OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · LÍNGUA INGLESA E POESIA: PRÁTICAS NA SALA DE...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

______________________________ 1 Professora PDE 2013; Graduada em Letras Português/Inglês; Pós-graduada em Metodologias

Inovadoras Aplicadas à Educação; atuante no Colégio Estadual Duque de Caxias – Saudade do Iguaçu, PR; [email protected]. 2 Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e professora do Curso de Letras –

Inglês e Respectivas Literaturas, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus santa Cruz, Guarapuava, PR; [email protected].

LÍNGUA INGLESA E POESIA: PRÁTICAS NA SALA DE AULA

Autora: Angela Maria Maraschin Fermiani1

Orientadora: Me. Elizandra Fernandes Alves2

Resumo: O presente artigo registra a trajetória da participação da autora em questão no PDE (Projeto de Desenvolvimento da Educação), a qual desenvolveu uma Proposta Didático-Pedagógica, Língua Inglesa e poesia: práticas na sala de aula, implementada, posteriormente, no 1º semestre do ano de 2014, no 7º ano do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Duque de Caxias – EFM, no município de Saudade do Iguaçu – PR. Atualmente as aulas de língua estrangeira moderna ainda dão ênfase aos aspectos linguísticos, enquanto que a transmissão dos aspectos culturais é passada de forma descontextualizada. Neste quadro, consideramos que a esfera social de circulação literária é esquecida nas aulas de LEM, sendo que tal premissa se estende fortemente às aulas de Língua Inglesa (doravante LI). Entendendo que as aulas de LI talvez seja o único momento em que os educandos possam ter contato com as literaturas de LI, e consciente de que língua e cultura são indissociáveis e que a literatura é uma ferramenta essencial no que tange o ensino de LI por meio de uma abordagem intercultural, este artigo visa, dentro do contexto do projeto, apresentar reflexões e resultados acerca dos benefícios que o uso do gênero textual poesia pode propiciar ao ensino da LI no ensino base das escolas estaduais do Estado do Paraná. Palavras-chave: Gênero poema. Leitura. Literatura. Poesia.

INTRODUÇÃO

O presente artigo busca apresentar os resultados da implementação do

Projeto de Intervenção Pedagógica e da Produção Didático-Pedagógica da disciplina

de Língua Inglesa (doravante LI) desenvolvidos durante o Programa de

Desenvolvimento Educacional (doravante PDE), programa de formação continuada

da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (doravante SEED), ao longo dos

anos de 2013 e 2014. A elaboração de todo o trabalho do Projeto de Intervenção

Pedagógica, a Produção Didático-Pedagógica, bem como a respectiva aplicação

desse material e o aprofundamento teórico advindo das discussões virtuais no

Grupo de Trabalho em Rede (doravante GTR), buscou considerar as teorias

educacionais presentes nos documentos educacionais oficiais do Estado do Paraná,

as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná de Língua Estrangeira Moderna

(doravante DCEs-LEM) (PARANÁ, 2008).

O projeto e produção objetivaram, junto aos educandos do 7º ano do ensino

fundamental do Colégio Estadual Duque de Caxias, localizado no município de

Saudade do Iguaçu, - Paraná, explorar as questões referentes à leitura do gênero

textual poema (em LI e de diferentes autores), bem como a compreensão e

interpretação dos múltiplos significados presentes nos mesmos.

O ensino por meio dos diferentes gêneros textuais, entendidos pelas DCEs-

LEM, preconiza que o educando “reconheça e compreenda a diversidade linguística

e cultural, de modo que se envolva discursivamente e perceba possibilidades de

construção de significados em relação ao mundo em que vive” (PARANÁ, 2008, p.

53). Portanto, o estudo dos textos poéticos pretendeu oportunizar aos educandos o

desvendamento do mundo literário ultrapassando as características de leitura

didática, porque “[...] um texto apresenta várias possibilidades de leitura, que não

traz em si um sentido pré-estabelecido pelo seu autor [...]” (PARANÁ, 2008, p. 64).

Buscou-se um olhar diferenciado sobre o dado gênero, crítico e reflexivo,

identificando o conhecimento prévio dos educandos, para que pudéssemos

reconsiderar nossa prática pedagógica de maneira a suprir as necessidades dos

aprendizes-leitores de acordo com as especificidades do nosso contexto.

Com o presente artigo pretendemos discorrer sobre a viabilidade do uso de

textos literários, mais especificamente de poesias, no ensino e aprendizagem da LI,

nas instituições de ensino básico das escolas do Paraná. Para tanto, exibimos

inicialmente as possibilidades teóricas que estimulam o aperfeiçoamento da

capacidade crítica dos educandos, no sentido de praticar a reflexão sobre sua

formação ideológica ligada à leitura de mundo. Na sequência, explicitamos nosso

trabalho ao propor o estudo da LI por meio do gênero textual poema, apresentando-

o como texto potencialmente impregnado de sentido. Posteriormente, realçaremos

alguns acertos, dificuldades, caminhos e possibilidades para o uso de poesias em

sala de aula, todos percebidos durante a implementação do material didático.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. Gêneros textuais e leitura

Foi na crescente preocupação, dentro do âmbito escolar, de aperfeiçoamento

da aquisição de conhecimentos dos educandos, que reflexões sobre o ensino de

gêneros enquanto instrumentos mediadores da aprendizagem afloraram. Neste

sentido as contribuições teóricas de Bakhtin (2004) - que afirma que a linguagem,

um ato social, se realiza e se transforma nos relacionamentos de interação humana -

foram e continuam essenciais na construção do ideal de educação.

Os estudos do autor mostram que os seres humanos são seres sociais que

necessitam de interações com outros seres sociais no sentido de crescimento

intelectual, e, sendo assim, a leitura é tomada como um modo de comunicação entre

o leitor e o texto. A leitura é uma atividade muito mais complexa do que a simples

interpretação dos símbolos gráficos, ou de códigos e símbolos, e requer que o

indivíduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e incorporando-o à

sua bagagem pessoal, fazendo com que o mesmo mantenha um comportamento

ativo diante da leitura.

Ler, para Freire, é entendido como o próprio ato de viver, respiração que “[...]

não se esgota na decodificação pura da escrita ou da linguagem escrita, mas que se

antecipa e se alonga na inteligência do mundo [...]”, (1986, p.11). Portanto, a leitura

se realiza em todos os momentos e interações feitas no mundo, mas para que isso

aconteça é necessário entender que o ensino da leitura não deve ser apenas

transmitido, mas construído; as leituras desenvolvidas precisam ultrapassar as

barreiras do senso-comum; não se trata apenas de ir à fonte do conhecimento, mas

também de questioná-lo.

O ensino de leitura em sala de aula, infelizmente, ainda se dá por meio de

textos não autênticos extraídos do livro didático, acarretando no empobrecimento

das dinâmicas nas aulas, e não raro, limitando o processo de compreensão do

aluno, já que as leituras oferecidas geralmente não são do interesse dos educandos

e abarcam praticamente o linguístico. Se este fator recorrente nos dias atuais

dificulta em muito o processo de ensino-aprendizagem em sala de aula em língua

materna, consideramos o mesmo nas aulas de LI: textos sendo utilizados como

instrumentos de interpretação e resolução de exercícios mecânicos, as leituras

meras repetições de palavras, que poucas vezes levam à pronúncia correta, e muito

menos à visualização de significados, fugindo assim das orientações das DCEs-LEM

(PARANÁ, 2008), que apoiam a concepção de que a língua é discurso.

Como o ensino de língua não deve ser visto por meio de mera transmissão de

um conjunto de termos e expressões voltadas para a comunicação, mas sim como

uma forma de conhecer a cultura expressa pela língua, bem como o mundo, e

entendendo que a literatura é uma fonte de leitura inesgotável e carregada de

aspectos culturais, devemos considerar que o uso de gêneros textuais como

ferramenta no ensino da LI pode despertar o gosto pela leitura no educando,

instigando-o a sentir prazer e habituar-se a ler textos autênticos, bem como mostrar

ao aprendiz o quão importante e interessante pode se tornar o aprendizado da

língua em questão.

Diante do exposto, cabe ao professor disponibilizar aos educandos gêneros

textuais que os façam refletir sobre as possibilidades de conhecer, expressar e

entender o mundo por meio da construção de significados. Uma vez que “[...] deve-

se propor atividades que colaborem para que o educando analise os textos e os

perceba como prática social de uma sociedade em um determinado contexto

sociocultural [...]”, (PARANÁ, 2008, p. 67). Dentro desta categoria, consideremos o

gênero textual poema. Abordado em sala de aula, ele possibilita ao educando fazer

da leitura um fio condutor de conhecimentos da língua ressaltado pelos aspectos

sociais, culturais e históricos, leitura essa que é, na verdade, reflexo do mundo. Para

compreender melhor a possibilidade de ter a literatura em LI trabalhada através de

gêneros textuais vários - e neste caso tomaremos o poema – precisamos também

perceber as definições e características pertencentes ao gênero.

2. O gênero textual poema

Bosi (1977) reconhece que os poemas apresentam-se de diversas formas:

alguns podem conter versos e estrofes dentro da métrica escolhida, linguagem

formal e informal, enquanto outros podem ser expressos por meio de palavras que

formam imagens disposta de diferentes formas no papel. Reconhece, ainda, que

independente da forma, o poeta, artesão das palavras, busca sempre transmitir

ideias e sensações, usando e abusando dos valores sonoros e do poder sugestivo

das palavras combinadas entre si, sugerindo ao leitor perceber que existem imagens

contidas nas palavras, ou em sua totalidade. Uma concepção não anula a outra,

pelo contrário, elas se complementam:

O verso livre e o poema polirrítmico são formações artísticas renovadas. Isto é, novas e antigas. Seguindo trilhas da música e da pintura, a poesia moderna também reinventou modos arcaicos ou primitivos de expressão. O móvel de todas é o mesmo: a liberdade (1977, p.75).

Se o poeta é um artesão, Cortez e Rodrigues (2009) entendem que a sua

matéria-prima é o sentimento, a emoção, é o seu estado emocional. Assim,

[s]omos levados a crer, no primeiro momento pelo menos, que o interesse imediato da poesia não é a representação direta da realidade física, histórica, que a leitura da poesia tem mais a ver com a busca de um estado, de uma emoção específica, não distanciada de fatores estéticos e intelectivos. Essa emoção, é certo, alimenta-se de algum modo na realidade, que é, afinal, resultado de institucionalizações, de ideias (p. 59).

Entendida desta forma, ler um poema é adentrar o mundo do poeta, que, como

postula Bosi (1977), doa os seus sentidos para que o leitor possa buscá-los,

alcançá-los ou mesmo negá-los. Criar e ler um poema tem mais a ver com o alcance

de um estado de espírito, de emoção, que de buscar uma realidade física, social; é

ser transformado por uma sensibilidade que pode mudar o mundo.

Se, como Bosi (1977) mostra, o ser humano é transformado pela arte,

entendemos, assim, que a literatura e, portanto, a poesia, é capaz de transformar o

educando, fazendo-o conhecer mundos diferentes e refletir sobre os mesmo ao

tempo em que proporciona prazer. No entanto, percebe-se ainda uma grande

resistência por parte dos professores, dada a dificuldade da poesia, de trabalhar o

gênero poema em sala de aula, ainda mais nas de LI.

Os textos literários utilizados nas aulas de linguagem estão diretamente

ligados à educação para a leitura. A interação no ato de ler, a busca do contato

autônomo com a linguagem, faz da literatura um material com privilégios para o

conhecimento de diferentes posturas, frente às diferentes situações no mundo. Ao

inserir textos literários no ensino de LI propõe-se que os mesmos não sejam apenas

meios para o ensino de funções linguísticas, mas também fontes para discussões de

diversos temas, contribuindo para que o aluno adentre em mundos (inter)culturais e

amplie seus horizontes. Diante do exposto, optou-se pelo trabalho com os textos

poéticos autênticos em LI, uma vez que a poesia está presente no cotidiano das

pessoas, dentro de casa, nas músicas, nos filmes, nas danças, nas ruas, enfim, nas

mais diversas manifestações culturais da sociedade.

Segundo Paixão (1988), a poesia está ligada à necessidade de o homem

compreender o sentido da vida, e muitos educadores sabem da importância e do

poder transformador que a poesia tem na vida das pessoas, na formação de leitores.

Neste sentido, faz-se necessário descobrir formas de aproximar os jovens da poesia

e de familiarizá-los com a interpretação e, porque não dizer, a facção do texto

poético, já que, para José:

Ser poeta é um dom que exige talento especial. Brincar de poesia é uma possibilidade aberta a todos. Dá possibilidades de alegrar escrevendo, criar, jogar com as palavras, brincar com os temas, modificar, cortar ou acrescentar textos aos textos que já existem, tentar uma nova disposição gráfica para os textos lidos (2010, p. 101).

A leitura, compreensão, exploração e facção de poemas abrem caminhos

para novas práticas pedagógicas, ganham dimensões, permitindo o diálogo com os

mais variados gêneros de textos, a partir da interação escritor/leitor, falante/ouvinte.

Portanto, segundo Paixão (1988), ao se propor a leitura e – porque não? - produção

de textos, propiciam-se, aos educandos, condições de construções de linguagens, e

estimula-se o voo criativo por meio da imaginação. Sendo assim, passar a incentivar

a leitura e produção do gênero textual poema se faz mister, pois o mesmo oferece

ao educando situações de interações por meio de práticas que o conduz ao uso real

e social da linguagem.

Passamos, agora, a breve descrição dos resultados alcançados com o

trabalho do projeto de intervenção aplicado em sala de aula, explicitando o porquê é

potencialmente positivo propor um estudo da LI por meio do gênero textual poema.

Realçaremos alguns acertos, dificuldades, caminhos e possibilidades para o uso de

poesias em sala de aula, todos percebidos durante a implementação do material

didático.

A IMPLEMENTAÇÃO E A ANÁLISE DOS RESULTADOS

A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica foi realizada no

Colégio Estadual Duque de Caxias, compreendendo 32 aulas, distribuídas no

horário escolar do 1º semestre do ano letivo de 2014. As atividades foram iniciadas a

partir da apresentação e divulgação do projeto e do material didático à comunidade

escolar, durante a Semana Pedagógica, em fevereiro de 2014. Em seguida, o

projeto foi exposto aos educandos do 7º ano – público-alvo da intervenção

pedagógica – comentando-se sobre o cronograma e as atividades a serem

desenvolvidas.

A Proposta Didático-Pedagógica, que propõe um trabalho com o gênero

textual poema em sala de aula, foi organizada e baseada nos estudos realizados por

Bakhtin (1997), que defende a concepção de linguagem como interação entre os

sujeitos. Estes são vistos como agentes sociais, pois é por meio de diálogos entre os

indivíduos que ocorrem as trocas de experiências e conhecimentos. Os diálogos

podem nortear os professores para que promovam encaminhamentos e

intervenções sociais. Dessa forma, as atividades podem ser concebidas

inicialmente, a partir daquilo que os educandos já sabem e a cada atividade

aumentar o grau de dificuldade excedendo as capacidades iniciais dos educandos.

Para a aplicação da proposta de intervenção em sala de aula, o material a ser

utilizado foi impresso e entregue a cada educando (somente o que era utilizado a

cada aula, para que os educandos não nutrissem certa expectativa com relação à

sequência das atividades). Porém, ao término de cada aula o referido material era

guardado em uma pasta individual, para que os educandos o levassem para casa e

revisassem o conteúdo estudado, a fim de obter melhor assimilação do mesmo, e,

ainda, facilitando a sequência das atividades nas aulas seguintes. Ao término da

implementação fez-se a encadernação do material para facilitar o manuseio do

mesmo em consultas posteriores.

A efetivação do Projeto de Intervenção Pedagógica deu-se primeiramente a

partir da resposta de um questionário sobre o conhecimento que os educandos

possuíam sobre LI e seus hábitos de estudo. As respostas das questões presentes

no questionário demonstrou que a maioria dos educandos tem pouco conhecimento

em LI, e raramente estudam em casa. Em seguida, fez-se o estudo de três poemas

distintos, apresentados através de vídeo pela professora, propiciando em sala um

momento de troca de ideias e discussões em relação aos poemas. Posteriormente,

os educandos determinaram o gênero pertencente, características e

particularidades, também fizeram tentativas de classificação quanto aos aspectos

percebidos nos poemas.

Na continuação, foram disponibilizados diversos textos poéticos verbais e não

verbais para leitura, objetivando, com as leituras, analisar o conhecimento prévio

acerca das diferentes possibilidades de leitura e interpretação de significados

presentes nos poemas, bem como propiciar o crescimento do hábito de leitura e

como estes poderiam nortear nossa produção de sentidos gerais. Um dos principais

aspectos trabalhados foi a tentativa de construir conexões entre a leitura, os

significados dos poemas em LI e as temáticas que fazem parte da vida dos

educandos, visando promover a autoestima dos mesmos.

Os textos poéticos estudados instigaram os educandos a realizarem a leitura

e compreensão dos mesmos, por apresentarem uma linguagem acessível, fácil,

divertida, serem curtos e pelo conteúdo estar presente no dia-a-dia dos mesmos. No

decorrer da realização das leituras, se propôs confirmar, rejeitar ou retificar as

antecipações ou expectativas que foram criadas antes da leitura através do debate

coletivo. As estratégias de leitura utilizadas possibilitaram a todos participar

ativamente, aprendendo a ler e pronunciar corretamente as palavras e, aos poucos,

ampliar o vocabulário, bem como perceber os diferentes sentidos contidos nos

poemas. Estes foram escolhidos visando propiciar aos educandos sua aceitação

como ser humano único, valorizando-se e aumentando sua autoestima, dado que

neste momento os educandos do 7º ano estão na fase de transição da infância para

a adolescência.

Na realização do trabalho com os poemas foi possível ainda, buscar

compreender o significado das palavras desconhecidas a partir das inferências no

texto. Raramente consultou-se o dicionário para obter este saber. A forma de

apresentar o vocabulário do texto por meio de imagens, associação a outras

palavras e acontecimentos de sua vivência auxiliaram na compreensão das

mesmas. No decorrer da realização das atividades individuais, em duplas ou grupos,

os educandos, sempre que encontravam alguma dificuldade, auxiliavam-se antes da

intervenção da professora. Isto demonstrou que a compreensão dos textos, dos

enunciados, bem como dos exercícios, por parte dos educandos, aos poucos foi

sendo assimilado e a colaboração entre eles tornou-se cada dia mais forte.

As atividades práticas proporcionadas por meio de poemas e brincadeiras,

como margarida “she/he loves me, she/he loves me not” (tirando as pétalas da

margarida), propiciaram aos educandos a associação do poema à brincadeira do

bem me quer, mal me quer, declamando os versos em LI com alegria, por terem

compreendido o significado, bem como o entendimento do uso do tempo verbal no

presente. A brincadeira Simon says, similar ao Seu Reizinho Mandou, e do poema

“Oh the Places You’ll Go”, juntamente com a atividade de nomear as partes do corpo

na representação das imagens, instigou os educandos a aprenderem e fixarem

melhor os nomes das partes do corpo. O poema “Rainbow” e a utilização do jogo

das cores, apresentado em slides com os nomes das cores escritos com tinta

colorida, despertou-lhes a curiosidade, descontraindo a turma. Estas atividades,

além de propiciarem momentos de descontração, também auxiliaram na

concentração dos educandos.

A realização de atividades como a com a música “Firework”, de Katy Perry, a

leitura de poemas maiores como “Sonnet Number Twelve”, necessitaram de um

tempo maior para que todos realizassem a atividade, e, mesmo assim, nem todos

conseguiram realizá-las com êxito. Percebemos que mesmo tendo gostado da

música e poema os educandos acabaram tendo dificuldades em compreendê-los.

Percebemos, ainda, que, mesmo fazendo da releitura dos textos uma prática

constante, surgiram dificuldades que precisaram ser solucionadas a partir de

reflexões individuais e coletivas.

Alicerçando a importância da construção de conhecimentos por meio de

poemas em LI, foi oportunizado aos educandos a produção de releituras das obras

estudadas, observando os originais, para que, posteriormente, eles pudessem

apresentar interpretações próprias. Na sequência, solicitou-se a eles que

criativamente elaborassem produções textuais na forma de poemas acrósticos com

seus nomes, e de poemas concretos com o tema LIFE IS BEAUTIFUL. Ao iniciarem

as produções textuais, os educandos estavam preocupados em executá-las com

êxito. Os textos apresentados foram contemplados com palavras dos assuntos

estudados e até frases muito bem elaboradas, tornando-os ricos em significados.

Portanto, a execução das atividades propiciou aos educandos não apenas um

espaço de comunicação, mas um espaço de compartilhamento de informações de

visão própria de mundo.

Após o término de todas as atividades sugeridas na unidade didática, a

professora distribuiu para cada educando um questionário embasado nas atividades

apresentadas no projeto. As respostas das questões presentes no questionário

demonstraram que eles, em geral, gostaram de ter participado do projeto,

considerando o assunto relevante ao seu dia-a-dia. Verificou-se, portanto, que

propostas educativas diferenciadas suscitam nos educandos o querer saber,

explorar e dominar. Verificou-se, ainda, que este trabalho é uma ferramenta que

propicia a nós, professores, que alcancemos de forma efetiva os propósitos

pedagógicos almejados.

De forma concomitante ao processo de implementação pedagógica na escola,

também protagonizamos a tutoria do Grupo de Trabalho em Rede (doravante GTR),

que constitui uma atividade do PDE, caracterizando-se pela interação virtual entre os

Professores PDE e os demais professores da Rede Pública Estadual. Passamos,

agora, a breve descrição dos resultados alcançados com este trabalho.

Grupo de Trabalho em Rede – GTR: breve discussão

O GTR foi composto por três temáticas: na primeira discutiram-se as questões

conceituais do Projeto de Intervenção Pedagógica da Escola, na segunda debateu-

se a viabilidade de aplicação e questões teórico-metodológicas de aplicação da

Produção Didático-Pedagógica apresentada, e na terceira avaliaram-se as ações da

implementação expostas, buscando a socialização da prática pedagógica.

O GTR foi de grande valia para o enriquecimento de conhecimentos no

período de participação do PDE, pois desde a preparação até o curso propriamente

dito, aprendemos muito: foram vistos e revistos recursos básicos da informática, bem

como sugestões mais avançadas de como usufruir do mundo virtual em prol do

próprio crescimento e como levá-lo às salas de aula, assegurando novas

experiências aos educandos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

Quanto às discussões pertinentes ao ensino de LI, no GTR, diversas foram as

apresentações de estratégias e metodologias utilizadas em salas de aula. Isso

demonstrou que houve um grande avanço nos últimos anos, promovendo evolução

nos conceitos de como se oferecer um ensino e uma aprendizagem com maior

qualidade, voltados à realidade e necessidade do educando, gerando preocupações

e estudos voltados a esses objetivos. Contudo, todos os professores estão cientes

de que ainda há muita carência nesse sentido, levando em consideração o contexto

social do educando, o qual não permite uma associação e assimilação do conteúdo

de forma coerente.

Pelas interações realizadas no decorrer do GTR, acreditamos que o projeto

tenha sido oportuno e significativo, pois se destacou que as atividades com poemas

são relevantes, bem elaboradas, diversificadas, contemplando os conteúdos do ano,

além de apresentarem um vocabulário de fácil compreensão e ilustrado para facilitar

ainda mais a aquisição do conhecimento, diferente dos livros didáticos disponíveis

para a escolha. Também foi observado que com alguns ajustes nas atividades os

poemas podem ser trabalhados nos outros anos do EF, pois os textos poéticos, por

serem fontes inesgotáveis de conteúdos, se apresentam de maneira propicia ao

ensino e aprendizagem dos educandos por contemplarem os mais variados

assuntos.

As interações feitas pelos professores no decorrer do GTR foram pertinentes

para a reflexão da prática pedagógica. Ofereceram subsídios teóricos fundamentais

à prática pedagógica consciente e, constituíram momentos representativos de

reflexão e troca de experiências, ressaltando a importância de levar os educandos

ao contato com textos poéticos de qualidade. Percebemos que o projeto e a

proposta de intervenção estudados no GTR contribuíram para afastar métodos de

ensino tradicionais que ainda estão presentes na sala de aula de LI, além de

favorecer um ensino significativo e prazeroso, atendendo os objetivos propostos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos realizados neste PDE, iniciado primeiramente pelo projeto de

pesquisa, o qual originou a produção da proposta didático-pedagógica, que foi

devidamente implementada, findando-se com este artigo, visam apresentar reflexões

e resultados acerca dos benefícios que o uso do gênero textual poema pode

propiciar ao ensino da LI nos anos bases das escolas estaduais do Estado do

Paraná. Sugerimos o uso de textos poéticos no ensino de LI, pois eles são

conhecidos pela riqueza de sua linguagem e a diversidade de seus significados.

Além disso, a poesia se apresenta como uma nova forma de aprendizado, que foge

da rotina de atividades de sala de aula.

O trabalho realizado com poesia atenta para o fato de que as atividades

propiciaram interessantes momentos de interação e aprendizagem, durante os quais

as quatro habilidades da língua foram desenvolvidas com a criatividade. Ainda, o

estudo do dado gênero também oportunizou o uso do pensamento crítico com mais

frequência, já que o estilo das atividades envolvendo os textos poéticos

disponibilizados está aberto a vários tipos de interpretações e opiniões, além de

serem muito ricos na parte cultural.

Assim, consideramos que as atividades selecionadas contribuíram para

reflexão e reconhecimento da poesia como prática possível de ser trabalhada na

escola, contribuindo então, para afastar métodos de ensino tradicionais que ainda

estão presentes na sala de aula de LI, além de favorecer um ensino significativo e

prazeroso, instigando os educandos a aprenderem a ler as entrelinhas dos textos

com um novo olhar, abrindo espaços para enfrentarem o novo. Diante do exposto, a

utilização de textos poéticos em prol do processo de aprendizagem de uma língua

estrangeira é vantajosa, pois se apresentam como uma nova forma de aprendizado

que foge da rotina de atividades de sala de aula.

Neste contexto, e conscientes da necessidade de saber fazer uma leitura

adequada do mundo ao qual estamos inseridos, a poesia apresenta esta

possibilidade de experiência por meio de sua leitura. A mesma proporciona

condições para a elevação e crescimento do indivíduo, desenvolvendo a reflexão, o

questionar, contribuindo para a formação do espírito crítico e para a emancipação do

sujeito. É fonte inesgotável de prazer, de conhecimento, emoções e experiências.

Por todos estes motivos e tantos outros é que a poesia deve ser trabalhada

em sala de aula, cabendo ao professor abrir os portais deste mundo tão encantador,

deixando seus educandos sedentos e ávidos por novas leituras. E este trabalho aqui

está para ajudá-los a isto.

REFERÊNCIAS

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