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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

NOVAS PRÁTICAS NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: Foco no Letramento Digital e no Gênero Textual Música

Autora: Josiane Fernandes Vilaça

Professora de Língua Inglesa da rede pública estadual de ensino do Paraná e participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da SEED – 2014/2015 – Especialista em Língua

Inglesa pela Universidade Estadual de Londrina – UEL – [email protected]

Orientadora: Samantha Gonçalves Mancini Ramos Professora Orientadora do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Londrina – UEL –

Doutora em Estudos da Linguagem - [email protected]

RESUMO

A tecnologia e a música estão presentes no dia a dia dos indivíduos, porém ainda são pouco exploradas como ferramentas de auxílio ao ensino. Este trabalho buscou estudar as possibilidades de exploração do uso dos recursos tecnológicos aliados ao gênero textual música para criar e desenvolver atividades que pudessem auxiliar na formação do cidadão e favorecer o desenvolvimento das habilidades e competências requeridas pelos PCN e Diretrizes Curriculares da Educação Básica que orientam e norteiam o ensino de línguas estrangeiras no Paraná. Esta pesquisa objetivou a busca de uma prática pedagógica diferenciada, contemplando diferentes estratégias, visando o desenvolvimento das habilidades específicas para o ensino de Língua inglesa no ensino médio com abordagem no gênero textual música e na inserção das novas tecnologias. A mesma foi realizada durante o desenvolvimento do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) do qual participam professores da rede pública estadual do Paraná e no qual foi produzido um material didático, que foi aplicado aos alunos e socializado com os professores do GTR (Grupo de Trabalho em Rede) para discussão, reflexão e análise dos resultados obtidos. A partir da análise das reflexões destes participantes, constatou-se que a inserção da tecnologia no processo ensino e aprendizagem ao mesmo tempo em que é algo que não pode ser ignorado, também ainda enfrenta muitas dificuldades e está longe de ser o ideal esperado pelos envolvidos neste processo.

Palavras chave: Letramento Digital. Gêneros Textuais. Música. Ensino de Línguas.

ABSTRACT

Technology and music are present in the daily lives of individuals, but are still little explored as aid to

teaching tools. This study aimed to study the exploration of possibilities of using technological

resources together to genre music to create and develop activities that could assist in the training of

citizens and promoting the development of skills required by PCN and Basic Education Curriculum

Guidelines that govern and guide the teaching of foreign languages in Parana state. This study aimed

to search for a different educational practice, contemplating different strategies for the development of

specific skills for English language teaching in high school to approach the genre music and insertion

of new technologies. It was done during the development of PDE (Education Development Program)

where teachers of public schools of Paraná are the participants and where a didactic material was

produced, which was applied to the students and socialized with teachers from GTR (Group of Work

on Network) for discussion, reflection and analysis of the results. From the analysis of the reflections

of these participants, it was found that the inclusion of technology in the teaching and learning at the

same time is something that cannot be ignored, and still faces many difficulties and it is far from the

ideal expected by those involved in this process.

Key words: Digital Literacy. Textual Genres. Music. Language Teaching.

1 INTRODUÇÃO

Como professora de Língua Inglesa em escola pública no estado do Paraná e

analisando a prática pedagógica vigente, observo que integrar a tecnologia à sala de

aula ainda é uma prática pouco frequente e de fato, um grande desafio, uma vez que

nós, professores, enfrentamos dificuldades para conseguirmos tirar o melhor

proveito das tecnologias da maneira que gostaríamos.

Neste sentido, evidencio a necessidade de repensar e redimensionar a prática

pedagógica, contemplando diferentes estratégias, visando o desenvolvimento das

habilidades e melhorando a qualidade do ensino, em benefício do processo ensino

aprendizagem com a viabilização do uso de ferramentas tecnológicas voltadas para

o ensino de Língua Inglesa.

Neste trabalho, relato a experiência realizada e analiso os dados obtidos

durante a implementação de uma produção didática elaborada durante minha

participação no Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná

(doravante PDE) no ano de 2015. Dentre as opções sugeridas pelo programa, optei

por uma produção didática que foi elaborada no formato de um Caderno

Pedagógico: material composto por algumas unidades, com abordagem centrada em

temas da disciplina de língua inglesa, contendo texto de fundamentação teórica com,

obrigatoriamente, as respectivas sugestões de atividades a serem desenvolvidas.

Na referida produção, os recursos tecnológicos foram aliados ao trabalho com

textos em sala de aula de língua inglesa, mais especificamente o gênero textual

música que entendo ser um texto com potencial para discussões de temas sociais.

Aproveitando a presença atual, constante e necessária da tecnologia no

nosso dia a dia e o gosto que os alunos apresentam pela música e pelas atividades

que a envolvam, busquei, na realização deste trabalho, refletir sobre a minha ação

pedagógica, elaborando propostas de ensino aprendizagem abordando o gênero

textual música e a inserção das novas tecnologias de acordo com a realidade na

qual estou inserida, ou seja, o ensino público.

O objetivo da produção didática era alimentar o espaço educativo com

sugestões de materiais didáticos, utilizando-os de forma autônoma, criativa e

reflexiva, para dar sustentação à prática diária em sala de aula, promovendo a

realização de atividades online com foco na leitura e escrita – através da utilização

do ambiente virtual EDMODO (cujas características exploraremos no

desenvolvimento deste artigo).

Após esta introdução, apresento o referencial teórico que deu base à criação

do projeto didático apresentando conceitos tais como: Novas Tecnologias e

Educação, Letramento Digital e Ensino, Gêneros Textuais nas Aulas de Língua

Inglesa, O Gênero Textual Música no Ensino-Aprendizagem. Em seguida, relato o

processo da elaboração da produção didática e como esta foi influenciada pelas

trocas de experiências entre os cursistas do Grupo de Trabalho em Rede 2015

(doravante GTR) que constitui uma das atividades do PDE e se caracteriza pela

interação a distância entre o professor PDE e os demais professores da rede pública

estadual de ensino onde é possível viabilizar um espaço de estudo e discussão da

produção didático-pedagógica e da implementação do projeto na escola). A seguir,

analiso as percepções dos próprios aprendizes durante o processo de

implementação da referida produção. Finalizo esta análise tecendo minhas

considerações sobre todo o processo.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Novas Tecnologias e Educação

Sabemos que é imprescindível que nós, professores, estejamos em constante

atualização em relação às novas teorias que oferecem sustentação a nossa prática

diária em sala de aula. Partindo do pressuposto que estamos vivendo na era da

tecnologia e das mudanças sociais, é importante que fiquemos atentos às

transformações que rodeiam o ambiente escolar para que possamos acompanhá-las

e consigamos construir um processo de ensino-aprendizagem que ofereça ao

educando a possibilidade de estar inserido em um contexto onde possa ter acesso à

informação atualizada e à comunicação, construindo conhecimentos que o levem a

compreender suas relações sociais, desenvolvendo sua consciência crítica e

contribuindo para a transformação da sua realidade.

Pesquisadores como MORAN (2007, 2009, 2011, 2012), ROJO (2013) e

KENSKY (2007) entre outros, afirmam que o uso das novas tecnologias de

comunicação e informação (doravante TICs) possibilitam novas maneiras de ensinar

e de aprender, deixando evidente a necessidade do professor em ser capaz de fazer

uso dos recursos tecnológicos de forma autônoma, criativa e reflexiva para alcançar

seus objetivos educacionais. Neste sentido:

É preciso que a instituição escolar prepare a população para um funcionamento da sociedade cada vez mais digital e também para buscar no ciberespaço um lugar para se encontrar, de maneira crítica, com diferenças e identidades múltiplas. ( ROJO, 2013, p.7)

É preciso que alunos e professores estejam preparados para a integração das

TICs no ambiente escolar de modo que reconheçam que com estas ferramentas é

possível que se crie uma aprendizagem rica, complexa, diversificada, pois as TICs

funcionam como “pontes que abrem a sala de aula para o mundo, representando e

mediando nosso conhecimento de mundo” (Moran, 2012, p.52).

Kensky (2007, p.43), “Educação e Tecnologia são indissociáveis” e elas, as

tecnologias “precisam ser compreendidas e incorporadas pedagogicamente para

que possam trazer alterações no processo educativo”. Segundo a autora, “é preciso

saber usar de forma pedagogicamente correta a tecnologia escolhida”. Não basta,

por exemplo, usar a televisão ou o computador. Não basta comprar os

equipamentos tecnológicos. É necessário que o professor saiba utilizar e consiga

descobrir qual o melhor modo de conseguir resultados satisfatórios e significativos

com o uso destes recursos.

Segundo Coscarelli, (1999, p.8) “Tão importante quanto a tecnologia em si, é

como ela está sendo usada para fins educacionais.”

É preciso que o professor conheça as ferramentas que tem à sua disposição

se quiser que o aprendizado aconteça de fato. O uso das tecnologias na escola está

além de disponibilizar tais recursos; ele implica aliar método e metodologia na busca

de um ensino mais interativo.

De acordo com Moran (2003, p.40), “os professores sabem que precisam

mudar, mas nãos sabem bem como fazê-lo e não estão preparados para

experimentar com segurança”. Daí a necessidade de repensarmos a nossa prática

buscando novas formas de ensinar e aprender nestes tempos modernos e nos

manter atualizados e preparados para utilizar as possibilidades de trabalho voltadas

para o uso das TICs no processo educacional.

Concordamos com Cortelazzo (2002), quando esta afirma que “não podemos

ignorar as TICs no processo educativo” pois, se o fizermos, “estaremos contribuindo

para a formação de um sujeito excluído, pois as TICs encontram-se presentes no dia

a dia da sociedade”.

Assim, é necessário planejar a integração das TICs na cultura da escola de

maneira que os educadores compreendam como elas podem ser exploradas para

facilitar o acesso ao conhecimento, levando em consideração os propósitos de

ensino e o currículo, considerando também as circunstancias em que elas serão

utilizadas, bem como a escolha da tecnologia adequada e que competências serão

necessárias para a sua utilização.

2.2 Letramento Digital e Ensino

Por “letramento”, entendemos que: “são as práticas sociais de leitura e escrita

e os eventos em que essas práticas são postas em ação, bem como as

conseqüências delas sobre a sociedade.” (SOARES, 2002, p.144)

Em nossa atual realidade social, não basta saber ler e escrever. É necessário

também que o indivíduo seja capaz de fazer uso destas leituras e destas escritas em

um contexto onde possa responder de maneira efetiva, agindo de modo consciente

e reflexivo, fazendo uso competente e freqüente da leitura e da escrita. Ou seja,

estas leituras e escritas devem fazer sentido e fazer parte da vida do aluno e este

deve compreender o que lê, assimilar diferentes tipos de textos e estabelecer

relações entre eles, dentro e fora do contexto escolar. A isto, chamamos

“letramento”.

Se letramento não significa simplesmente saber ler e escrever, de maneira

isolada e descontextualizada, da mesma forma, letramento digital também não

significa simplesmente saber usar o computador.

O Letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização. Ser letrado digital pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não-verbais, como imagens e desenhos, se compararmos às formas de leitura e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela, também digital. (XAVIER, 2005, p.134)

O aluno letrado digitalmente tem uma nova maneira de ler e processar as

informações. Ele será capaz de, por exemplo, selecionar as fontes de onde ele

estará tirando as informações, saberá se pode ou não confiar nelas e interpretá-las

caso perceba que estas são relevantes para a sua pesquisa. Com o avanço e a

propagação das TICs, todos estão expostos a uma enorme quantidade de

informações produzidas por várias pessoas, sendo, portanto, necessário que

usemos nosso senso crítico e saibamos selecionar o que é relevante ou não para

nós, descartando aquilo que não precisa ser aceito. Por isto, o letramento digital

torna-se tão importante e a escola precisa instruir seus alunos neste sentido.

As mudanças sociais e tecnológicas apontam para transformações do que é

aprender, saber e fazer coisas na contemporaneidade. Alunos nativos digitais

trouxeram para a escola outras práticas de letramento e estão “exigindo novas

competências e capacidades de tratamento de texto e da informação” (Rojo, 2009,

p.3)

Assim, “as maneiras de ler e escrever hoje são acompanhadas por novas

formas de ver e entender o mundo, de novas práticas de letramento exercidas no

ciberespaço e por ele possibilitadas” (Knobel e Lankshear, 2002). De acordo com

estes autores, “há muito a ser aprendido sobre práticas de letramento dos jovens no

ciberespaço.”

É preciso que novas práticas e novos valores e uma nova postura

acompanhem as possibilidades que o mundo digital pode proporcionar, lembrando, é

claro, que a simples existência do computador, não basta para que estejamos

estimulando ou ensinando práticas efetivas e significativas. Precisamos ser capazes

de fortalecer o processo de uso da tecnologia, convertendo-a em algo relevante para

nossas necessidades. Ao utilizarmos os recursos digitais em nossas aulas, devemos

buscar construir significados, averiguar objetivos e conteúdos disponibilizados no

ambiente virtual selecionado e considerar como o indivíduo pode influenciar o

ambiente e como o ambiente pode influenciar o indivíduo, além de analisar se a

comunicação da informação é concreta e envolvente.

O elo entre educação, letramento e tecnologia deve ser consolidado, com a

elaboração de práticas que vão de encontro com as necessidades da sociedade e

que possibilitem a interatividade nos ambientes virtuais de aprendizagem e

promovam formas de construção de significados focadas nas necessidades

contemporâneas.

2.3 Gêneros Textuais nas Aulas de Língua Inglesa

As Diretrizes Curriculares de Língua Estrangeira Moderna do Estado do

Paraná (2008) enfatizam o ensino da Língua Inglesa com enfoque comunicativo

tendo o discurso como prática social como conteúdo estruturante, sugerindo uma

prática que colabore com o desenvolvimento crítico e reflexivo do discente,

tornando-o sujeito da sua aprendizagem.

Assim, espera-se que a aula de LEM constitua um espaço para que o aluno

reconheça e compreenda a diversidade lingüística e cultural de modo que se

envolva discursivamente e perceba possibilidades de construção de significados em

relação ao mundo em que vive, fazendo uso das novas tecnologias.

Deste modo, pretendemos utilizar as novas tecnologias, aliadas ao gênero

textual música, para trabalhar a língua de forma dinâmica, focalizando a busca de

uma prática pedagógica diferenciada, contemplando diferentes estratégias, visando

o desenvolvimento das habilidades específicas para o ensino de Língua inglesa no

ensino médio. Acreditamos que a junção das duas coisas pode contribuir

significativamente para o aprimoramento das atividades desenvolvidas em sala e

para a melhoria na qualidade do ensino.

Marcuschi (2005, p.37) acredita que “o trabalho com gêneros textuais é uma

extraordinária oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos

autênticos no dia-a-dia”. Da mesma forma, Bronckart (1999, p.75) afirma que, “os

gêneros são compreendidos como toda unidade de produção verbal, oral ou escrita,

contextualizada, que transmite uma mensagem linguisticamente organizada e que

produz um efeito de coerência no seu destinatário.”

Marcuschi (2005, p.34), define Gêneros Textuais como sendo “todos os textos

que encontramos na vida diária com função comunicativa” e os “Discursos se

manifestam sempre num Gênero Textual”. Para o autor, (2005, p.19 e 23) “os

gêneros textuais são os textos materializados encontrados em nosso cotidiano. Eles

apresentam características sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função,

composição e canal.” Ou seja, os gêneros textuais são “formas escritas ou orais

bastante estáveis, histórica e socialmente construídas” e “eles refletem as estruturas

sociais típicas de cada cultura.” Marcuschi afirma que:

Saber selecionar o gênero para organizar um discurso implica conhecer suas características para avaliar a sua adequação aos objetivos a que se propõe e ao lugar de circulação, por exemplo. Quanto mais se sabe sobre determinado gênero, maiores são as possibilidades do discurso ser eficaz. (MARCUSCHI, 2005, p.? )

Assim, entendemos “Discurso” como “o conjunto das atividades

comunicativas presentes em um texto aliadas ao seu contexto discursivo.” É por

meio dos textos que podemos entender o funcionamento do discurso e todo texto se

organiza dentro de um determinado gênero.

Segundo Bakhtin (apud Lima, 2009, p.111-112), “só nos comunicamos,

falamos e escrevemos, por meio de gêneros do discurso” e estes “sofrem constantes

atualizações ou transformações” e “se modificam em conseqüência do momento

histórico.”

Neste sentido, parafraseamos Marcuschi, afirmando que os gêneros textuais

são fatos históricos, profundamente relacionados à vida cultural e social.

Marcuschi (2005, p. 19) pondera que os gêneros surgem de acordo com as

conveniências e ações sócio-culturais, bem como na junção com as revoluções

tecnológicas, o que podemos perceber nitidamente ao levarmos em consideração o

grande número de gêneros textuais atuais, comparado aos existentes nas

sociedades antecedentes à sociedade atual.

Atualmente, com o crescimento da tecnologia, podemos verificar o surgimento

de gêneros contemporâneos e meios de comunicação modernos, tanto na oralidade

como na escrita. Como exemplo disto, podemos citar o gênero Carta que na

atualidade, foi praticamente substituído pelo gênero e-mail, o bilhete pelo SMS do

celular, o diário pelo blog, etc.

Bakhtin enfatiza que “os gêneros vão sofrendo modificações em

conseqüência do momento histórico ao qual estão inseridos.” (Bakhtin, apud Lima,

2009, p.111 e112) Cada situação social origina um gênero, com suas características

que lhe são peculiares.

Como estamos vivendo em uma era tecnológica, nas aulas de línguas, as

atividades realizadas, precisam basear-se nos novos gêneros textuais, ou seja, nos

gêneros chamados emergentes, oriundos do contexto da tecnologia digital.

As práticas discursivas mediadas pelo computador também tem sido

discutidas por Marcuschi (2005, p.23) que menciona que no meio cibernético

encontramos vários gêneros emergentes, como entrevistas, chats, blogs e e-mail.

Estes gêneros apresentam correlação com gêneros textuais já encontrados em

outros espaços, contudo estão re-configurados para o discurso tecnológico.

Precisamos analisar como as novas tecnologias estão influenciando a prática

da leitura, da escrita, e da comunicação. O educador precisa rever a definição de

letramento digital. Letramento digital significa que, não é suficiente saber como fazer

uso da tecnologia. É necessário, além disto, ser capaz de identificar para quê utilizar

essa tecnologia e fazer isto de modo eficaz, adequado e satisfatório.

Ao mesmo tempo, devemos lembrar que ao realizar o trabalho com gênero,

devemos considerar as esferas sociais. É indispensável que a definição do ato da

leitura, escrita e de expressão discursiva mostre significado e faça parte da vida dos

educandos. O desafio do professor, neste sentido, é letrar digitalmente alunos que já

nascem e crescem em uma nova realidade social devido ao progresso tecnológico.

Assim, são oportunizados novos meios de criação e de circulação de discursos,

novas formas de enxergar o mundo, bem como, de aprender, de ensinar e de se

comunicar.

O professor torna-se responsável por preparar bem as aulas, disponibilizando

questões desafiadoras e envolventes, averiguando qual a melhor maneira de

aproveitar os recursos que a tecnologia lhe concede, além de adaptar cada gênero

textual de acordo com sua funcionalidade, utilizando os objetos de aprendizagem da

melhor maneira possível para que consiga incentivar e instigar o pensamento crítico

dos alunos.

Resumindo, o ensino de línguas com base nos gêneros textuais pode

possibilitar uma aprendizagem contextualizada, além de promover a aprendizagem

de um modo mais significativo; favorecendo a criação de uma competência

comunicativa por meio de usos reais.

É essencial que o ensino da língua se realize através dos gêneros

discursivos, inclusive dos gêneros procedentes dos ambientes virtuais, levando em

consideração o avanço tecnológico que rodeia e permeia o nosso atual momento

histórico-social. Assim, conseguiremos desenvolver a competência discursiva

(lingüística, textual e comunicativa) dos alunos como solicitado nos PCNs e nas

DCEs com uma prática baseada nas necessidades contemporâneas.

2.4 O Gênero Textual Música no Ensino-Aprendizagem

Compreendendo os conceitos de gênero textual e discurso, e sabendo que as

práticas que efetivam o discurso são a oralidade, a leitura e a escrita, optamos por

trabalhar com gênero textual “letra de música”, pois é pressuposto que ela “pode ser

trabalhada como um tipo de texto e com tarefas para as quatro habilidades ou

voltadas para as áreas específicas (gramática, literatura, cultura, léxico, etc)”

(VILAÇA, 2006), além de possibilitar uma ponte que direcione para o trabalho com

outros tipos de gêneros escritos ou orais, como por exemplo, a “reportagem”, a

“biografia” ou “entrevista” dos compositores ou dos intérpretes, “poemas”, “clip

musical”, entre outras opções relacionadas à música. Através dela, também

podemos trabalhar a história e a cultura, além de funcionar como um material

autêntico, capaz de favorecer o desenvolvimento do pensamento crítico.

Acredita-se que a música, enquanto texto colabora para estimular a reflexão

crítica, o debate de assuntos variados que contribuem no manejo de outros textos

dentro dos demais gêneros, funcionando como auxilio nas realizações das

atividades. Como educadores, podemos incentivar a criticidade do aluno através da

leitura e interpretação das letras de música, levando-o a analisar e a refletir sobre as

transformações sociais, bem como aprender sobre a estrutura linguística do texto.

Ao pretendermos o trabalho com música, concordamos com Lima (2008).

Segundo esta autora, devemos nos conscientizar de que “o uso do gênero letra de

música, dentro de uma proposta de letramento, justifica-se apenas dentro de um

programa onde vários gêneros são estudados em sequência.” Havendo o estudo de

diferentes gêneros em que a letra de música esteja inserida, torna-se claro o

propósito real da tarefa. Caso contrário, podemos passar a impressão de estarmos

utilizando a música em sala de aula somente por lazer. Daí a sugestão de que o

trabalho com o gênero letra de música inclua outros gêneros a fim de se tornar mais

interessante e adequado ao que é sugerido e proposto pelas Diretrizes.

Neste sentido, Machado (2005) afirma que:

[...] utilizada como recurso didático, o gênero letra de música permite que os professores possam trabalhar uma leitura oferecendo aos alunos condições para o diálogo, a descrição, a linguagem coloquial, e as noções de tempo e espaço. Por se constituir em uma leitura rápida, também serve como uma porta de entrada para a leitura de outros gêneros textuais. (MACHADO, 2005).

Além disto, em se tratando de ensino de línguas, pesquisadores tais como

GRENOUGH (2003), LAKE (2003), MACHADO (2005) e VILAÇA (2006) defendem a

idéia de que a música pode funcionar como recursos preciosos para desenvolver

habilidades de audição, fala, leitura e escrita, bem como, ser utilizada para ensinar

uma variedade de itens tais como: vocabulário, pronúncia, ritmo e gramática. Com o

trabalho com a música, também podemos promover atividades de escrita criativa e

de reflexão, o que favorece o desenvolvimento do pensamento crítico, como já

citado anteriormente.

Para Vilaça (2006), “os seres humanos são naturalmente musicais, apreciam

ouvir música e gostam de cantar. Consequentemente, a música deveria ser utilizada

para alcançar e manter o interesse o interesse das pessoas em quase todas as

áreas de estudo”. Da mesma forma, Lake (2003), aponta que uma canção é mais do

que palavras no papel. Ela carrega uma mensagem.

Pesquisadores afirmam que a música treina o cérebro a pensar mais. Quando

aprendemos com música, aprendemos com os dois lados do cérebro. Esta idéia é

defendida por Grenough (2003) e Lake (2003) ao afirmarem que “as músicas ativam

a aprendizagem nos dois hemisférios do cérebro.”

As músicas promovem aprendizagem com todo o cérebro... o lado esquerdo do cérebro processa a linguagem e o direito processa a música... O melhor aprendizado ocorre quando ambos os hemisférios estão envolvidos. CEL-LEP (2005, apud VILAÇA, 2006, p. 179)

Ao professor caberá o papel de observar e se conscientizar de que não se

pode conferir apenas ao gênero textual em questão, a responsabilidade de fazer

com que nossos alunos aprendam uma nova língua ou se apropriem de uma atitude

reflexiva com pensamento crítico. Como afirma Murphey (1992), “apenas o ouvir e

cantar músicas não fará com que o aluno seja capaz de se comunicar em uma outra

língua.”

De acordo com este autor, que é defensor do uso da música em sala de aula,

mais do que simplesmente escolher uma música, ou um vídeo clipe, é necessário

saber fazer com que este instrumento possa favorecer e incentivar a busca da

compreensão e a construção do conhecimento, aproveitando ao máximo o potencial

que ela pode fornecer para a aprendizagem.

O mesmo é sugerido por Kensky (2007) quando nos referimos ao uso das

tecnologias no processo educacional. Assim, estaremos buscando na realização

deste trabalho, estudar as possibilidades de exploração do uso dos recursos

tecnológicos aliados ao gênero textual música para criar e desenvolver atividades

com as quais possamos, de forma agradável, benéfica e vantajosa, auxiliar na

formação do cidadão e favorecer o desenvolvimento das habilidades e competências

requeridas pelos PCNs e Diretrizes que orientam e norteiam o ensino de línguas

estrangeiras no Brasil e no estado do Paraná.

2.5 O Letramento Digital e a Música mediados pelo EDMODO

Considerando que há fortes evidencias que apóiam e dão suporte ao uso da

música na aprendizagem de línguas, bem como ao uso da tecnologia na educação,

este artigo pretende explorar a hipótese levantada anteriormente de que o uso da

música aliada às novas tecnologias pode contribuir para a elaboração de propostas

inovadoras de atividades voltadas ao ensino e aprendizagem de inglês. Tais

atividades explorariam as inúmeras possibilidades de desenvolver uma dinâmica de

uso destes recursos no espaço educativo, a capacidade de utilizá-los de forma

autônoma, criativa e reflexiva, para dar sustentação à prática diária de ensino de

língua estrangeira em sala de aula da Educação Básica.

Foi analisada a utilização das novas tecnologias, aliadas ao gênero textual

música, para trabalhar a língua de forma dinâmica, focalizando a busca de uma

prática pedagógica diferenciada, contemplando diferentes estratégias, visando o

desenvolvimento das habilidades específicas para o ensino de Língua inglesa no

ensino médio.

Com enfoque no letramento digital, durante a implementação da produção

didática pedagógica, foi sugerido que o aluno desenvolvesse atividades que

promovessem a interatividade e a conectividade, e então, foi escolhida a rede social

educacional EDMODO para sediar este evento. Esta rede funciona como uma

plataforma onde o professor pode criar grupos de estudos online e anexar arquivos

para anunciar tarefas, criar bibliotecas digitais para abrigar arquivos importantes,

postar mensagens no mural, formular enquetes para obter feedbacks dos

participantes, anexar links e arquivos, criar um calendário de eventos e tarefas para

os alunos, postar animações como vídeos, imagens e áudios para começar uma

discussão de classe online, entre muitas outras possibilidades. O EDMODO fornece

uma maneira fácil e segura para o aluno se conectar, colaborar, compartilhar

conteúdo e acessar a lição de casa, notas e avisos, por exemplo.

Figura 1 – Página inicial da rede social educacional Edmodo

Fonte:www.edmodo.com

A produção didática pedagógica utilizada neste artigo foi implementada

no Colégio Estadual Presidente Vargas – Ensino Fundamental e Médio, situado no

distrito de Santa Margarida no município de Bela Vista do Paraíso, PR, no período

de Agosto a Novembro de 2015 com os alunos do Ensino Médio. A produção foi

composta de seis unidades didáticas, sendo que a primeira delas objetivou

apresentar o Edmodo ao aluno e introduzi-lo nesta plataforma educacional,

oportunizando os primeiros contatos.

Figura 2: Páginas iniciais da unidade 1 – Produção Didática Pedagógica – Professora PDE - 2015

Fonte: Produção Didática PDE

Além de apresentar e familiarizar o aluno com o ambiente virtual de

aprendizagem Edmodo, esta unidade também objetivava: fazer uso da língua

inglesa para dar informações pessoais; usar a música paraexpressarum ponto de

vistapessoal oumensagemsobre um tema considerado importante para o aluno.

No restante da produção didática, foram propostas unidades didáticas, a

serem realizadas com o auxílio da música, do computador e da rede educacional

Edmodo, listadas a seguir.

Na unidade 2, a música trabalhada (What a wonderful world – Louis

Armstrong) oportunizou uma reflexão sobre o mundo com o objetivo de envolver os

alunos, elevando seu senso crítico referente ao contexto em que vivem.

Figura 3: Páginas iniciais da unidade 2 - Produção Didática Pedagógica – Professora PDE - 2015

Fonte: Produção Didática PDE

Os propósitos desta unidade foram: compreender a mensagem da música e

não de termos e expressões isoladas; analisar a eficáciada músicapara comunicar

idéias e utilizar os adjetivos em inglês para expressar suas opiniões. Culturalmente,

abordamos as sete maravilhas do mundo moderno com atividades de pesquisas on

line e postagens com comentários em inglês no Edmodo.

A música “Heal the World”de Michael Jackson foi explorada na unidade 3 com

os objetivos de refletir sobre os problemas ambientais; conscientizar o aluno sobre a

realidade da nossa sociedade, levando-o a uma reflexão e posicionamento sobre

esta problemática do mundo atual; utilizar a língua inglesa para opinar sobre o tema

e adquirir vocabulário relacionado ao tema. As atividades, assim como as nas

demais unidades, foram registradas na rede educacional Edmodo.

Figura 4: Páginas iniciais da unidade 3 - Produção Didática Pedagógica – Professora PDE - 2015

Fonte: Produção Didática PDE

Utilizamos a canção “Where is the love?” interpretada pelo grupo Black Eye

Peas para refletir sobre os valores predominantes na sociedade atual; discutir e

refletir sobre a violência e o multiculturalismo no mundo em que vivemos; reconhecer

e utilizar o gênero biografia; reconhecer e utilizar os pronomes interrogativos em

inglês.

Figura 5: Páginas iniciais da unidade 4 - Produção Didática Pedagógica – Professora PDE - 2015

Fonte: Produção Didática PDE

Os temas abordados nesta etapa do trabalho visavam pesquisas, leituras e

vários questionamentos que foram valorizados com a proposta, assim como o

desenvolvimento do vocabulário e gramática da língua inglesa. Culturalmente,

abordamos alguns dos ganhadores do prêmio Nobel da Paz e aproveitando,

trabalhamos também com o gênero biografia, focalizando tantos estes ganhadores

como também os participantes do grupo musical intérprete da música utilizada nesta

unidade.

Figura 6: Páginas iniciais da unidade 5 - Produção Didática Pedagógica – Professora PDE - 2015

Fonte: Produção Didática PDE

Para finalizar, na unidade 5, procuramos desenvolver uma proposta com foco

na diversidade cultural através da análise da música “Black or White” também de

Michael Jackson. Os objetivos foram: refletir sobre o respeito às diferenças;

compreender que não é correto discriminar as pessoas por suas características

particulares; entender que as identidades são feitas de diferentes características;

conscientizar-se das consequências negativas do uso de estereótipos e

preconceitos.

Lembramos que em todas as unidades, o EDMODO e outros recursos online

tais como o GOOGLE, YOU TUBE, e outros sites de pesquisas, buscas e

informações foram utilizados para pesquisa, complementação e ou registro das

atividades.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Desde a implementação da produção didática, foi possível constatar a

utilização do computador em conjunto com o gênero textual música envolveu os

alunos de uma forma que outros tipos de recursos não o fazem, visto que ambos

são recursos que despertam facilmente seus interesses e sua participação. Por

outro lado, nos deparamos com a necessidade de que os equipamentos

(computador com acesso à internet, por exemplo) estivessem funcionando bem para

que não houvesse transtornos durante a realização das atividades. Finalizando a

implementação, foi dado início à produção do artigo científico que é o trabalho final

nossa participação no PDE.

4.1 O projeto na visão dos professores de Língua Inglesa participantes do GTR

Como citado anteriormente, O GTR 2015 constitui uma das atividades do

PDE e se caracteriza pela interação a distância entre o professor PDE e os demais

professores da rede pública estadual de ensino, interessados em um tema em

comum. Nele, o professor PDE socializa sua produção didática pedagógica com os

demais professores inscritos no grupo a fim de articular tal produção com o

referencial teórico proposto. Neste contexto, os demais professores da rede pública

poderão estudar, analisar e refletir sobre as proposições e as ações dos professores

PDE.

Este GTR 2015 foi organizado em 3 módulos e teve como tema de estudo o

uso das novas tecnologias como ferramenta auxiliar de ensino e aprendizagem da

Língua Inglesa. O primeiro módulo teve como objetivo oportunizar um

aprofundamento teórico sobre o tema de pesquisa adotado. No segundo módulo,

a produção didática pedagógica e a sua implementação foram socializadas e

discutidas, sendo alvo de reflexões e análises a fim de agregar mais elementos

para enriquecer o debate sobre o uso das tecnologias no ensino e aprendizagem.

O último módulo permitiu que fossem elaboradas estratégias para implementar as

ações na escola, bem como, buscar alternativas possíveis para contornar os

obstáculos e superar as fragilidades identificadas no processo.

Todos os professores inscritos no GTR 2015 no qual foi analisada a produção

didática pedagógica utilizada nesta pesquisa reconhecem a importância e o valor da

utilização dos recursos tecnológicos no ensino e aprendizagem, principalmente nos

dias atuais, trabalhando com alunos que já nascem nativos digitais. Para estes

professores, é inegável que sua utilização torna o ensino e aprendizagem mais

dinâmicos, satisfatórios e significativos para os alunos. Os mesmos demonstram

estar conscientes de que necessitam estar atualizados para acompanhar esta

mudança no sistema de ensino e admitem ter um longo caminho a percorrer quando

o assunto é inclusão digital e a conscientização por parte dos alunos de que estes

recursos podem e devem ser utilizados com o objetivo de aquisição do

conhecimento. Seguem dois trechos retirados das interações ocorridas no GTR:

Posso dizer que não sou "expert" em recursos tecnológicos, mas dentro das minhas possibilidades, os utilizo com frequência e certa facilidade. Gosto deles e acredito no papel que eles podem ter para uma educação de qualidade. (S.C.P., quarta, 16 de set. 2015, 16:17)

Gosto do uso dos recursos tecnológicos na educação, no ensino de LE, apesar de perceber o quanto cabe apenas ao esforço do professor adequar-se ao uso dessas questões. Portanto, o maior impacto na verdade é colocado sobre o professor. Em geral, os professores não têm uma formação orientada para tecnologias. Cabe a ele procurar, dispor de seu tempo, para preparar o uso de recursos tecnológicos em aulas, bem como produção de materiais. (A.P.B., terça, 8 de set, 2015, 14:45)

Os professores admitem a necessidade de esforço e disposição para

aprimoramento de suas habilidades para o uso das tecnologias atuais, com a

necessidade de estarem abertos a pesquisa e auto-aprendizado contínuos. Alguns

deles confessam que gostariam de saber explorar muito mais os recursos

tecnológicos em suas aulas, como podemos observar no trecho a seguir:

Confesso que eu gostaria de saber explorar muito mais os recursos tecnológicos em minha prática pedagógica, mas infelizmente me falta mais formação nessa área. Geralmente trabalho com meus alunos na sala de informática alguns games online que ajudam muito na fixação de vocabulários e itens gramaticais, etc. (M.F.S., terca, 8 de set. 2015, 22:25)

Da mesma forma, e não menos importante, também é relatado a necessidade

de formação e oferecimento de cursos e capacitações aos professores, que embora

tenham boa vontade, se consideram despreparados e ainda enxergam como um

desafio o trabalho com as TIC´s dentro da sala de aula. Em vários momentos das

discussões, os professores participantes do GTR ressaltaram a necessidade de

oferecimento destas capacitações, como pode-se observar nos trechos a seguir:

Precisamos de mais capacitação com relação aos recursos tecnológicos. Nossa realidade se contradiz, pois quando temos conhecimento há falta de recursos apropriados e vice-versa.À medida que surgem muitos problemas, voltamos para a aula tradicional. Espero que um dia possamos elogiar tanto os cursos para a capacitação de professores, quanto a qualidade do material a ser utilizado com os alunos. Como professores, aprendemos a acreditar em um futuro melhor. Amenizamos nossas frustrações dessa forma. (C. F. S. M., quarta, 16 de set, 2015, 12:50)

As inovações tecnológicas são muito dinâmicas e nós professores temos muitas dificuldades para acompanhá-las, ao contrário dos nossos alunos. Portanto, os cursos de capacitação são necessários bem como as adequações nos laboratórios de informática. (S.R.R.B., terça, 22 de set. 2015, 09:59)

As inovações tecnológicas são dinâmicas e infelizmente a educação não tem acompanhado esse dinamismo. Para que isso ocorra é essencial que a formação para letramento digital de professores seja contínua, senão corremos um sério risco de não acompanharmos mais essa evolução. ( M.F.S., domingo, 20 de set, 2015, 23:40)

Estamos diante do desafio que é lidar com as tecnologias e passar isso para os nossos alunos, mas muitas vezes nos faltam formação eficiente e adequada para podermos alcançar tais objetivos. Nos é cobrado o tempo todo a inserção das tecnologias em nossas aulas, no entanto, o que acontece na maioria das situações é um despreparo geral, tanto dos professores como dos demais funcionários que estão em contato direto com os equipamentos, de modo que o professor não tem a quem pedir auxílio. Seria importante e necessário que mais cursos fossem dados para que os professores pudessem usufruir de fato das vantagens que a tecnologia pode oferecer e enriquecer nossas práticas pedagógicas em sala de aula (M.A.F.R., segunda, 16 de out., 2015, 19:00)

Além da ausência de investimento na formação e falta de preparo do professor neste sentido, também são relatados problemas e limitações tais como: números insuficientes de computadores, sem acesso á internet, com qualidade e equipamentos obsoletos:

Precisamos de curso de capacitação, mas também é necessário uma adequação, melhoria nos laboratórios, com acesso à internet, sendo que isso não está sendo possível, pois a capacidade atual não suporta e assim não podemos levar nossos alunos.Também há faltas de computadores, pois o número existente não é suficiente para atender a demanda.Sendo assim, as aulas, na maioria das vezes segue o modelo tradicional. ( S.R.R.B., terça , 22 de set, 2015 08:00)

Muitas vezes, enfrentamos grandes dificuldades ao tentarmos usar a tecnologia em nossas aulas, uma hora a internet está demasiadamente lenta, outra, os computadores são insuficientes para toda a turma, e por aí, vai. Mas somos professores diferentes do convencional e se em um dia tudo dá errado, tentamos novamente, até acertarmos. (M.F.S., terça, 20 de outubro de 2015, 22:01)

Em relação ao uso do Edmodo, os professores não tinham conhecimento e

consideraram uma plataforma interessante, demonstrando vontade em aprofundar

os conhecimentos sobre ela para utilizá-la com seus alunos:

Quanto ao projeto, fiquei bastante interessada no ambiente Edmodo, nunca ouvi falar nele, espero que meus alunos gostem quando formos trabalhar com ele. (M.F.S., terça, 20 de out, 2015, 22:28)

Este projeto nos traz grandes contribuições e também ideias, pois, com o tempo, acabamos desistindo de tentar usar as tecnologias e proporcionar aulas mais interessantes e enriquecedoras. As ideias lançadas nos faz tentar de novo e por que não nos surpreender com bons e novos frutos que podemos colher com nossas práticas renovadas? (M.A.F.R., segunda, 26 de out, 2015, 19:55)

No decorrer das discussões, foi possível perceber que os professores

participantes estão conscientes de que o uso das tecnologias na escola está além

de disponibilizar tais recursos; ele implica aliar método e metodologia na busca de

um ensino mais interativo:

É muito importante que o professor saiba, também, o quefazer com a tecnologia em sala se pretende utilizá-la diretamente com os alunos, pois, às vezes, é comum vermos professores que dizem "usar" da tecnologia em suas aulas, mas tudo que faz é colocar os alunos frente a computadores, deixando-os a vontade, sem direcionamento, o que não é objetivo do uso das tecnologias em sala de aula. Esta é uma questão que envolve duas vias. Saber discernir essas questões é inerente e imprescindível ao professor. (M.A.F.R., segunda, 26 de out, 2015, 19:11)

Tenho observado que escolas equipadas com computadores e acesso à internet e professores com cursos básicos de informática educativa não têm sido suficientes para que se integrem os recursos digitais às práticas pedagógicas. Os professores precisam conhecer os gêneros discursivos e linguagens digitais que são usados pelos alunos, para integrá-los, de forma criativa e construtiva, ao cotidiano escolar. O que se quer não é o abandono das práticas já existentes, que são produtivas e necessárias, mas que a elas se acrescente o novo. Precisamos, portanto, de professores e alunos que sejam letrados digitais, isto é, professores e alunos que se apropriam crítica e criativamente da tecnologia, dando-lhe significados e funções, em vez de consumi-la passivamente. O esperado é que o letramento digital seja compreendido para além de um uso meramente instrumental. (C.F.S.M, quarta, 30 de set, 2015, 00:06)

A partir das discussões e reflexões realizadas neste GTR, foi constatado que

para ter sucesso neste sentido, são necessários professores capacitados e

atualizados, sendo necessário um investimento por parte da Secretaria de

Educação, equipamentos adequados e que funcionem corretamente, com números

de máquinas suficientes para a quantidade de alunos por turma e a conscientização

dos alunos de seu uso no processo educativo.

4.2 O projeto na visão dos alunos

Logo no início da implementação do projeto, foi possível perceber, por parte

dos alunos, uma ótima receptividade. Os mesmos demonstraram estar empolgados

e faziam comentários positivos em relação às atividades propostas, principalmente

aquelas que envolviam o uso do laboratório de informática e a rede social

educacional Edmodo. Nenhum dos alunos conhecia esta plataforma educacional.

Sua interface semelhante ao conhecido Facebook chamou-lhes a atenção e

despertou-lhes a curiosidade e com entusiasmo se dirigiam ao laboratório de

informática para a realização das atividades, o que muito colaborou para o

gerenciamento da aprendizagem.

As postagens e atividades realizadas pelos alunos no EDMODO foram

realizadas em inglês, bem como os comentários realizados em cada uma delas,

incentivando a produção escrita com o uso da língua estudada. Para isto, os alunos

mostraram muita dedicação.

Figura 7: Atividade postada e comentada pelos alunos no Edmodo

Fonte: https://www.edmodo.com/home#/group?id=16871817

Em relação às atividades que abrangeram o gênero textual música, foi

confirmada a eficácia deste tipo de texto para oportunizar a reflexão e a análise de

temas e abordagens interessantes e significativas. Este gênero textual proporcionou

a realização de pesquisas, leituras e vários questionamentos que foram valorizados.

Foi surpreendente observar como o gênero foi bem aceito e bons resultados em

termos de análise crítica e visão de mundo em relação ao contexto em que vivem os

alunos.

Figura 8: Atividade postada e comentada pelos alunos no Edmodo

Fonte: https://www.edmodo.com/home#/group?id=16871817

Figura 9: Atividade postada e comentada pelos alunos no Edmodo

Fonte: Fonte: https://www.edmodo.com/home#/group?id=16871817

O material aplicado com os alunos teve boa receptividade, pois as atividades

sugeridas incentivaram a aprendizagem e a participação de todos, oportunizando

estudos, análises, pesquisas, debates e reflexões. A participação esteve presente

em toda a proposta de trabalho que foi desenvolvido com êxito e empenho por parte

dos alunos, assim como ressalta uma das participantes do GTR 2015 que

analisaram a nossa proposta de trabalho:

Em relação à escolha do recurso didático tecnológico escolhido para o trabalho em conjunto com o gênero música, a opção adotada foi a rede social educacional Edmodo. A escolha desta rede foi muito importante para que as atividades propostas fossem contempladas por meio de pesquisas, estudos e postagens dos alunos utilizando a Internet. Com o uso da ferramenta Edmodo, as atividades ocorreram de maneira prazerosa e interessante para que os objetivos de desenvolvimento das habilidades da língua e a formação de alunos-cidadãos críticos fossem alcançados. (A.A.A.C., segunda, 16 de nov, 2015, 14:39)

Realmente, os alunos amaram a experiência. É válido dizer que, a inclusão e

utilização dos recursos tecnológicos no ensino aprendizagem fazem a diferença nos

resultados obtidos quando utilizada de maneira planejada e levando em

consideração os propósitos do ensino, considerando as circunstancias em que são

utilizadas, bem como a escolha da tecnologia adequada para cada situação.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi exposto neste artigo, conclui-se que as diferentes

estratégias utilizadas na proposta de trabalho relatada propiciou uma aprendizagem

com uma nova postura, possibilitou reflexões sobre prática docente.

Todo o processo garantiu um novo olhar sobre ações docentes, realizando

um fazer reflexivo, requisitos importantes na prática pedagógica daqueles que

buscam acompanhar as mudanças que acontecem no processo educativo

atualmente com o surgimento da TICs.

De fato, nem tudo foi perfeito como gostaríamos que tivesse sido. Vivemos

momentos de frustração e de desencanto, como por exemplo, quando alguns

computadores do laboratório de informática não funcionavam ou falhavam,

dificultando a realização das atividades por todos os alunos naquele determinado

momento, sendo necessário que houvesse um rodízio entre eles para realização

das atividades, ou até mesmo a complementação da atividade ser realizada em suas

casas, o que só foi possível para aqueles alunos com acesso aos computadores

com internet em suas residências, o que nem sempre é o caso de todos os alunos,

mesmo vivendo em uma época tão tecnológica como a nossa.

A ausência de um profissional à disposição para atendimento específico e

auxílio no laboratório de informática também dificultou, em alguns momentos, a

realização de algumas atividades. Tivemos em alguns momentos, a colaboração e

ajuda de um auxiliar administrativo que com boa vontade fazia o que era possível

para nos auxiliar e ajudar, mesmo não sendo esta a sua função dentro da escola.

Mesmo diante destas problemáticas apontadas (a falta de profissional

responsável pelo laboratório de informática, número de máquinas insuficientes em

relação ao número de alunos da turma, computadores sem manutenção e sem

funcionamento), consideramos válida a experiência e concordamos que não

podemos e nem devemos desistir frente às dificuldades encontradas, visto aos

excelentes resultados obtidos e retorno conseguido na realização de cada atividade.

Após a realização desta pesquisa, não é possível ignorarmos que a utilização

da tecnologia no ensino e aprendizagem atualmente é algo imprescindível e

necessário se quisermos mais atenção e dedicação desta nova geração que já

ingressa no ambiente educacional “plugada” nas várias opções que o progresso

social e mundial trouxe consigo em termos de modernização tecnológica. Ao

desconsiderarmos isto, estamos desconsiderando o fato de que realmente,

precisamos, como educadores, acompanhar estas mudanças no ambiente

educacional ou estaremos regredindo ao invés de progredindo. E o progresso é

sempre a melhor opção para aqueles que reconhecem que ignorá-lo é sempre

prejudicial e desvantajoso em relação àqueles que o acompanham.

REFERÊNCIAS

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