OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · utópicos nos burocratizamos; é o perigo...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CONSCIENTIZAÇÃO DA REALIDADE AMBIENTAL: UM POSSÍVEL OLHAR
CRÍTICO DA ESCOLA PÚBLICA PARA O MEIO-AMBIENTE
Iodete Terezinha Bresola1 Marco Antonio Batista Carvalho2
Resumo: Diante da leitura da realidade ambiental, na qual o aluno está inserido, buscou-se,
com um trabalho efetivo de alguns professores da escola pública, discutir, planejar e dinamizar
um projeto visando sensibilizar e mobilizar a escola e os alunos para os desafios
socioambientais. Esse artigo relata os pontos altos dessa experiência, nos dizeres freireanos,
iluminadora, vivenciados durante a realização do projeto, vinculado ao Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, turma 2013. Esse trabalho envolveu especificamente os
alunos de 6° e 9° anos do Colégio Estadual do Campo Pedro Luiz Messias, situado no Distrito
de Santo Izidoro, Município de Três Barras do Paraná, um estabelecimento localizado em meio
rural. Buscou-se assim, possibilitar que os envolvidos pudessem discutir sobre seu entorno, ou
seja, sobre as características ambientais que os cercavam para oportunizar que pudessem, em
uma ação individual e coletiva, tomar consciência de um universo mais amplo das
necessidades de se discutir a preservação do meio-ambiente, a partir do reconhecimento de
sua importância enquanto sujeito que interage com o meio e das responsabilidades advindas
dessa relação. As atividades contaram com diversos trabalhos, como teatros, oratórias,
charges, músicas e exibição de documentários que possibilitaram discutir com os alunos sobre
os saberes envolvidos na temática da educação ambiental. Os resultados foram para além da
expectativa esperada no que diz respeito ao envolvimento e participação dos alunos o que,
seguramente, também é indicativo de que o projeto possa ter contribuído com uma educação
mais crítica com respeito às questões ambientais de forma a desenvolver valores e atitudes
quanto ao uso consciente e responsável diante dos recursos naturais.
Palavra chave: Meio-ambiente; Educação ambiental; Escola pública; Postura crítica; Conscientização.
INTRODUÇÃO
Desde que o homem começou a explorar a natureza para obter seu
alimento e garantir sua sobrevivência, o meio ambiente vem sofrendo
agressões, causando problemas ambientais com o uso intenso de praguicidas,
trazendo algumas consequências devastadoras, como: a poluição do solo, da
água, do ar, o acúmulo de lixo. Soma-se a isso, o agravante do desmatamento,
1 Professora de Geografia da Rede Pública Estadual/Núcleo Regional de Educação de
Cascavel-PR. Professora PDE – Turma 2013-2014. Especialista em Ensino de Geografia do 1º e 2º graus. [email protected] 2 Professor orientador. Dr. do Curso de Pedagogia da UNIOESTE, Campus de Cascavel.
Membro do Grupo de Pesquisa HISTEDBR, Região Oeste do Paraná. [email protected]
que se constitui, na atualidade, tema relevante uma vez que implica no
reconhecimento de um perigo tal, que pode comprometer a continuidade da
vida planetária.
Assim, com esse pano de fundo, podemos tristemente admitir que
mesmo vivendo em uma era globalizada, em época de altíssima tecnologia e
de desenvolvimento sem igual em todos os campos da ciência, vivemos
também uma grave crise ambiental e que já chegamos à margem de colocar
em risco a capacidade de sustentação da Terra e, como consequência, a
existência do homem. Para justificar essa informação, quando da feitura desse
artigo, um dos importantes lideres religiosos mundiais, o Papa Francisco,
declarou no dia 20 de novembro de 2014, na Food and Agriculture Organization
of the United Nations – FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação), que teme que o planeta se autodestrua pela superexploração
dos recursos naturais.
Portanto, cabe questionar: é possível que a escola pública possa
trabalhar de forma a possibilitar a tomada de consciência do aluno, visando à
formação de sujeitos críticos, que saibam refletir, questionar e se posicionar
diante dessa atual realidade socioambiental?
Essa responsabilidade da escola, em discutir as questões ambientais,
não raro, tem ficado somente restrita ao relato descritivo de como o homem
vem se relacionando com a natureza. Uma vez que é repassado ao aluno que
desde a antiguidade, o homem vive em contato com a natureza e, dessa
relação, tem extraído o que necessita para sua sobrevivência. Assim, da
natureza, o ser humano tem retirado seu alimento, aproveitado a água para
suas necessidades, as mais diversas, das árvores tem se aproveitado para
construir suas moradias e também tem explorado os mais diversos tipos de
solo. Interessante é notar que no início dessa relação, havia uma harmonia,
pois nos revela a história que os povos primitivos aproveitavam determinadas
terras em determinados espaços de tempo, o que permitia a natureza sua
renovação constante.
Contudo, a partir do advento da industrialização e, principalmente a
partir do século XX, com o aprimoramento cada vez maior das tecnologias, em
especial, aquelas voltadas especificamente para a exploração de recursos
naturais, e também, devido a outro fator determinante do século passado, que
foi o vertiginoso aumento populacional, nasce à preocupação do homem com o
meio ambiente. Assim, desde as grandes potências até os pequenos Estados,
o debate sobre a educação ambiental ganha força e se observa o elaborar das
primeiras leis sobre o uso e a preservação dos recursos naturais. Esse cenário
pode até ser informado aos jovens estudantes, mas é necessário que essa
ação ganhe outra dimensão.
Outra constatação importante para esse quadro é que, ao evoluir
científica e tecnologicamente, o ser humano afastou-se do ambiente natural,
com isso identifica-se uma constante agressão ambiental, ligadas a exploração
e ao consumo desenfreado. Nesse contexto, a escola passa a ser também
vista como um importante aliado na possível identificação da agressão
ambiental e passa também a empunhar a bandeira de luta por uma tomada de
consciência sobre essa importante temática.
Obviamente que se espera que o trabalho na escola com esse tema
gere, no interior da sociedade, um efeito cascata, ou seja, o aluno cônscio da
importância da preservação do ambiente, desde os primeiros anos de sua
alfabetização, poderá fomentar, com seus familiares, com seus amigos, com a
vizinhança, a semente necessária para que se desenvolvam práticas
socioambientais voltadas para a preservação e conservação ambiental, ou
seja, para se adotar uma consciência coletiva de não poluir, não desmatar e,
principalmente, exercer atitudes de respeito ao meio ambiente como, por
exemplo, o replantio.
O envolvimento da escola nessa luta deve oportunizar ainda mais a
busca de novos saberes que relacionem o aluno ao seu ambiente mais
próximo, criando formas de efetivar ações corretas sobre o uso de agrotóxicos,
em especial em comunidades agrícolas, assim como o problema do lixo
urbano, obviamente atendendo as necessidades do homem citadino. Contudo,
há questões que envolvem a todos. O caso do agrotóxico, por exemplo, que
aparentemente pode ser pensada como uma preocupação somente do homem
do campo, mas isso é um equívoco, pois, nesse caso, se está pensando
somente no manejo e não no consumo. Outras questões que certamente
constituem-se em problemas dos mais relevantes na discussão da preservação
ambiental na atualidade, é a preocupação com a água e com a conservação
das matas.
A educação formal, ou seja, a escolar, bem como a educação informal,
aquela onde aprendemos em outros espaços sociais, nos leva a contextualizar
e socializar o conhecimento de forma permanente na urgente necessidade de
transformação. Sobre isso, Brandão nos oportuniza uma reflexão.
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaço da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturados a vida com educação. Com uma ou com várias: Educação? Educações. (BRANDÃO, 2004, p. 7).
É quase consenso, i.e., já faz parte dos conhecimentos de todos, que os
estudos científicos revelam que nos últimos anos, os alimentos carregam
crescentes doses de venenos, e que essa prática vem reduzindo a resistência
do corpo humano, possibilitando às infecções e a ações de vírus e de
bactérias, além de alterar fatores genéticos. Na verdade, um silencioso crime
que vem sendo praticado contra a espécie humana.
Por conta disso, acreditamos que através da leitura da realidade
ambiental na qual o aluno está inserido, e no trabalho efetivo dos professores
no intuito de sensibilizar e mobilizá-los para os desafios socioambientais que a
nossa geração enfrenta, se poderá oportunizar que esses jovens em formação
possam ser levá-los a uma tomada de consciência sobre a importância dessa
temática e a desenvolverem ações no sentido de contribuir com o meio
ambiente.
Nas práticas ambientais do cotidiano escolar, se deve canalizar esforço
para promover a formação de uma consciência crítica por parte do estudante,
visando mostrar que é possível à transformação da realidade ambiental em que
vive. Assim, não podemos deixar de destacar o papel fundamental do professor
nesse processo de propiciar ao sujeito aprendente, a sua tomada de
consciência. O que cabe, evidentemente, a todas as áreas do saber. Nesse
sentido Freire argumenta.
A conscientização está evidentemente ligado à utopia, implica em utopia. Quanto mais conscientizados nos tornarmos, mais capacitados estamos para ser anunciadores e denunciadores, graças ao compromisso de transformação que assumimos.
Mas esta posição deve ser permanente: a partir do momento em que denunciamos uma estrutura desumanizante sem nos comprometermos com a realidade, a partir do momento em que chegamos a conscientização do projeto, se deixarmos de ser utópicos nos burocratizamos; é o perigo das revoluções quando deixam de ser permanentes. Uma das respostas geniais é a da renovação cultural, essa dialetização que, propriamente falando, não é de ontem, nem de hoje, nem de amanhã, mas uma tarefa permanente de transformação. (FREIRE, 1980, p. 28).
Portanto, a escola, no processo de uma educação ambiental, exerce
papel vital na possibilidade de promover uma mudança de postura do homem
frente a sua relação com a natureza. Consequentemente, a importância de
projetos que envolvam os alunos a refletirem que papel eles exercem nesse
contexto, e as possíveis consequências de se envolver, ou de se abster dessas
reflexões.
Assim, na escola, toda a iniciativa de se propor uma metodologia de
trabalho que envolva a abordagem do meio-ambiente deverá ser atrativa, que
desperte o interesse dos alunos, que os envolva em atividades lúdicas, como
teatro, poesias, criação e análise de documentários, de filmes e reportagens
que exponham essa temática. Há ainda a possibilidade do trabalho com jogos
educativos, criações artísticas que envolvam oratórias, musicais, jograis e
outras tantas ações criativas por parte dos professores que possam sensibilizar
os alunos a reflexão de textos científicos. O que se espera, é que esse
conjunto de ações, possa propiciar ao aluno a tomada de consciência sobre
essa importante temática que a todos envolve.
Ao se evocar uma educação reflexiva, i.e., uma educação que viabilize a
formação de um sujeito crítico, evidentemente que essa reflexão, também se
dará no campo das práticas sociais que certamente incluem a necessidade de
se pensar nos deveres ambientais. Podemos perceber esse papel da educação
na afirmação que faz Freire, quando diz que “a educação não é um instrumento
válido se não estabelece uma relação dialética com o contexto da sociedade na
qual o homem está radicado” (FREIRE, 1980, p. 34).
De fato, se reconhecemos que os problemas ambientais na atualidade
são graves, a escola deve assumir ou proporcionar de um diálogo permanente
sobre essa temática, de forma a favorecer uma postura crítica de todos os
envolvidos, direta e indiretamente com o processo educativo. Isso significa, por
exemplo, que o trabalho escolar possa promover o reconhecimento de que a
produção agrícola foi se modificando, a monocultura passou a ocupar grandes
extensões de áreas que anteriormente era destinada somente a produção de
subsistência, logo, com o progresso industrial, que introduziram novos hábitos
de consumo e, por sua vez, geraram novas formas de produção, esse cenário
foi grandemente alterado. O uso indiscriminado de agrotóxicos assim como a
destinação dada as embalagens que comercializam os agrotóxicos, devem
constituir-se em pontos de debate escolar uma vez que essas práticas sociais
estão provocando severa contaminação do solo das nascentes de águas, rios e
lagos.
Esse retrato do que ocorre no campo, essa degradação do meio-
ambiente rural, tem interferido na saúde tanto das pessoas que lá moram e lá
produzem, como também nas que habitam as áreas urbanas de pequenos e
grandes municípios. A degradação do meio ambiente urbano também é cada
vez mais intensificada pelo uso de todo tipo de embalagens, principalmente, as
embalagens plásticas e, obviamente, seu descarte.
Tanto as pequenas cidades como as grandes metrópoles, estão hoje
enfrentando o problema do lixo tecnológico. Computadores, celulares,
televisores cada vez mais avançados, utilizam em seus componentes materiais
contaminantes do meio ambiente. Logo, a escola tem que proporcionar essa
reflexão que não pode ficar no âmbito somente de quem polui mais ou menos,
e sim como todos nós podemos envidar esforços para degradar menos, tanto
na área rural como na área urbana, afinal, todos são possíveis beneficiados ou,
como podemos também, sermos todos prejudicados por conta de ações que
agridem o meio ambiente.
A preocupação da atuação do homem no meio ambiente e como isso
influencia todo um ecossistema, pode ser observada nas considerações feitas
por Tanner (1978) quando nos diz que:
[...] um número cada vez maior de pessoas está dizendo que outros seres além do homem possuem direitos; que precisamos agir eticamente em relação a seres indefesos, tais como árvores, tartarugas e tigres. Este é, mais uma vez, um passo natural, já que durante toda a história – salvo exceções temporárias e regionais – o homem estendeu os direitos a mais e mais seres humanos. Continuar a estendê-los a seres não-
humanos e inanimados – tais como árvores e rios – é o passo lógico seguinte. (TANNER, 1978, p. 139).
Para promover essa formação necessária, i.e., de uma consciência
crítica, a escola tem adotado posturas metodológicas que buscam promover a
tomada de consciência do aluno quanto a sua potencialidade de intervir
positivamente na sociedade. Para tanto, o trabalho que envolve a
contextualização dos conteúdos é importante porque traz o contexto do dia a
dia do educando para sala de aula. Outro fator importante é a dimensão do
trabalho interdisciplinar, pois essa modalidade carrega a perspectiva de que os
saberes a serem trabalhados sejam abordados por uma integração de várias
disciplinas, possibilitando um saber mais aprofundado.
Consequentemente, a escola que busca proporcionar uma formação
crítica acerca dos saberes relacionados ao meio ambiente, não pode trabalhar
esses saberes de forma fragmentada e desconexa com a realidade dos alunos.
A interdisciplinaridade é uma questão epistemológica e está na abordagem
teórica e conceitual dada a todos os conteúdos. Essa abordagem também é
destacada no documento que traça os parâmetros da educação paranaense,
que são as Diretrizes Curriculares Estaduais. No documento referente ao
ensino da geografia, encontramos a citação de Ramos (2004) que,
primeiramente, ao tratar da importância da contextualização diz:
Sob algumas abordagens, a contextualização, na pedagogia, é compreendida como a inserção do conhecimento disciplinar em uma realidade plena de vivências, buscando o enraizamento do conhecimento explícito na dimensão do conhecimento tácito. Tal enraizamento seria possível por meio do aproveitamento e da incorporação de relações vivenciadas e valorizadas nas quais os significados se originam, ou seja, na trama de relações em que a realidade é tecida. (PARANÁ, 2008, p. 28).
Portanto, imbuída da responsabilidade de utilizar-se das mais diferentes
ferramentas pedagógicas, a escola comprometida com a formação integral de
seus alunos, deve buscar sempre promover ações educativas que envolvam as
questões ambientais.
O PERCURSO METODOLÓGICO
O desenvolvimento do projeto foi realizado com as turmas dos alunos de
6° e 9° anos do Colégio Estadual do Campo Pedro Luiz Messias, no Distrito de
Santo Izidoro, na cidade de Três Barras do Paraná, Região Oeste do Estado do
Paraná – Brasil. Essa Escola concentra alunos do Distrito de Santo Izidoro e de
alunos que vem de comunidades próximas.
O que se buscou durante o desenvolvimento desse trabalho foi estimular
a sensibilidade, a criatividade e a criticidade dos alunos com a temática
natureza, em especial, a natureza que os cerca. Notou-se, logo de início, que
no desenvolvimento de posturas espontâneas, ao exercitarem a imaginação,
ao compreenderem a importância de serem bons observadores, houve
destacada percepção do mundo que os rodeia, o que, já era indicativo da
criação de uma ponte possível para uma leitura mais ampliada desse mundo.
De fato, a escola é um local privilegiado que possibilita essa leitura e
releitura do mundo, numa perspectiva de ampliação de sua compreensão.
Claro que essa tarefa somente será possível quando o professor assumir sua
tarefa de mediar o processo de aprendizagem de seus alunos pela promoção
de atividades de leituras, pesquisas, e discussões. Isso pode ser feito por meio
de aulas dinâmicas e prazerosas sem que se perda a qualidade científica dos
conteúdos, dito de outra forma, sem que se comprometa a formação crítica do
aluno. Nesse sentido, a saber, na função do professor em formar esse sujeito
indagador, crítico, cabe refletir nas palavras de Freire, quando diz que:
[...] não haveria educação se o homem fosse um ser acabado. O homem pergunta-se: quem sou? De onde venho? Onde posso estar? O homem pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento, numa certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e, como pode fazer essa auto-reflexão, pode descobrir-se como um ser inacabado, que está em constante busca. Eis aqui a raiz da educação. (FREIRE, 1979, p. 27).
Esse trabalho possibilitou o envolvimento dos alunos em teatros,
oratórias, charges, e na análise de documentários e de músicas que foram
organizados de forma a poder sensibilizá-los e que, por meios do conjunto
dessas ações, pudessem, em uma primeira tomada de consciência, participar
mais ativamente das discussões e de ações prática em prol da melhoria do
meio ambiente em seu entorno e de buscarem alternativas para prevenir
problemas locais relacionados com o meio ambiente e solucioná-los.
Quando foi discutido o texto “53 dicas para você economizar energia e
proteger o planeta” os alunos se mostraram animados de que é possível sim,
por meio de mudanças de atitudes simples, do seu dia a dia, fazer algo de
benéfico para a natureza.
Algumas das ações apontadas foram: tampar as panelas ao cozinhar,
pois essa ação economiza o gás; colocar água em uma garrafa térmica para
evitar o abre-fecha da geladeira e retirar todos os alimentos de uma só vez
antes de começar a cozinhar, pois essa ação economiza energia elétrica;
cozinhar em panela de pressão qualquer alimento, pois essa ação economiza
70% de gás; cozinhar sempre no fogo mínimo, pois a água não ultrapassa 100º
C, ação que também economiza o gás; comer menos carne vermelha, pois a
criação de bovinos é um dos maiores responsáveis pelo efeito estufa, além
disso, foi mostrado aos alunos que a produção de carne vermelha demanda
uma enorme quantidade de água, pois para produzir 1 Kg de carne vermelha é
necessário 200 litros de água potável, enquanto que para a produção de 1 kg
de frango é usado somente 10 litros de água.
Evidentemente que esse último item rendeu boa discussão tendo em
vista que, justamente, nesse momento em que se desenvolvia a discussão, o
cenário da crise de água, em especial, no Estado de São Paulo, já começava a
desenhar-se.
Foram discutidos também ações como a de se evitar a troca de celulares
e quando essa troca ocorresse, qual deve ser a forma de descarte correto, uma
vez que esses equipamentos utilizam derivados de petróleo em suas peças e
materiais pesados em suas baterias, que são extremamente degradantes do
meio ambiente. Cabe notar que na discussão acerca da produção e uso do
celular, oportunizou-se também o diálogo sobre o uso da mão de obra barata,
ou seja, que os alunos pudessem também refletir sobre como ocorre a
produção em meio a esse inescrupuloso sistema de produção, isso claro, ao
nível da compreensão dos alunos envolvidos.
Ao longo do trabalho iam surgindo novas leituras dos alunos no que diz
respeito à ação que degradavam o meio ambiente, e que ações poderiam ser
feitas. Falou-se sobre o uso de lâmpadas incandescentes que deveriam ser
trocadas por fluorescentes uma vez que essas gastam 60% menos energia.
Falou-se sobre não deixar os aparelhos no modo standby, uma vez que nesse
modo gasta menos energia, mas há consumo, assim, o grupo entendeu que a
melhor ação é simplesmente desligar o aparelho ou tirá-lo da tomada quando
não estiver sendo usado.
Essas dicas, que pertenciam ao texto “53 dicas para você economizar
energia e proteger o planeta” que foi extraído do Portal dia a dia da educação,
produziu, de fato, grande participação dos alunos. Muitas das dicas, os próprios
alunos apontavam, e o que nos coube fazer era mostrar como eles estavam
corretos pois, algumas das ações relatadas, evidenciavam um mau uso de
recursos.
Foi também discutido com os alunos a questão do banho rápido, de se
manter afastado das paredes, em 15 cm, o freezer ou a geladeira, e que esses
eletrodomésticos, de preferência, devem estar longe do fogão. Foram
estimulados a pensarem e tomarem nota dessas informações que incluíam o
porquê de se usar as máquinas de lavar louças e de lavar roupas, somente
quando estas estiverem cheias.
Outra atividade que muito rendeu no trabalho com os alunos foi o da
interação da temática meio ambiente e a música. Percebeu-se nos alunos o
entusiasmo e também a facilidade na compreensão dos conteúdos através da
música. Isso porque a música é um meio dos homens se expressarem e esteve
sempre ligada a história da humanidade, servindo como meio de lazer e de
educação.
Foram realizadas pesquisas com os alunos sobre letras de músicas,
textos e poesias, com ênfase na questão ambiental e, em seguida, foi montado
um painel em sala de aula. Essa atividade permitiu a sensibilização sobre as
problemáticas sociais e ambientais do cotidiano pois, a música é uma poderosa
ferramenta motivadora da aprendizagem dos jovens na escola.
Foto 01: Painel criado pelos alunos
Acervo Pessoal: Foto tirada em 11/04/2014.
Outro momento rico do trabalho foi quando da apresentação do
documentário “A História das Coisas”. Esse material compreende o mundo
contemporâneo em seus problemas socioambientais que são trabalhados de
forma dinâmica e bastante atrativa para os alunos em abordar a complexidade
de um sistema que vai desde a extração dos recursos naturais, passa pelo
processo de produção, distribuição, consumo e chega ao tratamento do lixo, ou
é descartado na natureza, muitas vezes de forma irresponsável, o que, por sua
vez, acaba contribuindo para a destruição do planeta.
Nesse trabalho se discutiu como o estímulo ao consumo exacerbado é
fomentado por uma violenta propaganda de massa e que a produção e
consumo cobra um preço muito alto da sociedade. Novamente se oportunizou
destacar como há uma crescente exploração dos trabalhadores; como o
consumo exagerado e o desperdício contribuem diretamente para a poluição e
degradação do meio ambiente. O destaque para esse trabalho foi o de que
essas ações afetam a qualidade de vida da sociedade e comprometem a vida
futuras gerações.
A partir do vídeo foi, novamente, discutido com os alunos sobre a
importância de pequenas atitudes em nosso dia a dia, que gere menos impacto
ao meio ambiente. Com isso, alunos foram estimulados a reconhecerem-se
como agente da transformação de sua realidade e com as respectivas
responsabilidades advindas de quem quer preservar o ambiente. Foram
levados a repensar sobre o consumo e o desperdício no seu cotidiano e da
sociedade atual e perceberam que todas as coisas que compramos e usamos
na nossa vida, de alguma forma, afetam o ambiente e a sociedade em nível
local e mundial. A destruição da natureza para sustentar o modo de vida que
levamos por conta de um consumo exagerado necessita, urgentemente, de
alteração de práticas atuais, o que somente será possível através da
conscientização ambiental.
No desenvolvimento dos trabalhos, até aquele momento, ficou evidente
que os alunos já refletiram sobre suas ações junto ao meio ambiente na
expectativa, como diz Freire, da formação de um sujeito crítico:
[…] procurar o pensamento do homem sobre a realidade e a sua ação sobre esta realidade que está em sua práxis. Na medida em que os homens tomam uma atitude ativa na exploração de suas temáticas, nessa medida sua consciência crítica da realidade se aprofunda e anuncia essas temáticas da realidade. (FREIRE, 1980, p. 32).
Esse aprofundamento do pensar crítico sobre a temática foi dinamizado
com o trabalho de um documentário que, embora antigo, reproduz bem o que
significa uma das ações do homem em degradar o meio ambiente. Esse
documentário é o “A Ilha das Flores”. Ao assisti-lo, os alunos ficaram chocados
com as imagens e com todo o enredo que o filme explora. Esse trabalho
possibilitou uma reflexão das atitudes que envolvem cada um de nós em
relação ao meio ambiente.
Foi novamente dado enfoque a dura realidade desse sistema produtivo
(deu-se também a nomenclatura de sociedade capitalista), onde coabita a
produção em larga escala e miséria; a acumulação de alguns em detrimento a
má distribuição de renda para a maioria; a falta de oportunidades de trabalho
digno para as pessoas, o que gera a exclusão social de mulheres e crianças
disputando, naquele caso do documentário, o alimento com os porcos.
A partir da apresentação do vídeo, ficou claro um forte apelo social, a
saber, a tomada de uma maior consciência do problema ligado ao meio
ambiente e da necessária discussão de um mundo mais sustentável e justo
para todos os que agora vivem, mas, em especial, para as novas gerações que
habitarão o planeta terra. Esse trabalho fez com que os alunos refletissem o
atual modo de produção, consumo e desperdício e que cada ser humano tem a
sua parcela nos desafios socioambientais.
Outro recurso que acreditávamos, pudesse desenvolver ainda mais um
pensar sobre as questões que envolviam a tomada de consciência para uma
possível conscientização dos problemas ambientais, foi o trabalho lúdico por
meio de teatro. Isso porque, o teatro com alunos pode ser um excelente
recurso didático que estimula a criatividade e torna-os protagonistas da
construção de sua aprendizagem. Olga Reverbel (1996) faz esse destaque
quando diz que por meio do teatro “o aluno desenvolve suas capacidades de
relacionamento social, espontaneidade, imaginação, observação e percepção”
(REVERBEL, 1996, p. 152).
A realização dessa atividade permitiu observar que os alunos envolvidos
realizaram, de fato, uma reflexão na temática ambiental, viabilizando a tomada
de consciência do aluno sobre sua potencialidade de intervir positivamente na
questão socioambiental e na construção de sujeitos críticos, gerador de um
ambiente sadio na escola e com reflexos na vida familiar.
O teatro que enfocou da discussão sobre a educação ambiental foi
desenvolvido de maneira interdisciplinar, com o envolvimento direto das
professoras de Geografia, de Língua Portuguesa e de Ensino Religioso. Essa
foi uma atividade atrativa e despertou o maior interesse do aluno pela reflexão
de textos científicos anteriormente trabalhados e propiciou sim, um maior
aprofundamento dessa temática.
Cabe salientar que esse trabalho também oportunizou um melhor
relacionamento, interação e espontaneidade dos alunos que se identificou a
partir de suas expressões verbais, de sua linguagem corporal e gestual com
resultados altamente positivos. Os alunos realizaram as apresentações dos
teatros e, na sequência, foram distribuídas 2000 mudas de árvores nativas para
que os alunos plantassem em suas propriedades.
Foto 02: Distribuição de mudas de árvores nativas
Acervo Pessoal: Foto tirada em 24/06/2014.
Durante a realização do projeto em sala de aula – conhecido como
implementação, nos documentos do PDE –, e, em conjunto com as
contribuições advindas do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), os alunos
puderam refletir, com maior profundidade, sobre os problemas ambientais que
envolveram discussões sobre o uso intenso de praguicidas e suas
consequências. Nesse sentido, os alunos foram provocados a pensar sobre o
que significa estar nesse mundo e a responsabilidade que temos em nele
atuar, ou seja, em fazermos nossa história de luta por um mundo melhor, como
nos ensina Freire:
[...] Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem “tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência, ou teologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem ideias de formação, sem politizar não é possível. (FREIRE, 2001, p. 64).
Buscando integrá-los de forma mais participativa na reflexão sobre as
responsabilidades de preservação ambiental e, buscando que se sentissem
também protagonistas de ações positivas em busca da melhoria de nosso
habitat, é que se explorou a atividade lúdica do teatro que, conforme já
descrito, foi uma experiência iluminadora para todos os envolvidos.
Foto 03: Teatro com alunos do 6º ano
Foto 04: Teatro com alunos do 9º ano
Acervo Pessoal: Fotos 3 e 4, tiradas em 24/06/2014
Esse olhar para a natureza, esse sensibilizar-se com pequenas coisas,
que o conjunto das atividades propiciou aos alunos, pode oportunizar que eles
reconheçam que o meio ambiente é vital para nossa sobrevivência, afinal o
ambiente onde estamos inseridos, interfere em nosso modo viver, em nossa
segurança, em nossa saúde, ou seja, em nosso bem estar pleno. De fato, esse
reconhecimento e a relação que estabelecemos com o meio ambiente será
significativo para a qualidade de vida que poderemos usufruir e, no limite,
deixar como herança para as novas gerações.
Contudo, mesmo reconhecendo essa necessidade vital, o trabalho
buscou mostrar como a industrialização, que trouxe um progresso sem
precedentes na história, em contrapartida, criou vários problemas ambientais.
Destacou-se como, nas últimas décadas, as atividades humanas passaram a
ameaçar o equilíbrio de nosso planeta. Isso porque, nossos recursos naturais
como o da água e do ar, em diversas regiões, encontram-se altamente
contaminados. O cenário apresentado aos alunos mostrou que vários
ecossistemas são destruídos ou estão em crescente processo de devastação,
como atestam as palavras acusadoras de Morin:
[…] Desde os anos 70, descobrimos que os dejetos, as emanações, as exalações de nosso desenvolvimento técnico-industrial urbano degradam a biosfera e ameaçam envenenar irremediavelmente o meio vivo ao qual pertencemos: a dominação desenfreada da natureza pela técnica conduz a humanidade ao suicídio. (MORIN, 2005, p. 71).
Logo, como enfatizado no projeto que norteou esse trabalho, percebe-se
a necessidade do homem de não somente pensar nesse processo de
degradação da natureza, mas agir sobre ele. Logo, da escola não somente
informar sobre a degradação, mas mobilizar-se para seu enfrentamento. Essa
mobilização deve iniciar-se com o envolvimento de professores preocupados e
comprometidos com a formação de alunos críticos, que se vejam como agentes
presentes e futuros de ações transformadoras em benefício da sociedade.
No Brasil, fruto dessas discussões globalizantes, produziu-se a chamada
Lei da Educação Ambiental, lei 9.795/99. Esse status de lei que ganha às
questões ambientais, chega à esfera educativa. A referida lei regulamenta o
fato de que a Educação Ambiental não deve se constituir numa disciplina a ser
trabalhada na escola. Antes, a educação ambiental deve incorporar-se ao
processo educativo como um todo, ou seja, é responsabilidade de todos na
escola, promoverem ações educativas que viabilizem aos alunos refletirem
sobre as questões ambientais, seja no universo micro, assim como no universo
macro.
Esses aspectos podem ser identificados no escopo da lei que diz, in
verbis:
Art. 1. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Art. 2. A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não - formal.
Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal.
§1º A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino.
Art. 11. A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas (BRASIL, 1999).
Através de pesquisas e leituras de textos educativos e de suas
reflexões, os alunos foram estimulados se reconhecerem como agente de
transformação da sua realidade, levando-os a uma tomada de postura crítica, a
sua conscientização, para posicionar-se e, inclusive, poder agir sobre os
problemas ambientais praticados em seu círculo mais próximo, quanto a uma
possível contribuição mais ampla. De fato, o processo de conscientizar-se, é
extremamente importante para se posicionar no mundo como nos ensina
Freire:
[…] A conscientização é o objetivo principal, e a superação dos estados de consciência semi-transitivos e transitivos-ingênuos pela consciência crítica. Não se pode chegar à conscientização crítica apenas pelo esforço intelectual, mas também pela práxis: pela autêntica união da ação e da reflexão. (FREIRE, 1980, p. 92).
Portanto, essa preocupação, que deve ser globalizante, no sentido de
entender essa simbiose entre o homem e a natureza, em seu olhar geográfico
sobre a dimensão socioambiental, não deve se restringir a tão somente o
estudo da fauna e da flora, mas a interdependência das relações entre a
sociedade, elementos naturais, aspectos econômicos, sociais e culturais.
Através das teorias trabalhadas e apreendidas na escola, o aluno poderá
adquirir subsídios para sistematizar esses conhecimentos e, em uma tomada
de consciência, ser capaz de intervir em seu cotidiano discutindo, dando
opiniões e sugestões e com essa troca, ser sujeito de sua própria história.
Nesta reflexão, segundo Vázquez.
[...] Quando a própria práxis, isto é, a atividade prática material, chegou em seu desenvolvimento a um ponto em que o homem já não pode continuar atuando e transformando de forma criadora – isto é, revolucionariamente – o mundo – como realidade humana e social –, sem cobrar uma verdadeira consciência da práxis. Esta consciência é exigida pela própria história da práxis real ao chegar a certo estágio de seu desenvolvimento, mas apenas pode ser obtida, por sua vez, quando já amadureceram ao longo da história das ideias, as premissas teóricas necessárias. (VÁZQUEZ, 2011, p. 38).
Essa reflexão fortaleceu ainda mais a ideia de que os problemas sociais
contemporâneos devem ser abordados nas disciplinas a partir do contexto de
vivência do aluno, ou seja, levar em consideração o conhecimento que eles
trazem, ainda que esses conhecimentos sejam de senso comum, empregados
para a compreensão e explicação da realidade que os cerca.
Assim, o que é indicado no documento conhecido como pelo documento
Diretrizes Curriculares da Educação Básica, elaborado pelo Estado do Paraná
em 2008, reafirma a necessidade de que esses contextos, das experiências
vividas pelos alunos, sirvam como ponto de partida das abordagens didático-
pedagógicas que a escola irá proporcionar. Ainda no documento que trata das
especificidades do trabalho com a Geografia, há um destaque para a
importância da contextualização feita por Ramos (2004):
O processo de ensino-aprendizagem contextualizado é um importante meio de estimular a curiosidade e fortalecer a confiança do aluno. Por outro lado, sua importância está condicionada à possibilidade de […] ter consciência sobre seus modelos de explicação e compreensão da realidade, reconhecê-los como aquivocados ou limitados a determinados contextos, enfrentar o questionamento, colocá-los em
cheque num processo de desconstrução de conceitos e reconstrução/apropriação de outros. (PARANÁ, 2008, p. 28).
O trabalho realizado evidenciou essa realidade, ou seja, a importância
de contextualizar os conteúdos, de dar voz ao aluno para identificá-lo em suas
práticas, de se sentir envolvido na temática estuda, em ser partícipe de ideias
que podem promover mudanças. Trabalho assim, além de estimular a
sensibilidade dos alunos e sua criatividade, tende a produzir o estímulo a sua
capacidade crítica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das formas de pensarmos a possível educação ambiental a ser
realizada na escola, nos leva a teorizar que podemos iniciar a discussão com
nossos alunos a partir da necessidade de que todos podem e devem,
adquirirem uma determinada postura, em pequenas atitudes como: economizar
energia por apagar as lâmpadas quando não às estiver usando; não ter a porta
da geladeira aberta por muito tempo; evitar banhos demorados; economizar a
água por ensaboar toda louça para depois enxaguá-la; escovar os dentes com
a torneira desligada; plantar árvores; jogar lixo em locais adequados; separá-
los e reciclá-los; evitar o consumismo pois isso gera desperdício.
Essas ações, colocadas dessa forma, e elencadas nessa ordem, podem
ser trabalhadas em qualquer escola. Contudo, esse trabalho buscou mostrar
que necessitamos ir para além dessas informações. Para tanto, se faz
necessário o engajamento da escola como um todo no esforço de estimular
nossos jovens estudantes, desde os primeiros anos escolares a executarem
sim essas ações, mas de as fazerem de forma consciente, i.e., sabendo por
que as fazem. Dessa forma é possível se pensar que esses jovens podem
contribuir com a diminuição da degradação ambiental e, mais importante ainda,
tornarem-se aliados na defesa e na promoção de uma melhor qualidade de
vida para todos.
Nesse sentido, é importante refletir nas palavras de Gadotti:
Não aprendemos a amar a Terra lendo livros sobre isso, nem livros de ecologia integral. A experiência própria é o que conta.
Plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma plantinha, caminhando pelas ruas da cidade, ou aventurando-se numa floresta, sentindo o cantar dos pássaros nas manhãs ensolaradas ou não, observando como o vento move as plantas, sentindo a areia quente de nossas praias, olhando para as estrelas numa noite escura. Há muitas formas de encantamento e de emoção diante das maravilhas que a natureza nos reserva. É claro, existem a poluição, a degradação ambiental, para nos lembrar de que podemos destruir essa maravilha e para formar nossa consciência ecológica e nos mover à ação. Acariciar uma planta, contemplar com ternura um pôr-do-sol, cheirar o perfume de uma folha de pitanga, de goiaba, de laranjeira ou de um cipreste, de um eucalipto... são múltiplas formas de viver em relação permanente com esse planeta generoso e compartilhar a vida com todos os que o habitam ou o compõem (GADOTTI, 2000, p. 86).
Ter participado nesse projeto me levou a crer, ainda mais, que pequenos
trabalhos podem levar o aluno a perceber a importância de termos uma horta,
um jardim, um pomar e matas ciliares nos açudes, sangas e riachos em nossas
propriedades. Mesmo vivendo em um sistema capitalista e de violenta
exploração dos recursos naturais, onde nossos jovens frequentemente são
levados a não mais sensibilizarem-se para a percepção dessas pequenas
coisas a sua volta, é possível que o trabalho educativo reverta esse quadro.
Sobre isso é importante destacar o comentário de Gadotti feito sobre o
prefácio que Ladislau Dowbor produziu para a obra de Paulo Freire Sobre a
sombra da mangueira. Diz o comentário:
Paulo Freire, num universo de tantas inovações tecnológicas, nos chama atenção para a sombra da mangueira, o ar puro, a água limpa, a rua para brincar e passear, a fruta tirada do pé, pisar na grama descalço... O capitalismo tem necessidade de substituir essas felicidades gratuitas por felicidades vendidas e compradas. Paulo Freire reclama a volta a essas felicidades, a volta ao ser humano completo, com os cheiros, os sabores da mangueira, da vida completa, cheia de emoções e de solidariedade (GADOTTI, 2000, p. 175).
O papel da escola é fundamental, pois, instrumentaliza o aluno através
do conhecimento científico a observar e a discutir as condições de sua própria
existência, no local onde vive, e pode estimulá-lo a usar sua capacidade crítica
no sentido de levantar problemas e buscar soluções que venham contribuir
para uma melhor qualidade de vida. Discutimos a importância e o significado
da compreensão para a preservação dos Recursos Naturais, com enfoque
interdisciplinar, de ações coletivas, no sentido de direitos e deveres postulados
para o exercício pleno da cidadania.
Esse trabalho procurou discutir a problemática que envolve a
preservação do meio ambiente e, para isso, não foi centrado o foco somente
em seu lado negativo, ou seja, na clara evidência de como hoje estamos
degradando a natureza, o trabalho procurou enfocar em como podemos ser, a
partir das informações que foram trabalhadas, sujeitos que pensem sobre a
temática e que se sintam partícipes das decisões de melhorar as condições
postas. Um dos pontos altos do trabalho que buscou enfocar essa nossa pré-
disposição para lutarmos em favor do meio ambiente, foi a palestra
proporcionada pela UNIOESTE, na pessoa do Prof. Dr. Celso Polinarski que
encerrou as atividades do projeto.
Ao socializar no GTR esse projeto, se buscou oportunizar a discussão
entre os participantes do grupo que, na atualidade, são muitos os problemas
ambientais encontrados no mundo globalizado, que vai desde a qualidade de
água que ingerimos ao mau uso dela, do ar que respiramos, do alimento que
consumimos com o uso indiscriminado de agrotóxicos, da poluição do solo com
o descarte de materiais tóxicos, do aquecimento global, temáticas que
encontraram eco entre os participantes no sentido de identificarem também a
necessidade da escola interagir com os alunos e esses saberes.
O caminho da conscientização começa na escola, se estende para a
comunidade e pode chamar a atenção de outros órgãos e com calma e
perseverança podemos plantar uma sementinha da preservação do meio
ambiente passando do estágio de alerta para o da consciência e,
posteriormente para o da prática, ou seja, da conscientização. Precisamos
reaprender a consumir e ensinar o mesmo às gerações mais novas. As
pessoas bem orientadas e críticas serão melhores conhecedoras de seus
direitos e suas obrigações, pois a preservação tem que partir de toda a
sociedade.
Com as atividades lúdicas percebeu-se a capacidade de expressão dos
alunos, ou seja, a espontaneidade a imaginação e o relacionamento entre os
envolvidos, melhorando assim a aprendizagem. De fato, foi uma experiência
iluminadora.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2004. BRASIL, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, Lei Nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Acesso em 25 de junho de 2013. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à Prática Educativa. 17 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001. ______, Conscientização. 3 ed. São Paulo: Moraes, 1980. ______, Educação e mudança. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Peirópolis, 2000. MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 10 ed. São Paulo: Cortez Brasília, DF: UNESCO, 2005. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Departamento de Educação Básica. Diretrizes curriculares da educação básica – Geografia. Curitiba: SEED, 2008.
REVERBEL Olga Garcia. Jogos Teatrais na Escola. 3 ed. São Paulo: Editora Scipione, 1996. TANNER, R. Thomas. Educação Ambiental. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1978. VÁZQUEZ, Adolfo S. Filosofia da Práxis. 2 ed. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – Clacso: São Paulo: Expressão Popular, Brasil, 2011.