Os lusíadas, de luís de camões(1)

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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões “Milhor é merecê-los sem os ter Que possuí-los sem os merecer.” “Os Lusíadas”, Canto IX Sessões de Estudo - PEP Exame Nacional de Português - 12º Ano Docentes: António Fraga Carla Rosete Esmeralda Alves Maria José Afonso Sandra Clarisse Teles

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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões

“Milhor é merecê-los sem os terQue possuí-los sem os merecer.”

“Os Lusíadas”, Canto IX

Sessões de Estudo - PEPExame Nacional de Português - 12º Ano

Docentes: António Fraga Carla Rosete

Esmeralda AlvesMaria José Afonso

Sandra Clarisse Teles

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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões

O CARÁTER ÉPICO

épico ,adj., 1. Da epopeia ou a ela relativo; próprio da epopeia.; 2. Alto, levantado, sublime.

Noção de epopeia – Narração de feitos heróicos de um indivíduo ou de um povo, de interesse nacional com interesse universal, em estilo grandioso.

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Dizer que uma obra, uma personagem, um acontecimento tem caráter épico significa...

- Que é grandioso, elevado;

- Que há uma exaltação de um herói, individual ou coletivo;

- Que é difícil de concretizar;

- O caráter épico de uma obra implica sempre uma larga abrangência de acontecimentos que, quase sempre, se concretiza num texto extenso.

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Estrutura Interna

Proposição (estrofes 1-3)

Invocação (estrofes 4-5)

Dedicatória (estrofes 6-18)

Narração – in medias res (a partir da estrofe 19)

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Planos

A obra desenvolve-se em volta de quatro planos que se entrecruzam na narrativa. São eles:

Plano da Viagem- a descoberta do caminho marítimo para a Índia, correspondente ao presente da narração;

Plano da Mitologia- toda a intriga dos deuses, desde que se inicia a viagem até ao seu fim; estes assumem-se ora como adjuvantes, ora como oponentes dos portugueses;

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Plano da História de Portugalo passado relatado por Vasco da Gama e por Paulo da Gama;o futuro visualizado pelas profecias de Júpiter, do Adamastor e de Tethys e pelo sonho de D. Manuel;o presente glorificado por Camões, especialmente no episódio de “A Ilha dos Amores”.

Plano das Considerações do Poeta - sobretudo nos finais de Canto, onde o poeta tece considerações de caráter pessoal sobre matérias muito diferenciadas.

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• SINOPSE

Canto I

Proposição; Invocação; Dedicatória;Início da Narração: navegação no Índico; chegada a Mombaça. Maquinações de Baco contra os portugueses.O poeta reflete sobre a fragilidade da vida humana. Refere todos os perigos que o homem tem que enfrentar e a sua sujeição aos desígnios dos deuses. Face à superioridade dos deuses, como poderá subsistir o Homem, “bicho da terra tão pequeno”, escapando à sua condição mortal? (I, 105-106)

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Canto II

Canto IIICanto IV

Narração: chegada a Melinde; pedido do rei de Melinde para ouvir a História de Portugal. Relato de Vasco da Gama: descrição da Europa; história de Luso a Viriato; referência ao Conde D. Henrique e à formação da nacionalidade; 1ª dinastia; 2ª dinastia, até D. Manuel I; Despedidas em Belém e discurso do Velho do Restelo

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Canto V

Narração da viagem, desde Lisboa a Melinde. Episódio do gigante Adamastor e conclusão da narração da viagem até Melinde.O poeta põe em destaque a importância das letras e lamenta o facto de os portugueses nem sempre lhes darem valor: “Porque quem não sabe arte não na estima.”, aliando a força e a coragem ao saber e à eloquência. (V, 92-100)

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Canto VI

Despedida de Melinde e viagem para a Índia. Tempestade (novas maquinações de Baco). Avista-se Calecut.Realça o valor das honras e da glória alcançados por mérito próprio.Elogia os nautas pela sua bravura, coragem e persistência.Enumera um conjunto de renúncias e atos que deve praticar todo aquele que quiser alcançar a imortalidade. (VI, 95-99)

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Canto VII

Chegada à Índia.Visita de Vasco da Gama ao Samorim.Visita do Catual às naus.O poeta lamenta-se pelo desprezo dos portugueses que, em vez de lhe darem a recompensa, dão-lhe trabalhos. Refere-se com amargura à ingratidão de que foi alvo. Considera, ainda, ser este um mau exemplo para os escritores vindouros. (VII, 78-87)

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Canto VIII

Partindo do significado das figuras das bandeiras, Paulo da Gama fala ao Catual de outras figuras da História de Portugal. Vasco da Gama é impedido de embarcar e resgatado a troco de mercadorias.O poeta lamenta a importância “Do dinheiro, que a tudo nos obriga.”, fonte de corrupções e de traição. Refere que o dinheiro é capaz de corromper o pobre e o rico e, até mesmo, o sacerdote. (VIII, 96-99)

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Canto IX

Viagem de regresso dos Portugueses.“A Ilha dos Amores.” – a recompensa.Condenação da cobiça, da ambição e da tirania e conselhos aos que aspiram alcançar a condição de herói, que implica o domínio do ócio, o refreio da cobiça e da ambição, leis justas e a luta contra os sarracenos. (IX, 88-95)

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Canto X

Embarque dos navegadores e regresso à Pátria.Exortação a D. Sebastião e vaticínio de glórias futuras para os portugueses.O Poeta confessa estar cansado de “cantar a gente surda e endurecida”; lamentações do poeta: denúncia da decadência da Pátria, renovação dos apelos já feitos ao Rei na Dedicatória, incentivando-o a tomar medidas que reponham o país na senda do êxito e da glória. (X, 145-146)

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Reflexões de Camões sobre:

A condição humana e mortal - “Bicho da Terra” (C. I)

O valor da literatura para o reconhecimento do mérito dos heróis – a pena e a espada devem ser aliadas (C. V)

O valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio e de forma desinteressada, sem tirania ou cobiça (C. VI /C.IX)

O poder vil conferido pelo dinheiro/ouro (C.VIII)

O infortúnio dos poetas que, como ele, não são reconhecidos (C.VII/IX)

A decadência da pátria, constatando a oposição entre o estado do reino e o teor central do seu canto glorioso. Exortação ao rei D. Sebastião para dar continuidade à obra grandiosa do povo português.(C. X)

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MITIFICAÇÃO DO HERÓIO heroísmo assume, na obra, um conceito abstrato, resultante da deceção face aos compatriotas que não correspondem ao modelo a retratar;

Conceito de heroísmo (modelo global): perfeição no plano moral, intelectual e no domínio da ação; a imagem de um homem inteiro que impõe a sua vontade e que afirma a sua liberdade;

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- apresentação do herói na Proposição (“peito ilustre lusitano”);

- Consílio dos Deuses no Olimpo: construção do herói através da oposição de Baco (“Que esquecerão seus feitos no Oriente/Se lá passar a Lusitana gente”); também pelo enaltecimento de Júpiter, Vénus e Marte;

- Velho do Restelo: comparação dos portugueses a Prometeu e a Ícaro (representantes da negação da pequenez do ser humano face à vontade e à ação, que permitem a concretização); este velho, de aspeto venerável, vai dizer, na hora da partida, que a viagem é um tremendo erro; ora, o facto de, mesmo assim, os nautas não hesitarem, mostra que não haverá qualquer obstáculo que os impeça de concretizar o seu objetivo;

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- Adamastor: a ousadia do povo português que desvendou “os vedados términos” e os segredos “A nenhum humano concedidos/De nobre ou de imortal merecimento”;

- o herói é progressivamente construído, não só pela coragem e valentia, mas pelo facto de deter um novo saber, adquirido pelas suas vivências;

- Ilha dos Amores: momento em que acontece a fusão entre o divino e o terreno; os nautas são elevados à condição de deuses, pois Vénus “Os deuses faz descer ao vil terreno/E os humanos subir ao Céu sereno”;

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- Máquina do Mundo: a ascensão dos heróis humanos, que obtêm o conhecimento, pois Vasco da Gama tem acesso a uma visão do mundo, segundo a teoria de Ptolomeu;

- a divinização do herói nacional é plena no momento em que Vasco da Gama tem acesso ao conhecimento vedado ao mortal comum.

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96Nas naus estar se deixa, vagaroso,Até ver o que o tempo lhe1 descobre;Que não se fia já do cobiçosoRegedor, corrompido e pouco nobre.Veja agora o juízo curiosoQuanto no rico, assi como no pobre,Pode o vil interesse e sede immigaDo dinheiro, que a tudo nos obriga.

97A Polidoro2 mata o Rei Treício,Só por ficar senhor do grão tesouro;Entra, pelo fortíssimo edifício,Com a filha de Acriso3 a chuva de ouro;Pode tanto em Tarpeia4 avaro vícioQue, a troco do metal luzente e louro,Entrega aos inimigos a alta torre,Do qual quase afogada em pago morre.

98Este rende munidas fortalezas;Faz tredoros5 e falsos os amigos;Este a mais nobres faz fazer vilezas,E entrega Capitães aos inimigos;Este corrompe virginais purezas,Sem temer de honra ou fama alguns perigos;Este deprava às vezes as ciências,Os juízos cegando e as consciências;

99Este interpreta mais que sutilmenteOs textos; este faz e desfaz leis;Este causa os perjúrios entre a genteE mil vezes tiranos torna os Reis.Até os que só a Deus omnipotenteSe dedicam, mil vezes ouvireisQue corrompe este encantador, e ilude;Mas não sem cor, contudo, de virtude.

“Os Lusíadas”, Canto VIII1- Vasco da Gama2- Polidoro é morto pelo rei da Trácia, que se apodera do ouro que o jovem levava para tentar salvar Tróia.3- Acriso tenta anular uma profecia (a sua morte às mãos do neto), prendendo a filha numa torre; porém, Júpiter entrou na torre, sob a forma de chuva de ouro, e tornou Dánae mãe de Perseu, que veio a assassinar Acriso.4. Rapariga romana que, na esperança de obter anéis de ouro dos Sabinos que sitiavam Roma, lhes abriu as portas da cidade. Estes, porém, não a pouparam , esmagando-a sob as joias e os escudos.5- traidores

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Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem:

1. Divida o texto em partes lógicas e apresente, para cada uma delas, uma frase que sintetize o respetivo conteúdo.

2. Identifique a anáfora presente nas estrofes 98 e 99, explicitando o seu valor expressivo.

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Proposta de correção:

1. Estas estâncias podem dividir-se em duas partes: a primeira corresponde aos quatro primeiros versos da estrofe 96 e a segunda ao restante texto. Na primeira parte, o narrador dá conta da situação de Vasco da Gama, que regressou às naus depois de ter sido resgatado a troco de mercadorias. Na segunda parte, assiste-se a uma reflexão do poeta que refere os efeitos nefastos do dinheiro em todos os seres humanos, incluindo o rico e o pobre, os traidores, os nobres e até mesmo os reis e os sacerdotes.

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2. A repetição do demonstrativo “Este”, no início dos versos um, três, cinco e sete da estrofe 98 e versos um e três da estrofe 99, constituem a anáfora. “Este” refere-se ao dinheiro, servindo para enumerar a imensidade de situações em que a ganância pelo “metal luzente” altera o comportamento das pessoas: “Faz tredoros e falsos os amigos”, “Este corrompe virginais purezas”, “este faz e desfaz leis;”.

A anáfora, pelo uso do pronome demonstrativo “Este”, reforça a proximidade do elemento “que a tudo nos obriga”.Este recurso pretende mostrar que ninguém está livre de “fazer vilezas” pela posse de dinheiro, conforme mencionado em: “a mais nobres faz fazer vilezas”, “E mil vezes tiranos torna os Reis”, “Até os que só a Deus omnipotente/Se dedicam”).

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76-«Faz-te mercê, barão, a SapiênciaSuprema de, co’os olhos corporais,Veres o que não pode a vã ciênciaDos errados e míseros mortais.Segue-me firme e forte, com prudência,Por este monte espesso, tu co’os mais.»Assi lhe diz e o guia por um matoÁrduo, difícil, duro a humano trato. 77Não andam muito, que no erguido cume Se acharam, onde um campo se esmaltavaDe esmeraldas, rubis, tais que presume A vista que divino chão pisava. Aqui um globo vêem no ar, que o lume Claríssimo por ele penetrava, De modo que o seu centro está evidente, Como a sua superfície, claramente.

79Uniforme, perfeito, em si sustido, Qual, enfim, o Arquetipo que o criou. Vendo o Gama este globo, comovido De espanto e de desejo ali ficou. Diz-lhe a Deusa: - «O transunto1, reduzido Em pequeno volume, aqui te dou Do Mundo aos olhos teus, pera que vejas Por onde vás e irás e o que desejas. 80«Vês aqui a grande máquina do Mundo, Etérea e elemental, que fabricada Assi foi do Saber, alto e profundo, Que é sem princípio e meta limitada. Quem cerca em derredor este rotundo Globo e sua superfície tão limada,É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende, Que a tanto o engenho humano não se estende.

“Os Lusíadas”, Canto X

1-modelo, exemplo;

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Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem:

1. Aponte um exemplo textual que contribua para a construção da mitificação do herói na obra, justificando a sua escolha.

2. Indique o estado de espírito de Vasco da Gama, ilustrando a sua resposta com citações textuais.

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Proposta de correção:

1. Em “Faz-te mercê, barão, a Sapiência / Suprema de, co’os olhos corporais,/ Veres o que não pode a vã ciência / Dos errados e míseros mortais.”, observa-se a construção da mitificação do herói, pois o sujeito épico apresenta o momento em que Vénus conduz Vasco da Gama ao conhecimento supremo, vedado aos mortais e concedido aos nautas em “A Ilha dos Amores”. Assim, o herói lusitano ascende a uma posição que faz dele um mito.

Quando Vénus diz a Vasco da Gama: “Vês aqui a grande máquina do Mundo”, está a proporcionar a construção da mitificação do herói, pois é neste momento que os navegadores são recompensados com o conhecimento que, até então, estava interdito aos comuns mortais. Camões consegue, desta forma, elevar os portugueses a um patamar superior, apenas permitido às divindades.

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Proposta de correção:

2. Vasco da Gama é levado a um conhecimento superior, interdito aos homens comuns.

Pode notar-se que fica comovido e espantado no momento em que vê a “Máquina do Mundo”, ficando simultaneamente ansioso perante aquele conhecimento que a deusa lhe apresenta: “comovido / De espanto e de desejo ali ficou”.

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