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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
APRENDER HISTÓRIA PELA WEB:
Estudo da cultura do café no Paraná
Daniela Cassarotti Borges1
Fábio André Hahn2
Resumo: Este texto é resultado dos estudos realizados durante as atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2014 e tem por objetivo apresentar os resultados da intervenção pedagógica realizada com os alunos do 9º ano do Ensino fundamental II do Colégio Estadual José Sarmento Filho, em Iretama/Pr. A ideia foi apresentar uma abordagem a partir da tecnologia educacional para o ensino de História, auxiliando a prática pedagógica docente. Para estimular o interesse dos jovens pelo estudo e gerar aprendizagem histórica, foi utilizada a WebQuest como recurso tecnológico e educacional com o tema sobre a cultura do café na Mesorregião Centro Ocidental do Paraná, mais especificamente no município de Iretama entre as décadas de 1960-1980. Como resultados constatamos que a metodologia WebQuest contribuiu no desenvolvimento formativo do aluno, instigando a pesquisa histórica sobre a cultura do café e possibilitou com que os alunos desenvolvessem uma reflexão interpretativa critica diante das leituras que foram realizadas e da produção da carta como resultado final. Palavras-chave: Ensino de História. Tecnologia educacional. WebQuest. História Local.
Introdução
Diante do contexto atual em que boa parte da população está cercada
pelas novas tecnologias, a comunicação e o acesso à informação se encontra
disponível sob as mais variadas formas. A chamada "sociedade da informação"
nos leva a crer que a tendência é a de que cada vez mais as tecnologias
estejam acessíveis à maior parte da população.
Nesse sentido, é preciso investigar o quanto essas tecnologias podem
contribuir para o projeto de aprendizagem na escola. Para tanto, é necessário
antes estudar o perfil dos estudantes, desde suas habilidades com o manejo
com as tecnologias de massa, o uso de aplicativos, redes sociais e outras, pois
1 Professora PDE 2014-2015 do Colégio Estadual José Sarmento Filho – EFN, município de
Iretama/Pr – [email protected] 2
Professor de História da Universidade Estadual do Paraná – Unespar, [email protected]
percebe-se que frente a essas questões temos, de um lado, a escola que tem
dificuldades em repensar as suas práticas pedagógicas e do outro lado temos
as novas demandas da juventude frente às tecnologias.
Assim, diante dos avanços tecnológicos nos resta indagar se, tendo
como base a massificação das tecnologias, até que ponto os nossos alunos
têm acesso a esses recursos? De que forma as tecnologias podem colaborar
com o trabalho pedagógico e a aprendizagem?
Na realidade social em que se insere a escola, constatamos que a maior
parte de nossos alunos pertence à classe média e médio-baixa, sendo que a
grande maioria das famílias tem pouca ou nenhuma instrução. A isso se
somam problemas advindos da desestruturação familiar e da falta de
perspectivas. Ocorre também que, não tendo acesso ao saber universalizado
fora da escola, muitos alunos não têm um acompanhamento familiar constante
nas tarefas escolares, o que interfere no seu aproveitamento escolar.
Por tudo isso, entendemos que a escola não deve “ficar à mercê” dos
aparatos sociais que determinam o uso das tecnologias a bem da
aprendizagem. O ambiente escolar deve, sim, funcionar como um local de
inclusão digital, produção e socialização cultural, estimulando a criação de
novos saberes, visando o pleno desenvolvimento do aluno.
Nas últimas décadas vem-se intensificando as formas de ensinar e de
aprender, no que diz respeito à relação professor-aluno. As aulas de História,
sobretudo no Ensino Fundamental - Anos Finais, devem instigar os alunos ao
aperfeiçoamento de seus conhecimentos, o que nem sempre ocorre. Isso se
deve á uma variável grande de argumentos, entre eles às questões
metodológicas utilizadas pelo professor em sala de aula, exigindo uma
retomada de postura do professor de História, que necessita repensar
constantemente sua prática, visando alcançar melhores resultados na
aprendizagem de seus alunos. Sobremaneira, repensar as metodologias do
professor, no sentido de aperfeiçoamento de sua prática pedagógica, para
conseguir acompanhar as mudanças sociais é de fato apresentar uma
educação escolar como um direito de todos. Segundo MORAN (2000, p.10):
Precisamos tornar a escola um espaço vivo, agradável, estimulante, com professores mais bem remunerados e preparados; com currículos mais ligados à vida dos alunos; com metodologias mais participativas, que tornem os alunos pesquisadores, ativos; com aulas mais centradas em projetos do que em conteúdos prontos; com atividades em outros espaços que não a sala de aula, mais semi-presentes e on-line.
A proposta de Moran é ousada, talvez ainda um pouco distante da nossa
realidade prática, mas aponta pistas no tange a necessidade de avançarmos e
nos aproximarmos da realidade atual do aluno. A utilização da WebQuest pode
ser uma alternativa que se traduz como um recurso pedagógico instigante na
aprendizagem de História. O professor deixa de ser o simples transmissor de
um conhecimento já produzido para tornar-se o mediador do conhecimento,
que instiga a busca e a descoberta, viabilizando o processo de aprendizagem
dos alunos, por meio de aulas mais motivadoras, dinâmicas e criativas.
Neste contexto, a proposta de implementação com alunos do 9º Ano do
Ensino Fundamental teve o propósito de buscar alternativas para as
inquietações citadas acima e que se encontram presentes em nosso ambiente
escolar, pois a escola continua sem mudanças, mesmo com todo o avanço
tecnológico que estamos presenciando. Em virtude disso, propomos, nesse
texto tratar dessa questão em dois momentos: o ensino de História e a
metodologia WebQuest; e as considerações sobre a implementação didático-
pedagógica.
O ensino de História e a WebQuest.
Nas últimas décadas ocorreram grandes mudanças no Ensino de
História no Brasil, impulsionadas principalmente pelas contribuições das
questões lançadas pela Escola dos Annales, movimento francês do início do
século XX, que permitiu a incorporação de novos temas e problemas de
estudo, valorizando a historicidade sob diversos aspectos e sujeitos. Essas
mudanças contribuíram no repensar da noção de fontes históricas e no
desenvolvimento de novas metodologias. Diante disso, o objetivo desse
trabalho foi testar junto aos alunos e professores uma metodologia para a
aprendizagem histórica, tendo o aluno como parte atuante do processo de
ensino aprendizagem, rompendo, dessa forma, com a tradição memorística e
verbalista de ensinar História.
Conforme afirma Caimi (2009, p.66- 67), “temos de trabalhar para
superação da tradição verbalista da história escolar [...] de informações factuais
sobre o passado que podem tornar-se mais ou menos atrativas”. Neste
contexto de mudanças no Ensino de História, evidenciando de forma mais
evidente a partir da década de 1990, é que as novas abordagens, novos
objetos, começaram a se refletir mais diretamente no ensino de História do
Brasil.
Pensando nessa nova realidade Pinsky & Pinsky (2005, p. 19) apontam
que:
O grande desafio que se apresenta neste novo milênio é adequar nosso olhar às exigências do mundo real sem sermos sugados pela onda neoliberal que parece estar empolgando corações e mentes. É preciso, nesse momento, mostrar que é possível desenvolver uma prática de ensino de História adequada aos novos tempos (e alunos): rica de conteúdo, socialmente responsável e sem ingenuidade ou nostalgia.
Por tudo isso se constata que o ensino da História, especialmente local,
tem uma grande importância, pois ela pode de diferentes formas produzir junto
aos alunos uma História que parta de um acontecimento ou do cotidiano que
eles conhecem, sempre relacionando aos fatos e acontecimentos nacionais e
universais. O professor Rafael Samuel nos confirma isso destacando que:
A História Local requer um tipo de conhecimento diferente daquele focalizado no alto nível de desenvolvimento nacional e dá ao pesquisador uma idéia mais imediata do passado. Ela é encontrada dobrando a esquina e descendo a rua. Ele pode ouvir os seus ecos no mercado, ler o seu grafite nas paredes, seguir suas pegadas nos campos (SAMUEL, 1990, p. 220).
Diante disto é que propomos desenvolver uma interação pedagógica
voltada a um tema local, mas com abrangência nacional: a cafeicultura. O
recorte espacial/temporal sobre o cultivo do café na mesorregião centro
ocidental do Paraná, em especial em Iretama, região que se destacou pela alta
produção e concentração da economia neste setor produtivo, foi intencional.
Para desenvolvermos esse estudo sobre o cultivo do café na
mesorregião centro ocidental do Paraná recorremos a metodologia de ensino
que faz uso dos recursos tecnológicos educacionais: a WebQuest. Esta
metodologia visa aproximar os recursos da internet da realidade dos jovens. A
metodologia foi criada em 1995, pelos Professores Bernie Dodge e Tom March,
da Universidade de San Diego, Califórnia, e que visa a organização de uma
investigação orientada dos recursos disponibilizados na web.
A tecnologia já é algo que está inserido na rotina de crianças e
adolescentes, o que nos força, portanto, pensar em formas de inserir a
tecnologia na educação de forma produtiva e satisfatória. Compreender que
existe uma real necessidade de mudança no ambiente escolar é o primeiro
passo, pois o trabalho que se realiza atualmente na escola não é suficiente
para o futuro dessa geração de estudantes. O questionamento do aluno e do
professor da escola pública é em relação à incoerência entre tecnologia
existente no mundo atual e a disponibilidade da mesma na educação escolar,
como ferramenta pedagógica. Oliveira (2007, p.7) reforça que:
A utilização de recursos provenientes da Web no processo de ensino aprendizagem torna-se cada vez mais imprescindível. Nem a escola nem os professores se podem demitir desta função: preparar os alunos para as novas exigências da Sociedade de Informação.
Nesse sentido, é importante que o professor encontre novas
metodologias para ensinar, pois como destaca Caimi (2009, p.74), precisamos
de “uma metodologia que ofereça aos alunos os instrumentos de
conhecimentos precisos para atender seu presente e seu futuro. Uma
metodologia de trabalho que prepare para a reflexão, para a análise, para a
dúvida e para a valorização de argumentos”. Isso também é o que observa
Almeida (2009, p. 207) ao declarar que:
As WebQuest são atividades [...] de ensino aprendizagem desenvolvidas especialmente para ajudar a usar a internet e, sobretudo, lidar com a grande quantidade de informação disponível na rede. A idéia é utilizar o que a internet tem para oferecer, que não é pouco, como todos sabemos, mas, ao mesmo tempo, fazer com que o professor seja capaz de ajudar seus alunos a não se perderem na floresta.
Com isso, pensamos que a WebQuest pode contribuir nesse papel,
fazendo os alunos interagir, instigando-os à pesquisa, a argumentação, ao
pensamento crítico, a produção autônoma, pois como como destaca Almeida
(2009. p. 209):
A grande jogada da WebQuest é que ela não é uma simples coleta de informações, de dados para serem trabalhados em algum momento mais tarde. É uma coleta de dados orientada, motivada por um desejo de conseguir realizar a tarefa proposta. Então, ela transforma a simples coleta num processo de aprendizagem. Desenvolve competências, ensinando a classificar, organizar, sistematizar, refletir, concluir. Enfim, a partir do material disponível, ela ensina a criar um texto novo.
Para compreendermos melhor como a metodologia WebQuest funciona
na prática, apontaremos na sequência alguns dados resultantes da intervenção
realizada na escola e como os alunos reagiram no contato com a metodologia
e os resultados atingidos.
Considerações sobre a implementação didático-pedagógica.
A intervenção foi desenvolvida com os alunos do 9° ano do Ensino
Fundamental II, no período vespertino do Colégio Estadual José Sarmento
Filho, pertence ao Núcleo Regional de Educação de Campo Mourão. Para a
realização da intervenção desenvolvemos primordialmente duas etapas: a
primeira etapa foi constituída de uma investigação para identificarmos melhor
quem eram os alunos e quais seus interesses. Na segunda etapa elaboramos
material didático e que foi aplicado por meio da metodologia WebQuest e sobre
o qual iremos apontar os resultados.
Os sujeitos da investigação.
Antes de aplicarmos o material didático pedagógico desenvolvido,
optamos por uma investigação sobre os alunos do 9° ano do Ensino
Fundamental II do Colégio Estadual José Sarmento Filho e identificamos
alguns dados iniciais que nos possibilitaram um planejamento mais eficaz e
uma avaliação mais segura sobre o desempenho dos alunos no
desenvolvimento das atividades.
Elaboramos um questionário com 33 perguntas direcionadas em três
blocos distintos e aplicadas por meio da plataforma survey monkey: questões
socioeconômicas e educacionais; computadores e internet; e interesse pela
História.
A turma é composta por vinte e dois alunos, sendo cinco do sexo
feminino e dezessete do sexo masculino. A variação de idade está entre
quatorze e dezoito anos, portanto nem todos representam a idade série em que
estudam. A maioria reside na zona rural com total de 72% e todos sempre
foram alunos da escola pública. O que surpreendeu, inicialmente, foi que do
total de alunos, mais de 40% já repetiram de série ou ficaram algum ano sem
estudar o que é uma taxa alta para esse nível de ensino e de certa forma
preocupante.
Para além de questões socioeducacionais, os estudantes foram
perguntados sobre o acesso as tecnologias educacionais. Mais de 90% dos
alunos declararam já terem utilizado a internet em algum momento da vida,
mas menos da metade possui computador em casa, o que diminui a
acessibilidade possível desses alunos a internet para mais de 65% na própria
residência.
Em síntese, o que se verificou é que o estudante do nono ano possui
em média um baixo domínio e acesso a tecnologia. No entanto, isso é mais
agravante quando perguntamos sobre a utilização do laboratório de informática
para as aulas. A resposta surpreendente foi que, levando em conta todas as
disciplinas, apenas 14% declararam que utilizam o espaço. Com isso logo nos
perguntamos: Quais atividades são desenvolvidas no laboratório de
informática? Existe material educacional adequado para o desenvolvimento de
atividades no laboratório de informática da escola? Os estudantes tem acesso
aos materiais? Qual a função do laboratório de informática na escola?
Certamente a resposta não seja difícil de presumir. Em se tratando, nesse
caso, apenas da área de História, fatalmente caímos na quase inexistência de
materiais para o desenvolvimento de atividades no laboratório de informática, o
que para essa área reduz drasticamente a função do laboratório de informática,
tendo em vista que a pesquisa poderia ser realizada em outros locais e como
possivelmente é, pois um número reduzido de alunos declarou utilizar esse
espaço de formação.
Com a falta de materiais adequados para o desenvolvimento de
atividades educacionais na área de História, percebemos que os alunos deixam
de ter acesso a uma importante plataforma para aprender História: a internet.
Ao final da primeira etapa os alunos fizeram alguns relatos no qual
expuseram que gostaram de sair um pouco da sala de aula e de ter respondido
o questionário on-line no laboratório de informática, pois quase nunca era
usado. Encontraram um pouco de dificuldade, porque a internet estava muito
lenta e isso prejudicou em alguns momentos o desenvolvimento da atividade.
Aplicação do caso.
Para iniciarmos as atividades de implementação do projeto, começamos
com uma produção textual a ser realizada pelos alunos, sugerido que
descrevessem seus conhecimentos sobre “A cultura do café na região”, de
modo a verificar se os alunos tinham algum conhecimento prévio do tema e o
quanto sabiam.
As respostas surpreenderam, pois como declarou o aluno M.B.O.F,
relatando o seguinte: “Meu avô veio do estado de Minas Gerais para o Paraná,
na região de Arapongas, onde começou a trabalhar em uma fazenda de café,
colhendo café e fazendo outros serviços. Com o tempo meu avô foi ficando
velho e passaram para ele ser fiscal e o meu pai foi colher café com seus
irmãos. Meu avô trabalhou muitos anos nessa fazenda, mas quando aconteceu
uma geada muito forte, meu avô se decepcionou e veio para Iretama para tocar
café na fazenda do Bacarinho”. Já a aluna A.P.A.R descreveu que “Hoje em dia
não vejo muita produção de café, mas meu avô disse que já fez muitos plantios
em Iretama”. O aluno V.P disse que “Eu sei que a algum tempo atrás na
fazenda que eu moro era só plantação de café, mas agora não tem nenhum pé
e faz muito tempo que eu não vejo lugares com plantação de café”.
Estes são alguns pequenos trechos selecionados nos textos produzidos
pelos alunos. O que se verificou é que todos de alguma forma ou outra já
tinham ouvido falar do café e em especial do seu cultivo em Iretama. Isso
estimulou a aplicação do caso proposto para esta intervenção, intitulada: “A
cultura do café na mesorregião centro ocidental do Paraná”. O caso foi
desenvolvido e disponibilizado no blog para que pudesse ser acessado pelos
alunos tanto na escola quanto fora dela, no seguinte endereço eletrônico:
http://aculturadocafe.blogspot.com.br/.
Nesta segunda etapa as atividades foram realizadas no laboratório de
informática com uma explicação sobre a metodologia WebQuest e sua
funcionalidade. Com isso, mostrando aos alunos o ambiente educativo no qual
iriam desenvolver as próximas atividades. Desse modo, os alunos tiveram a
oportunidade de entrar no ambiente educativo e se familiarizar pela primeira
vez com a proposta. Optamos trabalhar com uma WebQuest de longa duração
que pode levar até um mês para o desenvolvimento de todas as etapas. Neste
caso, em especial, foram utilizadas 16 horas aula para a resolução do caso.
Na primeira etapa, que é a página da Introdução do caso, foi feita uma
apresentação rápida do assunto, sendo clara e objetiva, incentivando e
motivando o aluno à pesquisa.
Na segunda etapa foi apresentada a tarefa que os alunos teriam que
resolver, após realizar a leitura e análise de todas as pistas contidas no caso. A
tarefa a ser realizada será a escrita de um novo texto do gênero textual: carta.
Nesta, etapa os alunos ficaram com algumas dúvidas que foram sendo
sanadas durante o desenvolvimento da atividade.
Na terceira etapa foi apresentado o processo, ou seja, os passos que os
alunos deveriam realizar para resolver o caso proposto na WebQuest e assim
conseguirem executar a tarefa que é um dos seus principais objetivos.
Na quarta etapa aparecem os recursos disponível na WebQuest. Esta
etapa tem como finalidade fornecer subsídios de pesquisa aos alunos como
links, sites, o que for necessário para reforçar o acesso dos alunos à
informação para a resolução da tarefa. Foram disponibilizadas diversas fontes
históricas para que os alunos pudessem entender o tema em discussão,
conforme podem verificar abaixo ou no link.
Na quinta etapa disponibilizamos os critérios de avaliação e como o
resultado da tarefa seria avaliado.
A sexta e última etapa é a conclusão, no qual se encerra a pesquisa por
meio de uma rápida síntese demostrando o propósito geral do que foi
aprendido e o encaminhamento de novos indícios para a continuidade das
investigações.
Após o desenvolvimento da WebQuest os alunos realizaram uma
pesquisa investigativa junto a seus familiares para complementar as
informações sobre o cultivo de café em Iretama. Os alunos realizaram
entrevistas, gravaram áudios e vídeos e, desse modo, puderam refletir e
perceber a importância da História e como ela nos ajuda a entender nossa
identidade. Ao conhecer aspectos de nossa história, de nossa origem e se
identificar, o aluno passa a se entender como parte da História. Verificamos no
decorrer da aplicação da atividade que a temática voltada a história local
motivou o processo educativo, permitindo com que cada aluno se identificasse
com o contexto até então produzido e desenvolvesse um novo olhar sobre o
passado, criando um novo horizonte e expectativas de futuro. Isso pode ser
verificado em alguns relatos coletados pelos alunos:
Entrevistado: Nasci na cidade de Ibituva em Minas Gerais em 1945, vim para o Paraná com dois anos de idade morar em Floresta próximo a Maringá, minha esposa também é da cidade de Ibituva e veio para Floresta com doze anos de idade. Nos conhecemos em floresta, onde nos casamos e logo depois viemos para Iretama. Quando chegamos em Iretama fomos trabalhar na fazenda Marilu, na Cristalina e lá se plantava e colhia muito café. Trabalhávamos das seis horas da manhã até a tardezinha. O nosso trabalho consistia em replantar o café que morria e também na colheita que começava em junho e não tinha data para acabar. Entrevistado: Nasci no Rio Doce Minas Gerais, cheguei em Iretama no ano de 1973, vim para cultivar café, tinha uns três mil pés de café plantados, mas a geada matou tudo sobrou uns cento e cinquenta pés de café que eu cultivo até hoje. Parei de cultivar café por causa da geada, mas também porque a terra ficou muito velha.
Quando terminaram a investigação com seus familiares, vizinhos e
conhecidos, aliando ao que foi estudado na WebQuest, os alunos começaram
a elaboração da tarefa final proposta: a escrita de uma carta para “os
conhecidos que ficaram em Minas Gerais”. Durante o desenvolvimento dessa
etapa, encontraram um pouco de dificuldade para se situarem no tempo, mas a
maioria dos grupos conseguiu desenvolver adequadamente a atividade, pois
resolveram escrever mais de uma carta, caracterizando cada época. Durante a
escrita da primeira carta, relataram sua saída da região de Minas Gerais e a
chegada ao norte do Paraná, procurando narrar com detalhes às mudanças e
dificuldades que encontraram no novo lugar que escolheram para viver. Eis
alguns trechos das cartas:
Carta 1: Estamos derrubando a mata para roçar e liberar o plantio de café, trabalhamos também na manutenção da estrada que chega até a propriedade que estamos, às vezes precisamos trabalhar até a noite para render o serviço. Carta 2: Caros familiares e amigos, desde que chegamos aqui, muita coisa melhorou, assim como dizia o panfleto, as terras aqui são roxas e muito férteis, mas mesmo assim temos que adubar a terra, a nossa viagem demorou um pouco, porque as estradas por aqui são poucas e precárias. O cultivo do café está se iniciando, mas estamos nos adaptando bem e temos esperança que tudo vai dar certo.
No decorrer da escrita da segunda carta registraram informações
mostrando o inicio do processo de colonização da Mesorregião Centro
Ocidental do Paraná e de Iretama, quando então algumas famílias resolveram
deixar o norte do Paraná e Minas Gerais e se mudar para essa região. Nas
cartas os alunos fizeram suas representações da seguinte forma:
Carta 1: Foi muito difícil quando chegamos a Abatia, mas não deu muito certo e quando abriram uma estrada que ia para a região de Campo Mourão. Resolvemos nos mudar para uma cidadezinha chamada Iretama, um pequeno vilarejo. Conseguimos comprar dez alqueires de terra e então começamos a desmatar para começarmos o plantio de café, depois de alguns meses de muito trabalho a terra ficou bonita de se ver terra roxa e muito fértil pronta para plantar café. Carta 2: O café mudou bastante a nossa vida, também já faz vinte anos que viemos para o Paraná, meu patrão nos mandou para uma cidadezinha chamada Iretama. Quando chegamos aqui ficamos um pouco assustados, porque a cidade é muito pequena, muito diferente de Cafelândia. O clima no inverno é frio e isso não é bom para o café, estamos nos preparando para a colheita, meus filhos estão ajudando na colheita do café e a minha esposa está trabalhando na secagem do café.
Após o desenvolvimento das cartas, os grupos apresentaram para os
colegas o desfecho de seu trabalho. Ambos os grupos utilizaram os
conhecimentos históricos presentes na WebQuest e também souberam
aproveitar os conhecimentos adquiridos durante a realização das entrevistas,
expondo com criatividade e compromisso ao descrever seus anseios nas
cartas que seriam “mandadas para seus familiares e conhecidos que ficaram
na região de Minas Gerais”.
Para concluir a implementação do projeto na escola, os alunos
responderam um novo questionário para verificar se o uso das novas
tecnologias educacionais são adequadas para o processo de aprendizagem
histórica. Os alunos responderam que com a utilização da WebQuest foi mais
fácil aprender História e gostariam que essa atividade fosse realizada mais
vezes durante o ano. No decorrer do desenvolvimento da WebQuest
encontraram algumas dificuldades, principalmente em relação a conexão lenta
da internet. Para eles, a atividade desenvolvida dinamiza as aulas, utilizando
outros espaços na escola, permitindo conhecer assuntos de uma maneira
menos cansativa. Avaliaram a metodologia como muito boa e que o trabalho
em equipe foi mais interessante, sugerindo que a metodologia também poderia
ser utilizada em outras disciplinas. Por fim, com a utilização da WebQuest
destacaram que puderam aprender mais sobre a História do Paraná e mais
especificamente sobre um tema presente na região em que vivem, buscando
informações complementares com as pessoas que viveram o período do cultivo
do café em Iretama.
Considerações finais.
Ao finalizar esse trabalho de intervenção pedagógica e observando o
contexto que vivenciamos, percebemos que a escola se encontra em uma fase
de transição entre a proibição e a adaptação das novas tecnologias, uma vez
que nossos alunos são nativos digitais e nós professores ainda não. O
propósito também foi tentar nos adaptar ao mundo que nos é posto, mas essa
não é tarefa fácil.
A intervenção pedagógica foi realizada em uma escola estadual, onde
identificamos muitos alunos com significativos problemas sociais e econômicos.
Um número representativo dos alunos investigados ainda não possuem
computadores e consequentemente, menos acesso a internet, muito distante
das médias estatísticas nacionais. A falta de manutenção dos computadores no
laboratório de informática da escola e as constantes quedas da internet
desestimulam qualquer iniciativa neste espaço físico. O fato não é exclusivo da
escola investigada, podemos encontrar estes problemas na maior parte das
escolas da rede pública do Paraná. A aplicação da WebQuest, apesar de todas
as dificuldades, foi desenvolvida adequadamente, contando sempre com o fato
de que os alunos estavam estimulados, portanto com paciência para os
imprevistos que ocorriam.
Portanto, mesmo diante das dificuldades encontradas, verificamos por
meio das reflexões e observações realizadas durante o desenvolvimento da
implementação pedagógica, que a metodologia WebQuest é uma ferramenta
eficaz e prática para o desenvolvimento formativo do aluno. E, neste caso, é
fato que a WebQuest ajudou a melhorar o interesse pela investigação, a
curiosidade e a leitura, uma vez que em cada etapa da WebQuest os alunos
realizaram diversas leituras de textos, de imagens, de mapas, de tabelas e de
vídeos. Isto proporcionou aos alunos a imaginação e articulação em equipe de
textos em que a habilidade na escrita foi sendo lapidada e uma reflexão
interpretativa mais crítica diante das leituras realizadas.
No entanto, nem todos os alunos conseguiram realizar as etapas
conforme havíamos planejado. Alguns alunos apresentavam dificuldades e, até
mesmo medo em manusear as ferramentas disponíveis, o que evidenciou a
necessidade de maior cuidado com o domínio das ferramentas tecnológicas. O
que para alguns ainda é um mundo a ser descoberto, portanto o processo para
se finalizar foi um pouco mais demorado, mas satisfatório dentro do contexto
das dificuldades encontradas. De modo geral, foi visível verificar uma interação
entre os alunos, entre o professor e os alunos, tendo em vista que as
atividades foram desenvolvidas em grupos. Os alunos não perderam tempo
procurando informações que não eram relevantes para resolução do caso
diante da imensidão de informações, o avaliamos como um ponto positivo da
WebQuest, evitando a perda do foco. Com isso, podemos dizer que os alunos
puderam expressar sua criatividade por meio da escrita da carta, colocando-se
como sujeitos históricos e incorporando o personagem solicitado na tarefa.
Na resolução da WebQuest e na entrevista realizada pelos alunos foi
possível perceber a importância de conhecerem elementos históricos da região
em que vivem, como foi o caso do cultivo do café, uma das principais
atividades econômicas desenvolvidas em Iretama entre as décadas de 1960 a
1980 e que atraiu um grande número de migrantes, especialmente da região de
Minas Gerais.
Por fim, podemos considerar que a utilização da internet é um desafio
que professores, escolas e as famílias terão que enfrentar neste século, pois
não temos como permanecer alheios a esse mundo amplo e atraente para os
alunos. Os nossos alunos conhecem, em sua maioria, muito bem esses
recursos e, portanto, é preciso explorá-los para que alcancem resultados cada
vez mais consistentes, deixando o estudo mais envolvente e agradável, sem
perder a serenidade e a busca por uma aprendizagem histórica mais eficaz.
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