OS Meninos e a Rua - o Psicólogo e os Impasses da Assistência

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2 Às vésperas de um novo século, em que o mundo vive uma multiplicidade de transfor- mações e mudanças, apresentar uma mono- grafia acerca de crianças e adolescentes que fazem da rua seu espaço de moradia e de sub- sistência, os chamados “meninos de rua”, cau- sa um certo constrangimento. Não obstante, se as ruas de nossas cidades ainda nos em- prestam estas cenas, se ainda os avistamos aflitos e exasperados, enlaçados em bandos, muitas vezes trôpegos pelos efeitos das dro- gas e marcados com o sofrimento no corpo, não temos outra alternativa que a de interro- garmo-nos sobre seus destinos e, essencial- mente, sobre nossa possível contribuição, como psicólogos, na mudança de sua rota. Esta monografia interroga pelo menos duas dimensões do problema. A primeira traça uma leitura das especificidades da trajetória-histó- ria dessas crianças e adolescentes que produ- zem uma multiplicidade de inversões: a rua como casa; a ausência de uma rotina e a pre- sença de uma cotidianeidade extraordinária; o bando em detrimento do grupo; a lingua amordaçada falada entre os iguais sem chegar OS Meninos e a Rua - o Psicólogo e os Impasses da Assistência Tânia Ferreira Psicóloga, psicanalista, Mestre em Educação. Professora Titular do Departamento de Psicologia do Unicentro Newton Paiva, Autora de “A escrita da Clínica - Psicanálise com crianças “. Esta monografia interroga as especificidades da trajetória-história das crianças e adolescentes que fazem da rua a “casa”, tentando extrair daí uma nova forma de pensar e tratar a questão. Ao mesmo tempo, interpela a história da assistên- cia a esses meninos na sua relação com a rua e as vicissitudes do lugar e da função do psicólogo no âmbito desta assistência na atualidade. PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2000, 20 (1), 2-17 Clipart/ArtToday

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Às vésperas de um novo século, em que omundo vive uma multiplicidade de transfor-mações e mudanças, apresentar uma mono-grafia acerca de crianças e adolescentes quefazem da rua seu espaço de moradia e de sub-sistência, os chamados “meninos de rua”, cau-sa um certo constrangimento. Não obstante,se as ruas de nossas cidades ainda nos em-prestam estas cenas, se ainda os avistamosaflitos e exasperados, enlaçados em bandos,muitas vezes trôpegos pelos efeitos das dro-gas e marcados com o sofrimento no corpo,não temos outra alternativa que a de interro-

garmo-nos sobre seus destinos e, essencial-mente, sobre nossa possível contribuição,como psicólogos, na mudança de sua rota.

Esta monografia interroga pelo menos duasdimensões do problema. A primeira traça umaleitura das especificidades da trajetória-histó-ria dessas crianças e adolescentes que produ-zem uma multiplicidade de inversões: a ruacomo casa; a ausência de uma rotina e a pre-sença de uma cotidianeidade extraordinária;o bando em detrimento do grupo; a linguaamordaçada falada entre os iguais sem chegar

OS Meninos e a Rua -o Psicólogo e os Impasses

da Assistência

Tânia Ferreira

Psicóloga, psicanalista,Mestre em Educação.

Professora Titular doDepartamento de Psicologiado Unicentro Newton Paiva,

Autora de “A escrita daClínica - Psicanálise com

crianças “.

Esta monografia interroga as especificidades da trajetória-história das crianças eadolescentes que fazem da rua a “casa”, tentando extrair daí uma nova formade pensar e tratar a questão. Ao mesmo tempo, interpela a história da assistên-cia a esses meninos na sua relação com a rua e as vicissitudes do lugar e dafunção do psicólogo no âmbito desta assistência na atualidade.

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a se constituir numa subversão do código; olaço social fundado na agressividade e violên-cia; enfim, os traços dessa trajetória e seuimpacto sobre sua subjetividade. Não sabe-mos em que medida tal trajetória tem o con-sentimento do sujeito, mas sabemos que nãoé sem consequência na sua constituição sub-jetiva.

Benilton Bezerra (1993), em conferência emBelo Horizonte, inaugura reflexões importan-tes. Ao discutir a relação entre a subjetivida-de individual e a cultura ou sociedade, adver-te-nos quanto ao que cobiçamos: a constru-ção da cidadania pelos meninos de rua, osloucos, enfim, pelos oprimidos e excluídos,lembrando-nos que para ser um tipo ideal decidadão, exige-se um tipo de organização sub-jetiva peculiar. Há certas formas de subjeti-vidade, de organização subjetiva singular quesão incompativeis com o exercício da cidada-nia em termos ideais. No caso dos “meninosde rua”, é preciso indagar: como cada um seorganizou subjetivamente para responder dolugar que lhe foi reservado na cultura?

A outra dimensão abordada nesta monografia,interpela a história da assistência a essas cri-anças e adolescentes e as vicissitudes do lu-gar e da função do psicólogo no âmbito destaassistência hoje. A política de assistência pre-coniza Programas de Atendimento essencial-mente de cunho pedagógico. Se a medica-lização constituiu-se sempre na medida detratamento do louco, a pedagogia parece sera única saída possível quando se trata de cri-anças e adolescentes. Mais recentemente,uma pedagogia que tenta se contrapor aosmodelos coercitivos que imperaram ao longode várias décadas. Desde os anos setenta, cir-cula o paradigma: da correção à educação.

Para estes projetos e programas pedagógicos,os profissionais da saúde mental são convoca-dos e ganham todos eles, o estatuto de “edu-cadores sociais”. Estes educadores, contudo,são chamados a intervirem frente aos fenô-menos inerentes à vida dessas crianças e ado-lescentes - uso de drogas, problemas comfurtos, contravenção às normas institucionais,formas de laços sociais, sexualidade preco-ce, dispersão no tempo e muitas outras ques-tões. São os profissionais “psi” convocados aresponder a essas questões, embora os ob-jetivos deste trabalho não sejam claramenteidentificáveis.

Estes profissionais teriam sua identidade pro-fissional diluída nas ações pedagógicas? Oestatuto desses profissionais vai se obliterandoe se inscrevendo no mesmo registro educativo?Haveria uma possibilidade de uma ação “es-pecífica” desses profissionais junto aos meni-nos e a rua, diferenciada das ações dos edu-cadores ? As ações pedagógicas viriam ocuparo terreno baldio das ações relativas à psicolo-gia que não estão formalizadas?

As atividades pedagógicas - ocupacionais,socializadoras, de geração de renda e inicia-ção profissional - que a maioria dos Programasde Atendimento vislumbram, são perturbadasquando não inviabilizadas pelos “traços” des-sa clientela que, tendo a rua como “casa”, fazcom que os espaços de atendimento passema se constituir numa certa “extensão” da rua.Nenhuma linha imaginária para demarcar es-ses confins... A rotina extraordinária que vi-vem no seu dia-a-dia faz imprimir no trabalhouma estrutura de descontinuidade. O modode organização, os “bandos” se reproduzemali e impossibilitam as atividades previstas paraserem realizadas em grupos. Assim tambémé a relação com o corpo, os objetos, a lingua-gem. O espaço de atendimento é, muitasvezes, violado, arrombado, destruído. Algoescapa ao planejamento, colocando em ques-tão não só os “traços” do cliente, mas tam-bém os modelos de atendimento. Os psicó-logos, na veste de educadores sociais, seriamchamados aí para uma ação disciplinadora? Estadenominação - educadores sociais - estaria tra-zendo algo novo, novos paradigmas ao cam-po da psicologia?

Interrogar a questão dos meninos e sua rela-ção com a rua, no campo “psi”, traz, no míni-mo, uma marca política, pois implica em retirá-la de sua inscrição histórica no rol dos proble-mas jurídicos ou de desenvolvimento social,para colocá-la no campo da saúde mental. Estapassagem, no entanto, não se faz sem riscos.Sabemos que não se trata de operar uma“psicologização” em massa dessa “clientela”,da universalização da assistência em saúdemental, tampouco, de uma psicologia do so-cial. Não podemos nos contentar em proporações calcadas em modelos “adaptativos- re-pressivos”, nem propor um ideal identificatórioou mesmo, contentarmo-nos com adaptaçõesgrosseiras, transferindo “settings”. Qual o tomda resposta a ser dada por estes profissionais?

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Um outro risco sempre presente nesse tipode abordagem é permitir que uma leiturapsicologizante venha mascarar questões polí-tico-sociais empenhadas e determinantes damiséria em que vivem essas crianças e ado-lescentes. “Para além da contraposição rua-casa, público ou privado, apontam para umdéficit que a contabilidade do Édipo não in-clui: a rua brasileira, o modo brasileiro de (des)considerar o espaço público, dizem respeito àsdeterminações econômicas e políticas de umasociedade como a nossa”. (Lobosque, 1993: 10).

Assim, este trabalho visa interrogar em queparadigma sustentar intervenções conduzidaspela diferença e não pela discriminação; pelorigor e não pela coerção; pela lei e não pelaautoridade e como tornar possível inventaruma inserção comprometida com o acessodessas crianças e adolescentes ao processo decidadania.

1- Os Meninos (D) e a Rua -Rompimentos Drásticos

Uma primeira pontuação necessária reside notermo já naturalizado “meninos de rua”. Apreposição “de” denota uma relação de pos-se, pertinência, proveniência, origem. Não sãoda mãe ou do pai, como dizemos de outrascrianças, “Este é de Paulo”, mas de rua. Aodizer os meninos e a rua, colocamos os doistermos em relação, retificando uma represen-tação já cristalizada - uma vez que a represen-tação que se tem dessas crianças e adoles-centes define o tipo de tratamento que se dáa elas. Interessa-nos interrogar a relação queestas crianças e adolescentes estabelecemcom a rua.

Sabemos que os termos casa e rua fazem maisque separar contextos e configurar atitudes,mas ditam éticas particulares1. Aprendemosmuito cedo que determinadas atitudes só po-dem ser tomadas no aconchego da casa e alimesmo, há uma demarcação de espaços quedefinem ações e comportamentos. Algunssentimentos e (i)moralidades presentes na ruasão excluídos da casa. Há um saber produzi-do na rua que não é bem-vindo em casa: “istovocê deve ter aprendido na rua”. Algumasexpressões exprimem a relação drástica entrea rua e a casa: “vá para o olho da rua”, “a por-ta da rua é a serventia da casa”, “não traga

desaforos para casa”, “roupa suja se lava emcasa”... O simbolismo da casa é extremamen-te forte. Da palavra casa deriva-se “casal, casa-mento”- valores apreciados em nosssa cultura.Certamente, nosso discurso não está imper-meável a essas significações.(Damatta 1991)

A sexualidade vivida na rua é desonrosa, de-vassa, imoral. Diz-se das prostitutas que são“mulheres de rua”. A rua é propícia à assal-tos, desordens. Diz-se dos “arruaceiros”, comoaqueles que destituem a ordem. Há um certotom negativo para a referência à rua. Ao mes-mo tempo, a rua é o recanto do imaginário,guardando um certo fascínio, promessas deliberdade, novidades, prazeres proibidos emcasa.

Assim, desfazer o limiar entre a casa e a rua,implica em consequências dramáticas paraestas crianças e adolescentes. O que nos im-põe perguntar: por que o sujeito faria um rom-pimento tão radical, tão drástico com a casa ecom a família ? Por que fazer da rua que é umlugar de trânsito, sua casa?

Sabemos que a criança, para fazer uma sepa-ração dos pais, padece, sofre. Para separar-sedo outro, o sujeito precisa forjar recursos psí-quicos muito requintados para suportar, parater suporte, como inventar seu “romance fa-miliar”2, seu “mito individual”, sua neuroseenfim. Para lidar com a falta do Outro3, com aseparação, a criança cria seus jogos e, muitasvezes, outros recursos como a inibição, o sin-toma, a angústia. É o preço que paga pelaseparação, para aceder ao seu próprio dese-jo. Estas crianças que vão para o “olho” da ruafazem um rompimento. Rompem com o Ou-tro materno ou com o par parental, quando otêm.

Assim também é com o adolescente, querevive seus amores antigos nas intempériesdesta idade da vida e do movimento da estru-tura, no qual impacto pubertário e o ideal so-cial traçam o modo particular de cada um seratravessado por esta experiência, no trabalhode subjetivá-la. Existe um fosso cavado pelamodernidade4 entre a infância e a idade adul-ta, que o adolescente tem que atravessar, tam-bém separando-se do corpo e da posiçãoinfantil frente ao Outro. No dizer de Freud,

Tânia Ferreira

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1- VERIFICAR : DAMATTA,Roberto. A casa e a rua, Rio deJaneiro: Editora Guanabara,1991.

2 - Refiro-me ao termo usadopor Freud para descrever oprocesso de separação dos paispela criança, nos termos dacriação de uma ficção, de um“romance”, que Jacques Lacanentende como “mito Individual”.

3 - O termo Outro, escrito commaiúscula é um recurso dapsicanálise para nomear aqueleque fornece à criança a palavra.

4-Verificar: RUFFINO, Rodolpho.Sobre o lugar da adolescênciana teoria do sujeito,RAPPAPORT, Clara (org)Adolescência - Abordagempsicanalítica, São Paulo: EPU,1993, p. 38-39.

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“ultrapassando a autoridade dos pais”5, nuncasem sofrimento. Estes adolescentes que vãopara a rua, também não fazem essa ultrapas-sagem, mas rompimento bruto.

Sabemos que para essas crianças e adolescen-tes, além da provisão material, algo de umaprovisão libidinal fracassou de modo tão radi-cal que levou a esta escolha pela rua. Esco-lha, nos termos freudianos de uma “eleiçãoforçada” na qual o sujeito é muito mais agidopela situação traumática, do que age. Aomesmo tempo, fazer da rua a casa é abrir asportas para uma vivência sempre traumática,é desencadear a repetição.

Feito o rompimento drástico, estas crianças eadolescentes estabecem com a rua uma rela-ção cuja lógica é difícil de ser compreendida.Vou apresentar alguns aspectos de sua traje-tória-história no sentido de extrair daí uma novaforma de considerar e tratar a questão.

1.1 - Os Meninos e a Rua -Especificidades de Uma Trajetória

Além das crianças e dolescentes que fazemda rua seu local de moradia e sobrevivência,compartilham ali outro grande número de cri-anças que vou denominar aqui “Meninos Tra-balhadores” ou “Meninos na Rua”. Tambémesses não têm na rua seu lugar de trânsito, delazer, de entretenimento, mas estão expos-tos, como os outros, à dispersão e violênciaque a rua impõe. Seu modo de organizaçãona rua, sua relação com a família, instituiçõese comunidade são claramente distintas dosmeninos que “moram” na rua.

Eles têm ali seu espaço de sustento próprio ede suas famílias, pela via de algumas ocupa-ções mais ou menos estáveis, através das quaisestabelecem suas relações de trabalho. Vigiarou lavar carros, fazer vendas ambulantes devários produtos - “faixa azul”, amendoins tor-rados, flores, artezanatos mal acabados, fru-tas da época e outros. Perambulam pela cida-de e muitos deles, como os vendedores deamendoins e flores, percorrem os bares e res-taurantes da cidade, ao longo da madrugada.Outros ainda, vivem da coleta de papel con-seguido nos lixos das lojas e residências, mui-tas vezes acompanhados de todo o seu grupofamiliar que se instala em alguns pontos da

cidade6 para selecionar e preparar o produtopara a venda. A situação de degradação emque vivem é gritante. Misturados ao lixo, dor-

mindo em caixas de papelão ou nas “carro-ças” carregadas, que muitos deles, como aum “burro de carga”, arrastam pela cidade.As famílias “catadoras de papel”, muitas ve-zes, trabalham deixando os bebês ali, mistu-rados ao papel coletado durante a “via-sacra”pela cidade.

Algumas crianças limpam pára-brisas de car-ros ou fazem a venda de seus produtos, oca-sião também em que muitos mendigam. É

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5 - Refiro-me ao texto de Freud“Três Ensaios para uma teoriada sexualidade”, EdiçãoStandard das Obras psico-lógicas Completas, Rio deJaneiro: Imago Editora, Vol. VII,1972.

6-Em Belo Horizonte, atual-mente existe uma “Associaçãodos catadores de papel”organizada por instituiçõesfilantrópicas apoiadas pelogoverno municipal, que forjoulugares próprios (galpões) paraa realização do trabalho deseleção do papel e preparaçãopara a venda.

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importante escutar o tipo de relação que es-tabelecem. “Compra pra me ajudar?” ou “Senão vai comprar, me dá um trocado ou umacoisa de comer?”. Na verdade, o sujeito aliestabece mais que uma relação de troca co-mercial, mas uma certa “barganha” na qualestá em questão o objeto de que dispõe ou aoferta de sua própria condição. É por sua con-dição que o outro lhe deve algo. Isso põe em

questão o conjunto de mecanismos sociais,na medida em que o sujeito não tem comoatribuir a responsabilidade pelo que lhe falta,não sabendo a quem endereçar-se.

Alguns destes grupos, como os de vigias oulavadores de carro, têm uma organização pe-culiar. Estabelecem os limites territoriais ondecada um faz seu “ponto” de trabalho. Nessesterritórios as regras são claras e a organizaçãodo trabalho, explícita. Há, por exemplo, umanorma bem definida para a divisão do traba-lho. Aquele que avistar primeiro e sinalizar ocarro que chega para ser “vigiado”ou lavado,deve gritar “ferrei”. Este significante é, aomesmo tempo, usado na gíria no sentido de“ferrar”alguém, prejudicar, como também, nalíngua do dicionário7, usado com o sentido demarcar, obrigar a aceitar, impingir, mas tam-bém investir, entregar-se, dedicar-se. Ao somdeste grito, “ferrei”, os outros devem se con-tentar em esperar atentos a oportunidade paraseu próprio grito.

Alguns grupos se constituem e mantêm umacerta cumplicidade entre os membros, prote-gendo-se mutuamente, diferente dos meni-nos que vivem na rua que fazem seu laço no“bando” no qual o líder detém um poder in-tenso. Estes nomeiam os trabalhadores de“pregos”, “otários” e a convivência entre elesé quase sempre, conflituosa. Ao contrário dosmeninos com trajetória de rua que têm nospoliciais seus maiores inimigos, estes estãosempre às voltas com os fiscais que precipi-tam os fantasmas da perda.

Depois de um dia, ou muitas vezes, de umamadrugada de trabalho, os meninos trabalha-dores retornam para suas casas com seu pas-saporte - o dinheiro para o sustento da famí-lia. Família muitas vezes “desestruturada”, “in-completa”, como comumente é definida. Nãoobstante, para muitos, o retorno cotidiano àfamília vai sendo dificultado, sobretudo, quan-do o ganho é insuficiente. Ao lado disso, otempo de permanência na rua intensifica asrelações e os atrativos de um sustento dife-rente e os levam, pouco a pouco, ao desenla-ce com o grupo familiar. Os laços vão enfra-quecendo e, muitos deles, começam a traçaroutro destino, aproximando-se dos bandosdaqueles que “vivem” na rua. O trabalho co-meça a se constituir num contra-valor, poisdão-se conta de que o que alguns conseguemcom um furto, é significativamente mais doque ele consegue em dias de trabalho. O ban-do vai progressivamente substituindo os laçoscom a família, na medida em que o líder con-trola, vigia e pune, mas também protege cadaum.

Assim, está feita a travessia... menino na rua -menino de rua. É importante ressaltar, porém,que não se trata de pensar esta como sendouma trajetória comum aos “meninos de rua”nem, tampouco, as únicas razões determi-nantes de sua ida para a rua. Se trago estaquestão é para assinalar que estas crianças eadolescentes podem encontrar neste percur-so, as facilidades de sua permanência na rua,uma vez que, muitas vezes, estão excluídasda maioria dos bens sociais e dos serviços deassistência.

Uma questão interessante se depreende daí.Embora estas crianças e adolescentes sejam,como as outras, personagens do mesmo pal-

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7 - Verificar: Ferreira, AurélioBuarque. Novo dicionário Aurélio,Rio de Janeiro: Editora NovaFronteira, 1986.

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co - a rua - elas mantêm ali, uma relação dife-renciada. Como foi dito, organizam-se em gru-pos e não em bandos; mantêm laços com afamília e, muitas vezes, com a escola. Man-têm outro tipo de laço com a comunidadeque não é fundado na violência e uma rela-ção menos utilitária com as instituições, em-bora padeçam como as outras que vivem ali,do risco, dispersão e da violência da rua. Oque permite que muitas destas crianças e ado-lescentes não sejam tragadas pelas “atrações”da rua e entregues ao excesso que a rua ofe-rece?

Embora esta seja uma pergunta que não secontenta com uma única resposta, arrisco umaconsideração. O que permite ao sujeito umacerta resignação ao gozo desregrado que a ruaoferece, é o “trabalho” pelo que ele com-porta de simbólico - enquanto o que possibi-lita uma relação com o objeto que não é daordem do rapto, do sequestro, da violação.Mesmo quando se trata de uma “barganha”,uma transação de certo modo fraudulenta,“me dê algo em troca de nada” - o campo dooutro não é invadido e o objeto apreendidocomo o é, entre os meninos que vivem narua.

Quanto às crianças e adolescentes que fazemda rua a “casa”, os chamados “meninos derua”, embora não exista estatística para usar-mos como argumento, sabemos que muitosdeles não chegam a idade adulta, morrendoprecocemente, vítimas da violência ou dosacidentes provocados pelas situações que vi-vem ali. Muitos passam a vida adulta confina-dos em cadeias públicas, uma vez que come-tem graves delitos. A rua é o coração da pulsãode morte, e é nesta pulsação que essas crian-ças e adolescentes investem na luta pela so-brevivência.

Quando a rua é a “casa”, é preciso produzirdaí um saber e um conhecimento que éconstruído com astúcia e inteligência. Entrarna lógica da rua implica em “de-significar” umasérie de coisas e valores. Sobreviver, quandotudo aponta para a morte não deixa de seruma vivência sempre traumática. É preciso criardo nada.

A verdade do que vivem vem inscrita no cor-po, como soletração de um excesso, de umgozo sem borda. Corpo alheio ao prazer, lan-çado às experiências de sofrimento e desam-

paro que eles cobrem com roupas “de mar-ca”. São produtos de furtos ou conseguidosno que denominam “roda-da-troca”8, seu cen-tro comercial. No dia-a-dia, a roupa deve fa-vorecer a mobilidade, atentos que estão àsoportunidades de furtos, à vigilância policial,aos “intrujões”- nome dado aos adultosatravessadores que compram ou trocam osprodutos de furtos para revenda . O boné, acamiseta e o short que tampam o sexo e adiferença. Meninos e meninas, numa primei-ra visada, são indiferenciáveis. O corpo funcio-na como uma espécie de “guardador”. Sob oshort, guarda-se a “lupa”, óculos conseguidosnos “descuidos”- espécie de furto; o trapoembebido de “tinner” - droga largamente uti-lizada por eles. Na boca, “as cordas”-correntinhas de ouro roubadas. É comum te-rem várias camisetas uma sobre a outra. Oboné esconde o rosto para que não seja facil-mente identificado.

Os produtos de furtos - a parada - é deposita-do em algum boeiro da cidade juntamente como cobertor e o papelão com que preparamsua cama. A “parada” é necessária para queos produtos roubados sejam esquecidos paradepois serem comercializados ou trocados. Obueiro só é violado por um rival de outro ban-do o que acaba em brigas violentas.

O lugar de dormir é frequentemente alteradopelas circunstâncias da rua. As marquises, via-dutos, casarões ou prédios abandonados, pra-ças, portas de hotéis ou restaurantes - poisdali exala um vapor quente que ilude o frio danoite - ou dentro de caixas de papelão. Ofator climático, a presença de transeuntes e oconstante desentendimento com a vizinhan-ça dos locais “escolhidos”, a vigilância policial

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8 - A “roda-da-troca” é umaglomerado informal de pessoasque comercializam ou trocamprodutos.

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e a necessidade de não serem identificados,levam a uma mudança intermitente de lugar.Atualmente algumas cidades dispõem de “al-bergues”9 em alguns pontos e, muitos deles,passam o dia na rua e dormem nos alberguesindicados pelos educadores sociais das “equi-pes de abordagem”.

A gramática do espaço é assim fundada deuma forma distinta daquela comumente usa-da. Nenhuma relação afetiva com o lugar,nenhuma referência mais permanente, nenhu-ma linha para marcar um sítio, que seja, nestecampo tão exposto aos assaltos, à violação, àviolência. Também a relação que estes meni-nos estabelecem com as Unidades de Aten-dimento dos diversos Programas é, não raro,da mesma forma, utilitária. Um uso que pro-põe uma certa “conformação” do espaço, fa-zendo dele uma extensão da rua. Os espaçossão muitas vezes quebrados, arrombados,destruídos. O que nos levaria a perguntar: porque esses meninos destroem o que foiconstruído para acolhê-los? Mesmo aquelesque têm com o lugar uma certa relação afetiva,

uma presença regular? Não é senão uma re-petição, na tentativa de elaborarem. Não sig-nifica que eles não dão valor ao que lhes éoferecido, mas que ali, onde a transferênciatornou-se possível, eles trazem a repetição.

O nome próprio é adulterado em cada insti-tuição em que passam e na rua, ganham umapelido que o lança, muitas vezes, à indigên-cia. Para os “considerados” - pessoas comquem estabelecem um laço afetivo, háchances de se apresentarem com o verdadei-ro nome. Às vezes, isso leva muito tempo.

No bando, ganha nome de coisa: “manchi-nha”, “peninha”, “vampirinho” “toquinho” oude proveniência, “carioca”, “baiana”... Pode-mos dizer que esta adulteração do nome pró-prio é um dos mecanismos de proteção a querecorrem para sua sobrevivência. Isso não estáexcluído. Contudo, interessa-nos pensar asimplicações que tem essa adulteração no su-jeito, notando a leitura que a psicanálise fazdo nome próprio e de sua função.

O nome não é como um substantivo comumcom o qual se pode designar os objetos e osseres inanimados. O nome não guarda seme-lhança com as demais palavras que, sejamquais forem suas distinções, mantêm uma certasolidariedade e podem definirem-se entre si.Ele não é passível de significação. “O nome ésinal daquele que fala, o traço que pode deixarpara atestar um dizer e permite dispor de umreferencial aparentemente seguro de identida-de e da singularidade.” (Pommier, 1992: 20)

Sinal daquele que fala, o nome perdido nasencruzilhadas da rua, provoca a perda da voze da singularidade.

Podemos estabelecer uma distinção entre oprenome e o patronímico. Diferentemente doprenome que está sob a égide da identificaçãoimaginária, na medida em que muitas pessoaspodem ter o mesmo nome que carrega umasignificação e permite designar um atributo oufunção, o patronímico não se estrutura na mes-ma lógica. É ele que não permite coletivizarcomo ”Marias”, “Josés” , tampouco, designaratributos ou funções posto que concerne uni-camente ao lugar numa filiação, numa descen-dência. É o nome patronímico o que não per-mite que se perca a identidade no anonimatoe no coletivizável do grupo social, ele tem,portanto, valor simbólico.

Tânia Ferreira

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9- Os Programas de Atendimentodas ONGS e Prefeitura Muni-cipal, dispõe de uma Rede deassistência. Os “educadoressociais” da equipe de abor-dagem fazem contato com elesnos seus locais de permanênciana rua e os encaminham aoslocais de atendimento.

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Nas mudanças de patronímico, presentes en-tre os artistas e religiosos, por exemplo, onome escolhido constitui-se num memorialda perda do patronímico e pode ser sinal deuma carência de identidade para a qual bus-ca-se remédio num pilar mais seguro e gran-dioso como na obra ou em Deus.(Pommier,1992: 20)

No que se refere aos “meninos de rua”, oque se passa é outra coisa. É a uma adultera-ção do nome como atestado de sua necessi-dade de anonimato para o exercício de atosilícitos que a vida na rua impõe. É na impro-priedade das ações que buscam a transgres-são reiterada da lei. São atos sem assinatura,posto que os nomes são alterados constante-mente. Nenhum sinal, nenhum resíduo dopatronímico. O que não deixa também dedenunciar uma insuficiência paterna que lan-ça o sujeito a um gozo desregrado. A perdado nome garante uma imobilidade da funçãopaterna que viria fazer borda ao excesso degozo10, deixando o sujeito aberto aos seusavatares.

Para escolher um certo caminho para o gozo,a perda do patronímico é necessária porque,como foi dito, a função paterna barra essecaminho. É uma estratégia para o sujeito su-portar a ferida narcísica proveniente não sódessa deficiência paterna, mas também deseus atos de contravenção.

Na rua, não há meios de deixar de “fazer onome”. Uma identidade no bando é neces-sária para a sua pertinência. Os apelidos lhesdão acesso a inserção no banditismo. “estanova designação qualifica, pelo viés do idealàs avessas, o indivíduo para o ingresso nummeio coletivo disperso.” (Lage, 1982).

Na rua, é o “malocão”, “o bonecão”, a “xuxa”quem rouba, usa drogas, age, às vezes, vio-lentamente. Desta maneira o João, o Marcosou a Maria podem isentar-se não só do pesodas contravenções, mas do abalo narcísicodecorrente delas. É como se o sujeito nãoestivesse ali, habitando seu ato. Não se impli-ca, não se responsabiliza, não responde porele.

Esta questão é importante ser escutada peloseducadores dos Programas de Atendimento,que muitas vezes, permitem que no seu inte-rior, o “nome de rua” se mantenha, consen-

tindo nos atos desabitados pelo sujeito, nosatos sem assinatura, perpetuando sua condi-ção.

A idade também é forjada conforme as cir-cunstâncias. Se do ponto de vista jurídico osmenores de quatorze anos se “recolhidos” poralgum ato infracionário são destinados a enti-dades ou programas de atendimento, os mai-ores de quatorze anos devem ser levados àsdelegacias quando apreendidos, convém au-mentar ou diminiuir a idade de acordo com amaior ou menor possibilidade de conseguir li-bertar-se em tempo mais curto.

Assim, o anonimato é perseguido em cadacircunstância da vida na rua. Há uma corridacontra o traço de identidade, até o estado deindigência, de ser objetalizado.

A droga funciona como um tipo de “amorte-cedor” para o corpo que cai, que padece dasbrigas, torturas, frio e fome. É o que faz a“coragem” para o enfretamento dos riscos quea rua impõe. O que também possibilita algu-mas “viagens”. O sonho com um prazer queo corpo desconhece ou já esqueceu. Um usoque poderíamos chamar “circunstancial” dadroga, na medida em que faz parte das estra-tégias de sobrevivência: “não dá para ficar narua de cara limpa”. Desse modo podemos di-zer que estes meninos estão “intoxicados” pelarua. A rua é a droga. Não obstante o uso cir-cunstancial não raro é prolongado e contínuo,o que cria uma dependência de fato. Algunsusam e abusam das drogas - o tinner, e o cracksão as mais utilizadas atualmente.

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10 - O termo gozo é tomadoaqui tal como o postula Lacan,como satisfação da pulsão,antinômico ao prazer, ligado àpulsão de morte, já teorizadopor Freud, nos termos do “alémdo prazer.”

A droga funcionacomo um tipo de“amortecedor”para o corpo quecai, que padecedas brigas, torturas,frio e fome.

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Tradicionalmente o tratamento dado á ques-tão é centrado na droga através de medidaspedagógicas. Sabemos entretanto, que dar tra-tamento a esta questão significa ir mais alémda pedagogia, deslocando o problema centradona droga para o sujeito que se droga, para afunção que ela desempenha para o sujeito.

A alimentação é adquirida através de furtos,do pacto com os donos de restaurantes, dos“tíquetes” conseguidos nos furtos e também,junto aos Programas de Atendimento. Tudo éconsumido de uma só vez, posto que oimediatismo marca as ações.

É impossível viver na rua desvinculado de umbando. A lógica enlouquecida da rua éexcludente e exige um modo de organizaçãono qual o sujeito desaparece. O bando é umahorda governada despoticamente, quase sem-pre por um macho poderoso. Este se impõepela força, esperteza, coragem, capacidade deliderança e sobretudo, pelo conhecimento darua adquirido com o tempo. O bando trans-forma-se em uma bolha fechada no universoda rua.

Hoje, o cenário belorizontino é outro. Os pro-gramas de atendimento conseguiram desarti-cular o modo de organização dos bandos emtorno do líder e sua sujeição a ele não é tãointensa. O líder, já não é mais o provedor namedida em que os Programas oferecem pro-teção e proventos e os meninos já não estão

mais tão sob sua custódia. Com isso, o nívelde violência entre os meninos de rua dimi-nuiu. Contudo, criou-se um impasse ético11 -a rua tornou-se mais atrativa ainda para eles.Em outras cidades, porém, os bandos têm-setornado cada vez mais fortes e onipotentes.

A vida sexual precoce leva os adolescentes ase transformarem em pais e mães de formaabrupta e sem estrutura para estas funções,arrastando pela rua e pelos programas deatendimento os bebês fadados ao mesmodestino.

As doenças sexualmente transmissíveis sãoproeminentes. A menina-mulher é a que pa-dece mais intensamente pelo lugar que elaocupa nas relações com os parceiros. Aliena-da, resta como objeto de gozo do Outro. NasUnidades de Atendimento é comum vê-lasocupadas em subir as bainhas das saias parasedução do pretendido ou ocupadas em es-crever ou ditar cartas de amor. Esta vida sexu-al precoce, ativa, intensa é vivida sem quecada um seja sujeito de sua sexualidade. Ouso e abuso sexual faz parte do código feroze implacável da rua onde é comum sexo eviolência se conjugarem.

A linguagem é própria e de deciframento pos-sível só por um igual. Mais que um artifício desobrevivência, nos coloca questões. Esta lín-gua criada faz semblante a essa indigência, aesse isolamento ou no bando ou nas institui-ções de assistência e vai se conformando aosseus limites, com pouco alcance fora do uni-verso da rua. Não chega a se constituir numasubversão do código, mas numa “inversão”,numa língua amordaçada que expressa suavontade de sentido, que faz circular o pesoda pobreza. “Tirar picote”, ter relações sexu-ais; “escamar”, bater, espancar; “enquadrar”,roubar casa; “bico” , os observadores; “morce-gar” , fazer malandragens.

O risco é de que nessa língua amordaçada, osujeito perca por aí, a palavra... pois esse dis-curso na medida em que comanda o sintomasocial, pode se reduzir a um laço e a umaorganização onde o que é buscado de um, nooutro, é a morte juntos. ( Melman, 1992).

O lazer e as brincadeiras estão presentes noseu cotidiano. Brincam nos fliperamas ou nosparques, onde descem nos escorregadores degraça depois da chuva quando assumem o

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11- Muniz Reinaldo Maia Planode Redefinição da Estratégia deImplementação do ProgramaMiguilin - Belo Horizonte: Mimeo1998)

A lógicaenlouquecida da

rua é excludente eexige um modo de

organização noqual o sujeitodesaparece.

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trabalho de enxugá-los. Os “carrinhos de cho-que” são os seus preferidos. Em dias de sol,os banhos nos chafarizes das praças ou naslagoas distantes é uma boa brincadeira. Nolitoral, além de frequentarem as praias comobanhistas, tornam-se os “ratos de praia”- aque-les que roubam a população. Participam assi-duamente dos eventos em lugares públicos -comícios, shows, passeatas. Frequentam ca-sas de danças e são exímios dançarinos. Exi-bem a dança da moda aprendida também nasTV’S que espreitam das vitrines ou das insti-tuições por onde perambulam. O turismotambém está presente, pois visitam sempreoutros Estados. Os meninos mineiros viajamsobretudo para o litoral do Espírito Santo, le-vados nas caronas ou nos vagões de minérioque invadem para fazê-los chegar a seus des-tinos.

Seguros em suas decisões, onipotentes dian-te do enfrentamento dos perigos da rua, do-nos de seus destinos, feito “adultos preconi-zados”, deixam assim as marcas de uma in-fância e adolescência, muitas vezes, negada.Como poderiam esses meninos, objetos demedo e horror da população, serem vistoscomo crianças ou adolescentes?

Cambalhotas nas ruas do centro da cidade,malabarismos nas traseiras e em cima dosônibus, o movimento de vai-e-vem entre oscarros, a capoeira dançada em meio aos tran-seuntes, não deixam de ser tentativas demostrar os contornos da infância e adolescên-cia roubadas e veladas pelas suas ações e modode viver na rua.

2 - O Psicólogo e os Impasses daAssistência

Não é tarefa fácil identificar o lugar e a fun-ção do psicólogo na política atual de assistên-cia aos meninos na sua relação com a rua.Vamos partir de questões do cotidiano dos Pro-gramas de Atendimento, para introduzir ques-tionamentos, pois é no interior destes Progra-mas que os psicólogos são chamados a inter-virem. Primeiramente, é preciso trazer umpouco de história. Vejamos alguns aspectosda assistência em Minas Gerais e algumasconsiderações sobre a política nacional.

É preciso sublinhar que estes Programas deAssistência aos “meninos de rua” estão inscri-tos no âmbito geral das políticas sociais do país,sempre marcadas pela hesitação, senão pelodescompromisso governamental no qual osrecursos financeiros são poucos e a vontadepolítica, quase sempre, ausente.

As medidas de assistência ao “menor” sem-pre foram definidas a partir de critérios legais.O “código de menores” definia a políticadirigida àqueles que, inseridos na miséria desuas famílias, tornavam-se dependentes daajuda pública. Presidido por uma tônica corre-tiva - “educar e disciplinar moral, física e civi-camente os menores” vistos como produtosde pais “irresponsáveis”ou da “orfandade”, o

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O risco é de quenessa línguaamordaçada, osujeito perca poraí, a palavra...

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código já dispunha da internação como solu-ção do problema do “menor”. O problemasituado nas famílias, diluía a questão funda-mental geradora dos chamados “menores”- adesigualdade social.

Firmado numa perspectiva individualizante doproblema, a solução estava posta - internaçãodestas crianças e adolescentes em instituiçõeseducacionais onde teriam corrigidos os errose defeitos de sociabilidade adquiridos ou atra-vés da família ou da orfandade.

Em 1941, uma lei governamental criava o SAM- Serviço de Assistência ao Menor, queensejava ir além do caráter normativo do có-digo, centralizando a execução de uma políti-ca nacional de assistência. O fracasso dessaexperiência de confinamento e exclusão dascrianças e adolescentes do contexto margi-nalizador, vazou os muros do SAM e as esta-tísticas apontavam para um aumento crescen-te e significativo da delinquência. Dez anosdepois desta constatação, o Estado, pressio-nado pela sociedade, propõe a criação de uma“Entidade Liberal” que buscasse a humanizaçãodo atendimento condenado à internação. As-sim, em 1964, é criada a Fundação Nacionaldo Bem-Estar do Menor - Funabem, geradanos laboratórios da ditadura no Brasil, da qualfoi a expressão viva e concreta, para respon-der à falência do SAM e para formular e imple-mentar uma política nacional de assistência.

Absorvendo os recursos das burocracias esta-duais de assistência, são instituídas as Funda-ções Estaduais do Bem-Estar do Menor -Febem, em substituição ao DSM - Departa-mento Social do Menor.

Resulta desta centralização normativa, políti-ca e financeira exercida pela Funabem, a in-capacidade prática das Fundações Estaduais edas Entidades Convenentes, que além de nãopoderem definir os recursos segundo as ne-cessidades de cada Estado, deveriam adapta-rem-se às definições vindas de cima.

Neste cenário, a Febem/MG toma a dianteirade uma discussão nacional da política de bem-estar do menor. Evoluindo no sentido de umainstituição completa, fechada e segregativa,reproduziu ao longo de quase duas décadastoda uma estrutura de controle social das crian-ças e adolescentes, em detrimento de suaassistência. As Unidades de Atendimento

eram, dotadas de escola formal, pequenosambulatórios ou hospitais, esporte, lazer ecultura, mantendo excluídos da comunidadeseus filhos, contrariando seu principal objeti-vo - de socialização dessas crianças e jovens.

O então dirigente da Febem/MG12 abre à co-munidade as clausuras da Febem e convidaaos educadores e trabalhadores da instituição,a “desfebenizarem-se”. Denuncia o binômio“segurança e desenvolvimento” como inter-pretado e vivenciado como controle social ecrescimento econômico. O conjunto das mo-dalidades de atendimento no Brasil poderiaser assim resumido: apreensão triagem �rotulação � deportação � confinamento. Ascrianças e adolescentes das regiões metropo-litanas eram deportadas para o interior dos Es-tados, ficando cada vez mais impossível seuretorno ao grupo de origem. Dizia seu diri-gente:

“Os órgãos de Bem-estar do Menor devemser encarados e assumidos não como políticassociais a serem otimizadas em sua imple-mentação, mas sim, como massas falidas cujodirigente deve ter o espírito de um síndico nadefinição do que fazer com a herança trágicade um passado autoritário ainda fresco noscorações e mentes de quantos os vivencia-mos.” (Costa, 1985).

A partir daí, fez-se um plano de “transiçãopolítica” crente na “Nova República” que de-veria executar a desmontagem das unidadesda Febem, articular junto às autoridades e for-ças comunitárias e contando com o apoio téc-nico, as tendências à municipalização ecomunitarização do atendimento.

De posse de todos os dados que sustentavamo “plano diretor” de transição política, aFebem/MG descobre um grande número decrianças e adolescentes que entravam e sai-am da instituição inúmeras vezes que deno-minou “irresidentes”, depois chamados “me-ninos de rua”.

A partir daí, A Febem/MG, em convênio comas Organizações Não Governamentais (Ongs),faz sua primeira tentativa de “diagnóstico13”da realidade desses meninos na perspectivade criar novas formas de atendimento atravésde “programas em meio aberto”.

Como todos os programas “alternativos”, quepadecem de um caráter provisório, informal,marcados pelo acanhamento e improvisação,

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12- Refiro-me ao Prof. AntônioCarlos Gomes da Costa que teveum papel marcante na histórianacional da assistência.

13 - Eu participei do grupo detécnicos responsáveis pelodiagnóstico dos “meninos derua”, nos seus locais de fixação:marquises, viadutos, fliperamas,criando as primeiras estratégiasde abordagem e de atendimento.

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este não se sustentou muito tempo, emboraseus resultados tenham se mostrado positivos.

Em 1987, a equipe responsável pelo dianósticoelaborou o primeiro projeto da “rede de Aten-dimento ao(à) menino(a) de rua”, pela inser-ção gradativa e progressiva na rede de atendi-mento: abordagem � casa aberta � albergues� casas lares � repúblicas.

Naquela época, já nos perguntávamos poresse modelo, por sua eficácia, pelo receio derepetir a história de segregação, da criação detantos equipamentos fundados nas caracterís-ticas, nos “traços” desta clientela. De uma“rede” onde não fôssemos capturados juntocom os meninos.

Na maioria dos outros Estados brasileiros, guar-dadas as especificidades, uma preocupaçãocom os “meninos de rua” se instaurou. Poriniciativa da Funabem e do Unicef, criou-se o“Projeto Alternativas de Atendimento aos(às)Meninos(as) de Rua” que depois desvinculou-se destas instituições e se inscreveu como“Movimento Nacional”, reunindo técnicos etrabalhadores de vários Estados para troca deexperiências e delineamento das políticas,através dos “seminários-estágios”.

O Estatuto da Criança e Adolescente - ECA -trouxe mudanças e novas perspectivas a nívelnacional.

Curiosamente, entretanto, apesar do ECA tersido promulgado em 1990, recentemente aRede Globo14 anunciou uma rebelião naFebem dos Imigrantes, em São Paulo, quedurou mais de dezesseis horas. Trezentos me-nores fugiram e quatro foram mortos. As alasda instituição foram destruídas pelo fogo alça-do por eles e dois monitores eram mantidoscomo reféns. Um cenário que permanecepara além do tempo e das mudanças políticasque não podemos assistir impassíveis.

Atentos que estamos ao movimento atual e àpolítica de assistência, a nossa pergunta insis-te com vigor: Qual a resposta a ser dada pe-los profissionais psicólogos no âmbito destesserviços de assistência aos “meninos de rua”?

2.1- No Princípio Não Era o Verbo...

As crianças, ao longo do tempo, foram ga-nhando denominações: “carentes, abandona-das, pervertidas e anormais, infratoras, meni-

nos de rua, em situação de risco pessoal esocial... e a assistência, historicamente seestruturou por uma tônica adaptativo-repressiva.

Para estas crianças e adolescentes, tal comopara os loucos, a ordem era a institucionaliza-ção, segregação, exclusão, veladas sob o nomede “ressocialização”, “reinserção social”, o quecorrespondia a normatizar, adestrar, operaruma “ortopedia mental”.

Hoje, a maioria dos Programas de Assistênciaé estruturada em “meio aberto”, como pres-creve o ECA. São muitas as demandas: doslojistas, da população, da Igreja, do Estado,das instituições. “Retirar da rua”, “torná-losúteis à sociedade”, salvá-los do pecado”, “pro-teger a população”, “limpar a cidade”, “reedu-cá-los” e uma infinidade de outras.

Mas é do interior dos Programas de Atendi-mento, dos equipamentos criados para o aten-dimento que, de um modo geral, têm o mes-mo semblante, é que devemos nos pergun-tar. A análise de alguns aspectos torna-se im-portante não no sentido de denúncia, mas naperspectiva de fazermos avanços.

Nestes equipamentos ou unidades de atendi-mento é preciso pensar as demandas que che-

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14 - Rede Globo de televisão,Jornal Hoje de 25/10/99

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gam aos educadores e ao profissional psicólo-go. Dissemos que estes últimos são chama-dos a intervir, a dar uma resposta frente a ques-tões que os “meninos de rua” carregam: pro-blemas com furtos, drogas, vida sexual preco-ce, problemas com a lei, o tempo, o espaço.A urgência primeira é de que as coisas “an-dem bem dentro das casas”, diferentementeda rua. Que a droga não seja usada, nem ob-jetos de furtos, nem brigas, atos de agressãoe violência. Numa leitura mais apressada po-deríamos dizer que a instituição demanda aestes profissionais uma intervenção nos pro-blemas de “indisciplina” dos meninos. Algoque se formula assim: “É preciso colocar limi-tes. Eles não dão conta de lidar com limites”.A falta de limites é a queixa principal daque-les que trabalham com os meninos.

Outra demanda é de que os psicólogos parti-cipem das atividades : música, capoeira, inici-ação profissional, geração de renda... Mas qualseria aí o lugar do psicólogo? “Zelador” daordem para que as atividades não sejaminviabilizadas? Pede-se ainda que se observe

e escute os meninos. Muitas vezes uma escu-ta que forneça dados para somarem-se aosda equipe de educadores e compor o “estu-do pessoal e social” do menino, instrumentoque dá subsídio aos “encaminhamento” - fer-ramenta essencial do trabalho. Podemos di-zer que estas demandas são para responder àinstituição, ao bom andamento da instituição.

Quando nos perguntamos sobre a resposta aser dada pelos psicólogos, ficamos nos deba-tendo a procura de um campo teórico, de umdiscurso científico que se aproxime do realvivido por estes meninos. Talvez possamosfazer um primeiro avanço se pudermos bus-car um outro campo, não para reduzir as ques-tões diferentes daquelas de nossos clientes“usuais”, mas que nos possibilite escutar oque se passa com esse sujeito e que nos auxi-lie a pensar e atuar junto a eles. Fazer umatravessia do campo da técnica para o da ética,pois é deste lugar que podemos nos pergun-tar o que queremos quando usamos este ouaquele instrumento, este ou aquele procedi-mento e, sobretudo, qual nosso interesse em-penhado no trabalho.

Desse lugar, podemos pensar uma clínica quenão se reduza a um código de procedimen-tos, circunscritos no que se chama “setting”,na relação entre o terapeuta e seu cliente,um momento intimista no qual se fecha a portado consultório. Aliás, muitos de nós caímosno equívoco de pensar que não é possívelfazer clínica em entidades públicas e com “po-bres” e do mesmo modo, se os espaços sãocoletivos, acreditamos que as intervenções sópodem incidir nos grupos. Parece, às vezes,impensável, fazer clínica com “menino derua”. É também fundada nesta perspectiva queas ações dos psicólogos se transformam emações puramente educativas, ou “psico-peda-gógicas”, embora esta noção não seja forma-lizada de forma incisiva, como mereceria.

Se a dimensão educativa não está excluída daação do psicólogo, sua função não pode estar,porém, restrita a esta dimensão. Não obs-tante, misturados aos “educadores sociais”,nos Programas essencialmente de cunho pe-dagógico, os psicólogos necessitam formalizarsua função. Certamente não poderia respon-der sozinha a esta questão, mas introduzí-la,cada vez de um modo novo, no sentido de

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que cada um se comprometa com ela. Po-rém, dialogando com a minha experiência,pude apurar algumas modalidades de presen-ça do psicólogo nestes serviços de assistên-cia. Primeiramente, como “leitor”. A leiturade aspectos implicados não só na organizaçãodos serviços de assistência, mas na relaçãoque os “meninos de rua” com eles estabele-cem, é de fundamental importância e esca-pa ao trabalho do educador.

Um programa para “menino de rua”, funda-do nos “traços” deste menino, não perpetua-ria a tirania deste significante? Todos serãoatendidos, desde que sejam “de rua”. Se dei-xarem de ser, não terão mais lugar ali, juntoàqueles com os quais conseguem fazer umlaço afetivo. Se todos são de rua, já não sepergunta mais o que é ser “um”.

Os meninos, ao fazerem da rua a casa, CASARUA,criam uma nova topologia, uma estrutura decontinuidade. Retirar da rua, ter a casa sem arua, implica no mesmo aprisionamento. Con-vém introduzir um “e”, criar um novo modode transitar entre a casa e a rua. Tarefa que sefaz no mais além do trabalho pedagógico, naescuta atenta ao modo subjetivo de cada umter sido atravessado por esta experiência.

Sabemos, porém, que podemos escutá-los dolugar do juiz. Daquele que julga os comporta-mentos e atitudes a partir dos valores e doideal social. Ou escutá-los, do lugar do con-descendente - aquele que justifica as açõesdo sujeito a partir daquilo que o determina -sua condição social, sua estrutura ou deses-trutura familiar, escolaridade etc, sem interro-gar a posição do sujeito diante daquilo que odetermina. Podemos escutá-los do lugar domestre, daquele que tudo sabe e passa a de-finir o destino do sujeito sem que ele próprioparticipe. Ou ainda, a partir do discurso religi-oso, aquele que pode ser o mediador da sal-vação do outro.

Estes são modos de escutar, não raros assim,que deixam fora o sujeito. Existe porém, umaescuta que, fundada na ética, faz surgir o su-jeito como interrogante de sua condição eimplicado com seu destino. As primeiras mo-dalidades de escuta, levam a considerar a re-lação transitiva que vai do terapeuta ao paci-

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ente, enquanto esta última, torna o sujeitoativo, o torna analisante de sua história, desuas desventuras. Aí, o sujeito é o verdadeirooperador e antes dos psicólogos se perguntarem

“o que podemos fazer por ele?” , cria-se a possi-bilidade de uma outra pergunta: “o que ele vaifazer para sair deste lugar?” (Viganó, 1997).

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Retirar da rua, ter acasa sem a rua,implica no mesmoaprisionamento.

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Tânia Ferreira

Tânia FerreiraRua: Santa Rita Durão 321 sala 206 Bairro Funcionários

CEP.: 30140-110 Belo Horizonte/MGTel.: (31) 223-1501 ou 9956-1501

À propósito dos portadores de sofrimento psí-quico, temos pensado na “política da não ex-clusão”15, que é distinta da inclusão. Para pen-sarmos a cidadania desses meninos e meni-nas, é preciso começarmos por indagar de quemaneira cada um se organizou subjetivamen-te para responder pelas intempéries que a vidana rua lhes reservou. Não se trata de tornar osujeito igual a todos os outros, de programá-lopara adaptar-se à sociedade, mas de que ele

possa sustentar sua diferença sem ser excluí-do ou excluir-se do social.

Se trouxe aqui as especificidades da trajetó-ria-história dos meninos na sua relação com arua, é justamente para que possamos demar-car a diferença e concluirmos que são crian-ças e adolescentes iguais a todos os outros e,portanto, merecem um tratamento igual aoque os outros têm direito, pois diferença nãoé desigualdade.

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15 - Verificar: Lobosque, AnaMarta, Princípios para umaclínica Antimanicomial e outrosescritos, São Paulo: hucitec,1997.

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