UNIDADE 5 Luís de Camões, Os Lusíadas. Frontispício da primeira edição d’Os Lusíadas (1572).
Os lusíadas, de luís de camões
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
“Milhor é merecê-los sem os ter
Que possuí-los sem os merecer.”
“Os Lusíadas”, Canto IX
Sessões de Estudo - PEPExame Nacional de Português - 12º Ano
Docentes: António FragaCarla Rosete
Maria José AfonsoSandra Clarisse Teles
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
O CARÁTER ÉPICO
épico ,adj., 1. Da epopeia ou a ela relativo;próprio da epopeia.; 2. Alto, levantado, sublime.
Noção de epopeia – Narração de feitos heróicosde um indivíduo ou de um povo, de interessenacional com interesse universal, em estilograndioso.
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
Dizer que uma obra, uma personagem, um acontecimento tem caráter épico significa...
- Que é grandioso, elevado;
- Que há uma exaltação de um herói, individual ou coletivo;
- Que é difícil de concretizar;
- O caráter épico de uma obra implica sempre uma larga abrangência de acontecimentos que, quase sempre, se concretiza num texto extenso.
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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Estrutura Interna
Proposição (estrofes 1-3)
Invocação (estrofes 4-5)
Dedicatória (estrofes 6-18)
Narração – in medias res (a partir da estrofe 19)
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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Planos
A obra desenvolve-se em volta de quatro planos que seentrecruzam na narrativa. São eles:
Plano da Viagem- a descoberta do caminho marítimopara a Índia, correspondente ao presente da narração;
Plano da Mitologia- toda a intriga dos deuses, desde quese inicia a viagem até ao seu fim; estes assumem-se oracomo adjuvantes, ora como oponentes dos portugueses;
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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Plano da História de Portugalo passado relatado por Vasco da Gama e por Paulo daGama;o futuro visualizado pelas profecias de Júpiter, doAdamastor e de Tethys e pelo sonho de D. Manuel;o presente glorificado por Camões, especialmente noepisódio de “A Ilha dos Amores”.
Plano das Considerações do Poeta - sobretudo nosfinais de Canto, onde o poeta tece considerações de caráterpessoal sobre matérias muito diferenciadas.
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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• SINOPSE
Canto I
Proposição; Invocação; Dedicatória;Início da Narração: navegação no Índico;chegada a Mombaça. Maquinações de Bacocontra os portugueses.O poeta reflete sobre a fragilidade da vidahumana. Refere todos os perigos que o homemtem que enfrentar e a sua sujeição aosdesígnios dos deuses. Face à superioridade dosdeuses, como poderá subsistir o Homem,“bicho da terra tão pequeno”, escapando à suacondição mortal? (I, 105-106)
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
Canto II
Canto IIICanto IV
Narração: chegada a Melinde; pedidodo rei de Melinde para ouvir a Históriade Portugal.Relato de Vasco da Gama: descrição daEuropa; história de Luso a Viriato;referência ao Conde D. Henrique e àformação da nacionalidade; 1ª dinastia;2ª dinastia, até D. Manuel I;Despedidas em Belém e discurso doVelho do Restelo
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
Canto V
Narração da viagem, desde Lisboa aMelinde.Episódio do gigante Adamastor econclusão da narração da viagem atéMelinde.O poeta põe em destaque a importânciadas letras e lamenta o facto de osportugueses nem sempre lhes daremvalor: “Porque quem não sabe arte nãona estima.”, aliando a força e a coragemao saber e à eloquência. (V, 92-100)
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
Canto VI
Despedida de Melinde e viagem para aÍndia.Tempestade (novas maquinações de Baco).Avista-se Calecut.Realça o valor das honras e da glóriaalcançados por mérito próprio.Elogia os nautas pela sua bravura, corageme persistência.Enumera um conjunto de renúncias e atosque deve praticar todo aquele que quiseralcançar a imortalidade. (VI, 95-99)
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
Canto VII
Chegada à Índia.Visita de Vasco da Gama ao Samorim.Visita do Catual às naus.O poeta lamenta-se pelo desprezo dosportugueses que, em vez de lhe darema recompensa, dão-lhe trabalhos.Refere-se com amargura à ingratidão deque foi alvo. Considera, ainda, ser esteum mau exemplo para os escritoresvindouros. (VII, 78-87)
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
Canto VIII
Partindo do significado das figuras dasbandeiras, Paulo da Gama fala ao Catualde outras figuras da História de Portugal.Vasco da Gama é impedido de embarcar eresgatado a troco de mercadorias.O poeta lamenta a importância “Dodinheiro, que a tudo nos obriga.”, fontede corrupções e de traição. Refere que odinheiro é capaz de corromper o pobre e orico e, até mesmo, o sacerdote. (VIII, 96-99)
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
Canto IX
Viagem de regresso dos Portugueses.“A Ilha dos Amores.” – a recompensa.Condenação da cobiça, da ambição eda tirania e conselhos aos que aspiramalcançar a condição de herói, queimplica o domínio do ócio, o refreio dacobiça e da ambição, leis justas e a lutacontra os sarracenos. (IX, 88-95)
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
Canto X
Embarque dos navegadores e regresso àPátria.Exortação a D. Sebastião e vaticínio deglórias futuras para os portugueses.O Poeta confessa estar cansado de “cantara gente surda e endurecida”; lamentaçõesdo poeta: denúncia da decadência da Pátria,renovação dos apelos já feitos ao Rei naDedicatória, incentivando-o a tomarmedidas que reponham o país na senda doêxito e da glória. (X, 145-146)
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“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
Reflexões de Camões sobre:
A condição humana e mortal - “Bicho da Terra” (C. I)
O valor da literatura para o reconhecimento do mérito dos heróis – a pena ea espada devem ser aliadas (C. V)
O valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio e de formadesinteressada, sem tirania ou cobiça (C. VI /C.IX)
O poder vil conferido pelo dinheiro/ouro (C.VIII)
O infortúnio dos poetas que, como ele, não são reconhecidos (C.VII/IX)
A decadência da pátria, constatando a oposição entre o estado do reino e oteor central do seu canto glorioso. Exortação ao rei D. Sebastião para darcontinuidade à obra grandiosa do povo português.(C. X)
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MITIFICAÇÃO DO HERÓIO heroísmo assume, na obra, um conceitoabstrato, resultante da deceção face aoscompatriotas que não correspondem aomodelo a retratar;
Conceito de heroísmo (modelo global):perfeição no plano moral, intelectual e nodomínio da ação; a imagem de um homeminteiro que impõe a sua vontade e que afirma asua liberdade;
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- apresentação do herói na Proposição (“peito ilustrelusitano”);
- Consílio dos Deuses no Olimpo: construção do herói atravésda oposição de Baco (“Que esquecerão seus feitos noOriente/Se lá passar a Lusitana gente”); também peloenaltecimento de Júpiter, Vénus e Marte;
- Velho do Restelo: comparação dos portugueses a Prometeu ea Ícaro (representantes da negação da pequenez do serhumano face à vontade e à ação, que permitem aconcretização); este velho, de aspeto venerável, vai dizer, nahora da partida, que a viagem é um tremendo erro; ora, ofacto de, mesmo assim, os nautas não hesitarem, mostra quenão haverá qualquer obstáculo que os impeça de concretizaro seu objetivo;
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- Adamastor: a ousadia do povo português que desvendou “osvedados términos” e os segredos “A nenhum humanoconcedidos/De nobre ou de imortal merecimento”;
- o herói é progressivamente construído, não só pela coragem evalentia, mas pelo facto de deter um novo saber, adquiridopelas suas vivências;
- Ilha dos Amores: momento em que acontece a fusão entre odivino e o terreno; os nautas são elevados à condição dedeuses, pois Vénus “Os deuses faz descer ao vil terreno/E oshumanos subir ao Céu sereno”;
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- Máquina do Mundo: a ascensão dosheróis humanos, que obtêm oconhecimento, pois Vasco da Gama temacesso a uma visão do mundo, segundo ateoria de Ptolomeu;
- a divinização do herói nacional é plenano momento em que Vasco da Gama temacesso ao conhecimento vedado aomortal comum.
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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96
Nas naus estar se deixa, vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe1 descobre;
Que não se fia já do cobiçoso
Regedor, corrompido e pouco nobre.
Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede immiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga.
97
A Polidoro2 mata o Rei Treício,
Só por ficar senhor do grão tesouro;
Entra, pelo fortíssimo edifício,
Com a filha de Acriso3 a chuva de ouro;
Pode tanto em Tarpeia4 avaro vício
Que, a troco do metal luzente e louro,
Entrega aos inimigos a alta torre,
Do qual quase afogada em pago morre.
98
Este rende munidas fortalezas;
Faz tredoros5 e falsos os amigos;
Este a mais nobres faz fazer vilezas,
E entrega Capitães aos inimigos;
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos;
Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências;
99
Este interpreta mais que sutilmente
Os textos; este faz e desfaz leis;
Este causa os perjúrios entre a gente
E mil vezes tiranos torna os Reis.
Até os que só a Deus omnipotente
Se dedicam, mil vezes ouvireis
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas não sem cor, contudo, de virtude.“Os Lusíadas”, Canto VIII
1- Vasco da Gama2- Polidoro é morto pelo rei da Trácia, que se apodera do ouro que o jovem levava para tentar salvar Tróia.3- Acriso tenta anular uma profecia (a sua morte às mãos do neto), prendendo a filha numa torre; porém, Júpiter entrou na torre, sob a forma de chuva de ouro, e tornou Dánae mãe de Perseu, que veio a assassinar Acriso.4. Rapariga romana que, na esperança de obter anéis de ouro dos Sabinos que sitiavam Roma, lhes abriu as portas da cidade. Estes, porém, não a pouparam , esmagando-a sob as joias e os escudos.5- traidores
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Apresente, de forma bem estruturada, as suasrespostas aos itens que se seguem:
1. Divida o texto em partes lógicas eapresente, para cada uma delas, uma fraseque sintetize o respetivo conteúdo.
2. Identifique a anáfora presente nas estrofes98 e 99, explicitando o seu valor expressivo.
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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Proposta de correção:
1. Estas estâncias podem dividir-se em duas partes:a primeira corresponde aos quatro primeiros versosda estrofe 96 e a segunda ao restante texto.
Na primeira parte, o narrador dá conta dasituação de Vasco da Gama, que regressou às nausdepois de ter sido resgatado a troco de mercadorias.
Na segunda parte, assiste-se a uma reflexão dopoeta que refere os efeitos nefastos do dinheiro emtodos os seres humanos, incluindo o rico e o pobre,os traidores, os nobres e até mesmo os reis e ossacerdotes.
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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2. A repetição do demonstrativo “Este”, no início dos versos um, três,cinco e sete da estrofe 98 e versos um e três da estrofe 99, constituem aanáfora.
“Este” refere-se ao dinheiro, servindo para enumerar a imensidadede situações em que a ganância pelo “metal luzente” altera ocomportamento das pessoas: “Faz tredoros e falsos os amigos”, “Estecorrompe virginais purezas”, “este faz e desfaz leis;”.
A anáfora, pelo uso do pronome demonstrativo “Este”, reforça aproximidade do elemento “que a tudo nos obriga”.
Este recurso pretende mostrar que ninguém está livre de “fazervilezas” pela posse de dinheiro, conforme mencionado em: “a maisnobres faz fazer vilezas”, “E mil vezes tiranos torna os Reis”, “Até os quesó a Deus omnipotente/Se dedicam”).
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76
-«Faz-te mercê, barão, a Sapiência
Suprema de, co’os olhos corporais,
Veres o que não pode a vã ciência
Dos errados e míseros mortais.
Segue-me firme e forte, com prudência,
Por este monte espesso, tu co’os mais.»
Assi lhe diz e o guia por um mato
Árduo, difícil, duro a humano trato.
77
Não andam muito, que no erguido cume
Se acharam, onde um campo se esmaltava
De esmeraldas, rubis, tais que presume
A vista que divino chão pisava.
Aqui um globo vêem no ar, que o lume
Claríssimo por ele penetrava,
De modo que o seu centro está evidente,
Como a sua superfície, claramente.
79
Uniforme, perfeito, em si sustido,
Qual, enfim, o Arquetipo que o criou.
Vendo o Gama este globo, comovido
De espanto e de desejo ali ficou.
Diz-lhe a Deusa: - «O transunto1, reduzido
Em pequeno volume, aqui te dou
Do Mundo aos olhos teus, pera que vejas
Por onde vás e irás e o que desejas.
80
«Vês aqui a grande máquina do Mundo,
Etérea e elemental, que fabricada
Assi foi do Saber, alto e profundo,
Que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e sua superfície tão limada,
É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende,
Que a tanto o engenho humano não se estende.
“Os Lusíadas”, Canto X
1-modelo, exemplo;
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Apresente, de forma bem estruturada, as suasrespostas aos itens que se seguem:
1. Aponte um exemplo textual que contribuapara a construção da mitificação do herói naobra, justificando a sua escolha.
2. Indique o estado de espírito de Vasco daGama, ilustrando a sua resposta com citaçõestextuais.
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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Proposta de correção:
1. Em “Faz-te mercê, barão, a Sapiência / Suprema de, co’os olhoscorporais,/ Veres o que não pode a vã ciência / Dos errados e míserosmortais.”, observa-se a construção da mitificação do herói, pois o sujeitoépico apresenta o momento em que Vénus conduz Vasco da Gama aoconhecimento supremo, vedado aos mortais e concedido aos nautas em“A Ilha dos Amores”.
Assim, o herói lusitano ascende a uma posição que faz dele um mito.
Quando Vénus diz a Vasco da Gama: “Vês aqui a grande máquina doMundo”, está a proporcionar a construção da mitificação do herói, pois éneste momento que os navegadores são recompensados com oconhecimento que, até então, estava interdito aos comuns mortais.
Camões consegue, desta forma, elevar os portugueses a um patamarsuperior, apenas permitido às divindades.
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões
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Proposta de correção:
2. Vasco da Gama é levado a um conhecimento superior,interdito aos homens comuns.
Pode notar-se que fica comovido e espantado nomomento em que vê a “Máquina do Mundo”, ficandosimultaneamente ansioso perante aquele conhecimento quea deusa lhe apresenta: “comovido / De espanto e de desejoali ficou”.
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões