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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7 Cadernos PDE II

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE

II

Título: O desenho como método de investigação do real no Ensino Fundamental

Autor: Soely de Fatima Antunes Martins

Disciplina/Área: Arte

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Jerônimo Farias Martins

EFM

Município da escola: Santa Cecília do Pavão

Núcleo Regional de Educação: Cornélio Procópio

Professor Orientador: Claudio Luiz Garcia

Instituição de Ensino Superior: UEL- Londrina

Relação Interdisciplinar:

(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)

Não há interdisciplinariedade

Resumo: Esta produção didático-pedagógica visa à prática de desenho de observação menos como cópia da realidade e mais como um processo de educação do olhar para o ambiente escolar, valorizando a expressão singular de cada estudante. Assim, propõem-se experiências de sensibilização para a investigação de novos materiais e ferramentas de desenho, estimulando, assim, um olhar crítico baseado na obra de alguns artistas brasileiros.

Palavras-chave:

(3 a 5 palavras)

Artistas brasileiros. Desenho. Experiências sensíveis.

Formato do Material Didático: Unidade Didática

Público: Alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

TURMA – PDE -2014

O DESENHO COMO MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO DO REAL NO ENSINO FUNDAMENTAL APRESENTAÇÃO

Considera-se relevante aprimorar as abordagens pedagógicas na

disciplina de arte, no sentido de ampliar o olhar dos alunos acerca da arte. Nesse

sentido, o presente trabalho propõe utilizar o desenho como uma abordagem para

que o aluno compreenda a arte como uma construção humana.

Ao longo dos anos, no trabalho em sala de aula, observa-se, pela

grande maioria dos professores, um expressivo número de alunos que demonstram

muita insegurança no momento de desenhar. Dizem que “não sabem desenhar” ou

que “não gostam”, que “não têm o dom”, que “sua mão é pesada demais e que

“marcam todo o papel”, que “seus desenhos são feios ou tortos”, e que às vezes

ficam irritados e impacientes por não conseguirem desenhar como gostariam. Nesse

contexto, realizam seus trabalhos apressadamente, valorizam demasiadamente os

desenhos impressos e desvalorizam sua produção e a dos outros alunos.

Diante dessa realidade, constata-se a necessidade de um trabalho

de intervenção pedagógica que possibilite experiências significativas para promover

no aluno o seu potencial criativo e estético, oportunizando o interagir com práticas

variadas, recursos e materiais diversos e suportes inovadores, pesquisando e

aprendendo sobre arte. Desse modo, esperam-se transformações tanto na prática

pedagógica do professor de arte, quanto na concepção dos alunos envolvidos no

projeto.

Portanto, o trabalho prevê a realização de uma proposta de ensino a

partir de exercícios de mobilização com novas experiências artísticas em desenho,

com o objetivo de levar o aluno a conhecer, explorar e valorizar os materiais

regionais, visando à construção de um novo olhar acerca da arte.

AÇÕES PEDAGÓGICAS

As propostas desta Unidade Didática serão desenvolvidas por meio

de aulas práticas de desenho, oportunizando aos alunos o interagir com

experiências, recursos e materiais diversos, visando à educação do olhar através de

práticas significativas.

Esta proposta é baseada no material do Instituto Arte na Escola,

tendo como eixo norteador das ações a construção de mapas conceituais.

Contempla os seguintes territórios: o ver, o perceber e o criar. A avaliação será

formativa e processual, tendo o portifólio como o procedimento mais adequado para

se verificar a aprendizagem. De acordo com Fernando Hernandez (2000), o portifólio

é o recurso de avaliação mais eficiente, pois leva à constante reflexão, tanto no

aluno quanto no professor. Ao aluno, facilita a compreensão e acompanhamento do

seu desempenho no processo de aprendizagem; ao professor, possibilita refletir

sobre suas ações, proporcionando a ambos uma visão geral do processo de ensino

e aprendizagem.

RIZOMA

Forma-Conteúdo Linguagens

desenho

Processo de Criação

Saberes Estéticos

linha, forma, espaço

poética pessoal, observação sensível

poética do artista, estética

INVESTIGANDO O CONHECIMENTO EM ARTE DO ALUNO

A educação em arte promove o desenvolvimento artístico, que se

caracteriza como um modo particular de dar sentido às experiências pessoais, por

meio do qual o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação.

Aprender arte não envolve tão somente fazer trabalhos artísticos,

mas manter a criança livre para se expressar através de seu corpo, de linhas

pinceladas, de ideias, de sentimentos e de capacidades, propiciando ao aluno a

chance de desenvolver a autonomia, a autoestima e a segurança para falar e

expressar suas ideias.

Todas as linguagens são vivenciadas pelas crianças como jogo e

brincadeira, mas os teóricos dão maior ênfase ao desenho infantil, por sua

importância no fazer artístico e pelo aspecto lúdico.

Derdyk (1994, p.50) diz que, enquanto a criança desenha ou cria

objetos, brinca de faz-de-conta e experimenta a capacidade imaginativa, ampliando,

ao mesmo tempo, a forma de pensar o mundo no qual está inserida:

A criança desenha, entre outras coisas, para divertir-se. É um jogo onde não existem companheiros, a criança é dona de suas próprias regras. Neste jogo solitário, ela vai aprender a estar só, „aprender a ser só‟. O desenho é o palco de suas emoções, a construção do seu universo particular. O desenho manifesta o desejo da representação, mas também o desenho, antes de tudo, é medo, é opressão, é alegria, é curiosidade, é afirmação, é negação. Ao desenhar, a criança passa por um intenso processo vivencial e existencial (DERDYK, 1994, P.50, GRIFO DO AUTOR).

Ao trabalhar “arte”, o aluno é estimulado a fazer investigações,

experimentações, comparações, a ter curiosidade, ao levantamento de hipóteses, ao

trabalho em equipe, proporcionando, dessa forma, o seu desenvolvimento cognitivo,

afetivo, social, cultural e estético. O conhecimento em arte propicia o

desenvolvimento do pensamento artístico, a ampliação da sensibilidade, a reflexão,

a imaginação, a inventividade, os sensos critico e estético.

Estimula também o desenvolvimento da expressão facial, gestual e

corporal, da oralidade, da descontração, da percepção auditiva e corporal, da

vivência musical, dentre outros. Possibilita grande aumento da capacidade de

visualização e da memória visual, memória auditiva do educando, além de ajudá-lo a

resolver problemas de ordem técnica e estética. A disciplina de arte possibilita

também uma compreensão mais significativa das questões sociais. Porém, o

conhecimento em arte não se dá de maneira espontânea: é fundamental a presença

do professor como mediador.

A arte-educação vem focando o trabalho na “mediação entre arte e

público” (BARBOSA; COUTINHO, 2009, p. 7). Para Barbosa (2009, p. 21), “a arte

tem enorme importância na mediação entre os seres humanos e o mundo,

apontando um papel de destaque para a arte/educação: ser a mediação entre arte e

o público”. Portanto, neste trabalho, busca-se no desenho um recurso para esta

efetivação.

Para Freeman (PILLAR, 1996), a criança não desenha o que vê, nem

o que conhece ou sente do objeto, mas o que conhece como desenho. Isso aponta

para a influência das imagens gráficas no processo de desenho das crianças. Para

realizar um desenho, necessita articular o que ela conhece do objeto com o

conhecimento das convenções gráficas do desenho.

Por intermédio do desenho é que a criança sente sua existência.

Tanto o desenho como o jogo reúnem o aspecto operacional e o imaginário,

promovendo o projetar, o pensar, o idealizar e o imaginar de situações.

Quando se pensa em arte, logo se pensa em criatividade. Fayga

Ostrower (1993) não encara a criatividade como propriedade exclusiva de alguns

raríssimos eleitos, mas como potencial próprio da condição de ser humano. Por essa

razão, a criatividade não pode ser tratada como objeto isolado, a ser estudado como

se fora compartimento estanque.

Fugindo a qualquer esquematização e simplificação, Ostrower (1993)

trata a criatividade como elemento dentro de um contexto mais vasto, sem deixar,

em nenhum momento do desenvolvimento de sua análise, de situá-la em relação à

problemática social, econômica, política e cultural, que, sem dúvida, obstaculiza o

livre fluir da criatividade humana.

Sobre criatividade, pode-se dizer que, enquanto capacidade do

homem de pensar sobre si próprio, sempre existiu, embora o seu estudo ordenado

tenha começado há pouco mais de um século. Trata-se de um processo

multifacetado, de nível distinto e ligado à inteligência, que envolve definição e

redefinição de problemas e combinação de conhecimento anterior numa nova forma

de aplicação. Ela depende da motivação para a tarefa, capacidade e conhecimento

num domínio, competências cognitivas e de um trabalho concentrado e enérgico.

A criatividade é uma competência do aluno autorregulado, por este

ser capaz de coordenar saberes que lhe permitam atingir suas aprendizagens. O ato

criativo implica saber o que vai ser criado e como; conjugar dificuldades e

capacidades e eliminar distrações. Importa ainda a negação do medo do fracasso e

a utilização estratégica do tempo.

A intervenção pode debruçar-se sobre várias áreas. É relevante,

contudo, estabelecer uma ordem, privilegiando saberes para subsidiar as operações.

A escolha lógica parece ser a que se centra numa delas, considerando sua natureza

multidimensional e interdisciplinar.

Pode-se intervir sobre pessoas, estudando os sinais da

personalidade que caracterizam as mais criativas e estimulando nas outras os

mesmos traços. Pode-se intervir sobre produtos, avaliando-os segundo muitos

critérios, entre os quais a originalidade, embora qualquer julgamento seja relativo,

condicionado histórica, cultural e socialmente e o próprio produto, diversificado,

como um texto científico, a resolução de um problema, uma pintura ou uma ideia.

Podemos, além disso, intervir sobre os processos através dos quais as pessoas

demonstram a criatividade, procurando descobrir um modelo, por meio do confronto

e da comparação de estratégias.

A escola pode estimular a criatividade, se promover uma

aprendizagem construtiva, cooperativa e significativa; se utilizar critérios que

valorizem a expressividade e a originalidade; se recorrer ao conhecimento dos

diversos domínios; se utilizar os processos de memorização como meio e não como

fim; se valorizar a compreensão; se aplicar e combinar métodos criativos.

ATIVIDADE 1 – CONSTRUÇÃO DE NARRATIVA PERCEBER/RELACIONAR

TEMPO ESTIMADO: 2 aulas OBJETIVO: Possibilitar a reflexão sobre o tema a partir de diálogos.

Iniciar com uma breve apresentação do projeto aos alunos. A partir

do tema Desenho, instigar os alunos a produzirem uma narrativa a partir das

seguintes indagações:

- Você gosta de desenhar? - Você desenha? - O que você mais gosta de desenhar? - Como são seus desenhos? - Desenho é arte? - Qual material você usa para desenhar? - O que é necessário para desenhar?

Depois, abrir uma discussão a partir das indagações acima e das

ideias apresentadas pelos alunos, levando-os à reflexão sobre o tema. Apresentar

algumas concepções de arte, mostrar-lhes alguns materiais usados para desenhar,

suas características, efeitos e especificidades: grafites diversos, carvão, giz,

canetas, além de alguns materiais adaptados ou inusitados como tinta produzida

com cola, terra, corantes, etc.

ATIVIDADE 2 – CADERNO DE TRAJETOS

VER/PERCEBER/CRIAR

TEMPO ESTIMADO: 2 aulas.

OBJETIVO: Observação e registro dos aspectos da vida cotidiana. Desinibição do traço.

Assistir ao Dvd Desenho: arte e criação - 3ª parte (Carla Caffé –

Paisagens urbanas e cadernos de viagem). Abordar a importância da observação.

Sugerir aos alunos um roteiro para se criar um caderno de trajetos

(inspirado no caderno de viagens da artista Carla Caffé).

Desenhar sobre tudo o que os rodeia no cotidiano; desenhar usando

a observação: a fachada da casa onde mora, da igreja que frequenta, do lugar

preferido para lazer, de alguns pontos da cidade, da escola, da prefeitura, viagens,

detalhes das paisagens no percurso até a escola, construções antigas da cidade,

construções mais atuais da cidade, etc.

O material usado será um caderno de desenho, lápis, caneta, lápis de cor, giz, etc.

Neste caderno, o aluno também pode incluir colagens, selos,

adesivos e tudo o mais que fizer parte do seu cotidiano e de sua cidade.

ATIVIDADE 3 – EXPERIMENTAÇÃO DE MATERIAIS PERCEBER/CRIAR TEMPO ESTIMADO: 2 aulas OBJETIVO: Possibilitar novas experiências.

Expor variados materiais e suportes para que os alunos os

conheçam, percebendo suas especificidades, suas características. Deixar que

risquem, rabisquem, pintem e tracem linhas. Enquanto os alunos fazem suas

experiências, ir questionando-os para perceberem as especificidades dos materiais.

Suportes: papelão, papel craft, lixa de parede, canson, ofício,

guardanapo de papel, cartolina colorida.

Materiais: carvão, giz de cera, lápis, giz escolar, canetas, pedras

macias, tinta, pincel, graveto, haste flexível.

O ENSINO DE ARTE NO ENSINO FUNDAMENTAL

Considerando o ensino de Arte como parte da educação básica e

como necessário para o desenvolvimento do educando, convém lembrar que o ato

de ensinar deve pautar-se num processo de reflexão sobre a finalidade da

educação, com objetivos, conteúdos e metodologias, a fim de que os alunos

aprendam sobre diversas áreas do pensamento e de criação artística, expandindo a

capacidade de criação e desenvolvimento do pensamento crítico.

Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais do Ensino de Arte do

Paraná (PARANÁ, 2008), há uma grande complexidade na tarefa de definir arte.

Portanto, o documento considera a necessidade de abordá-la através dos campos

conceituais, como:

o conhecimento estético está relacionado à apreensão do objeto artístico

como criação de cunho sensível e cognitivo. Historicamente originado na Filosofia, o conhecimento estético constitui um processo de reflexão a respeito do fenômeno artístico e da sensibilidade humana, em consonância com os diferentes momentos históricos e formações sociais em que se manifestam. Pode-se buscar contribuições nos campos da Sociologia e da Psicologia para que o conhecimento estético seja melhor compreendido em relação às representações artísticas; o conhecimento da produção artística está relacionado aos processos do fazer e da criação, toma em consideração o artista no processo da criação das obras desde suas raízes históricas e sociais, as condições concretas que subsidiam a produção, o saber científico e o nível técnico alcançado na experiência com materiais; bem como o modo de disponibilizar a obra ao público, incluindo as características desse público e as formas de contato com ele, próprias da época da criação e divulgação das obras, nas diversas áreas como artes visuais, dança, música e teatro. (PARANÁ, p. 52-53)

Por meio desses campos, efetiva-se a construção do conhecimento

em Arte, relacionando o estético e o artístico, que se materializa pelas

representações artísticas. Assim, as aulas de arte devem propiciar ao aluno o

conhecimento sobre a variedade de pensamentos e de criação para que seja

expandida sua criação. Afirma OSTROWER (1987): “ao transformarmos as matérias,

agimos, fazemos. São experiências – processos de criação – que nos envolvem na

globalidade, em nosso ser sensível, no ser pensante, no ser atuante”. Dessa forma,

podemos pensar o desenho como meio para que tal conhecimento se efetive.

ATIVIDADE 4 – DESENHO CRIATIVO

CRIAR/PERCEBER TEMPO

ESTIMADO: 2 aulas OBJETIVO: Explorar e perceber os diversos espaços. Interagir com a produção de

outros alunos. Desinibir o traço.

Fixar papel craft de tamanhos variados por todo o ambiente, nas

paredes, explorando alturas diferentes; pelo chão, por cima e por baixo das

carteiras; em lugares de difícil acesso, criando espaços inusitados para que os

alunos desenhem.

Depois de algum tempo desenhando, sugerir que troquem de lugar

com os amigos para explorar outro espaço e até interferir na produção dos outros

alunos.

Ao final da atividade, expor as produções para que seja feita uma

reflexão sobre a atividade realizada: mencionar os diversos traçados, as formas, as

texturas e a sensação individual ao realizar a proposta.

ATIVIDADE 5 - DESENHO LIVRE

CRIAR/PERCEBER

TEMPO ESTIMADO: 2 aulas

OBJETIVO: Proporcionar novas experiências. Desinibir o traço.

Distribuir papel craft sobre o chão, fixando-o com fita adesiva.

Amarrar pincel atômico em um cabo de vassoura ou vareta para que os alunos

desenhem em pé, caminhando em torno do papel.

O tamanho do cabo da vassoura deve ser a medida do chão até o

início do tronco do aluno; o ambiente mais adequado para essa atividade é o pátio

ou a quadra.

Ao final da atividade, fazer questionamentos aos alunos acerca da

experiência: como foi desenhar em pé? Teve dificuldade ou facilidade com o

material? Como é o traçado sobre o papel? Aparecem texturas? Como são as

linhas?

COMPREENDENDO O DESENHO

O desenho é o processo preliminar de configuração mental na busca

de uma solução. Noutros termos, o desenho consiste numa visão representada

graficamente de uma futura obra. Também pode ser entendido como uma forma que

o aluno encontra na tentativa de organizar e reorganizar seu ambiente. Ele

possibilita ao aluno construir e reconstruir o que está a sua volta.

Diferentemente da pintura que usa a mancha para preencher

superfícies com a cor, o desenho caracteriza-se pela representação gráfica de

traços. O seu uso isolado ou na construção de formas, dependendo do propósito,

pode gerar sobre uma superfície física, imagens figurativas ou abstratas. O desenho

pode ter como ponto de partida vários enfoques. Há os que reproduzem o mundo

real, outros que revelam a memória do seu autor e ainda os que são propostas

originais de novas formas. O desenho de criação apresenta configuração original.

Pode ser obra de pura imaginação, abstração ou o resultado da combinação de

outras formas já existentes, inspiradas nos elementos da realidade.

Segundo DERDYCK (1989), “Não há mais dúvidas de que todas as

pessoas são inatamente criadoras, independentemente de sua formação cultural, de

sua origem racial ou geográfica”. Deste modo, o desenho consiste em expressar o

pensamento através de esboços, grafismos, apontamentos e esquemas traçados em

qualquer material. O ato de desenhar pode ser considerado como criatividade (o ato

da criação), inovação (no caso de o objeto ainda não existir) ou uma modificação de

algo que já existia (através da abstração, da síntese, do ordenamento ou da

transformação).

ATIVIDADE 6 – REPRESENTAÇÃO FIGURATIVA E NÃO FIGURATIVA

VER/PERCEBER/CRIAR TEMPO ESTIMADO: 3 aulas OBJETIVO: Estimular um olhar mais atento.

Observar a natureza do entorno escolar, atentando aos detalhes da

figura; destacar alguns detalhes gráficos que possibilitem outras formas não

figurativas, suas formas, linhas e texturas (folhas, flores, troncos das árvores, grama,

etc). A partir desses detalhes, criar um desenho não figurativo.

Ao final da atividade, expor as produções, instigando os alunos para

que façam suas considerações acerca da atividade.

ATIVIDADE 7 – DESENHO DE OBSERVAÇÃO

VER/PERCEBER/CRIAR TEMPO ESTIMADO: 4 aulas OBJETIVO: Provocar um olhar diferente sobre o objeto.

Expor na sala de aula objetos para os alunos desenharem com base

na observação. Tais objetos podem ser: luminária, vaso, ferro de passar roupa, etc.

O suporte pode ser papel craft, cartolina, canson. Além de grafite, deixar aos

próprios alunos a escolha do material para o desenho: carvão, pedra, giz, lápis, etc.

Instigá-los a perceber o material e sua função, suas características e resultados.

Ao término da atividade socializar as produções, compartilhando

as dificuldades, as sensações e levar os discentes a perceberem as muitas formas

de desenhar a mesma coisa ou objeto.

DESENHO COMO SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO

Há no homem uma necessidade de se comunicar, representar ideias

e pensamentos, seja pela escrita ou por meio do desenho. Na Pré-História, o homem

produziu imagens as quais foram atribuídas à ideia de apropriação dos seres

representados por intervenção mágica. Em povos primitivos, também existem

manifestações que expressam sua espiritualidade através do desenho e pintura

corporal.

Como afirma Derdyk (2007, p.23), “[...] em seus primórdios, o

desenho da palavra – os pictogramas, os hieróglifos, os ideogramas, escritas

analógicas e visuais – explicita sensivelmente a natureza mental e inteligível do

desenho como ato e extensão do pensamento”. Essa concepção refere-se ao

desenho como linguagem ligada ao intelecto. Segundo esta mesma concepção

sobre o desenho, Eluf (2009, p.12,) diz que “O desenho é onde o pensamento do

artista se materializa, organiza, expressa e constrói”. O ato de desenhar é ação

conjunta entre a inteligência, emoção, sensibilidade e poder de decisão. Dessa

forma, não é mais aceitável pensar o desenho como algo pouco importante ou que

em nada contribui para a formação do sujeito ou que desenhar é dom existente em

algumas pessoas. Se assim o fosse, não teríamos a capacidade de aprender algo

novo.

O desenho nos remete a um meio de conhecimento e seu uso não

se restringe ao lápis e papel. Na infância, temos o primeiro contato com algum tipo

de desenho, e as crianças inconscientemente riscam e rabiscam por toda parte:

paredes, móveis, chão, terra, areia. Qualquer objeto se torna material para suas

garatujas: cacos de telhas, pedra, graveto ou o próprio dedo. Com isso, exploram

espaços, percebem o mundo e se percebem nele.

Entre os 10/12 anos, o aluno desenha aquilo que sabe ou conhece

sobre ele e não aquilo que vê. Conhecemos inúmeras coisas, porém não

percebemos suas minuciosidades, não as vemos realmente como são. Dessa forma,

há uma grande diferença entre ver uma coisa e vê-la desenhando-a. Ao desenhar de

observação um objeto, este se torna muito diferente do objeto a ser representado,

pois essa observação transforma o olhar para o mundo.

Inicialmente, para ver, é preciso querer; trata-se de uma visão

deliberada que tem o desenho como fim e meio simultaneamente. Ao desenhar, é

necessária uma atenção voluntária, capaz de transformar o que acreditava

conhecer. Essa vontade deve ser continuada, pois desenhar de observação exige o

comando da mão pelo olhar. A mão e o olho são aparelhos independentes que

devem colaborar entre si no momento do desenho. Assim, o desenho requer uma

atenção maior e um estado mais atento para evitar o automatismo sensório-motor.

Durante o comando da mão pelo olho, a memória se apresenta em cada linha

traçada, o traçado visual se transforma em traçado manual e se modifica, uma vez

que o desenho acontecerá por breves elementos de uma lembrança.

ATIVIDADE 8 – PRÁTICA DE MANUFATURA DE TINTAS E DESENHO DE IMAGINAÇÃO

CRIAR/PERCEBER

TEMPO ESTIMADO: 6 aulas

OBJETIVO: Construir seu próprio repertório de cores. Conhecer alguns pigmentos

naturais.

Apresentar aos alunos o pigmento natural (pó xadrez) vermelho e

amarelo e o artificial (bisnaga líquida), juntamente com dois tipos de fixadores ( tinta

látex ou pva e cola cascorez ).

Elucidar suas características, extração natural a partir de óxidos de

ferro e a industrializada. Chamar a atenção para a cola que preserva a cor do

pigmento e a tinta que torna a cor mais fraca. O pó xadrez deve ser diluído

primeiramente em água e usado só depois.

Após essas e outras considerações, produzir com os alunos suas

próprias tintas, variando os dois fixadores e os pigmentos.

1ª tinta: com cola e água - diluir a cola com água em pouca quantidade, apenas o

suficiente para deixar a cola em ponto de fio. Após feita essa mistura, dividi-la em

copinhos. Cada aluno acrescenta um pouquinho da bisnaga líquida na cor desejada

e mexe, para obter sua tinta. O mesmo processo pode ser realizado usando o pó

xadrez ( lembrando que este deve ser dissolvido anteriormente).

2ª tinta: com látex branco ou pva - dissolver a tinta em água e aplicar o pó xadrez ou

a bisnaga liquida, mexer e está pronta para o uso.

Os alunos podem desenhar usando uma variedade de materiais para

enriquecer sua experiência (haste flexível, pincel, gravetos, etc. Usar como suporte o

craft.).

Durante o processo, lançar questionamentos: Existem semelhanças

ou diferenças nas tonalidades deixadas sobre os suportes? Como é o traçado?

Como são as linhas? Etc.

ATIVIDADE 9 – DESENHO DE OBSERVAÇÃO

PERCEBER/CRIAR

TEMPO ESTIMADO: 6 aulas

OBJETIVO: Experimentar materiais variados e desenvolver no aluno um olhar mais atento.

Levar os alunos a observar atenta e detalhadamente o entorno

escolar; escolher um determinado lugar e desenhá-lo sem se preocupar com sua

aparência real, mas segundo seu olhar e sua sensação diante do objeto. Desenhar

usando sulfite sobre uma prancheta e lápis grafite.

Pedir que atentem aos diversos tipos de folhagem, suas formas,

cores, texturas, tamanhos e outras, pertinentes à paisagem em questão.

Esta atividade pode ser repetida muitas vezes, variando a paisagem:

praças, jardins, etc. Pode-se também variar os suportes e materiais de desenho para

que os alunos tenham a oportunidade de experimentar materiais variados em suas

produções.

Ao final da atividade, fazer com os alunos a reflexão da prática de

desenho, suas considerações, sensação vivenciada, dificuldades apresentadas,

instigando-os a perceber a estética individual dos colegas.

AMPLIANDO O REPERTÓRIO VISUAL DO ALUNO PELA ARTE

A arte nos possibilita “dialogar com o mundo”, expressão esta que Paulo Freire (1996) já mencionava ao referir-se à leitura. Para ele, a leitura é bem

mais que decodificar palavras: é ler o mundo. Sendo assim, podemos também dizer

que a arte propicia tal leitura de mundo, dado que nos faz compreender de forma

mais crítica, sensível e aguçada, as cores, as formas, as texturas, outras culturas, a

natureza, os objetos, os fatos, as pessoas, o mundo e a nós mesmos.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte (BRASIL, 1997)

esclarece-se que, no percurso criador específico da arte, os alunos estabelecem

relações entre seu conhecimento prévio na área artística e as questões que um

determinado trabalho desperta entre o que querem fazer e os recursos internos e

externos de que dispõem, entre o que observam nos trabalhos dos colegas e nos

que eles mesmos vêm realizando.

As propostas artísticas devem proporcionar ao aluno a

experimentação de materiais diversos, tomando a experiência como base para a

aprendizagem.

Contemporaneamente, vivemos numa sociedade de ênfase na

informação, a qual nos chega principalmente pelas mídias, de forma acelerada. Os

sujeitos estão preocupados em manter-se atualizados, tornando-se consumidores

insaciáveis de notícias. Dessa forma, a experiência torna-se cada vez mais rara: não

há mais tempo, falta o silêncio e a memória. Existe também no homem a

necessidade de opinar, de ter algo a dizer sobre as informações. Por isso, fala-se

sobre o que não se conhece a fundo, redundando-se em discursos desnecessários e

equivocados, o que não contribui em nada para a experiência.

Recebem-se milhares de informações, mas estas não nos tocam, são

passageiras. Assim, informação não é experiência, tampouco a proporciona.

A informação refere-se ao saber sobre as coisas; são todas as

notícias que nos chegam pela linguagem oral ou midiática, não havendo a

preocupação com sua veracidade. Já a experiência diz respeito ao que nos acontece

pela vivência de algo. É adquirida pelo fazer e requer espaço e tempo. Nesse

contexto, encontra-se também a escola, suprimindo a experiência pela informação,

opinião e velocidade. Existe a ideia de que nas escolas e livros aprende-se a teoria e

no trabalho adquire-se a experiência. Porém, o trabalho também não proporciona a

experiência. O trabalho é a pretensão do homem de conformar o mundo, seja o

mundo “natural”, “social” ou “humano”.

Para que a experiência ocorra, requer-se interromper a velocidade do

tempo atual, parar para pensar, olhar, escutar, sentir, observar os detalhes com

atenção e delicadeza, não julgar nem opinar e dar-se tempo e espaço. Será sujeito

da experiência aquele que se abrir para o novo, se expor para o desconhecido como

um ser receptivo.

ATIVIDADE 10 – DVD

PERCEBER/RELACIONAR/CRIAR TEMPO ESTIMADO: 4 aulas

OBJETIVO: Conhecer as diversas formas como o objeto pode ser representado.

Exibir para os alunos o DVD Desenho: arte e criação (1ª parte), do

Instituto Arte na Escola. Abordar alguns assuntos sobre o vídeo como: Emiliano Di

Cavalcanti, desenhos do mais simples ao mais complexo, desenho de memória, de

observação e desenho de imaginação; procedimentos variados, arte moderna,

enfocando a poética pessoal de cada artista.

Fazer uma adaptação da técnica apresentada por Di Cavalcanti

(scraper board). Em cartolina, pintar todo o papel com giz de cera branco; aplicar por

cima nanquim preto; após secagem, desenhar com prego.

Após a atividade realizada, fazer com os alunos uma reflexão sobre

as produções e os resultados.

ATIVIDADE 11 – LEITURA DE IMAGENS

VER/PERCEBER/CRIAR

TEMPO ESTIMADO: 6 aulas OBJETIVO: Ampliar o olhar do aluno acerca da arte. Enfocar a história da arte nas

práticas dos artistas.

Exibir imagens de obras de diferentes artistas como Marcello

Grassmann, Anita Malfatti, Eliseu Visconti e Tarsila do Amaral, da Coleção Cadernos

de Desenho.

Na coleção citada, Marcello Grassmann aborda o figurativismo

fantástico e seres mitológicos; Anita Malfatti e Eliseu Visconti, retratos, e Tarsila do

Amaral apresenta paisagens resultantes de suas viagens.

Instigar o aluno a perceber os diversos temas, o período, os

materiais, os traçados, a forma e principalmente a poética do artista, comparando as

mais variadas estéticas.

Escolher uma ou duas obras e fazer a leitura: olhar, descrever,

analisar, relacionar e interpretar. Fazer a cópia interpretativa de uma obra.

REFERÊNCIAS

ALENCAR. E. M. L. S. (1998). Desenvolvendo o potencial criador: 25 anos de pesquisa. Cadernos de Psicologia, 4 (1), 113-122.

BARBOSA, Ana Mae (org). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2003. 2ª ed.

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Tradução João Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação. Jan/Fev/Mar/Abr 2002, Nº 19, p.20-28. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf . acesso em 26/07/2015.

DERDYK, Edith. Design. Desenho. Desígnio. Senac: São Paulo, 2007. DESENHO: Arte e Criação / Instituto Arte na Escola; autoria de Elaine Schmidlin; coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. –São Paulo: Instituto Arte na Escola, 2006. (DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor; 105). ELUF, Lygia (org). Anita Malfatti - Coleção Cadernos de Desenho. Campinas: Unicamp, 2011. ________. Eliseu Visconti - Coleção Cadernos de Desenho. Campinas: Unicamp, 2008.

_____. Marcello Grassmann - Coleção Cadernos de Desenho. Campinas: Unicamp, 2010.

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