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INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI FACULDADES IDEAU 1 Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil OSTEOSSÍNTESE DIAFISÁRIA DE TÍBIA E FÍBULA EM UM CANINO RELATO DE CASO CORTE, Camila Dalla¹ [email protected] LEVANDOSKI, Vinicius¹ [email protected] PRIOR, Francieli¹ [email protected] TOSO, Thayná Gabrielle¹ [email protected] WEBER, Dirceu¹ [email protected] GUIMARAES, Tarcisio Guerra² [email protected] OLIVEIRA, Daniela dos Santos² [email protected] OLIVEIRA, Franciele² [email protected] SEBEM, Juliana Gottlieb² [email protected] RIBEIRO, Ticiany Maria Dias² [email protected] ¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível VI 2016/1- Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível VI 2016/1 - Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. RESUMO: Fratura é o rompimento completo ou incompleto da continuidade de um osso ou cartilagem, sendo que na sua grande maioria, são resultantes de acidentes automobilísticos, correspondendo aproximadamente a 80% dos casos em pequenos animais. Estas fraturas podem ser tratadas com sucesso utilizando uma variedade de sistemas de implantes, incluindo placas metálicas, pinos e fios, fixadores esqueléticos externos e hastes bloqueadas. Neste trabalho, relata-se o caso de um animal que chegou para atendimento no atendido no Hospital Veterinário São Francisco de Assis, no município de Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul, sem apoiar o membro esquerdo no chão. Após realização de estudo radiográfico foi constatada a presença de fratura diafisária de tíbia e fíbula. A redução da fratura foi realizada através de colocação de um pino intramedular, utilizado para o alinhamento de ossos longos, em

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FACULDADES IDEAU

1 Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil

OSTEOSSÍNTESE DIAFISÁRIA DE TÍBIA E FÍBULA EM

UM CANINO – RELATO DE CASO

CORTE, Camila Dalla¹

[email protected]

LEVANDOSKI, Vinicius¹

[email protected]

PRIOR, Francieli¹

[email protected]

TOSO, Thayná Gabrielle¹

[email protected]

WEBER, Dirceu¹

[email protected]

GUIMARAES, Tarcisio Guerra²

[email protected]

OLIVEIRA, Daniela dos Santos²

[email protected]

OLIVEIRA, Franciele²

[email protected]

SEBEM, Juliana Gottlieb²

[email protected]

RIBEIRO, Ticiany Maria Dias²

[email protected]

¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível VI 2016/1- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

² Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível VI 2016/1 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

RESUMO: Fratura é o rompimento completo ou incompleto da continuidade de um osso ou cartilagem, sendo que

na sua grande maioria, são resultantes de acidentes automobilísticos, correspondendo aproximadamente a 80% dos

casos em pequenos animais. Estas fraturas podem ser tratadas com sucesso utilizando uma variedade de sistemas de

implantes, incluindo placas metálicas, pinos e fios, fixadores esqueléticos externos e hastes bloqueadas. Neste

trabalho, relata-se o caso de um animal que chegou para atendimento no atendido no Hospital Veterinário São

Francisco de Assis, no município de Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul, sem apoiar o membro esquerdo no chão.

Após realização de estudo radiográfico foi constatada a presença de fratura diafisária de tíbia e fíbula. A redução da

fratura foi realizada através de colocação de um pino intramedular, utilizado para o alinhamento de ossos longos, em

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conjunto com um fixador externo, que é utilizado como método de estabilização da fratura. Após 54 dias do

procedimento cirúrgico, foi constatado o fechamento parcial da linha fratura, e os pinos não foram retirados. O uso

de pinos intramedulares e fixação esquelética externa apresentou-se como um método eficaz para este tipo de fratura,

produzindo estabilidade, permitindo o apoio precoce do membro e osteossíntese progressiva da lesão.

Palavras-chave: tíbia, fratura, osteossíntese, pino intramedular, fixador externo.

ABSTRACT: Fracture is the complete or incomplete disruption of the continuity of a bone or cartilage, most of which

are the result of automobile accidents, accounting for approximately 80% of cases in small animals. These fractures

can be treated successfully using a variety of implant systems, including metal plates, pins and wires, external skeletal

fixators, and locked rods. In this work, we report the case of an animal that arrived for care at the Veterinary Hospital

São Francisco de Assis, in the municipality of Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul, without supporting the left limb

on the floor. After the radiographic study, a diaphyseal fracture of the tibia and fibula was found. Fracture reduction

was performed by placing an intramedullary pin, used for the alignment of long bones, together with an external

fixator, which is used as a method of fracture stabilization. After 54 days of the surgical procedure, the partial closure

of the fracture line was verified, and the pins were not removed. The use of intramedullary pins and external skeletal

fixation was an effective method for this type of fracture, producing stability, allowing early limb support and

progressive osteosynthesis of the lesion.

Key words: Tibia, Fracture, osteosynthesis, intramedullarypin, external fixator

1 INTRODUÇÃO

O esqueleto do cão é composto por ossos longos e curtos, sendo os ossos longos

aqueles em que o comprimento predomina em relação à largura e a espessura, com

aspecto cilíndrico e extremidades alargadas. Com estas características, os ossos longos

constituem, em parte, os membros dianteiros e traseiros, que servem de sustentação

para o esqueleto canino, compostos pelos ossos do úmero, rádio-ulna, metacarpianos,

fêmur, tíbia-fíbula e metatarsianos (ELLIOTT, 2001; SOUZA, 2003).

Fratura é o rompimento completo ou incompleto da continuidade de um osso ou

cartilagem (BRINKER et al., 1999). As fraturas, na sua grande maioria, são resultantes

de acidentes automobilísticos, correspondendo aproximadamente a 80% dos casos em

pequenos animais (PIERMATTEI E FLO, 2009). Estas fraturas podem ser tratadas com

sucesso utilizando-se uma variedade de sistemas de implantes, incluindo placas

metálicas, pinos e fios, fixadores esqueléticos externos e hastes bloqueadas (NEWTON

& NUNAMAKER, 1988; REEMS et al., 2003).

O diagnóstico de fraturas é dado inicialmente por meio da história clínica,

anamnese e exame físico, baseando-se em sinais clínicos como dificuldade na

movimentação do membro afetado, impotência funcional do membro, conformação

anormal, manifestação de dor e crepitação à manipulação da região afetada. Para a

confirmação da fratura indica-se a realização do exame radiográfico, que visa identificar

a região óssea acometida e classificação da fratura, bem como a extensão dos danos

ao tecido ósseo e aos tecidos moles adjacentes, como articulações proximais e distais

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ao foco de fratura (DENNY & BUTTERWORTH, 2006; PIERMATTEI & FLO, 2009),

auxiliando assim na escolha do tratamento mais adequado.

Procedimentos cirúrgicos adequados devem assegurar redução da dor e do

edema, diminuir a formação de aderências, contraturas musculares e fibrose. O correto

emprego dos princípios cirúrgicos pode evitar muitas complicações que ocorrem no

período pós-operatório (CLARK & Mc LAUGHLIN, 2001).

Fatores mecânicos e biológicos devem ser considerados quando se seleciona um

método para reparação de fraturas (REEMS et al., 2003). A estabilização de fraturas

necessita seguir alguns princípios básicos como fixação estável, restauração do

alinhamento do membro e retorno funcional do membro o mais precocemente possível

(WITSBERGER. et al., 2010).

O presente trabalho relata um caso de osteossíntese de tíbia e fíbula em um

canino atendido no Hospital Veterinário São Francisco de Assis, no município de Getúlio

Vargas, Rio Grande do Sul.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Foi atendido no dia 28 de agosto de 2016, no Hospital Veterinário São Francisco

de Assis, um canino, fêmea, SRD, pesando 15 quilos, com a queixa de não apoiar o

membro posterior esquerdo no solo. O histórico do paciente era desconhecido, pois

tratava-se de um cão errante recolhido por uma ONG do município de Getúlio Vargas,

RS. O exame clínico do cão revelou presença de crepitação na região da tíbia, com algia

e edema local. As mucosas apresentavam-se rosadas, o TPC era de 2 segundos, não

apresentando desidratação, frequência cardíaca 112 bpm, frequência respiratória 24

rpm. Foi realizado hemograma e não foi observada alteração hematológica padrões

fisiológicos para a espécie. No estudo radiográfico, através de incidência lateral do

membro posterior esquerdo, foi observada a presença de fratura diafisária tibial e fibural

(Figura 1).

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Figura 1: Fratura de tíbia e fíbula em membro posterior esquerdo de canino – Fonte: Toso; Thayná.

Como medicação pré-operatória foi utilizado petidina 3 mg/Kg/TID/SC, dipirona

25 mg/Kg/TID/SC e meloxicam 0,2 mg/Kg/SID/SC. Esta medicação foi utilizada pelo

período de 4 dias, até a realização do procedimento cirúrgico, que ocorreu no dia 02 de

setembro de 2016.

O animal recebeu medicação pré anestésica com acepromazina na dose de 0,1

mg/Kg, associado à morfina na dose de 0,5 mg/Kg, aplicadas por via intramuscular. Em

seguida foi realizada tricotomia em todo o membro pélvico esquerdo e na região

lombossacral. Foi realizado acesso venoso no membro anterior direito com auxílio de

um cateter intravenoso calibre 22G, foi iniciada a fluidoterapia com solução de Ringer

Lactato na dose 10 mL/kg/h.

Para a realização da intubação orotraqueal, a sedação foi induzida com diazepam

na dose de 0,3 mg/Kg e propofol na dose de 3 mg/Kg. O animal foi mantido em anestesia

inalatória com isoflurano e oxigênio 100%, sendo que para melhor analgesia do

procedimento foi realizado uma anestesia epidural com morfina na dose de 0,1 mg/Kg.

O paciente foi posicionado na mesa operatória em decúbito dorsal sendo o membro

posterior esquerdo tracionado pelo auxiliar, enquanto foi realizada a antissepsia com

clorexidine não alcoólico 0,5%.

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Para o procedimento cirúrgico de osteossíntese de tíbia e fíbula foi realizada uma

incisão cutânea na porção medial da tíbia, abertura da fáscia subcutânea, secção da

fáscia crural e, através de dissecção romba foram afastados os músculos flexor digital

profundo e tibial cranial para exposição dos segmentos fraturados. Foi realizada a

curetagem das extremidades ósseas. O pino intramedular de 2.5 mm foi colocado com

o auxílio de uma furadeira, os segmentos fraturados foram estabilizados com uma pinça

de Lambotte para a fixação do pino intramedular. Após a estabilização óssea com o pino

intramedular foram colocados pinos de 2.5 mm de transfixação (fixador externo) que

inseridos na diáfise da tíbia (dois em cada extremidade), torcidos e protegidos

externamente com resina acrílica de metil-metacrilato. Devido à reação exotérmica

produzida pela polimerização da resina, utilizou-se solução fisiológica para resfria-la,

minimizando possíveis danos ao tecido ósseo.

Após realizada a estabilidade da fratura, iniciou-se a síntese tecidual, utilizando

sutura simples contínua para os planos muscular e subcutâneo com fio polipropileno 2-

0. A dermorrafia foi realizada por pontos em padrão Wolf utilizando-se fio mononailon 4-

0. O fixador foi acolchoado com gaze (Figura 2) e logo em seguida, envolto com atadura

de crepe. Como medicação pós operatória foi utilizado dipirona 25 mg/Kg/TID/SC, pelo

período de dois dias e meloxicam 0,2 mg/Kg/SID/SC pelo período de três dias, e troca

de curativos diária.

Figura 2: Fixador externo acolchoado com gase antes da colocação da atadura de crepe – Fonte: Toso;

Thayná

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No décimo nono dia após a cirurgia foi verificada a presença de processo

inflamatório em um dos pinos do fixador externo, então foi realizada a administração de

metronidazol, na dose de 25 mg/Kg/BID/VO pelo período de dez dias, sendo que a partir

do sexto dia foi administrado também enrofloxacino, na dose de 5 mg/Kg/BID/SC.

Cinquenta e quatro dias após a cirurgia foi realizado novo estudo radiográfico para

verificar a consolidação óssea (Figura 3), não sendo observada a consolidação completa

da linha de fratura. Os pinos serão retirados por ocasião da confirmação do fechamento

total da linha da fratura.

Figura 3: Imagem radiográfica da tíbia esquerda, com a presença da linha de fratura visível e alinhada,

porém com pouca formação de calo ósseo e reação periosteal. – Fonte: Tonial; Pablo. 3 RESULTADOS E ANÁLISE

O diagnóstico definitivo das fraturas de tíbia e fíbula é realizado por meio dos

exames físico e radiográfico. Comumente os animais afetados não sustentam o peso

com o membro lesionado, e apresenta tumefação e crepitação palpáveis a altura da

fratura (SLATTER, 1998). No caso do animal citado neste relato, o mesmo apresentou

todos os sinais clínicos citados pela literatura.

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Para confirmação do diagnóstico recomenda-se a realização de ao menos duas

incidências radiográficas (crânio-caudal e lateral) do membro (BOJRAB, 1996). No caso

descrito neste trabalho foi realizada apenas uma projeção radiográfica lateral,

considerada satisfatória para a confirmação do diagnóstico.

Após o diagnóstico, a paciente necessitou aguardar até o procedimento cirúrgico,

para isto foi realizada a administração de medicação pré-operatória, para que o mesmo

não sentisse dor. Para isso foi realizada a administração de petidina, que atua como um

analgésico opióide; dipirona, que atua como um analgésico; e meloxicam, que atua como

um anti-inflamatório não esteroide seletivo. Esta medicação foi utilizada pelo período de

4 dias, até a realização do procedimento cirúrgico, que ocorreu no dia 02 de setembro

de 2016.

Segundo Denny; Butterworth (2006), a estrutura óssea é parte essencial do

sistema locomotor, agindo como alavanca durante o movimento e resistindo à força da

gravidade. Ela também protege e sustenta os tecidos e órgãos adjacentes. Conforme

Boskey (2007), o osso se forma e cresce, em sua maior parte, pela transformação de

uma cartilagem em uma estrutura óssea. Esse processo se inicia durante a fase fetal,

com desenvolvimento dos centros de ossificação primários, as diáfises, e secundários,

as epífises.

O tratamento de fraturas baseia-se na imobilização óssea para promover a

cicatrização das mesmas. O tratamento pode ser conservativo, empregando a

imobilização do membro com talas e pensos como forma de imobilização dos fragmentos

fraturados. Ou ainda cirúrgico, no qual se procura por meio de implantes, a imobilização

do foco da fratura (FERRIGNO; PEDRO, 2006).

A escolha do método de fixação de qualquer fratura deverá ocorrer mediante seu

tipo e localização, considerando-se ainda o tamanho, temperamento e idade do animal,

grau de cooperação do proprietário, além de fatores econômicos (De YOUNG; HARARI,

2002).

A fratura de tíbia é uma afecção relativamente comum em pequenos animais. Nos

cães representa 21% das fraturas de ossos longos e 11,7% das fraturas apendiculares

(BASINGER; SUBER, 2004; BRINKER et al., 1999). Na maioria das vezes fraturas da

tíbia envolvem também a fíbula, embora este osso seja frequentemente ignorado por

ocasião do tratamento, a menos que se envolva a fíbula proximal ou o maléolo lateral.

Deve-se reparar as fraturas desses segmentos por causa das importantes estruturas

ligamentosas presas a eles (EGGER, 1998; POPE, 2008).

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A redução das fraturas é um processo de reconstrução de osso fraturado até sua

configuração anatômica e restauração do alinhamento normal do membro, podendo

ocorrer de duas formas: método fechado, que se refere à redução ou alinhamento de

membros sem exposição cirúrgica de ossos fraturados, ou método aberto, utilizando-se

uma abordagem cirúrgica para exposição de fragmentos fraturados (FOSSUM, 2007),

sendo este último o procedimento escolhido para o manejo do caso relatado neste

trabalho, por se tratar de uma fratura transversa obliqua.

Segundo Fossum (2007), a decisão de efetuar uma redução aberta ou fechada

de fratura diafisária tibial é tomada com base na configuração da fratura e no escore de

avaliação da mesma. As fraturas simples ou moderadamente comunitivas com

fragmentos grandes que podem ser reconstruídas anatomicamente para estabelecer o

eixo ósseo são candidatas a redução aberta e estabilização com fixação interna, redução

aberta limitada e fixação esquelética externa ou uma combinação de técnicas.

Os pinos intramedulares são usados para o realinhamento de ossos longos em

fraturas simples ou complexas (HARARI, 1999). Quando utilizados sem qualquer fixação

auxiliar, têm indicações restritas, como em fraturas que não apresentam tendências para

o encurtamento axial, rotação ou deslocamento (FERRREIRA, 2000; SONG et al., 2006).

Em fraturas transversas ou pouco obliquas de ossos longos, devem ser usados

associados à um fixador externo, para impedir a rotação (HARARI,1999).

O uso de fixadores esqueléticos externos como método de estabilização de

fraturas é frequente devido à sua versatilidade e facilidade de aplicação (ROCHA, 2008).

Os pinos são fixados externamente por hastes ou barras conectoras de natureza

metálica ou de resina acrílica autopolimerizante de polimetilmetacrilato (DIAS & FILHO,

2009).

O uso de fixadores externos utilizando barras conectoras de acrílico tornou-se

bastante popular em Medicina Veterinária pelo seu baixo custo, versatilidade, facilidade

de aplicação e leveza. (Rahal et al., 2005). Estudos demonstram que uma barra de

polimetilmetacrilato com 19 mm de diâmetro é mais forte que uma barra de conexão de

aço inoxidável Kirschner-Ehmer (KE) de 4.8 mm (WILLER et al., 1991). Este sistema tem

várias vantagens como não ter uma restrição do número, tamanho ou tipo de pinos de

fixação a conectar, facilidade de utilização, ter um risco mínimo do pino se soltar da barra

de conexão, sendo a principal vantagem o facto de ser um sistema que permite ao

cirurgião uma total liberdade do local de aplicação dos pinos de fixação (KRAUS et al.,

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2003). Como principais desvantagens este sistema apresenta uma maior dificuldade em

ajustar o fixador no pós operatório e a sua remoção implica o corte dos pinos de fixação

ou da barra conectora (MONTAVON et al., 2009).

A fixação esquelética externa é útil no tratamento de fraturas diafisárias em geral,

estabilizando, inclusive, forças de rotação e flexão presentes nas fraturas transversas

ou oblíquas curtas (HULSE & JOHNSON,2002). Além disso ela pode ser aplicada na

redução aberta ou fechada da fratura, apesar da redução fechada dificilmente conferir

alinhamento adequado ao osso em fraturas tíbias transversas (MARTIM et al., 2006,

ROUSH 1992).

A vantagem do uso de pinos intramedulares é sua resistência a cargas de

curvatura aplicadas a partir de qualquer direção, já que são redondos. Entre as

desvantagens estão à má resistência a cargas compressivas ou rotacionais e falta de

fixação com o osso. Em decorrência de limitações no apoio mecânico, os pinos

intramedulares devem ser suplementados com outros implantes (fios de cerclagem e

fixação esquelética externa) para aumentar o apoio rotacional e axial (HULSE;

JOHNSON, 2002).

No animal do relato, foi realizado o uso de um pino intramedular, suplementado

com a fixação esquelética externa, sendo que nesta foram protegidos externamente com

resina acrílica, o que proporcionou melhor leveza, e no terceiro dia após o procedimento

a paciente já estava conseguindo apoiar o membro no chão.

Em fraturas de tíbia uma complicação grave e comum é a invasão do pino

intramedular no espaço articular (joelho), o que lesiona a inserção do ligamento cruzado

cranial e o atrito com os côndilos femorais; isto ocorre quando o pino é inserido de forma

normógrada ou retrógrada (BRINKER et al., 1999).

As complicações associadas ao reparo de fraturas tibiais incluem infecção,

quebra do implante, união retardada, não-união e comprometimento das funções do

membro. As causas comuns são: instabilidade, redução inadequada, contaminação da

ferida, ou interferência nas articulações adjacentes (JOHNSON; BOONE, 1998).

Nos casos de infecções ósseas, os cuidados com o paciente são muito

importantes, pois atrofias musculares, fibroses ou contraturas podem resultar em

disfunção do membro. Além do tratamento com antibióticos, exercícios passivos no 13

membro afetado devem ser realizados várias vezes ao dia até que o animal esteja

usando o membro novamente. O controle da dor é importante para encorajar o uso do

membro (MCLAIN; BROWN, 1982; BUBENIK, 2005).

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Neste caso ocorreu uma infecção no local do procedimento, para isto foi

administrado metronidazol, este medicamento é um antibacteriano e antiprotozoário, sua

ação é específica à bactérias anaeróbicas e protozoários, sendo que sua resistência é

rara. A enrofloxacino, foi associada ao metronidazol por ser um bactericida de amplo

espectro de ação, mas com baixa atividade para bactérias anaeróbicas.

Exames radiográficos são indicados imediatamente após a cirurgia. A união

clínica precede a união radiográfica, para indicar a retirada do aparelho (DENNY;

BUTTERWORTH, 2006). A consolidação da fratura é avaliada após três a quatro

semanas, após seis a oito semanas e se for necessária, após dose semanas. Marcellin-

Litlle (2007) indica a retirada do implante entre seis e oito semanas após a cirurgia. No

paciente do presente caso, o RX só foi realizado cinquenta e quatro dias após o

procedimento cirúrgico, o que pode dificultar a verificação da consolidação da fratura,

verificar a presença de uma osteomielite, já que a paciente apresentou um quadro de

infecção, também a invasão do pino intramedular no espaço articular (joelho).

O pino intramedular e o fixador externo ainda não foram retirados da paciente, por

não ter ocorrido uma consolidação óssea adequada.

4 CONCLUSÃO

Tendo em vista os resultados obtidos na osteossíntese diafisária de tíbia através

do método de fixação com pinos intramedulares associado a fixação esquelética externa,

conclui-se que a técnica adotada é eficaz na redução desse tipo de fratura, produzindo

estabilidade e permitindo o apoio precoce do membro, sendo que a utilização de resina

acrílica de metil-metacrilato possui baixo custo.

REFERÊNCIAS

BASINGER, R.R., SUBER, J.T. Two techniques for supplementing interlocking nail repair of fractures of the humerus, femur, and tibia: results in 12 dogs and cats, Veterinary Surgery. Philadelphia, v. 33, p. 673-680, 2004. BORJRAB. M.J, Mecanismos da Moléstia na Cirurgia dos Pequenos Animais, 2ªed.São Paulo; ED. Manole 1996. BOSKEY, L.A. Tecidos Conjuntivos do Sistema Musculoesquelético. In: SLATTER, D. Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 3. ed. São Paulo: Manole, 2007. V. 2.

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