OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS GÊNEROS TEXTUAIS...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS GÊNEROS TEXTUAIS
(TRABALHADOS) EM SALA DE AULA
Profª PDE Schirley Terezinha da Rocha 1
Profª Orientadora: Ms. Bernardete Ryba 2
Resumo
Este artigo versa (relata) sobre um projeto que teve como objetivo investigar a
reflexão da variação linguística com alunos do 6° ano do Ensino Fundamental do Colégio
Estadual Pedro Araújo Neto. EFM. Para tal estudo busquei a fundamentação teórica
pertinente. Percebi, inicialmente, que os alunos não distinguiam as características das duas
modalidades de língua (oral e escrita), deixando marcas da oralidade nos textos produzidos.
Iniciei com uma proposta de atividades, que tinha como ponto de partida a valorização da
variação linguística do educando, o seu linguajar, para depois partir para atividades de
diferentes gêneros em que estão presentes as variações linguísticas. Após passar por uma
série de atividades práticas, os alunos começaram a perceber e adequar o uso da variação
linguística em contextos diversos.
Palavras- chave
Variação linguística, Sala de aula, Sociolinguístas.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem por meta apresentar os resultados da aplicação e do
desenvolvimento do meu projeto de pesquisa como professora no programa PDE
implementado pelo Governo do Estado do Paraná. O trabalho começou a ser
desenvolvido em meados de 2013; num primeiro momento, desenvolvi um projeto de
pesquisa no âmbito de ensino de Língua Portuguesa, minha especialidade. Em
seguida, tendo em vista a bibliografia pesquisada, desenvolvi um projeto e, logo
1Pós graduada em Língua Portuguesa- Especialização em Letras – Língua Portuguesa e Literatura pela FAFI. Professora de Língua Portuguesa no Colégio Estadual Pedro Araújo Neto - EFM de General Carneiro (PR)
2 Mestre em Linguística – Área : Sociolinguística -UFPR. Professora de Linguística / Língua Portuguesa – UNESPAR – Campus de União da Vitória (FAFIUV) – Professora de LEM – Inglês / Colégio São Mateus ( São Mateus do Sul – PR ).
após, uma unidade didática, analisando o tema que recortei no projeto, a saber, a
variação linguística nos gêneros textuais. Dando continuidade ao programa, fecho o
ciclo com as minhas ponderações e avaliações a respeito dos resultados obtidos.
A escolha do assunto foi com base nas atividades desenvolvidas pelos
alunos da Rede Pública que apresentam dificuldades de adequação da variação
linguística nos gêneros textuais. Ao iniciar o trabalho, constatei que eles não
possuíam o hábito de diferenciar a oralidade da escrita em seus textos e a escrita se
transformava apenas em uma outra forma de falar. Por isso, organizei diferentes
atividades para que houvesse um reconhecimento das características da variação
linguística. Essas atividades foram realizadas em dupla, individualmente ou
coletivamente, envolvendo os alunos para que realmente existisse um
aprofundamento no assunto.
A minha preocupação, nesse trabalho, foi proporcionar diferentes momentos
de reflexão e de estudo sobre essas diferenciações, valorizando assim, o
conhecimento prévio e auxiliando na transformação da linguagem coloquial para o
uso padrão da língua. Esse estudo permitiu observar com clareza a evolução e a
dimensão do trabalho com a variação linguística. Para isso busquei teorias e
atividades que fundamentassem o uso da variação linguística, trabalhei com textos
de diferentes gêneros que mostrassem o uso das variantes em diferentes contextos
e também procurei orientá-los através da reflexão do uso da variação linguística.
2. Fundamentação Teórica: Partindo da reflexão do uso da Variação para a
prática: “escrita”
Na acolhida democrática da escola, as variações linguísticas tomam como
ponto de partida os conhecimentos linguísticos dos alunos, para promover situações
que os incentivem a falar e a escrever, ou seja, fazer uso das variedades de
linguagem que eles empregam em suas relações sociais, mostrando que as
diferenças de registros não constituem, científica e legalmente, objeto de
classificação e que é importante a adequação dos registros nas diferentes
instâncias discursivas.
Entretanto, depois que são alfabetizados, os alunos apresentam elevado
grau de dificuldade para entender e produzir textos, pois, precisam adequar sua
variação linguística às diversas circunstâncias e fazer uso da norma padrão em
alguns gêneros. A maioria escreve como fala. Após a observação de tal fato, o meu
desejo foi contribuir para que a adequação da variedade linguística usada à norma
padrão se fizesse sem traumas e que, com o conhecimento das diversas outras
variedades linguísticas, o aluno conseguisse compreender o mundo, os outros, suas
próprias experiências, para que visse uma realidade diferente do mundo no qual
está inserido, abrisse novos horizontes em sua mente e, assim, desse margem para
o desenvolvimento de sua capacidade crítica e argumentativa e para a sua
criatividade, ampliando seu poder de intervir no seu cotidiano, auxiliando assim na
construção de um mundo melhor para si e para o outro.
Para Alkimim (2003, p.40), as variações linguísticas relacionadas ao
contexto são chamadas de variações estilísticas ou registros. Nesse sentido, os
falantes diversificam sua fala, isto é, usam estilos ou registros distintos em função
das circunstâncias em que ocorrem suas interações verbais. Segundo Bagno
(2007, p.30), os falantes adequam suas formas de expressão às finalidades
específicas de seu ato enunciativo, sendo que tal adequação “decorre de uma
seleção dentre o conjunto de formas que constitui o saber linguístico individual, de
um modo mais ou menos consciente”.
Segundo Bortoni-Ricardo (2004, p.45), o personagem Chico Bento é uma
criação muito feliz de Maurício de Souza, pois permite que as crianças com
antecedentes urbanos se familiarizem com a cultura rural, conhecendo muitas
expressões dessa rica cultura que, hoje, tem pouco espaço na literatura e nos
meios de comunicação. Chico Bento pode se transformar, em nossas salas de aula,
em um símbolo de multiculturalismo que ali deve ser cultivado. Suas histórias são
também ótimos recursos para despertarmos em nossos alunos a consciência da
diversidade sociolinguística.
Adequação/inadequação (preconceito linguístico): Nós, professores, devemos
orientar nossos alunos e fazê-los perceber que, em determinadas situações, é
adequado ou inadequado falar ou escrever de maneira mais ou menos formal, mais
ou menos próxima à variante culta. Veja que, ao dizermos adequado / inadequado,
evitamos utilizar os conceitos de certo/errado, comuns apenas à gramática
normativa.
O que exatamente entendemos por certo ou errado? Vários fatores interferem
na forma como as pessoas falam: nível de escolaridade, região onde moram etc.
São maneiras diferentes de usar a língua. Devemos deixar claro que são igualmente
válidas, nem melhores, nem piores: são apenas diferentes.
Para Camacho ( 2003, p.54 ), dois falantes de uma mesma língua ou variedade
dialetal dificilmente se expressam de modo idêntico. Nem mesmo um único falante
fala sempre de um mesmo modo, isto é, nenhum usuário de uma língua é falante de
um único e mesmo estilo ou registro: a adesão às determinações do contexto
discursivo leva-o a selecionar expressões com grau maior ou menor de formalidade.
Sendo assim, o que a Sociolinguística faz é correlacionar as variações existentes
na expressão verbal às diferenças de ordem linguística e de ordem social,
entendendo cada domínio, o linguístico e o social, como fenômenos estruturados e
regulares.
Fishman (1972, p.38)in Paraná, pronuncia que:
“ uma situação é definida pela concorrência de dois ou mais interlocutores mutuamente relacionados de uma maneira determinada, comunicando-se sobre uma maneira determinada, comunicando-se sobre determinado tópico, num contexto determinado”.
Segundo Alkimin ( 2003, p.30 ), o termo Sociolinguística, relativo a uma área
da linguística, fixou-se em 1964, mais precisamente, surgiu em um Congresso
organizado por William Bright, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles
(UCLA), do qual participaram vários estudiosos, que se constituíram,
posteriormente, em referências clássicas nas tradições dos estudos voltados para a
questão da relação entre linguagem e sociedade.
Para Alkimin (2003, p. 33), “podemos dizer que o objeto da sociolinguística é
o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social,
isto é, em situações reais de uso”. Diz Camacho (2003, p. 54), dois falantes de uma
mesma língua ou variedade dialetal dificilmente se expressam de modo idêntico.
Nem mesmo um único falante fala sempre de um mesmo modo, isto é, nenhum
usuário de uma língua é falante de um único e mesmo estilo ou registro: a adesão
às determinações do contexto discursivo leva-o a selecionar expressões com grau
maior ou menos de formalidade. Sendo assim, o que a Sociolinguística faz é
correlacionar as variações existentes na expressão verbal às diferenças de ordem
linguística e de ordem social, entendendo cada domínio, o linguístico e o social,
como fenômenos estruturados e regulares.
Podemos afirmar, com base nos postulados da Sociolinguística que, se um
falante enuncia o verbo “levaram” como “levam” e o outro falante como “levarum”,
ora “levam”, essa variação na fala não é o resultado aleatório de um uso arbitrário e
inconsequente. Pelo contrário, é o uso sistemático e regular de uma propriedade
inerente aos sistemas linguísticos, que é a possibilidade de variação estendida
como heterogeneidade constitutiva da linguagem.
Existem dois tipos de exposição linguística: a que pode ser falada e a escrita.
Há muito tempo que a sociedade deu uma importância extraordinária à escrita
e, muitas vezes, quando nos referimos à linguagem, só pensamos nesse aspecto. É
preciso não perder de vista, que a expressão oral aparece muito antes da
expressão escrita. Quando escrevemos, a força da oralidade pode marcar a própria
escrita havendo necessidade de um policiamento ou monitoramento cada vez mais
consciente por parte do educando.
Uma tendência forte entre os brasileiros é afirmar que falamos todos a
mesma língua e que não existem dialetos no Brasil. Bagno (2007, p.43), descreve
uma série de mitos presentes em frequentes afirmações sobre a Língua Portuguesa
no Brasil, os quais, agrupados, o autor denomina de metodologias de preconceito
linguístico. O mito número um apontado por Bagno (2007, p.44), diz o seguinte: “ A
Língua Portuguesa no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”. Este é , para o
autor, o mais sério dos oito mitos que descreve, pois, uma vez não reconhecida a
diversidade linguística no Brasil, as pessoas que falam uma variedade
desprestigiada são frequentemente vítimas de discriminação. A escola tenta impor a
norma linguística como se fosse, de fato, a língua comum a todos os milhões de
brasileiros, independentemente de sua idade, origem geográfica, situação
socioeconômica, de seu grau de escolaridade, etc.
A Língua Portuguesa no Brasil possui muitas variedades dialetais. Identifica-
se geográfica e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos
preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes
modos de falar: é muito comum considerar as variedades linguísticas de menos
prestígio como inferiores ou erradas. O problema do preconceito disseminado na
sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado nas escolas, como
parte do objetivo educacional mais amplo da educação para o respeito à diferença.
Para isso e também para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-
se de alguns conceitos : o de que existe uma única forma “certa” de falar e de que a
escrita é o espelho da fala e, sendo assim, seria preciso “consertar” a fala do aluno
para evitar que ele escreva errado. Essas duas crenças produziram uma prática de
mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma da fala do aluno, tratando sua
comunidade como se fosse formada por incapazes, denota desconhecimento de
que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus
dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico.
(BAGNO, 2007, p. 27)
Segundo Tarallo (2007, p.5), a partir de inúmeros exemplos de situações
sugeridas no texto, observamos que o “caos” basicamente se configura como um
campo de batalha em que duas (ou mais) maneiras de se dizer a mesma coisa
(chamada de “variedades linguísticas”) se enfrentam em um duelo de
contemporização, por sua subsistência e coexistência. Também para Tarallo (2007,
p.6), “analisar e aprender a sistematizar variantes linguísticas usadas por uma
comunidade de fala é imprescindível”.
Conforme Tarallo (2007, p.8), em toda comunidade de fala são frequentes as
formas linguísticas em variação. A essas formas em variação dá-se o nome de
“variantes”. “Variantes Linguísticas” são, portanto, diversas maneiras de se dizer a
mesma coisa em um contexto, e com o mesmo valor de verdade. A um conjunto de
variantes dá-se o nome de “variável linguística”.
Para Bortoni-Ricardo (2004, p.33), em toda comunidade de fala onde
convivem falantes de diversas variedades regionais, como é o caso das grandes
metrópoles brasileiras, os falantes que são detentores de maior poder e, por isso,
gozam de mais prestígio, transferem esse prestígio para a variedade linguística que
falam. Assim, as variedades faladas pelos grupos de maior poder político e
econômico passam a ser vistas como variedades mais bonitas e até mais corretas.
Mas essas variedades, que ganham prestígio porque são faladas por grupos de
maior poder, nada têm de intrinsecamente superior às demais. O prestígio que
adquirem é mero resultado de fatores políticos e econômicos. O dialeto (ou
variedade regional) falado em regiões pobres pode vir a ser considerado um dialeto
“ruim”, enquanto o dialeto falado em uma região rica e poderosa passa a ser visto
como um “bom” dialeto.
Para Alkimim (2003, p.25), a relação entre linguagem e sociedade,
reconhecida, mas nem sempre assumida como determinante, encontra-se
diretamente ligada à questão da determinação do objeto de estudo da linguística,
isto é, embora se admita que a relação linguagem e sociedade seja evidente por si
só, é possível privilegiar uma determinada ótica e esta decisão repercute na visão
que se tem do fenômeno linguístico, de sua natureza e caracterização. Nesse
sentido, a linguística do século XX teve um papel decisivo na questão de
consideração de natureza social, histórica e cultural na observação, descrição,
análise e interpretação do fenômeno linguístico.
Diz Bagno (2007, p. 36) que, ao contrário da norma padrão, que é
tradicionalmente concebida como um produto homogêneo, como um jogo em que
as peças se encaixam perfeitamente umas às outras, sem faltar alguma, a língua,
na concepção dos sociolinguistas, é intrinsecamente heterogênea, múltipla, variável,
instável e está sempre em desconstrução e reconstrução. Ao contrário de um
produto pronto e acabado, de um monumento histórico feito de pedra e cimento, a
língua é um processo, um fazer permanente e nunca concluído. A língua é uma
atividade social, um trabalho coletivo, empreendido por todos os seus falantes, cada
vez que eles se põem a interagir por meio da fala ou da escrita.
Portanto precisei elaborar determinadas atividades para que os alunos
conseguissem fazer essa transição do oral para o escrito e melhorassem sua
percepção dessas diferentes modalidade de variedades linguísticas. Usei o
personagem Chico Bento, do autor Maurício de Souza, pois ele é um personagem
simples de uma região rural, difere de um personagem da zona urbana. Há
diferenças não somente na fala como visuais também, marcadas principalmente
pelo cabelo despenteado, chapéu de palha, mais comum a quem habita no campo.
Personagens da zona urbana geralmente se expressam de uma maneira mais
próxima à norma padrão, já Chico Bento é representado como um típico caipira.
Percebe-se pela ortografia (“isquisito”, “cá ropa di baxo”), que procura
reproduzir uma maneira própria de fala.
A Sociolinguística não classifica as diferentes variações linguísticas como
boas ou ruins, ou melhores ou piores, primitivas ou elaboradas, pois constituem
sistemas linguísticos eficazes, falares que atendem a diferentes propósitos
comunicativos, dadas as práticas sociais e os hábitos culturais das comunidades.
Em relação à escrita, ressalta-se que as condições em que a produção
acontece determinam o texto. Antunes (2003) salienta que:
A importância de o professor desenvolver uma prática de escrita escolar que
considere o leitor, uma escrita que tenha um destinatário e finalidades, para que
então se decidir sobre o que será escrito, tendo em visto que a “escrita, na
diversidade de seus usos, cumpre funções comunicativas socialmente específicas e
relevantes”.(ANTUNES,2003,p.47).
O professor poderá instigar no aluno a compreensão das semelhanças e
diferenças, dependendo do gênero, do contexto de uso e da situação de interação,
dos textos orais e escritos, a percepção da multiplicidade de usos e funções da
língua, o reconhecimento de diferentes possibilidades do uso da variação linguística
e de construções textuais, a reflexão e adequação sobre essas e outras
particularidades linguísticas observadas no texto, conduzindo-o às atividades de
variação linguísticas diversas, à construção gradativa de um saber linguístico mais
elaborado, a um falar sobre a língua.
3. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES E DISCUSSÃO DOS RELATOS
O objetivo das atividades residia em, a partir das discussões e reflexões
realizadas pelos autores acima citados, sobre a aplicação de diferentes gêneros
discursivos (trabalhados), ajudar os alunos na compreensão do uso da variação
linguística nos diferentes contextos apresentados. Dentre as atividades que planejei
e apliquei em sala de aula, escolhi a verificação da Prova Brasil, da qual apliquei
questões referentes à variação linguística para diagnosticar o conhecimento prévio
do aluno e verificar em que nível encontravam-se. Justifiquei a minha escolha pela
pertinência do tema “variação linguística”, vinculado aos conteúdos do 6º ano do
Ensino Fundamental da Rede Pública de Ensino e, ainda, porque o uso da variação
linguística encontra-se presente no cotidiano, seja na escola, nas redes sociais, na
sociedade, enfim, nos contextos diários.
Portanto, escolhi primeiramente, após o diagnóstico da Prova Brasil,
estudaremos as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro. Comecei
com uma pergunta- desafio sobre as variações: se eles conheciam palavras como:
blogueiro, chocólatra, posta, abestado, bocó. Elas fazem parte de nossa Língua
Portuguesa? Em que regiões elas aparecem com mais frequência? Depois de
aplicadas as perguntas, conceitue a língua, explicando que ela é viva; e também
que uma língua nunca é falada da mesma forma, ela sofre constantes mudanças,
ela é sujeita a variações: históricas, regionais, sociais, etc. Cada região do nosso
país tem um jeito, um sotaque, uma maneira peculiar de falar.
Expliquei as “Variedades Linguísticas” que são as variações que uma língua
apresenta em razão das condições sociais, culturais e regionais nas quais é
utilizada. Após, comecei com a Variação Histórica, na qual trabalhei uma cantiga de
roda de domínio público, na qual observa-se as palavras que caíram em desuso e,
ao mesmo tempo, percebe-se que a língua sofre variação. Depois apliquei a canção
“Sinhá,” de Chico Buarque; feita a leitura e ouvida a canção, fez-se uma reflexão e
discussão sobre as mudanças da língua, em que algumas palavras não são
utilizadas mais e sofreram transformações nos dias de hoje.
Em outra aula, trabalhei as Variações Sociais ou Culturais: as gírias. Expliquei
que as gírias são utilizadas por um grupo, num determinado tempo e variam. Nessa
atividade os alunos assinalaram a alternativa na qual se utilizava a variedade culta
ou formal. Depois conceituei a Linguagem (norma) Culta ou Padrão; expliquei que a
linguagem padrão é aquela ensinada nas escolas, é usada pelas pessoas instruídas
da classe social dominante e caracteriza-se pela obediência às normas gramaticais.
Após, trabalhei uma tira de Chico Bento, na qual ele dialoga com a professora. Na
fala de Chico Bento, pudemos observar que tipo de linguagem havia..
Também apliquei o poema “Vício na Fala”, do autor Oswald de Andrade, no
qual os alunos perceberam e refletiram sobre as variações presentes no poema.
Também conceituei e expliquei a Linguagem Coloquial, Informal ou Popular que é
utilizada no dia a dia e não exige a atenção da gramática, de modo que haja mais
espontaneidade na comunicação oral. Após, trabalhamos com a “Charge de
humortadela”, na qual dois personagens conversavam, um usava a linguagem
padrão e o outro a linguagem informal, após a leitura da charge, pudemos observar
as diferenças que podem ser observadas nas falas dos personagens.
No decorrer das aulas, apliquei a atividade para leitura e debate “O fax do
Nirso” e a “Lenda de Rui Barbosa”, para perceberem o uso da fala e da variação
empregada, que pode ser valorizada em certos aspectos. Expliquei o que são
Variações Regionais e que de acordo com região do país, a língua é empregada de
maneiras diferentes. Para melhor entender a variedade regional, lemos a letra da
música em voz alta, após ouvimos e cantamos a música “Cuitelinho” para que se
percebessem bem as escolhas feitas. Trata-se de uma canção da tradição popular
brasileira, recolhida pelo pesquisador Paulo Vanzoline, na região de Minas Gerais.
Não se sabe que são os autores. Os alunos gostaram muito dessa atividade, na
qual produziram um texto, fazendo paródias e usando essa variedade.
Trabalhei com tiras do “Chico Bento”, do autor Maurício de Souza, o qual
valoriza a cultura rural, ou seja a variação da língua, pois fazemos parte de um país
riquíssimo em cultura, logo, faz-se necessário que o professor, principalmente de
Língua Portuguesa valorize as formas de comunicação. E conforme afirma
Marcushi: “Falar ou escrever bem não é ser capaz de aplicar regras da língua para
produzir um efeito de sentido pretendido numa dada situação. Não se trata de saber
como se chega a um texto ideal pelo emprego de formas, mas como se chega a um
discurso significativo pelo uso adequado às práticas e à situação que se destina.”
(MARCUSHI, 2007 p.09). Após os educandos interagirem no laboratório de
informática, em dupla, no computador, para apreciação on-line das tiras do “Chico
Bento,” também passei o vídeo da história “Chico Bento no shopping”, de Maurício e
Souza. Assim, pudemos responder a seguinte pergunta: O que significa ver com os
olhos e pontos de vistas diferentes?
A visão é o sentido mais desenvolvido do homem e também o único
absolutamente pessoal. Duas pessoas podem sentir os mesmos cheiros, os
mesmos gostos e ouvir os mesmos sons, mas é impossível verem exatamente o
que o outro está vendo, porque são olhos e pontos de vistas diferentes. Daí é que
vem a expressão “visão de mundo”, que significa “cada um perceber a realidade do
seu jeito.” Pedi que os alunos estabelecessem hipóteses sobre a possibilidade do
“Chico Bento” não gostar do shopping. O que chamou a atenção de Chico Bento?
Qual situação engraçada, dramática, irônica, triste, poderá acontecer nessa visita?
Alguns alunos da zona rural ainda não conheciam o personagem Chico
Bento, mas participaram da discussão. Assistiram o vídeo e riram das situações
engraçadas da personagem. Nessa história, Chico Bento passa por situações que,
por viver em um ambiente rural, são inusitadas para ele. Também houve a reflexão
sobre como as pessoas que se encontravam no shopping reagiram diante das
ações de Chico Bento. Foi um momento muito produtivo, pois percebi que os alunos
deram sua opinião a partir de uma reflexão interativa com os demais colegas que já
conheciam a personagem e falaram que ele pertencia ao meio rural e seu jeito de
falar e de se vestir é que o torna encantador. Falamos sobre a linguagem
empregada pelo personagem que é uma variante da linguagem oral, que ele
consegue comunicar-se com os demais personagens e com o leitor e também que
efeito de dizer pretende transmitir na construção da personagem Chico Bento.
Após esse trabalho, começamos com a produção do gibi em grupo,
primeiramente, comprei em torno de oito gibis diferentes do personagem Chico
Bento, do autor Maurício de Souza, os quais disponibilizei para a leitura, foi feita a
leitura, na própria sala de aula de leitura, (projeto da escola). Cada grupo ficou
responsável em reproduzir uma história do gibi do personagem Chico Bento, do
autor Maurício de Souza, esse trabalho fluiu muito bem, cada dia um participante
levava para casa, para dar continuidade ao trabalho, também foi utilizado o espaço
escolar para essa atividade. Segue abaixo uma foto da confecção do gibi, produzido
pelos alunos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desenvolveu-se nesse artigo uma reflexão e compreensão em torno das
Variantes Linguísticas através de diversos gêneros textuais (trabalhados) em sala
de aula. A impressão de que a “variação linguística” seja algo sem muita
importância é substituída por um profundo respeito e pela vontade de se aprofundar
no assunto.
Assim sendo, nós professores, estaremos contribuindo positivamente para que
os alunos desenvolvam habilidades como o trabalho coletivo, o hábito de usar
adequadamente a oralidade em contextos ou situações diferentes, com criatividade,
criticidade e autonomia no processo de aprendizagem e capacidade de expressão
oral e escrita.
Acreditamos que é de suma importância dar significados ao cotidiano em sala
de aula e fora dela, fazendo dessa reflexão da variação linguística uma maneira
prazerosa e encantadora de adquirir conhecimentos linguísticos, principalmente do
uso da variante e como usá-la adequadamente.
5. REFERÊNCIAS
ALKIMIM, T. M. Sociolinguística. In: MUSSALIM, F: BENTES, A C. Introdução à
Linguística 1: Domínios Fronteiras. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2003. pg.21-47.
ANTUNES, I. Aula de português:encontros e interação, São Paulo: Parábola, 2003
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia variação da
linguística. São Paulo: Parábola, 2007.
BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna: a sociolinguística na
sala de aula.São Paulo: Parábola, 2004.
CAMACHO. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução a linguística: domínios e
fronteiras. Vol.1; organizadoras. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: Atividades de Textualização. São
Paulo: Editora Cortez, 2007.
MUSSALIM, F. BENTES, A. C. Introdução a linguística: domínios e fronteiras.
Vol. 1; organizadoras. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
PARANÁ, Secretaria do Estado da Educação Básica: Língua Portuguesa. Curitiba:
SEED, 2008.
TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. 8. ed. São Paulo: Ática, 2007.