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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013

Título: ―E Existe lirismo em Augusto dos Anjos, o Poeta do ‗Mau Gosto‘? ―

Autor: Nilséia Charal

Disciplina/Área:

(ingresso no PDE)

Língua Portuguesa

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Vercindes Gerotto dos Reis- E. M.

Município da escola: Paiçandu

Núcleo Regional de Educação: Maringá

Professor Orientador: Prof.ª Dr.ª Marcele Aires Franceschini

Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Maringá

Relação Interdisciplinar:

(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)

Resumo:

(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

Sabe-se que a literatura é meio autêntico e vital ao desenvolvimento e aprimoramento cultural, criativo, crítico, bem como ao despertar do espírito subjetivo, imaginário e emocional do estudante. Nesse plano, tomamos Augusto dos Anjos e seu impulso de ―morte‖ no intuito de mostrar a real função poética: transmitir emoção, expressividade, imaginação, sensibilizar e libertar o ―eu‖ interior do leitor. Tido pela crítica e por historiadores como Ferreira Gullar (1976), Eudes Barros (1996), e Anatol Rosenfeld (1996) como ―extravagante‖, ―filosófico‖, ―estranho‖, ―chocante‖, ―grotesco‖ e ―pessimista‖. Portanto selecionamos 16 poesias deste poeta, intertextualizando com poetas Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Fagundes Varela, Castro Alves do Romantismo , Manuel Bandeira e Mário de Andrade do Modernismo, que retratam o tema morte, em outra vertente. Vamos

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trabalhar com outras áreas artísticas como a pintura, música, filme. Escolhemos uma metodologia dinâmica com intuito de despertar nos alunos o gosto e apreensão pela poesia, também escolhemos o tema morte com objetivo de levá-los a pensar na própria existência.

Palavras-chave:

(3 a 5 palavras)

Palavras-chave: poesia; grotesco; Augusto dos Anjos; morte; ensino

Formato do Material Didático: Unidade Didática

Público: (indicar o grupo para o qual o material didático foi desenvolvido: professores, alunos, comunidade...)

3º ano do Ensino Médio

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E EXISTE LIRISMO EM AUGUSTO DOS ANJOS, O POETA DO „MAU GOSTO‟?

RESUMO Sabemos o quanto é necessária a literatura no ensino para o desenvolvimento

e aprimoramento cultural, criativo, crítico, bem como o despertar do espírito

subjetivo, imaginário e emocional perante o mundo e a vida. O gênero poesia é

o centro de interesse deste projeto, pois se percebe o tabu que os alunos

trazem em relação ao gênero. Pretendemos mostrar a real função da poesia,

que é o de transmitir emoção, expressividade, imaginação, sensibilizar, mexer

com as emoções, enfim, libertar-se o eu interior. A poesia é para ser sentida,

valorizando as emoções, o ―eu‖. Queremos ofertar o estudo de poesias de

Augusto dos Anjos como forma de apreensão pelo gosto poético. Também há o

interesse em trabalhar com o tema da morte com intuito de rever a própria

existência. Augusto dos Anjos é um poeta tido pela crítica e por historiadores

como Ferreira Gullar (1976), Eudes Barros (1996) e Anatol Rosenfeld (1996)

como extravagante, filosófico, estranho, chocante, grotesco e pessimista.

Contudo, queremos mostrar que apesar dessas características, o autor

esconde um lirismo impressionante, que mexe, sensibiliza, faz refletir e pensar

no próprio ―eu‖.

Palavras-chave: poesia, grotesco, morte, Augusto dos Anjos

1- INTRODUÇÃO

Sabemos o quanto é necessária a Literatura no ensino para o

desenvolvimento dos alunos, tanto no que tange à aprendizagem e acima de

tudo, no aprimoramento cultural, criativo, crítico, bem como na possibilidade de

despertar o espírito imaginativo e emocional diante o mundo e a vida.

Para tanto, o ensino de Literatura requer dinâmicas diversas para

prender a atenção dos alunos, com efeito de despertar o gosto e o interesse

por esta área do ensino. É rotina nos deparamos com alunos que leem muito

pouco, e que comumente não se interessam pela Literatura, tampouco pela

poesia por considerá-la chata, incompreensível, e desinteressante.

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Assistindo a situações como estas, e principalmente observando o

distanciamento por parte de um grande número de alunos do gênero (devido

ao tabu de que estudar poesia é uma atividade ―chata‖, cansativa, sem

motivação, incompreensível), é que pretendemos resgatar o valor subjetivo da

poesia e mostrar seu valor artístico. Para isso, propomos uma metodologia

dinâmica, diferente, com efeito de ressaltar a importância da poesia como uma

arte que transforma, humaniza, sensibiliza.

Apostamos na proposta deste trabalho ao escolher a poesia como

meio para despertar os alunos, oportunizando o desenvolvimento do lado

criativo, imaginário. Queremos que vivenciem o mundo dos sonhos,

―acordando‖ o artista escondido dentro de cada um.

Pretendemos, pois, trabalhar com este gênero literário a fim de ―seduzir‖

os alunos. E também com o intuito de instigar ainda mais os educandos e

envolvê-los com a proposta do trabalho. Procuraremos manter uma relação

dialógica da poesia com outras linguagens artísticas tais como: a música,

vídeo, artes visuais (pinturas), teatro, dança, como abordaremos no item

Metodologia.

Acreditando na eficácia que a poesia poderá produzir nos alunos neste

processo de ensino-aprendizagem, escolhemos o poeta Augusto dos Anjos,

justamente por ser ele muito emblemático, irreverente, fora do habitual comum,

e também por fazer parte do nosso próprio gosto poético.

As poesias de Augusto dos Anjos chocam pela intensidade dramática

com que o poeta trata de sua aflição pessoal. Dentre os temas abordados,

escolhemos a temática da morte, tratada pelo autor como decomposição da

matéria, apresentada nos poemas com os sinônimos ―cemitérios‖, ―vermes‖,

―caixão‖, ―putrefação‖. Mas é por tratar de termos incomuns na poesia que

acreditamos que despertará o interesse dos alunos.

Contudo ,a escolha pelo poeta Augusto dos Anjos não se dá apenas por

o considerarmos ―diferente‖ dos modelos de poetas e poesias que os alunos

estão acostumados a estudar; mas principalmente porque mexe com diversas

emoções. De início, numa primeira leitura, há estranheza, porém com certa

compreensão: muitos se identificam, acabam gostando porque sai do que é

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convencional. É um poeta que choca pelo vocabulário científico, dono de um

lirismo grotesco, ao mesmo tempo em que explora o subjetivismo.

Também porque pretendemos que a partir da temática da morte,

presente nas poesias augustinianas, queremos que os alunos pensem na sua

própria existência, valorizando a vida, o seu modo de viver.

1.1 METODOLOGIA O Projeto de intervenção será aplicado aos alunos do 3º anos do Ensino

Médio do Colégio Estadual Vercindes Gerotto dos Reis, no período matutino,

no Município de Paiçandu, PR.

A proposta é ofertar aos alunos o trabalho com os poemas de Augusto

dos Anjos, intertextualizando o tema ―morte‖ com poetas que abordam a

mesma temática, tais como: Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Fagundes

Varela (do Romantismo) e Manuel Bandeira (do Modernismo).

→ Iniciaremos nosso trabalho com a apresentação de uma tela com o

tema da morte, ―O Grito‖, de Münch, fazendo uma análise oral sobre os

aspectos da pintura, trazendo para o contexto social em que vivem, permitindo

uma possível reflexão da imagem registrada na tela. Importa-nos dizer, desde

já, que todas as imagens utilizadas neste trabalho foram retiradas de sites que

permitem a reprodução e divulgação das informações visuais;

→ Logo após, será apresentada a música ―Canto para minha morte‖, de

Raul Seixas (1984), com o intuito de instigar ainda mais os alunos a pensar no

tema. A professora apresentará a letra da música, partindo para a audição da

mesma, onde interrogará aos alunos sobre o que fala a música, o que o tema

tem a ver com a nossa vida;

→ Em seguida, a professora declamará o poema ―Psicologia de um

Vencido‖, de forma expressiva, com efeito de seduzir o aluno para o trabalho a

ser desenvolvido. Será o primeiro contato que eles terão do poeta Augusto dos

Anjos;

→ A professora pergunta se já conhecem o poeta Augusto dos Anjos? O

que já ouviram falar sobre ele? Já viram alguma poesia deste poeta?;

→ A partir das indagações , a professora apresentará a biografia do

poeta, com os tópicos e algumas imagens no datashow;

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→ Agora é o momento de a professora explicar aos alunos que farão

parte de um projeto sobre poesias de Augusto dos Anjos, ressaltando a

importância de estudá-lo, destacando os pontos das etapas do trabalho;

→ A professora explica como serão desenvolvidas as etapas: 1) escolha

da poesia, 2) elaboração do painel, 3) declamação da poesia na rádio, 4)

declamação da poesia e encenação no cemitério, 5) a montagem de um vídeo,

6) a apresentação de uma coreografia, 7) pintura de uma tela, 8) produção e

participação no sarau.

1º- Os alunos deverão escolher os membros da sua equipe, que serão

de 4 a 5 alunos, a critério deles mesmos;

2º - A professora, já tendo selecionado as poesias, apresenta-as para a

turma, as quais receberão uma poesia para a realização do trabalho;

3º- A equipe deverá elaborar um painel com a poesia escolhida para

fixar no pátio do Colégio, usando a criatividade;

4º- Dois membros da equipe deverão declamar a poesia na rádio

comunitária do Colégio, na hora do intervalo;

5º- Num outro momento, a poesia deverá ser dividida entre os membros

da equipe e declamada no cemitério da cidade, que fica aos fundos do Colégio.

Os alunos deverão estar caracterizados - aqueles que não participarem da

encenação ficarão responsáveis pela filmagem e montagem do vídeo.

Obs. Será levada em consideração a impossibilidade, por parte de

algum aluno ,que não queira, por qualquer motivo, ir ao cemitério.

6º- Alguns membros da equipe deverão escolher uma música que

tematiza a morte e montar uma coreografia/dança, usando os sentidos

corporais;

7º - Os demais alunos que não apresentaram a dança, deverão pintar

uma tela, com a impressão pessoal sobre a morte.

Estas etapas do trabalho serão explicadas e organizadas pela

professora, com data previamente marcada para a apresentação.

O vídeo com a encenação no cemitério, a coreografia, a pintura e a

declamação da poesia com toda a turma serão apresentadas no sarau, numa

noite, no centro cultural da cidade, com a presença de toda a comunidade

escolar e dos pais.

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→ Os alunos acompanharão as atividades propostas num caderno

pedagógico, xerocado e entregue a eles;

→ Enquanto os alunos cumprem estas etapas do trabalho, em sala

daremos continuidade às atividades:

Cada equipe irá analisar a sua poesia, entendendo-a e

interpretando-a. A análise interpretativa será parte da nota da avaliação.

A professora escolherá algumas poesias para análise geral com

toda a turma, através de exercícios de interpretação e compreensão.

A professora também leva para a sala algumas poesias dos

poetas: Álvares de Azevedo (―Lembrança de Morrer‖); Junqueira Freire

(―Morte, hora do delírio‖); Fagundes Varela (―Cântico do Calvário‖); Manuel

Bandeira (―Consoada‖); e Mario de Andrade ("Quando eu Morrer"). Os autores

serão lidos para análise comparativa da temática MORTE.

Serão passados exercícios de interpretação e compreensão,

analisando-se semelhanças e diferenças entre os poetas.

A professora comentará algumas características da 2ª geração

do Romantismo, e as principais características de cada poeta.

Todas as atividades desenvolvidas neste processo do trabalho serão

apresentadas num sarau, ao público, com os alunos e a professora

caracterizados, bem como o espaço da apresentação. Neste espaço serão

expostas as poesias nos painéis, as telas pintadas, a demonstração dos vídeos

produzidos no cemitério, painel de fotos das apresentações, a apresentação da

dança que montaram e a declamação de um poema de Augusto dos Anjos por

toda a turma.

1.2. AVALIAÇÃO OU ACOMPANHAMENTO

A avaliação dos alunos será diagnóstica e contínua, já que as etapas da

prática desse projeto serão aferidas mediante o desempenho e participação

efetivada pelo docente no grupo e individualmente.

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1.3.RESULTADOS ESPERADOS

Esperamos, com a prática desse Projeto, que o aluno possa obter maior

domínio da leitura poética dentro do processo de aprendizagem da literatura.

Sempre objetivando que o estudante possa compreender as distintas formas e

conteúdos manifestados na poesia, refletindo e atuando com criticidade sobre

os meios em que está inserida.

1.4.RECURSOS A SEREM UTILIZADOS

Ficará a cargo de o professor orientador disponibilizar diferentes

recursos para a exposição desse projeto, tais como: laboratório de informática

(computadores e acesso à internet), tevê, pen-drive, aparelho de data-show,

som, vídeos, televisão, câmera fotográfica, filmadora ,etc.

1.5. CRONOGRAMA

Este projeto de intervenção será aplicado durante o primeiro semestre

do ano letivo de 2014.

2013

Atividades Fev Mar Abril Maio Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Aulas presenciais,

leituras e encontros

com a orientadora

X X X

Aulas presenciais,

leituras, encontros

com a orientadora e

execução do Projeto

X X

Leituras, estudos e

encontros com a

orientadora

X

X

x

X

X

X

2014

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Atividades Fev Mar Abril Maio Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

APRESENTAÇÃO DO

PROJETO NA ESCOLA x

INÍCIO E REALIZAÇÃO

DOS TRABALHOS

COM OS ESTUDANTES

ETAPAS 1, 2 E 3

x X X X

ETAPA 4 X X

X

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CADERNO DE ATIVIDADES

E EXISTE LIRISMO EM AUGUSTO DOS ANJOS , O POETA DO „MAU GOSTO‟?

Fig. 1 (Fonte: http://www.munchmuseet.no/)1

QUESTÕES PARA REFLETIR

1) Que leitura você faz da imagem acima? 2) O que mais chama a sua atenção nesta imagem?

VOCÊ SABIA? Que esta imagem pertence ao pintor Edvard Munch, e que foi pintada no ano de 1893?

Autor Edvard Munch

Data 1893

Técnica Óleo sobre tela, Têmpera e Pastel sobre cartão

Localização Galeria Nacional, Oslo

1 O museu permite que a imagem seja reproduzida e está aberta ao domínio público.

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SIGNIFICADO DA OBRA O GRITO – EDVARD MUNCH - 18932

A obra representa um andrógeno num momento de profunda angústia e

desespero existencial. Como cenário de fundo do quadro esta representada a

doca de Oslofiord em Oslo-Noruega durante um por do sol. É uma das obras

mais representativas do movimento expressionista.

Dizem que a fonte de inspiração de O Grito é a própria vida pessoal de

Munch, filho de um pai controlador, que além de outros traumas assistiu a

morte da mãe e de uma irmã durante sua infância. Sufocado pelo pai

opressivo, cortou relações com o mesmo e foi dedicar-se à pintura. Se por um

lado sua escolha o libertou de um inferno, acabou por colocar-lhe em outro

ainda pior pois ele se envolveu com uma mulher casada e isto só lhe trouxe

mágoa e desespero.

Uma de suas irmãs, Laura, foi diagnosticada como louca e internada

num asilo psiquiátrico.Em seu diário ela deixou escrito que ―-passeava com

dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei,

exausto, e inclinei-me sobre a mureta- havia sangue e línguas de fogo sobre o

azul escuro do ford e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu

fique ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza".

Munch se inspirou nestas linhas do diário da irmã e imortalizou esta

impressão num primeiro quadro chamado O Desespero (representando um

homem de carto e meio de costas, inclinado sobre uma vedação).Insatisfeito

com o resultado tentou uma nova pintura incluindo uma figura mais andrógina,

de frente para o observador e numa atitude menos contemplativa e mais

desesperada.

A tela representada parece contorcida sob o efeito de emoções como o

medo, a aflição, a incerteza. As linhas curvas do céu e da água, assim como a

linha da ponte, conduzem o observador à boca da figura, que se abre um grito

perturbador, ou seja um grito de desespero. Vemos ao fundo um céu de cores

2 Informações retiradas do artigo: "A dualidade presença/ausência nas imagens impressas de

Edvard Munch e Andy Warhol: aproximações possíveis", de MOBILION, Norma. ARS (São Paulo) vol.9 no.18 São Paulo 201. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-53202011000200006&script=sci_arttext, acessado em 27 set. 2013.

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quentes, em oposição ao rio azul de cor fria que sobe acima do horizonte –

bem ao estilo expressionista(onde a expressão das ideias do autor não

precisavam ser um retrato real). Já na figura humana é possível ver cores frias,

azul, como a cor da angústia e da dor, sem cabelos(demonstração na época de

estado de saúde precário). Os elementos estão tortos, como se fossem

distorcidos pelas ondas sonoras geradas pelo grito dado pela figura. O curioso

do quadro é que a ponte continua reta, sem se abalar pelo grito como os outros

elementos.

OUÇA A MÚSICA „CANTO PARA MINHA MORTE‟, DE RAUL SEIXAS

CANTO PARA MINHA MORTE (RAUL SEIXAS) Eu sei que determinada rua que eu já passei Não tornará a ouvir o som dos meus passos Tem uma revista que eu guardo há muitos anos E que nunca mais eu vou abrir Cada vez que eu me despeço de uma pessoa Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez A morte, surda, caminha ao meu lado E eu não sei em que esquina ela vai me beijar Com que rosto ela virá? Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque, Na música que eu deixei para compor amanhã? Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada, E que está em algum lugar me esperando Embora eu ainda não a conheça? Vou te encontrar Vestida de cetim Pois em qualquer lugar Esperas só por mim E no teu beijo Provar o gosto estranho Que eu quero e não desejo Mas tenho que encontrar Vem Mas demore a chegar Eu te detesto e amo Morte, morte, morte que talvez Seja o segredo desta vida

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Qual será a forma da minha morte Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida Existem tantas... um acidente de carro O coração que se recusa a bater no próximo minuto A anestesia mal-aplicada A vida mal-vivida A ferida mal curada A dor já envelhecida O câncer já espalhado e ainda escondido Ou até, quem sabe, O escorregão idiota num dia de sol A cabeça no meio-fio A morte, tu que és tão forte Que matas o gato, o rato e o homem Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar Que meu corpo seja cremado E que minhas cinzas alimentem a erva E que a erva alimente outro homem como eu Porque eu continuarei neste homem Nos meus filhos Na palavra rude que eu disse para alguém Que não gostava E até no uísque que eu não terminei de bebe Aquela noite...

CURIOSIDADE

A letra‘ Canto para minha morte constitui um tango dedicado à morte, composto por sete estrofes irregulares, que mostram de forma misteriosa as incertezas que permeiam o fim da vida. VEJAMOS AGORA A ANÁLISE ENUNCIATIVA DE "CANTO PARA MINHA MORTE", DE RAUL SEIXAS3.

A introdução da composição, primeira estrofe, discorre sobre os fatos que não mais acontecerão quando a morte chegar, quais sejam: os sons dos passos, a revista nunca mais aberta, uma pessoa nunca mais vista. O que se percebe, nesse momento, é que a morte corresponde à certeza, certeza esta revelada em cada acontecimento não mais possível.

3 Realizada por Débora Facin (UPF), com orientação do Prof. Ernani Cesar de Freitas.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-76322012000200009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt, acessado em 20 nov. 2013.

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Na segunda e terceira estrofes, a certeza de que a morte é a única verdade do homem é substituída pelo mistério de como esse momento se passará. O mistério é marcado mediante uma série de interrogações:

Com que rosto ela virá? Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque? Na música que eu deixei para compor amanhã? Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi Destinada? Está em algum lugar me esperando, embora ainda não a conheça?

Temos aqui a urgência do conhecimento acerca do ―rosto‖ da morte. Na quarta estrofe, a incerteza sobre o fim da vida e as indagações de como isso se processará cedem lugar ao conformismo, mostrado de modo paradoxal em decorrência da aceitação e de repulsa. Vejamos: Vou te encontrar vestida de cetim, pois em qualquer lugar esperas só [por mim. E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo, mas [tenho que encontrar. Vem, mas demore a chegar. Eu te detesto e amo morte, morte, morte. Que talvez seja o segredo desta vida/Morte, morte, morte que talvez seja [o segredo desta vida. A quinta estrofe inicia com uma interrogação: Qual será a forma da minha morte? − reiterando de que maneira a morte se apresentará; a marca ―forma‖ presente no questionamento é traduzida posteriormente nesta mesma estrofe, por meio de descrições, ou seja, possíveis acontecimentos que podem concretizar a morte. A sexta estrofe revela o diálogo com a morte; de início, a interjeição: ―Oh morte‖ induz a conversa e esta é mantida por meio de desejos que são projetados para um período pós-morte. A última estrofe corresponde ao estribilho que ressalta a dúvida, o conformismo e também a objeção. Em síntese, mediante uma leitura geral, percebemos a atitude de aceitação e certeza ante a morte; no entanto, a postura direciona-se, sobremaneira, para um comportamento de inquietude em virtude de como será o ―rosto‖ da morte. DISCUTA COM SEUS COLEGAS:

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VAMOS OUVIR UM POEMA?

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância… Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas - Que o sangue podre das carnificinas Come, e á vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!

INTERAGINDO COM OS ALUNOS - Vocês já ouviram falar do autor deste poema- AUGUSTO DOS ANJOS? - Vocês já ouviram ou viram alguma outra poesia parecida com esta? - O que mais chamou a atenção neste poema? - Vocês acham que este poema tem alguma relação com o quadro ―O Grito‖ e com a música ‗Canto para minha Morte‘?

CONHECENDO O POETA AUGUSTO DOS ANJOS4 Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no engenho Pau

d‘Arco, Vila do Espírito Santo, Paraíba, em 20 de abril de 1884. De uma família

de proprietário de engenhos, assistiu, nos primeiros anos do século XX, à

decadência da antiga estrutura latifundiária, substituída pelas grandes usinas.

Formado em 1907 , em Direito pela Faculdade de Recife. Leciona

Literatura Brasileira. Casa-se em 1910. Muda-se para o Rio e Janeiro e passa

4 Informações retiradas do site: http://www.brasilescola.com/literatura/augusto-dos-anjos-1.htm, acessado

em 14 out. 2013.

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a dedicar-se ao magistério, lecionando no Colégio Pedro II. Em 1911 morre

prematuramente seu primeiro filho. No ano seguinte, publica EU, seu único

volume de poesias. Em 1914, transfere-se para Leopoldina , Minas Gerais,

para assumir a direção do Grupo Escolar. Morre, após dez dias de fortíssima

gripe, em 12 de novembro de 1914.

Fig. 2 - Augusto dos Anjos Fonte: http://www.vidaslusofonas.pt/augusto_dos_anjos.htm *Domínio Público

CONTEXTO HISTÓRICO 5 Augusto dos Anjos, viveu numa época de grande turbulência social.

Contradições internacionais, inter-regionais e dentro de vários países se

aguçavam , geravam guerras, revoluções e revoltas, com problemas de

produção, de consumo, de mercados, o que tudo culminaria no século

presente, com a guerra de 1914-1918, sem resolver senão alguns aspectos

daquelas contradições. O século XIX, eminentemente cientificista, é fonte,

também de teorias e doutrinas-políticas, históricas, econômicas, filosóficas,

éticas- de estruturas já racionalistas, já irracionalistas.

No Brasil, neste mesmo período de final do século XIX e início do XX, o

país vivia fatos de grande tensão social, política e econômica, como a

Revolução de Canudos, na Bahia (1896-97); a República da Espada(1889-

5 Informações disponíveis em: "Augusto dos Anjos e a Escola do Recife", FERNANDAS, Flávio Sátiro.

Jornal de Poesia, online, http://www.secrel.com.br/jpoesia/augusto18.html, consultado em 24 ago. 2013.

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1894); o Ciclo da Borracha (Amazônia-1870-1920); a Revolução Contra a

Vacina Obrigatória, Rio-1904); as greves gerais de operários (São Paulo-1917);

o Misticismo do Padre Cícero (Ceará,1911-15); e o Ciclo do Cangaço (1900).

De fato, todas essas agitações eram sintomas de crise na República

Café-com-Leite, e esses fatos sociais e políticos acabam gerando fortes

contrastes na sociedade brasileira. Os problemas sociais tornaram-se mote de

interesse de grandes escritores. A arte passa a ser útil por se transformar em

papel de crítica, de documento registrando a 'vida real'; meio de protestos.

É exatamente neste intermeio que, em 1912, surge a publicação da obra

Eu, de Augusto dos Anjos. Considerado um escritor Pré-modernista (1902-

1922) devido ao período que publicou sua única obra, contudo, absorve

influências de outras escolas literárias como o Parnasianismo, utilizando-se do

soneto, da forma fixa; destacando-se pela perfeição formal na composição dos

versos decassílabos, rigorosamente rimados. O Simbolismo é também

explorado através de recursos fônicos dos versos com o uso de aliterações,

assonâncias e onomatopeias. O Simbolismo também está presente quanto ao

conteúdo: há o registro de imagens que remetem ao pânico, ao noturno, ao

mistério. Há ainda elementos do Realismo/Naturalismo, notado no

determinismo da existência humana; bem como sentimos a influência do

Expressionismo na transfiguração da realidade através de imagens bárbaras,

cruéis, grotescas, angustiadas e pessimistas.

VOCÊ SABIA?

Augusto dos Anjos publicou um único livro, a obra EU.

Fig. 3 - Fonte: http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/augusto-dos-anjos-poemas/ *Domínio Público

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CURIOSIDADE SOBRE A OBRA EU, DE AUGUSTO DOS ANJOS

Em edição particular, financiada com recursos próprios e do irmão Odilon, sai a coletânea Eu. O livro de estreia do escritor provinciano provocou escândalo: o público estava habituado à elegância parnasiana, poemas que se declamavam em salões. Na 'belle époque' a literatura deveria ser o 'sorriso da sociedade'. Porém Eu era um livro malcriado, de 'mau gosto', de 'poeta de soldado de polícia', teria dito Manuel Bandeira (apud Wilson Martins, História da inteligência Brasileira,v.5, p. 512). A crítica, embora reconhecendo talento no estreante, fazia-lhe sérias restrições. A faculdade de Medicina incluiu a obra em sua biblioteca, por tratar de assuntos científicos. O poeta, polêmico, só encontraria compreensão e aceitação a partir de 1928, quatorze anos depois da sua morte (REIS, 1982, p.6).

APRESENTANDO O PROJETO

INTERAGINDO COM OS PROFESSORES

Este é o momento em que o professor explicará aos alunos que farão

parte de um projeto, e explica como será o projeto bem como todas as etapas

que deverão ser cumpridas pela turma.

INTERAGINDO COM OS ALUNOS

Os trabalhos serão desenvolvidos em equipe de até 5 pessoas;

* Cada equipe escolherá um poema para trabalhar, respeitando as

etapas do trabalho:

1º) Elaboração de um painel para afixar a poesia escolhida (usando a

criatividade para expô-la no ambiente externo do Colégio, pátio, biblioteca, etc);

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2º) Declamação da poesia na rádio comunitária do Colégio, durante o

período de aula;

3º) Encenação da poesia, no cemitério municipal, durante a aula, com

toda a turma assistindo e participando. O objetivo é trabalhar com um cenário

imaginário, mas ao mesmo tempo real, correlacionado à poesia de Augusto dos

Anjos;

4º) Montagem do vídeo da encenação no cemitério para mostra no

centro cultural da cidade, com a presença da comunidade escolar e dos pais.

5º) Escolher uma música que tematiza a morte e montar uma

coreografia/dança, usando os sentidos corporais;

6º) Analisar uma pintura que represente a morte;

7º) Produzir uma tela com a impressão pessoal sobre o tema ―morte‖.

Todas as atividades desenvolvidas durante o processo do trabalho serão

apresentadas num sarau, ao público, com os alunos e a professora

caracterizados, bem como o espaço da apresentação. Neste espaço serão

expostas as poesias nos painéis, as telas pintadas, a demonstração dos vídeos

produzidos no cemitério, a apresentação da dança que montaram e a

declamação de um poema de Augusto dos Anjos por toda a turma.

VOCÊ SABIA?

AUGUSTO DOS ANJOS É CONSIDERADO PELA CRÍTICA COMO „ O

POETA DO MAU GOSTO‟, DO ESCARRO, DOS VERMES, DA

MORTE, DA PODRIDÃO?

Augusto dos Anjos fez da sua poética uma linguagem cientificista-

naturalista. E o que mais aproximou o poeta dos leitores foi exatamente o seu

pessimismo, sua angústia em face dos problemas e distúrbio pessoais, bem

como das incertezas do novo século que despontava, trazendo consigo a

ameaça de uma guerra mundial. Por isso a presença constante da morte em

sua obra, depois dela a desintegração, dos vermes corroendo a carne,

putrefando-a. As suas poesias são conotadas de palavras como: ‗escarro,‘

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‗vermes,‘ ‗putrefação,‘ ‗ podridão,‘ morte‘, ‗‘cemitério‘, ‗carne podre‘, ao lado de

palavras cientificistas.

VAMOS ANALISAR UM POEMA?

O Morcego

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. "Vou mandar levantar outra parede..." - Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre a minha rede! Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh‘alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?! A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto!

Fig. 4 Fonte: http://www.portaleducacao.com.br/biologia/artigos/30082/ecolocalizacao-ultrassonografias-morcegos-e-golfinhos, acessado em 18 set. 2013.

Fig. 5 O Sono da razão produz monstros, sugestivo título da gravura de Goya, que retrata um mergulho nas águas profundas do inconsciente. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br, acessado em 17 jul. 2013.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES:

1- Em que pessoa está escrito o soneto ― O Morcego‖? Comprove com passagens do poema.

2- Comente a sequência explorada nas quatro estrofes do poema. 3- Para o poeta há alguma possibilidade de o homem fugir de sua própria

consciência? 4- A quem se refere a figura do morcego? 5- Por que o poeta usa o tempo ―meia-noite‖?

INTERAGINDO COM OS PROFESSORES

Foram selecionadas 16 poesias, que serão divididas para as duas

turmas do 3º ano, do período da manhã, após as equipes estarem montadas, a

professora entrega uma poesia para cada equipe.

CONHECENDO OS POEMAS SELECIONADOS

1-VOZES DA MORTE Agora, sim! Vamos morrer, reunidos, Tamarindo de minha desventura, Tu, com o envelhecimento da nervura, Eu, com o envelhecimento dos tecidos! Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos! E a podridão, meu velho! E essa futura Ultrafatalidade de ossatura, A que nos acharemos reduzidos! Não morrerão, porém, tuas sementes! E assim, para o Futuro, em diferentes Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos, Na multiplicidade dos teus ramos, Pelo muito que em vida nos amamos, Depois da morte, inda teremos filhos!

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2- VERSOS ÍNTIMOS Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera - Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!

3-VOZES DE UM TÚMULO Morri! E a Terra - a mãe comum - o brilho Destes meus olhos apagou!... Assim Tântalo, aos reais convivas, num festim, Serviu as carnes do seu próprio filho! Por que para este cemitério vim?! Por quê?! Antes da vida o angusto trilho Palmilhasse, do que este que palmilho E que me assombra, porque não tem fim! No ardor do sonho que o fronema exalta Construí de orgulho ênea pirâmide alta... Hoje, porém, que se desmoronou A pirâmide real do meu orgulho, Hoje que arenas sou matéria e entulho Tenho consciência de que nada sou!

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4-VERSOS A UM COVEIRO Numerar sepulturas e carneiros, Reduzir carnes podres a algarismos, Tal é, sem complicados silogismos, A aritmética hedionda dos coveiros! Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros, Na progressão dos números inteiros A gênese de todos os abismos! Oh! Pitágoras da última aritmética, Continua a contar na paz ascética Dos tábidos carneiros sepulcrais: Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros, Porque, infinita como os próprios números, A tua conta não acaba mais!

5-TERRA FÚNEBRE Aqui morreram tantos poetas! Tanta Guitarra morta este lugar encerra!... Aqui é o Campo-Santo, aqui é a Terra! Em que a alma chora e em que a Saudade canta! O caminheiro que o Pesar desterra, Pare chorando nesta Terra Santa, E se cantar como a Saudade canta, O caminheiro fique nesta Terra! À noute aqui um trovador eterno Chora, abraçado às campas dos poetas, - Esse sombrio trovador é o Inverno! Aqui é a Terra, onde, ao noturno açoute, Carpem na sombra pássaros ascetas, Gemem poetas - pássaros da Noite!

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6- SONETOS A MEU PAI I

A meu Pai doente. Para onde fores, Pai, para onde fores, Irei também, trilhando as mesmas ruas... Tu, para amenizar as dores tuas, Eu, para amenizar as minhas dores! Que coisa triste! O campo tão sem flores, E eu tão sem crença e as árvores tão nuas E tu, gemendo, e o horror de nossas duas Mágoas crescendo e se fazendo horrores! Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria, Indiferente aos mil tormentos teus De assim magoar-te sem pesar havia?! - Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim É bom, é justo, e sendo justo, Deus, Deus não havia de magoar-te assim!

7- A MEU PAI MORTO

II

Madrugada de Treze de Janeiro, Rezo, sonhando, o ofício da agonia. Meu Pai nessa hora junto a mim morria Sem um gemido, assim como um cordeiro! E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro! Quando acordei, cuidei que ele dormia, E disse à minha Mãe que me dizia: "Acorda-o"! deixa-o, Mãe, dormir primeiro! E saí para ver a Natureza! Em tudo o mesmo abismo de beleza, Nem uma névoa no estrelado véu..- Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas, Como Elias, num carro azul de glórias, Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!

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8 - A MEU PAI MORTO

III

Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra. Em seus lábios que os meus lábios osculam Microrganismos fúnebres pululam Numa fermentação gorda de cidra. Duras leis as que os homens e a hórrida hidra A uma só lei biológica vinculam, E a marcha das moléculas regulam, Com a invariabilidade da clepsidra!... Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos Roída toda de bichos, como os queijos Sobre a mesa de orgíacos festins!... Amo meu Pai na atômica desordem Entre as bocas necrófagas que o mordem E a terra infecta que lhe cobre os rins!

9- SÚPLICA NUM TÚMULO

Maria, eis-me a teus pés. Eu venho arrependido, Implorar-te o perdão do imenso crime meu! Eis-me, pois, a teus pés, perdoa o teu vencido, Açucena de Deus, lírio morto do Céu! Perdão! E a minha voz estertora um gemido, E o lábio meu pra sempre apartado do teu Não há de beijar mais o teu lábio querido! Ah! Quando tu morreste, o meu Sonho morreu! Perdão, pátria da Aurora exilada do Sonho! - Irei agora, assim, pelo mundo, para onde Me levar o Destino abatido e tristonho... Perdão! E este silêncio e esta tumba que cala! Insânia, insânia, insânia, ah! ninguém me responde... Perdão! E este sepulcro imenso que não fala!

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10-SOLITÁRIO

Como um fantasma que se refugia Na solidão da natureza morta, Por trás dos ermos túmulos, um dia, Eu fui refugiar-me á tua porta! Fazia frio e o frio que fazia Não era esse que a carne nos conforta. Cortava assim como em carniçaria O aço das facas incisivas corta! Mas tu não vieste ver minha Desgraça! E eu saí, como quem tudo repele, - Velho caixão a carregar destroços - Levando apenas na tumbal carcaça O pergaminho singular da pele E o chocalho fatídico dos ossos!

11-PSICOLOGIA DE UM VENCIDO

Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme - este operário das ruínas - Que o sangue podre das carnificinas Come, e á vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!

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12- CAIXÃO FANTÁSTICO

Célere ia o caixão, e, nele, inclusas, Cinzas, caixas cranianas, cartilagens Oriundas, como os sonhos dos selvagens, De aberratórias abstrações abstrusas! Nesse caixão iam, talvez as Musas, Talvez meu Pai! Hoffmânnicas visagens Enchiam meu encéfalo de imagens As mais contraditórias e confusas! A energia monística do Mundo, À meia-noite, penetrava fundo No meu fenomenal cérebro cheio... Era tarde! Fazia multo frio. Na rua apenas o caixão sombrio Ia continuando o seu passeio!

13- BUDISMO MODERNO

Tome, Dr., esta tesoura, e... corte Minha singularíssima pessoa. Que importa a mim que a bicharia roa Todo o meu coração, depois da morte?! Ah! Um urubu pousou na minha sorte! Também, das diatomáceas da lagoa A criptógama cápsula se esbroa Ao contato de bronca destra forte! Dissolva-se, portanto, minha vida Igualmente a uma célula caída Na aberração de um óvulo infecundo; Mas o agregado abstrato das saudades Fique batendo nas perpétuas grades Do último verso que eu fizer no mundo!

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14-A ÁRVORE DA SERRA

- As árvores, meu filho, não têm alma! E esta árvore me serve de empecilho... É preciso cortá-la, pois, meu filho, Para que eu tenha uma velhice calma! - Meu pai, por que sua ira não se acalma?! Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?! Deus pôs almas nos cedros... no junquilho... Esta árvore, meu pai, possui minha'alma!... - Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa: "Não mate a árvore, pai, para que eu viva!" E quando a árvore, olhando a pátria serra, Caiu aos golpes do machado bronco, O moço triste se abraçou com o tronco E nunca mais se levantou da terra!

15-A UM CARNEIRO MORTO

Misericordiosíssimo carneiro Esquartejado, a maldição de Pio Décimo caia em teu algoz sombrio E em todo aquele que for seu herdeiro! Maldito seja o mercador vadio Que te vender as carnes por dinheiro, Pois, tua lã aquece o mundo inteiro E guarda as carnes dos que estão com frio! Quando a faca rangeu no teu pescoço, Ao monstro que espremeu teu sangue grosso Teus olhos - fontes de perdão - perdoaram! Oh! tu que no Perdão eu simbolizo, Se fosses Deus, no Dia de Juízo, Talvez perdoasses os que te mataram!

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16- MÁGOAS

Quando nasci, num mês de tantas flores, Todas murcharam, tristes, langorosas, Tristes fanaram redolentes rosas, Morreram todas, todas sem olores. Mais tarde da existência nos verdores Da infância nunca tive as venturosas Alegrias que passam bonançosas, Oh! Minha infância nunca tive flores! Volvendo ã quadra azul da mocidade, Minh'alma levo aflita à Eternidade, Quando a morte matar meus dissabores. Cansado de chorar pelas estradas, Exausto de pisar mágoas pisadas, Hoje eu carrego a cruz de minhas dores!

INTERAGINDO COM OS ALUNOS

TRABALHANDO COM A POESIA

Siga as orientações da professora:

1º- leia a poesia;

2º- pesquise as palavras desconhecidas;

3º- analise o conteúdo da poesia - individualmente. Escreva a interpretação pessoal da poesia para entregar à professora.

DECLAMANDO A POESIA

VAMOS DECLAMAR A SUA POESIA NA RÁDIO COMUNITÁRIA DO COLÉGIO?

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É ISSO MESMO !

Cada equipe escolhe dois membros para declamar a poesia na rádio!

INTERTEXTUALIZANDO

VOCÊ SABIA?

QUE EXISTEM OUTROS POETAS, DE OUTROS PERÍODOS LITERÁRIOS, QUE TAMBÉM RETRATAM O TEMA DA MORTE?

Na 2ª geração do Romantismo, conhecida como ‗ultra-romântica, ou mal-do-século, os poetas recorriam constantemente ao tema da morte, devido ao estilo de vida que viviam. Uma geração impregnada de egocentrismo, negativismo, pessimismo, tédio constante, e exaltação da morte.

Poetas como Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Fagundes Varela, pertencentes ao Romantismo da 2ª geração são exemplos de poetas que escreveram sobre morte. Aos escritores dessa fase, ela era o refúgio - buscavam uma morte espiritual, como alívio para seus sofrimentos.

VEJAMOS ALGUMAS POESIAS DO ROMANTISMO QUE RETRATAM A MORTE COMO FUGA

Morte (hora do delírio) (Junqueira Freire)

Pensamento gentil de paz eterna Amiga morte, vem. Tu és o termo De dous fantasmas que a existência formam, — Dessa alma vã e desse corpo enfermo.

Pensamento gentil de paz eterna, Amiga morte, vem. Tu és o nada, Tu és a ausência das moções da vida, do prazer que nos custa a dor passada.

Pensamento gentil de paz eterna Amiga morte, vem. Tu és a pena

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A visão mais real das que nos cercam, Que nos extingues as visões terrenas.

Nunca temi tua destra, Não vou o vulgo profano; Nunca pensei que teu braço Brande um punhal sobr'-humano.

Nunca julguei-te em meus sonhos Um esqueleto mirrado; Nunca dei-te, pra voares, Terrível ginete alado.

Nunca te dei uma fouce Dura, fina e recurvada; Nunca chamei-te inimiga, Ímpia, cruel, ou culpada.

Amei-te sempre: — pertencer-te quero Para sempre também, amiga morte. Quero o chão, quero a terra, - esse elemento Que não se sente dos vaivéns da sorte.

Para tua hecatombe de um segundo Não falta alguém? — Preencha-a comigo: Leva-me à região da paz horrenda, Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Miríadas de vermes lá me esperam Para nascer de meu fermento ainda, Para nutrir-se de meu suco impuro, Talvez me espera uma plantinha linda.

Vermes que sobre podridões refervem, Plantinha que a raiz meus ossos fera, Em vós minha alma e sentimento e corpo Irão em partes agregar-se à terra.

E depois nada mais. Já não há tempo, nem vida, nem senir, nem dor, nem gosto. Agora o nada — esse real tão belo Só nas terrenas vísceras deposto.

Facho que a morte ao lumiar apaga, Foi essa alma fatal que nos aterra. Consciência, razão, que nos afligem, Deram em nada ao baquear em terra.

Única idéia mais real dos homens, Morte feliz — eu quero-te comigo,

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Leva-me à região da paz horrenda, Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Também desta vida à campa Não transporto uma saudade. Cerro meus olhos contente Sem um ai de ansiedade.

E como um autômato infante Que ainda não sabe mentir, Ao pé da morte querida Hei de insensato sorrir.

Por minha face sinistra Meu pranto não correrá. Em meus olhos morinbundos Terrores ninguém lerá.

Não achei na terra amores Que merecessem os meus. Não tenho um ente no mundo A quem diga o meu - adeus.

Não posso da vida à campa Transportar uma saudade. Cerro meus olhos contente Sem um ai de ansiedade.

Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo: Por isso, ó morte, eu quero-te comigo. Leva-me à região da paz horrenda, Leva-me ao nada, leva-me contigo.

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Lembrança de Morrer ( Álvares de Azevedo)

Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nenhuma lágrima Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento.

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Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro, ... Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh‘alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade... é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade... é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas... De ti, ó minha mãe, pobre coitada, Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos, Pouco - bem poucos... e que não zombavam Quando, em noites de febre endoudecido, Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda, É pela virgem que sonhei... que nunca Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores... Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo... Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

Sombras do vale, noites da montanha Que minha alma cantou e amava tanto, Protegei o meu corpo abandonado, E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d‘aurora E quando à meia-noite o céu repousa, Arvoredos do bosque, abri os ramos... Deixai a lua pratear-me a lousa!

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CURIOSIDADE SOBRE O POEMA LEMBRANÇA DE MORRER: A poesia ―Lembrança de Morrer‖ - foi escrita por Álvares de Azevedo 10 dias antes da sua morte e foi lida no seu velório pelo escritor Joaquim Manuel de Macedo.

SOBRE OS DOIS POEMAS – „MORTE‟, DE JUNQUEIRA FREIRE E „LEMBRANÇA DE MORRER‟, DE ÁLVARES DE AZEVEDO

DISCUTA COM OS COLEGAS:

1- Como é descrita, pelo eu-lírico, a visão da morte em cada poema? 2- Qual é a semelhança entre os poemas? 3- Qual é a semelhança entre estes poemas do Romantismo com a poética

de Augusto dos Anjos? 4- Qual é a diferença entre a visão da morte descrita por Álvares de

Azevedo, Junqueira Freire e Augusto dos Anjos?

VOCÊ SABIA?

O poeta do Romantismo Fagundes Varela, também da 2ª geração, escreveu uma poesia dedicada ao seu filho morto. Coincidentemente Augusto dos Anjos também escreveu uma poesia para seu filho que morreu.

Vejamos as poesias , comparando as semelhanças e diferenças:

Cântico do Calvário

À Memória de Meu Filho

Morto a l l de Dezembro de 1863.

Eras na vida a pomba predileta Que sobre um mar de angústias conduzia O ramo da esperança. — Eras a estrela Que entre as névoas do inverno cintilava

Apontando o caminho ao pegureiro. Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime.

Eras a glória, — a inspiração, — a pátria, O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,

Pomba, — varou-te a flecha do destino! Astro, — engoliu-te o temporal do norte!

Teto, caíste! — Crença, já não vives!

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Correi, correi, oh! lágrimas saudosas, Dúbios archotes que a tremer clareiam

A lousa fria de um sonhar que é morto! ! São mortos para mim da noite os fachos,

Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas, E à vossa luz caminharei nos ermos!

......... Oh! filho de minh'alma! Última rosa

Que neste solo ingrato vicejava! Minha esperança amargamente doce!

....... Não mais te embalarei sobre os joelhos,

Nem de teus olhos no cerúleo brilho Acharei um consolo a meus tormentos!

.........

Tornei-me o eco das tristezas todas Que entre os homens achei! O lago escuro

Onde ao clarão dos fogos da tormenta Miram-se as larvas fúnebres do estrago!

Por toda a parte em que arrastei meu manto Deixei um traço fundo de agonias! ...

Oh! quantas horas não gastei, sentado Sobre as costas bravias do Oceano, Esperando que a vida se esvaísse

Como um floco de espuma, ou como o friso Que deixa n'água o lenho do barqueiro! Quantos momentos de loucura e febre

Não consumi perdido nos desertos, Escutando os rumores das florestas, E procurando nessas vozes torvas Distinguir o meu cântico de morte!

Quantas noites de angústias e delírios Não velei, entre as sombras espreitando

A passagem veloz do gênio horrendo Que o mundo abate ao galopar infrene

Do selvagem corcel?,

Rosa em botão, crisálida entre luzes, Foste o escolhido na tremenda ceifa!

Ah! quando a vez primeira em meus cabelos Senti bater teu hálito suave;

Quando em meus braços te cerrei, ouvindo Pulsar-te o coração divino ainda;

Quando fitei teus olhos sossegados, Abismos de inocência e de candura,

E baixo e a medo murmurei: meu filho! Meu filho! frase imensa, inexplicável,

Grata como o chorar de Madalena

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Aos pés do Redentor ... ah! pelas fibras Senti rugir o vento incendiado

Desse amor infinito que eterniza

Que prende o céu à terra e a terra aos anjos! Que se expande em torrentes inefáveis

Do seio imaculado de Maria! Cegou-me tanta luz! Errei, fui homem!

E de meu erro a punição cruenta Na mesma glória que elevou-me aos astros,

Chorando aos pés da cruz, hoje padeço!

Que belos sonhos! Que ilusões benditas! Do cantor infeliz lançaste à vida.

..................

Noites fugiam, madrugadas vinham, Mas sepultado num prazer profundo Não te deixava o berço descuidoso, Nem de teu rosto meu olhar tirava,

Nem de outros sonhos que dos teus vivia! ..........

Como eras lindo! Nas rosadas faces Tinhas ainda o tépido vestígio

Dos beijos divinais, — nos olhos langues Brilhava o brando raio que acendera

A bênção do Senhor quando o deixaste! Sobre o teu corpo a chusma dos anjinhos,

........ E eu dizia comigo: — teu destino

Será mais belo que o cantar das fadas Que dançam no arrebol, — mais triunfante

Que o sol nascente derribando ao nada Muralhas de negrume! ... Irás tão alto Como o pássaro-rei do Novo Mundo!

Ai! doudo sonho! ... Uma estação passou-se,

E tantas glórias, tão risonhos planos Desfizeram-se em pó!.

A desgraça Sentou-se em meu solar, Inda te vejo pelas noites minhas,

Em meus dias sem luz vejo-te ainda, Creio-te vivo, e morto te pranteio! ...

O linho mortuário que retalham

Para envolver teu corpo! Vejo esparsas Saudades e perpétuas, — sinto o aroma

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Do incenso das igrejas, — ouço os cantos Dos ministros de Deus que me repetem

Que não és mais da terra!... E choro embalde.

Mas não! Tu dormes no infinito seio Do Criador dos seres! Tu me falas

Na voz dos ventos, no chorar das aves, Talvez das ondas no respiro flébil!

Tu me contemplas lá do céu, quem sabe, No vulto solitário de uma estrela,

E são teus raios que meu estro aquecem! Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!

Brilha e fulgura no azulado manto, Mas não te arrojes, lágrima da noite, Nas ondas nebulosas do ocidente!

Brilha e fulgura! Quando a morte fria Sobre mim sacudir o pó das asas, Escada de Jacó serão teus raios

Por onde asinha subirá minh'alma.

= = =

Ao meu primeiro filho nascido morto com 7 meses incompletos.

2 fevereiro 1911.

Agregado infeliz de sangue e cal, Fruto rubro de carne agonizante, Filho da grande força fecundante

De minha brônzea trama neuronial,

Que poder embriológico fatal Destruiu, com a sinergia de um gigante,

Em tua morfogênese de infante A minha morfogênese ancestral?!

Porção de minha plásmica substância,

Em que lugar irás passar a infância, Tragicamente anônimo, a feder?!

Ah! Possas tu dormir, feto esquecido,

Panteisticamente dissolvido Na noumenalidade do NÃO SER!

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DISCUTA COM SEUS COLEGAS

1- Qual é a relação existente entre a poesia de Fagundes Varela e de Augusto dos Anjos?

2- O que diferencia a poesia de Fagundes Varela da poesia de Augusto dos Anjos?

3- O que você sentiu ao ler os poemas? Comente.

CURIOSIDADES SOBRE OS POETAS DO ROMANTISMO6

ÁLVARES DE AZEVEDO: Morreu com 21 anos. Toda a sua produção literária foi escrita em 4 anos da sua vida. Tinha premonição da morte. Dois temas são freqüentes em suas poesias – o amor e a morte – o amor com que o poeta sempre sonhou, buscou incessantemente e não alcançou , não teve amores concretos , apenas idealizados, seu coração jamais vibrou por uma mulher , e a morte com que o poeta encontrou desde criança quando faleceu um irmão seu, acompanhou-o sempre, tanto que o poeta a tinha, tragicamente como ‗noiva‘ e ‗amante‘.A imagem da sua mãe e irmã são freqüente em suas poesias.

JUNQUEIRA FREIRE: morreu com 23 anos.Entra para o mosteiro de São Bento tentando achar solução para seu mórbido desequilíbrio, sem vocação para vida religiosa, sua crise se agrava e abandona o claustro. Sua obra mostra a incessante luta do monge-poeta em busca de equilíbrio existencial e espiritual. Dois temas lhe são peculiares: o Monge que ele lastima e a Morte a que ele aspira.

FAGUNDES VARELA: morreu com 34 anos. O poeta teve uma infância nômade. Entrega-se de corpo e alma à boêmia.Em 1862 casa-se, mas no ano seguinte, morre prematuramente seu primeiro filho Emiliano.Entrega-se ainda mais ao álcool. Morre a sua mulher e ele passa a viver de fazenda em fazenda. Seus temas: Deus_ que é uma presença constante, a Bíblia seu grande livro. Esta religiosidade era refúgio para seu sofrimento. Teve pouquíssimos momentos de felicidade, a vida lhe foi ingrata.

6 Informações disponíveis em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-

31731996000100004&script=sci_arttext, acessado em 24 nov. 2013.

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INTERTEXTUALIZANDO

VOCÊ SABIA?

ALÉM DOS POETAS DO ROMANTISMO, POETAS DO MODERNISMO, COMO MANUEL BANDEIRA E MÁRIO DE ANDRADE TAMBÉM JÁ ESCREVERAM POEMAS COM O TEMA DA MORTE.

MANUEL BANDEIRA viveu 82 anos, e muito jovem descobre sua doença – a tuberculose-. Suas obras então são marcadas pela experiência da doença e do isolamento advindo dela, a paixão pela vida, a morte como o destino cruel devido a sua doença, o amor , o erotismo, a angústia existencial, a infância e o cotidiano.

VAMOS CONHECER UMA POESIA DE MANUEL BANDEIRA

QUE RETRATA A MORTE:

CONSOADA Quando a Indesejada das gentes chegar (Não sei se dura ou caroável), talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: - Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer. (A noite com os seus sortilégios.) Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, A mesa posta, Com cada coisa em seu lugar.

ANALISANDO O POEMA:

1-O que significa a expressão do verso 1: ―Indesejada das gentes‖?

2-Como o ‗eu-lírico‘ descreve a sua reação diante da morte?

3-Explique a expressão dos versos: ―Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,/ a mesa posta,/ Com cada coisa em seu lugar.

4- Na sua opinião, ele estaria preparado para a morte? Justifique sua resposta.

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POETA PARODIANDO POETA OLHA QUE INTERESSANTE! OS POETAS USAVAM ESTE RECURSO DA PARÓDIA. VEJAMOS : QUANDO EU MORRER - MÁRIO DE ANDRADE Quando eu morrer quero ficar, Não contem aos meus inimigos, Sepultado em minha cidade, Saudade. Meus pés enterrem na rua Aurora, No Paissandu deixem meu sexo, Na Lopes Chaves a cabeça Esqueçam. No Pátio do Colégio afundem O meu coração paulistano: Um coração vivo e um defunto Bem juntos. Escondam no Correio o ouvido Direito, o esquerdo nos Telégrafos, Quero saber da vida alheia, Sereia. O nariz guardem nos rosais, A língua no alto do Ipiranga Para cantar a liberdade. Saudade... Os olhos lá no Jaraguá Assistirão ao que há de vir, O joelho na Universidade, Saudade... As mãos atirem por aí, Que desvivam como viveram, As tripas atirem pro Diabo, Que o espírito será de Deus. Adeus.

= = =

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QUANDO EU MORRER – CASTRO ALVES

Quando eu morrer… não lancem meu cadáver

No fosso de um sombrio cemitério…

Odeio o mausoléu que espera o morto

Como o viajante desse hotel funéreo.

Corre nas veias negras desse mármore

Não sei que sangue vil messalina,

A cova, num bocejo indiferente,

Abre ao primeiro a boca libertina.

Ei-la nau do sepulcro — o cemitério…

Que o povo estranho no porão profundo!

Emigrantes sombrios que se embarcam

Para as plagas sem fim do outro mundo.

..........................................

Oh! perguntai aos frios esqueletos

Por que não têm o coração no peito…

E um deles vós dirá: ―Deixei-o há pouco

De minha amante no lascivo leito.‖

Outro: ―Dei-o a meu pai‖. Outro: ―Esqueci-o

Nas inocentes mãos de meu filhinho‖…

… Meus amigos! Notai bem ...como um pássaro

O coração do morto volta ao ninho!…

ANALISANDO OS POEMAS:

1) Quais as similaridades encontradas entre os dois poemas, apesar da

diferença de séculos de publicação?

2) Quais os substantivos/adjetivos que os aproximam?

3) Você sabe o que significa uma paródia?

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VEJA QUE INTERESSANTE:

CURIOSIDADES SOBRE A VIDA DE AUGUSTO DOS ANJOS

Logo depois que o poeta Augusto dos Anjos publica seu primeiro e único

livro- Eu (1912), recebe o convite do Dr. Licínio Santos para responder a um

questionário material para o seu estudo, intitulado ―Loucura dos Intelectuais‖,

que seria publicado em 1914. ―Este questionário, que na verdade trata-se de

um depoimento pessoal, é um dos mais importantes documentos da biografia

do poeta‖ (REIS, 1982, p.1).

Segue o questionário, na integra (id. ibid.):

Nome: Augusto dos Anjos.

Idade: 28 anos.

Profissão:Professor e Advogado.

Filiação: Filho legítimo do bacharel Alexandre R. Dos Anjos e D. Córdula C. R.

dos Anjos.

Estado Civil: casado.

Antecedentes Hereditários: Meu pai, vítima de surmenage, morreu de

paralisia geral, e minha mãe é excessivamente nervosa.

Antecedentes pessoais: O que pode me adiantar sobre sua infância? -

Desde a mais tenra idade eu me entreguei exclusivamente aos estudos,

relegando por completo tudo quanto concerne ao desenvolvimento, numa

atmosfera de rigorosíssima moralidade, da chamada vida física.

Onde e como foi educado? - Na Paraíba do Norte, Engenho Pau d'Arco.

Quais autores que mais impressionaram? Shakespeare, Edgar Poe.

Qual o seu autor favorito? - Todos os bons autores me agradam.

Como faz o seu trabalho intelectual? -Durante o dia, quase sempre andando

no meio de toda azáfama ambiente ou à noite, deitado. Conservo na memória

tudo quanto produzo. São muito poucas vezes que me sento à mesa para

produzir.

Quais as horas que dedica ao seu trabalho intelectual? - Não tenho horas

metodicamente preferidas para o meu trabalho mental.

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O que sente de anormal quando está produzindo? - Uma série indescritível

de fenômenos nervosos, acompanhados muitas vezes de uma vontade de

chorar.

Em que idade começou a produzir? - Se não me falha o poder de

reminiscência, presumo, comecei a produzir muito antes dos 9 anos.

Quais os trabalhos que deu à luz até a presente data? - Um livro de versos,

Eu.

Quais as cores de sua predileção? - A vermelha e a azul.

Quantas horas repousa? - Meu repouso varia de 7 a 8 horas.

Sofre de insônia, cefaléia ou amnésia? - Até a data não sofro absolutamente

de amnésia. Tenho insônia rara vezes, mas a cefaléia persegue-me

constantemente.

Tem continuados sonhos fantásticos? - Quanto a sonhos fantásticos é

também muito raramente que os tenho.

Faz as suas refeições com regularidade? - Sim.

Tem muito apetite?- Regular.

Faz uso de álcool?- Não.

Faz uso excessivo de café, chá ou outro excitante intelectual? - Sou contra

os excessos, o que não impede, entretanto, de abusar um pouco do café.

Augusto dos Anjos viveu de 1884 até 1914, ―quando em outubro, adoece. Muita

febre e a 12 de novembro, do mesmo ano (1914) falece de congestão

pulmonar provavelmente. As causas, na verdade, não de todo esclarecidas‖

(PROENÇA, 1997, p. 9).

Fato curioso ocorrido após a morte de Augusto dos Anjos, um dos poetas que

mais retratou a morte em seus poemas, que falava da decomposição da

matéria, assim foi indagado pelo tão brilhante poeta Olavo Bilac, na ocasião da

sua morte, como nos mostra Ivan Cavalcanti Proença (id. ibid., p. 9-10):

Dias depois da sua morte, ocorrida em Leopoldina, Órris Soares e Heitor Lima caminhavam pela Avenida Central e pararam na porta da Casa Lopes Fernandes para cumprimentar Olavo Bilac. O Príncipe dos poetas notou a tristeza dos dois amigos, que acabavam de receber a notícia.

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-E quem é esse Augusto dos Anjos? Não o conheço. Nunca ouvi falar nesse nome. Sabem alguma coisa dele? Heitor Lima recitou o soneto: 'Versos a um coveiro'. Bilac ouviu pacientemente, sem interrompê-lo. E, depois que o amigo terminou o último verso, sentenciou com um sorriso de superioridade: - Era este o poeta? Ah, então, fez bem em morrer. Não se perdeu grande coisa.

VAMOS REFLETIR:

A morte é algo que mexe com nossos sentimentos, com nossos sentidos

porque não paramos para pensar a respeito dela, embora seja a única certeza

que todos temos da vida. Pensando nisso, que tal assistirmos a um filme que

retrata a temática da morte para depois discutirmos o assunto?

AS INVASÕES BÁRBARAS (2003)

Direção: Denys Arcand

Nome Original: Les Invasions Barbares (o título se refere aos atentados

de 11 de setembro)

SINOPSE:

O professor Remy, com câncer, recebe seus familiares e amigos.

Entram no filme Louise, ex-mulher que se separou por causa da infidelidade do

marido; bem como os dois filhos do casal. O rapaz, bem-sucedido no mercado

financeiro, volta contra a vontade para acompanhar o pai. É ele quem

conversará com a irmã, viciada e filha de uma ex-amante de Remy, para obter

um pouco de heroína e aliviar as dores do professor. Enquanto isso, o grupo de

intelectuais discute todas as ideologias que os entusiasmaram na juventude e o

que foi feito delas.

DISCUTINDO COM OS COLEGAS:

1- Qual a sua opinião à respeito do filme?

2- Qual mensagem você tirou de positivo e de negativo da história?

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VOCÊ SABIA?

Que o Dr. Dráuzio Varela escreveu ―Por um fio‖ (Companhia das Letras,

2004 - Capa Marcelo Serpa), livro que aborda relatos verídicos à respeito de

pacientes dele que vivenciaram uma experiência de morte? O que você acha

de conhecermos alguns relatos? Companhia das Letras

RESUMO DO LIVRO POR UM FIO (DRÁUZIO VARELA)

Neste livro o médico revela as histórias dos pacientes diagnosticados

com câncer, quase todos em situações graves e quase sempre irreversíveis. A

"morte próxima" apresentada nas histórias descritas por Drauzio mostra que a

possibilidade de perder a vida pode trazer novas perspectivas para a vida!

Em ―Por um fio‖ a real sensação de que a linha final chegou traz uma

interessante sensação. Sentimentos distintos se misturam: a pena, a piedade,

a vitimização. A morte encarada pelos pacientes nas histórias de vida relatadas

por Varella é mostrada como algo que pode ser uma passagem, um marco,

uma chegada, apesar de não deixar de anunciar o seu eterno mistério. Mas

essas histórias também não deixam de revelar as dores, os medos, as perdas,

as separações.

DISCUTINDO OS RELATOS DE “POR UM FIO” (DRÁUZIO VARELA)

1- Qual sua impressão à respeito dos relatos?

2- Há alguma semelhança entre estes relatos verídicos descritos por

Dráuzio Varela com as poesias que vimos de Augusto dos Anjos, Álvares de

Azevedo e Manuel Bandeira? Justifica a sua resposta:

______________________________________________________________

VAMOS OUVIR UMA MÚSICA?

O compositor Renato Russo compôs uma bela música sobre a

―partida‖, vamos ouvi-la?

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Os Bons Morrem Jovens (Legião Urbana)

É tão estranho

Os bons morrem jovens

Assim parece ser, quando me lembro de você

Que acabou indo embora, cedo demais

Quando eu lhe dizia, me apaixono todo dia

É sempre a pessoa errada

Você sorriu e disse: eu gosto de você também

Só que você foi embora cedo demais

Eu continuo aqui

Meu trabalho e meus amigos

E me lembro de você

Dias assim, dias de chuva, dia de sol

E o que sinto não sei dizer

Vai com os anjos, vai em paz

Era assim todo dia de tarde

A descoberta da amizade, até a próxima vez

É tão estranho

Os bons morrem antes

E lembro de você e de tanta gente que se foi cedo demais

E cedo demais, eu aprendi a ter tudo que sempre quis

Só não aprendi a perder

E eu que tive um começo feliz

Do resto não sei dizer

Lembro das tardes que passamos juntos

Não é sempre mas eu sei

Que você está bem agora

Só que neste ano eu sei que o verão acabou

Cedo demais.

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ANALISANDO ―OS BONS MORREM JOVENS‖

A música um fato de alguém que perdeu uma pessoa que ― foi embora

cedo demais‖. Com base na música, responda às seguintes questões:

A- Como o ‗eu-lírico‘ se recorda da pessoa?

B- Quais os sentimentos descritos de quem perdeu a outra pessoa?

C- Como está a vida de quem ficou?

____________________________________________________

ENCERRANDO O PROJETO:

Como encerramento do nosso trabalho, individualmente, cada aluno deve

escrever como foi a sua experiência em participar deste projeto: ― E EXISTE

LIRISMO EM AUGUSTO DOS ANJOS‖?.

A- relate o que apreendeu;

B) o que foi mais significante para você?

C- O que mais gostou?

D- Qual a mensagem que você tira para a sua vida ?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALVES, Cilaine. Álvares de Azevedo e o drama romântico. Trans/Form/Ação vol.19 Marília Dec. 1996. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-31731996000100004&script=sci_arttext, acessado em 24 nov. 2013.

ANJOS, Augusto dos. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.

BARROS, Eudes. A poesia de Augusto dos Anjos: uma análise de psicologia e estilo. Rio de Janeiro: Ouvidor, 1974.

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FACIN, Débora. Análise enunciativa de Canto para minha morte, de Raul Seixas. Ling. (dis)curso vol.12 no.2 Tubarão maio/ago. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-76322012000200009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt, acessado em 20 nov. 2013. FERNANDES, Flávio Sátiro. Augusto dos Anjos e a Escola do Recife. Jornal de Poesia, online, http://www.secrel.com.br/jpoesia/augusto18.html, consultado em 24 ago. 2013.

GULLAR, Ferreira. "Augusto dos Anjos ou vida e morte nordestina". In: ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia; com um estudo crítico de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

MOBILION, Norma. A dualidade presença/ausência nas imagens impressas de Edvard Munch e Andy Warhol: aproximações possíveis. ARS (São Paulo) vol.9 no.18 São Paulo 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-53202011000200006&script=sci_arttext, acessado em 27 set. 2013.

NÓBREGA, Humberto. Augusto dos Anjos e sua época. João Pessoa: Edição da Universidade da Paraíba, 1962.

PROENÇA, Manuel Cavalcanti de. Augusto dos Anjos e outros ensaios. Rio de Janeiro/Brasília: Grifo/INL, 1973.

REIS, Zenir Campos. Augusto dos Anjos. São Paulo: Abril Educação, 1982.

ROSENFELD, Anatol. A costela de prata de Augusto dos Anjos, em Texto e contexto. São Paulo: Perspectiva, 1973.

VILARINHO, Sabrina. Augusto dos Anjos. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-31731996000100004&script=sci_arttext, acessado em 24 nov. 2013.

ICONOGRAFIA

Fig. 1 - Fonte: http://www.munchmuseet.no Fig. 2 - Fonte: http://www.vidaslusofonas.pt/augusto_dos_anjos.htm Fig. 3 - Fonte: http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/augusto-dos-anjos-poemas/ Fig. 4 - Fonte: http://www.portaleducacao.com.br/biologia/artigos/30082/ecolocalizacao-ultrassonografias-morcegos-e-golfinhos, acessado em 18 set. 2013.

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Fig. 5 - Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br, acessado em 17 jul. 2013.