OUTRAS VOZES...ideológica do mundo ocidental, como constituem uma oportunidade para observar com...

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CONGRESSO NACIONAL DE HISTÓRIA E CIÊNCIA POLÍTICA OUTRAS VOZES na República 1910 - 1926 Programa Caderno de Apoio

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CONGRESSONACIONAL DE HISTÓRIA E CIÊNCIA POLÍTICA

OUTRASVOZESna República

1910 - 1926

Programa

Caderno de Apoio

OUTRAS VOZES na República 1910-1926

Os 100 anos da I República portuguesa convocam não só a celebração de um ideal político e social que é, hoje, parte integrante da matriz ideológica do mundo ocidental, como constituem uma oportunidade para observar com maior acuidade um período basilar da nossa história nacional.

A estas convocações e comemorações cívicas está subjacente um valor republicano por excelência: o valor do pluralismo e do respeito pela heterogeneidade. Porque na política, na vida e na História quase nada é consensual, só se pode aspirar à compreensão de um facto através do entendimento dos vários planos que o constituem.

Este congresso procura, assim, dar voz ao Outro, evocar grupos sociais, movimentos políticos e correntes ideológicas que contribuíram de forma significativa para a riqueza e complexidade do tecido social e político da época. Trata-se de uma oportunidade para promover a interacção entre comunidade académica, jovens investigadores e público interessado numa reflexão plural e dinâmica inserida no debate em curso sobre a I República. Espera-se que entre conferências, mesas redondas, inauguração de exposição, almoços e jantar social se propiciem três dias de discussão, trabalho e convívio.

INDICE

7 PROGRAMA

21 CONFERÊNCIAS

31 COMUNICAÇÕES

77 COMISSÃO DE HONRA

80 COMISSÃO CIENTíFICA

81 COMISSÃO ORGANIzADORA

82 LISTA DE PARTICIPANTES

84 AGENDA

PROGRAMA

Milícias civis festejando a implantação da República na Praça do Rossio, em Lisboa.Lisboa, 5 de Outubro de 1910

[Centro Português de Fotografia]

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12 DE MAIO, QUINTALocal: Palácio Sotto Mayor

12 DE MAIO, QUINTALocal: Palácio Sotto Mayor

9H00 Abertura do Secretariado

9H30 Sessão de Abertura e Conferências – Semi-plenárias

Sessão I (Sala 1)

Abertura: Isabel Corrêa da Silva, Coordenação do Congresso(ICS - Universidade de Lisboa; CHC/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

A República e o clero - um conflito inevitávelMaria Lúcia de Brito Moura(CEHR - Universidade Católica Portuguesa)

A Autonomia Municipal em QuestãoMaria Isabel João(Universidade Aberta)

Moderação: António Araújo(Faculdade de Direito - Universidade de Lisboa)

Sessão II (Sala 2)

Abertura: Sílvia Correia, Coordenação do Congresso(IHC / FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

A agitação sindicalista e anarquista no início da República:Outubro de 1910 – Janeiro de 1912João Freire(CIES – ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa)

O entardecer do movimento operário e a queda da República João Madeira(IHC / FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Moderação: Manuela Mendonça(Academia Portuguesa da História)

11H00 Intervalo

11H30 Comunicações Livres – Sessões Paralelas Mesa A – REPRESENTAÇÃO E DISSONÂNCIAS (Sala 1)

O medo e a República (1910-1926)Fernando Ampudia de Haro(Pós-doutorando; IHC/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Mário Domingues – um mulato contra o ImpérioJosé Luís Garcia(ICS - Universidade de Lisboa)

A I República na imprensa italiana: o lugar da voz dissonante no contexto pluralMarco Gomes(Bolseiro da FCT; CEIS 20 - Universidade de Coimbra)

Moderação: Miguel Real(CLEPUL/FL – Universidade de Lisboa)

Mesa B – VISÕES SOBRE O PATRIMÓNIO (Sala 2)

Outras vozes no estudo da I República.Notícias na imprensa sobre o património nacional Nair Alexandra(Investigadora independente) & Marisa Costa (Bolseira de investigação; Universidade de Lisboa)

O património monástico-conventual e a República:o caso singular das Clarissas do Desagravo Maria Luísa Jacquinet(Doutoranda; CEAUCP/FL - Universidade de Coimbra)

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12 DE MAIO, QUINTALocal: Palácio Sotto Mayor

12 DE MAIO, QUINTALocal: Palácio Sotto Mayor

As vozes do património na I República e os (des)encantos da ArqueologiaAna Cristina Martins(Instituto de Investigação Científica Tropical)

Moderação: Jorge Custódio(Museu Nacional Ferroviário)

13H00 Almoço/Buffet

14H00 Comunicações Livres – Sessões Paralelas

Mesa C – RELIGIÃO (Sala 1)

Império, República e Religião:a questão missionária na I República Portuguesa (1910-1926)Hugo Gonçalves Dores(Bolseiro da FCT; CEHR- Universidade Católica Portuguesa; ICS - Universidade de Lisboa)

Os Jesuítas, a República e o Anticlericalismo em Portugal Fernanda Santos(Doutoranda; CLEPUL/FL - Universidade de Lisboa)

D. Augusto Eduardo Nunes, Arcebispo de Évora e os Documentos Colectivos do Episcopado Português durante a Primeira República Francisco José Senra Coelho(Instituto Superior de Teologia de Évora; CEHR - Universidade Católica Portuguesa)

A voz de Manuel Gonçalves Cerejeira no Imparcial: Um caso paradigmático das ideias e visões das “novas elites” e da “nova geração” católica no seio da I RepúblicaTiago de Moura Leitão Cerejeira Fontes(CEHR - Universidade Católica Portuguesa)

Moderação: José Luís Garcia(ICS – Universidade de Lisboa)

Mesa D - MUNDO DO TRABALHO (Sala 2)

A voz dos operários nortenhos no advento da I República Célia Maria Taborda da Silva(Universidade Lusófona do Porto)

O associativismo operário na I República Portuguesa Joana Dias Pereira(Doutoranda; IHC/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Retratos do empresariado republicano no PortoMaria da Luz Sampaio(Museu da Indústria do Porto)

O marxismo na I RepúblicaCarlos Serrano Ferreira(Mestrando; UEICTS - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)

Moderação: Sílvia Correia, Coordenação do Congresso(IHC/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Mesa E - VIVÊNCIAS LOCAIS (Sala 3)

Albergaria-a-Velha e os primeiros passos da República Delfim Bismarck(IGH- Universidade Lusófona do Porto)

A Primeira República em Torre de Moncorvo (1910-1926)Adília Fernandes(CITCEM - Universidade do Minho)

A I República nas Lezírias: equacionando a penetração dos ideais republicanos nos meios agrários José Raimundo Noras(Investigador independente; Instituto Superior de Línguas e Administração de Santarém)

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Os “brasileiros” e a I República na região de Trás-os-Montes e Alto DouroIsilda Braga da Costa Monteiro(Centro de Estudos da População Economia e Sociedade)

Moderação: Raquel Pereira Henriques(Associação dos Professores de História)

16H00 Intervalo

16H30 Comunicações Livres – Sessões Paralelas

Mesa F - BIOGRAFIAS (Sala 1)

O Republicano Joaquim José Coelho de Carvalho,Reitor da Universidade de CoimbraManuel Augusto Rodrigues(Professor catedrático jubilado; FL - Universidade de Coimbra)

Padre Lacerda e Correia Mateus:duas personalidades e dois percursos próximos e distintosAcácio Sousa(Doutorando; FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

António Caetano Celorico Gil: percursos de um republicano da ilusão à desilusãoArtur Ângelo Barracosa Mendonça(Investigador independente)

Alves da Veiga: Um idealista desiludido?Sónia Rebocho(Investigadora independente)

Moderação: José Miguel Sardica, Comissão Científica(CECC/FCH – Universidade Católica Portuguesa)

12 DE MAIO, QUINTALocal: Palácio Sotto Mayor

12 DE MAIO, QUINTALocal: Palácio Sotto Mayor

Mesa G - MODELOS E PRÁTICAS POLíTICAS (Sala 2)

“Progresso”, “ordem”, “regeneração”: do Ultimato à Ditadura MilitarJoão Paulo Avelãs Nunes(FL - Universidade de Coimbra; CEIS 20 – Universidade de Coimbra)

Factores de instabilidade política e governativa na I República Portuguesa:o sistema de Governo, o sistema partidário e o sistema eleitoralAntónio José Fernandes(Pós-doutorando, Universidade Lusófona do Porto)

O Presidente da I República João Bonifácio Serra(IHC / FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Moderação: José Fontes, Comissão Científica(Universidade Aberta)

19H30 – Inauguração da Exposição “República e Propaganda”,organizada pelo Museu da Presidência da RepúblicaLocal: Casino da Figueira

20H00 – Jantar Local: Salão Nobre do Casino da Figueira

21h30 – Oração de Sapiência proferida pelo Prof. Doutor Barata Moura,“A República em perspectiva e prospectiva”, Local: Salão Nobre do Casino da Figueira

22H15 – Actuação do Coro dos Antigos Orfeonistas de Coimbra e da Orquestra Clássica do Centro Local: Salão Nobre do Casino da Figueira

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13 DE MAIO, SEXTALocal: Palácio Sotto Mayor

13 DE MAIO, SEXTALocal: Palácio Sotto Mayor

9H30 Conferências – Semi-plenárias

Sessão III (Sala 1)

O significado da reacção monárquica: estratégias, ideologia e propaganda Miguel António Dias Santos(CEIS 20 – Universidade de Coimbra)

Desiludidos da República: António Sardinha e Alfredo Pimenta Paulo Archer de Carvalho(CEIS 20 – Universidade de Coimbra)

Moderação: Luís Reis Torgal(Universidade de Coimbra)

Sessão IV (Sala 2)

Os intelectuais e a I República (1910-1926)Norberto Ferreira da Cunha(Universidade do Minho)

A crítica da «república dos burros» no horizonte seareiro de uma autoconsciência intelectualLuís Augusto Costa Dias(CEIS 20 – Universidade de Coimbra)

Moderação: António Sampaio da Nóvoa(Universidade de Lisboa)

11H00 Intervalo

11H30 Comunicações Livres – Sessões Paralelas

Mesa H - REACÇÕES POLíTICAS (Sala 1)

A reacção intelectual anti-republicana como berço da extrema-direita estudantil do segundo pós-guerra Riccardo Marchi(Pós-doutorando; ICS - Universidade de Lisboa)

Sidónio Pais e a outra RepúblicaMiguel Nunes Ramalho(Investigador independente; Escola da Guarda Nacional Republicana – Queluz)

Basílio Teles (1856 – 1923) Miguel Real(CLEPUL/FL - Universidade de Lisboa)

A Europa na Diplomacia Portuguesa. As vozes da imprensa durante a RepúblicaIsabel Baltazar(Pós–doutoranda; CEIS 20 - Universidade de Coimbra)

Moderação: António Costa Pinto(ICS – Universidade de Lisboa)

Mesa I - VOzES FEMININAS (Sala 2)

Vozes de mulheres na I República zília Osório de Castro(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

A importância da educação para a primeira vaga femininista em PortugalAnabela Freitas(CeiEF - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia)

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13 DE MAIO, SEXTALocal: Palácio Sotto Mayor

13 DE MAIO, SEXTALocal: Palácio Sotto Mayor

Associativismo feminino nacionalista e patriótico na I Guerra Mundial Natividade Monteiro(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Moderação: Maria Emília Stone(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Mesa J - EDUCAÇÃO E SAÚDE (Sala 3)

Contribuição para a História do desporto na I República (1910-1926): o desporto de massas analisado através da imprensa especializada da épocaTeresa Rita Pereira(Bolseira de investigação da FCT; CNCCR - Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República)

República e desporto – Contributos para a compreensão do fenómeno desportivo entre 1910 e 1926 Francisco Pinheiro(Pós-doutorando; CEIS 20 - Universidade de Coimbra)

A questão da deficiência e a educação de crianças com necessidades educativas especiais em razão de uma condição de deficiência na I RepúblicaFrancisco Carvalho(CPES - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)

Moderação: Fernando Catroga, Comissão Científica(CEIS 20 - Universidade de Coimbra)

13H00 Almoço/Buffet

14H00 Comunicações Livres – Sessões Paralelas

Mesa K - OPOSIÇÃO MONÁRQUICA (Sala 1)

A reorganização monárquica de 1915: esperança e desilusão Bruno J. Navarro(Doutorando; CIUHCT/FCT - Universidade Nova de Lisboa)

Resistências monárquicas: uma história por fazerMaria Emília Stone(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Monarquia e monárquicos em debate no Parlamento RepublicanoLeonor Calvão Borges(Investigadora independente; Divisão de Informação Legislativa e Parlamentar da Assembleia da República)

O integralismo de António Sardinha como pensamento pós-republicano Jorge Azevedo Correia(Investigador independente; Instituto Diplomático - Ministério dos Negócios Estrangeiros)

Moderação: Isabel Baltazar(Pós–doutoranda; CEIS 20 - Universidade de Coimbra)

Mesa L - CULTURA POLíTICA (Sala 2)

Republicanismo e jesuítismo no Manual Político do Cidadão Português de Trindade Coelho (1908) Manuel Filipe Canaveira(OP/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

República em Fernando PessoaFernando Ribeiro(FCSH - Universidade Nova de Lisboa; CHC/ FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

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13 DE MAIO, SEXTALocal: Palácio Sotto Mayor

13 DE MAIO, SEXTALocal: Palácio Sotto Mayor

O fazer ser republicano: estudo realizado na oficina da I República José Gregório Viegas Brás & Maria Neves Leal Gonçalves(CeiEF - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)

Acções colectivas de repertório tradicional contra medidas médico-sanitárias na I República Portuguesa, 1910-1917 David Luna de Carvalho(CEHCP - ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa)

A Europa e modelos de modernização na I República Carlos Leone(CHC/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)Patricia Oliveira(OP/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Moderação: Fernando Ampudia de Haro(Pós-doutorando; IHC / FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Mesa M - TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO (Sala 3)

A República e a organização da Ciência Tiago Brandão(Doutorando; IHC/ FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Ezequiel de Campos e a I República – um percurso de desencantos (1910-1914)Teresa Nunes(Doutoranda; FL - Universidade de Lisboa)

Políticas portuárias na I República Ana Prata(Doutoranda; IHC / FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Reforma agrária – ideias, tentativas e impasses: o ideário de Tomás Cabreira Isabel Mariano Ribeiro(Doutoranda; CHC/FCSH e OP/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Moderação: Armando Malheiro da Silva, Comissão Científica(FL – Universidade do Porto)

16H00 Intervalo

16H30 Conferências - Plenária

Sessão V (Sala 1)

A Grande Aliança: um projecto político-pedagógico fracassadoÂngela de Castro Gomes(CPDOC - Fundação Getúlio Vargas)

As mulheres e a República: - Nem tudo nem nada!Isabel Cruz Lousada(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Moderação: João Esteves(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Conferência de EncerramentoGuilherme de Oliveira Martins (Centro Nacional de Cultura)

18H00 Encerramento do Congresso / Entrega de Certificados

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CONFERÊNCIAS

Soldado português comemorando o final da I Guerra Mundial, ainda no campo de batalha.França, 1918[Colecção Particular António Pinto França]

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12 de Maio, QUINTA9h30 – 11h00 | Sessão I (sala 1)

12 de Maio, QUINTA9h30 – 11h00 | Sessão I (sala 1)

Moderação: António Araújo(Faculdade de Direito, Universidade de Lisboa)

A República e o clero - um conflito inevitável

Maria Lúcia de Brito Moura(CEHR - Universidade Católica Portuguesa)

Ao contrário do que comummente é assegurado, há indicativos de que uma significativa fracção do clero (do clero secular, entenda-se) recebeu a República sem grande inquietação, pois não via qualquer incompatibilidade entre a sua existência como guia religioso e espiritual das populações e o emergir de um novo regime que prometia respeitar a vontade dos cidadãos expressa através do sufrágio universal. Aliás, as promessas de maior justiça para todos, anunciadas no tempo da propaganda, só poderiam fazer nascer a esperança numa classe que, desde há décadas, vinha expondo lamentos sobre o seu estado de degradação socioeconómica. Porém, nos ideais republicanos de substituição da religião tradicional – encarada como entrave ao progresso – por uma religião cívica centrada na Pátria, não havia lugar para o padre. Pelo contrário. A curto ou a médio prazo, terminar-se-ia com uma função que deixara de ter sentido, representando um paradoxo no futuro que se demandava, iluminado pela ciência e pela razão. A guerra entre o clero e a República era, assim, inevitável.

A Autonomia Municipal em Questão

Maria Isabel João(Universidade Aberta)

A Constituição de 1911, no título IV, enunciava um conjunto de princípios gerais que deveriam presidir à legislação específica sobre os corpos administrativos locais, entre os quais os mais significativos, de acordo com a tradição histórica, os municípios. Vicissitudes de diversa ordem impediram que o regime republicano fizesse um verdadeiro código administrativo, entre 1910 e 1926. Retomaram dois códigos monárquicos, o de 1878 e o de 1896, e produziram legislação avulsa, o que conduzia na prática a um emaranhado legal que criava sérias dificuldades à vida dos órgãos de poder locais.

O foco desta intervenção vai ser a análise dos limites da autonomia dos municípios e a discussão que suscitou na época, mormente no quadro do Congresso Nacional Municipalista de 1922. Por um lado, estava em causa a sempre alegada tradição municipalista e as ideias que tinham sido defendidas pelos republicanos na oposição política e, por outro lado, uma legislação e uma prática que não se coadunavam com esses princípios. O debate foi vivo e, por vezes, acerbo, mas não houve capacidade do Congresso da República e dos governos para resolver o impasse político em relação à autonomia do poder local.

12 de Maio, QUINTA9h30 – 11h00 | Sessão II (sala 2)

Moderação: Manuela Mendonça (Academia Portuguesa da História)

A agitação sindicalista e anarquista no início da República:Outubro de 1910 – Janeiro de 1912

João Freire(CIES – ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa)

• O estado ascensional do movimento operário e do anarquismo militante nas vésperas da revolução republicana.

• A República e as primeiras reacções de afastamento e crítica.

• Da lei da greve aos operários mortos em Setúbal.

• A organização sindical em progresso.

• Os anarquistas agitam-se e discutem.

• Da luta dos trabalhadores rurais à greve geral.

• Impactos da repressão republicana.

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12 de Maio, QUINTA9h30 – 11h00 | Sessão II (sala 2)

O entardecer do movimento operário e a queda da República

João Madeira(IHC / FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

No prolongado rescaldo da guerra, o movimento operário e sindical enfrenta dificuldades sérias na unificação da agenda reivindicativa, sofre importantes revezes, falta-lhe expressão política que pudesse configurar uma alternativa de poder e, em larga medida por isso mesmo, enfrenta no seu seio disputas crescentes pela hegemonia.

Faltava-lhe flexibilidade, capacidade unificadora, abrangência social e política, ainda que mantivesse combatividade, energia, importantes reservas militantes, embora só por si insuficientes para impedir um progressivo esgotamento, em confronto aliás com uma crescente repressão do Estado, traduzida em perseguições a dirigentes sindicais e à imprensa sindical, em prisões e deportações.

Se a corrente anarco-sindicalista declinava, o PCP, ainda com escassa influência sindical e enleado em duradouras e contraditórias viscosidades políticas, não se conseguia erguer como alternativa.

As derivas violentas, resvalando facilmente para feições de pendor terrorista, tendem a ocupar um espaço vazio onde a impotência e a eficácia política e sindical dão lugar ao desespero e a formas de marginalidade política.

Dividido e sectariamente enquistado, exaurido, o movimento operário e sindical não conseguiria articular resposta pronta ao golpe das direitas que o 28 de Maio representou. A sua capacidade posterior de reagrupamento e contra-ofensiva foi tantas vezes corajosa, mas débil e incapaz de superar, nos anos que se seguiram, de modo consistente e autónomo, velhas querelas e divisões.

13 de Maio, SEXTA9h30 – 11h00 | Sessão III (sala 1)

Moderação: Luís Reis Torgal(Universidade de Coimbra)

O significado da reacção monárquica: estratégias, ideologia e propaganda

Miguel António Dias Santos(CEIS 20 – Universidade de Coimbra)

A historiografia da I República tem centrado a sua análise sobre a reacção monárquica de 1911-1912 nas incursões monárquicas. É uma visão redutora para um fenómeno de grande complexidade, tanto ao nível das estratégias como da retórica e da propaganda. Em primeiro lugar, a natureza do fenómeno transfigura-se entre 1911 e 1912, quando assume verdadeiramente como programa a restauração da monarquia de D. Manuel. Em segundo, porque as incursões monárquicas constituem um epifenómeno (apesar da sua visibilidade) de um processo complexo e vasto da reacção do mundo conservador, que se estende numa rede labiríntica de ligações conspirativas internas e externas, ligando as capitais de distrito a Londres, Paris, Rio de Janeiro, Madrid e a Galiza. Não é por acaso que os jogos diplomáticos assumem uma relevância significativa neste confronto inicial, com as potências europeias a participar directa ou indirectamente neste processo político de reacção. Confronto político e militar, é sobretudo a ideologia que se revela na retórica da reacção monárquico-clerical, para quem a república constituiu um abalo profundo, rompendo com valores e tradições e trazendo no bojo a subversão social que é ínsita aos regimes igualitários. Não é por acaso que a retórica desta primeira reacção, sobretudo na Galiza, revela um tradicionalismo sobredeterminado pelo catolicismo e hostil aos princípios da modernidade política. Ainda assim, os meios de propaganda eram escassos, em função das proibições e da actividade intimidatória dos grupos de vigilância da república e da carbonária. O que não impediu a opinião monárquica de penetrar profundamente nos meios conservadores da província, face à ausência de republicanização e em resultado da acção deletéria de uma vasta rede conspirativa, que incluía os caciques, a aristocracia e o clero. Num meio marcado pela pobreza e pela emigração, era fácil aos adversários da república arregimentar «soldados» para a Galiza e voluntariar indivíduos para revoltas e levantamentos. É acima de tudo o início de uma guerra civil, de fraca intensidade mas sempre latente, alimentada pelo ódio político e geradora de uma conflitualidade permanente que contribuiu para a crise do estado republicano.

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13 de Maio, SEXTA9h30 – 11h00 | Sessão III (sala 1)

Desiludidos da República: António Sardinha e Alfredo Pimenta

Paulo Archer de Carvalho(CEIS 20 – Universidade de Coimbra)

Trata-se de inventariar as raízes da dissensão política e ideológica de dois jovens intelectuais de feição anarquista que em 1907 estão ainda, com diversos graus e responsabilidades, empenhados na greve universitária em Coimbra, que aplaudem o regicídio em 1908 e que, entre finais de 1910 e finais de 1912, entram em ruptura não só com as práticas republicanas mas com a ideologia democrática e liberal que norteia (ou deveria em teoria nortear) a I República.

Esse processo de violenta renúncia da «sociedade faústica e materialista» e de regresso à arcana aliança entre o Trono e o Altar marcará não só a obra destes ensaístas, mas assinala um dos pontos de viragem fulcrais para compreender o sucessivo engrossar do caudal do pensamento antidemocrático que começa, juntamente com o desenvolvimento da assim chamada «democracia cristã» entre nós e com a emergência dos fascismos na Europa, a afirmar-se como alternativa política e mundividencial ao republicanismo.

A questão é, precisamente, analisar até que ponto foi - e se o foi genuinamente - a experiência histórica da I República uma «desilusão» ou, ao invés, um pré-texto para re-enunciar uma ruptura que já doutrinariamente se adivinhava; por outro lado, permite inquirir a evidência empírica de que o radicalismo de 1910-1911 acabou por ter, na óptica da consolidação interna e externa da República, efeitos contraproducentes.

13 de Maio, SEXTA9h30 – 11h00 | Sessão IV (sala 1)

Moderação: António Sampaio da Nóvoa(Universidade de Lisboa)

Os intelectuais e a I República (1910-1926)

Norberto Ferreira da Cunha(Universidade do Minho)

A crítica da «república dos burros» no horizonte seareiro de uma autoconsciência intelectual

Luís Augusto Costa Dias(CEIS 20 – Universidade de Coimbra)

Ao cabo de um processo de transformação do meio intelectual português (das profissões e das funções sócio-profissionais intelectuais), num quadro mais vasto de mobilidades sociais diversas e de crescimento de uma cultura urbana de massas a partir do último quartel do século XIX, o modelo oitocentista de intelectual entra em crise até ao aparecimento de um contexto de ruptura de valores, colocado pela crise da I República, em que a emergência de uma nova eticidade permite o aparecimento dos intelectuais modernos, que a si mesmo se designam «intelectuais».

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13 de Maio, Sexta16h30 – 18h00 | Sessão V (sala 1)

Moderação: João Esteves(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH – Universidade Nova de Lisboa)

A Grande Aliança: um projecto político-pedagógico fracassado

Ângela de Castro Gomes(CPDOC - Fundação Getúlio Vargas)

O objetivo desta comunicação é acompanhar as iniciativas, desenvolvidas ao longo dos anos 1910-20, pela republicana, militante feminista e escritora de literatura infantil, Ana de Castro Osório, visando a construção de um projeto político-educacional e editorial que articulasse Portugal e Brasil. Essa intelectual, reconhecida e estudada em Portugal, sobretudo aquando das comemorações do Centenário da República que ajudou a propagar, é muito pouco conhecida no Brasil. Entretanto, teve vários de seus livros publicados e adotados pela rede de escolas públicas de dois estados fundamentais da federação, em particular se for considerada a renovação que então ocorria na área de educação: São Paulo e Minas Gerais. A hipótese do texto é a de que essa republicana possuía um projeto para articular e “fundar” uma literatura infantil em língua portuguesa, que podia ser também um rentável empreendimento político e financeiro. Dona de uma editora em Portugal – A Lusitânia – e autora de dezenas de livros de muito sucesso entre as crianças – já pensadas como um público leitor respeitável e lucrativo-, a autora acaba por ver seus esforços naufragarem, como naufragava a Primeira República portuguesa. A grande aliança: a minha propaganda no Brasil é o título de um volume, reunindo as conferências realizadas por ocasião das comemorações do Centenário da Independência do Brasil, em 1922, que traduz, de forma exemplar, as bases de seu pensamento político-pedagógico e de seu projeto de unir Portugal e Brasil pelo território da língua, da promoção da mulher e da educação cívica.

13 de Maio, Sexta16h30 – 18h00 | Sessão V (sala 1)

As mulheres e a República - Nem tudo nem nada!

Isabel Cruz Lousada(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Propomos uma viagem ao tempo que antecede a proclamação do regime republicano em Portugal percorrendo, em seguida, os marcos mais significativos e assinaláveis na 1.a República, do alvorecer ao apocalipse, com o golpe de estado de 28 de Maio de 1926. Auscultaremos outras vozes na República, que não as canónicas, misóginas por natureza. A voz das mulheres fez-se ouvir em variados contextos; trazê-la ao debate contemporâneo é um repto pela pluralidade, tons dissonantes e não obstante capazes de revelarem a alteridade, chegam até nós pela pena ou pela letra de imprensa, desenhando e esboçando perfis femininos que se querem afirmar, afinal, tantas vezes, feministas. “Nem tudo nem nada” exprime a dicotomia vivida nesse período histórico da sociedade portuguesa, cujas principais e mais eloquentes protagonistas foram Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo e Maria Veleda.

NOTA: As notas curriculares de cada conferencista podem ser consultadas no weblog do congresso: www.outrasvozesnarepublica.wordpress.com

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COMUNICAÇÕES

José Relvas na varanda da Câmara Municipal de Lisboa,proclamando a implantação da República em Portugal.Lisboa, 5 de Outubro de 1910[Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]

32 3312 de Maio, Quinta11h30 – 13h00

Mesa A – RePReSeNTAçãO e DISSONâNCIAS (sala 1)

Moderação: Miguel Real(CLEPUL/FL - Universidade de Lisboa)

O medo e a República (1910-1926)

Fernando Ampudia de Haro(Pós-doutorando; IHC / FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

O objectivo da comunicação é realizar uma aproximação ao período republicano português tomando como referência o medo enquanto emoção social, e a sua relação com a mudança no equilíbrio de poder da sociedade portuguesa durante tal período. O advento da república em Portugal trouxe consigo um novo equilíbrio de poder que mereceu diferentes valorizações em função do grupo social considerado. Algumas destas valorizações fizeram do medo, como emoção colectiva, o seu eixo central. Assim, o medo ficou ligado a determinadas definições da situação em termos de desordem ou de ameaças de ruptura social, à percepção da imprevisibilidade no quotidiano assim como ao apelo à autoridade como solução para os níveis de incerteza manifestados por certos sectores sociais.

A presente comunicação visa oferecer uma interpretação sociológica do medo como emoção relevante para a compreensão do período republicano a partir de uma perspectiva figuracional baseada nas contribuições teóricas de Norbert Elias. Neste sentido, a atenção centrar-se-á em duas dimensões especialmente relevantes para qualquer análise de cariz eliasiana: a constituição de equilíbrios de poder entre os diferentes sectores que integram a sociedade e o desenvolvimento de culturas sociais relativas ao confronto intergrupal. Propõe-se, pois, uma análise que privilegia tanto a dimensão cultural das relações sociais ligadas ao aparecimento de tendências associadas à incerteza, à imprevisibilidade e ao medo como, por outro lado, as representações sociais relativas à insegurança vital e à ordem.

12 de Maio, Quinta11h30 – 13h00

Mário Domingues – um mulato contra o Império

José Luís Garcia(ICS - Universidade de Lisboa)

Mário Domingues foi o primeiro, no Portugal imperial, a defender a independência de África, de forma coerente e pública, num meio de comunicação de grande circulação, o diário anarquista A Batalha. Tinha a particularidade de ser um jornalista afro-português, mulato, com 23 anos acabados de fazer, que dava também os primeiros passos como escritor.

Acompanhando as informações que chegavam a Portugal sobre os movimentos dos negros nos EUA e a acção de figuras como W.E.Burghardt Du Bois e outras, Mário Domingues, sobretudo na década de 1920, revelou-se, enquanto jornalista e publicista, um activista incansável e encarniçado na denúncia da violência racial do colonialismo português e na desmontagem das formas ideológicas e culturais da dominação imperial portuguesa e ocidental.

Sendo a obra de Domingues muito vasta e multifacetada, iremos analisar, fundamentalmente, um conjunto de escritos, publicados entre 1919 e 1922 no A Batalha. Neste conjunto de textos podem ser identificadas três posições: o combate sistemático e fundamentado das formas dissimuladas de escravatura que persistiam, sob o eufemismo de trabalho forçado, nas antigas colónias africanas; a denúncia da ideologia racista que determinava a colonização e permeava a sociedade e instituições portuguesas; e uma primeira reflexão sobre a importância do tema das independências africanas.

A I República na imprensa italiana: o lugar da voz dissonante no contexto plural

Marco Gomes(Bolseiro da FCT; CEIS 20 - Universidade de Coimbra)

O artigo pretende analisar as repercussões da revolução republicana na imprensa italiana. Trata-se de um estudo comparativo acerca do modo como diferentes jornais reportaram a implantação da I República portuguesa, com especial enfoque para as correntes de opinião que se opuseram à ordem proclamada a 5 de Outubro de 1910.

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Propomos ainda abordar, em traços gerais, o tratamento jornalístico conferido ao evento.

Contribuindo os media para a representação simbólica dos acontecimentos, principalmente num período onde os jornais constituíam, em Itália, os mais importantes grupos de opinião fora do circuito parlamentar, nucleares instrumentos de disseminação de ideias políticas, (Castronovo, 1979), a perspectiva do Outro é aqui encarada em duas dimensões: como elemento exterior (imprensa internacional) ao eixo da realidade histórica que se pretende estudar; e enquanto reveladora de posições dissonantes em relação ao sistema político instituído (República).

Reler as ocorrências de 1910 através de instâncias de enunciação, aparentemente, deslocadas do fenómeno pode favorecer o alcance de uma visão holística. Este entendimento global obriga-nos a propor, sinteticamente, o mapeamento das exegeses que evoluíram no tradicional esquema binário adesão vs oposição. Daí a opção por periódicos afectos a vários quadrantes políticos. A selecção de vozes plurais encontra ainda pertinência quando pretendemos avaliar a evolução do acontecimento ao nível da cobertura jornalística.

Metodologicamente, aludiremos às interpretações que as publicações veicularam no dia 6 de Outubro de 1910. São sete os órgãos seleccionados: Corriere della Sera, La Stampa e La Tribuna (independentes - tendência liberal); Il Secolo (independente - socialismo democrático); L’Osservatore romano e L’Unione (imprensa católica); Avanti! (socialista e operário). No âmbito do tratamento jornalístico, recorremos aos critérios utilizados por Mário Mesquita (1994) no seu estudo sobre a Revolução de Abril na imprensa do espaço cultural francófono: valorização, complexidade e duração.

Mesa B – VISÕeS SOBRe O PATRIMÓNIO (sala 2)

Moderação: Jorge Custódio (Museu Nacional Ferroviário)

Outras vozes no estudo da I República. Notícias na imprensa sobre o património nacional

Nair Alexandra (Investigadora independente)Marisa Costa (Bolseira de investigação; Universidade de Lisboa)

Um dos efeitos marcantes da implantação da República em Portugal verificou-se no plano da história do património. De facto, a assimilação dos ideais republicanos desencadeou – como, de resto, é sabido – um interesse e um cuidado pelo estado de conservação dos monumentos nacionais. No estudo desse fenómeno histórico, todas as fontes de informação devem concorrer para a desejada averiguação dos acontecimentos, tão completa quanto possível.

Há, porém, um conjunto de elementos documentais que não tem merecido a devida análise por parte dos investigadores. As referências à imprensa escasseiam, efectivamente, nos já abundantes trabalhos consagrados ao património nacional. Na base dessa constatação poder-se-á alegar uma série de factores, mais ou menos consensuais. Para as cronologias da I República é, contudo, pertinente contar com o contributo das notícias de periódicos como o Diário de Notícias e de revistas como a Ilustração Portuguesa. Dois critérios fundamentais presidiram à escolha destas duas publicações: o DN era o mais factual e noticioso dos meios de comunicação, reflectindo as tendências e as atitudes culturais da época. Por sua vez, a IP destacava-se pela reportagem fotográfica, testemunhando o estado dos monumentos e traduzindo, assim, um sinal dos tempos em que as elites mundanas e urbanas viam na destruição do património um exemplo de decadência nacional.Pretendemos, então, exemplificar nesta ocasião a pertinência do seu contributo. Considerando o arco temporal que abarca todo o período histórico em foco, propomo-nos enumerar o tipo de notícias constantes dos periódicos citados, desde o simples apontamento ao estado em que o monumento noticiado se encontrava, ao comentário, mais ou menos aprofundado, sobre a urgência de um restauro.

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Esta comunicação assume-se, porém, como uma amostragem, pelo que se espera, com ela, facultar um instrumento de trabalho para os investigadores e, se possível, lançar um convite à perscrutação da imprensa, com todo o potencial de fonte histórica que ela encerra.

O património monástico-conventual e a República: o caso singular das Clarissas do Desagravo

Maria Luísa Jacquinet(Doutoranda; CEAUCP/FL – Universidade de Coimbra)

A supressão das ordens e congregações religiosas, decretada pelo regime liberal e ratificada na sequência da implantação da República, assinalou uma nova etapa na vida do património religioso. Preservadas, em certa medida, dos imediatos efeitos das leis de extinção oitocentistas – dada a possibilidade, posteriormente consignada, de permanência nos cenóbios até ao falecimento da última professa não obstante a proibição de emissão de votos -, as ordens religiosas femininas viram dilatado o prazo do seu decretado ocaso, situação que haveria de aportar interessantes consequências.

O processo de resistência institucional a que então se assistiu, e que conduziu em certos casos à própria refundação de casas religiosas, não deixou também de incidir sobre os bens das comunidades (móveis ou imóveis, de natureza sagrada ou profana), circunstância que, na nova conjuntura republicana, que consagrara a separação da Igreja e do Estado e dispusera fortemente sobre o património – veja-se, nomeadamente, a criação de uma rede de museus -, deve instituir-se como factor para a compreensão do destino, só aparentemente linear, do património das ordens.

Por ilustrar de forma eloquente a complexidade de tal percurso, é trazido à colação o exemplo da regra das Clarissas do Desagravo, o qual, oficial ou oficiosamente, lançou mão de toda uma sorte de expedientes a fim de conservar uma ordem em tudo oposta à que acabara de se instituir. Entre outras singularidades, a tal observância pertence, numa situação que acreditamos quase inédita, um mosteiro de fundação centenária – o do Santíssimo Sacramento do Louriçal - que, logrando arrematar em hasta pública o edifício que o Estado se preparava para alienar, refundou a vida comunitária no espaço da sua histórica fundação.

As vozes do património na I República e os (des)encantos da Arqueologia

Ana Cristina Martins(Instituto de Investigação Científica Tropical)

Em antevésperas da implantação da República, foram vários os cultores do património histórico-artístico, de um modo geral, e da arqueologia, em concreto, que alimentaram as mais vivas esperanças quanto à institucionalização definitiva da sua salvaguarda. Um longo caminho fora entretanto percorrido, criando-se comissões e conselhos consultivos nesta área, actuando porém de modo assaz deficiente devido à permanente escassez de meios para concretizar a sua missão. Legislou-se de igual modo, protegendo exemplares conhecidos e por conhecer do passado português, ao mesmo tempo que se procurava sobrepôr o interesse público ao interesse privado. Foi contudo a República a reiterar procedimentos, sistematizando-os, expandindo-os e aprofundando-os. Mas, o que parecera, de início, um cenário ideal, depressa se revelou pleno de escolhos, apesar de louváveis iniciativas concretizadas com sucesso, lançando sementes que mais tarde frutificaram. Escasseavam, porém os recursos, tanto humanos, quanto materiais, para alcançar todos os objectivos em boa hora delineados pela agenda republicana. Mais do que isso, falhava, em grande parte, o programa de descentralização do organismo encarregue de promover a salvaguarda patrimonial, tutelando os monumentos móveis e imóveis, a prática arqueológica e a criação de museus regionais, defraudando assim muitas das expectativas acalentadas pelos seus principais cultores. Ciência transversal a muitas actividades empreendidas por estes mesmos organismos, a arqueologia teve, com a República, a sua grande oportunidade de se afirmar em definitivo, lançando nomes basilares do seu historial no Portugal de novecentos. Nem tudo decorreu, porém, de feição. Nem tudo se conformou às suas agendas pessoais e colectivas, sobretudo quando o discurso se conectava a motivações associativas ou museológicas. Desvendaremos, por isso, os seus nomes, os seus projectos, os seus feitos e os seus (des)encantos, identificando êxitos e insucessos, escrutinando, em simultâneo as razões das críticas lançadas pelos arqueólogos ao primeiro regime republicano.

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Mesa C – ReLIGIãO (sala 1)

Moderação: José Luís Garcia(ICS – Universidade de Lisboa)

Império, República e Religião: a questão missionária na I República Portuguesa (1910-1926)

Hugo Gonçalves Dores(Bolseiro da FCT; CEHR – Universidade Católica Portuguesa; ICS – Universidade de Lisboa)

A política missionária desenvolvida durante a Primeira República Portuguesa não se resumiu ao patrocínio do Estado, seja na manutenção das estruturas advindas do período monárquico, seja na introdução de novas formas de missionar. A questão missionária era, para os republicanos, indissociável da problemática do império ultramarino, tal como fora para os monárquicos e viria a ser para os dirigentes do Estado Novo. As missões eram vistas como uma componente do projecto colonial e como centros geradores de dinâmicas nacionalizadoras, pelo que a República procurou, através da inovação das missões laicas, imbuí-las de um espírito laico que superasse a predominância das missões religiosas, particularmente as católicas. Mas a relação da República com os missionários católicos e protestantes decorreu num quadro de exigências e cedências imposto pelas necessidades da administração colonial e pelas obrigações internacionais.

A missionação não é uma questão meramente religiosa. Ela é parte integrante da problemática dos impérios modernos e indissociável do projecto imperial, seja como interveniente favorável a este, seja como elemento desagregador dessa dinâmica. Desde cedo, a República percebeu que a sua intervenção no império teria de ser diferente do processo que estava a implementar no país, pois as circunstâncias presentes no contexto imperial e internacional não sofreram, em Outubro de 1910, as rupturas que Portugal sofreria.

Na República, a “questão missionária” teve de se relacionar com diversos factores, entre eles o problema do nacionalismo imperial, a acção do catolicismo e o “ineditismo” do projecto laico. Para o período da República, a premissa de que o regime foi violentamente hostil ao Catolicismo tem dificultado a compreensão

do complexo processo de relações entre o Estado, a Igreja e o Império, porque no estudo da missionação estas três realidades têm de ser vistas em conexão e não protegidas numa dimensão estanque separada.

Os Jesuítas, a República e o Anticlericalismo em Portugal

Fernanda Santos(Doutoranda; CLEPUL/FL - Universidade de Lisboa)

Esta pesquisa procura mostrar que a relação entre os Jesuítas e a República foi pouco pacífica para ambas as partes, mas foi também muito controversa no seio da própria Igreja. A campanha anticlerical que se iniciara durante o Liberalismo, em Portugal, continuou nos primeiros e seguintes anos da República. O anticlericalismo português toma o carácter de aceitação da mentalidade cristã e católica com oposição sistemática à organização hierárquica e ao padre em especial. A partir da segunda metade do século XIX intensifica-se a vertente anticlerical da sociedade portuguesa, que se fica também a dever à tentativa da Igreja católica em repor o prestígio que tinha perdido e a sua capacidade interventiva na sociedade. A ideologização e mitificação que lhe esteve na base assumiu uma feição de configuração racista, promovendo a ideia da necessidade de segregação social dos membros da Companhia de Jesus

Durante a época da República, em Portugal, e nos anos que a antecederam, o antijesuitismo era uma forma de combate ao poder dos Jesuítas. Os republicanos pugnavam por soluções diversas para o futuro político e social do país por oposição à monarquia constitucional. O recurso à bandeira ideológica antijesuítica tinha sido usado muito cedo nos manifestos propagandistas do Partido Republicano Português.

Todavia, alguns jesuítas estavam envolvidos politicamente, partidarizando o catolicismo. Alguns membros da Companhia de Jesus tinham-se, de facto, empenhado na criação do Partido Nacionalista, em 1903, como partido católico, acreditando que a aglutinação dos votos católicos num só partido que defendesse os valores da Igreja era a melhor solução para contrariar a vaga anticlerical que se fazia sentir nos meios políticos e culturais do país.

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Este artigo tem também como objectivo mostrar que, durante a República, esteve sempre em causa o problema do envolvimento do clero e dos católicos em geral com a política partidária, mostrando as relações controversas entre os jesuítas e a República.

D. Augusto Eduardo Nunes, Arcebispo de Évora e os Documentos Colectivos do episcopado Português durante a I República

Francisco José Senra Coelho(Instituto Superior de Teologia de Évora; CEHR - Universidade Católica Portuguesa)

Os bispos portugueses perante a violência anti-religiosa expressa na legislação emanada pelo governo provisório da Primeira República decidiram, pela primeira vez na história portuguesa, publicar uma pastoral colectiva, intitulada “Pastoral Colectiva do Episcopado Português ao Clero e Fiéis de Portugal”.

No contexto da Lei da Separação do Estado e das Igrejas os bispos apresentaram em Lisboa, a 5 de Maio de 1911 o “Protesto Colectivo dos Bispos Portugueses contra o Decreto de 20 de Abril que separa o Estado da Igreja”.

A 22 de Janeiro de 1917, veio a público novo documento colectivo: Instrução Colectiva do Episcopado Português.

A elaboração e o conteúdo destes documentos será a base da nossa comunicação.

A voz de Manuel Gonçalves Cerejeira no Imparcial: Um caso paradigmático das ideias e visões das “novas elites” e da “nova geração” católica no seio da I república

Tiago de Moura Leitão Cerejeira Fontes(CEHR - Universidade Católica Portuguesa)

Nos anos que se seguiram à implantação da República durante os quais emergia um ambiente de profunda crispação política começam a brotar um variado conjunto de vozes, movimentos e jornais de índole católica que se erguem em combate contra os ideais republicanos.

Neste contexto social e político particularmente complexo, o aparecimento de jornais como o Imparcial (1912-1919) e a Lusitânia (1914) – ligados ao universo conceptual do C.A.D.C – apresenta-se como o surgimento de novas ideias, de novas estratégias de concepção do papel e do valor da intervenção católica na sociedade, do assinalar nos interstícios de alternativas políticas e do erguer em facho de novos ideais e visões de combate e de militância católica contra os pressupostos ideológicos e estruturais da República.

No seio das páginas destes jornais, onde se cristalizam, espelham e se expandem estes novos ideais e esta oposição ao regime, sente-se presente e vibrante a voz daquele que se pode considerar um dos mais marcantes e activos intelectuais de combate e militante católico da época: Manuel Gonçalves Cerejeira.

Pretende-se neste trabalho apresentar o papel, o impacto e o valor das ideias e das posições de Manuel Gonçalves Cerejeira como voz paradigmática da afirmação, concepção e criação do ideário fundamental das “novas elites” e da “nova geração” católica, bem como os primeiros sinais e traços do pensamento e da visão do mundo que irá estruturar a sua obra e a sua acção futura.

Mesa D - MUNDO DO TRABALHO (sala 2)

Moderação: Sílvia Correia, Coordenação do Congresso(IHC/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

A voz dos operários nortenhos no advento da I República

Célia Maria Taborda da Silva(Universidade Lusófona do Porto)

O operariado começa a ter expressão na sociedade portuguesa nos finais do século XIX, com o desenvolvimento do capitalismo industrial e o consequente aumento de trabalhadores na indústria. Mas é no início do século XX que se afirma o sindicalismo e, com ele, o fortalecimento do movimento operário. A partir daqui, as associações de classe operárias distanciam-se do partido socialista e apostam no movimento sindical operário como veículo privilegiado de acção, socorrendo-

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se da greve como meio de reivindicação social. A República veio responder aos anseios de mudança sentidos pela classe operária mas não trouxe os resultados esperados, acabando os operários por se manifestar várias vezes, em prol dos seus direitos, perante o Estado republicano.

O associativismo operário na I República Portuguesa

Joana Dias Pereira(Doutoranda; IHC/FCSH – Universidade Nova de Lisboa)

O associativismo operário germinou em meados do século XIX impulsionado pelos primeiros e mais emblemáticos propagandistas do republicanismo. No período pré-revolucionário, esta corrente exerceu a sua ascendência cultural e ideológica sobre as classes trabalhadoras através das centenas de colectividades populares cuja fundação instigou ou influenciou, particularmente nas vilas e nos bairros operários.

No entanto, a autonomização do movimento operário português é progressivamente fomentada pela segregação e concentração espacial das massas operárias, as graves condições de vida e de trabalho e a deficiência da rede pública e privada de assistência social que marcaram o mundo do trabalho no alvorecer da industrialização. Na última década de oitocentos, os socialistas hegemonizam o associativismo de classe e na alvorada do século XX novos postulados de emancipação social difundem-se nas redes de sociabilidade que se haviam tecido nos contextos urbanos de vocação industrial.

Com efeito, a decepção das expectativas de reforma social que o regime republicano havia criado entre as classes trabalhadoras favorecerá a difusão de uma doutrina importada de França – o Sindicalismo Revolucionário – que proclama a independência política do movimento operário e a acção directa contra o patronato.

Não obstante, a herança da influência republicana continuará a fazer-se sentir, marcando doutrinal e culturalmente o associativismo de classe. Perante a ascensão do fascismo, nomeadamente, verifica-se que os ideais democráticos veiculados pelo republicanismo estavam fortemente enraizados entre o operariado militante.

Retratos do empresariado Republicano no Porto

Maria da Luz Sampaio(Museu da Indústria do Porto)

O operariado, a pequena e média burguesia participaram nos movimentos republicanos. E o tecido empresarial como participa? Será que adere ao partido republicano, apoia-o discretamente ou permanece nas fileiras monárquicas?

O trabalho aqui apresentado pretende apontar algumas respostas. Para tal foi elaborado o quadro biográfico de um grupo de empresários portuenses que se destacaram na vida pública da cidade entre 1910 e 1925. São eles António e José Lello, António da Silva Cunha, Aurélio da Paz dos Reis, Delfim Pereira da Costa, Francisco Borges, Francisco Xavier Esteves, Luís Ferreira Alves, Manuel Alves Soares, Manuel Caetano de Oliveira, Manuel Pinto de Azevedo. Seleccionámos estes empresários por terem entre si percursos de vida muito similares. Todos eles viveram grande parte da vida no Porto, apesar de serem oriundos de outras localidades, alguns emigraram para o Brasil e regressaram ao Porto à procura de novas oportunidades. Todos participaram na vereação da Câmara após a República nos comícios, jantares de recepção a Afonso Costa na cidade do Porto, nas comissões municipais, na fundação de jornais, nos Fenianos e assumiram a direcção da Associação Comercial ou Industrial.

Com este trabalho tentamos traçar o seu percurso pessoal e político e quais os pontos comuns entre estas onze figuras do empresariado português, apresentando não só as suas origens e actividades, mas também, como se envolvem nos movimentos republicanos e desenvolvem o seu trajecto político e pessoal.

Eles são os protagonistas de uma mudança política que terá importantes repercussões na consolidação económica e social da região do Porto.

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O Marxismo na I República

Carlos Serrano Ferreira(Mestrando; UEICTS – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia)

Após o 25 de Abril vários autores repensaram a I República, superando os limites impostos pelo Estado Novo. Surge uma visão mais completa, que passa a incluir também em seu olhar parte fundamental da história do país: o operariado. Este é o ‘grande outro’ de Portugal e da I República. Houve então a análise das suas condições de vida, ideológicas e organizacionais nesse período, numa perspectiva de análise nos marcos do desenrolar de processos políticos, económicos e sociais no período histórico mais dilatado da crise monárquica à crise e superação do liberalismo (1890-1930). Este operariado, que depositou suas esperanças de mudanças no republicanismo, se frustrou com o novo regime e a repressão ao sindicalismo. É nesse marco de debate e seguindo as trilhas abertas, por Alfredo Margarido e César Oliveira, que esta comunicação procura sistematizar a história de uma das correntes do operariado sob a I República: o marxismo. É olhar o ‘outro do outro’ pois a classe operária em boa parte do período encontra-se sob a hegemonia de outras correntes de pensamento. Traça-se então as relações entre a classe e o marxismo, e deste com as demais correntes: o sindicalismo revolucionário e o anarquismo. Propõe-se uma periodização em três momentos: a) o período da marginalidade (1910-1917): o marxismo divorciado do operariado visto negativamente pela intelectualidade, e um Partido Socialista marginal e pouco marxista; b) o período de impacto da Revolução Russa (1917-1921): amplia-se a simpatia, ainda que confusa, ao marxismo; c) o período de organização e crescimento (1921-1926): inicia-se com a fundação do Partido Comunista Português. Ao longo da comunicação apontam-se elementos para o entendimento do divórcio original entre operariado e marxismo, considerando a dinâmica do desenvolvimento capitalista dependente português e a produção de uma estrutura social que empurrava os trabalhadores em direcção às outras formas de organização política.

Mesa e - VIVÊNCIAS LOCAIS (sala 3)

Moderação: Raquel Pereira Henriques(Associação dos Professores de História)

Albergaria-a-Velha e os primeiros passos da República

Delfim Bismarck(IGH- Universidade Lusófona do Porto)

Na vila de Albergaria-a-Velha, excelentemente localizada no entroncamento de duas das principais vias de comunicação do Reino (as estradas reais Lisboa-Porto e Aveiro-Viseu), o movimento republicano limitava-se até 1908, às ideias republicanas do farmacêutico João Pedro Ferreira e do estudante universitário Adriano de Sousa e Melo. No entanto, a partir do início desse ano começou a germinar-se um movimento mais alargado, com a participação de diversos políticos do distrito de Aveiro, ficando agendado para o dia 17 de Maio de 1908 o primeiro comício republicano nesta vila.

Mesmo assim, nas eleições gerais de 28 de Agosto de 1910 a insatisfação do eleitorado do concelho era notória, e a oposição ao Governo obteve cerca de 82% dos votos, contra 17,5% dos governamentais e apenas 0,5% dos republicanos.

Apesar disso, o dia 5 de Outubro de 1910 foi na vila de Albergaria-a-Velha igual a tantos outros. Curiosamente, o Correio d’Albergaria, de 6 de Outubro, apresenta uma gralha no seu cabeçalho, indicando-o como sendo do mês de Setembro, e não faz qualquer referência ao golpe de estado republicano ocorrido na véspera. O outro periódico existente no concelho, A Voz d’Angeja, de 8 de Outubro, noticia já a mudança de regime, mas fá-lo apenas na terceira página, num pequeno artigo intitulado “À última hora” onde refere a proclamação da República.

Mas a adesão à República em Albergaria-a-Velha não tardaria e no dia 6 de Outubro de 1910, pelas 11.00 horas da manhã, foi recebida na vila a notícia da proclamação da República em Portugal. Na falta de comunicações telegráficas e postais, pois o que se sabia era por informações particulares, o povo conservou-se indeciso até ao dia seguinte quando se receberam as primeiras notícias oficiais. Apenas no dia 7 de Outubro, pelas 16.15 horas, alguns rapazes içaram

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uma bandeira republicana nos Paços do Concelho, atiraram alguns foguetes e a Philarmonica Albergariense percorreu as ruas da vila, um ou outro comerciante hasteou uma bandeira republicana na sua casa, apesar de quase toda a população se ter abstido.

Praticamente todos os titulares de órgãos autárquicos, instituições e associações foram substituídos, apesar de a adesão se ter efectuado, essencialmente à base de alguns comerciantes, proprietários, professores e da quase totalidade dos funcionários públicos da vila.

A Primeira República em Torre de Moncorvo (1910-1926)

Adília Fernandes(CITCEM - Universidade do Minho)

Considerando, como A. H. de Oliveira Marques, que o perfeito conhecimento da História do País, durante a Primeira República, exige “penetrar na problemática regional e local, observar a vida das freguesias, dos concelhos, dos distritos e das grandes regiões” (Guia de História da I República Portuguesa, 1981), propomo-nos analisar as dimensões históricas da I República no concelho de Torre de Moncorvo, desde o acto revolucionário que a fundou até ao seu ocaso. Situado no Nordeste Transmontano, este concelho viveu as vicissitudes deste período, agravadas pela interioridade e ruralidade que lhe trouxeram, inevitavelmente, um atraso generalizado e condições de vida precárias. O estudo desenvolve-se, essencialmente, a partir das actas da Câmara, repassando-se, ainda, a imprensa local e regional, ligada aos vários quadrantes republicanos. Concelho classificado como de 2.ª ordem e comportando uma Comissão Executiva Municipal composta de sete vereadores, estas fontes permitem-nos apreender, aqui, o desenrolar do processo político entre 1910 e 1926, os seus principais protagonistas, a incidência da sua actuação bem como o legado republicano. Apresentamos os factos, cronologicamente ordenados, em adequação com a sua interpretação – advinda da informação das condicionantes estruturais locais de vária ordem –, com as sucessivas remissões para o enquadramento nacional e, ainda, com o recurso à teorização republicana.

A I República nas Lezírias: equacionando a penetração dos ideais republicanos nos meios agrários

José Raimundo Noras(Investigador independente; Instituto Superior de Línguas e Administração de Santarém)

Nesta comunicação, pretendemos equacionar a relação dos produtores e dos trabalhadores agrícolas com a revolução republicana de 1910, tendo como ponto de partida investigações já desenvolvidas acerca desta matéria na região do Ribatejo.

Em primeiro lugar, propomos a desconstrução do paradigma tradicional segundo o qual representamos o militante republicano como alguém tipicamente urbano, profissional liberal ou membro do operariado. Para isso, faremos uso de exemplos bem conhecidos de líderes republicanos ligados à lavoura, nomeadamente José Relvas ou Anselmo da Costa Xavier.

Num segundo momento, procuramos compreender o alcance e a viabilidade ideológica desse putativo “republicanismo agrário”, questionando qual a sua real adesão nos meios rurais. Para isso, analisamos a estrutura social da época, a manutenção de estruturas do poder local, o movimento associativo nos meios agrários e as suas manifestações que antecederam a República. Equacionamos também a representação do sector primário no Partido Republicano ou na própria Constituinte de 1911. Dessa forma, verificaremos que muitos agrários apoiaram, tanto a génese do novo regime, como, posteriormente, a formulação de uma alternativa liberal e conservadora aos modelos de governação do “Partido Democrático”.

Em que medida a República teve uma verdadeira política agrícola? Em que medida tal política correspondeu às aspirações desses homens? Serão outras questões que pretendemos problematizar. Ao longo da comunicação, contamos apresentar um perfil sociocultural e económico dos líderes agrários e republicanos dos alvores do século XX.

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Os “brasileiros” e a I República na região de Trás-os-Montes e Alto Douro

Isilda Braga da Costa Monteiro(Centro de Estudos da População Economia e Sociedade)

Apesar de mal entendido pela generalidade dos intelectuais oitocentistas, o emigrante português no Brasil, uma vez regressado com capacidade financeira e espírito empreendedor, mesmo encarnando o estereótipo do brasileiro, acabaria por ser, no entanto, uma das figuras mais importantes para a dinamização económica, social, educativa, cultural e até política, das suas terras de origem, em Portugal. Como não deixou de ser publicamente reconhecido pelos seus contemporâneos, estes emigrantes enriquecidos que retornavam definitivamente às suas terras ou que a elas regressavam periodicamente foram, na transição do século XIX para o XX, verdadeiros agentes de investimento e de desenvolvimento de muitas localidades portuguesas, especialmente aquelas que geraram os maiores fluxos de partida, como é o caso de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Num país de fracos recursos, como era Portugal nos inícios do XX, as iniciativas empresariais destes homens tornaram-se, assim, significativas e até incontornáveis. Na verdade, alguns destes empreendimentos, gerando lucros rápidos e vultuosos, acabaram também por proporcionar ainda outros ganhos ao brasileiro que regressava ao seu país. Assegurando-lhe um crescente protagonismo no plano social, que passava pelo reconhecimento público do seu prestígio, tantas vezes premiado com a nobilitação, ou através da sua participação activa na vida política local quer ao nível partidário quer no desempenho de funções camarárias. A relação destes homens com a Primeira República no interior transmontano e duriense de Portugal, analisada à luz de imprensa local, vai-nos permitir incidir um novo olhar sobre a emigração para o Brasil.

Mesa F - BIOGRAFIAS (sala 1)

Moderação: José Miguel Sardica, Comissão Cientifica(CECC/FCH - Universidade Católica Portuguesa)

O Republicano Joaquim José Coelho de Carvalho, Reitor da Universidade de Coimbra

Manuel Augusto Rodrigues(Professor catedrático jubilado; FL - Universidade de Coimbra)

Joaquim José Coelho de Carvalho, que se distinguiu como escritor, político, diplomata e Reitor da Universidade de Coimbra, era natural de Tavira, onde nasceu a 14 Junho de 1855, tendo sido baptizado na igreja matriz de Faro, a 10 de Setembro de 1855. Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra entre 1872 e 1879 tendo obtido o grau de bacharel a 14 Julho deste ano. Advogado, diplomata e escritor, foi presidente da Academia das Ciências de Portugal e exerceu o cargo de cônsul no Brasil, em Rio Grande do Sul, em Xangai e em Huelva. Escreveu dramas de forte crítica social como: Casamento de Conveniência ou A Infelicidade Legal, representados no Teatro de D. Maria II e traduziu e adaptou várias obras de renome. Foi eleito, várias vezes, deputado pelo Algarve: em 1860, 1861, 1864 e em 1865.

Viria a ser nomeado Reitor interino da Universidade de Coimbra pelo ministro da Instrução Domingos Leite Pereira em 18 de Março de 1919 no lugar de Mendes dos Remédios, passando a efectivo em 19 de Maio e vindo a pedir a demissão a 26 de Junho de 1919. Faleceu no seu castelo de Arade, na praia de Angrinho (Ferragude) a 18 de Julho de 1934.

A Aliança Luso-Brasileira proposta por Sílvio Romero ficou a dever-se a Joaquim José Coelho de Carvalho, presidente da Academia das Ciências de Portugal, que a entendeu já em 1908 como um verdadeiro sistema político luso-brasileiro. No ano seguinte, Zófimo Consiglieri Pedroso apresentou à Sociedade de Geografia de Lisboa, na sessão de 10 de Novembro, um projecto de acordo luso-brasileiro para solidificar a história, as tradições, a língua e a raça a que pertenciam e evitar a “desnacionalização” (leia-se, transformação étnica).

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12 de Maio, Quinta16h30 – 18h00

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Nesta intervenção pretendemos analisar alguns aspectos da plurifacetada vida de Coelho de Carvalho: a sua actividade literária e cultural, o seu papel como militante activo da República e a sua fugaz passagem pela Reitoria da Universidade de Coimbra. Nesta passaram-se durante o seu governo vários factos, o mais importante dos quais foi a transferência da Faculdade de Letras para a Universidade do Porto quando era ministro da Instrução Leonardo Coimbra.

Tais ocorrências provocaram um clima de agitação que envolveu tomadas de posição provindas de diversos quadrantes, das Universidades de Lisboa e do Porto, das Associações Académicas e da sociedade em geral. A imprensa da época fez eco das movimentações.

Padre Lacerda e Correia Mateus: duas personalidades e dois percursos próximos e distintos

Acácio Sousa(Doutorando; FCSH – Universidade Nova de Lisboa)

Sendo ambos sacerdotes, João António Correia Mateus e José Ferreira Lacerda, tinham ainda em comum a visão estratégica, o saber e a sagacidade, para além do facto de terem partilhado o mesmo executivo camarário em Leiria, pelo Partido Regenerador, entre 1908 e 1910. A partir desta data, mantiveram o profundo respeito um pelo outro, mas os caminhos separaram-se. Correia Mateus, amigo de Bernardino Machado, veio a aderir ao PRP -Partido Republicano Português e a voltar à Câmara de Leiria, onde seria um presidente marcante até 1925, afastando-se da Igreja Católica. Ferreira Lacerda, monárquico convicto, fundou em 1914 um jornal de combate anti-republicano, O Mensageiro, título ainda em curso, foi anti-belicista, mas capelão no front da Flandres, sendo ainda o paladino para a restauração da diocese, o que aconteceu em 1918, e o primeiro grande entusiasta e divulgador dos acontecimentos de 1917 em Fátima, acentuando a mensagem anti--republicana e depois, anti-comunista. A “República Velha” chegava ao seu termo e tudo isto traria profundas marcas sociais à Região de Leiria.

Após 1926, Lacerda terá tido expectativas no Nacional-Sindicalismo, acabando por vir a aderir à União Nacional, enquanto Correia Mateus se afastava da política,

falecendo subitamente, em 1928, quando se encontrava a banhos na Figueira da Foz. O funeral realizou-se em Leiria, tendo o bispo da diocese proibido a celebração religiosa.

António Caetano Celorico Gil: percursos de um republicano da ilusão à desilusão

Artur Ângelo Barracosa Mendonça(Investigador independente)

Pretende-se com esta comunicação apresentar António Caetano Celorico Gil, advogado, formado em Coimbra, republicano combativo, propagandista dos ideais republicanos pelo Algarve, onde foi também o responsável pela organização da Carbonária.

Com a implantação da República foi um dos deputados às Constituintes onde desempenhou um papel activo na discussão de determinadas questões. Foi depois sucessivamente eleito deputado pelo círculo de Faro. Acompanhou António José de Almeida na criação do seu Partido Republicano Evolucionista, mas acabou por se afastar.

Com o evoluir do regime nota-se uma crescente desilusão em relação ao estado das coisas. Em 1916 colabora com Machado Santos numa tentativa de revolta contra o governo.

A partir da década de 20, Celorico Gil aproxima-se do Partido Republicano Radical, tendo feito parte do respectivo directório, situação que também o conduziu à prisão.

Colabora em alguns órgãos da imprensa e funda já durante a Ditadura Militar um jornal, o Diário Popular, mas os fracos resultados e o contexto da época conduziram ao seu rápido encerramento, facto que também terá contribuído para uma degradação dos seus problemas de saúde que lhe provocaram um ataque cardíaco.

Analisar-se-á alguns dos seus discursos no Parlamento, onde se constatam as suas principais preocupações, bem como os esforços que evidenciou para resolver determinadas situações.

Por outro lado, acompanharemos os editoriais e artigos por ele redigidos, bem como as entrevistas que concedeu a alguns periódicos e revistas.

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12 de Maio, Quinta16h30 – 18h00

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Alves da Veiga: Um idealista desiludido?

Sónia Rebocho(Investigadora independente)

Para os que (re)conhecem o seu nome, Alves da Veiga é identificado como o chefe civil da primeira intentona dos republicanos para conquistar o poder, levada a cabo na cidade do Porto, a 31 de Janeiro de 1891. Contudo, Alves da Veiga foi acima de tudo um apaixonado defensor da causa republicana. Na defesa desse ideal foi perseguido e por ele se submeteu a um exílio de quase 20 anos. Mas será que, para este idealista, a República implantada a partir de 1910 correspondeu a um sonho tornado realidade? Ou, ao invés, a forma como foi concretizada significou para Alves da Veiga o desencanto e a decepção? O projecto constitucional enviado por Alves da Veiga à Assembleia Constituinte de 1911 traduz-se numa proposta de cariz federativo, mas é a corrente unitarista que vence. Do posto consular que assume no reino de Alberto I da Bélgica vai assistindo à sucessão desenfreada de governos, às constantes lutas facciosas e às crises políticas. O novo regime parece prolongar no tempo as fragilidades do constitucionalismo monárquico.

Mesa G - MODeLOS e PRÁTICAS POLÍTICAS (sala 2)

Moderação: José Fontes, Comissão Cientifica(Universidade Aberta)

“Progresso”, “ordem”, “regeneração”: do Ultimato à Ditadura Militar

João Paulo Avelãs Nunes(FL - Universidade de Coimbra; CEIS 20 – Universidade de Coimbra)

Assistiu-se, nas últimas duas décadas, a um aumento significativo, quer da produção de discurso científico nacional e estrangeiro sobre a Primeira República portuguesa, quer do grau de autonomia desses esforços de reconstituição e

interpretação face às estratégias de afirmação de instituições públicas e de organizações privadas, ao debate cultural e simbólico em geral. Observa-se, no entanto, que o peso de vectores ideológicos alienantes se mantém elevado; que os investigadores e divulgadores adoptam, muitas vezes, conceitos e perspectivas de abordagem tão aparentemente desintegrados que dificultam os esforços de comparação e/ou de síntese. Se, por um lado, as comemorações do Centenário da República estão a potenciar a estruturação e a rentabilização social das referidas leituras; por outro, ampliam os riscos de autolimitação e de instrumentalização.

Complementarmente, vive-se hoje uma crise totalizante (económico-financeira, social e política; nacional, da União Europeia e global) que torna — ou deveria tornar — interessante e útil o conhecimento objectivante acerca da Primeira República como período marcado por significativas dificuldades, cuja gestão acabou por redundar na implantação e no consolidar de um regime ditatorial de direita. Para além do mais, o estudo do período de 1910 a 1926 pressupõe a abordagem da conjuntura imediatamente anterior (1890-1910) e das seis décadas vividas desde a Revolução de 1820; inclui equilíbrios e soluções diferenciáveis como a “República Velha”, a “União Sagrada”, o Sidonismo, a “Nova República Velha”, os Governos liderados por Álvaro de Castro e José Domingos dos Santos.

Beneficiando do trabalho já realizado por diversos especialistas, considera-se ser possível elencar um conjunto de noções teóricas que poderão correlacionar melhor e reforçar a operatividade das análises sobre o sistema político e as correntes ideológicas em Portugal durante a Primeira República: regime demoliberal com elementos de autoritarismo; integração ou exclusão social e política; radicalismo e absentismo cívico; laicização, anticlericalismo e integrismo religioso; modernizadores, conservadores e tradicionalistas; semiperiferia da economia-mundo capitalista.

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Factores de Instabilidade Política e Governativa na I República Portuguesa:o Sistema de Governo, o Sistema Partidário e o Sistema Eleitoral

António José Fernandes(Pós-doutorando; Universidade Lusófona do Porto)

Com o objectivo de inventariar as razões que levaram à implantação da República e de identificar as causas e os factores que contribuíram para a quase permanente instabilidade política e governativa durante a vigência da I República Portuguesa, analisa-se, no presente artigo, o sistema político de governo definido no programa republicano e desenhado no articulado da Constituição de 18 de Agosto de 1911, o sistema de partidos que se instituiu a partir de 1912 e perdurou durante a vigência da República e o sistema eleitoral instaurado pela Lei eleitoral de 5 de Abril de 1911 e preservado pelas Leis eleitorais posteriormente adoptadas; para se concluir que o sistema eleitoral sexista e capacitário proporcionou a formação de um sistema pluripartidista de partido dominante, o qual garantiu a continuidade de um sistema de governo de assembleia, cuja sede de exercício do Poder político – o Congresso da República –, se tornou um palco de questiúnculas pessoais, de intrigas e de confrontos verbais, contribuindo, assim, para gerar e manter uma constante instabilidade política traduzida em frequentes e numerosas crises governativas.

O Presidente da I República

João Bonifácio Serra(IHC / FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

A comunicação procede a uma análise do papel do Presidente da República no sistema constitucional e político da Primeira República, partindo do quadro de poderes definido na Constituição e reconstituindo as formas de intervenção do Presidente na vida política.

Mesa H - ReACçÕeS POLÍTICAS (sala 1)

Moderação: António Costa Pinto(ICS - Universidade de Lisboa)

A reacção intelectual anti-republicana como berço da extrema-direitaestudantil do segundo pós-guerra

Riccardo Marchi(Pós-Doutorando; ICS - Universidade de Lisboa)

A experiência da Primeira República provocou transformações profundas no pensamento de muitos intelectuais portugueses, apoiantes ou opositores do ideal republicano. Exemplo contundente desse processo é a evolução de Alfredo Pimenta, cuja intervenção intelectual nasce no anarquismo, evoluindo rapidamente para o republicanismo, com adesão até ao Partido Evolucionista e aderindo finalmente e definitivamente ao monarquismo tradicional ainda durante a Primeira República. Trata-se, na análise do discípulo de Pimenta, António José de Brito, de uma mudança não paradoxal, sendo que o cariz reaccionário do republicanismo conservador do mestre já continha em si o monarquismo em potência. Esta evolução amadurecida nos anos da Primeira República traduz-se numa intensa actividade doutrinária contra o ideal republicano no interior das direitas portuguesas, manifestando-se também em ásperas polémicas com o meio integralista e nacional-sindicalista. Delineia-se, assim, um espaço de anti-republicanismo radical encarnado pela Acção Realista e animado, à volta de Pimenta, por intelectuais do calibre de João Ameal, Fernando Campos e Caetano Beirão. Nesta frente contra-revolucionária forma-se, nos anos 40 e 50, a geração de jovens intelectuais de extrema-direita do segundo pós-guerra: Caetano de Mello Beirão, Amândio César, Florentino Goulart Nogueira, entre outros, norteiam-se por uma militância de teor fascista mas absolutamente incompatível com qualquer tentação republicana. Esta incondicionalidade anti-republicana demarca-se, dentro do meio monárquico, por uma oposição a qualquer tendência democratizante e, dentro do meio situacionista, por uma crítica ao cesarismo do Estado Novo. Através do estudo da correspondência inédita entre a geração radical estudantil do segundo pós-guerra e Alfredo Pimenta, a comunicação pretende apresentar o carácter anti-republicano e contra-revolucionário daqueles protagonistas da extrema-direita fascinados pela reacção doutrinária à Primeira República.

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Sidónio Pais e a outra República

Miguel Nunes Ramalho(Investigador independente; Escola da Guarda Nacional Republicana – Queluz)

A ignorância da História e o desprezo do passado são fontes determinantes dos erros políticos do presente.

A História faz-se em grande parte por si própria. É por isso consequência de si mesma. Os seus autores e actores são essencialmente situações, factos ou figuras determinados em função dos processos mais intensos da Memória. Muitos são objecto de “mistificações”, o que permite interrogarmo-nos constantemente sobre as imagens, legítimas ou não, que nos são transmitidas. Por vezes o historiador, “de sábio que julgava ser, tornou-se um forjador de mitos, um político inconsciente”, como afirma Croce, desprezando a história saber-objectivo, para escolher uma história-militante e emocional, uma história do tempo breve onde se localizam os factos ocasionais, aparentemente distintos uns dos outros.

Sidónio Pais é o paradigma bem tipificado desta realidade. Muitos historiadores apresentaram Sidónio e o Sidonismo como uma figura e um movimento ditatorial de direita, precursor e inspirador das ditaduras fascistas. Apelidando-o de “aprendiz de feiticeiro”, insinuaram que Sidónio era a simbiose do bonapartismo presidencial e do presidencialismo monárquico, avesso a qualquer princípio de sufrágio universal, o “Presidente-Rei”, seguindo a expressão de Fernando Pessoa.

A concepção desta imagem de Sidónio é corroborada pela ideia dos historiadores salazaristas que viram na “República Nova” um movimento antecipado do Estado Novo. Durante muito tempo, historiadores, escritores e pedagogos, identificados com o radicalismo republicano, representaram Sidónio como a figura mais “antipática” da I República e os partidários salazaristas como a mais “simpática”.

É esta ordem de juízos que se torna forçoso inverter. Sidónio pretendia uma República diferente: defendeu um regime presidencialista para maior estabilidade política e social; fomentou um pacto com a Igreja; desenvolveu o aprofundamento das relações diplomáticas, políticas e comerciais com a Alemanha, debatendo-se pela neutralidade na Guerra contra a corrente do seu Governo sem desprezar a aliança inglesa; idealizou uma República Nova.

Basílio Teles (1856 – 1923)

Miguel Real(CLEPUL/FL - Universidade de Lisboa)

Existem duas fases explícitas no pensamento de Basílio Teles: a fase política propriamente dita, de 1890 a 1910 – o combate pela instauração da República -, e a fase filosófica, de 1911 até ao ano da sua morte. A sua actividade política inicia--se, ainda estudante de Medicina, com os tumultos no Porto e Lisboa relativos ao Ultimato de 1890, e participa activamente na revolta republicana do Porto em 31 de Janeiro de 1891, pela qual é forçado a exilar-se para a Corunha com Sampaio Bruno e João Chagas.

Não se excluindo mutuamente nem sendo contraditórias entre si, na segunda fase Basílio Teles continua político interveniente, com fortíssima intervenção pública nos jornais, recusando, porém, por motivos filosóficos, todos os cargos políticos, evidenciando que lhe é mais importante o pensamento, a filosofia, a reflexão nos seus últimos 12, 13 anos de vida do que a intervenção política partidária, como acontecera nos anteriores 20 anos enquanto militante do Partido Republicano Português. Sinal perfeito do momento divisório entre as duas fases reside na sua recusa em aceitar o ministério da Fazenda no governo provisório saído da proclamação da República por desacordo com base em princípios filosóficos. De um modo muito singular, alegando não estar de acordo com a Constituição de 1911 e com a forma democrática de governo, fundada em eleições populares, Basílio Teles recusou todos os cargos políticos oferecidos após o 5 de Outubro, recusando, inclusive, a possibilidade de formar governo próprio em 1912.

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A europa na Diplomacia Portuguesa. As vozes da imprensa durante a República

Isabel Baltazar(Pós-doutoranda; CEIS 20 – Universidade de Coimbra)

Para evocar os 100 anos da I República Portuguesa, urge regressar a um tempo curto, mas decisivo para a História de Portugal. Com efeito, entre 1910 e 1926, foram lançados os ideais republicanos fundamentais que continuam a dar vida ao imaginário português, e a ter uma oportunidade política no presente e a apontar caminhos para o futuro.

Foi, talvez, o seu pendor utópico que levou a anunciar ideias demasiado arrojadas, cujos ideais de base, muitos deles, vinham da Europa, onde esperavam, também, a sua realização. Seriam utopias para o seu tempo, mas que germinaram e continuam a inspirar o nosso tempo. No caso da Ideia de Europa que pretendemos lembrar em Outras Vozes, as vozes republicanas continuam a esperar o tempo para a sua realização.

O ideal de Estados Unidos da Europa chegaria a Portugal durante a I República, tendo como auge os anos vinte, precisamente quando a República atingiria a sua plena maturidade e realismo político. Uma ideia que chegaria pela via da diplomacia europeia, ouvida e discutida pela diplomacia portuguesa, essencialmente, circunscrita a uma elite política e cultural.

No entanto, outras vozes se fariam ouvir, fora daquele círculo tão restrito, vozes estas que teriam ecos na opinião pública portuguesa através da imprensa.É surpreendente, a qualidade e quantidade das notícias, editoriais e reflexões a propósito da Europa, escritas em português e pensadas por portugueses. É, também, uma surpresa a profundidade de tais ideias e ideais, que se revelam nos seus discursos a propósito do ideal europeu. Sobretudo nos jornais Diário de Lisboa e Diário de Notícias.

São estas vozes que pretendemos fazer ouvir para mostrar como a ideia de “Estados Unidos da Europa” teve a mais eloquente expressão durante a I República em Portugal. Vozes que precisamos de voltar a escutar para apreciar a verdadeira riqueza daquele tempo e para inspirar o tempo presente.

Mesa I - VOZeS FeMININAS (sala 2)

Moderação: Maria Emília Stone(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Vozes de mulheres na I República

zília Osório de Castro(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Entre as várias conquistas da Primeira República Portuguesa, quiçá a menos estudada, conta-se a emergência das mulheres no espaço público, entendendo-se como tal a sua presença activa e interventiva na sociedade. Num processo que não traria retrocesso, foram potencialmente ocupando o seu próprio espaço de seres humanos com características próprias e, participantes como tal, da universalidade da humanidade composta de mulheres e de homens. A República trouxe, também neste aspecto, uma indesmentível mudança com a Monarquia Constitucional que, aliás, já se vinha esboçando sobretudo a partir de meados do século XIX, e se traduziu agora pela intervenção das mulheres em defesa dos seus direitos. Utilizaram para isso a imprensa periódica, como então já o haviam feito, embora com objectivos não tão definidos e recorreram ao associativismo para reforçarem as suas reivindicações. Quais eram estas? Como as expressavam em termos de efectivação dos seus ideais? Quais os contornos do espaço que pretendiam ocupar em termos de efectivação dos referidos direitos? Questões a que importa responder se se pretender caracterizar o republicanismo vitorioso a 5 de Outubro de 1910 e a sociedade que ele informou. Questões que envolvem o conhecimento das mulheres pela génese da sua cidadania, expressão política por excelência da sua dignidade de pessoa humana. Questões para as quais, no caso em apreço, se torna imprescindível recorrer à imprensa periódica já que, como se referiu, foi o meio utilizado pelas mulheres para fazerem ouvir as suas vozes. Enquanto elo de ligação entre a memória do passado e os projectos de futuro, elas souberam aproveitar as suas virtualidades para expressarem e defenderem as suas reivindicações pessoais e sociais na construção da república que pretendiam. Em suma, as vozes das

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mulheres republicanas eram também as vozes da República. Deste modo, o texto que se apresenta procura ser um contributo para a compreensão da problemática acabada de enunciar. Recorrendo a publicações periódicas femininas e feministas, tais como Jornal da Mulher (secção de O Mundo), 1906-1910, Alma Feminina (1907- 1908), A Mulher e a Criança (Liga Republicana das Mulheres Portuguesas), 1909-1911, A Madrugada (Liga Republicana das Mulheres Portuguesas), 1911-1918, A Mulher Portuguesa (1912-1913), A Semeadora (1915-1918), entre outras, faz ouvir de novo vozes femininas defendendo a sua dignidade de mulheres e da cidadãs.

A importância da educação para a primeira vaga femininista em Portugal

Anabela Freitas(CeiEF - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia)

A comunicação que se anuncia faz parte da investigação, Percursos do associativismo e do sindicalismo docentes em Portugal, 1890-1990, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Em Portugal, desde o século XIX que muitas personalidades (Ramalho Ortigão, Antero de Quental, Eça de Queirós e outros) empreenderam iniciativas para uma maior dignificação da mulher. Contudo, os frutos dessa luta só se colheram após a implantação da República, em 1910, mas depressa morreram devido à implantação de um regime ditatorial, em 1926.

É então depois da implantação da República que salta para a ribalta o nome de várias mulheres que desde final do séc. XIX vinham defendendo o direito ao divórcio, à posse de bens, ao voto, à vida política.

Marcada pela maçonaria e pelo republicanismo, esta primeira vaga do feminismo em Portugal sempre pugnou pelo direito à educação como solução para o problema da dignificação e da subsistência da mulher. Através da leitura de revistas de crítica sociopolítica e de obras de reflexão sobre a condição da mulher, tentaremos explicitar de que maneira a educação, segundo o pensamento da época, poderia libertar a mulher.

Associativismo feminino nacionalista e patriótico na I Guerra Mundial

Natividade Monteiro(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

A Cruzada das Mulheres Portuguesas e o Núcleo Feminino de Assistência Infantil da Junta Patriótica do Norte serão as colectividades femininas em torno das quais se desenvolverá esta comunicação que pretende realçar a atitude das mulheres republicanas perante a guerra e a participação portuguesa, a fé no triunfo da causa que julgaram justa, o trabalho desenvolvido em defesa dos interesses portugueses, o esforço despendido na organização e gestão de estruturas complexas de educação, assistência e solidariedade social que pretenderam minorar os efeitos do conflito armado e constituir as bases de um país mais moderno e progressista em que pudessem desempenhar papéis e poderes mais consentâneos com as suas aspirações de emancipação.

A acção de todas as mulheres que contribuíram com o seu esforço material, intelectual e moral para as obras de assistência e benemerência, criadas durante a Guerra, constitui um legado de solidariedade, humanismo e cidadania que é necessário preservar. A melhor forma de comemorar o Centenário da Implantação da República é dar visibilidade a todas e a todos os protagonistas que, conscientes dos seus deveres cívicos e orientados pelos ideais da liberdade, democracia, igualdade e solidariedade, contribuíram para a construção de uma sociedade melhor.

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Mesa J - eDUCAçãO e SAÚDe (sala 3)

Moderação: Fernando Catroga, Comissão Científica(CEIS 20 - Universidade de Coimbra)

Contribuição para a História do desporto na I República (1910-1926): o desporto de massas analisado através da imprensa especializada da época

Teresa Rita Pereira(Bolseira de Investigação da FCT; CNCCR - Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República)

A prática desportiva em Portugal assiste a um forte crescimento em finais do século XIX. Tal facto fica a dever-se maioritariamente ao aparecimento da figura do Sportsman – que está intrinsecamente relacionada com a elite aristocrática inglesa que se havia fixado em Portugal e que havia trazido consigo inúmeras modalidades outrora desconhecidas (Vela, Cricket, Lawn-Tennis, etc.). Não obstante, será com o movimento republicano que se dá uma «democratização» do desporto. Com a República surgem os verdadeiros desportos de massas e aumenta exponencialmente a prática de actividades físicas que não exige qualquer status social como: o Atletismo/ Sports Athléticos, a Natação, o Ciclismo e o Futebol. Será da análise efectuada à imprensa desportiva da época que podemos falar da importância de cada uma destas modalidades e qual o seu verdadeiro impacto na sociedade da I República.

República e desporto – Contributos para a compreensão do fenómenodesportivo entre 1910 e 1926

Francisco Pinheiro(Pós-doutorando; CEIS 20 - Universidade de Coimbra)

Esta comunicação pretende contribuir para o desenvolvimento do conhecimento sobre as principais transformações sociais vividas em Portugal durante o período da I República (1910-1926). Para tal, debruça-se sobre um campo social – o do

desporto – que teve, em Portugal e na Europa, um grande incremento no princípio do século XX, tornando-se depois, no resto do século, numa das formas sociais e culturais mais importantes no panorama da sociedade ocidental.

O desporto foi um extraordinário caso de sucesso na I República, não só do ponto de vista clubístico e jornalístico (com cerca de 170 jornais desportivos publicados), mas também nos campos organizacionais e estruturais. A família portuguesa, nestes cerca de 16 anos, passou-se a relacionar afectivamente com o desporto. A tarde de domingo tornou-se a tarde do futebol. Mas não se pense que foi apenas um fenómeno adstrito a esta modalidade. O ciclismo ganhou popularidade, o boxe conquistou admiradores, o ténis alargou a sua influência, o automobilismo e a aviação tornaram-se espaços de afirmação do progresso nacional, a tourada reafirmou a valentia do homem português, a natação esteve na origem de provas muito populares. E os heróis desportivos foram naturalmente aparecendo, alguns criados pelo tradicional misticismo à volta do fatalismo nacional, como foi o caso do maratonista Francisco Lázaro que faleceu durante a maratona olímpica de 1912, outros pelo talento natural, como o futebolista Artur José Pereira, outros pelo grau de valentia, como Gago Coutinho e Sacadura Cabral, outros pelo carácter e personalidade, como Cândido de Oliveira, entre outros exemplos. Assim, entre 1910 e 1926, o desporto português conheceu um dos seus momentos de maior apogeu, superando a falta de profissionalismo e organização que grassava em quase todos os sectores da sociedade portuguesa.

A questão da deficiência e a educação de crianças com necessidades educativasespeciais em razão de uma condição de deficiência na I República

Francisco Carvalho(CPES - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)

Que representações da deficiência podemos observar na I República? No fundo, em matéria de política de educação, como é que as pessoas com deficiência foram encaradas no regime republicano? Tendo em conta tais questões de partida e sustentados na investigação que vimos desenvolvendo há vários anos, a comunicação procura contribuir para o aprofundamento do tema. Nesse sentido, numa primeira aproximação introdutória, começamos por equacionar as representações da deficiência enquanto factor de diferença física ou cognitiva,

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como distintas no tempo e no espaço, não deixando aí de contextualizar, de forma necessariamente sucinta, a situação socioeconómica e política do País. Depois, centrando-se propriamente no tema sub júdice, a comunicação passa em revista algumas das representações da deficiência, mormente da visão, da audição e da cognição, a partir da análise de textos publicados na imprensa e em revistas, bem como de diplomas legais (vg. Reformas de 1911 e de 1919 - Reforma de Leonardo Coimbra) respeitantes à organização e funcionamento de serviços, com realce para os serviços públicos da educação, para lá, evidentemente, da literatura de referência. Por outro lado, uma vez que o acto legislativo não é necessariamente sinónimo de transformação verificaremos até que ponto a distância entre os princípios e os factos aconteceu. Isto é, em que medida é que o previsto teve efectiva concretização, sublinhando nesse âmbito o contributo de pedagogos ilustres, com destaque para António Aurélio da Costa Ferreira – médico, pedagogo e pontualmente vereador municipal de Lisboa (1908-1911) e governante (Ministro do Fomento no governo de Duarte Leite em alguns meses de 1912) -, na busca de respostas de natureza pedagógica (e não de mera assistência) para, senão resolver, ao menos minorar o problema do ensino de crianças e jovens com deficiência. Como conclusão geral, salienta-se que, fosse por dificuldades financeiras, instabilidade sociopolítica, pouco tempo ou por tudo isso conjugado, os esforços encetados na I República ficaram aquém das necessidades. Não obstante, também se sobreleva à guisa de apontamento final uma intenção tendente à dignificação das pessoas com deficiência, reflectida na adopção, e alguma concretização, de medidas de natureza legislativa e outras nos domínios da educação básica, leia-se antes, da instrução elementar, para usarmos a terminologia da época.

Mesa K - OPOSIçãO MONÁRQUICA (sala 1)

Moderação: Isabel Baltazar(Pós–Doutoranda; CEIS 20 - Universidade de Coimbra)

A reorganização monárquica de 1915: esperança e desilusão

Bruno J. Navarro(Doutorando; CIUHCT/FCT - Universidade Nova de Lisboa)

O General Pimenta de Castro foi na I República um ditador reaccionário que voluntária ou involuntariamente poderia ter provocado a restauração da Monarquia em Portugal?

Como viram os monárquicos os movimentos de ascensão e queda do seu governo?

A Revolução de 14 de Maio de 1915 foi verdadeiramente um momento de refundação da I República e dos históricos ideais republicanos, ou podemos reduzir a sua importância a um breve, despropositado e sangrento arremedo revolucionário (fabricado artificialmente por uma sólida estrutura partidária republicana para impor a sua supremacia política contra a vontade do país), considerado, na época, pelas forças mais conservadoras da sociedade portuguesa e representantes da causa monárquica, como a mais antinacional das revoluções?

Aproveitando a coincidência de o Congresso Nacional de História e Ciência Política “Outras Vozes na República 1910-1926” se realizar, justamente, quando se assinalam noventa e seis anos da revolução de 14 de Maio de 1915 (a revolução mais sangrenta do regime republicano), esta proposta de comunicação pretende analisar o governo do General Joaquim Pereira Pimenta de Castro (Janeiro-Maio de 1915), partindo da perspectiva dos principais opositores do regime.

O nosso objectivo fundamental será apresentar uma síntese histórica de um momento particularmente crítico da vida da I República, que assistiu ao primeiro movimento de reorganização monárquica no interior do novo regime (depois de fracassadas as tentativas restauracionistas, pela via da força, lideradas por Paiva Couceiro), marcado pelo vigoroso ressurgimento dos seus órgãos de imprensa, pela criação de centros políticos em todo o país, e por uma ambiciosa e imprudente propaganda política de ataque às novas instituições.

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Procuraremos enquadrar esse movimento no contexto da orientação política do governo de Pimenta de Castro, sinalizando as iniciativas legislativas apresentadas com a intenção declarada de promover a abertura do regime à participação dos seus opositores, desagravando simultaneamente os sectores mais conservadores da sociedade portuguesa.

Resistências monárquicas: uma história por fazer

Maria Emília Stone(Faces de Eva-CESNOVA/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

A história da resistência monárquica ao regime instaurado em 5 de Outubro de 1910 está ainda por fazer. Mormente a oposição realista feminina, de facto, tem estado ausente dos compêndios de História de Portugal assim como dos manuais dedicados, especificamente, à História da I República. Quando muito, a contra- -revolução monárquica tem sido nessas obras, apenas, objecto de tratamento muito secundarizado por parte daqueles que ao estudo do regime republicano se têm devotado. Para colmatar esse défice de visão global da sociedade portuguesa nas segunda e terceira décadas do século XX, torna-se decisivo dar visibilidade às vencidas de 5 de Outubro, procurando saber-lhes o nome, dar-lhes um rosto e entender como viveram e reagiram a um sistema político cujos valores não eram os seus e com os quais, obviamente, não se identificavam.

Atendendo ao que ficou dito, o presente trabalho procura contribuir para o preenchimento dessa lacuna, recuperando a memória possível das mulheres monárquicas vencidas pelo regime fundado em 5 de Outubro de 1910 mas que, à sua maneira, não renunciaram a viver e a sobreviver à República.

Monarquia e monárquicos em debate no Parlamento Republicano

Leonor Calvão Borges(Investigadora independente; Divisão de Informação Legislativa e Parlamentar da Assembleia da República)

A Assembleia Nacional Constituinte de 1911, primeira reunião republicana do Parlamento, irá demonstrar, no decorrer das suas sessenta sessões e através de decretos, moções, requerimentos e debates, que a actuação da “ex-família real” tanto no passado como no seu presente, não passa isenta de considerações, comentários e até tentativas de esclarecimento e resolução de questões sensíveis, como o caso dos adiantamentos.

Apresenta-se assim a recolha e análise dos debates parlamentares republicanos relativos à família real portuguesa e causa monárquica, destacando ainda o contributo de deputados monárquicos para a questão. Aos debates é dada a respectiva contextualização histórica e, caso se justifique, a apresentação detalhada dos seus autores.

O Integralismo de António Sardinha como pensamento pós-republicano

Jorge Azevedo Correia(Investigador independente; Instituto Diplomático - Ministério dos Negócios Estrangeiros)

Nos tempos mais recentes, o pensamento de António Sardinha e o próprio Integralismo Lusitano, têm sido compreendidos como ideologias anti-iluministas ou como uma mera reacção ao seu tempo, consubstanciados na nostalgia nacional de um passado heróico. Esta visão oculta uma parcela importante desse movimento, que incorpora no seu léxico e estrutura conceptual um acervo republicano e profundamente moderno.

O nacionalismo de António Sardinha, a sua primeira fase integralista (1912-1919), e a profunda influência neste do pensamento republicano (por via de Henriques Nogueira e Teófilo Braga) na sua doutrina da nacionalidade e visão da instituição monárquica, são elementos decisivos na formação de uma doutrinação autónoma

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e de um argumento monárquico profundamente original no seu contexto temporal. Neste se misturam elementos contra-revolucionários, doutrina política católica, ciência positiva e empirismo factualista moderno, numa resposta ideológica que pretende reactivar uma doutrina comunitária e tradicional, contra o progressismo então vigente.

Originado numa profunda desilusão com a concretização da República, por via da incapacidade desta em proceder a um ressurgimento nacional, o Integralismo é uma dissidência que virá a ter profundas implicações culturais (a formação de várias gerações de intelectuais e a sua influência doutrinária no Estado Novo) e políticas (participação em várias tentativas de subversão do regime). Para perceber a I República e as causas do seu declínio é necessário compreender as expectativas por esta geradas e a forma como a incompatibilidade das suas propostas políticas no seu seio gerou as sementes da sua própria convulsão interna.

Mesa L - CULTURA POLÍTICA (sala 2)

Moderação: Fernando Ampudia de Haro(Pós-doutorando; IHC / FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Republicanismo e jesuítismo no Manual Político do Cidadão Português de Trindade Coelho (1908)

Manuel Filipe Canaveira(OP/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

A ideia de República como melhor sistema de governo implicava, para Trindade Coelho, um decidido combate ao espírito jesuítico que dominava as elites monárquicas no início do séc. XX.

A comunicação tomará como referência o Manual do Político do Cidadão Português (publicado em 1908), obra em que o célebre escritor oitocentista Trindade Coelho explana as suas ideias pró-republicanas. Outros autores e escritos sobre o ideal republicano serão convocados e tratados na óptica da tríade História Política - História das Ideias Políticas - Ciência Política.

A questão religiosa, principalmente a alegada conspiração jesuítica, será vista sob um ponto de vista diverso daquele que tem sido até agora pela generalidade dos autores. Não serão visadas as perseguições e as práticas infamantes infligidas aos inacianos ou à Igreja Católica Portuguesa em geral, pois pretendemos tão-somente descrever e ponderar as razões ideológicas profundas que separam a Igreja do Concílio do Vaticano I (crítica dos erros do naturalismo e liberalismo) das ideias positivistas que norteiam o pensamento republicano português finissecular.Também se dará o devido relevo ao ideal cívico republicano, nomeadamente no domínio da instrução (alfabetização do povo) e dos cuidados de saúde dispensados à população, que deles muito carecia.

Tudo isso, porém, será considerado do ponto de vista simbólico e não das realizações materiais concretas ou, ainda menos, das promessas não cumpridas, porque o nosso desejo é perceber a República Ideal sonhada pelos homens do 5 de Outubro, não o regime concreto que eles depois vieram a implantar com relativo sucesso.

República em Fernando Pessoa

Fernando Ribeiro(FCSH - Universidade Nova de Lisboa; CHC/ FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

1- Pessoa-sociólogo: a) contra a República e contra a Monarquia b) pela Aristocracia e contra os «Democráticos»

2- A Sociedade Nova e seus pilares: a) A República Nova b) Contra a teoria do milagre

3-Da liberal «República Nova» para Portugal: Vias para a consecução da Monarquia Nova.

4- Do contributo da arte literária em Pessoa para a consolidação da Nação de Portugal.

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A presente comunicação propõe-se reflectir sobre a defesa propugnada por Pessoa-sociólogo da «República Nova» como modelo reformador alternativo ao defendido pela I República.

Tendo em vista a definição de conceitos-chave em Pessoa como os de Democracia, República, Liberalismo e Ditadura, a comunicação perseguirá o desenho de modelo sócio-político esboçado por Pessoa para aceder ao da sua derradeira Monarquia Nova liberal, não liberalista.

Primacialmente baseada no estudo de textos teórico-políticos escritos por Pessoa, esta comunicação não deixará de sublinhar a sintonia, entendida existir, entre Pessoa-«sociólogo» e criador literário, na demanda da unidade do génio social que soube ser.

O fazer ser republicano: estudo realizado na oficina da I República

José Gregório Viegas Brás & Maria Neves Leal Gonçalves(CeiEF - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)

A Ética Republicana vem colocar uma problemática epistémica (procura de um conhecimento seguro e da verdade), política (construção de uma viável e boa ordem) e económica (organização para a satisfação das necessidades) (Wagner, 2002). Neste sentido, o republicanismo constitui um movimento social cuja explicação da luta pela conquista do aparelho de Estado será incompleta se não se levar em conta o horizonte cultural que o impulsionou. O que está em marcha é uma proposta de matriz ontológica (Catroga, 2000), pois este movimento coloca em causa a legitimidade dinástica e divina. Assim, a ética republicana passa por procedimentos do Republicanismo que implicam uma nova arte de existência.

Para a abordagem desta problemática delineámos dois objectivos: (i) Analisar a historicidade da montagem do dispositivo que tornou possível a ética republicana e (ii) Compreender o processo que foi interiorizando e construindo a ética republicana.

Para operacionalizar estes dois objectivos e, face à multiplicidade de ângulos de abordagem, vamos analisar fontes diversificadas: manuscritas, iconográficas e impressas (imprensa, legislação, publicações republicanas, congressos

pedagógicos,...). Estas fontes serão exploradas no sentido de captarmos a centralidade da Educação Cívica, da Instrução Militar Preparatória, da moral laica, das reformas e manuais escolares e das festividades cívicas no projecto pedagógico republicano.

Acções colectivas de repertório tradicional contra medidas médico-sanitárias na I República Portuguesa, 1910-1917

David Luna de Carvalho(CEHCP - ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa)

Entre 1910 e 1917 verificaram-se bastantes resistências populares contra medidas médico-sanitárias, nomeadamente devido ao isolamento de doentes infectados por cólera, devido à obrigatoriedade de vacinação e revacinação anti-varíoloca e, também, devido à reafirmação da proibição de enterros dentro de igrejas. Embora este tipo de resistências não fosse novo, lembremo-nos das revoltas devido às Leis de Saúde da Monarquia Constitucional de que a mais famosa ficou conhecida como a “Maria da Fonte”, tiveram um novo significado neste período devido à política laicizadora da Primeira República Portuguesa. Este significado, por seu turno, pode ajudar a explicar o conjunto mais amplo das resistências populares à laicização republicana.

A europa e modelos de modernização na I República

Carlos Leone(CHC/FCSH - Universidade Nova de Lisboa) Patricia Oliveira(OP/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

A Europa serviu ao pensamento republicano como modelo de modernização da sociedade portuguesa, tomando como referência cultural e política o padrão Ocidental da época, a cultura francesa e, em menor medida, também a inglesa.

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Este modelo tinha já à época da instauração da I República uma longa história em Portugal, associada a sucessivas tentativas anteriores de modernização e que manteve até hoje, naturalmente com evoluções, a sua influência, motivo pelo qual nos serve de matéria de reflexão sobre a I República e sobre o republicanismo, em geral, na sua influência filosófica e ideológica em Portugal.

Mesa M - TeCNOLOGIA e DeSeNVOLVIMeNTO (sala 3)

Moderação: Armando Malheiro da Silva, Comissão Científica(FL – Universidade do Porto)

A República e a Organização da Ciência

Tiago Brandão(Doutorando; IHC/ FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Reconheça-se ou não a existência histórica de uma óptica de “política científica” em conjunturas prévias à Segunda Guerra Mundial ou mesmo à década de 60, há, na verdade, uma abordagem que se afigura menos problemática. Essa abordagem é aquela que assume e reconhece, historicamente, inclusive desde os fins do século XIX, um processo de organização da ciência, que se foi fazendo, com maior ou menor racionalidade.

Importará então, na comunicação que se propõe, saber em que medida a organização da ciência e da investigação se relaciona com o republicanismo e, em Portugal, com a implantação do regime político da I República em 1910 e sua vigência até 1926. Uma resposta reside na percepção de que a ciência fez parte, desde cedo, do corpo ideológico do republicanismo. A partir deste reconhecimento da ciência enquanto instrumento político, pode dizer-se mesmo que o republicanismo contribuiu para desencadear a “fase política da revolução científica”.

Desta forma, compreende-se como a lógica de organização da ciência emergiu, de facto, muito antes da Segunda Guerra Mundial, tendo-se criado logo durante toda a primeira metade do século XX, em diversos países, várias instituições de apoio e promoção da investigação científica.

Portugal, por seu lado, também não deixaria de acompanhar a cadência da história do ponto de vista da organização da ciência. Por um lado, a reforma do ensino superior de 1911, no quadro republicano portanto, veio introduzir o modelo da universidade de investigação, à imagem do modelo alemão. Por outro, até ao final do regime republicano, personalidades houve que defenderam a criação de um organismo que procurasse organizar, fomentar e orientar a investigação científica no País.

Será, em suma, em torno destes pontos que se organizará a exposição dos principais desenvolvimentos a que o período republicano assistiu em termos de organização da ciência em Portugal.

ezequiel de Campos e a I República – um percurso de desencantos(1910-1914)

Teresa Nunes(Doutoranda; FL - Universidade de Lisboa)

O objecto desta comunicação consiste na análise das linhas estruturantes do aparelho conceptual de Ezequiel de Campos, onde a sua filiação republicana, indesmentível em vésperas da implantação da República, se fundava num universo de motivações multifacetadas, às quais não eram alheios a sua naturalidade, o seu percurso biográfico, a ascendência socioeconómica, a formação académica e o meio intelectual e social envolvente. Não menos importante, a primeira década da actividade profissional, desenvolvida num contexto colonial específico caracterizado pelo paradoxo santomense, entre a exuberância dos elementos naturais e a pobreza infra-estrutural da província que, em 1910, se afirmava a mais republicana do império português. Embora determinantes para o posicionamento político e ideológico do autor, tais aspectos do pensamento do autor levaram-no até um ideal de República assente numa legitimidade gradualista, dependente das capacidades operativas do novo regime na prossecução do bem comum, uma tarefa indispensável para interromper a tendência de crise multissecular instaurada na sociedade portuguesa.

Ezequiel de Campos ambicionava a uma ruptura com o passado próximo em domínios onde a Revolução não tinha operado mudanças; tal disposição influenciou

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a sua actuação parlamentar, orientada para um modelo de desenvolvimento económico firmado na valia do sector primário de cujo crescimento dependia o acréscimo da oferta alimentar, as disponibilidades de matérias-primas para a indústria e aumento da presença comercial nos mercados externos. Se o papel da agricultura era estruturante para a economia e sociedade portuguesas, igualmente lhe parecia indispensável estimular a proximidade entre o indivíduo e a terra, cerne de um conjunto de propostas visando alterar o perfil fundiário do país. Segundo Ezequiel de Campos, a República fizera-se para resolver os problemas nacionais e a sobrevivência das novas instituições, ou a prevalência da soberania nacional perante as potências ocidentais, dependia da capacidade regeneradora republicana na correcção dos desequilíbrios responsáveis pelo subdesenvolvimento económico português.

O desempenho parlamentar de Ezequiel de Campos constituiu, assim, um percurso de desencantos, bem claro a partir de 1912.

Políticas portuárias na I República

Ana Prata(Doutoranda; IHC /FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

Nos inícios do século XX, os portos eram tidos, simplesmente, como porta de saída e entrada de produtos e gentes, sendo as apostas no seu melhoramento e apetrechamento meramente motivadas pelas circunstâncias. Era-lhes reconhecida importância, por estarem ligados com o sector económico-comercial, mas não existia, ainda, uma percepção ‘nacional’ e ‘integrada’ da questão portuária. Reconhecia-se a necessidade de ‘reparar’, mas não a de ‘coordenar’ ou ‘planear’. Nas vésperas da implantação da República, o desenvolvimento dos portos portugueses estava, por assim dizer, num estágio embrionário. Tinham começado a dar-se os primeiros grandes passos no sentido da criação de portos modernos, mas muito havia ainda a fazer.

A 5 de Outubro de 1910, com a implantação da República, iniciou-se um novo ciclo na política e economia nacionais. Pelo menos, assim se esperava.

Contudo, nos primeiros anos, viveu-se um tempo cheio de angústias, no que a angústia tem de imprecisão e de indefinição. Sentia-se que era tempo de mudar de estratégia; porém, reconhecia-se, desde logo, o enorme desafio que a classe

política, recém-chegada ao poder, tinha entre mãos. O espírito nacional vestia-se de ansiedade e expectativa.

Seria apenas em contexto de guerra, que o País, confrontado com as debilidades e falhas do seu sector portuário, perceberia, finalmente, a necessidade urgente de uma mudança de rumo.

A multiplicação das Juntas Autónomas dos Portos que, entre 1914 e 1926, passaram de duas a catorze, tem de ser entendida como uma tentativa de mudança no terreno, e, consequentemente, como uma aposta no sentido de uma maior regulação do sector portuário nacional. Apostou-se numa estrutura local, dependente do Estado, que, pela proximidade de actuação, teria maior possibilidade de se inteirar das efectivas necessidades de cada porto. Acabou-se, contudo, por não se traçar um qualquer plano, nem definir uma qualquer política portuária de âmbito nacional.

Anos mais tarde, tornou-se evidente que a mera criação de Juntas Autónomas e a tentativa de descentralização de competências hidráulicas, sem um plano de articulação nacional, seriam insuficientes para inverter o panorama de desestruturação do sistema portuário português. E é neste contexto que deve ser entendida a proposta de lei de 21 de Abril de 1926, a qual evidenciava ter-se, finalmente, entendido a carência que representava a não definição de um plano portuário de âmbito nacional, a não definição de uma política de portos.

Reforma agrária – ideias, tentativas e impasses: o ideário de Tomás Cabreira

Isabel Mariano Ribeiro(Doutoranda; CHC/FCSH e OP/FCSH - Universidade Nova de Lisboa)

O presente estudo aborda a questão agrária em Portugal, na Primeira República (1910-1926), através das ideias (diagnóstico e propostas) de Tomás António da Guarda Cabreira (1865-1918); o seu referencial teórico fundamentador é o da História das Ideias e as obras do autor foram as fontes privilegiadas para uma análise de carácter interdisciplinar. Cabreira mostra uma visão integrada do sector, pragmatismo nas propostas e um posicionamento eclético e tecnicista perante a resolução dos problemas; atribuindo ao Estado um papel mobilizador das forças produtivas, supletivo dos interesses ou claramente intervencionista, conforme as áreas de actuação e a análise da correlação das forças em presença.

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COMISSÃO DE HONRA

O Presidente do Conselho, Bernardino Machado, com Eduardo Burnaydurante uma visita à Companhia de Tabacos, em Lisboa.Lisboa, Maio de 1914[Museu da Presidência da República]

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Aníbal Cavaco SílvaAntónio Ramalho EanesMário SoaresJorge Sampaio

· Adriano MoreiraPresidente do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa· Ana Paula LaborinhoPresidente do Instituto Camões· António Augusto Magalhães da CunhaReitor da Universidade do Minho· António Manuel Bensabat RendasReitor da Universidade Nova de Lisboa· António Sampaio da NóvoaReitor da Universidade de Lisboa· António ValdemarPresidente da Academia Nacional de Belas Artes· Avelino de Freitas de MenesesReitor da Universidade dos Açores· Carlos Alberto dos Santos BraumannReitor da Universidade de Évora· Carlos Francisco SilvaDirector do Instituto Superior de Línguas e Administração de Leiria· Carlos Neves FerreiraPresidente do Instituto Diplomático· Carlos ReisReitor da Universidade Aberta· Diamantino Freitas Gomes DurãoReitor da Universidade Lusíada de Lisboa· Eduardo Romano de Arantes e OliveiraPresidente da Academia das Ciências de Lisboa· Fernanda OlivalPresidente da Associação Portuguesa de História Económica e Social· Fernando Jorge Rama Seabra SantosReitor da Universidade de Coimbra· Fernando Manuel Paiva MonteiroComandante da Academia Militar

· Fernando Manuel Ramôa Cardoso RibeiroReitor da Universidade Técnica de Lisboa· Guilherme d’Oliveira MartinsPresidente do Centro Nacional de Cultura· Helena LibórioDirectora da Direcção Regional de Educação do Centro· João Albino Ataíde das NevesPresidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz· Joaquim de SousaProvedor da Misericórdia - Obra da Figueira· José Carlos Diogo Marques dos SantosReitor da Universidade do Porto· José Ferreira de OliveiraDirector do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna· Jorge ArmindoPresidente do Conselho de Administração da Amorim Turismo· Jorge CoutoDirector da Biblioteca Nacional de Portugal· D. Jorge OrtigaPresidente da Conferência Episcopal Portuguesa· Justino Mendes de AlmeidaReitor da Universidade Autónoma· Luís Manuel Fourneaux Macieira FragosoDirector do Instituto de Estudos Superiores Militares· Mário MoutinhoReitor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias· Manuel Braga da CruzReitor da Universidade Católica Portuguesa· Manuela MendonçaPresidente da Academia Portuguesa da História· Marcelo Rebelo de SousaProfessor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa· Nuno André Oliveira Mangas PereiraPresidente do Instituto Politécnico de Leiria· Raquel Pereira HenriquesPresidente da Associação de Professores de História· Salvato Vila Verde Pires TrigoReitor da Universidade Fernando Pessoa

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· Armando Malheiro da SilvaFaculdade de Letras, Universidade do Porto· Fernando CatrogaCentro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Universidade de Coimbra· José FontesUniversidade Aberta· José Miguel SardicaCentro de Estudos de Comunicação e Cultura, Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa· Nuno Severiano TeixeiraInstituto de História Contemporânea, Universidade Nova de Lisboa· Rui RamosInstituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa· Sérgio Campos MatosCentro de História, Universidade de Lisboa

COMISSÃO CIENTÍFICA

COMISSÃO ORGANIZADORA

Direcção:· Diogo GasparDirector do Museu da Presidência da República· Domingos SilvaAdministrador da Sociedade Figueira Praia e do Casino

Coordenação:· Isabel Corrêa da SilvaICS - Universidade de Lisboa; CHC/FCSH - Universidade Nova de Lisboa· Sílvia CorreiaIHC/FCSH - Universidade Nova de Lisboa

Comissão executiva:Museu da Presidência da República · Sílvia Sá· Rita Costa · Susana Pina

Casino Figueira · Márcia Coelho· Rosa Carlos· Sónia Almeida

Comunicação:· Fernando MaiaCasino Figueira· Óscar CasaleiroMuseu da Presidência da República

Secretariado:· Anabela SilvaMuseu da Presidência da República· Filomena DiasMuseu da Presidência da República

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LISTA De PARTICIPANTeS e CALeNDÁRIO DAS INTeRVeNçÕeS

Nome Intervenção Data e horário Local

Acácio Sousa Comunicação 12 de Maio, 16h30-18h00 Mesa F - Sala 1Adília Fernandes Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa E - Sala Ana Cristina Martins Comunicação 12 de Maio, 11h30-13h00 Mesa B - Sala 2Ana Prata Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa M - Sala 3Anabela Freitas Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa I - Sala 2Ângela de Castro Gomes Conferência 13 de Maio, 16h30-18h00 Sessão V - Sala 1António Araújo Moderação 12 de Maio, 9h30-11h00 Sessão I - Sala 1António Costa Pinto Moderação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa H - Sala 1António José Fernandes Comunicação 12 de Maio, 16h30-18h00 Mesa G - Sala 2António Sampaio da Nóvoa Moderação 13 de Maio, 9h30-11h00 Sessão IV-Sala 2Armando Malheiro da Silva Moderação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa M - Sala 3Artur Ângelo Comunicação 12 de Maio, 16h30-18h00 Mesa F - Sala 1Barracosa MendonçaBruno J. Navarro Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa K - Sala 1Carlos Leone Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa L - Sala 2Carlos Serrano Ferreira Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa D - Sala 2Célia Maria Taborda da Silva Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa D - Sala 2David Luna de Carvalho Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa L - Sala 2Delfim Bismarck Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa E - Sala 3Diogo Gaspar Mensagem 12 de Maio, 21h15 Casino Figueira de acolhimento – Salão NobreDomingos Silva Mensagem 12 de Maio, 21h15 Casino Figueira de acolhimento – Salão NobreFernanda Santos Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa C - Sala 1Fernando Ampudia de Haro Comunicação 12 de Maio, 11h30-13h00 Mesa A - Sala 1 Moderação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa L - Sala 2Fernando Catroga Moderação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa J - Sala 3Fernando Ribeiro Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa L - Sala 2Francisco Carvalho Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa J - Sala 3Francisco José Senra Coelho Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa C - Sala 1Francisco Pinheiro Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa J - Sala 3Guilherme de Oliveira Martins Conferência 13 de Maio, 16h30-18h00 Sessão V - Sala 1 de encerramentoHugo Gonçalves Dores Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa C - Sala 1Isabel Baltazar Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa H - Sala 1 Moderação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa K – Sala 1Isabel Corrêa da Silva Abertura 12 de Maio, 9h30-11h00 Sessão I - Sala 1Isabel Cruz Lousada Conferência 13 de Maio, 16h30-18h00 Sessão V - Sala 1Isabel Mariano Ribeiro Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa M - Sala 3Isilda Braga da Costa Monteiro Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa E - Sala 3Joana Dias Pereira Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa D - Sala 2João Bonifácio Serra Comunicação 12 de Maio, 16h30-18h00 Mesa G - Sala 2João Esteves Moderação 13 de Maio, 16h30-18h00 Sessão V - Sala 1João Freire Conferência 12 de Maio, 9h30-11h00 Sessão II - Sala 2João Madeira Conferência 12 de Maio, 9h30-11h00 Sessão II - Sala 2

Nome Intervenção Data e horário Local

João Paulo Avelãs Nunes Comunicação 12 de Maio, 16h30-18h00 Mesa G - Sala 2Jorge Azevedo Correia Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa K - Sala 1Jorge Custódio Moderação 12 de Maio, 11h30-13h00 Mesa B - Sala 2José Barata Moura Oração 12 de Maio, 21h30 Casino Figueira de sapiência – Salão NobreJosé Fontes Moderação 12 de Maio, 16h30-18h00 Mesa G - Sala 2José Gregório Viegas Brás Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa L - Sala 2José Luís Garcia Comunicação 12 de Maio, 11h30-13h00 Mesa A - Sala 1José Luís Garcia Moderação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa C - Sala 1José Miguel Sardica Moderação 12 de Maio, 16h30-18h00 Mesa F - Sala 1José Raimundo Noras Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa E - Sala 3Leonor Calvão Borges Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa K - Sala 1Luís Augusto Costa Dias Conferência 13 de Maio, 9h30-11h00 Sessão IV - Sala 2Luís Reis Torgal Moderação 13 de Maio, 9h30-11h00 Sessão III - Sala 1Manuel Augusto Rodrigues Comunicação 12 de Maio, 16h30-18h00 Mesa F - Sala 1Manuel Filipe Canaveira Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa L - Sala 2Manuela Mendonça Moderação 12 de Maio, 9h30-11h00 Sessão II - Sala 2Marco Gomes Comunicação 12 de Maio, 11h30-13h00 Mesa A - Sala 1Maria da Luz Sampaio Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa D - Sala 2Maria Emília Stone Moderação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa I - Sala 2 Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa K - Sala 1Maria Isabel João Conferência 12 de Maio, 9h30-11h00 Sessão I - Sala 1Maria Lúcia de Brito Moura Conferência 12 de Maio, 9h30-11h00 Sessão I - Sala 1Maria Luísa Jacquinet Comunicação 12 de Maio, 11h30-13h00 Mesa B - Sala 2Maria Neves Leal Gonçalves Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa L - Sala 2Marisa Costa Comunicação 12 de Maio, 11h30-13h00 Mesa B - Sala 2Miguel António Dias Santos Conferência 13 de Maio, 9h30-11h00 Sessão III - Sala 1Miguel Nunes Ramalho Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa H - Sala 1Miguel Real Moderação 12 de Maio, 11h30-13h00 Mesa A - Sala 1 Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa H - Sala 1Nair Alexandra Comunicação 12 de Maio, 11h30-13h00 Mesa B - Sala 2Natividade Monteiro Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa I - Sala 2Norberto Ferreira da Cunha Conferência 13 de Maio, 9h30-11h00 Sessão IV - Sala 2Patricia Oliveira Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa L - Sala 2Paulo Archer de Carvalho Conferência 13 de Maio, 9h30-11h00 Sessão III - Sala 1Raquel Pereira Henriques Moderação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa E - Sala 3Riccardo Marchi Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa H - Sala 1Sílvia Correia Abertura 12 de Maio, 9h30-11h00 Sessão II - Sala 2 Moderação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa D - Sala 2Sónia Rebocho Comunicação 12 de Maio, 16h30-18h00 Mesa F - Sala 1Teresa Nunes Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa M - Sala 3Teresa Rita Pereira Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa J - Sala 3Tiago Brandão Comunicação 13 de Maio, 14h00-16h00 Mesa M - Sala 3Tiago de Moura L. Cerejeira Fontes Comunicação 12 de Maio, 14h00-16h00 Mesa C - Sala 1zília Osório de Castro Comunicação 13 de Maio, 11h30-13h00 Mesa I - Sala 2

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AGeNDA

DIA 12 – QUINTA

09h00 Abertura do Secretariado Palácio Sotto Mayor

9h30 – 11h00 Sessão I - Conferências Sala 1 Sessão II - Conferências Sala 2

11h00 – 11h30 Coffee break

11h30 – 13h00 Mesa A – Representação e dissonâncias Sala 1 Mesa B – Visões sobre o património Sala 2

13h00 – 14h00 Almoço / Buffet

14h00 – 16h00 Mesa C - Religiões Sala 1 Mesa D – Mundo do trabalho Sala 2 Mesa E – Vivências locais Sala 3

16h00 – 16h30 Coffee break

16h30 – 18h00 Mesa F - Biografias Sala 1 Mesa G – Modelos e práticas políticas Sala 2

18h00 – 19h30 Intervalo

19h30 Inauguração da Exposição Casino Figueira “República e Propaganda”

20h00 Jantar Casino Figueira

21h30 Oração de sapiência Casino Figueira

22h15 Concerto Casino Figueira

DIA 13 – SeXTA

09h00 Abertura do secretariado Palácio Sotto Mayor 9h30 – 11h00 Sessão III - Conferências Sala 1 Sessão IV - Conferências Sala 2 11h00 – 11h30 Coffee break 11h30 – 13h00 Mesa H – Reacções políticas Sala 1 Mesa I – Vozes femininas Sala 2 Mesa J – Educação e Saúde Sala 3 13h00 – 14h00 Almoço / Buffet 14h00 – 16h00 Mesa K – Oposições monárquicas Sala 1 Mesa L – Cultura política Sala 2 Mesa M – Tecnologia e desenvolvimento Sala 3 16h00 – 16h30 Coffee break 16h30 – 18h00 Sessão V - Conferências Sala 1

Encerramento do Congresso e entrega de certificados (18h00 – 19h00)

Mecenas

Media Partners

Parceiros

Organização: Museu da Presidência da RepúblicaApoio: Casino Figueira

FIGUEIRA DA FOZ12 E 13 DE MAIO DE 2011

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