, estas matérias primas

continuaram a atingir o mercado internacional.

Com as novas descobertas a respeito de alimentos funcionais, a absolvição dos

óleos como o grande vilão da causa da obesidade, aliados a falta de matérias

gordurosas no mercado mundial, é retomada. Estudos sobre oleaginosas

amazônicas são reiniciados, porém todo conhecimento empírico amealhado por

mais de meio século estava quase que irremediavelmente perdidos, se não fosse

pelos estudos feitos pelo italiano Celestino Pesce (Pesce, 1941). O italiano

chegou a ter mais de 11 unidades fabris de produção de óleos na região.

Em 1995 surge no Amapá a Brasmazon, uma indústria formada por jovens

pesquisadores - ela começa a fazer diferença ao ofertar para o mercado produtos

de qualidade, continuamente e com preço estabilizado. A empresa entra com

processo de patente para produção de óleo de andiroba, obtenção de fase sólida

e aplicação na produção de vela repelente de andiroba, produto este testado e

aprovado pela FIOCRUZ em Farmanguinhos, (PI9706610-9B1). A Revista “Isto é”

Tucumã Polpa Astrocaryum vulgare No mercado de maneira tímida

Pará

Tucumã Amêndoa Astrocaryum vulgare No mercado Pará Tucumã Açu Amêndoa Astrocaryum

giganteum No mercado Amazonas

Ucuúba Virola sebifera No mercado de maneira tímida

Pará

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de 15 de abril de 1998, afirma que a vela chegou a ser fabricada no LAFEP em

larga escala, em Pernambuco, depois o projeto foi abandonado. Em um país que

registra mortes todos os anos por dengue e malária, a não utilização de um

instrumento destes, simples e barato, não tem explicação lógica. A fabricação

desta vela em larga escala poderia impulsionar o mercado de óleo de andiroba,

uma vez que o quilo da andiroba em pó de R$ 3,00, seria suficiente para cobrir os

custos de produção. O óleo seria coproduto, que passaria a ter um preço menor,

hoje o óleo tem um custo de R$ 22,00 o quilo, (Gutjahr, 2013), possibilitando a

sua utilização por todas as classes sociais. O óleo que já tem eficácia

comprovada como anti-inflamatório e cicatrizante (Orellana, 2004), poderia ser

utilizado pelo SUS. A purificação do óleo poderia ser feita por destilação

molecular (Lutisan, 1995) - esta tecnologia é um processo de purificação física, de

baixo custo, a R$ 4,50 por quilo de material purificado, (Batistella, 2013),

encapsulado por Farmanguinhos e distribuído pelo SUS através do Programa

Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Edital nº 1/2013 SCTIE/MS -

Seleção pública de projetos de Arranjo Produtivo Local de Plantas Medicinais e

Fitoterápicos no âmbito do SUS).

Poder-se-ia, desta forma, consumir toda uma matéria prima que se perde nos rios

e floresta da Amazônia. Somente no primeiro semestre de 2013, a Associação

dos Produtores Extrativista e Agrários de Salvaterra - APEAS deixou de

comercializar 400 toneladas de sementes coletadas nas praias e rios de

Salvaterra, Soure e Cachoeira do Arari no Pará. Segundo os líderes da

associação, “tivemos que fazer compostagem das sementes para os agricultores

da associação, que entraram com a mão de obra para fazer o serviço, com a

semente que não conseguimos comprador; vendemos ano passado para a

Amazon Velas que este ano não comprou quase nada, por que tinham muito óleo

em estoque” (Portal, 2013).

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Tabela 5: Relação de Fitoterápicos ofertados no SUS

Nome popular Nome científico Indicação

Espinheira-santa Maytenus ilicifolia Auxilia no tratamento de gastrite e úlcera duodenal e sintomas de dispepsias.

Guaco Mikania glomerata Apresenta ação expectorante e bronco dilatadora.

Alcachofra Cynara scolymus

Tratamento dos sintomas de dispepsia funcional (síndrome do desconforto pós-prandial) e de hipercolesterolemia leve a moderada. Apresenta ação colagoga e colerética.

Aroeira Schinus terebenthifolius Apresenta ação cicatrizante, anti-inflamatória e antisséptica tópica, para uso ginecológico.

Cáscara-sagrada Rhamnus purshiana Auxilia nos casos de obstipação intestinal eventual

Garra-do-diabo Harpagophytum procumbens

Tratamento da dor lombar baixa aguda e como coadjuvante nos casos de osteoartrite. Apresenta ação anti-inflamatória

Isoflavona-de-soja Glycine max Auxilia no alívio dos sintomas do climatério

Unha-de-gato Uncaria tomentosa Auxilia nos casos de artrites e osteoartrite. Apresenta ação anti-inflamatória e imunomoduladora

Hortelã Mentha x piperita Tratamento da síndrome do cólon irritável. Apresenta ação antiflatulenta e antiespasmódica

Babosa Aloe vera Tratamento tópico de queimaduras de 1º e 2º graus e como coadjuvante nos casos de psoríase vulgaris.

Salgueiro Salix alba Tratamento de dor lombar baixa aguda. Apresenta ação anti-inflamatória.

Plantago Plantago ovata Forssk Auxilia nos casos de obstipação intestinal habitual. Tratamento da síndrome do cólon irritável.

Por Tatiana Alarcon: Agência Saúde, ASCOM/MS (http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/8061/162/sus-oferece-fitoterapicos-como-alternativa-de-tratamento.html)

Dos espécimes eleitas pelo SUS nem uma é óleo - existem vários a serem

comercializados com propriedades fitoterápicas comprovadas, como andiroba,

bacuri e copaíba, sem contar com os que, embora sem comprovação, tem muita

procura pela população amazônica, como pracaxi e buriti. Desta forma os

produtores de óleo e fase solida de andiroba teriam mercado garantido, em uma

cadeia que começa na floresta e termina na prateleira da farmácia alternativa.

Hoje o grande gargalo da indústria de óleos amazônicos é o mercado, volátil

imprevisível - em um ano existe uma procura grande e no ano seguinte a procura

vai à quase zero, (Gutjahr, 2013), Isso ocorre por que as empresas que refinam

estes óleos, principalmente para a indústria cosmética e farmacêutica, não

Page 18: Paper produção florestal não madeireiros

18    

confiam nas empresas, associações e cooperativas que fazem o esmagamento

das oleaginosas para produção primaria destes óleos.

A falta de confiança da indústria deve-se a falta de planejamento e manejo

florestal da cadeia produtiva de óleos amazônicos. Um levantamento real que

desse segurança aos compradores, que fariam uma programação anual de

compra, poderia mudar a situação. Esta insegurança deve-se a forma de

comercialização que vem do século passado, em que as empresas compravam

seus óleos de atravessadores, que vendiam na feira do “Ver-o-Peso”, em Belém e

aceitavam encomendas de quantidades maiores, uma ou duas teladas, de óleo de

andiroba ou uma ou duas teladas de copaíba no porto de Manaus.

O óleo de andiroba, produzido artesanalmente, era comprado no Baixo e Médio

Tocantins e abasteciam os mercados de Manaus, Rio Branco e Porto Velho. O

Amazonas, o Acre e Rondônia não tinha cultura de produção de óleos

amazônicos, mas recebiam o óleo do Pará para o seu consumo anual. Os barcos

de comercio que saiam de Abaetetuba e Igarapé Mirim, chamados regatões, que

seguiam para os referidos estados, abasteciam estes mercados. Os comerciantes

dos regatões muitas vezes financiavam a produção artesanal de óleo de andiroba,

para que seus barcos ou vendessem ou trocassem por outras mercadorias. A

produção anual era, portanto, constante para abastecer o mercado interno.

As exportações deste óleo eram muito pequenas e o produto era facilmente

adquirido no Ver-o-Peso, em Belém, pelos negociadores que exportavam

castanha do Pará, cumaru, copaíba para outros mercados. Este era o retrato do

comercio de óleo de andiroba, informal e marginal, sem nem um tipo de controle.

O reflexo desse processo ainda se sente nos dias de hoje. Um exemplo disso é a

NCM, (Nomenclatura Comum Mercosul, 15159090), que para todos os óleos

amazônicos é o mesmo (são exportados como “outros óleos”). A andiroba é

exportada desde o século XVIII e até hoje é exportado como “outros óleos”, fato

inacreditável. Neste cenário quem comprava andiroba no exterior sempre teve

problemas de abastecimento. Os exportadores que faziam as encomendas de

quantidades maiores nem sempre encontravam os mesmos atravessadores, as

encomendas eram feitas para vários atravessadores, o preço do óleo subia. No

ano seguinte, imaginando que a procura seria a mesma, os produtores

Page 19: Paper produção florestal não madeireiros

19    

aumentavam sua produção artesanal, só que os exportadores com seus estoques

altos não faziam pedidos. Os pedidos não chegavam na outra ponta aos

produtores com grandes quantidades de óleo no momento em que seus estoques

ficavam altos, que, ato contínuo, tinham que baixar os preços. O óleo de andiroba

tinha que ser estocado durante anos e a qualidade que já não era boa, ficava pior.

Quando novos pedidos considerados grandes aconteciam o ciclo se repetia. Por

uma falta total de conhecimento das épocas de produção extrativista da floresta,

os importadores algumas vezes faziam pedidos fora da safra, que levavam até um

ano para serem completados. Quando começavam a receber óleo compravam o

que podiam por segurança - e com estoques em alta, levavam tempo para pedir

novamente. Esta forma de “ver” a produção de óleos na Amazônia continua até os

dias de hoje, mesmo com empresas de grande porte que atuam na região, como

a Beraca e a Amazon Velas.

Mesmo com grande capacidade de produção e mobilização das comunidades

extrativistas a desconfiança continua e as quantidades não são suficientes para

extrair pelo menos uma parte do que a floresta produz. Os preços dos produtos

são altos, as indústrias têm os mesmos pesos fiscais de uma empresa que não

gera preservação - só tem incentivo fiscal quem pode pagar projetos fiscais que

não são baratos.

Em busca de tornar o mercado mais seguro e gerar preservação a partir de 2000,

cooperativas e associações começaram a ser formadas e apoiadas pelos

governos de vários estados da Amazônia. Foram iniciados processos de

produção de óleos amazônicos, com ênfase para muru-muru, buriti e andiroba,

nos estados do Amazonas e Acre. No estado do Amazonas mais de 95% da

andiroba é extraída de forma artesanal, (Mendonça, 2007), exceto o caso da

Associação dos Produtores Agroextrativistas do Lago do Sardinha em Lábrea AM.

As quantidades de óleo de andiroba produzidas neste estado é muito pequena

comparada com a produção do Pará. Existe ainda uma Cooperativa em Boca do

Acre – AM, a Cooperar, que apesar de ter equipamentos adequados, nunca

processou óleo de andiroba. O projeto original da Cooperar é para óleo de

castanha, porem a grande quantidade de semente de andiroba existente na

região justificaria a produção deste e outros óleos o que, infelizmente, nunca fez.

Page 20: Paper produção florestal não madeireiros

20    

No Estado do Acre e Rondônia a produção de óleo de andiroba e de outros óleos

amazônicos é incipiente e artesanal - o consumo tradicional é suprido pelos

Estados do Pará e Amazonas. Diversas iniciativas, apoiadas pelos governos

locais, colocam maquinas e equipamentos na floresta, em associações e

cooperativas, porem os resultados não são os esperados, uma vez que falta

assistência técnica para os equipamentos, falta capital de giro e principalmente os

preços de compra de matérias primas praticados por estas associações e

cooperativas fazem com que os produtos não tenham preços competitivos.

Existem exemplos de alguns óleos e manteigas na África e América Central com

preços inferiores ao do Brasil:

• Manteiga de cupuaçu do Brasil ($ 7,00 a $ 9,00), versos, caritê da África ($

4,00 a $ 6,00).

• Óleo de maracujá do Brasil ($ 7,00 a $ 10,00), versos, óleo maracujá do

Equador ($ 2,00 a $ 4,00).

Depois de 1995 com a Brasmazon ofertando produtos, com um marketing de

“qualidade, continuidade e preço estável”, começou a surgir uma nova linha de

cosméticos, impulsionada pela maior empresa do setor que é formadora de

opinião, a Natura, que passa a lançar produtos da sua linha “ecos”. A Empresa é

grande divulgadora de espécies como muru-muru, andiroba, cupuaçu, óleo de

castanha do Pará, buriti, maracujá, cacau, priprioca, breu branco e açaí, muito

pouco para uma lista de tantos produtos regionais, mas mesmo assim de muita

valia para algumas comunidades que são regiamente compensadas pelos

produtos adquirido das mesmas.

O mercado mundial de óleos amazônicos é promissor, a primeira grande empresa

de produtos acabados, a lançar produtos explicitando a utilização de óleo

amazônico foi a Yves Rocher, que detém patentes sobre a aplicação cosmética

de óleo de andiroba. Em 1996, a Yves Rocher, procurou a Brasmazon para ter

garantia de fornecimento. Com certeza um marco na utilização deste óleo, que

teve aumento na sua procura, porem em quantidades que não colocam o óleo no

mercado em uma posição que hoje sirva para consumir, pelo menos parte da

matéria prima existente nas florestas.

Page 21: Paper produção florestal não madeireiros

21    

O mercado de óleos hoje representa preservação do ambiente natural, a virola,

(Virola surinamensis, Virola sebifera), é o maior exemplo disso. O preço de

mercado para o quilo do fruto de ucuúba (Virola surinamensis, Virola sebifera), é

de R$ 500,00 a telada - uma arvore de cinco anos produz até 50 Kg de fruto por

ano, o que daria uma renda por individuo, botânico adulto produtivo, de R$ 25,00.

Este mesmo individuo é comercializado por R$ 5,00 para virar cabo de vassoura,

quando não existe comercio para o fruto, o abate de virola, Virola surinamensis,

Virola sebifera), aumenta bastante, conforme informação de Samuel Paes

Campos, dono de uma pequena serraria e fabrica de palmito em Breves na Ilha

do Marajó PA, (Campos, 2013).

Segundo Homma (HommA, 2011), as fases do extrativismo como ciclo econômico

são três: na primeira as reservas são transformadas em recursos financeiros; na

segunda com o aumento da procura, os preços sobem e a matéria prima fica

escassa; na terceira, o mercado procura alternativas ou parte para a

domesticação.

Com um pequeno aumento da consciência dos povos da floresta de plantar, hoje

a prioridade das associações e cooperativas é de se organizam com esta a

finalidade de domesticação de espécies. Os clientes, principalmente da Europa,

exigem rastreabilidade, visitam as comunidades, querem ver os plantios, caso

contrario não compram (Gutjahr, 2013).

Hoje é muito comum se falar em adensamento floresta com espécimes de valor

econômico e não com monocultura – começou-se plantando pimenta do reino,

(Piper nigrun L), depois viu-se que uma única cultura, por mais lucrativa que

parecesse no momento do alto preço em função do aumento da procura, era

perigoso, alto risco. Passou-se então a diversificar, com cacau, (Theobroma

cacao), açaí, (Euterpe oleracea), cupuaçu (Theobroma grandiflorum) e até bacabi,

(Oenocarpus minor) que foi trazido do Amazonas, conforme afirma Manoel do

Carmo, conhecido o líder da Associação de Santa Luzia em Tomé Açu PA (Silva,

2012).

Tal mentalidade é um avanço, o que não era comum em outros tempos, onde a

ordem era derrubar, queimar fazer roça de farinha e plantar pimenta. As fronteiras

Page 22: Paper produção florestal não madeireiros

22    

não são mais a perder de vista, tem que se produzir mais no mesmo espaço de

terra, com novas tecnologias e domesticação.

Fonte - Ciclo do extrativismo vegetal na Amazônia (Homma, 1980).

2.3 – Cipós

Tabela 6: Relação das principais espécies de cipós da região

A maior mercado de cipós na Amazônia é o de artesanato, peças artesanais,

vendidas nos grandes centros do sul sudeste do país, que chegam a custar 15 mil

Produto

Nome Científico

Status Maiores Produtores Matéria Prima na

Amazônia Piaçava Attalea funifera e Leopoldinia

piassaba No Mercado Amazonas

Cipó-titica Heteropsis flexuosa No Mercado Amazonas, Pará e Amapá

Cipó Timbó-açu ou Titicão Heteropsis jenmanii No Mercado Amazonas Cipó-Ambé Philodendron sp No Mercado Amazonas

Escada de Jabuti Bauhinia guianensis. No Mercado Amazonas

Escada de Macaco Bauhinia rutilans No Mercado Amazonas Cipó do Bugio

Mufumbo Combretum laxum No Mercado Amazonas

Maracujá do Mato Passiflora glandulosa Fora do Mercado/Feiras

Livres

Amazonas

Cipó Imbé Philodendron imbe Casas de Ervas Medicinais

Para Amazonas Acre

Cipó Ambé Philodendron scabrum Casas de Ervas Medicinais

Para

Seringueira  Cacau  Guaraná  Açaí  Cupuaçu  Jambú  Pupunha  

Seringueira  Pau  Rosa  Guaraná  Caucho  Cacau  Timbó  Cupuaçu  

 -­‐Madeira  

-­‐  Açaí  

O        E       D     C  

Produção  

Tempo  

-­‐  Castanha  do  Para  -­‐  Seringueira    -­‐  Bacurizeiro  

Fase  da  Expansão    Fase  da  Estabilidade   Fase  do  Declínio   Fase  do  Plantio  

Page 23: Paper produção florestal não madeireiros

23    

reais (Freitas, 2013). Nas florestas de várzea do Arquipélago do Marajó, Breves,

Afuá, Ilhas de Santana, o quilo do cipó seco é pago a R$ 3,50, pelo primeiro

atravessador, que entrega em Belém a R$ 10,00 o quilo ou a R$ 13,00 em São

Paulo (Ferreira, 2013).

Este tipo de mercado gera indignação, até de quem compra os produtos

acabados, porem existem vários pontos a serem abordados: o papel do

atravessador, que tem que ter capital de giro, armazena, corre o risco de ter a

mercadoria aprendida pelos órgãos de fiscalização, pois não tem plano de

manejo, o que é pior, não sabe bem o que é - tem que levar até Belém e o frete

até a capital do Pará é um dos mais caros do Brasil. Na região do limão, no

Município de Breves, as mercadorias são colocadas em balsas em movimento

para serem levadas até Belém, com um grande risco de perda da mercadoria e de

vida para quem executa esta arriscada operação - muitas vezes o atravessador

tem que ir à casa do produtor extrativista, vai de rabeta (pequeno barco com

motor de popa de eixo móvel, à gasolina) e as distâncias são imensas, onde o

litro de gasolina custa R$ 5,00, (Ferreira, 2013).

A questão que se coloca é a seguinte: na atual conjuntura, o atravessador é vilão

ou herói? Costuma-se dizer que é difícil encontrar, principalmente na Amazônia,

“comerciante bonzinho”, que trabalha com livro de custos aberto, mas é

importante considerar os riscos de quem faz este tipo de comercio na Amazônia,

que são muito altos. O que poderia então ser feito para que parte da renda

apurada pelo cliente final seja revertida para os povos da floresta, incluindo o

atravessador? A partição de benéfico faz com que o comerciante dos grandes

centros, simplesmente tire o produto da prateleira e substitua-o por outro

artesanato, importado da Colômbia ou da Bolívia, ou simplesmente não substitui

de forma alguma. Resultado: o extrativista de cipó se transforma em extrativista

de madeira, que, incrivelmente, produz uma renda muito menor do que a

adquirida com cipó.

O Estado do Amapá, por exemplo, proibiu a saída do cipó do seu território, que

não tenha licença originada no manejo florestal (Freitas, 2013). Com a diminuição

da oferta no Pará e Amazonas, a alternativa passou a ser as florestas do Amapá,

Page 24: Paper produção florestal não madeireiros

24    

razão pela qual se tomou a decisão de não permitir mais a saída de produto sem

manejo.

O SEBRAE toma a iniciativa de qualificar artesões locais o que pode ser uma

saída para este mercado, de vender produtos acabados. Fora do mercado

artesanal temos espécimes que possuem como constituintes lupeol (Bisoli, 2008),

substância com propriedades anticancerígenas e anti-inflamatórias (Saleem,

2009).

Os cipós representam prejuízo para o manejo florestal - as arvores abatidas

acabam derrubando outras ou quebrando, devido ao emaranhado formado no

dossel da floresta. No manejo, retiram-se os cipós que são descartados (Vidal,

2003). Um manejo voltado para o aproveitamento deste material poderia

representar, não só um aumento de renda, para as áreas manejadas, mas

também um aumento do aproveitamento dos espécimes florestais abatidos para a

fabricação de madeira.

Existe uma serie de cipós utilizados como remédios pelas populações locais, que

deveria ser objeto de levantamento dos seus componentes, em laboratórios das

universidades da Amazônia, uma vez que é um ecossistema que cresce em

outras condições diferentes das plantas de solo.

O cipó Imbé, por exemplo, através de seu chá pode cortar efeito de ferrada de

arraia e cobra, e o cipó ambé, (Philodendron scabrum), possui uma composição

fitoquímica que pode ser uma alternativa à utilização da resina de copaíba, óxido

de cariofileno (19,42%), α-copaeno (16,08%) e β-bisaboleno (10,01%); e nos

frutos de V. guianensis foram o ácido (9Z)-octadecenoico (24,95%) e o ácido

docosahexaenoico (24,17%). (Ottobell, 2010)

Estes espécimes tem uma capacidade de regeneração razoável de acordo com o

quadro baixo, porem segundo Ferreira, da Ilha do limão, nas suas áreas ele retira

apenas metade dos cipós, por que depois de dois anos da pra tirar quase a

mesma quantidade. “Porém se tirar tudo só vai aparecer para cortar depois de

quatro anos”, segundo a observação empírica (Ferreira, 2013). Não há

comprovação científica, (Vidal, 2003), porem a floresta, hoje vive das atividades

de seus ocupantes - se eles agem bem ou mal, arcam da mesma forma com as

consequências.

Page 25: Paper produção florestal não madeireiros

25    

2.4 – Ervas

Tabela 7: Relação das principais espécies de ervas da região

O número de ervas que fazem parte da cultura amazônica é expressivo - vários

compêndios listam tais ervas e raízes, algumas vieram de outros lugares do

mundo e se estabeleceram na região, outras até se modificaram e passaram a ter

características próprias. As poucas ervas listadas acima foram escolhidas por

serem emblemáticas em relação aos produtos florestais não madeireiros.

O jaborandi, retirado inicialmente do rio Iriri Xingu (Castro, 2004), nos anos 70,

teve um preço que fazia com que garimpeiros que não eram bem sucedidos nas

“fofocas”, áreas emergentes de garimpo, passassem a ser “folheiros”, coletores

de jaborandi, de forma ilegal, na hoje, Flona Carajas, à época reserva da Vale do

Rio Doce, (Couto, 2010). Os preços pagos para o folheiro do jaborandi, quilo da

folha seca, era de R$ 1,70 o quilo e chegou a R$ 3,90, com a criação de uma

cooperativa de folheiros apoiada pela GTZ - uma agencia de fomento da

Alemanha (atual GIZ), que faz um trabalho com a sociedade civil organizada, com

a iniciativa privada e com parcerias publico privadas.

Em 1985, após visita à região, verificou-se que o preço pago pelo quilo do

jaborandi ao folheiro era de R$ 0,50, “na estrada” (de folha seca). O atravessador

ia buscar, na cidade, a R$ 0,70 o quilo, razão pela qual, muitos folheiros se

queixavam que o frete inviabilizava o negocio - esperavam por até 15 dias pela

passagem do caminhão que recolhia a produção.

No inverno amazônico aumentava o tempo de espera - um atravessador

conhecido em conversa informal afirmou que chegou a mandar jaborandi de

helicóptero, para Marabá no auge do inverno onde a transamazônica ficava

Produto

Nome Científico Status Maiores Produtores Matéria Prima na

Amazônia Jaborandi Pilocarpus microphyllus No mercado Maranhão e Piauí

Timbó Derris spp.Fabaceae No mercado Amazonas e Pará Unha de Gato Uncaria tomentosa

Uncaria guianensis No mercado Amazonas Acre

Page 26: Paper produção florestal não madeireiros

26    

intransitável (aliás, fica até os dias de hoje). O mesmo atravessador garantiu que

“tinha muita gente enriquecendo graças a extração do jaborandi”.

Com a diminuição da oferta que também tinha área de coleta no Maranhão, na

zona chamada Pré-Amazônia, em Barra do Corda, a principal compradora,

buscou outras alternativas, domesticou a produção de jaborandi, em uma fazenda

de 2.250 ha, adquirida com a finalidade de domesticação, (Pinheiro, 2002).

Também a utilização da pilocarpina sintética colocou o comercio do jaborandi em

declínio. De forma recorrente e no caso específico, os povos da floresta foram

abandonados a própria sorte, já que os teores de pilocarpina no jaborandi nativo é

maior do que o teor de pilocarpina no jaborandi cultivado.

A indústria sempre busca alternativa, no momento em que ela não vê no

extrativismo uma forma de suprimento seguro. A indústria também, neste caso,

fica em uma posição cômoda, pois compra no momento de alto consumo e no

caso da diminuição do consumo, não há compromisso com os povos da floresta.

O mercado de não madeireiros sobrevive na Amazônia, por varias questões,

como por exemplo, a mão de obra barata, a necessidade de sobrevivência dos

povos da floresta em áreas isoladas, porem é preciso afirmar que este mercado é

largado à própria sorte (como dizia Euclides da Cunha, os povos da floresta são

expatriados na própria pátria).

No momento em que o Estado procura criar uma lei de proteção, parece estar

surgindo uma legislação que ninguém entende que fez com que a compra da

andiroba em Salvaterra na ilha do Marajó, caísse em 95% na atual safra (2013),

simplesmente por que não houve compra de óleo de andiroba, no baixo e médio

Tocantins.

Existe este ano cerca de 200 t de óleo produzido artesanalmente pelos povos da

floresta sem comercialização. Os regatões que comercializam este óleo e levam

para Manaus, para serem comercializados, até mesmo para exportação através

do Estado do Amazonas, não compraram nada neste ano de 2013 (Marques,

2013). Desta forma não se pode criar uma lei que afaste o comprador, pelo

contrário, devem-se criar mecanismos que protejam a comercialização e que o

processo possa ser controlado e acertado por ambas as partes.

Page 27: Paper produção florestal não madeireiros

27    

Um exemplo de como este comercio poderia funcionar surgiu na produção do

óleo essencial da priprioca, (Cyperus articulatus),  para uma grande indústria de

cosmético. Foi feito um acordo com duas empresas, uma de produção de óleo

essencial e outra de fragrâncias. A domesticação do especime, (Cyperus

articulatus), foi feita por técnicos da empresa de óleo essencial. Na época da

colheita, na comunidade de Campo Limpo em Santo Antônio do Tauá - PA, a

quantia produzida ficou muito maior do que o que foi previsto. Surgiu então um

impasse: a indústria de cosmético não queria todo o óleo essencial que poderia

ser produzido pelos tubérculos de priprioca, e os produtores não tinham o que

fazer com todo o material produzido na colheita. Foi feito um acordo entre as

empresas e toda a priprioca foi adquiria, pois a indústria de cosméticos, já tinha

processos na justiça, por questões ambientais. Em outros tempos, como no caso

do jaborandi o produtor seria abandonado à própria sorte com a sua matéria

prima encalhada e o prejuízo correlato.

O caso do timbó é o típico caso de opções que o mercado procura na falta de

oferta do produto ou alta excessiva de preços. Utilizado originalmente pelos

indígenas para pesca de grandes quantidades de peixe (Corbett, 1940) e citado

na literatura (Costa, 1999), este espécime foi substituído pelo DDT, (dicloro difenil

tricloro etano), sintetizado em 1939. Com o surgimento da agricultura orgânica o

timbó, (Derris SSP FABACEAE), passa novamente a ser procurado como uma

alternativa de defensivos agrícolas naturais, só que neste quase um século em

que ficou esquecido fez com que a legislação atual não permitisse a sua

comercialização. Atualmente, não existe legislação que regulamente a sua

utilização em produtos acabados. As poucas quantidades, adquiridas em São

Gabriel da Cachoeira no Estado do Amazonas, fizeram com que os índios

desistissem do negocio. Com a evolução do mercado orgânico, o abandono da

cultura do timbó pode representar prejuízos para a agricultura orgânica e perda de

renda para os povos da floresta.

A falta de legislação no Ministério da Agricultura e ANVISA que hoje

regulamentam a comercialização do defensivos a base de timbó, é a maior

dificuldade do setor produtivo de defensivos orgânicos (Silva L. A., 2013). Em

1938, o Brasil exportava, cerca de 1135 t de timbó, já em 1940 exportou apenas

Page 28: Paper produção florestal não madeireiros

28    

454 t, graças ao aparecimento do DDT, (Higbes, 1948), citado por, (Homma,

2004), sendo os maiores produtores Para e Amazonas.

Existe uma serie de estudos a respeito de timbó que vão do melhoramento

genético ao plantio sendo um espécime rústico que poderia ser utilizado para o

aproveitamento de áreas degradadas e inserido com mais uma fonte de renda

para a agricultura familiar.

Anos 75 77 79 81 83 85 87 89 91 93 95 97

Figura 2. Produção Extrativa de Folhas de Jaborandi (t/ano) no Maranhão (IBGE: 1975-1998).

Já a unha de gato (Uncaria tomentosa) é procurada no mercado como um elixir

para ativar o sistema imunológico e como anti-inflamatório, pois contem alcaloides

oxindólicos e ácido quinóvico, com propriedades e estimulantes do sistema

imunológico (OBREGÓN, 1995). Estas propriedades fazem com que este produto

seja muito procurado, ainda que até o momento pouco aproveitado, pois as fontes

de fornecimento são duvidosas - geralmente contrabandeadas das selvas do

Peru, sem nenhuma rastreabilidade. Existem estudos feitos pela Embrapa que

mostram as vantagens do manejo e da domesticação, (Wadt, 2008) da unha de

gato.

300  

2500  

2000  

1500  

1000  

500  

0  

t  

/Ano  

Page 29: Paper produção florestal não madeireiros

29    

Tabela 8: Densidade dos indivíduos de Uncaria tomentosa (Willd. ex Roem. & Schult) DC., média, desvio-padrão e coeficiente de variação (CV) relativos as quatro parcelas analisadas.

Parcela Densidade, (no ind./ha) 1 33,33 2 84,00 3 105,30 4 12,90

Média 58,9 Desvio-padrão 37,26

CV (%) 63,29

Depois do trabalho realizado pela Embrapa, meia década depois, não se tem

registro da comercialização de nenhum dos itens eleitos no Projeto Kamukaia,

uma prova de que a existência de estudos não é suficiente para desenvolver a

cadeia produtiva.

2.5 – Resinas

Tabela 9: Relação das principais espécies de resinas da região

A copaíba é o maior exemplo de produto não madeireiro que deu certo durante

séculos. Existente na farmacopeia britânica desde século XVIII, além de ser

utilizada com fixador de tintas em quadro a óleo, (foi identificada em pinturas

famosas como a de Vicent van Gogh em abril de 1885, “Os comedores de

batata”), foi e é largamente exportada para todo o mundo.

Sua utilização pelos povos da floresta se confunde com a própria história da

Amazônia. Os estudos realizados sobre os seus ativos são inúmeros. Nos dias de

hoje a copaíba continua a ser largamente comercializada.

Segundo o IBGE (2005), 434 t foram produzidas pelo Estado do Amazonas, 34 t

no Estado do Pará e 7 t em Rondônia. A coleta da copaíba é feita em varias

regiões, de diferentes microclimas, e de diferentes espécimes. Isso faz com que a

Produto

Nome Científico

Status

Maiores Produtores Matéria Prima na Amazônia

Copaiba Copaifera oficinalis No mercado Amazonas e Rondônia Breu branco Breifera No mercado Para e Amazonas

Page 30: Paper produção florestal não madeireiros

30    

porcentagem de seus ativos seja bastante variável, com um bom preço no

mercado, de R$ 15,00 a R$ 34,00 pagos ao produtor – a copaíba pode conter

vários tipos de adulterantes, que vão de óleo de soja ao óleo diesel.

Estes fatos fazem com que a copaíba no mercado nacional tenha uma serie de

limitações, incluindo a sua proibição para ingestão, com fins terapêuticos, pela

ANVISA. Uma ação simples como a padronização de α e β cariofilenos,

concentrados por destilação molecular, tecnologia já existente no Brasil com

preços acessíveis, (www.naturalpro.com.br), poderia fazer com que o produto

fosse vendido como fitoterápico à população.

O breu (Protium heptaphyllum MARCH), é uma resina largamente utilizada para a

fabricação de perfumes a sabonetes. Atualmente é também utilizada como

esfoliante e em misturas para a fabricação de incenso. Existe em grandes

quantidades nas florestas do Pará e Amazonas, (Bandeira, 2002), tem grande

oferta, porem baixa procura. Pouco aproveitado, poderia ter seus ativos isolados,

(Bandeira, 2002), porem falta mercado, dentre outros motivos, pela falta de

divulgação.

2.6 – Óleos Essenciais

Tabela 10: Relação das principais espécies de óleos essenciais da região

Produto

Nome Científico

Status

Maiores Produtores Matéria Prima na

Amazônia

Vetyver Vetiveria zizanoides No mercado Pará

Patchuli ou oriza Pogostemon patchouly No mercado Pará

Pimenta rosa Schinus molle No mercado Pará

Cerejeira Amburana cerarensis No mercado Pará

Hortelã Vick ou (Poejo) Mentha pulegium No mercado Pará

Negramina ou Capitiu Siparuna Guianensis No mercado Pará

Vindicá Alpinia speciosa No mercado Pará

Goiaba Psidium gojava No mercado Pará

São João Caá Melampodium camphoratum No mercado Pará

Salva do Marajó Hyptis crenata No mercado Pará

Page 31: Paper produção florestal não madeireiros

31    

Chamma da Amazônia Mentha sp. No mercado Pará

Catinga de mulata Aeollanthus suaveolens No mercado Pará

Estoraque Ocimum micranthum No mercado Pará

Breu do Campo Ictioteris terminalis No mercado Pará

Imbiriba Eschweilera ovata No mercado Pará

Alecrim do Campo Lippia SP No mercado Pará

Alecrim pimenta Lippia sidoides No mercado Pará

Priprioca Cyperus articulates No mercado Pará Pau Rosa Aniba roseoadora No mercado Pará

O mercado de óleos essenciais movimenta anualmente cerca de 130 milhões de

dólares e segue os principais produtos comercializados no mundo. A Amazônia,

com toda a sua diversidade de aromas, contribui com uma fatia marginal deste

total.

Tabela 11: Relação de espécies de óleos essenciais e a posição de mercado (volume e valor anual da produção)

Óleo essencial Nome botânico Volume anual (t)

Valor anual (USD) x 106

Laranja Citrussinensis(L.) Osbeck 26000 58,5 Menta MenthaarvensisL.f. piperascens Malinv. ex

Holmes 4,300 34,4

Eucalipto cineol Eucalyptus globulusLabill., E. polybractea R.T.

Baker and other Eucalyptus species 3,728 29,8

Citronela CymbopogonwinterianusJowittand C. nardus(L.)

Rendle 2,830 10,8

Hortelã MenthaxpiperitaL 2,367 28,4 Limão siciliano Citrus limon(L.) N.L. Burm. 2,158 21,6 Eucalyptocitronelal EucalyptuscitriodoraHook. 2,092 7,3 Cravo folhas Syzygiumaromaticum(L.) Merr. and L.M. Perry 1,915 7,7

Cedro Virginia

JuniperusvirginianaL. and J. ashei Buchholz 1,640 9,8

Litseacubeba Litseacubeba(Lour.) Pers 1,006 17,1

Fonte: LAWRENCE, B.M.; A planning scheme to evaluate new aromatic plants for the flavor and fragrance industries. In: JANICK, J.; SIMON, J.E.; New crops, New York, Wiley, 1993.

O mercado de óleos essenciais que pode ser desenvolvido na Amazônia é

promissor. Não se sabe de forma concreta o que se tem - a diversidade de ativos

é tanta que seria preciso escrever um capitulo à parte na historia dos produtos

florestais não madeireiros.

Page 32: Paper produção florestal não madeireiros

32    

Os pesquisadores Maya e Zogby do Museu Paraense Emilio Goeldi tem varias

publicações sobre o assunto, e só o material gerado por estes dois cientistas

poderiam levar a criação de um centro de óleos essenciais amazônicos, para

desenvolvimento de formas de cultivo e extração de óleos, que poderiam ser

criadas e/ou adaptadas.

Neste setor um avanço são as extrações de óleo de pau rosa retirado de galhos e

folhas, fruto das exaustivas pesquisas de Lauro Barata, (UFOPA), um verdadeiro

oráculo, quando o assunto são produtos florestais não madeireiros. Com a ajuda

da iniciativa privada, o referido pesquisador conseguiu inserir seus estudos em

sistemas produtivos, que já estão dando resultados.

Outros projetos, como o da priprioca idealizado por Eduardo Matoso, cientista do

desenvolvimento de aromas e óleos essenciais, da Indústria Kaapi em Campinas,

inseriu comunidades agroextrativistas em uma cadeia produtiva que tem como

resultado a geração de renda para as mesmas e matérias primas novas para a

indústria de fragrâncias. Tais iniciativas mostram que o aproveitamento destas

matérias primas é possível em um sistema produtivo em que todos saem

ganhando, produtores, povos da floresta e a população em geral.

3. A FALTA DE INSTRUMENTOS ESTATISTICOS CONFIAVEIS PARA AVALIAÇÕES E TOMADA DE DECISÕES

Nos capítulos anteriores, vários produtos que tem potencial de exploração ou já

são explorados industrial ou artesanalmente foram destacados. Celestino Pesce

já tinha feito esforço neste sentido em 1941, com oleaginosas, no livro

“Oleaginosas da Amazônia”.

Nos últimos 70 anos tem-se tentado fazer alguma coisa a respeito, mas

continuamos na mesma situação, talvez até em patamar pior, uma vez que

algumas espécies provavelmente foram destruídas sem que pudéssemos nem se

quer chegar a conhecer.

A EMBRAPA, em toda a Amazônia, faz publicações exaustivas sobre produtos da

floresta, processos analíticos, metodologias de produção, produz cultivares, etc.

Porém quem realmente trabalha na floresta, não tem acesso a estas informações

Page 33: Paper produção florestal não madeireiros

33    

e tecnologias - continuam produzindo como seus avós, uma vez que a produção

cientifica, a informação sobre novas tecnologias não chega até eles (e quando

chega, invariavelmente ficam desconfiados, uma vez que são séculos de

exploração, enganações e mentiras).

Os projetos chegam de cima pra baixo (quando são discutidos e construídos com

a comunidade tem tudo pra dar certo), porem, como já foi enfatizado, falta dados

confiáveis.

Os dados do IBGE em um relatório de 2009-2010, “quantidade produzida e

variação percentual dos produtos da extração vegetal e da silvicultura – Brasil”

(conforme comentário da tabela abaixo) informa uma produção inexpressiva de

não madeireiros. Se os dados do IBGE fossem verdadeiros teríamos um êxodo

enorme das florestas para os centros urbanos, ou então todos os povos da

floresta morreriam de fome. De fato, o extrativismo é o que sustenta e mantém os

povos da floresta em seus locais de origem. Esta discrepância entre os dados

reais e os estatísticos é um retrato da informalidade dos produtos florestais não

madeireiros, uma vez que dificilmente os institutos de pesquisa e estatísticas

terão acesso a estes dados. Por outro lado, o povo da floresta tem que perder o

medo das autoridades constituídas e de regulação e o Estado tem que se

aproximar deste povo, para ganhar confiança, produzir um senso florestal serio

que possa incorporar indivíduos botânicos ou não, incorporar o que cada um

produz e utilizar estes dados para gerar produtos, demandas e divisas.

O senso deveria ter o acompanhamento de cientistas, assistentes sociais e

técnicos especializados, em áreas devidamente mapeadas. Dever-se-ia,

prioritariamente, escutar o povo (a “galinha dos ovos de ouro”), pagar uma diária

para cada família ribeirinha, indígena ou não, para que pudessem ficar à

disposição no dia marcado para a consulta, e escuta-los sem pressa e sem

formulários longos e pré-elaborados. Já se tem tecnologia para gravar longas

horas de conversa, só assim se teria condições de ter uma ideia mais elaborada

de quem são os colaboradores, de que povo é este que está envolvido na

extração vegetal e na silvicultura, como vive, que sonhos e demandas cultivam,

enfim, levantar o histórico de cada família (quem ficou na floresta, quem partiu, o

que estudou, etc.)

Page 34: Paper produção florestal não madeireiros

34    

O levantamento deveria envolver o setor produtivo, em casos de grandes

quantidades de produtos que não tem valor comercial, estuda-los e inseri-los na

cadeia produtiva. Poderia ainda, enumerar um grande número de produtos que

ainda não se conhece e que devem ser investigados (para que amanhã não nos

arrependamos de não termos conhecido, estudado e aproveitado os mesmos).

Um exemplo disto e o óleo do pracaxi (Pentaclethra filamentosa), largamente

utilizado como lenha. A espécie foi quase que totalmente destruída na foz do Rio

Amazonas, mas hoje sua semente produz um óleo, que depois de mais de quinze

anos de insistência, apresentando no mercado nacional e internacional, começa a

ser aproveitado em vários tipos de produto e mesmo in natura.

Tabela 12: Quantidade produzida e variação percentual dos produtos da extração vegetal e da silvicultura no Brasil

Quantidade t. Oleaginosas Ano Ano Variação

2009 2010 (%) Babaçu (amêndoa) 109 299 106 055 (-) 2,9 Copaíba (óleo) 538 580 (-) 7,8 Cumuru (amêndoa) 97 95 (-) 2,2 Licuri (coquilho) 4 654 4 307 (-) 7,5 Oiticica (semente) 250 37 (-) 85,4 Pequi (amêndoa) 5 869 5 786 (-) 1,4 Tucum (amêndoa) 636 517 (-) 18,7 Outros 180 514 185,7

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura 2009-2010.

Tabela 13: Participação percentual das atividades do setor agrícola no valor adicionado bruto a preço básico (2007)

Estado Agricultura, silvicultura e exploração florestal.

Pecuária e pesca

Total

Rondônia 7,9 12,4 20,3 Acre 11,9 5,3 17,2 Amazonas 3,6 1,2 4,8 Roraima 5,3 1,4 6,7 Pará 3,0 5,5 8,5 Amapá 3,2 1,1 4,3 Tocantins 8,8 9,0 17,8 Maranhão 14,1 4,5 18,6 Mato Grosso 22,2 5,9 28,1 Brasil 3,8 1,7 5,5

Fonte: IBGE

Page 35: Paper produção florestal não madeireiros

35    

Tabela 14: Área das culturas anuais e perenes para a Amazônia Legal - Região Norte e Mato Grosso, 2008

Culturas anuais Área 1000 ha Culturas perenes Área 1000 ha Amazônia 12.500 Amazônia 664 Região Norte 2200 Região Norte 541 Mato Grosso 8600 Mato Grosso 85 Soja 6400 Cafeeiro 206 Milho 2700 Bananeira 105 Arroz 1200 Cacaueiro 109 Mandioca 757 Dendezeiro 60 Algodão 559 Coqueiro 36 Feijão 318 Pimenta-do-reino 25 Cana-de-açúcar 296 Laranjeira 20

Fonte: Dados básicos do IBGE, com dados do autor.

A discrepância de dados é notória só a Amazon Velas, a título de exemplo,

indústria situada em Ananindeua no Pará, produziu 52 t de óleos diversos em

2011, segundo o Sinovespa, sindicato da categoria (Otavio, 2013).

4. PEQUENOS PROJETOS QUE PODEM SERVIR DE EXEMPLO

A experiência da Universidade Federal do Estado do Amazonas - UFAM, com o

patrocínio do CNPQ, com o projeto “Valorização da biomassa para a produção de

energia elétrica nas comunidades isoladas do Médio Juruá” é digna de registro. O

projeto tinha como objetivo, fazer funcionar geradores de energia elétrica a óleo

vegetal, que seriam produzidos na própria comunidade. O projeto recebeu o apoio

de uma indústria de cosméticos e passou a comprar os óleos produzidos na

comunidade e fornecer o diesel para o funcionamento dos geradores de energia

elétrica. A renda gerada pelo comercio dos óleos desenvolveu a comunidade que

hoje tem saneamento básico, energia elétrica e qualidade de vida.

Projetos como o da UFAM, permitem que a comunidade gere renda e contribua

para o sequestro de CO2. O Professor José Castro da Universidade, coordenador

do projeto, chegou à comunidade para escutá-la, explicar o projeto e iniciar as

atividades. O referido pesquisador coordenava desde engenheiros ate assistentes

sociais - o trabalho foi árduo porem os números e a própria aparência da

Comunidade do Roque, no Município de Carauari, no Rio Juruá, Estado do

Amazonas fala por si só (foi necessário, inclusive, controlar o êxodo de outras

comunidades para a comunidade do Roque para não se ter problemas de

superpovoamento da área extrativista). Tal experiência demonstrou que projetos

Page 36: Paper produção florestal não madeireiros

36    

de sustentabilidade, mesmo em comunidades isoladas como a do Roque, são

viáveis (Correia, 2005) (veja Anexo 1).

5. CONCLUSÕES

Como foi enfatizado neste documento o desafio da utilização sustentável dos

produtos florestais não madeireiros não é apenas de pesquisa, não é o valor que

estes produtos tem ou que estes produtos possam vir a ter, mas sobretudo uma

questão de atitude, de desenvolvimento de cadeias produtivas como um todo, de

incentivos e principalmente regulamentação dos setores correlatos.

Criar artifícios que controlem, por exemplo, qual a mínima quantidade de

produto florestal não madeireiro que pode ser utilizado em um produto acabado

para que ele tenha nos seus rótulos apelos como: PRODUTO DA AMAZÔNIA,

AUXILIANDO A PRESERVAR A FLORESTA ou PRODUTO DA AMAZÔNIA

ECOLOGICAMENTE CORRETO (selo de procedência).

Ao se analisar cerca de 10 sabonetes de copaíba oferecidos no eixo sul e

sudeste, (resultados não transformados em trabalho cientifico), com exceção de

apenas um no qual foi inserido cerca de 5% de copaíba, foram encontrados

apenas traços de insaponificáveis e em dois absolutamente nada de copaíba. O

INMETRO uma vez informado, argumentou não ter legislação que quantifique

quantidades mínimas destes ativos (em contato com a instituição pediram para

que fosse enviado e-mail sobre o fato - dois anos se passaram e até hoje

aguarda-se uma resposta do órgão em questão).

Mesmo em grandes empresas do setor de cosmético existe esta pratica. Sabe-se

que os produtos da floresta são em tese sustentáveis, porem a maioria não tem

sustentabilidade econômica e ambiental - uma empresa não pode comprar um

tambor de 180 Kg de copaíba e produzir com esta quantia de copaíba vinte

toneladas de massa de sabonete e afirmar que “ajuda a preservar a floresta”. O

sabonete em questão vai ter menos de 1% de ativos – o consumidor está sendo

enganado (estão usando o apelo natural e sustentável para aumentar as vendas e

logicamente os lucros).

Não se trata de generalizar e nem crucificar o setor produtivo, não há saída para

as questões de demanda de produtos não madeireiros sem o mesmo, mas sim da

Page 37: Paper produção florestal não madeireiros

37    

necessidade de se discutir aspectos como a garantia de fornecimento de

insumos, a qualidade dos produtos oferecidos, e incentivos, etc.

O setor produtivo não se arrisca a lançar novos produtos com ativos não

madeireiros se não tiver incentivo e apoio institucional. Por outro lado, o setor

produtivo deve ser inspecionado para que não engane o consumidor e utilize de

forma inadequada o nome da floresta e dos povos que nela vivem para aumento

de margem de lucro.

As instituições de pesquisa tem que estar mais ligadas ao setor produtivo, seja

quantificando ativos, seja comprovando a sua eficácia. As Universidades da

Amazônia tem poucos técnicos e doutores e apenas uma minoria se encarrega de

publicar questões referentes aos produtos não madeireiros no exterior.

O setor produtivo não consegue fazer analises triviais na Amazônia, como

composição graxa de óleos e marcadores fitoquímicos para óleos e extratos, ou

mesmo fazer uma analise mais especifica de como identificar e dosar uma nova

molécula ou um alcaloide já conhecido da literatura (para tal é quase sempre

necessário se fazer um projeto que será transformado em monografia de

mestrado ou tese de doutorado, o que na melhor das hipóteses vai durar 3 anos).

A indústria regional seja ela de cosméticos, de fármacos ou de fitoterápicos não

tem tempo a esperar, precisa de agilidade para se desenvolver. A indústria

farmacêutica, por exemplo, é movida por novas moléculas, com ativos

interessantes - existem milhares de indivíduos botânicos que aguardam que seus

princípios ativos sejam isolados e a eficácia comprovada.

As licenças para pesquisas são lentas, a indústria de transformação primaria

existe e é viável economicamente, mas tem como principal gargalo a demanda,

que é muito volúvel. A indústria esta pronta para iniciar um processo mais

sistemático, com cadeia de custodia e certificação orgânica - ela se consolida a

cada dia no mercado internacional e começa a ser respeita como uma indústria

viável, séria, embora seja de origem extrativista e sofra com as variáveis da

floresta que são muitas.

Os extrativistas estão cada dia mais organizados e cientes do papel que lhes

cabem na cadeia de preservação da floresta – não se pode, em nome da

Page 38: Paper produção florestal não madeireiros

38    

agregação de valor, imaginar que cada cooperativa ou associação extrativista

posse deter sua marca própria de cosméticos. Isto não faz parte da sua natureza

e tal fato tem que ser respeitado, uma vez que cada grupo tem uma forma

peculiar de comportamento (cada grupo tem inserção própria na cadeia de

suprimento de produtos florestais não madeireiros).

O mercado de produtos acabados fica, a cada dia, mais interessado e

acompanhando de perto as questões de legislação e da cadeia produtiva. Mas é

preciso modificar a legislação para que possa se adequar aos novos tempos. A

chamada “partição de benefícios” é um assunto que assusta e afasta o setor

produtivo dos produtos não madeireiros. A título de exemplo, uma pequena

empresa regional, Arte dos Aromas, formadora de opinião, retirou de linha todos

os seus produtos com ativos da floresta (assim como ela outras tiveram o mesmo

comportamento). A maior partição de benefícios para os povos da floresta é o

aumento da demanda, é geração de renda e consequentemente preservação,

seja por adensamento florestal, seja por manejo de áreas virgens e de

preservação permanente, seja por domesticação.

O “povo da floresta” ocupa há cinco séculos o território, área de dimensões

continentais, inóspita e linda. Desde então se passaram vários ciclos de

extrativismo, fantásticos na visão geral, com alegria ou sofrimento, que geraram

riquezas e divisas. O amazônida sobreviveu e continuará a sobreviver, com os

governos, sem os governos e apesar dos governos.

Cada vez mais, corre-se o risco de se perder tempo, de postergar a criação de um

sistema que premie e valorize o extrativismo e a domesticação de produtos

florestais não madeireiros e que alie a tal fato a “indústria sem fumaça” (limpa,

como a do turismo, por exemplo).

Cabe ao estado um papel importante, além do policialesco, implacável quando

delitos são cometidos, que propicie condições de uma vida mais digna aos povos

da floresta, sem retirá-los do seu habitat natural gerando, como consequência, a

preservação do ambiente natural e geração de divisas para a região e para o

país.

Page 39: Paper produção florestal não madeireiros

39    

6. BIBLIOGRAFIA

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ANEXOS

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Anexo 1: Inicio do projeto na Comunidade do Roque no Médio Juruá.

“O copaibeiro” produz pouco mais de um litro de copaíba em um dia de trabalho e uma noite no “mutá”01, para conseguir alimento. A caça foi saboreada, a copaíba recolhida, foi vendida por R$ 3,00 para o primeiro atravessador.

   

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Anexo 2: Evolução da Indústria de Polpa do Açaí

Foto: Poema / UFPa Foto: Virgínia Martins da Matta

Aspecto da despolpadeira industrial de frutos de açaizeiro

Alimentação da batedeira com frutos de açaizeiro

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Anexo 3: Comunidade do Roque no Inicio do Projeto no ano de 2000

Fotos - Luiz Morais – De cima pra baixo: Porto da Comunidade do Roque Montagem das primeiras prensas manuais, ao fundo Dr. Castro Luiz Morais explicando o funcionamento das maquinas manuais ao fundo a Assistente Social Neyde Silva

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47    

Anexo 4 - Evolução da paisagem na Comunidade do Roque

Fotos José de Castro

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Anexo 5 - Evolução da paisagem na Comunidade do Roque

Fotos José de Castro

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Anexo 6 - Porto da Comunidade do Roque no ano de 2008

Foto - José de Castro