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Os elementos do jogo da capoeira O ritual É na roda de capoeira que o praticante mostra o seu conhecimento e desenvolvimento sobre a actividade. A roda é um ritual que representa a vida e os seus ciclos. Como o planeta gira e a vida acontece em ciclos, a roda é a representação disso, num indício forte da cultura africana, cheia de círculos e elos nas suas representações gráficas. A roda começa com a afinação dos berimbaus e a formação da bateria composta por três berimbaus, um atabaque, dois pandeiros, um reco-reco e um agogô. Esta é a formação completa, porém cada grupo tem o seu jeito próprio de levar a roda e pode haver diferenças, dependendo também do número de participantes na roda. O que não pode faltar é o berimbau e o pandeiro. Os jogadores devem usar o uniforme/abadá do grupo. Formada a bateria, o cantador (que geralmente toca o gunga) dá o iê, canta a ladainha, seguida de louvação e aí começa a cantar o corrido. Neste momento é que os jogadores agachados ao pé do berimbau começam a jogar. Música Além da movimentação, a música é um elemento importante da capoeira, mostrando mais uma vez o aspecto ancestral e primitivo desta manifestação. O seu principal instrumento, que o som característico, o berimbau, é construído por um pedaço de arame, um pedaço de pau e uma cabaça. A sonoridade do instrumento vai depender de como o arame é amarrado e a combinação entre a

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Os elementos do jogo da capoeira

O ritual

É na roda de capoeira que o praticante mostra o seu

conhecimento e desenvolvimento sobre a actividade. A

roda é um ritual que representa a vida e os seus ciclos.

Como o planeta gira e a vida acontece em ciclos, a roda

é a representação disso, num indício forte da cultura africana, cheia

de círculos e elos nas suas representações gráficas. A roda começa

com a afinação dos berimbaus e a formação da bateria composta por

três berimbaus, um atabaque, dois pandeiros, um reco-reco e um

agogô. Esta é a formação completa, porém cada grupo tem o seu

jeito próprio de levar a roda e pode haver diferenças, dependendo

também do número de participantes na roda. O que não pode faltar é

o berimbau e o pandeiro. Os jogadores devem usar o uniforme/abadá

do grupo. Formada a bateria, o cantador (que geralmente toca o

gunga) dá o iê, canta a ladainha, seguida de louvação e aí começa a

cantar o corrido. Neste momento é que os jogadores agachados ao pé

do berimbau começam a jogar.

Música

Além da movimentação, a música é um elemento

importante da capoeira, mostrando mais uma vez o

aspecto ancestral e primitivo desta manifestação. O

seu principal instrumento, que dá o som

característico, o berimbau, é construído por um pedaço de arame, um

pedaço de pau e uma cabaça. A sonoridade do instrumento vai

depender de como o arame é amarrado e a combinação entre a

cabaça e o pedaço de pau (Biriba). Os berimbaus apresentam sons

diferentes, sendo classificados em: gunga (som mais grave, também

conhecido como berra-boi), médio e viola (som mais agudo). Os

toques básicos são sete: Angola, São Bento Grande, São Bento

Pequeno, Iúna, Santa Maria, Cavalaria e Jogo de Dentro. Mas existem

outros toques, menos tocados, e muitas variações. Durante uma roda

é importante que um berimbau converse com o outro. O

gunga/berra-boi é quem dita o ritmo da roda e é sempre tocado pelo

mestre ou a pessoa mais antiga na capoeira. Quem toca o gunga

também puxa o canto, mas na hora dos corridos, qualquer pessoa

que está na bateria pode puxar o canto, desde que autorizado pelo

mestre ou professor que leva a roda, e o restante deve responder o

coro. Os corridos são curtos e em muitas vezes lembram lamentos.

Devido a repetição o canto pode lembrar um mantra.

Jogo

A capoeira em si não é um confronto e nem tem

vencedores ou vencidos. O jogo, entendido por

alguns como dança ou arte-luta é um diálogo entre

dois indivíduos e a partir daí vê-se o jogo, como um jogo da vida

onde as pessoas trocam o seu axé (fluido vital). Não é uma

coreografia, é uma sequência de perguntas e respostas o tempo todo.

O importante é que os dois jogadores estejam atentos aos

movimentos do seu parceiro e não o percam de vista. A capoeira é

uma dança, onde o importante é o capoeirista mostrar que pode

bater e não bater, demonstrando o seu domínio sobre os movimentos

e consequentemente sobre o seu corpo.

Movimentos

O jogo é formado pela combinação de golpes que

conversam entre si mantendo um diálogo entre os dois

corpos. A ginga é a base do jogo e a partir dela é que

saem os golpes que não são muitos, mas cheios de pequenas

variações que o praticante da capoeira vai descobrindo ao longo dos

anos. Ginga, rabo de arraia, aú, rolê, rasteira, cabeçada, queda de

quatro, esquiva, meia-lua, bananeira, chapa, ponta de pé são

movimentos básicos que contam com inúmeras variações, que

permitem seu uso para momentos de defesa e ataque. Ainda existem

os movimentos acrobáticos como bico de papagaio e mortal que são

usados para enfeitar as apresentações, mas não representam um

diálogo e sim uma demonstração de habilidade.

Maculelê

O Maculelê é uma dança, um jogo de bastões

remanescente dos antigos índios cucumbis. Esta

"dança de porrete" tem origem Afro-indígena.

A característica principal desta dança é a batida dos porretes uns

contra os outros em determinadas partes da música que é cantada

acompanhada pela forte batida do atabaque. Esta batida é feita

quando, no final de cada frase da música, os dois dançarinos cruzam

os porretes batendo-os dois a dois.

Os passos da dança é constituído por são saltos, agachamentos,

cruzadas de pernas, etc.

Se formos olhar pelo lado do conceito de que maculelê é a dança do

canavial, teremos um outro conceito que diria ser esta uma dança

que os escravos praticavam no meio dos canaviais, com cepos de

cana nas mãos para extravasar todo o ódio que sentiam pelas

atrocidades dos feitores. Eles diziam que era dança, mas na verdade

era mais uma forma de luta contra os horrores da escravidão e do

cativeiro. Os cepos de cana substituíam as armas que eles não

podiam ter e/ou pedaços de pau que por ventura não encontrassem

na hora.

Enquanto "brincavam" com os cepos de cana no meio do canavial, os

negros cantavam músicas que evidenciavam o ódio. Porém, eles as

cantavam nos dialectos que trouxeram da África para que os feitores

não entendessem o sentido das palavras. Assim como a "brincadeira

de Angola" camuflou a periculosidade dos movimentos da capoeira, a

dança do maculelê também era uma maneira de esconder os perigos

das porretadas desta dança.

Actualmente a dança do maculelê é muito praticada para ser

admirada. É parte certa na apresentação de grupos de capoeira e em

eventos realizados como formaturas, encontros, baptizados,etc.

É fundamental preservar-se a dança do maculelê, ensiná-la com

destreza e capacidade aos alunos para que eles possam

eventualmente fazer belas apresentações. O maculelê pode ser feito

com porretes de pau, facões ou facas, mas, alguns grupos praticam o

maculelê com tochas de fogo ou "tições" retirados na hora de uma

fogueira que também fica no meio da roda junto com os dançarinos.

É um espectáculo perigoso, pois corre-se o risco de se queimar.

Porém, é uma das coisas mais bonitas de se ver.