GTR, PROFESSORES MAIS EXPERIENTES E A FORMAÇÃO ... · às informações do PDE/GTR – 2016/2017....

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ISSN 2176-1396 GTR, PROFESSORES MAIS EXPERIENTES E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO PARANÁ Marcos Vinicius Messino Godoi 1 SEED/PR - PUCPR Eixo Formação de Professores Agência Financiadora: PUCPR Resumo Diante das dificuldades enfrentadas em sala de aula, do avanço tecnológico e da necessidade de adequação ao tempo/espaço escolar, reveste-se de suma importância analisar como é aproveitada pelos professores da rede estadual do Paraná a modalidade de formação continuada possibilitada pelos Grupos de Trabalho em Rede (GTRs), parte das ações que decorrem do PDE-PR. O presente trabalho tem por objetivo verificar e compreender como é aproveitada a rede de formação por meio da divulgação da prática pedagógica dos professores PDE-PR para os demais professores da rede estadual de ensino, na constituição dos Grupos de Trabalho em Rede (GTRs). O estudo se sustentou em produções acadêmicas sobre formação continuada, na legislação federal e estadual sobre a carreira docente versus formação continuada. Além desses aportes foi realizado um levantamento de dados estatísticos no portal Dia a Dia Educaçãopara identificar os trabalhos executados no PDE e os GTRs em andamento no ano de 2017. A análise dos dados converge, a seu modo, com a produção acadêmica de outras pesquisas e reflexões sobre o cotidiano escolar, fortalecendo a conceituação e a tendência já observada de que essa modalidade de formação é uma alternativa para melhorar a qualidade do ensino, bem como contribui para a ressignificação da identidade e profissionalização docente (GATTI; BARRETO, 2009). Identificou-se, ainda, que no estado do Paraná, a formação continuada sob a modalidade GTRs é, ao mesmo tempo, um aproveitamento e uma solução por seus custos e abrangência. Sobre a participação dos professores nessa modalidade de formação, pelas linhas de estudo que lhes são ofertadas foram observados alguns desequilíbrios na procura destas linhas de estudo, assim como na quase ausência de temáticas que abordem as TIC’s e as políticas educativas, nomeadamente naquelas que fundam os conhecimentos e desempenho dos estudantes em avaliações estaduais, nacionais e internacionais (Língua Portuguesa e Matemática) Palavras-chave: Formação continuada. Professor PDE. GTR. Uso de tecnologias. Políticas educativas. 1 Professor da rede estadual de ensino do Paraná. Mestrando em Educação pela PUCPR. Membro do grupo de pesquisa Políticas, Formação do Professor, Trabalho Docente e Representações Sociais (POFORS)”. Bolsista PUCPR. E-mail: [email protected]

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ISSN 2176-1396

GTR, PROFESSORES MAIS EXPERIENTES E A FORMAÇÃO

CONTINUADA DO PARANÁ

Marcos Vinicius Messino Godoi1 – SEED/PR - PUCPR

Eixo – Formação de Professores

Agência Financiadora: PUCPR

Resumo

Diante das dificuldades enfrentadas em sala de aula, do avanço tecnológico e da necessidade

de adequação ao tempo/espaço escolar, reveste-se de suma importância analisar como é

aproveitada pelos professores da rede estadual do Paraná a modalidade de formação continuada

possibilitada pelos Grupos de Trabalho em Rede (GTRs), parte das ações que decorrem do

PDE-PR. O presente trabalho tem por objetivo verificar e compreender como é aproveitada a

rede de formação por meio da divulgação da prática pedagógica dos professores PDE-PR para

os demais professores da rede estadual de ensino, na constituição dos Grupos de Trabalho em

Rede (GTRs). O estudo se sustentou em produções acadêmicas sobre formação continuada, na

legislação federal e estadual sobre a carreira docente versus formação continuada. Além desses

aportes foi realizado um levantamento de dados estatísticos no portal “Dia a Dia Educação”

para identificar os trabalhos executados no PDE e os GTRs em andamento no ano de 2017. A

análise dos dados converge, a seu modo, com a produção acadêmica de outras pesquisas e

reflexões sobre o cotidiano escolar, fortalecendo a conceituação e a tendência já observada de

que essa modalidade de formação é uma alternativa para melhorar a qualidade do ensino, bem

como contribui para a ressignificação da identidade e profissionalização docente (GATTI;

BARRETO, 2009). Identificou-se, ainda, que no estado do Paraná, a formação continuada sob

a modalidade GTRs é, ao mesmo tempo, um aproveitamento e uma solução por seus custos e

abrangência. Sobre a participação dos professores nessa modalidade de formação, pelas linhas

de estudo que lhes são ofertadas foram observados alguns desequilíbrios na procura destas

linhas de estudo, assim como na quase ausência de temáticas que abordem as TIC’s e as

políticas educativas, nomeadamente naquelas que fundam os conhecimentos e desempenho dos

estudantes em avaliações estaduais, nacionais e internacionais (Língua Portuguesa e

Matemática)

Palavras-chave: Formação continuada. Professor PDE. GTR. Uso de tecnologias. Políticas

educativas.

1 Professor da rede estadual de ensino do Paraná. Mestrando em Educação pela PUCPR. Membro do grupo de

pesquisa “Políticas, Formação do Professor, Trabalho Docente e Representações Sociais (POFORS)”. Bolsista

PUCPR. E-mail: [email protected]

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Introdução

De acordo com Oliveira (2011), a formação continuada de professores da rede pública

estadual de ensino do Paraná é uma necessidade em face da má qualidade dos cursos de

licenciatura e rotatividade dos profissionais. O autor salienta, ainda, que os cursos de formação

continuada por meio da Educação a Distância (EaD) são uma possibilidade para a formação

continuada, no que fomentam o aprofundamento do conhecimento específico dos professores

em cada área de sua atuação, ao mesmo tempo que lhes proporciona aproximação com as

Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s), uma vez que, entre outros, viabiliza-lhes

[...] conhecimento sobre as ferramentas da informática pelos professores que atuam

na educação básica. A educação a distância pode ser utilizada como forma de facilitar

o processo de formação continuada e ao mesmo tempo proporcionar uma

familiarização do professor com os recursos da informática (OLIVEIRA, 2011, p. 15).

Com base nas ponderações de Oliveira (2011), é possível inferir que, no espaço/tempo

escolar, ocorram debates, trocas, que fomentem o processo formativo dos professores,

possibilitando-lhes vivenciarem ambientes propícios ao trabalho coletivo, os quais

contribuirão para a promoção de ações, que favorecem e potencializem a efetiva realização do

trabalho docente mais qualificado, com a consequente melhoria da educação.

Entretanto, ressalta-se que não basta, somente, o interesse por parte dos professores

para que se efetivem nos espaços/tempo escolares em que atuam sua formação continuada.

Isso, porque é inegável, por sua importância, a influência das políticas educacionais para o

processo de formação continuada de professores, as quais, além de reafirmarem a necessidade

dessa formação, bem como um dos fatores para melhorar as condições de oferta da educação,

tangenciam-na como um dos componentes de valorização profissional e progressão de carreira.

É nesse cenário que destacamos, como exemplo o enunciado do Art. 67 da Lei nº

9.394/1996:

Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação,

assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do

magistério público,

II - Aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico

remunerado para esse fim; [...] (BRASIL, 1996).

Acerca desse contexto, a produção acadêmica tem contribuído para o âmbito da

formação continuada nos últimos anos, como forma de tentar explicar essa tendência e

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promover alternativas para melhorar a qualidade do ensino, bem como para a ressignificação

da identidade e da profissionalização docente, Gatti e Barreto (2009, p. 199), aludem:

O interesse pelo tema da Formação Continuada difundiu-se nos últimos anos,

envolvendo políticos da área de educação, pesquisadores, acadêmicos, educadores e

associações profissionais. Há uma grande mobilização em torno do assunto, a

produção teórica é crescente, eventos oficiais e não oficiais propiciam debates e

razoável circulação de análises e propostas e os sistemas de educação investem cada

vez com maior frequência no ensaio de alternativas de formação continuada

de professores. Apesar disto, os resultados obtidos com os alunos, do ponto de vista

de seu desempenho em conhecimentos escolares, não têm ainda se mostrado

satisfatórios, fato que tem posto, no Brasil, os processos de educação continuada em

questão.

Esse panorama inquietante nos impeliu a indagar sobre: Quais são os sentidos

atribuídos pelos professores sobre a formação continuada?; Quais mudanças essa formação

traz para o trabalho realizado na escola?; Como é organizada a formação continuada dos

professores da rede estadual na esteira do PDE-PR?; Como os professores mais experientes2

contribuem para que outros professores continuem buscando por formação.

No encalço de algumas dessas respostas foi definido o objetivo da presente pesquisa:

verificar e compreender quais os possíveis efeitos para a formação dos demais professores da

rede estadual por meio da divulgação da prática pedagógica dos professores do PDE-PR, tendo

por foco os Grupos de Trabalho em Rede (GTRs).

Coordenadas Metodológicas

Os trabalhos e dados utilizados para o desenvolvimento deste trabalho foram de cunho

bibliográfico, sendo necessário, também, recorrer a outras análises, especificamente limitadas

às informações do PDE/GTR – 2016/2017.

Em relação às fontes bibliográficas foram procurados autores que tratavam do tema

formação continuada, bem como fontes oficiais dos governos federal e estadual, tais como:

leis, decretos, plano de carreira, orientações etc.

2 Professores mais experientes, expressão usada para os professores com mais de 10 anos de atuação na rede

estadual de ensino no Paraná, selecionados para participar do PDE-PR e que por ocasião do GTR, atuam formando

outros professores da rede estadual. O GTR é uma das ações do PDE, que busca estreitar os laços entre os

professores que participam do PDE e os demais professores da Rede. Essa atividade é realizada por meio de

plataforma online, em que os professores PDE desenvolvem um curso com base nas pesquisas e temáticas que

estão preparando para ser colocada em prática na escola em que atuam. A contribuição dos professores PDE com

a formação dos professores que participam dos GTRs de acordo com a proposta do PDE está no

redimensionamento das práticas mediante estudos e discussões entre os professores.

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O Quadro 1 mostra a relação de produções acadêmicas e fontes oficiais utilizadas na

presente pesquisa.

Quadro 1: Relação de trabalhos por autor, categoria, título e ano de publicação.

Autor (es) Categoria Título Ano

ENS, Romilda Teodora; GISI,

Maria Lourdes.

Artigo Políticas Educacionais no Brasil e a Formação de

Professores

2011

GATTI, Bernadete A.;

BARRETO, Elba de Sá.

Livro Professores do Brasil: impasses e desafios 2009

OLIVEIRA, Claudio

Aparecido de.

Dissertação A educação a distância no programa de

desenvolvimento educacional - PDE no Paraná: Limites

e possibilidades

2011

PITON, Ivania Mariani. Artigo Formação docentes em tempos de políticas neoliberais:

o modelo emblemático de Faxinal do Céu

2011

SAVIANI, Dermeval. História

das ideias pedagógicas no

Brasil.

Livro História das ideias pedagógicas no Brasil 2010

BRASIL. Lei nº 9.394/1996,

de 20 de dezembro de 1996

Lei Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional 1996

PARANÁ. Lei complementar

103, de 15 de março de 2004

Lei Institui e dispõe sobre o Plano de Carreira do

Professor da Rede Estadual de Educação Básica do

Paraná e adota outras providências

2004

PARANÁ. Lei complementar

130, de 14 de julho de 2010

Lei Regulamenta o Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE

2010

PARANÁ. Orientação Nº

001/2017 – PDE

Orientação Grupo de Trabalho em Rede – GTR 2017 – Turma

PDE 2016: Orientações para inscrição no GTR

2017

Fonte: Organizado pelo autor, 2017.

Além desse aporte teórico e legal, apresentado no Quadro 1, foi realizado um

levantamento de dados estatísticos sobre a turma PDE-PR-2016 e sua relação com a turma

GTR-2017, lembrando que o GTR é uma das atividades que o professor PDE-PR deve

desenvolver para dar continuidade ao processo dessa formação continuada.

Para fomentar a formação científica de alunos do ensino médio, decidiu-se trabalhar

com a colaboração destes para efetivar a busca dos dados no portal “Dia a Dia Educação” e

análise inicial dos mesmos. O levantamento desses dados estatísticos foi realizado por alunos

do terceiro ano B, ano 2017, do ensino médio do Colégio Estadual Prefeito Joaquim da Silva

Mafra, localizado em Guaratuba/PR. Os alunos foram divididos em grupos e orientados a fazer

os seguintes levantamentos: quantidade de trabalhos PDE-PR, inscritos no GTR, abordagem

de políticas educacionais e inserção da tecnologia digital, circunscritos às 17 linhas de estudo.

Para a execução dessa parte do trabalho realizada com os estudantes, foram

disponibilizados os arquivos da relação de inscritos no GTR 2017, turmas 1 e 2, e da relação

de propostas de “produção didática” por professor em curso PDE-PR 2016/2017, separadas

por linha de estudo, título, resumo e palavras-chave.

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Resultados da pesquisa: o que dizem os textos selecionados?

A formação continuada de professores no Brasil sofreu um novo direcionamento na

década de 1990 com as reformas nas políticas educacionais para a formação de professores e

profissionalização docente, como pode ser verificado:

O cenário das políticas de formação de professores no Brasil, a partir dos anos 90, tem

como plano de fundo as políticas neoliberais que atendem ao projeto de um Estado

que busca redirecionar a educação para interesses do mercado, fazendo com que a

regulação assuma o caráter central (ENS; GISI, 2011, p.29).

Por conseguinte, de modo geral, a escola vem sofrendo mudanças no que tange à

interferência de políticas e propostas de trabalho, bem como para a formação continuada. Isso

porque ocorreu uma descentralização do poder do Estado sobre a educação, no que este passou

a delegar tal função a mecanismos do poder privado (PÍTON, 2011). Sendo assim, o trabalho

dos professores passou a ser condicionado por esse novo ideário. A este respeito, Saviani (2010,

p. 446) argumenta que “levando em conta a educação brasileira tal como se desenvolve nas

escolas, as diferentes tendências pedagógicas se fazem presentes, ao mesmo tempo, na prática

pedagógica dos professores”.

O espaço/tempo do professor na escola contribui de forma indireta ou direta para a sua

formação. Segundo Machado, Yunes e Silva (2014, p.515) “a formação continuada

desencadeada no espaço da escola constitui uma das facetas do processo de desenvolvimento e

formação que ocorre durante a trajetória dos docentes, ou seja, durante o período em que o

sujeito exerce sua profissão”.

A Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº 9.394/1996, e a legislação complementar que a altera

em vários pontos, regulamenta a educação básica (educação infantil, ensino fundamental e

ensino médio) e superior, definindo como meta a ser aplicada em todo o território nacional a

formação inicial e continuada e a valorização dos profissionais da educação, bem como

indicando as responsabilidades dos órgãos Federais, Estaduais e Municipais quanto a esses

aspectos.

Atendendo ao especificado na LDB, o Estado do Paraná, quase 10 anos depois, instituiu

um Plano de Carreira Docente, composto por 47 artigos, os quais definem a estrutura da carreira

docente, remuneração, vinculada ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE-PR),

definindo quais atividades de formação e qualificação profissional propiciam progressão na

carreira, em vigência para o magistério público paranaense (PARANÁ, 2004).

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No que concerne à formação continuada de professores, esta é contemplada nos

princípios propostos para a carreira docente no Paraná, sendo que o art. 3.º da Lei

Complementar 103/2004 estabelece que:

[...] o Plano de Carreira do Professor da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná

objetiva o aperfeiçoamento profissional contínuo e a valorização do Professor através

de remuneração digna e, por consequência, a melhoria do desempenho e da qualidade

dos serviços prestados à população do Estado (PARANÁ, 2004).

Nesse documento é ressaltada a formação continuada de professores, como um dos

princípios. Para resumir, são apresentadas as propostas de formação ao efetivo docente, as

quais podem ser sintetizadas em três blocos. O primeiro, definido no Parágrafo único do art.

32, como segue:

Os Professores em exercício nos Estabelecimentos de Ensino terão direito, além das

férias previstas no caput deste artigo, a um recesso remunerado de 30 (trinta) dias,

condicionado ao cumprimento do calendário escolar, composto de 200 (duzentos) dias

letivos e 10 (dez) dias destinados a atividades de formação continuada (grifos nossos)

(PARANÁ, 2004).

Além disso, a Lei Complementar nº 103/2004, apresenta o Programa de

Desenvolvimento Educacional- PDE/PR, como um programa de formação continuada aos

professores da Rede que estão no nível 2, classe 11 da carreira docente, ou seja, com

aproximadamente 14 anos de rede, como professor concursado. A implementação desse

Programa ocorreu no ano de 2007, tendo por suporte ações da Secretaria de Estado da

Educação. O objetivo foi, desde então, proporcionar aos professores da rede pública estadual

subsídios teórico-metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas,

e que resultassem em redimensionamento de sua prática, por meio de cursos nas modalidades

presenciais e a distância.

O Programa se tornou uma política pública, a partir da promulgação da Lei nº130/2010,

na qual se evidencia uma organização diferenciada no que articula escola e universidade, e no

que estabelece como parâmetros que essa formação aconteça por e pela pesquisa ao longo de

dois anos. No primeiro ano, o professor PDE fica afastado 100% de suas funções, para realizar

estudos na universidade, participar de seminários e encontros, e desenvolver o material didático

com base nas inquietações e dificuldades que reconhece no meio escolar em que atua. No

segundo ano, o professor deve aplicar o material desenvolvido na escola na qual emergiram

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seus questionamentos. Ressalte-se, que o PDE é o único meio para o professor avançar para o

último nível da sua carreira no Estado do Paraná.

De acordo com a Orientação 001/2017, do estado do Paraná, postada no portal “Dia a

Dia Educação”, o Grupo de Trabalho em Rede – GTR é uma atividade de Formação Continuada

destinada aos professores da Rede Pública Estadual de Ensino, que tem como objetivo socializar

as produções de professores da Rede – utilizando o Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA,

da Secretaria de Estado da Educação.

Para participar do GTR é necessário ser professor da Rede Estadual de Ensino QPM

(Quadro Próprio do Magistério), QUP (Quadro Único de Pessoal) ou PSS (Processo Seletivo

Simplificado). Todos devem estar cadastrados nesse Portal para efetivar sua inscrição no GTR.

Formando formadores: PDE/2016 X GTR/2017

O PDE, turma 2016/2017, disponibilizou aos candidatos 17 linhas de estudo, nas quais

se inscreveram 1825 professores. Os percentuais de vinculação dos professores que atuavam

na rede por linha de estudo são distintos (Gráfico 1).

Gráfico 1: Percentual de professores por linha de estudo

Fonte: organizado pelo autor, com base nas informações do portal Dia a Dia Educação, 2017.

Pode-se verificar que a linha de estudo na qual mais professores realizaram seus estudos

específicos no PDE foi a da Língua Portuguesa. Um dos fatores que podem colaborar para isso

é a quantidade de professores dessa linha na rede de ensino, devido ao número de aulas

semanais (5) por turma, razão similar à que ocorre com a linha de estudo Matemática. Em

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contraposição, a Sociologia, abordada apenas no ensino médio, conta com apenas 4 professores

realizando, nesse período, o PDE.

O Gráfico 2 apresenta a quantidade de professores da rede estadual de ensino que se

inscreveram, por linha de estudo, para participar do GTR, bem como a média de inscritos por

projeto PDE-PR, em suas respectivas linhas de estudo.

Gráfico 2: Quantidade de inscritos no GTR x média por turma

Fonte: organizado pelo autor, com base nas informações do portal Dia a Dia Educação, 2017.

Nota-se que apenas em quatro linhas de estudos foi atingida a média limite de inscrições

por turma: Educação Especial, Filosofia, Química e Sociologia. Comparando o Gráfico 2 com

o 1 registram-se situações que divergem em relação as linhas de estudos de Língua Portuguesa

e Matemática. As mesmas são as que têm o maior número de professores PDE, porém uma das

menores médias de inscritos nos GTRs por turma. Nesse sentido, surgem dois questionamentos:

Não há número suficiente de professores para ocupar as vagas no GTR? Ou isso se deve ao

pouco interesse dos professores em participar dos programas de formação continuada, ofertados

pelo estado do Paraná?

Em sociedades cada vez mais globalizadas, a exigência da capacitação dos indivíduos e

a democratização ao acesso da informação e à suas tecnologias (TIC’s) é um fato, o que não é

diferente no sistema educacional. Em face desse contexto, procurou-se verificar se os

professores PDE incluem em seus trabalhos o termo “tecnologia digital”, utilizando as mesmas

1382 675 1634 3081 2048 676 320 454 2337 2160 2112 1677 3038 2977 3675 640 80

19,74

14,67

14,72

20,01

14,95

13,25 20,0015,66

16,93 20,0013,99

13,86

13,27 13,17

18,19

20,00 20,00

0500

1000150020002500300035004000

GTR 2017 - Quantidade de inscritos e média de inscritos, por turma, do PDE 2016/2017

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em suas práticas pedagógicas. O Gráfico 3 apresenta a incidência da temática das tecnologias

digitais em cada uma das linhas de estudo.

Gráfico 3: Utilização das TIC's por linha de pesquisa (PDE 2016/2017)

Fonte: organizado pelo autor, com base nas informações do portal Dia a Dia Educação, 2017.

Percebe-se que poucos foram os trabalhos que utilizaram ou fizerem indicação ao uso

das tecnologias da informação e comunicação (TIC’s), inclusive as digitais, Essas estão mais

presentes em quatro linhas de estudo: Física, Língua Estrangeira Moderna e Química, nas quais

quase metade dos professores que realizaram o PDE (2016-2017) abordaram as TIC’s como

instrumento pedagógico.

As políticas educacionais se fazem presentes no âmbito escolar, por meio delas são

criados programas para formação continuada, assim como o PDE/PR; é em espaços/tempo

como este, que são discutidas novas propostas pedagógicas, fatores que influenciam em muito

a rotina da comunidade escolar. O Gráfico 4 apresenta o percentual de projetos que abordam o

tema política em seus resumos.

70 46 111 154 137 51 16 29 138 108 151 121 229 226 202 32 4

28,57%23,91%

14,41%12,34%

13,14%

25,49%

25,00%

55,17%

13,04%9,26%

19,21%

48,76%

5,68%9,29%

5,45%

40,63%

25,00%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

0

50

100

150

200

250

Utilização de TIC's nos Projetos PDE 2016/2017

Número total de projetos Percentual, do número total, que utiliza TIC's

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Gráfico 4: Abordagem das políticas educativas nos projetos PDE: Percentual por Linha

Fonte: organizado pelo autor, com base nas informações do portal Dia a Dia Educação, 2017.

Observe-se que as linhas de pesquisa Pedagogia e Sociologia são as que mais

promoveram discussão de políticas educativas em seus projetos, seguidas pelas da História e

Filosofia, linhas que demonstram preocupar-se com uma formação docente mais consciente e

crítica para formarem seus estudantes para o exercício da cidadania na sociedade complexa e

exigente na qual vivem.

Considerações finais

A partir do objetivo de verificar e compreender como é aproveitada a rede de formação

por meio da divulgação da prática pedagógica dos professores PDE-PR para os demais

professores da rede estadual de ensino, na constituição dos Grupos de Trabalho em Rede

(GTRs) podemos dizer que, a presente investigação indica a importância de pesquisas do tipo

“Estado da Arte”. Mais do que isso, que estudantes do ensino médio podem começar a percorrer

caminhos que os incentivem a analisar criticamente o que leem, no caso com o auxílio de outro

pesquisador. Experiência rica para ambos, porque a cada revés e conquista podem sempre

aprender e ensinar. Assim aconteceu.

Os resultados indicam a participação distinta dos professores por linha de estudo (17)

propostas no Programa. Apesar do limite de vagas por turma (20), em apenas quatro esse limite

foi constatado: Educação Especial, Filosofia, Química e Sociologia. No entanto, as linhas de

estudo de Língua Portuguesa e Matemática foram as que mais receberam professores. A

importância de ambas, como já aludido pode ser pela maior presença de professores na rede

estadual, ou ainda pelo interesse destes em contribuírem para melhorar os desempenhos de seus

alunos em avaliações estaduais (no Sistema de Avaliação da Educação Básica do Paraná - SAEP),

nacionais, como nas aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais e

1,43%0,00%

7,21%7,14%

4,38%5,88%

12,50%

0,00% 2,90%0,93%

13,91%

1,65% 1,75%2,21%

16,34%

0,00%

25,00%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

Percentual, por eixo, de projetos PDE que abordam Políticas Educacionais

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usadas no cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Avaliação Nacional da

Educação Básica e a Prova Brasil) e mesmo internacionais (PISA).

No entanto, essas não foram as linhas de estudo nas quais se observou preocupação dos

professores em desenvolverem projetos que tangenciassem as TIC’s (Gráfico 3) ou as políticas

educativas (Gráfico 4). Tais resultados nos inquietam, na medida em que para inserir social e

criticamente professores, inicialmente e, também, estudantes há que estes estejam aptos, além

de lerem textos impressos, capazes de usar as informações postadas pelas diversas tecnologias

de seu tempo, ou que sejam capazes de realizar uma leitura crítica de mundo.

A não discussão das políticas que regulam o trabalho do professor, nos mostram serem

os caminhos que a formação continuada segue, ainda sensíveis, por fazerem alusão à duas

perspectivas: a carreira docente e o desenvolvimento profissional/prática educativa. No que

tange a rede de ensino do estado do Paraná, é possível verificar que há mecanismos que

promovem a formação continuada, tais como, semana pedagógica, PDE –PR, GTR, cursos da

brigada escolar, etc. Porém, na prática, o que se evidencia, por exemplo, em semanas

pedagógicas é o desinteresse dos professores por essa modalidade de formação continuada, pela

forte rejeição aos mesmos, possivelmente pela falta de organização por parte da gestão escolar

na promoção de reflexões sobre os questionamentos levantados em relação às práticas

educativas, organização da escola e demais demandas do contexto escolar.

O viés tomado na decisão para a execução desta pesquisa, envolvendo alunos do ensino

médio, compartilhando com eles desde a coleta de dados aos da sua análise, foi produtivo e

humanizador para todos. A escolha dos focos de análise dos resumos selecionados - TIC’s e

políticas educativas – evidenciou a necessidade de instigações sobre o uso destas nas ações

pedagógicas realizadas por professores.

Sugere-se, enfim, que além da oferta de quaisquer cursos de formação docente sejam

motivados, inclusive os professores orientadores desses trabalhos, para a importância dos temas

tratados nos GTRs.

Os dados levantados nesta pesquisa, no que tange o Grupo de Trabalho em Rede,

evidenciaram que a modalidade de formação pelo GTRs recebeu menos inscrições (28.966), do

que a oferta de vagas (36.500). Pois, como estabelece o documento síntese (Versão DS, 2016)

do Programa de Desenvolvimento Educacional, o GTR é uma proposta de integração entre os

professores PDE e os professores da escola para que haja articulação da proposta de intervenção

e construção do material didático desenvolvido pelos professores PDE (PARANÁ, DS, 2016).

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Além de que diante desse cenário a questão sobre professores mais experientes no papel

de formadores é uma realidade na proposta de formação continuada da Secretaria de Estado da

Educação do Paraná, sendo considerada como crédito para o ingresso de professores no PDE-

PR e, assim, chegarem ao terceiro e último nível da carreira docente.

No entanto, algumas questões ficam para futuras pesquisas, tais como: Quais são os

sentidos atribuídos pelos professores sobre a formação continuada?; Quais mudanças essa

formação traz para o trabalho realizado na escola?; De que maneira é organizado a formação

continuada aos professores da rede na esteira do PDE-PR?; Como os professores mais

experientes contribuem para que outros professores continuem buscando por formação? Quais

razões para terem remanescido mais de 7.000 vagas? Entre outras.

REFERÊNCIAS

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providências. Diário Oficial do Estado do Paraná, Curitiba, PR, n. 6687, 15 mar. 2004.

Disponível em:

<http://www.legislacao.pr.gov.br/legislacao/pesquisarAto.do?action=exibir&codAto=7470&i

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PARANÁ. Lei complementar 130, de 14 de julho de 2010. Regulamenta o Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, instituído pela Lei Complementar nº 103/2004, que

tem como objetivo oferecer Formação Continuada para o Professor da Rede Pública de

Ensino do Paraná, conforme especifica. Diário Oficial do Estado do Paraná, Curitiba, PR,

n. 8262, 14 jul. 2010. Disponível em:

<http://www.legislacao.pr.gov.br/legislacao/pesquisarAto.do?action=exibir&codAto=56184&

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PR. 2017. Disponível em:

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