Os Temperamentos Infantis

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    Os Temperamentos Infantis

    1. A criana sangunea

    O pequeno Carlos, de 5 anos deidade, tem cachos avermelhados caindosobre a testa arredondada, olhos muito

    azuis e nariz arrebitado. O lbio superiorprojeta-se por cima do lbio inferior. Eleno muito crescido para sua idade, masseu corpo esbelto e proporcionado. Acabea um tanto grande, os membrosgeis. Ele gosta de andar nas pontas dos

    ps. No entanto, quando lhe d vontade,sabe tambm pisar forte. habilidoso nosaltar, pula vrios degraus da escada qued para o jardim. No est longe o dia emque saltar diretamente do terrao para o

    jardim, pulando sobre os dez degraus.Quando cai, derrama logo algumaslgrimas, mas consola-se em seguida.Pertence ao tipo de criana que capazde rir com lgrimas nos olhos. Pula comgritos guerreiros para cima dos irmosmuitos anos mais velhos. No covarde,mas irrefletido e atrevido como umcozinho que late. Sai-se perdendo, o quegeralmente acontece, fica profundamenteofendido, recolhendo-se rancorosamente

    para um canto. Logo, porm o rancor sedesvanece e, sem pensar na derrotasofrida, procura fazer o irmo brincarcom ele. Pede-lhe que seja seu cavalo,ele o cavaleiro audaz em pouco tempoenjoa da brincadeira, outra inventada,iniciada e logo substituda por algocompletamente diferente. Mesmo quando

    brinca sozinho, muda com freqncia erapidamente de brincadeira, passando anovas idias. O que v e ouve tira sua

    ateno daquilo que tem em mente,levando-o imediatamente a novasinvenes. Cabea e olhos movem-serapidamente de um lado para o outrocomo um passarinho. Mesmo quando sefala a srio com ele, apesar de toda a boa

    vontade com que quer ouvir, logo sedistrai. Basta uma mosca andando pela

    parede e sua alma alada j escapou dasmos dos adultos. A me o chamapardal, a av lagartixa e os doisapelidos lhe servem. Possui uma vozclara e alta, e muito musical. Aprendeusozinho a tocar flauta. Desde j, treme naalegre expectativa da escola, da qual se

    prometem variedades incontveis.Embora os adultos tenham para ele

    muitas palavras de censura um tanto ouquanto incompreensveis (descuidado,distrado, volvel, sem seriedade,nervoso, etc.), ele querido por todos.Isto porque ele a prpria criana,verdadeiramente apenas criana e isto lheconquistam todos os coraes, mesmoaqueles que usam as palavras acimacitadas para qualific-lo.

    E quanto sua sade, seu sono, seuapetite? No seu todo sadio; alm das

    doenas infantis tem apenas pequenosresfriados que somem rapidamente. Tem

    bom apetite, mas no gosta de muitacoisa de uma vez, nem de coisas pesadas.Tambm nisto um passarinho, preferebeliscar em vez de se empanturrar. Suagula pode ser momentaneamente grande,mas acaba depressa quando recebe oalimento cobiado. No come demais porvontade prpria, somente adultos sem

    juzo so culpados de suas dores de

    estmago quando o fazem comer mais doque quer em festinhas infantis. No gostade carne, ovos, massas e batatas, nemmesmo chocolate. Gosta muito de frutase desde beb uma ma ralada para eleo maior dos prazeres. Tem tambm uma

    certa preferncia por alimentos salgadose at mesmo azedos. Para o seu quintoaniversrio pediu um pepino emconserva. s vezes assalta o saleiro esatisfaz-se em lamber um grozinho desal; tambm engole prazerosamente umacolherinha de suco de limo puro,quando dado como remdio para dor degarganta. Adormece rapidamente mastambm acorda com facilidade. Pelamanh costuma acordar muito cedo e,

    como no lhe permitem levantar-se,gorjeia e canta baixinho para si prprio,movimentando ritmadamente a cabea,as mos e as pernas. uma pequenacriatura humana harmoniosa, e o queacontecer devido sua falta de ateno evolubilidade quando for escola

    preocupa at agora apenas o pai.

    As Bases Fsicas do Temperamento

    Sangneo.

    De que maneira atuam as forasformadoras da criana sangnea? Elasatuam em tudo aquilo que de naturezartmica na respirao e na circulao.Elas atuam nas pulsaes do corao, nortmico subir e descer da inspirao e daexpirao. Por isto a criana sangneatem algo de alada; parece que est mais vontade no ar do que na terra, por sobre aqual mais paira do que se deixa puxar

    para baixo pelas foras da gravidade.

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    Gosta do cavalo de balano, sobe emrvores altas e se balana em galhososcilantes. encantador ver uma crianasangnea danar com o vento. O adultoficaria tonto se quisesse girar e balanarcomo a criana, cujo maior entusiasmo

    voar atravs dos ares do carrossel emmovimento. Seu organismo areo, suanatureza rtmica ainda acompanhamfacilmente todos os balanos que anatureza rgida do adulto no maissuporta. As crianas pequenas raramenteficam tontas ou enjoam.

    E assim como se alternam o inspirare o espirar, o inspirar e o espirar, como oritmo alternado tambm domina suacirculao sangnea, assim tambm ela

    necessita da alternncia rtmica na vida eno brinquedo. Nada mais importante naeducao que o ritmo calmo da vidacotidiana; para a criana sangnea (e acriana sangnea a criana tpica; essetemperamento est para a criana como adoura est para a uva) isto umanecessidade inteiramente vital. O ritmo sua natureza. exigido pelo seu prprioorganismo. S que esse ritmo rpido;assim como a criana respira mais

    depressa, seu pulso mais rpido que odo adulto. Ela no pode facilmenteconcentrar sua ateno por muito tempoem uma coisa; concentrar-se significa,neste caso, inspirar, e a isto deve seguir-se rapidamente o expirar, isto , odesviar-se de si mesma em direo aoambiente. Ser volvel no aindadefeito, mas particularidade destetemperamento e desta idade. Por isso oseducadores tm razo quando

    demonstram muita pacincia com as particularidades infantis, as quais elessentem de maneira tal que ascaracterizam com os nomesanteriormente citados: volveis, semconcentrao, superficiais, levianos. As

    crianas sangneas, no entanto, podemser levianas, irresponsveis.

    A criana Perigosamente

    Sangnea.Enquanto se pode ter pacincia com a

    natureza irriquieta da Carlos (ele segueapenas o bater apressado do seu corao),deve-se confiar em que ele se firmarmais tarde. A vivacidade de sua prima damesma idade, porm, traz preocupaes.

    Enquanto Carlos ri to efusivamente querola no cho, Anita no consegue demodo algum parar de rir. Ela ri agargalha descontroladamente para depoischorar de modo igualmentedescontrolado. Arranca brinquedos doarmrio jogando-os pelo quarto, mas no

    brinca com eles; tira logo o prximo, oqual tambm ir ocup-lo no mximo uminstante. Carlos vibra quando o pai lhemostra figuras de animais no velho

    Brehm, (*)1 faz perguntas e se mostravivamente interessado. Depois, emtrmula expectativa, vira a folhaseguinte, para cumprimentar com gritosde jbilo o novo animal. Anita mal olhaas figuras; ela s quer seguir em frente,sempre em frente, nada pode despertarseu interesse de modo to profundo a

    ponto de faz-la perguntar. Quando

    1 A vida dos animais de Brehm, livro de zoologiabastante popular nos pases de lngua alem.

    pergunta, no espera pela resposta.Carlos no excessivamente carinhoso,mas ama e respeita seus pais e se senteligado aos irmos. Anita no lanouncora em lugar algum. Vai e volta pelasuperfcie da vida, sendo demasiada fraca

    para se ligar s pessoas de suas relaes.Poder-se-ia temer que um dia viesse atornar-se anormal, porque consegue

    penetrar muito pouco alm da superfciedas coisas, no conseguindo por istoreunir ateno suficiente para concentrar-se. Como podemos protege-la disto?Como ajud-la?

    O Tratamento Para a

    Sanginidade Excessiva.

    Caso acontea que Anita ameverdadeiramente uma pessoa de suasrelaes e essa possibilidade dependermuito do comportamento dos adultos -, aento, j por meio disto, entrariaconstncia em sua vida. Nada maisimportante para a educao do que acriana poder amar seu educador. certoque, por sua maneira sangnea de ser,ela ter ora este ora aquele amigo,ligando-se ora a este ora quele adulto,

    mas pelo menos a uma das pessoasencarregadas de sua educao ela deverestar ligada por lealdade, perdendo neste

    ponto sua sanginidade, Da em diante,ento, pode-se seguir em frente naeducao. Tanto na auto-educao comona educao infantil nunca se devecombater o temperamento. No se podequerer arranc-lo com cabelo e pele, poisele est demasiado soldado ao seu

    possuidor. No entanto, representa a

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    ligao entre o corpo e alma, porque estcondicionado em suas manifestaes pelocorpo, embora sua natureza seja deorigem anmica.

    Agindo deste modo, no se podernem se conseguir forar a criana

    sangnea a deixar sua leviandadeorganicamente condicionada. Dependermuito, mais uma vez, do adulto a

    possibilidade de a criana hiper-sangnea, primeiro por tempo curto edepois, diariamente, por perodos cadavez mais longos, ocupar-se com uma

    brincadeira, um livro de figuras, ouqualquer atividade. Isto dar tanto maiscerto quanto mais ela amar o educador.Mas no se deve tirar-lhe nisto o amor

    pela variedade. Existe muita coisa navida da criana perante a qual asanginidade apropriada, perante a qualela no precisa fixar-se. O educador devefornecer-lhe sempre possibilidades paratais impresses passageiras, a fim de que

    perante elas lhe seja possvel, de certomodo, gastar o excesso desanginidade. Tambm ser bom, nocaso de se pretender que a criana seocupe com uma atividade de durao

    mais longa, arranjar-lhe variedade edistrao dentro dessa atividade, mesmoque seja apenas para suas idias. Quantomais sua fantasia for estimulada emquadros sempre variados, tanto mais elaquerer permanecer numa coisa;

    principalmente quando puder, com isso,dar uma alegria ao adulto por ela queridoe respeitado.

    2. A Criana Melanclica.

    Para o oitavo aniversrio de Ivone, ame convidou seus companheiros de

    brinquedos da mesma idade. Ivoneporm desapareceu. Retirou-se paradebaixo da toalha que cobre quase

    que totalmente a mesa redonda dasala e l permanece. Doscompanheiros de brinquedos ela nemquer saber. Arrancada de sob a mesaela foge para um canto, chora muitotempo introvertidamente, fitandocom rosto sombrio, mas com olharcheio de ansiedade, a brincadeira dasoutras crianas. Finalmente, quandose decide a brincar tambm, ficafeliz, olha para todas as crianas uma

    aps outra com olhos brilhantes pedindo simpatia, e ficaprofundamente triste quando elas sevo. Principalmente uma das meninasela beija afetuosamente, declara-ainteriormente sua amiga, e atribui-lhe em silncio as mais belasqualidades, principalmente aquelasque lhe faltam.

    Ivone gosta de procurarrecantos escuros e silenciosos para

    meditar: podemos encontr-ladebaixo do sof, entre o armrio e a

    porta, at mesmo dentro do armrio.Ela gosta de subir ao sto,acocorando-se l em um canto, sobreuma viga do telhado. No jardimesconde-se entre as plantas, debaixodos galhos inferiores do pinheiros.Ela tambm trepa nas rvores esenta-se quieta num galho, l onde afolhagem mais espessa e ningum

    pode descobri-la. Ela no covarde,embora tenha medo de gente. Seusempreendimentos tm algo deaventuroso e brotam de um ricomundo imaginativo, embora um tantoestranho. Ela pensa muito. Em seus

    pensamento ela mesma representaum papel importante: ora uma

    princesa, ora uma pobre rf, ora umheri, ora uma pessoa injustamente

    perseguida.Relaciona consigo mesmao que lhe contado, e no pode ouvirfalar na Gata Borralheira sem se ligarde tal modo com personagem esituao, que julga passar ela mesma

    por suas aventuras. Por isso s vezes totalmente incompreensvel para os

    adultos, porque sempre representa papis que eles no adivinham, enunca representa perante si prpria asimples criancinha que ela narealidade. Seus olhos grandes eligeiramente midos e brilhantesolham ora sombrios, oraexcessivamente alegres, sem que ascausas, que s ela conhece, sejamvisveis. Seus cabelos finos e lisossobre sua testa alta e plida

    transformam-se na sua imaginaoem flutuantes cachos dourados, eento ela ergue com orgulho suacabecinha, que normalmente um

    pouco inclinada, e as costas finas, emgeral um pouco curvas. Infelizmentefaz por pouco tempo.

    Como ela apenas umamenininha, quando no estrepresentando algum papel sente-segeralmente triste e mal-humorada (os

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    adultos dizem esquisita), como seno lhe fosse possvel conformar-secom essa realidade. sensvel,ficando facilmente ofendida em suadignidade humana, que ela sente

    profundamente. Sente-se sempre

    observada na presena dos outros,perde com facilidade o desembaraoe, pelo fato de fazer posediscretamente, no ntimoenvergonha-se de si prpria. demasiado consciente para sua idade,

    parecendo s vezes um pequenoadulto. Faz perguntas ponderadas:Por que no podemos ver Deus? Oque vem depois de onde o mundoacaba? Que extenso de tempo tem a

    eternidade? Recebe com frieza amorte de um parente e se nega aentender a dor dos adultos. Mas eleest no cu! Ento a gente deveria sealegrar. muito religiosa mas, comcerta peculiaridade, quase um poucomedieval. Mesmo fazendo questoabsoluta, embora sem desejoexpresso, de receber sua parte econserv-la, pode, por uma espciede ascese infantil, dar de presente sua

    ma, suas guloseimas, principalmente quando seenvergonha e arrepende de algumatravessura. A ento poder dar de

    presente seus tesouros mais queridos,por causa dos quais porm chora pormuito tempo em silncio e comamargura.

    Ocupa-se muito com seuspecados, categoria qual rebaixasuas travessuras infantis, e conta em

    confiana a uma tia, por ela amadaapaixonadamente, que gostaria demorrer, porque agora ainda sou

    pequena e ainda no cometi muitos pecados; agora talvez eu ainda vpara o cu, mas se eu ficar mais velha

    ento terei cometido muitos pecadose no irei mais para o cu. exageradamente sincera quando quer

    bem a algum, caso contrrio fechada como uma ostra, segundodiz sua me, suspirando. Porque estano conquistou a afeio confiante deIvone, e poder algum do mundo

    poderia fazer com que a crianaabrisse o corao para sua me.Assim so as coisas na superfcie.

    Mas certa vez quando ela era maisnova, ao ver a me profundamenteadormecida, imaginou logo queestivesse morta, e assustou-se de talmodo que nunca mais esqueceuaquele terrvel momento em que selhe revelou sua verdadeira relaocom sua me. No esquece to poucoque a me uma vez lhe bateu e queesse castigo foi injusto. Ela sentiu

    profundamente, pois no tinha feito

    aquilo de que a me a acusava. Aindamais profundamente no entanto elasentiu o contato fsico do castigo,ferida em seu orgulho como umespanhol da Idade Mdia. Por muitosanos no conseguiu superar osentimento de vergonha. Quando lhechegamos muito perto, ela o recorda,aumentando e agravando a ofensa emsua imaginao, at torna-la quaseinsuportvel, sobrecarregada alm do

    que sua idade pode assimilar. Elaseria capaz, como aquele meninorusso, de anotar em papis todas asofensas de que se julga vtima aguarda-las por muito tempo numesconderijo, para um dia, por

    exaltado amor ao prximo e profundoarrependimento, destru-los de umas vez.

    O que no combinaabsolutamente com sua natureza

    precoce, e a faz alvo de caoadas eadvertncias sem fim, o fato de,com oito anos, ela ainda chupar odedo, mastigar o cabelo, chupar as

    pontas do avental, roer as unhas,morder o lpis ou a caneta. Ns a

    encontramos encolhida debaixo dosof, com o polegar na boca, como sequisesse desligar-se totalmente domundo. Assim terminam muitasvezes suas brincadeiras. Prefere

    brincar sozinha e muito concentrada; comovente como me de bonecas.Parecendo dominada pela abundnciade suas alis um tanto abstratas idias e tambm um pouco cansada,

    procura descanso do modo

    anteriormente descrito. Seu maior prazer consiste em ancorar-se notapete, se possvel escondida entre asdobras de uma cortina, chupar umaguloseima, fazer tocar seu relgio de

    brinquedo, enquanto l contos defadas ou estrias de fundo moral.Gosta de estrias longas e tristes. Asfbulas alegres e estrias burlescasela despreza. Alis s aparentemente,

    pois no fundo ningum gosta tanto de

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    rir quanto ela, e fica agradecida atodo aquele que a faz rir com piadas eobservaes humorsticas. O risolivre e ingnuo ela sente comoredeno. Pequena como j sabedisto, porque sua capacidade de

    observao em relao a si mesma quase inquietante. Afasta, no entanto,

    bruscamente de si qualquer tentativade divertir-se. preciso engana-laquando queremos que se alegre. Nofundo no lhe desagrada ser triste.

    As Bases Fsicas do

    Temperamento Melanclico.De modo geral, Ivone no

    tem muito bom apetite difcil de

    contentar. Pede guloseimas alimentosdoces e inegvel que lambisca

    para sua profunda vergonha. Suashonestas tentativas de dominar essepecado foram at hoje inteis. Suaaverso por alimentos de origemanimal que ainda conservam a formado ser vivo muito acentuada:coelhos, frangos, peixes, etc. No

    possvel faz-la comer sequer omenor pedao. Porm, quando a

    procedncia do alimento no maisvisvel, ocasionalmente at comecarne com prazer (sem querermostornr-nos sentimentais, devemosevitar apresentar s crianas animaisem sua forma inteira, sendo

    prefervel dar-lhes a carne j cortadaem pedaos. Mesmo para as crianasmenos sensveis, no agradvel verseus amigos postos na mesa dessaforma; as crianas gostam dos

    animais e tm amizade por eles).Tambm Ivone amaapaixonadamente os animais e contaao seu coelhinho, acocorada noquintal, o que afeta seu coraosuperlotado e que nem sempre

    aceito com compreenso pelosadultos.

    Ivone sofre constantementede priso intestinal. Por sorte gostade comer frutas, quando maduras edoces. Embora seja magra e tenha umrostinho afinado, tem-se a impressode que o corpo pesado demais e queela tem dificuldade em carreg-lo.Ela caminha arrastando os ps, com acabea baixa, e preciso que se lhe

    diga sempre levanta os ps, e"endireita as costas. Cansa-sefacilmente e sofre de fortes dores decabea. Sua vida imaginativa, noentanto, permite-lhe freqentemente,quando ativa, superar a fraqueza doseu corpo, mas de modo geral essareao fraca, quando se trata deagir.

    As foras de gravidade daterra parecem pux-la para baixo;

    seus olhos procuram a terra mesmoquando em passeios, e raramente elaergue o olhar.

    Ela adormece tarde, j que nacama sua necessidade de meditar eimaginar estrias acentuadamenteforte. Pela manh ela estterrivelmente cansada mal seconsegue faz-la levantar, e ela

    permanece por muito tempo chorosa,mal humorada e melindrosa. Assusta-

    se com gua fria e gosta do caloracima de tudo. Quando est doente ela tem distrbios estomacais comfreqncia sofre muito, masdurante a convalescena, a qual elafaz o possvel para esticar, tem prazer

    em estar doente, gosta de se deixartratar com mimos e aproveita aomximo a ateno dos adultos e ocalor anmico que manifestam paracom ela.

    Seus olhos no so muitoeficientes, tm tendncia para amiopia e, como l demais na cama eno crepsculo, logo precisar usarculos. Seu ouvido bem formado,sendo declaradamente musical. Ela

    toca piano e violino e gosta tambmde cantar. Mas demonstra nessasocasies tendncia para uivar,como o irmo mais velhoinsensivelmente denomina seuarrastar lnguido e sentimental. anmica e fisicamente uma crianadelicada, requerendo muito cuidado eamorosa compreenso.

    Cuidados Com a Criana

    Melanclica.Cuidado e compreenso

    amoroso so to necessrios crianamelanclica como o po de cada dia.Mas no de modo a fazer com que elao perceba demais: ela uma pequenaegosta e quer sentir-se no centro.Mesmo assim deve sentir sempre ocalor necessrio para que noacumule dentro de si excesso deinibies, endurecendo-se nelas.

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    Precisa de algum com quem sepossa abrir com plena confiana, semser exigente nisso. Uma palavraamiga e compreensiva e seucorao e confiana estaro ganhos.Junte-se a isto um humor quieto a

    altrusta para suas extravagncias eesquisitices, fazendo-a sorrir.A criana melanclica requer

    muito alimento anmico e espiritual.Quem lhe conta estrias ou ensinadeve escolher muitos contos de fadas,estrias e biografias que a estimulema esquecer a prpria melancolia etomar parte no destino trgico deoutras pessoas. Para isto a encontrardisposta no mais alto grau. Alm

    disso, os adultos de sua intimidadeno devem ter receio de fazer comque a criana melanclica participede suas prprias preocupaes esofrimentos, passados e presentes, atonde forem compreensveis para suainteligncia infantil e se no asobrecarregarem demais. Atuaremosde maneira diretamente curativa,diminuindo a harmonizando amelancolia infantil, se contarmos a

    criana o que ns mesmos sofremos eo que pessoas que ela conhece

    precisam sofrer. Isso ter um efeitomais benfico do que se tentarmosdiverti -la e arranc-la fora de suamelancolia.

    A criana melanclica terprazer em fazer pequenos servios, sesentir que por meio disto aliviasofrimento. No ser m enfermeira edevemos naturalmente na medida

    de sua foras infantis traz-la paratais tarefas, mesmo que, devido suatimidez e auto-observao e sesabendo observada pelos outros, nocomeo ela se comportedesajeitadamente. Conseguindo

    superar isto, cuidar, com silenciosaalegria e ternura interiores, da me oudos irmos doentes.

    Devemos manter a crianamelanclica aquecida (naturalmentesem exagerar) e nunca lav-la ou

    jogar-lhe por cima gua muito fria.Deve ir para a cama noite comsensaes e pensamentos cordiais eharmoniosos, e ser despertada pelamanh com grande amabilidade.

    Alimentos pesados no lhe serodados assim como a nenhumacriana. Frutos doces amadurecidosao sol, saladas e verduras leves lhefazem bem. Porm, de vez emquando um pouco de carne brancano lhe faz mal algum, e geralmente bem recebida. Ela precisade uma dieta mista e alimentosestimulantes. Embora seja grandeamiga de guloseimas e necessite de

    comidas bem adoadas, gostar decomer um biscoito salgado, ou um

    pepino em conserva, ou uma saladacom tempero cido. Cuidaremosdiscretamente e com diplomacia doseu funcionamento intestinal e aajudaremos numa movimentaosaudvel do corpo, a qual dever ser

    procurada menos no gnero esportivoque no gnero rtmico-musical. Aeurritmia, na qual a criana

    melanclica pode combinar sua vidaanmica com o movimento de seusmembros, trar principalmente paraela maravilhoso alvio e cura, tologo ela vena a inibio provenienteda necessidade de revelar sua

    natureza perante outras pessoas,observando-se a si prpria.

    3. A Criana Colrica.

    Tnia est fora de si. Com os doispunhos ela bate no menino (ela temdez anos, ele uns doze). Seus cabelosdesgrenhados se levantam como as

    penas hisurtas de uma ave de rapina,as proeminncias em sua fronte bemredonda parecem transformar-se em

    chifres. O menino grande, seuinimigo, procura resistir aos golpes emordidas, mas depois se retira,embaraado, sob os risos doscamaradas que apreciam a luta naqual a menina pequena parece levar amelhor. Tnia pega do cho seuirmozinho, causa inocente da luta,que o menino grande empurrara, e oarrasta atrs de si. Ela no chora, massolua em convulses que no

    consegue dominar e faz movimentosviolentos para enxugar as lgrimasque correm contra sua vontade. Aofaz-lo, caminha batendo os ps,mais forte ainda do que costuma,calando-os energicamente com oscalcanhares. como se quisesse abriro solo e de l haurir foras paraenfrentar a maldade do mundo queacaba de atingir o irmozinho. Umadas mos ainda est cerrada em

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    punho, e a outra segura firmemente o pulso do pequeno. Agora j nochora mais, mas os seus olhos

    brilham sob os ossos duros da frente,e seu pescoo est encolhido entre osombros como se ela quisesse contrair

    e endurecer todo o seu ser. Seusirmos costumam falar cheios deadmirao do seu pescoo de touro.So todos mais novos que Tnia; ame falecera no parto ltimo. Agorasomos quatro crianas sem me; foicom estas palavras que anunciara otrgico acontecimento sua

    professora, sentando-se impassvelem seu lugar e escutando sem

    pestanejar a estria pela qual a

    professora procurou explicar eaprofundar na mente das crianas ofenmeno da morte. Exteriormente,Tnia no revelou nenhum sinal de

    participao ou de dor, mas em casaela contou ao pai toda a estria,

    palavra por palavra. No enterro elaestava ao seu lado, com o rostosombrio e sem chorar, mas depois iafielmente todos os dias visitar otmulo. Sendo a mais velha, assumiu

    o domnio sobre os irmos,defendendo-os violenta eirrestritamente contra tudo, mas aomesmo tempo tiranizando-os torudemente que a situao deles na

    presena da irm nem sempre invejvel. Refugiam-se perto dela emcaso de perigo, mas quantas vezesno gostariam de buscar, contra seutemperamento violento, a proteo da

    me, como o faziam quando estaainda vivia.

    Tnia sabe o que quer e comoconsegui-lo. Quando entrou naescola, ouviu numa classe que noera a sua a voz de uma professora e

    declarou: Esta a minhaprofessora! A parti desse momento,ela se rebelou contra sua prpriaclasse e contra a escola em geral, fezcenas em casa e ficou doente comfebre alta. Finalmente, consoanterecomendao mdica, foi colocadana classe daquela professora que,

    pela voz, fora escolhida por ela comosua educadora. A partir dessemomento, Tnia tornou-se quieta e

    aplicada na escola, alm deapaixonadamente dedicada suamestra.

    Nem sempre ela estpresente durante a aula. Com oqueixo avanado, olha fixamente emfrente, sonhadora e ocupada consigomesma; nem pensa em participar dealgo que no a empolga. Gosta deestrias de coragem e audcia.Quando conta a outros tais estrias,

    torna-se involuntariamente dramticae, de maneira geral, uma atriztemperamental desde que o papel lheagrade. Ops-se, porm,terminantemente a fazer o papel deum escravo numa pequenarepresentao teatral histrica,embora esse escravo tivesse funode relevo na pea. Muitos colegasinvejavam-lhe o papel, mas para ela

    era melhor morrer que ser escravo.Preferiu no participar do elenco.

    Tnia madrugadora e gostade acordar e ficar ativa bem cedinho.

    No vero, veste-se silenciosamente etrabalha em seu canteiro ou,

    enquanto anda com passo firme,medita em seus planos e projetos. Noinverno, ela vai buscar livros, papel

    para desenho e lpis de cor e trabalhana cama at a hora de levantar.Trabalha tenaz e concentradamente.Aprender no lhe fcil e penosover como aperta a caneta entre osdedos, com tanta fora que a primeiraarticulao do dedo indicador formacom a segunda um ngulo reto,

    fazendo no papel traos de grossurade um fsforo. Ela pinta com vigoralgo brutal, mas sem grandesensibilidade formal: suas pinturasso manifestaes perfeitas da suanatureza dinmica. Como cor ela

    prefere um vermelho fogoso, masquando quer agradar uma pessoa dequem gosta, tambm sabe pintar comas cores delicadas. Com ela, tudodepende da vontade. Em relao

    sua idade, ela consegue maravilhasde autodomnio desde que seudiscernimento interior lhe diga seressa a atitude necessria.

    Os conceitos morais, com osquais dirige seus irmos, so simples,quase brutos. Antes de mais nada, omal impiedosamente punidoenquanto o bem mal merece um

    parco elogio. Ela prpria sempre estpresente; cheia de fora e vontade ela

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    se considera como algum cujaexistncia no se discute. No fcil

    para o pai desloc-la dessa posio,mormente quando tal medida exigida por suas travessuras. Noaprecia mostrar arrependimento,

    mesmo quando reconhece ter agidomal; mas reparar ativamente um mal,com a face vermelha e com os dentesapertados, o que convm suandole. Quando durante algum temposuporta agravos por parte de seusirmos e amigos, sem perder a

    brandura, estes so tomados de umpressentimento de horror, pois algumdia, sem aviso prvio, Tnia entrarem erupo, qual um vulco jogando

    para fora fogo e pedras. H, alis, ofato curioso de que, tendo ouvido deum viajante uma descrio doVesvio, o objeto predileto das suas

    pinturas e desenhos so vulces emplena atividade. Como no tem donsextraordinrios, o produto ser umPo de Acar bastante inofensivodo qual se eleva um jato vermelho,enquanto torres marrons ou azul-escuros voam por um cu bem azul.

    Contido, no deixa de ser umaexpresso da sua natureza colrica.Assim como Tnia no

    precisa de muito sono nem parecefacilmente cansada, tambm nocome demais nem difcil decontentar. Seu alimento preferido soas frutas que gosta de catar

    pessoalmente na rvore. Detestamingaus e acha delicioso morder um

    pedao de po preto seco. Ela abre

    nozes com os dentes (embora isto lheseja proibido). No despreza doces,mas nunca costuma petiscar; at suasintruses em pomares vizinhos somotivadas menos por gulodice doque por audcia, ou por uma

    sensao natural de fome que ela nohesita em satisfazer de qualquermaneira. Tnia tende a ter a face bemvermelha e acessos sbitos e fortesde febre e de doenas inflamatrias,

    principalmente de garganta. J tem passado por muitas doenas dainfncia, inclusive escarlatina edifteria.

    So evidentes as vantagens eos perigos do seu temperamento

    colrico. Tnia no hesita em tomarpartido; suas decises, embora muitasvezes refletidas, provm do fundo dasua personalidade e so inteiramentesuas. Seus pais presenciaram osataques de clera que chegou a terem sua infncia, debatendo-se com

    braos e pernas enquanto seu rostotomava uma cor azul-avermelhada. medida que seu intelecto acordou,esses ataques melhoraram, mas ainda

    pode acontecer que ela fique tomadade uma raiva to violenta que aponha completamente fora de si, semque as pessoas ao redor possam fazerqualquer coisa. No dia seguinte,Tnia, calma e serena, pode seratingida por uma conversa sria comseu pai. As decises que toma em taissituaes, ela as mantm com grandefora at que seu temperamentonovamente lhe escape. Mas sua

    vontade forte faz com que isso possademorar bastante tempo.

    O Tratamento do Temperamento

    Colrico.O temperamento colrico

    requer muita, mas muita pacincia, euma compreenso prtica e profundada alma infantil, alm de exigir doeducador o maior domnio de simesmo. Com efeito, somosfacilmente levados a perder nossocontrole diante da criana furiosa, e areagir violentamente. Na realidade,

    porm, o que mais importa manterdiante do pior furor a serenidade e acalma do espectador e no reagir sob

    o impacto das prprias emoes. Isso muito difcil, e muitos educadoresfracassam perante esse temperamentoque diremos: felizmente ouinfelizmente? relativamente rarohoje em dia. No devemosnaturalmente confundir temperamento colrico com simplesdescontrole nervoso. Na criana,nervosismo fraqueza, enquanto otemperamento colrico revela uma

    fora, embora ainda indisciplinada.Teremos sempre que proporcionar criana colricaoportunidade para extravasar suasforas, isso de maneira proveitosa,sem que possa causar prejuzos.Cortar lenha, serrar, pregar, carregar

    pedras, so ocupaes sadias. Nodevemos recear que a crianase machuque. No preciso dizer queno convm aproveitar essa atividade

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    para fins econmicos, pois nessaidade a movimentao dos membrosdeve ser um fim em si e uma fonte dealegria. O pequeno colrico precisade bastante espao para mover-selivremente, jogar-se no cho e

    debater-se vontade. Em cmodos pequenos os colricos soinsuportveis. Convm encarregar acriana colrica de tarefas queultrapassam sua foras: ela ver quedeve fazer um esforo e notar, nosem um pouco de vergonha, que no o heri que julga ser.Conseguiremos uma harmonizaosemelhante se contarmos estrias defaanhas tais que a criana reconhea

    que essas ela no as teria realizado e,talvez, nem tentado. Claro que taisconcluses devem ser tiradas pela

    prpria criana, pois somente assimelas tm efeito benfico: a crianacolrica quer chegar a elas pelo

    prprio discernimento. J quandopequena ela gritar: Quero sopinha.Quando algum quiser ajud-la acorrer ou a vestir-se ela recusar.Sempre evitar a ajuda de outros;

    moralmente h de querer agir porimpulso prprio.Se o educador consegue

    enfrentar com perfeita serenidade osataques de raiva da criana colrica,o resultado ser ainda mais eficientese depois de umas 24 horas, quando acriana, aps uma noite de sono, ficarcalma e intimamente envergonhada,ambos discutirem o incidente comtoda a calma, embora com profunda

    seriedade. Num momento deexaltao, a criana no acessvel anenhuma palavra sria, a nenhumamotivao racional; mas depois de terficado durante algum tempo entreguea si prpria e voltado tranqilidade,

    ficar agradecida por qualquer ajudamoral e serena que algum lhe possadar, sem diminuir a sua culpa, mastambm sem ironia ou malcia. A

    pobre criaturinha dominada pelasforas da prpria vontade tem muitadificuldade em lutar consigo mesma;tem que fazer um esforodesproporcional a sua idade, paradominar os cavalos fogosos da alma,que a todo momento querem romper

    as rdeas e fugir. O pequeno colricogostaria de segurar as rdeas em suamo; mas como sabe que suas forasainda no so suficientes para essatarefa, espera e com razo, dosadultos, uma direo ao mesmotempo enrgica e compreensiva.

    A criana colrica tambm sedesenvolver melhor se pudervenerar um adulto com todo o mpetode sua alma. por afeio para com

    ele que melhor aprender a conterseus instintos. verdade que suaalma afetuosa tende a ultrapassar,tambm no amor e na venerao, oslimites do normal. O seu pudor, totpico em crianas sadias, far comque procure conter-se; no oconseguindo, ela exprimir suavenerao violenta da maneira maiscuriosa. Era apenas um amordesmedido que levou Tnia a atingir,

    de emboscada, uma professora particularmente adorada com duas bolas de neve. Que outra maneirahavia para dizer-lhe que a amava comtodo o fervor? Levar-lhe flores? IssoTnia teria recusado como uma

    maneira de agir infantil, sem gosto,em desacordo com seu prpriocarter. Assim como, quandomenorzinha, ela mordeu sua mesimplesmente por excesso de amor,suas amizades com as colegascostumavam expressar-se por meiode empurres e murros enrgicos.

    Nenhuma alma infantilsuporta ironia, mas a criana colricamenos que qualquer outra. O

    sarcasmo e a ironia ferem-na profundamente e colocam-na numaatitude de oposio permanente. Masela ficar agradecida por manifestaes de um humorcompreensivo e carinhoso, j quesempre aceita com prazer todoimpulso que no lhe foi imposto; taisimpulsos, ela os assimilar at que selhe transformem em discernimentomoral prprio, fonte de toda a sua

    atuao futura, tanto a dirigida para si prpria como aquela em prol deoutros.

    4. A Criana Fleumtica

    Joozinho est escarrapachado em suacarteira e olha apaticamente para frente. Noobstante, no todo inativo, embora sedesinteresse por completo das explicaes do

    professor sobre os mistrios das tabuadas.

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    Est sonhando com o sanduche que sua me,como no deixou de observar, cobriu de uma

    boa camada de manteiga e queijo, e com abela ma vermelha que lhe ps na lancheira.Joo fixa durante um instante o professorcom seu olhar sonolento e v que lhe vira as

    costas para escrever algo na lousa; ei-lo queabre com seus dedos gordos o papel dosanduche. O papel faz um pequeno barulho,Joo hesita um momento e olha durante uminstante com fingido interesse para a pedra; o

    professor vira-se agora para os alunos e Joocompreende, meio adormecido, que no lheser possvel pegar e comer o pozinho semser notado. Concentra, pois, sua ateno nama, que no est embrulhada. Pega-a numcanto da lancheira. Mas eis que seu estojo de

    lpis est chocalhando. O barulho lembra aoprofessor a presena de Joo na classe, maseste foge sua ateno por uma completaausncia mental. No obstante, o professorlhe dirige a pergunta mais difcil de todas astabuadas segundo a opinio de Joo ouseja, quanto 7 vezes 8? Joozinho levanta-se vagarosamente apoiando seus braoscarnudos na carteira. Com seus olhos midosem cima de bochechas redondas e vermelhas,Joo fita o professor sem nada entender. Com

    tudo isso, Joozinho no estpido, e suamemria muito boa. Conseguiu perfeitamente memorizar as tabuadaspequenas, embora depois de bastante tempo,e sabe recit-las para frente e at para trs.Mas o que no pode responder a perguntasfora de ordem feitas de surpresa. Almdisso, lhe totalmente impossveltransformar seus sonhos de mas esanduches em aguda atividade de raciocinar.Fica devendo a resposta. Mas o professor

    paciente e pede a Joo que recite a tabuadado sete. Joo comea com alguma hesitao,entra depois no ritmo, embora com vozmontona; a coisa vai sempre mais depressa,e ei-lo que ultrapassa a resposta pergunta 7vezes 8, pois no tem a presena de esprito

    necessria de parar no momento certo, antesde terminada a tabuada. S para corretamenteem 10 vezes 7. Nesse nterim, um colegasangneo j gritou a resposta certa.Enquanto o professor repreende o camarada

    petulante, Joo se deixa deslizar tranqilamente, sem se mexer. Depois asmos, como que automaticamente, voltam aapalpar a ma, o que no requer nenhumesforo mental. Abaixa a grande cabea atquase deita-la na mesa e belisca nessa

    posio o fruto cobiado. Joo! O professoro chama; o aluno levanta a cabea, no muitodepressa; sua cara ainda mais corada quenormalmente. No durma resmunga o

    professor. Logo aps, Joo volta sua ma eao sanduche e, antes que toque o sino para orecreio, conseguiu, sem grande esforo,acabar com ambos sem deixar uma migalha.Calmamente, limpa as mos midas egordurosas na cala e procura em seu bolsouma moeda para compras um doce e um

    pirulito do vendedor que oferece gulodicesdurante o recreio. Olhando tranqilamentepara a confuso das crianas no ptio, eleliquida o doce. H momento em que umaturma de meninos chega a derrub-lo; masele cai e se levanta devagar, sem manifestarqualquer sinal de surpresa ou dor. Segura o

    pirulito que lhe adoar a prxima aula.Em casa, Joo tem uma vida pacata, sob

    a proteo de uma me corpulenta e pacficaque no faz objeo sua fleuma. Sua

    educao no teve problema algum. Horas afio, Joozinho ficava tranqilo no carrinho,segurando na boca a chupeta (requisitoimprescindvel para a paz da sua alma), eabandonado ao seu torpor, quando noacompanhava com o olhar os movimentos

    lentos de suas mozinhas gordas que durantemuito tempo eram seu nico brinquedo. Sa viso da comida conseguia tira-lo da apatia;a mamadeira provocava um brilho tranqiloem seu rosto bochechudo, e o prato demingau doce at o fazia agitas as mos equerer pegar o pratinho desejado. Comer edigerir eram as duas nicas ocupaes aceitas

    prazerosamente pelo recm-nascido. E Joono deixava de aproveitar. Sua me eraadepta da teoria um pouco antiquada de que

    gordura era sinal de sade e no lhe custavaconseguir e manter esse estado no filhinho.Joo no adoece freqentemente e conseguevencer galhardamente as quantidades decomida que a me d ao filho nico,transformando-as em respeitveis camadas degordura. Para alegria sua e da mame, eledigere os sanduches mais pesados, as sopasde massa, o mingau mais doce, as omeletesmais gordurosas, o pudim de chocolate maisgrosso. verdade que aprendeu a andar

    bastante tarde; quando mudou do carrinhopar ao quadrado, preferia ficar deitado notapete e foi a muito custo que aprendeu equo lentamente! a engatinhar, a erguer-see balanar nas colunas disformes das suas

    pernas. Aprendeu a andar s quando algumlhe mostrava como isca um prato predileto.Mas atualmente, Joo no difcil decontentar: gosta de todos os pratos que lhedo!

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    Quando comeou a brincar, sua fantasiaera bem fraca. Aos dois anos de idade ganhouuma arca de No e, ainda hoje, aos oito anos,

    pode-se v-lo sentado no cho tirando da arcaum animal depois do outro, alinhando-os emordem perfeita e recolocando-os na arca. Tem

    um senso de ordem muito pronunciado, quaseque pedante. Cada coisa tem seu lugar e neledeve permanecer. Ao se deitar coloca suaroupa em perfeita ordem e deseja reencontra-la assim no dia seguinte. S quer beber naxcara que sempre tem usado, servindo-sesempre da mesma colher (embora tenha

    preferido, at atingir a idade escolar, sugar amamadeira, deitado no cho).

    Uma vez foi um desastre quando afamlia pernoitou em casa de parentes. S

    queria usar o seu peniquinho, recusando odos outros, embora procurassem convence-loda sua beleza. Com energia digna de umacausa melhor, no cedeu em ponto sequer dasua opinio, e s depois de horas de gritariadesesperada, quase colrica, o cansao ovenceu. Joo, prottipo do fleumtico, torna-se colrico quando certas tradies no soobservadas! Nada mais importante que oritmo! Sem relgio, ele sabe a hora dasnumerosas refeies e a hora de deitar-se

    depois do almoo e do jantar. No daquelascrianas que se recusam a ir para a cama; elegosta de se deitar e dormir demorada e

    profundamente.Joo custou para aprender a falar; durante

    bastante tempo satisfez-se com os sons maisrudimentares para se fazer entender. Faladevagar, com longos intervalos entre as

    palavras. Mas possui musicalidade; quandose dedica a seus jogos enfadonhos ousimplesmente fica sentado numa almofada ao

    sol, com as pernas cruzadas, qual uma pequena estatueta representando um deusbarrigudo, gozando, meio adormecido, a suavida, pode-se ouvi-lo cantar sempre a mesmamelodia ou simplesmente: la-la-la; s vezes

    passa o tempo zumbindo como um zango.

    Joozinho gosta de calor, inclusive de calorhumano (que sua me lhe d em profuso),desde que no se exija muito dele. Evitaesforos anmicos. Gosta de ficar no colo damame sem se mover, mas nunca a abraariaespontaneamente com seus braos; os beijosque lhe d so de rotina e fazem parte docerimonial do Bom dia e Boa noite.

    Joo sempre foi uma criana digna decrdito. Podia-se ter confiana em seushbitos, at no funcionamento de sua

    digesto. O que aprendeu ou assimilou, ele o pratica pontual e criteriosamente. horacerta d de comer aos peixinhos dourados erega as flores. J com cinco anos, fazia

    pequenas compras ao inteiro contento dame, trazendo a mercadoria certa e sabendomanusear o dinheiro com surpreendentefacilidade. Quando lhe contam uma estriaum nmero suficiente de vezes ele semprequer ouvir as mesmas estrias logo a sabede cor e a conta na prpria tonalidade do

    adulto, com os mesmos gestos e palavras,sem se atrapalhar. Conhece uma poro de poesias e canes e nunca canta errado.Gosta de sentar ao piano e tocar uma notadepois da outra, da mesma maneira comofala. Se os adultos tivessem pacincia paraescutar, reconheceriam que o todo no causam impresso, musicalmente falando.Durante muito tempo, Joo cuidadosamenteevitou usar as teclas pretas.

    Joozinho gosta de ficar s e no temmuitos amigos. Ele calmo demais para osoutros, e ou outros so muito agitados paraele. S uma menina, gorda e fleumtica,como ele, consegue ficar durante horas a fiosentada a seu lado, e suas conversas e

    brincadeiras lembram a discusso daquelesdois camponeses que passeavam no mato.Depois de terem caminhado durante algumashoras, um murmurou: Belo dia hoje! Ao queo outro retrucou, depois de mais uma hora de

    passeio: E quente tambm!.Para grande surpresa de amigos e

    parentes a me de Joo no tinha ficadopreocupada, pois isso lhe parecia suprfluo Joo no se revelou mal aluno quando entrouna escola com sete anos. Sem oposio, at

    com certo prazer, no parava de exercitarseus traos, letras e nmeros, sempre osmesmos, se possvel uma pgina inteira.Agora tem uma caligrafia ntida e bemformada, embora muito infantil. Para sortesua, o professor, calmo e compreensivo,nunca puxa por ele, pois viu que Jooconsegue tudo, desde que lhe deixem

    bastante tempo para faz-lo. um daquelesprofessores que acha que no se deve avanarmuito durante os primeiros anos e que as

    crianas devem ter muita oportunidade parapraticar. E praticar que Joo gosta de fazer!Ele pinta com entusiasmo tranqilo,colocando uma pincelada perto de outra. Seusquadros consistem em belas e limpasmanchas coloridas, sem qualquer contedoconceitual, Eles se formam a partir das coreslquidas, com um senso delicado das cores.

    Joo aprende e assimila devagar, masguarda bem o que assimilou, em particularquando a matria tem elementos rtmicos e

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    pode ser recitada maquinalmente, como quecantada. Verdade que no capaz dereflexes rpidas e respostas demonstrando

    presena de esprito. Existe, pois, o perigo deser bastante espinhoso o seu caminho pelasclasses superiores, onde se exigem mais a

    intelectualidade e a rapidez de raciocnio doque a memria fiel e a assimilao assdua damatria. Para isso contribui o fato de Joo, ao

    perceber que no pode acompanhar os outros,fechar-se em si mesmo entregando-se aos

    processos orgnicos do seu corpo. H sempreo perigo de a atividade mental no conseguir

    permear esses processos de maneiraadequada, o que, na pior hiptese, podeconduzir a certa idiotia.

    Os Fundamentos do TemperamentoFleumtico.

    Assim como o sangneo vibrafacilmente com o ritmo da respirao, omelanclico sofre do peso da terra, o colrico aquecido e apertado pelo calor do seusangue, o pequeno fleumtico como queinundado pelos humores que lhe nutrem eanimam o organismo. Ele se abandonainteiramente a esse elemento lquido. O

    processo digestivo lhe proporciona um bem-

    estar meio inconsciente. Lembra a vacadeitada no pasto, a qual rumina calmamente evive para os processos do metabolismo e daformao do leite. So, na realidade,ocorrncias grandiosas que formam eestruturam o ser humano a partir do elementoaquoso. Se o pequeno fleumtico pudesseficar consciente daquilo que vivenciaenquanto digere o seu desjejum, eexperimentar a grandiosidade desse processo,teria a viso de sublimes foras csmicas. De

    todos os seres humanos, a criana fleumtica, em seus sonhos, o que mais se aproxima danatureza. Tudo o que se fundamenta nasfunes vegetativas do seu corpo funcionasadiamente. Da sua boa memria, suacapacidade de aprender tudo o que pode ser

    aprendido por exerccios repetidos e seusdons musicais e pictricos que no decorremda vontade consciente da sua personalidade,mas constituem antes a continuao e aexteriorizao das suas foras criadorasfsicas.

    O Tratamento do Temperamento

    Fleumtico.Encontramos freqentemente

    preconceitos contra o temperamento

    fleumtico. Os pais ficam at ofendidosquando mdicos ou professores lhes revelamque seu filho fleumtico. Mas isso no

    passa se um preconceito! Como nas demais predisposies temperamentais, trata-seapenas de uma unilateralidade que encerracertos perigos e, por isso, deve sercompensada. A criana melanclica muitasvezes tida e apreciada por criana-prodgio,mas na verdade sua tendncia paradepresses, seu egosmo e sua inibio so

    pelo menos to objetveis quanto inrcia, asonolncia e a gula da criana fleumtica.Por outro lado, o temperamento

    fleumtico convenientemente compensado pode construir a base das mais belasqualidades humanas. Com efeito, homens quetm superado unilateralidades do seu fleumaou nos quais elas foram amenizadas por umaeducao razovel, so particularmente fiis,

    persistentes, honestos, ordeiros;

    conscienciosos e aptos a enfrentar, pela suaiseno de nimo, as tempestades da vida.

    O que se faz mister, com crianas dessetemperamento, educa-las fisicamente commuito critrio e reduzir-lhes o gozo do bemestar corporal a limites razoveis. Assim, no

    conveniente permitir que essas crianassatisfaam sua vontade de dormir de umamaneira desenfreada. Com efeito, pode havercrianas que durmam demais. Em certoscasos pode ser mais certo no deixar acriana fleumtica ir para a cama cedo; nodeix-la dormir depois do almoo, ou reduzira durao da sesta, e acorda-la cedo demanh, em vez de esperar que ela desperteespontaneamente. No se lhe deveria permitirficar meio sonolenta na cama quente, nem se

    espreguiar antes de levantar. Faremos bemse no a cobrirmos muito nem a vestirmosdemasiado. Um banho frio de manh lhe ser

    benfico, ao passo que deve ser evitado numacriana melanclica. A criana fleumticaagenta facilmente choques, meio

    pedaggico que normalmente se deveriaevitar por completo. Vamos acorda-la bemcedo, lavar-lhe a cabea com gua fria e nolhe permitir passar um tempo tomando caf,enchendo o estmago j antes das aulas com

    chocolate, mingau, pozinho ou mesmosovos. Seno preferir diferir confortavelmente em vez de aprender, e noficar propensa a deixar uma atividademental interromper esse prazer. Antes de ir

    para a escola, tal criana deveria comerpouco e apenas alimentos leves. Certamenteno morrer de fome. Frutas, verduras esaladas deveriam substituir os mingaus e asmassas, o po de centeio deveria tomar olugar dos doces e do po branco. Convm

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    temperar bastante a comida e evitar doces ebalas que essas crianas guardam na bocapara, chupando-as, gozar a vida. Por meio deuma alimentao racional, devemos fazertudo para impedir que a criana fleumticasiga seu desejo de acumular gordura.

    Mantendo-a relativamente magra, j teremosfeito muito para seu desenvolvimentoespiritual e psquico.

    No convm deixar o pequenofleumtico brincar sempre sozinho. Osadultos deveriam de vez em quando brincarcom ele, animando-o, acelerando o ritmo dosseus jogos e proporcionando-lhe impressesdo mundo ambiente suscetveis de despertar evivificar sua vida psquica. Quando seobserva que a criana cochila durante seus

    jogos ou quando faz sua lio de casa, no hmal algum em interpel-la em voz alta ouacord-la com um barulho meio forte. Isso afar voltar a si. Em tais momentos de

    pequenos sustos, o pequeno fleumtico particularmente capaz de captar ouconscientemente assimilar algo. Todos sabemque se pode durante muito tempo e com amaior pacincia procurar explicar algo a talcriana sonolenta. Ela olha para ns sem nosver, ouve sem escutar, cabeceia sem entender

    e quando lhe fazemos uma pergunta, cai dasnuvens. Acabamos perdendo a pacincia topenosamente mantida e, gritando, damos ummurro da mesa. Subitamente os olhoscomeam a ter brilho, a resposta surge certa,a criana est a par e entendeu tudo

    perfeitamente. claro que isso no deve serinterpretado como um apelo ao descontroledo educador; queramos apenas ressaltar quea criana fleumtica pode ser de vez emquando acordada e que esse truque no a

    prejudica, quando teria conseqnciasdesastrosas em crianas melanclicas,sangneas e tambm colricas. No existemreceitas pedaggicas para todas as situaes. preciso ver cada caso por si e proceder deacordo com o temperamento, enquanto a

    criana, ainda incapaz de dirigir a si prpriamediante o seu eu, segue justamente suaspredisposies temperamentais.

    A tal criatura impassvel e fleumtica oeducador no demonstrar seu amor e suasimpatia de um modo importuno, pois seriamaceitos como coisa mais natural do mundo.Porm se usarmos nossa impassibilidadeaparente, tanto maior dever ser a nossasimpatia ntima para com a crianafleumtica. O fleuma artificial dos adultos

    ter como efeito a criana se sentirimpulsionada para sair da sua inrcia. Isto sedar mais facilmente se ela gostar do adulto.Com efeito, sumamente importante que acriana fleumtica aprenda a amar, pois oamor que mais seguramente a far sair do seuorganismo para entrar numa atividadeanmica. Uma forte simpatia pode despertar oseu esprito, tornado-o capaz de atravessar agordura, de pegar e plasmar as emoesmoluscides da criana e de dar-lhe uma

    estrutura e uma espinha dorsal. A crianafleumtica que despertou para o caloranmico saber amar de uma maneiraharmoniosa, com fidelidade e dedicao, eno irrefletidamente como o faz o sangneo,exagerada e morbidamente maneira domelanclico, ou agressivamente como amaum colrico. Nesse caso, o pequenofleumtico abrir-se- aos interesses do adultoamado. Quanto no ganho com isso? Comefeito, o difcil era aprender a ouvir a

    chamada do ambiente, deixar os prprios processos metablicos e entrar no mundoexterior. Isso ocorre de modo apropriado idade infantil, desde que o motivo seja aafeio pelo educador. O horizonte pode ser

    paulatinamente alargado, as qualidades mais

    conscientes da alma podem comear a atuar,e a inrcia e impassibilidade podemtransformar-se em observao serena eassimilao tranqila e profunda do mundoambiente, o que abre perspectivas muitoanimadoras para a vida futura.

    Em crianas fleumticas, que apresentamna infncia dons artsticos inconscientes

    produzidos pelo organismo, acontecefacilmente tais dons desaparecerem quando, diminuio das foras orgnicas criadoras, a

    conscincia desperta. um obstculo que ascrianas superam, desde que se faa umesforo contnuo para tornar sua criatividademais consciente, no lhes permitindo apenasfruir, como em sonho, de garatujas coloridasou da produo de sons a esmo. Mas simexigindo que se desincumbam de pequenastarefas adequadas para despertar aconscincia, obrigando-as a refletir e a

    produzir mais conscientemente. Seconseguirmos tornar suas aptides artsticas

    pouco a pouco mais conscientes, elas serosalvas para toda a vida futura, peladescoberta de uma fonte de interesse. O alfa eo mega da educao e da auto-educao eisso no somente em crianas, mas tambmem adultos fleumticos despertarinteresse, cultivando-o e estendendo-o aosmais diversos campos. S se justifica umareserva maior de fleuma nas numerosasocasies em que, na vida atual, h razes desobejo para manter a calma...

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