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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
PRECONCEITO E BULLYING NA CONTEMPORANEIDADE
Elaine Aparecida Donatoni1
Prof. Orientador Lucas Patschiki2
RESUMO: O presente projeto teve como objetivo conhecer e identificar as causas do fenômeno bullying e do preconceito no ambiente escolar, levando os estudantes a se envolver com o tema buscando soluções para minimizá-lo. A intervenção ocorreu no ano de 2014, com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Jardim Santa Felicidade, município de Cascavel, tendo como estratégia de ação, leitura de textos, notícias jornalísticas, filmes, produção de textos, histórias em quadrinhos, vídeos e paródias. Ao termino do estudo, percebeu-se que os educandos conseguiram entender a temática e possivelmente, serão pessoas melhores e tentarão transformar a realidade escolar atual, considerada violenta para um ambiente de paz, harmonia, mais seguro e mais confortável.
Palavras chaves: Preconceito; bullying; ambiente escolar.
1 INTRODUÇÃO
O ambiente escolar está passando por grandes desafios, como indisciplina,
violência, dentre eles estão também, o Bullying e o Preconceito. É comum nos
depararmos com notícias com finais trágicos envolvendo alunos que sofreram o com
estes fenômenos, por isso o nosso objetivo neste artigo, foi, primeiramente conhecer
o problema, através de estudos, voltados à temática, para posteriormente identificar
as causas e consequências deste, na escola, procurando envolver os alunos em
problemas sociais para que percebam que podem mudar a realidade em que vivem.
A implementação aconteceu no ano de 2014, com alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental do Colégio Estadual Jardim Santa Felicidade, município de Cascavel,
tendo como estratégia de ação, leitura de textos, notícias jornalísticas, filmes,
produção de textos, histórias em quadrinhos, vídeos e paródias.
A intervenção pedagógica na escola me proporcionou uma grande satisfação,
pois percebi, através do desenvolvimento da mesma que consegui atingir o meu
objetivo que era de aproximar os alunos, destes fenômenos e torná-los parte do
problema, para que buscassem soluções passiveis de ser cumpridas no
estabelecimento. Todo problema que é amplo, não se resolve em apenas um dia e
nem com uma implementação de um curso de PDE, mas foi plantando uma
sementinha e os frutos virão com toda a certeza.
1 Professora PDE/2012.
2 Professor Orientador PDE UNIOESTE-Marechal Candido Rondon.
2 REFERENCIAL TEÓRICO O preconceito, e especialmente o bullying, é reflexo da intolerância na
sociedade se dá em meio as transformações, sociais econômicas e
comportamentais, as quais representam um grande desafio aos ambientes
escolares, pois vivemos em uma sociedade em que as relações humanas são
marcadas pela desigualdade e exclusão social, que nos leva para o
desconhecimento do outro. Neste artigo busca-se compreender esta violência
através da análise da formação dos sujeitos sociais, como resultado das vivências
históricas, das relações sociais em que está inserido, dentro do sistema capitalista,
no qual prevalece sempre aquele que melhor se enquadra nos padrões pré-
estabelecidos pelo sistema. Como sujeitos pertencentes a um processo histórico é
importante, que estes percebam, como parte integrante do processo em questão e
ao mesmo tempo reconheçam, qual será o seu papel dentro dele. Para Soares:
As crianças e adolescentes, seres em formação, são muito vulneráveis do ambiente: a intolerância é aprendida. Se não recebem afeto, orientação e formação sólida em seus ambientes domésticos ficam à mercê da permissividade e da falta de capacidade de respeitar seus semelhantes (seja ele quem for). A não existência de comportamentos de referência e exemplos vindos de seus pais é um ingrediente fatal para o cultivo diário da intolerância em seus ambientes escolares [...] que frequentemente crianças e adolescentes extravasam suas perturbações subjetivas e inquietações psíquicas. É através de comportamentos agressivos ou de excessivo retraimento que a vítima ou aquele que comete Bullying se expressa.
Na concepção do autor, a formação de cada indivíduo se dá através do
contexto sócio histórico em que está inserido, e a maneira como este se comporta
nas relações é resultado das influências que sofre, principalmente na sua formação
escolar e que são levados no decorrer de sua vida. Os pais não conseguem estarem
presentes na vida do filho, afetivamente, pois precisa estar no mercado de trabalho,
sendo assim não conseguem expressar seus sentimentos de afeto e amor aos filhos
e tenta superar, tal ausência, com presentes que vão de roupas e calçados que são
ditados pela sociedade dita “padrão”, até produtos de eletroeletrônicos, com
tecnologia de ponta, o que além de alimentar a delinquência, ainda os tornam
poderosos em relação a outros.
De acordo com Fante (2005, p. 28) o bullying é um conjunto de atitudes
agressivas, intencionais e repetidas, insultos intimidações, apelidos cruéis, acusação
sem fundamentação, que ocorrem sem motivação clara, adotado por um ou um
grupo de alunos, causando dor, angústia e sofrimento, baixa autoestima,
insegurança, depressão, tentativas de suicídio, suicídio, e também problemas na
aprendizagem e evasão escolar. Vendo para o passado o fenômeno do preconceito
é tão antigo quanto a mesma escola que existe há muitos séculos, porém nas
últimas décadas do século XX, especificamente no Brasil, e, em parte, fruto do
regime militar, o fenômeno era tratado como brincadeira de criança, pouco divulgado
pela mídia e quando alguém reclamava era considerado como “frescura”, no entanto
muitos adultos, hoje, fazem tratamentos pelos traumas sofridos naquela época.
Atualmente, considerado como um dos piores tipos de violência praticados no
mundo inteiro.
Para compreender melhor esse fenômeno contemporâneo do bullying
procuramos sua origem e sua historicidade e constatamos que a palavra bullying
tem origem inglesa (bully) e significa tirania e valentia. Embora possa ser um
fenômeno que existe há anos, apenas em 1970 começou a ser estudado na Suécia,
pelo professor Dan Olweus, na Universidade de Bergen, quando passou a observar
e investigar os agressores e vítimas no âmbito escolar, por meio de um estudo que
reuniu 84 mil estudantes de todas as séries, com o objetivo de avaliar as taxas de
ocorrências e as formas pelas quais, se apresentavam na vida escolar das crianças
e adolescentes
Conforme Silva (2010, p. 111) o tema só passou a ser objeto de preocupação
e estudo devido a inquietação de uma grande parte da sociedade, não demorando
para que outros países escandinavos passassem a se interessar também pelo
assunto. E toma outras proporções em 1982, após o suicídio de três meninos entre
dez e catorze anos de idade onde as investigações apontaram a causa da tragédia,
como sendo os maus tratos sofridos pelos adolescentes. Em 1983 ocorreu uma
grande campanha de combate ao bullying, organizada pelo Ministério da Educação
da Noruega.
No Brasil, a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à
Adolescência (ABRAPIA) desde 2001 estuda o caso, com a realização de pesquisas
em escolas públicas e particulares, visando traçar um perfil do problema. No Paraná,
o Governo do Estado, sancionou a Lei 17.335/12 de 10 de outubro de 2012 onde
define o fenômeno bullying, como:
Atitudes de violência física ou psicológicas intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente, praticadas por um indivíduo (bully) ou
grupos de indivíduos, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-las ou agredi-la, causando, dor e angustia a vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre partes envolvidas.
A referida Lei é recente e como todas necessitam de um prazo para que seja
socializada com os demais envolvidos, depende da responsabilidade de cada
instituição à sua aplicação, pois acredita-se que o seu cumprimento trará resultados
positivos, mas em se tratando de relações interpessoais, a punição muitas vezes
tem efeito contrário, então o que realmente é válido é a conscientização.
Para Silva (2010, p. 79) “a escola tende a reproduzir a sociedade como um
todo”, sendo que no universo dos alunos existem três grupos: os populares são
aqueles que se encaixam aos padrões pré-estabelecidos. Os neutros são aqueles
que sentem medo, e tentam se dar bem com os populares, evitam os menos
favorecidos. Os excluídos são os diferentes, que fogem aos padrões sociais pré-
estabelecidos. Geralmente são os excluídos que mais sofrem com o bullying, por
serem já fragilizados, devido a sua condição física ou psicológica.
Em relação aos atores envolvidos no bullying, Silva constrói a seguinte
tipologia:
- Autores: segundo ABRAPIA (s/d), aqueles que só praticam a violência; são
crianças e jovens oriundas de famílias geralmente desestruturadas, com pouco
relacionamento afetivo entre os membros, tem pouca empatia com grande
probabilidade de se tornarem adultos com atitudes antissociais e/ou violentas,
podendo praticar, atitudes delinquentes e até crimes. São mais fortes que os outros,
o que é uma vantagem, os pais não tem domínio sobre eles e às vezes praticam
comportamentos violentos, no intuito de solucionar conflitos (JUNIOR & CARVALHO
2011).
- Alvos: são aqueles que só sofrem a violência, sofrem com as consequências
do comportamento violento dos colegas, e não conseguem se defender por serem
pouco sociáveis e inseguros, sem esperança; apresentam grande dificuldade em
adequar-se e permanecer na escola, desenvolvem traumas e doenças psíquicas.
Muitos acabam tentando ou cometendo o suicídio ou homicídios em decorrência da
raiva (JUNIOR & CARVALHO 2011).
Normalmente, não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessar os atos danosos. Apresentam aspecto físico diferenciado dos padrões impostos por seus colegas (magro ou gordo) e têm pouco rendimento nos esportes e em lutas devido à coordenação motora pouco desenvolvida. A baixa auto-estima é agravada por intervenções críticas ou pela indiferença dos adultos sobre seu sofrimento. Alguns crêem merecedores do que lhes é imposto. Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos (FANTE, 2005, p. 74).
- Testemunhas: Segundo ABRAPIA (s/d), as testemunhas são aqueles que
não sofrem nem praticam o bullying, mas convivem em um ambiente onde o
fenômeno ocorre. Representa uma grande maioria dos alunos, que presenciam a
violência, mas não tomam nenhuma atitude contrária, devido ao temor de tornarem-
se os próximos alvos. Cultivam grande insegurança, e essa insegurança, pode
influenciar negativamente sobre a capacidade de progressão escolar e social destes
alunos (JUNIOR & CARVALHO 2011).
.As pessoas que não se enquadram nem como vítimas, nem como agressoras são as testemunhas ou também chamadas de expectadores. Os expectadores, mesmo que não gostem das atitudes de bullying que são infligidas contra outros colegas seus, também não fazem nada porque eles também estão envolvidos pela “lei do silêncio” que impera dentro do ambiente, do meio escolar. Os expectadores também nada falam ou denunciam os agressores às autoridades escolares por medo de sofrerem retaliações por terem “tomado partido” a favor das vítimas. Todos sabem que a vítima sofre muito, sendo humilhada, roubada, discriminada, excluída, ameaçada, enfim, e exatamente por saber disso é que a pessoa não fará nada justamente por que não quer passar pelo mesmo (SILVA, 2002, p. 42-43).
- Autores/Alvos: Agridem e também são agredidos, às vezes são vítimas e as
vezes autores. São aqueles indivíduos que respondem prontamente a alguma
agressão, a alguma indireta que sejam dirigidas a eles, com outra forma de
agressão, por isso, são considerados ao mesmo tempo autores (agressores) e alvos
(vítimas) (SILVA, 2002, p. 42-43).
Nos ambientes escolares contamos com uma variedade de comportamentos,
os quais devem ser identificados e analisados para que se obtenha, os resultados
esperados nas ações em relação ao enfrentamento do preconceito e do bullying, os
conceitos relacionados em seguida, podem ser aliados para compreensão da
problemática e a formação de uma atitude crítica sobre o assunto. Num primeiro
momento trazemos para uma discussão teórico-metodológica sobre a formação da
identidade do aluno, que de acordo com Ciampa (1987) está em constante
transformação, e constitui resultado provisório da interseção, entre a história da
pessoa, seu contexto histórico e social e seus projetos. Essa conjuntura identitária
tem caráter dinâmico e seu movimento pressupõe uma personagem, sendo esta a
vivência pessoal. As diversas maneiras de se estruturar as personagens resultam
diferentes modos de produção identitária, sendo assim, identidade é a articulação
entre igualdade e diferença.
Neste sentido entendemos que, na escola temos vários tipos de identidade,
ou seja, cada aluno tem sua história, se desenvolveu em um contexto diferente do
outro, talvez seja este o principal motivo que a transforma em um campo de
disputas, carregado por sentimentos preconceituosos, mas como o próprio autor
ainda afirma “é o resultado provisório”, por isso acreditamos que a intervenção
deste projeto pode transformar a realidade em questão.
Para isso é necessário que prevaleça, nas relações escolares, a alteridade,
ou “outridade” sendo ela a concepção que parte do pressuposto básico, de que o
homem é social interage e interdepende de outros indivíduos. Assim, como muitos
antropólogos e cientistas sociais afirmam a existência do "eu-individual" só é
permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o
Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo). Já Jodelet (1998) define a
alteridade como um processo simultâneo de construção e de exclusão social, cuja
compreensão deve ser conjunta e englobar os níveis interpessoais e intergrupal.
Os autores defendem que quando há a compreensão do outro na plenitude da
sua dignidade, dos seus direitos e, da sua diferença, tanto nas relações sociais
quanto nas pessoais, ocorrem menos conflitos. Por isso a importância de nos
aprofundar nessas questões, buscando desenvolver nas relações dos grupos
presentes na escola, o exercício da alteridade, que é o contrário do Etnocentrismo, o
qual é definido como um conceito antropológico, que acontece por um indivíduo ou
grupo que tem hábitos culturais, sociais semelhantes e discrimina o outro, julgando-
se melhor, por causa do modo de ser, de vestir, de se portar do outro, que não
passam de construções históricas com ênfases de dominação.
Esta visão do mundo, onde nosso próprio grupo é tomado como centro de
tudo é denominada etnocentrismo. Trata-se de uma visão que toma a cultura do
outro (alheia ao observador) como algo menor, sem valor, errado, primitivo. Ou seja,
a visão etnocêntrica desconsidera a lógica de funcionamento de outra cultura,
limitando-se à visão que possui como referência cultural. A herança cultural que
recebemos de nossos pais e antepassados contribui para isso, pois nos condiciona
ao mesmo tempo em que nos educa.
Tendo em conta o exposto acima, percebe-se que a prática do etnocentrismo
está implícita no preconceito e no bullying que vemos nas escolas, assim como em
outros ambientes de nossa sociedade, onde há a não aceitação do diferente. Para
isso, tomamos como exemplo, os casos de homofobia que estão cada vez mais
presentes em nosso meio, em que aqueles que fizeram uma opção sexual diferente,
são marginalizados e até excluídos de centros religiosos ou de outros ambientes
sociais.
A não aceitação destas transformações ocorridas ao longo dos tempos gera
todos estes desdobramentos. Tal afirmação é observada na concepção de família
que foi produzida historicamente com uma estrutura bem diferente da presente hoje
em nossa sociedade, onde a formação era constituída pelo pai (hetero), mãe
(hetero) e filhos. Seguia se uma hierarquia onde o esposo era responsável pelo
sustento de sua família, a esposa responsável pela casa – dona de casa. Já nos
dias atuais, como afirma Giffin (1998) “a estatística mundial mostra que de um
quarto a um terço das famílias não contam com a presença do pai, na manutenção
econômica, fenômeno esse justificado pela participação das mulheres no mercado
de trabalho”. Por outra parte, estamos vivenciando a formação de famílias
constituídas por pessoas do mesmo sexo, tema que vem causando muitas
discussões, após a divulgação da Resolução do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) que obriga cartórios a celebrar o casamento civil, entre pessoas do mesmo
sexo, tornando legal às uniões estáveis homoafetivas. Esta decisão foi criticada,
principalmente pela CNBB que em nota disse “que considera que as uniões de
pessoas do mesmo sexo não podem ser simplesmente equiparadas ao casamento
ou à família, defende o matrimônio natural, entre homem e mulher bem como a
família monogâmica” (MARINGÁ ACONTECE, maio/2013). Estes posicionamentos
demonstram o quanto a sociedade é intolerante com aquilo que foge aos seus
padrões
Nesta perspectiva é necessário saber o que está posto em nosso meio sobre
o que seja a sociedade. O termo teve origem no latim: societas, que significa
"associação amistosa com outros, sendo o conjunto de pessoas que compartilham
propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo
a comunidade. A sociedade é objeto de estudo comum entre as ciências sociais,
especialmente a sociologia, a história, a antropologia e a geografia. No sentido
amplo trata-se de grupo de indivíduos que formam um sistema semiaberto, no qual a
maior parte das interações é feita com outros indivíduos pertencentes ao mesmo
grupo. Uma sociedade é uma rede de relacionamentos, entre pessoas que
compartilham desde sistemas econômicos até simbólicos. Nesse sentido uma
sociedade é uma comunidade interdependente. O significado geral de sociedade
refere-se também a grupos de pessoas, vivendo juntas em comunidades
organizadas, como é a escola. O conjunto de pessoas envolvidas no meio escolar
constitui-se uma comunidade, denominada comunidade escolar, sendo esta o
publico desta implementação pedagógica, onde procurou que o outro, não precisa
ter a mesma raça, credo ou opção sexual para ser aceito no referido meio.
Dentro da sociedade existe o conceito fundamental de cidadania, bastante
discutido nas ruas, nos últimos dias no Brasil e que é apresentado por Dallari (2004,
p.24), “a cidadania expressa, um conjunto de direitos que dá à pessoa a
possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo”, ou seja, é
o conjunto de normas e regras existentes em uma sociedade constituída, em que os
envolvidos devem se submeter para que haja harmonia. Para Nabais (2005, p. 119):
A cidadania pode ser definida como a qualidade dos indivíduos que, enquanto membros ativos e passivos de um Estado-Nação, são titulares ou destinatários de um determinado número de direitos e deveres universais e, por conseguinte, detentores de um específico nível de igualdade.
Quando os educandos respeitam os direitos dos outros e cumprem os seus deveres,
junto à comunidade escolar está exercendo a sua cidadania. Ser um cidadão comprometido,
atuante, responsável pelos seus atos, que respeita os limites dos outros e a diversidade
sociocultural presente, não só na escola, como na sociedade de forma ampla, foi o que
ocorreu com a realização desta intervenção que buscou a reflexão sobre a violência
escolar, principalmente o preconceito e o bullying.
3 METODOLOGIAA metodologia tem como base as obras dos autores Ana Beatriz Barbosa
Silva, Cleo Fante e Jaime Pinsky, as quais embasaram a apropriação crítica e outras
fontes como entrevistas, matérias de jornal, dentre vários matérias utilizados nas
aplicações. A implementação ocorreu no Colégio Estadual Jardim Santa Felicidade –
EFM, do município de Cascavel, envolvendo estudantes do 9º ano do Ensino
Fundamental, período da manhã, dando oportunidade para que reflitam sobre os
problemas sociais. Propondo como estratégia de ação atividades que valorizem o
ser humano, suas adversidades, buscando encarar a questão do fenômeno bullying
como um dos maiores problemas de violência escolar da atualidade. Nosso objetivo
principal foi construir coletivamente, uma melhor compreensão destes fenômenos,
via interação com alunos.
Primeiro foi apresentado o trabalho aos professores, pedagogos e
funcionários da escola, para que todos se envolvessem, considerando que os
referidos fenômenos estão presentes em todo ambiente escolar. Na sequência
iniciaram-se as atividades com a turma escolhida para o desenvolvimento da
intervenção, com a divulgação do projeto e apresentação da temática. Todos se
mostraram interessados, após a explanação do cronograma das atividades, foi
entregue a cada aluno um caderno, o qual foi utilizado durante todo o período para o
registro das atividades que serão desenvolvidas.
Foi elaborado um Caderno Pedagógico com informações sobre o tema,
bullying, com sugestões de atividades que exaltem os valores positivos como a
cooperação, diálogo, tolerância e solidariedade, atividades utilizando-se de trechos
de músicas, visando a proximidade da linguagem dos jovens, sugestões de leituras,
revistas, debates, vídeos, filmes e dramatizações, visando minimizar as ocorrências
de casos de bullying e prevenir o ambiente escolar para novos desafios. A referida
produção foi dividida em quatro unidades que foram desenvolvidas durante o
período de execução.
A primeira unidade pretendeu sensibilizar os alunos, tendo como o ponto de
partida, provocá-los com questionamentos, instigando-os a se lembrar de situações
de maus tratos que foram submetidos, algum dia, em algum momento. Foram
passados alguns vídeos, leitura e análise de histórias em quadrinhos, com pessoas
sofrendo ou praticando o bullying. Também, se buscou identificar, o fenômeno em,
notícias jornalísticas, da cidade de Cascavel, noticiários nacionais e internacionais,
para que percebessem a amplitude deste mal. Nos fatos apresentados procurou
mostrar todos os lados e as consequências trazidas por esta agressividade.
Na unidade sensibilização, os estudantes perceberam a diferença entre
Preconceito e bullying. Foram realizadas várias atividades envolvendo o assunto,
discutiram, refletiram sobre os dez preconceitos mais comuns, bem como elencaram
alguns atos que são considerados como bullying. No debate sugerido, com questões
relacionadas ao tema, constatamos que a maioria dos alunos já sofreu, já praticou
ou praticou e sofreu o fenômeno no ambiente escolar, e, também, geralmente a
pratica ocorre durante o intervalo, por não ter nenhum adulto presente, ou na saída
da escola. Afirmam também que a vítima deve contar para alguém, não ter medo,
porque o diálogo é a melhor solução para amenizar os conflitos. Em relação as
ações que podem ser desenvolvidas para a minimização deste mal, segundo o
grupo, seria a conscientização através de projetos que envolva toda a clientela
escolar e as respectivas famílias.
O quadro abaixo demonstra as considerações dos alunos sobre preconceito e
bullying, ao responder a seguinte questão: “O que é o Preconceito e o Bullying?”
TABELA 1: Considerações dos alunos sobre os temas:PRECONCEITO BULLYING
RacismoSexismoSocialHomofobiaDeficientesReligiãoPesoTamanhoIdadeNativismoAparência
Colocar apelidosOfenderZoarEncarnarSacanearHumilharFazer sofrerDiscriminarExcluirIsolarIgnorarIntimidarPerseguirAssediarAterrorizarAmendrontarTiranizarDominarAgredirBaterChutarEmpurrarFerirRoubarQuebrar pertences
FONTE: Alunos do 9º E – Ensino Fundamental
A discussão permitiu aos alunos diferenciar o preconceito e o bullying, porém
são conscientes que, tanto um como o outro não deve ocorrer no espaço escolar
pois são práticas segregadoras que faz o outro sofrer e perder totalmente a estima.
Ao final desta etapa reuniram-se para assistir, o filme “Bullying: Provocações sem
Limites” se mostraram muito interessados, porque traz uma história de um jovem,
que sofre agressões no meio escolar, sendo assim há uma identificação da turma
com o autor da trilha.
A segunda Unidade, com o título “conhecimento histórico”, procurou repassar
aos estudantes o processo histórico, construído através dos tempos, por meio de
leituras de obras que discutem o assunto, levando em consideração que os dois
fenômenos são tão antigos quanto a instituição escolar, mas muito pouco discutido e
considerado um problema social, hoje, há muitos estudos que ressaltam a
importância do conhecimento sobre eles, embora muitas pessoas já terem sofrido e
algumas até se suicidado ou sido assassinadas, ainda assim, não é tarde para
procurarmos uma solução que elimine este mal, para que as novas gerações sejam
marcadas pela harmonia, entre os seres e não por conflitos.
Os educandos compreenderam, através da análise dos textos, que o
preconceito e o bullying são reflexos da intolerância da sociedade, devido as
desigualdades sociais existentes, onde o ter está acima do ser, geralmente, aquele
que se enquadra nos padrões preestabelecidos é o que pratica os atos de violência
contra o outro considerado anormal. Conseguiram se enxergar como sujeitos sociais
que fazem parte deste processo e que podem transformá-lo.
Na unidade III com o título “Reflexão”, os alunos foram envolvidos em
atividades práticas, produção de texto, Historia em Quadrinho, pesquisas, desenhos,
história de vida, produção de vídeo, paródia.
As atividades desenvolvidas neste bloco foram muito relevantes, pois pelo o
que foi exposto nas produções, percebeu-se que os alunos conseguiram entender o
bullying como uma violência escolar, cada vez mais recorrente no cotidiano do
espaço escolar, contribuiu para ampliar os conhecimentos referentes ao tema e
ações que podem ser implantadas na escola. As histórias de vida e os relatos estão
de acordo com a realidade apresentada.
A IV unidade, intitulada “Sistematização”. Foram retomados alguns vídeos
para que pudessem produzir o texto final, onde foi proposto que expusessem a
opinião e sugestões para mudar o cenário escolar, formando pessoas mais
tolerantes. Os textos foram lidos para toda a turma constatou-se que a participação
na referida implementação marcou os de forma positiva e já pensam diferente em
relação as relações interpessoais, pensam no outro como um igual e respeita o seu
modo de ser.
Após o termino da implementação foi realizado uma exposição dos trabalhos
desenvolvidos pelos estudantes, apresentado a comunidade em um dia pré-marcado
pelo estabelecimento. Neste momento foi apresentado vídeos que foram produzidos
por eles, bem como mini palestras presidida pelos mesmos, ressaltando os tipos de
bullying, dando ênfase ao cyberbullying e repassadas aos participantes como forma
de conscientização sobre a temática que é uma preocupação não só da escola, mas
de toda a sociedade, além das atividades acima, os alunos das outras turmas do
Colégio e a Comunidade local, contaram com as seguintes apresentações: Foi
proclamado a história da obra ”Menina bonita do Laço de Fita” de Ana Maria
Machado, trecho do filme “Provocações sem limites, gráfico com o questionamento:
Quem pratica mais o bullying, onde o resultado é que os meninos praticam mais que
as meninas.
Após a execução do projeto na escola, através das reflexões sugeridas aos
participantes percebeu-se mudanças em suas atitudes, em relação ao outro e
esperamos que esta conscientização seja estendida a todos os alunos da escola,
bem como professores, funcionários e familiares.
Paralelamente à implementação do projeto na escola, ocorreu o Grupo de
Trabalho em Rede – GTR, promovido pela Secretaria de Estado de Educação que
consiste em um curso na modalidade Ensino à Distância (EaD), o qual tem a
intenção de apresentar e socializar o Projeto de Intervenção Pedagógica com outros
professores pertencentes a rede pública do estado do Paraná. O GTR em questão
contou com a participação de 20 professores, interessados na temática proposta que
durante um período interagiram uns com os outros por meio dos fóruns, trocaram
experiências e contribuíram significativamente para o aprofundamento das reflexões
sobre o tema. Os debates realizados pelo grupo permitiu aos participantes discutir
sobre o fenômeno bullying para posteriormente ampliar a discussão em seus
espaços escolares.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola deve ser um local que apresenta segurança aos nossos alunos, para
que possam desenvolver seu potencial e a sua relação com o outro, portanto a
violência física, psicológica, presente nestes ambientes é uma coisa inadmissível e
necessita ser combatida o mais rápido possível. Procurou com o desenvolvimento
deste trabalho levantar reflexões sobre a temática em busca de soluções que
minimize o problema.
Neste sentido buscou envolver os educandos, em atividades que os levassem
a entender, o fenômeno bullying e tentar diminuir tal pratica, que é tão comum no
meio escolar. Em relação ao questionamento “o que é o bullying e preconceito?” deu
para perceber que tinham um conhecimento muito superficial do problema e alguns
até achavam uma pratica normal e não acreditava que pudesse ser eliminado.
Outra constatação foi que todos os alunos já sofreram algum tipo de bullying
ou preconceito e que não agiram de forma correta, ou seja, deveriam ter contado
para alguém, mas não o fizeram por medo, receio que a situação piorasse, embora a
maioria acredite que o dialogo é a melhor solução.
O estudo do processo histórico, do surgimento do preconceito e do bullying,
permitiu aos estudantes que conhecessem a história destes fenômenos desde a sua
origem até os dias de hoje, Aproximando-os da realidade. Neste momento
perceberam que a história é composta por situações cotidianas, que são parte deste
processo, por isso precisam e devem tentar melhorá-lo, para que as futuras
gerações vivam situações diferentes das presente na sociedade atual.
Percebemos através da analise das atividades desenvolvidas por eles que
compreenderam o tema, como uma violência escolar, e se preocupam em acabar
com este mal. A intervenção serviu para que mudassem a suas atitudes em relação
ao outro.
Enfim, o projeto foi muito bem acatado pelos alunos, todo o tempo se
mostraram interessados e entusiasmados com as reflexões, sendo assim
acreditamos que foi alcançado o objetivo que era divulgar o preconceito e o bullying,
no ambiente escolar e sensibilizá-los através de atividades prazerosas, para que, a
partir disto, mude a sua atitude em relação ao outro e possa ser um agente do bem
dentro do ambiente escolar, tornando-o mais seguro e alegre. Sugerimos que o
trabalho seja estendido para outras turmas, visando atingir toda a clientela, pois só
assim atingiremos a plenitude.
REFERENCIAS
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