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1 Crencas sobre a traducao e 0 tradutor ~ ~ revlsaoe perspectivas para novas planas de 0<;:00 Neste capitulo, vamos abordar os seguintes aspectos: As crenc;as mais comuns em relac;ao a traduc;ao e ao tradUtor esua aplicabilidade au validade a luz das novas teorias dos estudos datraduc;ao; • A noc;ao de estrategiasde tradurao esua relevancia na abordagem doproces- so tradutorio e do tradutor; • Os principais elementos envolvidos no processo tradutorio e seupapel na criac;ao de condic;6es que propiciem urn trabalho bem-sucedido. Um dos assumos que vem sendo muito pesquisados atualmente nas areas de educac;ao e cognic;ao saGas fatores que influenciam 0 processo de aprendizagem e aquisic;ao de conhecimentos. Dentre esses fatores, ganha destaque 0 papel das cren- c;asnoprocesso deaprendizagem. POl' crenc;as,entende-se todo pressuposto a par- tir do qual 0 aprendiz constr6i umavisao do que sejaaprender eadquirir conheci- mento. Segundo pesquisadores, todo aprendiz possui uma serie de crenc;as a res- peito doque e aprender: como se aprende, qual 0 esforc;o a ser despendido nessa tarefa e com que velocidade SaGassimilados os conhecimentos (Butler &Winne, 1995). Esses pressupostos determinam os recursos e a for;ma que o.aprendiz utili- zarapara resolver todo problema que surgir ao longo de seu aprendizado (Jacobson et al., 1996). Orientado pelas suas crenc;as, a aprendiz decide 0 queaprender,como, quando e em quanta tempo. Crenc;as que refletem adequadamente 0 processo de ensino/aprendizagem geralmente conduzem aaprendiz a escolha de recursos e t'ixmas apropriadas que, par sua vez, garantem 0 sucessoe 0 contfnuo exerdcio de procedimentos acertados. Par outro !ado, crenc;as err6neas ou pouco fimdamen- tadas levam 0 aprendiz aoptar parrecursos e formas nao apropriadas e culminam, geralmente, noinsucesso e nainsatisfac;ao. Pesquisadores comprovaram como

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1Crencas sobre a traducao e 0 tradutor~ ~revlsao e perspectivas para novas planas de 0<;:00

Neste capitulo, vamos abordar os seguintes aspectos:• As crenc;as mais comuns em relac;ao a traduc;ao e ao tradUtor e sua

aplicabilidade au validade a luz das novas teorias dos estudos da traduc;ao;• A noc;ao de estrategias de tradurao e sua relevancia na abordagem do proces-

so tradutorio e do tradutor;• Os principais elementos envolvidos no processo tradutorio e seu papel

na criac;ao de condic;6es que propiciem urn trabalho bem-sucedido.

Um dos assumos que vem sendo muito pesquisados atualmente nas areas deeducac;ao e cognic;ao saGas fatores que influenciam 0 processo de aprendizagem eaquisic;ao de conhecimentos. Dentre esses fatores, ganha destaque 0 papel das cren-c;asno processo de aprendizagem. POl' crenc;as, entende-se todo pressuposto a par-tir do qual 0 aprendiz constr6i uma visao do que seja aprender e adquirir conheci-mento. Segundo pesquisadores, todo aprendiz possui uma serie de crenc;as a res-peito do que e aprender: como se aprende, qual 0 esforc;o a ser despendido nessatarefa e com que velocidade SaGassimilados os conhecimentos (Butler & Winne,1995). Esses pressupostos determinam os recursos e a for;ma que o.aprendiz utili-zara para resolver todo problema que surgir ao longo de seu aprendizado (Jacobsonet al., 1996). Orientado pelas suas crenc;as, a aprendiz decide 0 que aprender, como,quando e em quanta tempo. Crenc;as que refletem adequadamente 0 processo deensino/aprendizagem geralmente conduzem a aprendiz a escolha de recursos et'ixmas apropriadas que, par sua vez, garantem 0 sucesso e 0 contfnuo exerdcio deprocedimentos acertados. Par outro !ado, crenc;as err6neas ou pouco fimdamen-tadas levam 0 aprendiz a optar par recursos e formas nao apropriadas e culminam,geralmente, no insucesso e na insatisfac;ao. Pesquisadores comprovaram como

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determinadas crenc;as - tais como a de que <!"llprendizagem deva ser um processorapido sem demanda de maior esforc;o -levam (, aprendiz a escolher formas mui-to superficiais de contato com 0 novo conhecimento, produzindo-se uma imeraC;aopouco significativa cujo resultado e a nao apreensao de conhecimento.

A area de ensino/aprendizagem de lfnguas estrangeiras tambem e ilustrativaa esse respeito. Pressupostos em relaC;ao ao metodo de aprendizagem de umallngua, 0 p,apel do professor em sala de aula, a relevancia da gramitica no pro-cesso de aquisiC;ao da lfngua, ou 0 roteiro a ser seguido para aprender 0 idiomasac exemplos de crenc;as que alunos possuem a respeito da aprendizagem delfnguas estrangeiras. Essas crenc;as, as pesquisas mostram, int1uenciam direta-mente 0 comportamento do aprendiz eo grau de sucesso dele na tarefa quepersegue (vide McDonough, 1995). Muitos alunos de Hnguas estrangeiras acre-ditam, por exemplo, que aprender um idioma e aprender rapidamente e de umavez s6 uma serie de regras gramaticais e vocabulario que serao guardados namemoria como conhecimento ji adquirido sobre essa Hngua. Apos consegui-rem um certificado de conc1usao de um determinado nIvel, esses aprendizesinterrompem seus estudos da lfngua, acreditando que 0 conhecimento ja foiadquirido e que nao mais precisa ser posto em pritica ou expandido. Apos urncerto pedodo de tempo, VaGse queL'(ar do esquecimento de tudo que foi apren-dido, devendo novamente frequentar urn curso daquela lIngua estudada. Comoessa cren<;a e muito arraigada, vemos aprendizes que transitam por diversos cur-sos, metodos e professores, sempre repetirido 0 mesmo processo de estudo econsequente abandono. Felizmente, alguns alunos (cada vez mais) possuem outrapercep<;ao do que seja aprender uma llngua e percorrem esse processo de pri-tica e aumento do conhecimento contInuos que garante urn sucesso maior.

Muitos aprendizes de Hnguas estrangeiras acreditam tambem que 0 suces-so no desempenho do idioma esti relacionado com 0 fato de a pessoa ter mora-do no exterior, num pais onde se fala a lfngua estrangeira, 0 que constitui umacren<;a erronea,ja que numerosos falantes proficientes em lfnguas estrangeirasnunca tiveram a oportunidade de viajar para 0 exterior. Tendo em vista 0 mlme-ro de materiais de apoio (fitas cassete, fitas de VIdeo, revistas, livros etc.) e os recur-sos computacionais atualmente disponIveis (CD-ROM, softwares de auto-aprendi-zagem, a Internet, a televisao a cabo), 0 aluno que faz uso adequado deles e utilizaestrategias apropriadas de aprendizagem pode adquirir urn nlvel de proficienciacomparivel, senao superior, ao do aprendiz que reside urn tempo no exterior. Comoessa crenc;a e muito difundida e pouco problematizada, sac muitos aqueles queatribuem seu insucesso l1aaprendizagem de uma Hngua estrangeira ao fato de naoterem morado num pais estrangeiro e nao tentam explorar caminhos alternativospara desenvolver sua competencia comunicativa l1alingua. Temos, assim, um cir-culo vicioso, no qual a crenc;;aaparentemente explica 0 insucesso, ao mesmo tempoque 0 reforc;;ae impede solu<;oes para 0 problema vivenciado pelo aprendiz<

As cren<;as variam de pessoa a pessoa e estao re!acionadas as experiencias decada indivIduo e ao contexte sociocultural com 0 qual interage. Por se tratar de

idCias e pressupostos que 0 aprendiz formula a partir de sua experiencia, as cren-<;assac passIveis de mudan<;a, seja pelo proprio acumulo de vivencias do aprendiz,seja pela intervenC;;aodeliberada pOI'parte de algum agente (professor, empregador,colega, amigo, membro da familia ete.) no seu processo de aprendizagem. .

Como essas reflex6es sobre cren<;as referem-se a processos de aprendlza-gem em geral, elas tambem se aplicam ao assunto especifico que iremos tratar, istoe, a traduc;;ao e ao tradutar. Crenc;as sobre a traclu<;aoeo tradutor sao, assim, todasaquelas percepc;;6es que se tern sobre 0 que seja traduzir, 0 que e uma boa traduc;;ao,o pape! do tradutar ete. No caso do aprendi:c de tradu<;ao, essas percepc;;oes filtramas formas de pensar e abordar a traduc;ao e tem urn efeito consideravel no de-sempenho do tradutor-aprendiz e no trabalho a ser desenvolvido. Por se tratar deconcepc;;oes sobre 0 processo tradutorio que podem nao se corroborar como ade-quadas ou positivas, as crenc;;aspodem conduzir a uma traduc;;ao nao adequada ouinsuficiente. Como esses pressupostos sac parte de urn conhecimento previo, ad-quirido pe!o aprendiz e armazenado como noc;;oesde referencia, pouco revisadasou questionadas as crencas dao lua-ar a expectativas que, quando nao plenamente, . "satisfeitas, produzem ansiedade e sentimento de insucesso e trustraC;;ao. No casoespecifico da traduc;;ao, as crenc;;ascomprovadamente desempenham um papel so-cial mais amplo e, partanto, mais critico, uma vez que alem de influenciar aperformance do tradutor, elas tambem determinam a forma como a sociedade emgeral tende a avaliar a traduc;;ao como profissao e 0 tradutor como agente dessaatividade, com base nessas percepc;;oes mais divulgadas.

Para compreender a reJa<;ao entre crenc;;as e performance e cren<;as e julga-mento da tradu<;ao, vamos fazer primeiro uma atividade sobre esse assunto.

CRENi;AS SOBRE A TRADUi;AO E 0 TRADUTORLeia cad a uma das afirmayoes cont;iolas na t;abela 1.1e decida se voce (a) concordacom ela, (b) discorda dela au (c) se voce nao t;em opiniaa formada a respeiw,

Tabela 1.1-------,------ . ----r-- .----,----i

1,-:rnd~:=,rt~:::==PO"~,:-1-C-I~n

I .podem exerce-Ia grayas a um dom especial. ; I 1I .....l--; ...J .

r---,------.------------+--- I III 2. A tradw;:ao e uma atividade pratica que reque~ apenas I

1II

III

um conhecimento da lingua e um bom dlClonano,L. .__ , I

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Crem;:a C D NS

3. o tradutor deve ser falante biJingue 0ll ter morado numpais onde se fala a lingua estrangeira com a qual tra-balha.

4. S6 se pode traduzir da lingua estrangeira para a linguamaterna, uma vez que s6 dominamos esta ultima.

5. o tradutor e urn traidor e toda traduyilo envolve certograu de traiyilo.

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"competencia tradutaria", que pode ser definida como todos aque1es conheci-mentos, habilidades e estrategias que 0 tradutor bem-sucedido possui e queconduzem a urn exercfcio adequado da tarefa tradutaria. 0 pesquisaclor StuartCampbell (1998), pOl' exemplo, aponta que a competencia tradutaria envolvehabilidades chamadas "inferiores", como conhecimento do lexica, damorfologia e da sinta.xe das linguas envolvidas, bem como 0 dominio de habi-lidades ."superiores" que dizem respeito a niveis maiores de complexidade,como conhecimento de aspectos textuais., de coesao e coerencia, reconheci-mento de macro-estruturas textuais e col,iga~6es lexicais e, evidentemente,dominio de registros e generos discursivos e sua inser~ao no contexto no qualo texto traduzido sera incorporado. A forma~ao requer 0 desenvolvimento dehabilidades que transcendem 0 conhecimento meramente linguistico. Ainda,como veremos no capitulo 3, dentre essas habilidades ressaltam-se a busca desubsfdios externos, isto e, de informa~6es e conhecimentos necessarios a re-cria~ao do texto, e a utiliza~ao de recurs os tecnolagicos que comprovadamenteaprimoram a tradu~ao. Temos, tambem, como veremos no capitulo 4, a capaci-dade de dedu~ao, indu~ao e assimila~ao de conhecimentos de diffcil acesso, 0

pape! dos mecanismos inferenciais, e a capacidade de continua atualiza~ao dcseus conhecimentos gerais e espedficos como subsfdios internos fundamen-tais ao exerdcio da tradu~ao.

1. A tradufclo e uma arte reservada a uns poucos que podern exerce-Ia grafas a umdom especial.

Esta cren~a aparece ti-eqi.ientemente quando se avalia uma tradu~ao quede alguma maneira se destaca pela sua quaIidade ou quando se qucr condenaruma t~adu~ao mal-sucedida. Esta impIfcita aqui a ideia de que se nasce tradu-tor ou que so se pode chegar a se-lo quando se possui este dom. Longe de cor-roborar essas afirma~6es, as pesquisas mostram que tndutores competentes ereconhecidos possuem uma carreira que envolve experiencia e qualifica~ao.Vma quota de sensibilidade artistica certamente contribui para a beleza de de-terminados textos, especialmente, os literarios. Contudo, renomados poetas etradutores tbn reconhecido em diversas oportunidades a necessidade de setel' uma vivencia e urn grande conhecimento cultural e linguistico para levar acabo uma tradu~ao.

3. 0 tradutor deve ser ja/ante bil£ngue ou tel' morado num paLS onde sefala a l£nguaestrangeira do par UnguLstico com que trabalha.

As pesquisas sem duvida corroboram esta afirma~ao, embora nao em caLlterde exclusividade. Alguns falantes bilingues exercem a tradu~ao com sucesso, bemcomo alguns tradutores que possuem vivencia de alguma das culturas em que setala a llngua estrangeira. No entanto, os estudos tambem mostram que, nesses ca-sos, 0 bilingliismo ou avivencia do tradutor estao acompanhados de uma forma~aoque the permite 0 bom desempenho como tradutor. Nao devemos esquecer que 0

falante bilingue pode tel' um dominio limitado das llnguas que tala ou pode naocontar com alguns dos outros aspectos que fazem parte da chamada "competenciatradutaria", mencionados no ponto anterior.

2. A tradu~-(joe uma atividade pratica que requer apenas urn conhecimento da l£ngua eurn born dicionario.

Esta afirma~ao,uma das mais divulgadas sobre a tradu~ao, tern contrib~f-do para 0 estatuto da tradu~ao como atividade menor, pouco reconhecida pe!omercado de trabalho e pe!as diversas institui~6es que requerem servi~os detradu~ao, tais como universidades, agencias governamentais e embaixadas. Aspesquisas confirmam 0 que uma longa hist6ria de casos e faws narram sobreinsucessos envolvendo a tradu~ao: a pratica da tradu~ao requer estrategias dediversas naturezas, algumas das quais podem ser adquiridas pOl'meio da expe-riencia, sendo que outras podem se'r desenvolvidas ou aperfei~oadas pe!a for-ma~ao proflssional. Tearicos e pesquisadores referem-se ao que se chama de

4. S6 se pode traduzir da l£ngua estrangeira para a Ungua materna, uma vez que 56dominamos esta iiltima.

Esta percep~ao, tambem bastante diftmdida entre os profissionais e aprendi-zes de tradu~ao, merece uma analise pOI'partes. Em primeiro lugar, temos de lem-brar que 0 fato de sermos falantes nativos de uma lingua nao nos habilita automati-camente a traduzir para essa lingua. Reiterando conceitos anteriores, naG basta aoexerdcio da tradu~ao 0 conhecimento linglifstico. Alem disso, e prudente lembrar

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que falantes nativos possuem diversos graus de conhecimento e proficiencia desua lfngua materna, muitas vezes relacionados com sua forma~ao escolar e sua ex-periencia de vida. De maior relevancia, ainda, e preciso relembrar que a tradu~aorequer uma formac;;ao e uma qualitlcac;;ao que fornecem ao tradutor as habilidadese conhecimemos sutlcientes pan uma boa performance. Nesse sentido, 0 domi-nio de uma lfngua estrangeira,juntameme com urn conhecimento cultural e tec-nico, e as habilidades apropriadas para 0 exercfcio d-arecriac;;aode urn texto, possi-bilitam a traduc;;aopara a lingua estrangeira sem maiores problemas. Quest6es maiscomplexas, como a das coliga~6es textuais e as tipicidades do falante nativo, esraohoje muito pr6ximas de serem resolvidas grac;;asao desenvolvimento de bancos dedados de coligac;;6ese combinac;;6es mais frequentes l1uma lIngua e numa cultura.E interessante observar, ainda, 0 que poderfamos chamar de aspectos psicol6gicosda atividade tradut6ria, pouco explorados ainda, mas cada vez mais presentes emdepoimentos de tradutores. Trata-se da questao da empatia com uma determinadalingua au cultura e das preferencias baseadas em aspectos biograficos ou sociol6-gicos da vida do tradutor. Dentre os inumeros depoimentos, podemos mencionaro da tradutora canadense Suzanne de Lotbiniere-Harwood (1991), que foi alfabe-tizada em frances e que tern afirmado s6 poder traduzir p'ara 0 ingles, sua segundalingua, uma vez que 0 frances representa para ela a lingua da socializac;;aoe portantodas imposic;;oes sociais e sexuais de sua inrancia ejuventude.

os requisitos especfficos de urn avaliador, 0 resultado era rotulado de traiC;;:1o,im-perfeic;;ao, inexatidao. Teorias desenvolvidas ja a partir dos anos 50 e novas teoriasfundamentadas em pesquisas academicas recentes mostram a complexidade doprocesso tradut6rio, que envolve aspectos da prodUl;50 e recepc;;ao de textos. As-sim, por exemplo, podem ser realizadas diferentes traduc;;oes de urn mesmo origi-nal de acordo com os objetivos pretendidos, 0 publico-alvo, a func;;aoque se buscaatribuir ao teA'LOtraduzido e outros fatores mercadol6gicos ou nao que panicipamdas decisoes a serem tOmadas na recriac;;aode urn texto numa nova lingua e cultura.

Neste livro queremos desmititlcar todas essas crenc;;ascitadas e demonstrarque e possivel se traduzir, adequada e apropriadamente, de e para uma lingua es-trangeira, a partir de uma formac;;ao especializada do tradmor, de seu exerdcioconsciente da profissao e de sua continua qualificac;;ao.

Para termos uma aprecia<;;aomais aprofundada de alguns dos principios te6-ricos sobre tradu<;;50que foram pontuados nos comentarios sobre cada cren<;;a,va-mos analisar alguns exemplos de traduc;;ao.

Atividade 2

Um cliente solicita que voce traduza 0 texto a seguir para incluf-lo num volumede exemplos de tradu.;;oes do ingles para 0 portugues. Leia 0 texto contido na

figura 1.1e traduza.

5. Traduttori, traditori

Autiga e tamosa, Iegitimada por todas as epocas e cultUf3S, esta afirmaC;;aoain-da domina as conversas e coment:irios sobre a traduc;;ao. Ela e responsavel pelodescredito que a prcifissao recebe em alguns circulos e, infelizmente, continuasendo confirmada por exemplos de trabalhos improvisados ou realizados par pes-soas nao qualificadas. Felizmente, no en tanto, a enfase que a traduc;;ao vem rece-bendo nas universidades e centros de estndos que desenvolvem pesquisas na areaeo interesse que a formac;;ao e qualifica~ao dos futuros tradutores vem despertan-do em centros de eosino tern em muito contribuido para a contestac;;ao desse fa-moso adagio. Contudo, a problematizac;;ao dessa crenc;;atern recebido suporte maiora partir das teorias que redefinem a natureza e 0 objetivo da traduc;;ao desenvolvi-das, sobretudo, com a consolidac;;ao da disciplina Estudos da Traduc;;ao a partir dosanos 80. A ideia de "trai<;;ao"pressupunha, dentre outras coisas, uma autra crenc;;atambem ainda bastante disseminada, de que se traduz num vacuo temporal e cul-tural, no q,.ualuma ideia formulada numa lingua pode ser automaticamente trans-posta para outra lingua como se se tratasse de uma operac;;aomatematica de equiva-lencias entre palavras mediada por urn dicionario. Esse pressuposto levava a acre-ditar que haveria uma transposi~ao ideal e unica que seria, entao, a traduC;;aoperfei-ta. Como as avaJia<;;oesdas traduc;;oes freqi-ientemente diferiam ou nao preenchiam

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ill1lis i~l to C1lrrtifg.lhal CARLOS A. VITTORI

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Uma vez conciuida sua traduyao. responda as perguntas:1. Olhando para seu texto traduzido, voce considera que ele J;i esta pronto ou

precisa ser ainda mais trabalhado?2. Que duvidas voce tem em relayao a sua traduyao?3, Como voce avalia 0 grau de dificuldade da tarefa?4. Que dificuldades apresenta 0 texto? Sao estas iinguisticas ou de outra natureza?

Independentemente da especificidade de suas respostas, podemos comentaralguns aspectos da tradw.;ao deste texto. Em primeiro lugar, 0 contexto desta ativi-dade define algumas caracteristicas da tradw.;ao a ser feita. Trata-se de urn te:<toque vai ser colocado numapublica<:;ao e que requer, portanto, uma recria<:;aoade-quada para os fins didaticos a que se visa. U ma considera<:;io do que chamamosgenero ou tipo de texto e de suma relevancia neste caso. 0 fato de se tratar de uma

certidao de casamento nos remete de imediato a urn formato, uma fun<:;aoespedfi-ca, uma linguagem tambem espedfica, que caracterizam este exemplar do discur-so jurfdico. A identifica<:;ao do tipo te:A1:uale importante para selecionar 0 formato,a estrutura eo lexico do nosso texto traduzido para 0 portugues.

A adequa<:;aodo texto na lfngua portuguesa e na cultura brasileira requer quese trabalhe de acordo com as caracteristicas desse genera textual, a certidao de ca-samento, no Brasil. Voce conhece alguma certidao de casamento brasileira?]a leucom aten<:;aoesse tipo de texto? Voce se lemb-ra do formato e da linguagem utiliza-dos em portugues?

o dicionario e certamente uma ferramenta valiosa para a transposi<:;ao destetexto. Mas sera que resolve todos os problemas? Vejamos uma possive! tradu<:;doapenas com 0 auxflio do dicionario.

Examine urn trecho do original em ingles:

. : 'I

$i. ....~

--:,".(i3;,~-;;~

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\ (iE!:';'...::..:..:-.)

WI)is in 10 QIprtify, Ihul CARLOS A. VITTORI

it- Madrid a?u/QJk-k ~ s_pa_i_tl ~

UiJd. AVEr IMP, HERNANDEZ ~

Isto e para certificar que Carlos A. Vittori de Madri e estado da Espanha e AvelinaHe.rnandez de Madri e estado da Espanha foram unidos pOl' mim em sagradomatrimonio em Miami, Dade County, no dia 30 de janeiro de 1980.

o texto apresenta algo de estranho. A literalidade, ou tradu<:;aopalavra porpalavra, procedimento que algumas pessoas associ am com a tarefa tradut6ria, naonos alL-xiliaaqui a criar urn texto aceitavel. As dificuldades transcendem uma abor-dagem meramente lexical. Sera que devemos manter uma formula<:;ao tal como"Carlos A. Vittori de Madri e estado da Espanha e Ave!ina Hernandez de Madri eestado da Espanha"? Analisemos urn pOLlCOmais 0 contexto de pradu<:;ao do textooriginal.

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Trata-se, como ja dissemos, de uma certidao de casamento. 0 texto revelaque 0 casamento teve lugar em Miami, conseqiientemente, nos Estados Unidos.Orfl, parece que temos urn formulario proprio que 0 funcionario de tumo preen-cheu com os dados dos noivos. Pensado para os casamentos entre naturais dosEstJdos Unidos, 0 formulario requer informa15oes sobre a cidade e 0 estado deorigem dos noivos. Como no te:A.1:oem questio os noivos nao sac americanos, masestrangeiros, fez-se uma adapta15aodo formulario e colocou-se em lugar GOestado,o pafs de origem. Tendo em vista que trad uzir "estado da Espanha" nao configurauma formula15ao apropriada em pOrtugues, podemos eliminar urn dado nao rele-vante na certidao e colocar "de Madri, Espanha".

Passemos agora para a frase inicial da certidao e 0 paragrafo final. Nova-mente, pelas caracterfsticas do texto, as frases "This is to certify" e "In witnesswhereof" parecem ser parte do formulario, frases padrao que se aplicam a todosos casamentos. Neste ponto, surge uma pergunta. E os nossos formularios decertidao de casamento, tern frases padrao ou formula15oes proprias para 0 docu-mento? Aqui, 0 dicionario ou 0 mem conhecimento da lfngua nao sac suficien-tes. Se 0 tradutor nao possuir urn conhecimento sobre este tipo textual no Brasil,o que se deve tazer?

Como ja apontamos na discussao das cren15asmais comuns a respeito da tra-dU15ao,0 conhecimento da lingua e 0 uso de urn dicionario naa sac requisitos uni-cos da tarefa do tradutor. Este deve contar com outro tipo de habilidades tais comosaber buscar informa15ao em outras fontes alem do dicionario. Neste caso, 0 pro-blema pode ser resolvido por meio do que chamamos de consulta a texeos pJrale-los, isto e, a consulta a textos do mesmo tipo te:A1:ualna Ifngua e cultura receptorasda tradu15ao. Numa certidao de casamento modelo no Brasil, encontramos as se-guintes frases de Jbertura e fixhamento do texeo:

Certifieo que ...o referido e verdade e dou fe.

Ambas parecem ser J.dequadas para a tradu15ao do texto em questao.Nossa versao inicial do texto poderia ser r~escrita assim:

Certifieo que Carlos A. Vittori, de Madri, Espanha e Avelina Hernandez, deMadri, Espanha foram unidos por mim em matrimonio em Miami, DadeCounty, no dia 30 de janeiro de 1980. 0 referido e verdade e dou fe.

I have hereunto set my hand and seal at j\lIiami, Dade County,Florida, the day and year above written

Embora impressa com caracteres de fonte diferente daquela do restante dotexto, faz parte do formulario e assemelha-se a uma fi-ase teita, que guarda urncerto tom arcaico, caracterfstico da linguagem jurfdica. U ma observa15aOdo mode-10de certidao brasileira revela que esta nao possui tal frase, razao pela qual temosde tamar uma decisao sobre como traduzi-la. Quais as dados relevantes neJa? Semduvida,o fato de que a certidao foi assinada em Miami no dia e ana ja menciona-dos. Para adaptar esses dados ao modelo brasileiro, temos de explicitar, apos 0 "doufe",o local, a data e a assinatura do escrivao. :,

o referido e verdade e dou fe. Miami, Dade County, Florida, 30 de janeirode 1980.

Este primeiro exemplo de tradu15ao constitui, na realidade, urn tipo de textoque geralmente demanda 0 que chamamos de tradu15aojuramentada, isto e, da tra-dU15aofeita por urn tradutor especial mente investido desse cargo, escolhido emconcurso publico e regendo-se por regulamenta15ao propria e tabeJas de pre150se1aboradas peJa junta comercial de cada estado. As tradu150esjuramentadas sac sobfe publica e por isso so podem ser realizadas pelos tradutores designados para essafun15ao. No entanto, quando nao se requer que a tradu15ao sejajuramentada, qual-quer tradutor pode receber a solicita15aode tradu15ao de certidoes, historicos esco-lares, diplom~s, dentre outros.

Como vimos na tradu15ao da certidao de casamento, diversos conhecimen-tos e habilidades participam do processo tradutorio, que envolve leitura, reflexao,pesquisa e, ainda, reda15ao, uma habilidade essencial para uma boa performancecomo tradutor. Tambem vimos que, ao longo do processo de btura, interpreta15aoe recria15ao do texto, surgem duvidas e perguntas que devemos ir respondendo,baseados em nosso conhecimento previo, lingiifstico e cultural, e em infonna15oesque devemos buscar fora do texto, atraves de p~squisas em textos paralelos e outros.Todas essas a150esque realizamos, muitas deJas de forma automatica, semi cons-ciente, enquanto que outras a partir de decisoes conscientes e cuidadosamentetomadas, constituem fonnas de resolu15ao de problemas que chamamos estrategias.Segundo 0 pesquisador Andrew Chesterman (1998), as estrategias representamformas eficientes, apropriadas e econornicas de resolver urn problema.

Estabelecendo uma analogia com outras areas da lingiifstica aplicada, como 0

ensino/aprendizagem de lfnguas estrangeiras, podemos dizer que, assim como exis-tern estrategias de aprendizagem que 0 aprendiz bem-sucedido de lfnguas estrangei-

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ras utiliza, tambem existem estrategias de traduc:;aoque 0 tradutor experiente utili-za para atingir suas metas e produzir um texto traduzido bem-sucedido. Retoman-do, tambem, 0 conceito de crenc:;atrabalhado no infcio deste capitulo, podemo~dizer que ha uma relac:;aoestreita entre as crenc:;asdo aprendiz, as estrategias queele escolhe e utiliza e 0 maior ou menor sucesso de seu desempenho. Por exem-pIo, a crenc:;ade que traduzir seja simpksmente transpor 0 significado de palavrascom a ajuda de urn dicionario pode levar 0 traduror a utilizar estrategias supertlci-ais de como lidar com 0 texto e, consequentemente, a uma tradu<;:ao total menteinadequada. Retomando 0 exemplo da certidao de casamento, vemos como a sim-ples busca de palavr3s no dicionario e uma estrategia muito precaria e insuficientepara recriar 0 texto em portugues. Sao necessarias outras estrategias, tais como autilizada por nos nesse caso, isto e, a consulta a tel\1:osparalelos em Ifngua portu-guesa no Brasil.

As pesquisas apontam que no caso das estrategias, ha tres tipos de conheci-mento envolvidos que podem ser formulados por meio de tres perguntas:

• 0 que e uma estrategia?• Como fazer uso de uma estrategia?• Quando e onde utilizar uma estrategia para alcanc:;arurn objetivo especffi-

co, despendendo-se urn grau de estor<;:oadequadoa meta que se buscaatingir?

Esses conhecimentos, as pesquisas confirmam, podem ser desenvolvidos coma instruc:;ao explfcita sobre a que saG estrategias, como, quando e onde utiliza-Ias deforma adequada e economica para os fins perseguidos. Geralmente, taz-se I1maobserva<;:ao daquelas estrategias utilizadas pelos usuarios mais bem-sucedidos eexperientes, procedendo-se ao registro delas, para assim poder instruir os apren-dizes men os experientes. No caso da traduc:;ao, podemos observar as estrategiasutilizadas pelos tradutores experientes a Bm de mostrar aos tradutores novatos oupouco experientes [ormas de resoluc:;ao de problemas adequadas as diversas situa-c:;6espassiveis de serem encontradas no processo de traduc:;ao. Justifica-se, assim,a necessidade de se formar e qualificar tradutores que fundamentem seu exerdcioda profissao em cren<;:asadequadas e utilizern estrategias de resoluc:;ao de proble-mas eficientes e com garantia de sucesso.

Sao numerosas e variadas as estrategias que 0 tradutor experiente utiliza. Elasdizem respeito tanto a considera<;:6esdo contexto da atividade tradutoria como a ana-lise do texto em seus aspectos macro e microlingiiisticos e a busca de soluc:;6espara aprodu<;:aode urn teA1:oque veicule a informac:;aodo texto original de maneira adequa-da, confiavel e satisfatoria para os potenciais leitores do tel\1:otraduzido. Para urnmaior entendimento desses aspectos, vejamos um exemplo de texto a ser traduzido ealgumas das estrategias passiveis de serem utilizadas.

PRESCRIPTION FOR PROFIT

PlanetRx gears up to take the $150 billion U.S. market for health products online..You may have thought of the idea yourself. Take the prescription-drug market,

an $85 billion industry in the United States; add vitamins, over-the-counter medicines,and some beauty supplies; throw it all together online to create the largest pharmacyin the world. And maybe - just maybe - YOU'llhave the ingredients for an explosive e-commerce recipe that will turn you into the next Amazon.com.

But YOU'dbetter read the warning label before you cook up this pot of gold,advises Stephanie Schear, 31, one of the five founders of South San Francisco,Calif.-based PlanetRx, an online pharmacy that was launched in January. Such aventure has a few side effects, not the least of which are administrative and financialheadaches.

"I'm sure tons of people have thought of this concept," Schear says. "But it'svery difficult to execute in this space. It's not like selling books. There's a confluenceof things you need to get right: everything from product distribution to the technologyto manage all the regulatory issues to inventory-management systems to customerservice. Then you need to get the brand right and the consumer experience right. It'simmense." But it can be done.

A year and half ago, Schear hooked up with Michael Bruner, a physician intraining who wanted to use the Internet to improve communication between patientsand health-care providers. When Bruner, 30, was in medical school, he discoveredthat patients were constantly confused by what their doctors - the attending physiciansand residents - were telling them. In fact, sometimes the doctors' comments conflicted.

Determined to develop an online pharmacy with a heart and soul (he's an idealist,really, Schear says), Bruner partnered with two friends - Randal Wong and StephenSu - to start the pillbox rolling. Around the same time, Stephanie Schear and her palDr. Shawn Becker were kicking around a similar concept. So, rather than battle it out,they joined forces.

1. Qual e 0 topico geral do texto?2. Ha alguma narrativa sendo contada no texto? Qual e a sequencia de fatos?3. Observe 0 estilo do texto no primeiro paragrafo. Voce percebe alguma semelhanya

entre 0 topico do texto e 0 estilo desse primeiro paragrafo?4. Preste aten'yao agora as palavras utilizadas ao longo do texto. Voce percebe al-

gumas delas sendo utilizadas de forma metaforica?

Dentre as estrategias utilizadas pelo tradutor experiente, encontramos a ana-lise dos elementos contextuais, macro e microlingiiisticos do texto, que desenvol-

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veremos com mais profundidade nos capftulos 5 e 6. Por elementos macro-lingi.iisticos, entendemos os aspectos que revelam 0 funcionamento do tecto comourn todo, ou seja, 0 tipo de t;exto, a fun<;aoque esse texto geralmente tern, a audien-cia para a qual esta dirigido. Os elementos microlingiifsticos sac os componentesde cada urna das senten<;as do texto, que se articulam para se inter-relacionar entresi e dar tessitura a urn texto. As perguntas acima relativas ao texto "Prescription forprofit" tern pOl'objetivo levarvoce a refletir sobre essa inter-rela<;ao entre elemen-tos, nesse caso entre a t6pico do texto, 0 modo como esta redigido e 0 seu lexico.Pelo tItulo, vemos que se trata de urn artigo relacionado com a venda de medica-mentos online, ou seja, por intermedio da Internet. 0 primeiro paragrafo apre-senta a notfcia atraves da estrutura de instru<;6es como aquelas tfpicas da bula dernedicamentos. Ternos, alern disso, urna rede lexical muito interessante, urna vezque os termos pr6prios da area farrnaceutiCl sac utilizados de forma metaf6ricapara expliclr as decorrencias do "produto" apresentado no primeiro paragrafo: 0

selo de advertencia ("warning label") alerta sobre os possiveis efeitos colaterais("side effects"). Juntamente com esse entrela<;arnento 16dico entre lexico e t6pico,temos urna narrativa que conta os fatos que leva ram a cria<;aodo empreendimentosendo noticiado.

Todos as elementos sac parte da tessitura do texto e sua recria<;ao em outralfngua, para ser bern-sucedida, requer a sensibilidade e percep<;ao do tradutor, quedeve detectar esses aspectos estilisticos que fazem do texto original urn te:\.1:ointe-

. ressante e gostoso de se ler. Sugerimos, assim, como complementa<;ao, a tradu<;aodo texto "Prescription for profit", atendendo as observa<;6es feitas nessa analise dotexto.

A sensibilidade para com aspectos macro e microlingiifsticos de um texto euma caracterfstica do tradutor experiente que, podernos afirmar, e antes de maisnada urn leitor proficiente e analista de te::ctos.Relacionadas com essa habilidade,encontram-se estrategias diversas de analise do lexico, da suposta inten<;ao do au-tor do texto, do e±eito das escolhas lexicais no leitor do texto original, todas orien-t:.ldaspara a produ<;ao de urn texto traduzido adequado e que possa atrair a aten<;aodo leiwr na nova cultura na qual 0 te:\.1:oesta sendo inserido pOl'meio da tradu<;ao.Nesse sentido, urn dos tipos de textos que mais solicitam esse tipo de habilidadepor parte do tradutor e, qui<;a, 0 texto publicitario. Como todos sabemos, 0 textopublicitario possui urna fun<;ao muito clara e definida e seu efeito como texto quebusca suscitar uma a<;aoou comportamemo por parte do lei tor depende em grandeparte da articula<;ao de conceitos e imagens que apontam para 0 produto ou servi<;osendo anunciado. Vejamos um exemplo a seguir.

Leia 0 anuncio contido na figura 1.3 e defina qual a funyao do mesmo. 0 anunciante.o serviyo anunciado e a forma pela qual esse serviyo e apresentado ao leitar

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Vejamos, agora, alguns elementos que chamam a aten<;aono texto publicitirioapresentado. 0 titulo e as imagens referern-se a urn contexto que, por sua vez, trazecos de urn conte",'1o diferente. Trata-se evidentemente de urn conjunto de pala-vras que podem ser interpretadas de forma diferente conforme 0 contexto no qualse pensa. Poderiamos dizer que temos urn jogo de palavras e uma dupla reterenciaao longo do texto: os bares como lugar de recrea<;ao e 0 guidom, a barra ("bar") demetal que comanda a dire<;ao da bicicleta, outra forma de lazer mencionada dotexto. Obviamente, nao temos em portugues uma eX'Pressaoque permita fazer alu-sac a essas duas forrnas de lazer que estao sendo contrastadas no texto. Todavia,lembrando que a traduc;ao nao € a mera passagem de palavras de uma lfngua paraoutra, crenc;a que ji questionamos neste capitulo, podemos tentar recriar 0 tccto eaehar alguma forma de brincar com esses signifieados diferentes que confluemem "hit the bars after work". Vejamos algumas opc;6es a seguir.

Uma estrategia do tradutOr experiente e explorar sinonimos, palavras relacio-nadas ou de conotas;6es anilogas. Temos assim 0 eonceito de "happy hour", muitocomum no Bnsil, ou a expressao "fim de tarde", ambas relaeionadas com urn tipode lazer ap6s 0 trabalho cotidiano, que envolve beber alguns drinques com colegasdo servis;o. Podemos tentar urn contraste do tipo:

"Fim de tarde - P€ na estrada""Fim de tarde no bar? - E melhor segurar a barra"

Ap6s a experiencia adquirida nas atividades 3 e 4, tente traduzir 0 texto publici-tario cantido nas figuras 1.4 e 1.5. Lembre-se de que sua tradugao devera ser umarecriayao do texto na lingua pdrtuguesa e nao uma mera transposigao de palavrasde uma lingua para a outra.

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Ao longo deste capitulo, temos procurado mostrar a necessidade de se re-pensar todos os nossos pressupostos acerca da tradu~ao e do tradutor a luz de pes-quisas recentes e visando questionar aquelas cren~as que comprovadamente naorefletem a complexidade do ate tradut6rio. Vimos, por exemplo, que traduzir emais do que eonhecer uma lingua, ou seu voeabulario, ou apenas transpor palavrasde uma lingua para outra. Vimos, tam bern, que a fundamenta~ao do aprendiz emeren~as adequadas determina 0 tipo de a~ao' que vai ser tomada para a resolu~aodos problemas enfrentados. Falamos, assim, em estrategias de tradu~ao e em suarelevancia para 0 tradutor novato que esti se iniciando nessa tarefa.

A ideia de que a tradu~ao nao representa uma arte nem urn dom, sem muitaexplica~ao ou analise, e rebatida nesse nosso volume. Preferimos pensar a tradu-~ao como uma atividade que requer diversos conhecimentos e habilidades do tra-dutor, que preeisa estar sempre se qualificando e aprimorando. Acreditamos que aforma~ao do tradutor e sua qualifica~ao continua sejam procedimentos essenciaispara 0 exercfcio etieo e adequado dessa profissao. A instru~5.o toma 0 aluno cons-eiente dos fatores e principios te6ricos em que se ap6ia uma tradu~ao bem-sucedi-da. Tambem leva 0 aprendiz a aprofundar sellS conheeimemos lingiiisticos, sobre-tudo em rela~ao aos aspectos discursivos que dizem respeito ao texto como UjTltodo, com uma fun~ao especffica derltro de uma cultura determinada. A instru~5.opromove, ainda, a tomada de decisaes mais bem fundamentadas do tradutor e 0

ajuda a desenvolver uma atitude mais pro fissional.A ideia subjacente i proposta deste Iivro e a de se pensar a tradu~ao como

tarefa que requer reflexao consciente, do tradutor, ace rea das etapas que sac per-corridas ao longo do processo tradut6rio, as decisaes que devem ser tomadas e asa~aes que devem ser executadas para se garantir urn born desempenho. Nesse sen-tido, a proposta deste livro sera focaJizar as diversas perspectivas que estao envolvi-das no processo tradut6rio, tendo em vista a possibilidade de se identificar a~aes eprocedimentos que contribuem para uma tradu~ao bem-sucedida, isto e, de estra-tegias de tradu~ao. Como ja dissemos, a partir da observa~ao do comportamentodo tradutor experiente, reconhecemos estrategias por ele utilizadas e propomossua utiliza~ao pelo tradutor novato ou menos experiente.

as capftulos que se seguem apresentam algumas das estrategias de tradu~aomais relevantes ao exercicio dessa atividade, quais sejam, a segmenta~ao do texto aser traduzido em unidades de tradu~ao que reflitam adequadamente a compreen-saoao mesmo (capitulo 2); a busca, em fontes extemas ao tradutor, de informa-<saese conhecimentos esseneiais ao entendimento do texto (capItulo 3); a utiliza-~ao das habilidades de inferencia e associa~5.o a partir dos conhecimentos que 0

tradutor ja possui como parte de seu conhecimento de mundo e bagagem cultural(capitulo 4); 0 reconhecimento de aspectos macrotextuais tais como 0 genero

Ignoring alternative enelgy is no alternative. Keeping pace

wilh the world's occelerat~ng demand for energy and

supplying power to remote areas ~equjre Shell 10 pursue

renewable resources like solar, biomass and wind energy.

We established Sheil International Renewables with a

US$500 million commitment to develop these new

opportunities commercially. One or our goals is to make solor

energy cheaper, more efficient cnd more accessible,

borh for businesses and homes. !l's port of our commitment

10 sustainable development, balancing economic

progress with environmental core and social responsibility.

So with reol goals and inveslment, energy from the sun

'can be more thon iust a daydream.'Nt WEtcc.v.~' YOURIN\'IJr. c.c •..•r'.!,7,j~ ~N fHE :t><rC'lNi:.i.\; W"Hw "HHI"COM!¥".Il/.~ O~

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discursivo de urn texto e os padr6es ret6ricos dominames nele (capitulo 5); a ana- 'jlise dos componentes microtextuais e sua adequada compreensao (capitulo 6). l.·:~

Por 11ltimo,.no capitulo 7 ofere cern os urn modelo de estrutura~ao das etapas Ido processo tradut6rio, que acreditamos contribuira para voce visualizar e com- :l

preender melhor os passos e tip os de decis6es que voce segue ao longo de seu lpercurso tradut6rio.

Caso voce queira se aprotundar mais nas quest6es te6ricas relativas as CREN-

CAS saBRE A TRADu(:Ao E 0 TRADUTOR, incluindo-se 0 conceito de tradu~ao e aimagem do tradutor ao longo das diferentes epocas hist6ricJs, e as ESTRATEGIAS DE

TRADU(:Ao e de aprendizagem, sobretudo em rela~ao a lfnguas estrangeiras, reco-mendamos uma leitura cuidadosa dos livros e artigos:

BASSNETT, S. Translation Studies. London & New York: Routledge, 1991.LEFEVERE, A. Translation and its genealogy in the west. In: BASSNETT , S.; LEFEVERE, A.

(Ed.). 'Translation, history and culture. London & New York: Pinter, p. 14-28, 1990.MAGALHAEs, C. 0 tradutor segundo 0 tradutor brasileiro. In: VIII e IX Semanas de

Estudos Germanicos do Departamento de Letras Germanicas da UFMG .• "1nais...Belo Horizome: FALF!UFMG, p.136-143, 1991/1992.

MCDONOUGH, S. Strategy and skill in learning a foreign language. London: EdwardArnold, 1995.

O'MALEY, M., CHAJ\IlOT, A. Learning strategies in second language acquisition. C:lmbridge:Cambridge University Press, 1990.

PYM, A. Epistemological problems in translation and its teaching. Calaceit: Caminade,1993.