Onde Eu Poderia Estar - Victor Prado

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victor prado onde eu poderia estar edição independente

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tudo isto é um esforço. não vazio. não único. não pioneiro. é meu esforço para fazer algo com as vozes que roubei. é meu esforço para fazer algo. não para sair de onde estou, mas para vislumbrar onde eu poderia estar. Ed. Independente: Franca - SP, 2016, 54 p.

Transcript of Onde Eu Poderia Estar - Victor Prado

  • victor prado

    onde eu poderia estar

    edio independente

  • ondeeu poderiaestar

    Edio Independente

    victor prado

  • PRADO, Victor, 1995-Onde eu poderia estar / Victor Prado Franca,

    So Paulo: Edio Independente, 2016.52 p.

    Livreto digital

    1. Poesia brasileira. 2. Fotografia I. Ttulo.

    Capa / Contracapa: Victor Prado

    Diagramao / Edio: Victor Prado

    Organizao: Juliana Previato1

    Introdues: Aline Zouvi2 e Bruno Csar3

    Fotografias:

    1. Aposto, por Juliana Previato2. Eu n2, por Victor Prado3. Unicidade, por Juliana Previato4. Sombras n4, por Victor Prado5. Ela n1, por Victor Prado6. Sombras n1, por Juliana Previato7. Ela n3, por Victor Prado8. May Our Bodies Remain n2, por Juliana Previato9. Ela n2, por Victor Prado

  • antes de tudo Vduas vises sobre onde estou VIpor Aline Zouvi VIIpor Bruno Csar IX

    sair de casa morrer 12I must learn 13julgamento de valor 14

    lembro que eram dias assim 16ecdise 17

    equidistncia camuflada 20

    cano do corao distante 23

    ela a minha caligrafia 25solidez 26

    anamorfismos 29I want to write you a letter 30

    decifra-me ou devoro-te 32(a orbe de) Cronos 34fugaz 35

    nos consumimos 38da saudade 39naufraga 40de vestido, Tereza dana 41ciranda de ritmo quebrado 42talvez 43as vezes eram o espao 44

    para Juliana 46

    depois de tudo 50sobre o autor 51outros locais onde estou 52e

    mr

    es

    um

    o

  • Vtudo isto um esforo. no vazio. no nico.no pioneiro. meu esforo para fazeralgo com as vozes que roubei. meu esforopara fazer algo. no para sair de onde estou, maspara vislumbrar onde eu poderia estar.

    a n t e s

    de

    t u d o

  • duas visessobreonde estou

  • VII

    A escrita consciente de si, e suas imperfeies so a sua maior fonte de energia.Imperfeies, estas, que nos ajudam a criar o significado das coisas; prolongar a sua existncia e reincidncia em ns. Na poesia de Victor Prado, o sentido tem variadas origens: a lembrana, os lobos, os regatos em nossos pulsos, as pausas. Preenchido pelo silncio, que a todo tempo procura evitar, onde eu poderia estar , de maneira muito positiva, umlivro sem promessas. Um livro que se aceita

    Tu me sabes, e isso me assusta

    porA l i n eZ o u v i

  • VIII

    enquanto corpo, de encontro ao outro: dana deparadoxos em harmonia, trabalho com as vozesroubadas dos outros, que alimentam a nossapoesia diria. Em dilogo com as fotografias que soapresentadas ao leitor, carregadas, elas tambm,de uma observao sem medo do leitor que asexplora, os textos, ora em poesia sem metro, ora em prosa fragmentada, constroem um todo queexpressa o potencial de organizao e controlesobre a obra que o autor independente tem em sua primeira publicao. Onde eu poderia estarrene constataes poticas sobre os nossos maisinternos e primitivos sentimentos, reconstruindo as nossas primeiras mortes durante a leitura seus temas tornam a identificao incontornvel e a reflexo seimpe, irresistvel.

  • IX

    J conheo o autor deste e-book h algum tempo: foi meu aluno no Ensino Mdio, sendo assim, sempre fui leitor de seus poemas. Lembro-me quevinha com ares animados me mostrar sua poesia.Poesia diferente do tradicional. Se voc, amigoleitor, est acostumado com os versos de Olavo Bilac,Castro Alves e Alphonsus de Guimaraens com seuspoemas bem estruturados, a busca pela rima perfeita, a mtrica exata, eis que encontrar um novo conceitoVictor Prado desconstri para construir. Uma poesiaousada que desafia certos paradigmas que

    - Victor Prado desconstri paraconstruir.

    porB r u n oC s a r

  • Xaprendemos ao longo da vida acadmica. Reflexivo.Provocativo. Tnue. Assim, ele vai ziguezagueandopelas letras, pelos versos, pelas estrofes (encontre-os se puder) a fim de envolv-lo neste mundo em que ler vai alm de decodificar signos.

    Seu jeito peculiar de escrever atrai pelaesttica diferenciada que chama a ateno, mastambm pelo contedo abordado por ticasdiferenciadas, como em fugaz. Cada elementopensado, articulado e colocado mequestiona: onde eu poderia estar?

    Lendo este livro, lembrei-me do referenciado artigo de talo Calvino, Por que ler os clssicos? (1993), que faz seu fechamento com a seguinte fala de Cioran, pensador contemporneo italiano:

    Enquanto era preparada a cicuta, Scratesestava aprendendo uma ria com a flauta. Para que lhe servir?, perguntaram-lhe. Para aprender esta riaantes de morrer.

    Desse modo, nunca tarde para(re)aprender algo e com os textos aqui presentes, fica o convite para (re)descobrir-se leitor. o desafiode onde eu poderia estar.

    No vou me delongar em minhas palavras, mas quero deixar a voc, leitor, uma pequena e humildesugesto: se voc est buscando uma obra ousada,por que no fazer uma leitura ousada? H mais de uma forma de ler os textos de Victor.Boa leitura!

  • XI

  • 12

    sair de casa morrer.e esta a segunda vez que eu morro.mas a primeira vez foi diferente. foi outra morte.as primeiras vezes so sempre piores.a primeira vez foi morrera infncia.

  • 13

    My head spinsand spinsand spins

    and spins and spins and spins

    No tenho labirintite mas di perder o choa cabea o corpo o tempo

    do mesmo jeito.

    I must learn how to forgive (note to self)

  • 14

    julgamento de valor

    quase lamparina que serve para iluminar,mas que tambm incendeia

    1.[

    Iluminarjogar luz sobre

    ]

    Comeo,dessa vez ser do jeito certo:

    o direitodepois o esquerdo,sempre em frente.

    2.meus olhos, nas costasminha cabea, nos ps

    3.Seguimos trilhas imaginriasNossas respostas tm perguntas erradas.

    Ento, acreditamos.

  • 15

  • 16

    Lembro que eram dias assimcheios de troves

    e as vozes saam das janelase eram to midas

    que nem pareciam vozes,mas no sei o que

    seriam se no fossemvozes

    E gosto tanto dessas lembranas.

    ( esses poemas so paraserem falados,que em silnciono existem )

  • 17

    ec d i s e

    1.em milagres faria intervenestransformaria as perdasem pedras palpveis e membros fantasmasem ambiguidadese logo cada caminho seria recrutado por determinismosna poca das moscas e aranhas

    de observadores so os muros e os matosde barulhos embrulhados permanece o arcada criana corre sua vidae se apressa no desmanchar do casuloem desfazer seu ninhono deslembrar de seu nichomasos lobos guardamcaminham calmosos lobos sabem empacotar vontades

  • 18

    2.montanhas no existem por aquios rios cortam mais que lminastu no s peixe nem anfbio nem rptile esse teu corao pulsa nas mospulateu corao puladele saem regatos por teu pulso

    o centro de tudo consequnciapor isso generalizaes se formam

    3.os quero-queros no representam anseiosmas insistemno me representamno insisto

    na pressa os pse o leitechoramos a dor e o derramadono cho as coisas esto no mesmo planomas existem coisas que no so coisasassim como aqueles regatos insistem em sair por teu pulso

    as horas veiam a presenae embrulham o dia com jornais antigoscozinham a existncia em etileno

    4.na minha continuidade as pausas so necessriaspra remontar cus azuis de dias regularespra que o fio da meada no me perca

    nas presas achamos paresprincipalmente quando elas retiram suas fantasias.

  • 19

  • 20

    tringulos e crculos

    tudo que eu sempre quero voco que sempre souporqueessa equidistncia entre as palavrase a falta dos sons que a falta da sua voz fazesto camufladas

    e o tempo me fornece esconderijosque to arduamente ajudei a construirmas o momentoos instantesimpiedosamente me mostram

    furto a tua foramas sei que ela nunca ser minha

    equidistncia camuflada

  • 21

    furto minhas palavras e as entrego ao silnciopratico inefveis aese confundosbrio da falta que soue incapaz de ser presena

    (perdode mim para mim)

    distncias nunca so iguaismas se camuflam de univitelinas.

  • 22

  • 23

    dos tempos passadoscom a aparnciaenvelhecida

    os risos secosas plpebras midas

    somos issosomos paradoxos

    cano do corao distante

  • 24

  • 25

    ela a minha caligrafia e o som da minha voz

    Ela a minha caligrafia e o som da minha voz

    Ela

    o que h

    Ela eu

    E eu sou silncio eeco

    salo vazio

  • 26

    s o l i d e z

    Meu argumento reside em meu olhar,minha aflio retida na falta,

    na ausncia,

    no forar da mandbula.

    E quando espelho, presto atenonos movimentos em potncia,

    no desperceber,no notar sem querer.Tu sempre escorregas,mas teus escorregos no so suficientes de riso.

  • 27

    Te observode fininho, que olhar brincadeira de mo.Te observo, que falar impreciso quando somos reflexo.Assisto em quadros a concretizao,a montagem irreversvel da memriae falo a ti dos caminhos a percorrer.

    Te contaria em metrosminha busca.Ento nossa capa nos esconderia e meusescombros seriam reflexos-alucinaes em teus olhos.

    Te contaria em brancomeus quereres:

    quero-te slidaquero-te viva em minhas mosminha boca saliva na memria de tiquero-tequero-tequero-tenada mais nada mais nada mais.

  • 28

  • 29

    um sonho. uma vida num sonho. ento eu morro edescubro que amanh tera-feira.poderia ser o fim. o fim do mundo. o meu fim. mas sempre um ciclo. e depois que eu morrer, de novo, vai ser quarta-feira. poderia fazer inmeras analogiasusando infinitas palavras. mas essas aes,esses percalos e solues. essas aescotidianas e tambm outras inesperadas so anamorfismos. podem no ser.pralgum que eu no sou. mas pralgum queeu sou, elas soanamorfismos. impossveis.

    a n a mo r f i s mo s

  • 30

    I want to write you a letterwith voice

    my voiceand body

    my shapeand soul

    The ages to come toare dust to

    the desert

    that is my desire

  • 31

  • 32

    E ela vinhasentava ao meu lado

    e diziaao meu ouvido

    num sonho que no tive, e quepor isso se fez

    necessrio que euo imaginasse

    Num quarto infinitoperto de ondeo verbo est

    escondido,estvamos

    E a ciranda de ritmo quebrado

    decifra-me ou devoro-te

  • 33

    ressoavaEla ao meu lado

    nua e pura

    Ento o eterno relanceentre o

    dito e oa se dizer.

  • 34

    Devoro-te de presas arcaicas:Dentes de granito inteis emTua horda porosa

    ;Tu consomes lixiviaes

    ;Fao ressalvas:No me salvarei,

    Antes,engolirei a mim mesmo.E a ti tambm.

    (a orbe de) Cronos

  • 35

    Te observo,de noitesj.

    Te olho e significo-te.

    H tantas vezes na mesma imagem

    [Tanta imagem]...

    e cada uma assume certa significncia.

    Rogo-te, assombro tuas lembranas em mime de paisagens te remonto.

    Imagens so lembranas.

    fugaz

    difcil a luta contra o desejo,pois o que este quer, compra-o

    a preo da alma

    - Herclito

  • 36

    Maleveis, moldveis.Cabveis;Sou vasilhame e j no comporto em mim a tua existncia;ento, em tudo te transbordo:

    Desde a esquina dos olhosat a inconscincia.

    Devoro-te com preciso.

  • 37

  • 38

    Nos consumimosnos pequenos cantos

    - da bocados olhos

    - de ns

    Sobrevivemosaospoucos

    Em silnciosufocamosem nossa alma

    No sentimentoque no vomitamos.

  • 39

    risosdoces e amargos

    O sono e a lentido

    porque s vezes o tempo parae a gente continua a passar.

    da saudade

  • 40

    naufraga

    nufragabela

    to belanaufraga

    e ao mesmo tempose lembra

    Esquecee levita

    dana tua vidaaquiagora

    depoisj no existe

    amanh.

  • 41

    de vestido, Tereza danadescala

    Cabelos anoitecidos em ondaspreenchem a atmosfera em vermelhoque contrasta a pele em noite

    Buracos-negros absorvem os momentos com olhares infinitos-profundos.

  • 42

    como correr em cirandaessa vida

    sempre quase mortenunca quase vida

    pois j .

    ciranda de ritmo quebrado

  • 43

    Talvezdepois do Boa noiteas estrelas perderiamo foco

    no h palavras

    Ento,o eterno relanceentre a queda e

    o cho.

  • 44

    as vezes eram o espaoentre os sonos.as vezes eram os gritosentre os sonhos,

  • 45

  • 46

    para Juliana

    1. estranho dormirsem os cachorros latindo.

    estranho esse exerccio mentalde relembr-los.

    Me acostumei a dormir sozinho no escuromas o silncio excruciante.

    #Teu silncio sem matria

    excruciante

    (Teu silncio sem corpo)

    #Sem corpo teu silncio possui rbita

    em torno de mim.2.O mundo regira infinitoenquanto eu canto refrigrios pra acalmar

  • 47

    minha alma

    eu desmonto desse potro-tempodessa comiserao que so as lembranas

    so esmolas

    e me deixo acomodar no aconchego

    me deixo definhar esperandoa gente cansa de esperar, (mas t demorando pra isso

    acontecer comigo)

    Ento saio,pra me esconder

    3.Ah, teu olhar

    (tu me sabes,sabes que faria igual o gato que me deixou

    Justo eu, que acreditei no cretinoque o acolhi e ignorei meu desgosto por gatosque o deixei morder os dedos e arranhar os braos

  • 48

    tu sabes que eu faria igual a eleque me deixou por uma gata)

    Tu me sabes, por isso no te olho.

    Frustra-me.

    4.Num passe de mgicaretorno envolto em neblina

    um cochichar sufocante, tu, um cochilar que espero hanos para que acorde numa manh sem sonhosintranquilos e olhe ao lado e no veja pedaos perdidosjuntados remodos extraviados descontextualizadosmarginalizados refragmentados e sem organizao alguma

    o passe de mgica foi colocar a mo no cu.

    5.So algumas horas daqui pra le nem conto os metros

    meus contos so egostas e preciso reaprender no vento

    Tu me sabes, e isso me assusta.

    Sei o teu silncioo sei em mime dele meu peso e minha significao.

    6.Eu te sei. E isso me vive.

    Que nem quando a gente aprende sem decorar.

  • 1_ Juliana Previato, 20, atualmente reside na cidade de Franca - SP, onde cursa Direito pela UNESP.

    2_Aline Zouvi escritora e pesquisadora. Formada em Estudos Literrios pela UNICAMP, onde atualmente cursa mestrado em Teoria e Histria Literria. Publicou, pela Ed. Medita, seu primeiro livro de fragmentos e poemas, Em Segunda Pessoa, em novembro de 2013. Contato: [email protected].

    3_Bruno Csar Conceio professor de Lngua Portuguesa,Literatura, Tcnicas de Redao e Lngua Espanhola nas redes particular e estadual de ensino. Atualmente, leciona em escolas de Ensino Fundamental e Mdio e, tambm, no EnsinoSuperior. Habilitado em Letras Portugus/Espanhole suas Respectivas Literaturas e Ps-graduado em Literatura e Lngua Portuguesa. Contato: [email protected]

    4_este e-book foi criado com as tipologias Adam.cg pro,Bitstream Vera Serif, Calibri, Dense, Lato, League Gothic, Jura e Oranienbaum nas dimenses 500 x 700 px, em formato PDF.

    5_este e-book licenciado atravs da Licena CC Atribuio No Comercial-Compartilha Igual 4.0 Internacional.

    6_voc pode adquirir a verso fsica deste livreto atravs do site: temporario-ctrlv.lojaintegrada.com.br.

    d e p o i s

    de

    t u d o

  • s o b r e

    o

    a u t o r

    Victor Prado autor do livreto digital Mamute (2014, edio independente), da srie de videopoemasEntende? (2014, produo independente), dolivreto fsico Mamute - edio ampliada (2015,edio independente) e do vdeopoema Epopeia (2015, edio independente). Possui poemas emedies do Canal SubVersa, da Revista Grito,do Portal Guata, do Jornal RelevO, da RevistaMallarmargens, da Revista 7faces, da RevistaEscrita, na Enfermaria6 e na Diversos Afins.Mantem o blog ctrlvctr.blogspot.com.br.Atualmente reside em Franca (SP) epossui uma lojinha virtual< t e m p o r a r i o - c t r l v . l o j a i n t e g r a d a . c o m . b r >.

  • o n d e

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  • Franca

    janeiro de 2016