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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
UM OLHAR SOBRE MACUNAÍMA E A FORMAÇÃO CULTURAL DO POVO BRASILEIRO
PROFESSORA PDE: Elaine Groth 1 PROFESSORA ORIENTADORA: Cleiser Schenatto Langaro2
Resumo: Este artigo apresenta reflexões sobre o estudo e as propostas desenvolvidas durante o PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria Estadual de Educação do Paraná, turma de 2013 e 2014. O mesmo teve por objetivo refletir sobre a leitura literária no âmbito escolar, desenvolver estratégias para a formação de leitores ativos, críticos e reflexivos. As propostas visaram à leitura prazerosa, reflexiva e contextualizada, abordando o nacionalismo crítico pertencente ao Modernismo brasileiro, tomando como material de análise a obra Macunaíma: um herói sem nenhum caráter de Mario de Andrade (1926). Destacou-se, ainda, o resgate cultural que a obra apresenta acerca da mitologia indígena, do folclore nacional, além de observações sobre os costumes e a língua cotidiana dos brasileiros. Os educandos do 3° ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Costa e Silva, Município de Itaipulândia, estabeleceram relações entre os elementos que compõem a identidade cultural do povo brasileiro, apresentadas de forma singular pelo anti-herói Macunaíma, que personifica o brasileiro com suas virtudes e defeitos. As concepções de Candido (1972) sobre a literatura enquanto força humanizadora, contribuindo para a formação da personalidade do leitor, o Método Recepcional, baseado na Teoria da Estética da Recepção, dos teóricos Jauss (1994), Bordini e Aguiar (1988) e Zilberman (2004) subsidiaram as reflexões sobre a recepção da obra literária e a formação do leitor.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Leitor; Macunaíma; Pluralidade Cultural.
1. INTRODUÇÃO
A reflexão que este artigo apresenta resulta da Produção Didática
Pedagógica, requisito do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da
Secretaria da Educação - SEED, cuja implementação ocorreu no primeiro semestre
do ano de 2014, correspondendo ao terceiro período do PDE-2013.
Nesse intuito, parte-se de dados reais, apresentados por pesquisas realizadas
nas últimas décadas as quais evidenciam que os alunos chegam ao Ensino Médio
apresentando dificuldades de leitura e interpretação de textos, principalmente os
literários, fazendo leituras superficiais, permanecendo no nível de significação literal
das palavras, comprometendo sua formação crítica interpretativa. O relatório
preliminar do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA-2009),
1Professora de Língua Portuguesa e Literatura, Especialista em Letras, Língua Portuguesa,
Literatura e Linguística. Professora no Colégio Estadual Costa e Silva – Itaipulândia, PR, Brasil. 2 Orientadora da Pesquisa. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras,
nível de Doutorado – área de concentração em Linguagem e Sociedade da UNIOESTE – Campus de Cascavel. Professora na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, PR, Brasil.
divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), apontou que apesar das pesquisas apresentarem uma melhora na
qualidade da educação no Brasil, o país está abaixo da média mundial no
desempenho em relação à leitura, aparecendo em quinquagésimo terceiro lugar.
Esse sempre foi um grande desafio para a escola que se depara com o
desinteresse e as dificuldades dos alunos em relação à leitura, pois é visível certa
resistência dos mesmos em relação aos textos literários apresentados pelo currículo
escolar e o desinteresse pela leitura de importantes clássicos da literatura brasileira.
Essa é uma realidade que deve ser revertida em favor de uma educação de
qualidade, levando o educando a construir conhecimentos críticos sobre a realidade
apresentada pela literatura. Diante desse fato, pergunta-se: Como a escola pode
promover a formação do leitor crítico e autônomo por meio da literatura?
Incentivar a leitura do texto literário em sala de aula mostra-se essencial à
formação de leitores porque viabiliza o conhecimento do patrimônio cultural, aguça a
curiosidade, amplia a visão de mundo e oportuniza o crescimento intelectual.
Propôs-se a possibilidade de um estudo literário, fazendo com que o aluno possa
aprimorar seu espírito crítico sobre a realidade cultural do país, não consistindo em
saber datas, movimentos literários, escolas literárias, mas em conhecer uma
sociedade através dos olhos de um autor e ser coautor dessa narrativa,
compactuando ou não, acrescentando, modificando, enfim vivenciando-a.
O ensinar a ler torna-se premente, pois conforme os PCN/LP (2008) a maioria
dos alunos precisa ampliar a competência de inferir criticamente sobre os textos.
Essa dificuldade de interpretar, de avaliar, de criticar os textos tem sido um
obstáculo no processo de ensino-aprendizagem.
Sendo assim, a proposta teve por objetivo aprimorar o espírito crítico do
aluno, estabelecendo relações entre os elementos culturais que compõem a
identidade nacional, tomando como material de análise a obra Macunaíma: um herói
sem nenhum caráter de Mário de Andrade. Buscou-se situar o aluno em relação ao
contexto sociopolítico e histórico acerca da obra, conhecer Mário de Andrade
enquanto estudioso da literatura, da música e do folclore do país, responsável por
retratar pela literatura elementos culturais acentuadamente brasileiros.
Além de refletir sobre a formação cultural do povo brasileiro: folclore, crenças
e mitos, a proposta contemplou reflexões sobre a postura do leitor de Macunaíma
diante da riqueza cultural e estética apresentadas pela obra. Considerou, também,
desmistificar a ideia de que a complexidade da obra Macunaíma não permite que a
mesma seja lida e analisada em sala de aula, a ponto de contribuir com a promoção
do prazer para a leitura.
O universo literário, fruto da imaginação criadora do artista e do trabalho
artístico com a palavra, revela e exprime a natureza humana. Candido (1972)
apresenta a literatura como uma força humanizadora, contribuindo para a formação
da personalidade do leitor, desempenhando um papel social, mostra que o estudo
literário ultrapassa sues limites estruturais, de organização.
De fato, conforme Candido (1972), a literatura preenche a necessidade de
fantasia inerente ao homem. Por meio dela é possível vivenciar situações por vezes
impossíveis de se concretizarem na realidade, mas a fantasia tem base na realidade
e exige uma forte participação do leitor. A literatura contribui para o desenvolvimento
das habilidades de leitura no aluno, ampliando seus horizontes linguísticos, culturais
e pessoais.
Sob esse enfoque Zilbermann (2004) observa que o ensino da literatura deve
ser pensado a partir dos pressupostos teóricos da Teoria da Recepção, buscando
formar um leitor capaz de sentir e expressar seus sentimentos diante da obra. Capaz
de interagir com a obra e o autor, pois é o leitor quem transforma a obra em objeto
estético ao decodificar e interagir com os significados transmitidos por ela.
Para essa sistematização recorreu-se aos princípios da proposta de
Sequência Didática apresentada por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), adaptada
por Costa-Hubes (2009). Baseados nas teorias de Vygotsky, esses pesquisadores
entendem que a construção de uma progressão curricular deva levar em conta a
necessidade de trabalhar em espiral, em todos os níveis escolares, gêneros de
diferentes grupos e assim permitir o acesso progressivo e sistemático dos alunos
aos instrumentos linguísticos necessários aos diversos gêneros.
Logo, a Sequência Didática desenvolvida e aqui analisada teve como
finalidade o incentivo à leitura, aprimorando o espírito crítico do aluno,
estabelecendo relações entre os elementos culturais que compõem a identidade
cultural brasileira.
A proposta contemplou a leitura do gênero romance com o objetivo de
privilegiar o leitor de literatura, tendo como referência a obra Macunaíma, um herói
sem nenhum caráter, do escritor Mário de Andrade. Considerada obra-prima,
narrativa de estrutura inovadora, ao nível do enredo, da caracterização das
personagens e do estilo. Trata-se de um livro, em principio complexo, classificado
pelo próprio autor como “rapsódia”, isto é, uma coletânea de contos populares,
tradicionais (orais) de um país.
O livro apresenta vários aspectos pertinentes à época, mas que ainda
encontram-se presentes no atual contexto cultural do país, dentre eles o falar
brasileiro, usos e costumes folclóricos, crenças e mitos populares.
Para o desenvolvimento das atividades utilizaram-se estratégias didáticas
com as concepções teóricas dos conceitos apresentados pelo Método Recepcional,
contemplando alunos do 3° ano do Ensino Médio. A proposta vislumbrou a formação
que desenvolve o olhar crítico sobre a realidade apresentada, buscando formar um
leitor capaz de sentir e de expressar o que sentiu, com condições de reconhecer nas
aulas de Literatura um envolvimento de subjetividade expresso pela tríade
obra/autor/leitor, por meio de uma interação que está presente no ato de ler.
O Método Recepcional de ensino da literatura proposto por Maria da Glória
Bordini e Vera Teixeira de Aguiar (1988), visa à formação de leitores críticos e a
recepção de textos que ampliem o horizonte de expectativas do leitor (aluno).
Apresenta-se dividido em cinco etapas, a saber: determinação do horizonte de
expectativas; atendimento do horizonte de expectativas; ruptura do horizonte de
expectativas; questionamento do horizonte de expectativas; ampliação do horizonte
de expectativas do leitor.
A teoria da Estética da Recepção propõe que o estudo de textos literários em
sala de aula possibilite o espaço para que o aluno exponha suas ideias, desenvolva
habilidades de reflexões e interpretação, levando o educando a perceber-se como
sujeito, provocando experiências transformadoras e ampliando seus horizontes de
expectativas. Assim, é ele quem atribui significados ao texto, dando sentido ao que
lê de acordo com seus conhecimentos, selecionando o que vai ler e posicionando-se
frente a essas leituras.
2. LEITURA NA ESCOLA
De acordo com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE), os
fundamentos teóricos que alicerçam as discussões sobre o ensino da Língua e
literatura requerem novos posicionamentos em relação à prática de ensino.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCN/LP)
apresentam um histórico sobre a leitura de textos literários na escola e destacam
que a mesma vem sofrendo algumas alterações nas últimas décadas. A leitura que
era considerada uma condição para o saber elitista passa, com a universalização e
democratização do ensino, a permitir que outras classes sociais tenham acesso ao
saber acumulado historicamente. Estes novos atores sociais, no entanto, provém de
um mundo sem livros e com poucas referências culturais com uma considerável
parcela da população recém-alfabetizada. Nessa expansão quantitativa, o ensino de
Língua Portuguesa exigiu novas propostas pedagógicas, levando em conta as novas
necessidades trazidas pelos alunos ao espaço escolar.
Apesar do acesso as teorias que orientam o processo de ensino-
aprendizagem, as mesmas ainda não conseguem sedimentar satisfatoriamente a
formação de leitores, a necessidade e o prazer de ler em sala de aula. E o ensino da
leitura ainda vem sendo reduzido, no espaço escolar, a leituras que atendem a
desejos imediatos e matéria obrigatória nas aulas de Língua Portuguesa. Dando-se
de forma fragmentada nos textos extraídos dos livros didáticos, nos sites da internet
ou na leitura de meros resumos. De acordo com Silva (1989) a leitura sofre uma
crise que vem se alastrando a cada ano. Tornando-se uma prática mecanicista, vista
como um meio de decodificar, ou adquirir informações e não como instrumento
capaz de tornar o leitor mais crítico e competente, capaz de ler o que está no texto e
o que está além dele, possibilitando a compreensão e a construção de significado.
Magnani (2001) analisa que a ausência da leitura literária tem sido apontada
como uma das causas do fracasso escolar do aluno. Para a autora a prática de
leitura deve formar um leitor ativo, alguém que amplia sua visão de mundo,
concordando ou não com o que está no texto, interpretando-o numa relação de
diálogo íntimo com a realidade. Assim, é importante que a leitura seja o alicerce na
formação de qualquer cidadão. Ela incita o pensamento, desenvolve a criatividade,
possibilita uma escrita coerente e auxilia no processo de assimilação da informação.
De modo que a leitura precisa ser repensada, precisa ser vista como
instrumento capaz de tornar o leitor mais crítico, capaz de ler o que está no texto e o
que está além dele, possibilitando a compreensão e a construção de significados
para além dele. A leitura vai, portanto, além do texto e começa antes do contato com
ele, assim o leitor assume um papel atuante, deixa de ser mero decodificador ou
receptor passivo tornando-se um leitor autônomo, se envolvendo em atividades que
contribuam para o seu crescimento.
Nesse sentido, buscou-se compreender os aspectos básicos que envolvem a
leitura tendo por base as concepções de Martins (1997), visto que ele divide o
funcionamento do ato de ler em três níveis, sensorial, emocional e racional. O
sensorial traduz o primeiro contato com o texto, o nível emocional leva a
interpretações subjetivas e o nível racional busca a interpretação. Segundo a autora,
nada é gratuito num texto, sendo que um dos aspectos mais significativos está no
reconhecimento dos indícios textuais, as chamadas pistas que às vezes passam
despercebidas como uma espécie de jogo do autor. Esses indícios são aprendidos
através das experiências do leitor e essas vão evidenciar os níveis de leitura, assim
“há tantas leituras quantos são os leitores, há também uma nova leitura a cada
aproximação do leitor com um mesmo texto” (MARTINS, 1997, p. 79).
Para a aquisição desse conhecimento constata-se a necessidade de um
trabalho bastante específico: o exercício da leitura, sobretudo do texto literário, pois
quanto mais leituras o aluno tiver, mais possibilidades de compreender os caminhos
percorridos por um determinado autor lhe estarão disponíveis. Para Jauss (1994) o
texto literário é um ato de recepção, pois pode provocar rupturas e ampliar
horizontes de expectativas. Segundo o autor, a interpretação de uma obra deve
considerar sempre os contextos em que foi criada e recebida, a fim de se evitarem
interpretações superficiais baseadas somente em critérios do passado e do
presente.
A literatura tem natureza questionadora:
a literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, liberta do caos e, portanto, nos humaniza. Negar a função da literatura é negar a nossa humanidade (CANDIDO, 2004, p.186).
Dessa forma, a literatura consegue realizar um papel social ao ampliar as
relações do texto com o contexto sócio-histórico, ampliando assim a leitura de
mundo do leitor.
Porém, aprender a ler não é uma tarefa tão simples e segundo Solé (1998)
cabe à escola fazer com que os alunos ampliem esta capacidade. Para a
pesquisadora, o problema do ensino da leitura não se encontra na escolha do
método, mas sim no conceito do que é leitura que para ela "é um processo mediante
o qual se compreende a linguagem escrita [...] Para ler necessitamos
simultaneamente manejar com destreza as habilidades de decodificação e aportar
ao texto nossos objetivos, ideias e experiências prévias [...]”. (SOLÉ, 1998, p. 23).
Nesse sentido a leitura é uma inter-relação entre leitor e o texto com objetivos
específicos. Isso implica em criar sentido para a leitura, ou seja, estabelecer
relações de significados com a vivência do leitor.
A escolarização da leitura e da literatura desequilibra a relação útil X
agradável enfatizando uma função conservadora e neutralizadora do efeito estético
uma vez que “[...] se percebe em nossas escolas uma distância entre a intenção
explícita da legislação em formar alunos críticos, com gosto e hábito de ler, e o fato
de esses alunos demonstrarem desagrado e incompetência em relação à leitura”
(MAGNANI, 2001, p. 2). Muitas tentativas são feitas no sentido de interferir nessa
recusa à literatura. Nesse sentido, a leitura e análise do romance Macunaíma podem
atender a esse propósito porque o aluno, ao entrar em contato com a leitura de
Mário de Andrade, publicada pela primeira vez no ano de 1928, perceberá, pela
abordagem proposta, tratar-se de uma obra transtemporal.
3. CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR
O trabalho com a leitura visa formar leitores ativos diante dos textos e que a
partir dos mesmos reflitam sobre as diferentes visões de mundo e as mais diversas
formas de discurso com as quais se deparam.
Nesse sentido é importante apresentar ao aluno uma multiplicidade de textos
a fim de que ele possa vivenciar as diferentes modalidades de leitura, buscando
mostrar que ler é uma forma de aprender a pensar, a refletir sobre a realidade e a
conhecer a si mesmo. Essa prática permite várias leituras já que o significado do
texto se constrói pela interpretação do leitor a partir do seu conhecimento prévio,
dando condições reais de desenvolver seu potencial crítico-reflexivo, a fim de que
possa ter acesso aos bens históricos e culturais.
Souza (2004), ao abordar a formação de leitores, acrescenta que a leitura
exige esforço por parte do leitor e pressupõe treino, capacitação e acumulação, pois
o texto literário, por se tratar de um texto artístico, polissêmico e aberto a várias
leituras, possibilita ao leitor chegar a diferentes interpretações. Koch e Travaglia
(1991) acrescentam que na compreensão de textos se percorre o caminho das
pistas linguísticas da superfície do texto à coerência profunda e que um receptor
pode, por limitações próprias, não ser capaz de determinar o sentido, levando em
conta, que o leitor lê baseado em seu repertório cultural, em sua experiência textual
e capacidade linguística.
Assim, o texto literário não se apresenta ao leitor como uma obra pronta e
acabada, ele possui determinadas “lacunas ou espaços vagos ou nebulosos” que
são descobertos e preenchidos pelos leitores no processo da leitura. Sendo o texto o
resultado do trabalho estético do autor e da atuação competente do leitor. Nesse
sentido:
[...] a partir da noção de texto literário como tecido com espaços vazados, a primeira explicação que surge para este conceito de “obra aberta”, associada ao fazer literário, é que o texto, dotado de real teor de literariedade, abre possibilidade aos leitores de não terem apenas pensamentos ou opiniões convergentes, mas, sobretudo divergentes, geradores de uma multiplicidade de ideias e interpretações, o que certamente instaura a riqueza de questionamentos, a polêmica (BRAGATTO FILHO, 1995, p. 17 -18).
Em virtude dessa possibilidade apresentada pelo texto literário ao leitor,
compreende-se ser esse o grande desafio do ensino da literatura na escola, pois
segundo Kleiman (2011) a escola não favorece o ensino da leitura, ficando muitas
vezes centrada em cópias, resumos, análises e tarefas, ou seja, no ensino formal da
gramática. Mostra-se que a leitura é um processo complexo, envolvendo mais do
que habilidades que se resolvem no imediatismo da ação de ler, muitas vezes como
cumprimento de uma formalidade, como pretexto para preencher fichas, completar o
horário de aula ou avaliar o aluno.
Faz-se necessário, aprimorar as práticas pedagógicas voltadas ao texto
literário, por isso a mediação do professor é fundamental, já que compreender o
mundo a partir do texto, tornar-se um leitor capaz de inferir sobre o que não está dito
é tarefa complexa. É importante que no ambiente escolar o professor crie situações
para a leitura literária em função de sua estrutura e de sua linguagem.
A Teoria da Recepção de Hans Robert Jauss (1994) sugere alternativas para
apresentação da literatura aos alunos sem eliminar a história, mas aproximando
autores e obras de diferentes épocas, aproximando a literatura de outras linguagens
artísticas: cinema, música, teatro entre outras, a fim de tornar a prática da leitura
literária nas escolas uma atividade mais significativa.
Manifesta-se a importância do leitor na coprodução do significado do texto e
destaca-se a ativa implicação do individuo receptor na atribuição de significados
durante o ato da leitura, uma vez que as obras literárias se relacionam com seus
leitores e dialogam com os espaços sócios históricos culturais, portanto uma obra do
século passado é ‘viva’ e ‘histórica’ (JAUSS, 1994).
Nesse sentido, o ensino da literatura deve voltar-se a recepção do texto
literário pelo leitor e sobre como o interpreta. Segundo Bordini (1989, p.9):
[...] a escola não permite a entrada no mundo dos livros de forma completa e sim cortando aos pedaços, como no livro didático. Ensina-se literatura para aprender gramática, para revisar a História, a Sociologia, a Psicologia e para redigir melhor. Tornando-se matéria para adornar outras ciências, o texto literário descaracteriza e afasta de si o leitor.
Diante do exposto, reafirma-se que o ensino de literatura contribui para a
formação de um cidadão autônomo, com condições de interagir com a realidade e
seus desafios. Candido (1972) diz que é função social da literatura, estimular o leitor
para uma maior percepção do mundo que o cerca, fazer com que perceba-o em sua
pluralidade e diversidade, leitor e leitura atuando na construção de um processo
social, pois os inumeráveis sentidos atribuídos a um texto literário e dele também
absorvidos entram em harmonia com a história de vida de cada um, e ainda em
concordância com o imaginário pessoal e coletivo do indivíduo.
O universo literário, fruto da imaginação criadora do artista e do trabalho
artístico com a palavra, revela e exprime a natureza humana. Candido (1972)
apresenta a literatura como uma força humanizadora, contribuindo para a formação
da personalidade do leitor, desempenhando um papel social, mostra que o estudo
literário ultrapassa seus limites estruturais, de organização. Para ele como
expressão do homem, a literatura assume três funções: a psicológica, a formativa e
a social.
Conforme Candido (1972) a função psicológica possibilita ao ser humano, a
fuga da realidade. Já a função formadora atua como instrumento de educação.
Enquanto que a função social representa a forma como a literatura retrata e
estabelece reflexões sobre os segmentos da realidade.
Pensar o papel da literatura implica em entender a função psicológica, pois:
[...] a produção e fruição desta se baseiam numa espécie de necessidade universal da ficção e fantasia, que de certo é coextensiva ao homem, pois aparece invariavelmente em sua vida como indivíduo e como grupo, ao lado da satisfação das necessidades mais elementares (CANDIDO, 1972 p. 804).
De fato, a literatura preenche a necessidade de fantasia inerente ao homem.
Por meio dela é possível vivenciar situações por vezes impossíveis de se
concretizarem na realidade, mas a fantasia tem base na realidade e exige uma forte
participação do leitor. Este é visto como um ser ativo capaz de realizar leituras
reflexivas que instigam seu senso crítico ao mesmo tempo em que lhe proporcionam
prazer, ampliando sua capacidade de ler e vivenciar o mundo.
Sob esse enfoque Zilbermann (2004) observa que o ensino da literatura deve
ser pensado a partir dos pressupostos teóricos da Teoria da Recepção, buscando
formar um leitor capaz de sentir e expressar o que sentiu, interagindo com a obra e o
autor, pois é o leitor quem transforma a obra em objeto estético, ao decodificar os
significados transmitidos por ela.
4. A LEITURA DE MACUNAÍMA EM SALA DE AULA
A literatura é um conjunto de vivencias e nas obras clássicas há sentimentos
comuns com a vida do leitor e por mais que essas obras tragam uma realidade
distinta da época atual, ainda assim permite, por aproximações e confrontos,
compreender esse novo contexto.
Calvino (1993) observa que a literatura é uma das artes que precisa ser
ensinada nas escolas, em especial o ensino de obras e autores consagrados,
principalmente aquelas definidas como clássicas.
Conhecer os clássicos literários de um país para adentrar na sua cultura e
descobrir seus valores socioculturais é imprescindível. De acordo com Calvino
(1993, p.11) “os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo
as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram
na cultura ou nas culturas que atravessaram”.
A obra Macunaíma, o herói sem nenhum caráter é considerada um clássico,
com ela Mario de Andrade ficou conhecido por sua posição à frente do movimento
modernista. Uma obra-prima, uma narrativa de estrutura inovadora, ao nível do
enredo, da caracterização das personagens e do estilo, representando as propostas
estéticas e temáticas dos propósitos modernistas das primeiras décadas do século
XX, caracterizada pelas investidas de solidificação do movimento renovador e pela
divulgação das obras e ideias modernistas. Major Neto (s/d, p. 33) afirma que “O
Modernismo de 1922 encontrou em Mário de Andrade uma das mais perfeitas
expressões e sua obra foi um incessante desdobramento das conquistas mais
radicais do movimento”.
Mário de Andrade, assim como os demais modernistas, defendia a
reconstrução da cultura brasileira centrada, sobretudo, em bases nacionais.
Propunham, ainda, a promoção de uma visão crítica do passado histórico e das
tradições culturais, junto com a eliminação definitiva do complexo de país
colonizado, atrelado a valores estrangeiros. Major Neto (s/d) comenta que a obra
Macunaíma teve grande importância na vida e na cultura brasileira, e que toda obra
do autor buscou compreender o Brasil.
[...] do primeiro até o último de seus livros perpassa um sopro de absoluto empenho em descortinar o País para os brasileiros: suas contradições insolúveis, suas mazelas e grandezas, que se fundem de maneira tão inextrincável que muitas vezes é impossível dizer onde começam e onde se encerram (MAJOR NETO, s/d, p.31).
Segundo Major Neto (ano 1) Mário de Andrade foi um estudioso do Brasil, um
poeta comprometido com a causa socialista, estudioso da cultura popular e do
folclore. Escrita na sua primeira versão, em dezembro de 1926 e editada em 1928 a
obra foi fruto de longos estudos sobre a mitologia indígena, o folclore nacional, além
de profundas observações sobre os costumes e a língua cotidiana dos brasileiros.
No nível linguístico, uma verdadeira miscelânea formada por vocábulos indígenas,
africanos, frases feitas, expressões e provérbios populares, formando um estilo
narrativo dinâmico e irônico na representação do povo brasileiro. A ironia consiste
em romper com os padrões literários, principalmente do Parnasianismo, que primava
por uma linguagem regrada, composta de vocábulos arcaicos, termos considerados
poéticos.
Mário de Andrade surpreendeu ao apresentar na literatura a malandragem, o
erotismo e a miscigenação, aspectos culturais típicos do Brasil. Inovou utilizando a
técnica cinematográfica, imprimindo velocidade, simultaneidade e continuidade à
narrativa. Inovou também na linguagem.
5. DIRETRIZES NORTEADORAS: PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS
A implementação foi realizada no Colégio Estadual Costa e Silva, em uma
turma de 3º Ano do Ensino Médio, composta por 37 alunos, no período de Fevereiro
a Julho de 2014.
Fez-se necessário apresentar aos alunos como seria desenvolvido o projeto,
seu tempo de 32 horas, seu formato em Sequência Didática, seu objeto de estudo a
obra Macunaíma: um herói sem nenhum caráter de Mário de Andrade e o autor
modernista de grande importância no cenário literário brasileiro. Foi o momento de
falar sobre a importância da leitura completa da obra, bem como das atividades
desenvolvidas a partir dela.
Os educandos foram instigados através de questionamentos (oralidade) com
relação à suas experiências de leituras e através de perguntas relacionadas à obra,
pois de acordo com pressupostos do Método Recepcional, descrito por Bordini e
Aguiar (1988), o contato inicial deve prever a sondagem, determinando o horizonte
de expectativas dos leitores.
Saber o que o aluno conhecia em relação a literatura brasileira e seus
autores, seus hábitos de leitura, suas preferências e aos gêneros literários foi
fundamental para essa etapa. Verificou-se uma variedade de gostos e aptidões à
leitura e em relação ao gênero literário fez-se necessário uma diferenciação entre o
gênero romance e a rapsódia, bem como a retomada das características do gênero
romance pela classificação da obra. Pois se trata de um livro, em princípio complexo,
classificado pelo próprio autor como “rapsódia”, devido a uma variedade de gêneros
literários presentes na obra, mas definido historicamente como um romance
moderno, ou seja uma narrativa literária organizada em prosa, normalmente longa,
desenvolvendo vários núcleos narrativos, organizado em torno de um núcleo central;
narrando fatos relacionados a personagens, numa sequência de tempo
relativamente ampla e em determinado lugar.
Na sequência, buscou-se o atendimento do horizonte de expectativas, é onde
segundo Bordini e Aguiar (1988), são detectadas as aspirações, valores e
familiaridades dos alunos em relação à leitura e a obra. A proposta consistiu em o
professor ler com os alunos o primeiro capítulo intitulado “Macunaíma”, esclarecendo
dúvidas referentes à linguagem a fim de atrair a atenção para a importância da
leitura da obra, bem como para a caracterização do herói, envolvendo e cativando o
aluno, despertando seu interesse e curiosidade pela obra.
Esse foi um importante momento da aplicação do projeto, foi grande a
curiosidade em relação a obra, com comentários variados do tipo “ acho que vou
gostar de ler essa obra”, “ professora, Macunaíma é bem safadinho”, “essa obra é
pornográfica”, mas a grande maioria mostrou interesse em conhecer a obra que
nesse momento foi entregue para cada educando para leituras individuais
extraclasse e coletiva em sala de aula.
Após esse trabalho inicial, passou-se a ruptura do horizonte de expectativas
que, conforme Bordini e Aguiar (1988), deve ocorrer com a introdução de atividades
de leitura que abalem as certezas e o gosto dos alunos no que se refere à leitura,
interpretação e diálogo com o texto literário. Esta ruptura, como o próprio nome
sugere, pressupõe um rompimento com a visão inocente ou habitual do leitor sobre
a obra, sobre o herói, sobre a linguagem da narrativa literária. Os textos e atividades
devem surpreendê-los a fim de se perceberem adentrando em campo desconhecido.
Nessa etapa foram apresentados os poemas “Vícios na fala” “Pronominais” e
“ O capoeira” de Oswald de Andrade, bem como o poema “Macumba do pai Suzé”
de Manuel Bandeira com o propósito de que observem que a linguagem usada por
diferentes poetas aproxima-se bastante da utilizada por Mário de Andrade em
Macunaíma: um herói sem nenhum caráter. Também foi apresentado o texto
“Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente
como se fala” onde Jô Soares brinca com a diferença entre o português falado e o
escrito.
Foram realizadas várias reflexões a respeito da fala e da escrita, duas
modalidades bem diferentes da língua e das implicações sociais de não falar de
acordo com a variante considerada norma culta da língua.
Esse foi também o momento de introduzir a leitura da obra Macunaíma em
seu contexto histórico, o Modernismo Brasileiro. Foram realizadas atividades
instigantes como o documentário da série Mestres da Literatura da TV Escola,
revelando como se deu a formação pessoal e acadêmica dos mentores da Semana
da Arte Moderna, dentre eles Mário de Andrade, abordando suas obras e o clássico
Macunaíma: um herói sem nenhum caráter, considerado importante obra para a
representação e percepção cultural do povo brasileiro.
No passo a seguir – Questionamento do horizonte de expectativas – foram
realizados questionamentos em relação à leitura dos primeiros capítulos da obra,
sua estrutura e linguagem. Nesse momento percebeu-se a diferença da leitura
individual realizada pelos alunos em suas casas e a leitura coletiva realizada em
sala de aula. As lacunas em relação à leitura individual foram enormes em relação à
leitura coletiva. E a pedido da turma foram retomadas as leituras dos primeiros
capítulos de forma coletiva, com paradas para esclarecimento da linguagem. E
dessa forma houve a leitura da obra.
Paralelo a essa leitura foram sendo preenchidos os quadros sínteses
referentes ao momento narrativo, à descrição das personagens e ao uso de alguns
vocábulos.
Para a Ampliação do horizonte de expectativas, realizou-se um paralelo entre
“Iracema” de José de Alencar e “Macunaíma” de Mário de Andrade, com esse
trabalho de intertextualidade, pode-se comparar estilos e obras.
A turma pode lembrar que no século XIX José de Alencar, ao escrever a obra
Iracema, também se propôs a criar um romance com o objetivo de repensar a cultura
brasileira, representada pela civilização indígena. Alencar criou seu poema em
prosa, tematizando o início da colonização brasileira, numa visão idealizadora do
escritor romântico e assim descreveu Iracema, a virgem dos lábios de mel. Um
século depois, Mário de Andrade, no intuito de criar uma identidade nacional, sem
idealização alguma produz a obra Macunaíma, um herói sem nenhum caráter,
representando o índio “preto retinto e filho do medo da noite”, da tribo amazonense,
sendo o oposto da índia da grande tribo do futuro Ceará.
Sendo assim, pode-se refletir sobre essas duas importantes obras da
Literatura Brasileira – Iracema e Macunaíma, comparando-as e relacionando-as
esteticamente. Também puderam estabelecer comparações e entender a relação
intertextual entre a linguagem literária e a linguagem musical, a partir do enredo de
escola de samba, numa gravação de Clara Nunes (1975) e numa versão musicada e
cantada por Iara Rennó (2008).
Ainda foi possível relacionar a linguagem fílmica com o romance, partindo do
filme de 1969, do gênero comédia, escrito e dirigido por Joaquim Pedro de Andrade
e reeditado em sua mais nova versão em DVD no ano de 2006, baseado na obra
homônima de Mário de Andrade. Esse foi um dos pontos importantes da
implementação, permitindo muitas interpretações, contando com processos de
(re)criação uma vez que a obra fílmica tem caráter parodístico em relação à obra
literária.
Outro ponto de destaque foi obtido a partir das observações dos espaços
percorridos pelas personagens, Macunaíma e os irmãos que transitaram em
paisagens natural e cultural percorrendo praticamente todo o território nacional e
internacional. Partindo dessa observação a turma dividida em cinco grupos, realizou
um trabalho de pesquisa, de acordo com as regiões brasileiras, buscando
representações culturais que contem no livro e no filme. Cada grupo pesquisou as
marcas culturais de uma região como, prato típico, vestuário, provérbios, danças,
variante linguística, dentre outros para uma posterior apresentação.
Como resultado houve a socialização da pesquisa sobre as diferentes
representações culturais, realizadas através da exposição oral em sala de aula e da
exposição do resultado em cartazes e painel ilustrativo com a síntese do resultado
da pesquisa. Os grupos participaram ativamente e dessa forma ocorreu trocas de
informações sobre o assunto.
Também foi proposto que cada grupo escolhesse um capítulo da obra
estudada para encenar. A turma optou por realizar uma única representação coletiva
da obra o que possibilitou a apreensão e a aproximação dos alunos em relação ao
texto de Mário de Andrade. No geral essa atividade teve boa aceitação e a
encenação foi aberta para outras turmas do Ensino Médio, possibilitando uma maior
divulgação da obra literária.
A próxima e última tarefa foi transformar os conhecimentos adquiridos em
ações concretas. Cada aluno utilizando sua criatividade e imaginação, produziu uma
narrativa envolvendo Macunaíma nos tempos atuais, imaginou e descreveu como
esse personagem agiria nas situações encontradas num Brasil de hoje, que
linguagem usaria e como se comportaria. Como resultado pode-se perceber que no
geral os educandos compreenderam bem a proposta, bem como a obra literária,
conseguindo ambientar Macunaíma, personagem da obra literária de Mário de
Andrade a uma nova criação, em outra época e outra ambientação geográfica.
6. REFLEXÕES EM GRUPO
O GTR – Grupo de Trabalho em Rede, realizado com o objetivo de socializar
o Projeto de Implementação Pedagógica, bem como a Produção Didática
apresentou as atividades desenvolvidas e contou com a participação de um grupo
de 13 professores das disciplinas de Língua Portuguesa, História e Sociologia,
oportunizando a troca de informações, fundamentos teóricos e experiências,
reflexões a respeito das possibilidades e limitações do projeto.
As principais contribuições foram feitas a respeito da resistência dos alunos
em relação a uma literatura mais complexa como a obra escolhida para esta
proposta, das possibilidades de implantação na escola de atuação dos participantes
do GTR, bem como se elas tinham desenvolvido algum tipo de trabalho semelhante.
A participação dos cursistas foi significativa, houve o apontamento quanto à
necessidade de despertar no aluno o gosto pela leitura e que para isso faz-se
necessário que antes de tudo o professor seja um leitor por ser um processo que
requer estímulos, oportunidades e exemplos. Houve consenso entre os participantes
de que o processo da aquisição da leitura é gradual e lento e que deve ser praticado
de forma intencional e planejada.
Alguns cursistas destacaram a importância de se trabalhar o ensino da leitura
literária, mesmo sabendo que o gosto pela leitura é um processo longo e muitas
vezes difícil para o aluno. Nesse processo o papel do professor constitui-se como
mediador, ajudando o aluno a descobrir o que a leitura pode oferecer.
Tanto o Projeto, quanto a Produção Didática tiveram boa aceitação, foi dito
que as práticas desenvolvidas no projeto facilmente poderiam ser implementadas
nas escolas. Em suma, o trabalho, referente à obra Macunaíma foi classificado como
interessante, desafiador, estimulante e amplamente interdisciplinar, contribuindo
para um importante dialogo com outras disciplinas, possibilitando um encontro com
nosso passado e com o “eu” de cada um, despertando a necessidade de valorização
da leitura.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dos resultados analisados a maioria mostrou-se satisfatórios aos objetivos,
porém, baseando-se na forte influência do cotidiano do processo de formação de
leitor obteve-se também alguns pontos negativos que foram eclodindo durante o
processo.
Um dos pontos positivos bem marcantes foi a recepção dos alunos em
relação ao projeto, em princípio com certa desconfiança em relação a obra e em
seguida com total adesão. Houve bons momentos de questionamentos e
discussões, mediadas pela professora. Percebeu-se que muitos educandos
apresentaram dificuldades em relação ao entendimento da obra, gerada pelo
vocabulário e pela carência de outras leituras. No entanto, a participação e o avanço
do grupo evidenciaram que a continuação de trabalhos como este é de fato
significativa.
Uma dificuldade bem expressiva está relacionada com a falta de ambiente
adequado para exposições de trabalhos e atividades em grupos, fato este presente
na maioria das escolas brasileiras. Outro ponto diz respeito a preocupação dos
alunos em relação a avaliação, uma vez que a maioria das atividades escolares é
voltada para avaliar a compreensão da leitura dos alunos e não para o ensino de
estratégias que formem o leitor competente, capaz de dialogar com o texto.
Os resultados podem ser apresentados como satisfatórios, uma vez que
mesmo diante das dificuldades encontradas houve motivação dos alunos para
interagirem com outras culturas, variedades linguísticas, outros contextos históricos
e de conhecerem um pouco mais a respeito da pluralidade cultural do país, muito
bem retratada na obra.
Surpreendente foi a socialização da pesquisa sobre as diferentes
representações culturais, bem como a encenação da obra, contribuindo para o
desenvolvimento da sua expressão e comunicação, favorecendo a produção coletiva
de conhecimento e de cultura.
Outro ponto de destaque diz respeito à produção textual, pois a atividade foi
proposta como desafio à criatividade e ao desempenho, permitindo desenvolver a
competência escrita, bem como a compreensão da obra, resultando em produções
criativas.
O Método Recepcional possibilitou a aproximação planejada dos alunos em
relação à obra, ampliando as possibilidades de compreensão e interpretação dos
sentidos construídos a partir dela. Observa-se que a literatura pode sim contribuir
para o desenvolvimento das habilidades de leitura, ampliando horizontes
linguísticos, estéticos e culturais dos estudantes.
8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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