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71 Educação a Distância, Batatais, v. 2, n. 1, p. 71-87, junho 2012 O uso do podcast no ensino a distância do Centro Universitário Claretiano Lícia Frezza Pisa 1 Resumo: O objetivo do presente artigo é fazer um breve estudo sobre a criação e dispo- nibilização dos podcasts na área da educação, especialmente na educação à distância do Centro Universitário Claretiano de Batatais. Para isso foi feita uma pesquisa em que se buscou analisar a utilização do áudio (oralidade) na educação e do áudio em formato de podcast, com as características midiáticas, interacionais e de portabilidade. Posteriormen- te foi feita uma pesquisa qualitativa - de observação direta e extensiva -, com os alunos para saber como o podcast era visto por eles. Como resultado da pesquisa, grande parte dos alunos opinaram positivamente com relação ao uso dessa ferramenta. Palavras-chave: educação, podcast, Centro Universitário Claretiano de Batatais. 1 Mestre em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Especialista em Design de Multimídia pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Graduada em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Franca (UNI-FACEF). Coordenadora do setor de Vídeoaulas e Tutora do Centro Univer- sitário Claretiano de Batatais (SP). E-mail: <[email protected]>.

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O uso do podcast no ensino a distância do Centro Universitário Claretiano

Lícia Frezza Pisa1

Resumo: O objetivo do presente artigo é fazer um breve estudo sobre a criação e dispo-nibilização dos podcasts na área da educação, especialmente na educação à distância do Centro Universitário Claretiano de Batatais. Para isso foi feita uma pesquisa em que se buscou analisar a utilização do áudio (oralidade) na educação e do áudio em formato de podcast, com as características midiáticas, interacionais e de portabilidade. Posteriormen-te foi feita uma pesquisa qualitativa - de observação direta e extensiva -, com os alunos para saber como o podcast era visto por eles. Como resultado da pesquisa, grande parte dos alunos opinaram positivamente com relação ao uso dessa ferramenta.

Palavras-chave: educação, podcast, Centro Universitário Claretiano de Batatais.

1Mestre em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Especialista em Design de Multimídia pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Graduada em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Franca (UNI-FACEF). Coordenadora do setor de Vídeoaulas e Tutora do Centro Univer-sitário Claretiano de Batatais (SP). E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

O contexto educacional a distância quebrou paradigmas. Mostrou que é possível ensinar e aprender sem dividir o mesmo espaço físico, bem como recriou o contexto social de interação e de trocas de informações, experiências e conhecimentos. A tecnologia, portanto, é um fator pri-mordial para a oferta de cursos à distância, pois, à medida que as TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação) foram se aperfeiçoando, as possibilidades de instrumentos mediadores de aprendizagem, materiais multimídia e ambientes virtuais de interação síncrona e assíncrona deram maiores possibilidades para se ensinar à distância.

A EAD no Brasil ajuda a democratizar e ampliar o acesso à educação superior no país, que possui dimensões continentais e grandes diferenças regionais. O apoio dado pelo Ministério da Educação como o Programa Universidade Para Todos (Prouni), o Programa de Apoio a Planos de Re-estruturação e Expansão das Universidades Federais (ReUni) e a UAB (Universidade Aberta do Brasil) ajudam a ampliar as oportunidades de ensino.

Para Aronchi (2009),

[...] a base para o EAD está preparada, mas falta o grande salto que é dado agora pela convergência digital e pelo desenvolvimento do sis-tema tecnológico de produção, transmissão e recepção [...]. O MEC já começou a avaliar os cursos EAD que estão sendo oferecidos no Brasil. A instituição que não investir na qualidade e apresentar dife-renciais vai ‘perder o trem’.

Estamos vivendo a terceira geração da EAD, que teve início nos anos 90, e que se utiliza ainda dos meios impressos, programas de áudio e vídeo distribuídos via cassetes ou via antena (broadcasting) e a principal inova-ção é a utilização de programas interativos informatizados (em substitui-ção do meio impresso), redes telemáticas (bancos de dados, e-mail, lista de

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discussão, sites, etc) e CD’s ROMs didáticos.Segundo Belloni (2003, p. 57):

Quanto à seleção dos meios técnicos mais adequados, uma tendência que aparece com força é a diminuição do uso de materiais divulgados através de meios de comunicação de massa (broadcasting) e a cres-cente utilização de material de uso pessoal (self media), tais que fitas cassetes, CD ROMs, disquetes.

Continuando a delinear as novas tendências para ead de uso pes-soal e, tendo como pressuposto a portabilidade, podemos citar o uso de MP3, MP4, Ipod, iPhone para baixar conteúdos e utilizá-los da maneira que convier à cada aluno, como também o self media, que tem o objeti-vo de confeccionar materiais condizentes com o perfil de cada curso e de oferecer materiais adicionais para a formação dos alunos e, como aponta Filatro (2008), é uma tendência apresentar ferramentas que atendam às necessidades específicas do curso ou conjunto de alunos e que possam ser utilizadas em diferentes contextos.

Desse modo, a utilização do podcast vem atender a essa demanda de materiais portáveis, self media, para uso em diferentes equipamentos e que atendam às necessidades específicas de discussão dos cursos e que possam fornecer informações adicionais. Para Moura e Carvalho (2006, p. 158) “[...] a flexibilidade espacial e temporal, no nível da gestão individual dos momentos e espaços de aprendizagem, é um dos contributos que o podcast vem trazer ao cenário educativo”.

2. USO DO ÁUDIO NA EDUCAÇÃO

As relações humanas estão pautadas, desde o desenvolvimento da fala pela oralidade. Segundo Vanassi (2007, p. 37): “O som faz parte de nossas vidas, crescemos acostumados com ele e através dele podemos nos comunicar, recebendo e transmitindo informação. Com sua ajuda assimi-

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lamos e interpretamos o mundo, indistintamente e naturalmente, desde jovens”.

A oralidade sempre teve papel fundamental na educação enquanto transferência de conhecimento. Para Baumworcel (2002), em todo este processo histórico educacional, no entanto, a oralidade enquanto recurso fundamental da relação professor-aluno esteve presente.

Na Grécia Antiga, a expressão oral era difundida pela memória e pelo uso de formas ritmadas, associando a dança, a poesia e o canto para que a informação fosse passada de geração para geração. Nas escolas filo-sóficas do século IV a.C. o ensino era por meio de aulas expositivas, orais, porém registradas pelos discípulos. Na Idade Média, na Renascença e até no século XIX, ainda era pela oralidade, por meio da leitura em voz alta que se transmitiam as informações. Como coloca Baumworcel (2002, p. 05), ainda era pela audição que se adquiria conhecimento, “[...] ou seja, havia uma relação de dependência entre a audição e a visão de forma que estas se complementavam”.

Com o humanismo o diálogo e a conversação se tornaram importan-tes meios de se obter a troca de experiências e idéias. Na sociedade indus-trial, a demanda por mão de obra especializada torna a busca educacional maior e com isso a necessidade de se utilizar os meios de comunicação de massa para transmitir informação. Um exemplo foi o uso do rádio da região nordeste do Brasil, em que João Ribas da Costa planejou as Escolas Radiofônicas brasileiras que tinha como prioridade a educação (alfabeti-zação) de adultos. Outra experiência com o áudio é na UNED (Univer-sidade Aberta da Espanha) que utiliza programação de rádio (AM, FM e na internet), nos finais de semana com horários específicos destinados a diversas disciplinas, cultura e vida acadêmica.

A utilização do meio impresso ainda é predominante e poucos in-vestem no áudio, porém com as novas fusões de tecnologias e de práticas de transmissão de conhecimentos é necessária uma revisão nas práticas de ensino, pois isso é uma conseqüência natural dessas novas possibilidades oferecidas pelos meios de comunicação.

Com relação ao uso do áudio, Baumworcel (2002, p. 07) coloca:

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[...] não é mais possível subestimar a potencialidade do áudio em ple-no século XXI, quando o rádio já comprovou sua eficiência sobrevi-vendo às mídias que o sucederam. O som “humaniza” o computador, que passa a falar. A voz traduz emoções e a audição provoca sensações no receptor envolvendo-o.

Caracterizando de maneira geral o uso do áudio e buscando especifi-cidades para o mesmo, Belloni (2005, p. 7) diz que: “[...] pode-se, talvez, falar de diferentes níveis de interatividade e de “imersão perceptiva”, nes-sas realidades (virtuais), do mesmo modo que McLuhan falava em meios “[...] quentes e frios”. Desse modo, McLuhan propunha que o rádio (meio audível) era um meio frio, pois utiliza apenas um sentido, a audição e, sendo assim, a retenção da atenção seria maior. A partir do momento que dividimos a nossa atenção com a inclusão de mais sentidos em um único meio, como na TV (visual e auditiva), a nossa retenção é menor, se tor-nando um meio quente.

Outra característica do áudio é tratada pela semiótica (PEIRCE apud SANTAELLA, 2005, p. 105), que, analisa-o como matriz sonora de linguagem e pensamento e assim o classifica:

O som é airoso, ligeiro, fugaz. Emanando de uma fonte, o som se pro-paga no ar por pressões e depressões, percorrendo trajetórias, sujeitas a deformações, cujos contornos e formas nunca se fixam. Vem daí a qualidade primordial do som, sua evanescência, feita de fluxos e re-fluxos em crescimento contínuo, pura evolução temporal que nunca se fixa em um objeto espacial. O som é omnidirecional, sem bordas, transparente e capaz de atingir grandes latitudes. Não tropeçamos no som. Ao contrário, ele nos atravessa.

Desse modo, percebemos que o som, encarado como áudio, rádio e atualmente como webrádios e posdcasting deve ser visto como forma parti-cular de retenção e de possível imersão de informação e deve ser especial-mente pensando para a Educação à Distância, visto que, o material didáti-co mediacional ou o material de apoio, utilizando o recurso do áudio pode

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contribuir para resgatar a oralidade enquanto relação professor-aluno.

3. PODCAST

A palavra podcast vem da junção de Ipod, da Apple, empresa que criou inicialmente os aparelhos de mídia digital e cast de broadcasting (trans-missão) de imagens e sons. Essa tecnologia é de crédito do programador Dave Winer e de Adam Curry (ex-vj da MTV), que desenvolveu o pri-meiro agregador de podcasts, o iPodder.

O podcast é um arquivo de áudio em MP3, AAC ou OGG (o MP3 é o mais comum) postado em algum servidor da internet. Ele pode ser as-sociado a um feed RSS, que avisa quando novos podcasts foram postados. Segundo Oikawa (2005, p. 02)

A maioria dos arquivos de podcasting tratam de áudio captado de eventos no formato “talk show”, mas sua utilização pode ser estendida a músicas e outras situações como trechos sonoros de programas na televisão, cinema e grupos de conversação, notícias, informações de interesse específico, aulas e palestras. Os podcasts constituem, assim, suporte material para a fixação de composições musicais, conferên-cias, alocuções e outras obras intelectuais protegidas pela Lei de Di-reitos Autorais – LDA (Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998).

Outras classificações semelhantes são colocadas por diferentes auto-res como Medistch (apud VANASSI, 2007, p. 52) que “classifica modelos de difusão de áudio como o do podcasting como sendo um tipo de serviço, na verdade, fonográfico, não se caracterizando como radiofônico por não ser emitido em tempo real” e por Primo (2005, p. 1) em que “podcasting é um processo midiático que emerge a partir da publicação de arquivos de áudio na Internet”. Esses arquivos de áudio podem ser trechos de progra-mas de TV, palestras de universidades, opiniões sobre determinados as-suntos postados em sites, em blogs, plataformas específicas com arquivos de áudio, etc.

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Hoje, o podcast é bastante utilizado, pois há a facilidade em se produ-zir um arquivo de áudio, pois não é necessário produção em estúdio, basta em computador com placa de som e um programa para gravar o áudio e também há a facilidade em disponibilizá-lo em diferentes interfaces na internet, como em sites, blogs, plataformas de aprendizagem, etc. Outro fator que facilita o uso do podcast é a portabilidade, sendo possível ouvir, tanto por meio do computador quanto em mp3, mp4 etc.

O podcast pode ter utilidade tanto educativa quanto comercial. A empresa de pesquisa norte-americana, Emarketer, relata que os investi-mentos em propaganda dentro dos arquivos de podcast nos EUA em 2008 deveriam chegar a US$ 240 milhões.

O podcast também pode ser utilizado dentro de empresas como ações de endomarketing ou para o treinamento de funcionários. No Cen-tro Universitário Claretiano, alguns treinamentos são disponibilizados em formato podcast por meio da Sala de Aula Virtual.

Na educação, o podcast é utilizado em algumas universidades ameri-canas para atrair os alunos, apresentando-o como um diferencial. A UC Berkeley e Stanford já ofertam cursos inteiros em podcast.

Em 2005, as universidades de Standord, Duke, Berkeley e Wiscon-sin-Madison, participaram de um projeto piloto para criar o iTunes U “o campus que nunca dorme”. Essas universidades oferecem gratuitamente os conteúdos de palestras, aulas, debates, discursos, etc. Com isso perce-bemos que, o que é novidade no Brasil já é utilizado como algo comum e corriqueiro nos Estados Unidos, pois os professores disponibilizam seus arquivos digitais de áudio em seus próprios sites ou em páginas como iTu-nes U da Apple ou UChannel, da Universidade de Princeton, que reúnem material de diversas universidades.

Os cursos English as a Second Language Podcast, para alunos estran-geiros e o TOEFL Podcast, para exame de proficiência, oferecem gra-tuitamente arquivos em podcast de conversação para os interessados em pronunciar corretamente as palavras e ter noção da cultura da língua. No iTunes, no site da Apple, é possível baixar cursos de línguas, como italiano, espanhol, francês e alemão, na sessão podcast.

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No Brasil já existe uma associação de Podcast, é a ABP - ASSOCIA-ÇÃO BRASILEIRA DE PODCAST. Ela foi iniciada em 2006 e sua proposta é que qualquer usuário, desde que cadastrado, possa postar seus podcasts de qualquer natureza. A associação ainda promove um festival com premiações para diversas categorias de podcast.

Podcast é uma evolução tecnológica que pode servir para alavancar e apoiar as antigas e/ou tradicionais formas de educação, mas também, a ela, está reservada a possibilidade de transformação da aprendizagem. Como essas tecnologias modificam a sociedade, elas modificam também as escolas e universidades e caminham para modificar a conduta e postura do professor que, no caso da EAD já é uma realidade, pois este se encontra como tutor cooperador, colaborador, pois tende a encontrar um aluno mais autônomo.

A contribuição do podcast para a educação a distância é a flexibilidade do tempo e da administração pessoal dos momentos de aprendizagem.

3.1 Podcast enquanto Mídia

Podcast pode ser encarado como uma micromídia, pois visa a um pú-blico restrito em busca de assuntos específicos, diferente da macromídia que apresenta uma comunicação de massa, muitas vezes com informações de cunho mercadológico. O podcast, por isso, é “puxado” pelos recepto-res quando desejam uma informação, caracterizando assim a tecnologia “pull”. “Essa é a diferença entre o que se convencionou chamar de tecno-logias push (o conteúdo é empurrado até a audiência) e pull (o conteúdo é puxado pela audiência (PRIMO, 2005, p. 12).

Nesse sentido, o uso do podcast para educação se caracteriza como uma micromídia, pois é um meio de baixa circulação perante o todo e atende às necessidades de um público específico, tanto no que diz respeito a Instituições como em relação a cursos distintos. Porém, esses públicos estão interconectados ao buscarem conteúdos de mesmo interesse e, por conseqüência, tem a possibilidade de discutir o que foi ouvido.

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Assim, Primo (2005, p. 02) destaca o podcast para a educação à dis-tância:

Na veiculação de conteúdos educativos/formativos, como recurso mediático para educação a distância em se tratando de módulos e te-mas disciplinares ou interdisciplinares, deve-se entender o podcasting como uma micromídia, desta forma, cabe considerar os pressupostos da comunicação social em relação aos princípios didático-pedagógi-cos estabelecidos em teorias de aprendizagem, em especial aquelas que levam em consideração o uso da informática na educação.

3.3 Podcast enquanto Interação

As possibilidades de interação são várias, dependendo da interface em que foi postado e qual a sua natureza.

Na educação, em particular na EAD, o podcast pode mediar diversos assuntos e pode ser de caráter dialógico por permear discussões assíncro-nas. Voigt (apud FILATRO, 2008) aponta os podcasts como apresentação para discussões, para ouvir ou produzir conteúdos apresentados em for-mato de áudio.

A intenção ao buscar um podcast é de ter a informação imediata, pronta para ser ouvida. E a vantagem para a EAD é que os conteúdos es-tão disponíveis e devem ser tanto esclarecedores como instigadores, sendo uma iniciativa para a reflexão e o pensamento e, com isso, aumentar as possibilidades de ensino-aprendizagem, pois para Levy (2001), um recep-tor de informação, salvo morto, nunca é passivo.

Primo (2005, p. 5) classifica o podcast para a Educação à Distância da se-guinte forma: “[...] modelo didático-pedagógico interacionista-dialógico as-síncrono mediado por tecnologias de informação e de comunicação digitais”.

Apesar da possibilidade de interação, ela pode ocorrer ou não. O alu-no pode se apropriar da informação e não querer discutir, não ter dúvida, não querer interagir com os outros. Dessa maneira, se faz necessário uma investigação de como o podcast tem sido utilizado pelos alunos.

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3.4 Podcast e Portabilidade

Como já foi mencionado acima, o podcast traz consigo a vantagem da portabilidade, que acaba por gerar maior autonomia, pois além de se escolher o quê e quando ouvir, usando os tocadores portáteis, temos as opções de stop e pausa, que faz com que tenhamos maior autonomia na hora de ouvir o conteúdo.

4. O USO DO PODCAST NO CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO DE BATATAIS

No modelo de Educação à Distância do Centro Universitário Clare-tiano é previsto o uso de audioconferência (para a interação entre alunos e tutores nos dias de encontro nos pólos), chamada de audioaula. As audio-aulas utilizam o Sistema de Audioconferência via Internet – SACONI (Figura 1), que além da transmissão de áudio direcionada a determinadas salas de aula, o sistema poderá contemplar as seguintes funcionalidades: a) sala de bate-papo para grupo de turmas, integrada ao SGA-SAV e des-tinada ao envio de comentários e perguntas; e b) programa executor de áudio para reproduzir em cada sala de aula a conferência do Tutor.

Todas essas transmissões são gravadas, assim como o histórico do chat de interação da audioaula. Desse modo, é possível fazer uma edição de acordo com as perguntas feitas no chat e o conteúdo de áudio. Essa edição de perguntas e respostas se torna um repositório de conhecimento que reproduz texto (pergunta) e áudio (respostas) postados em uma inter-face denominada Podcast na Sala de Aula Virtual.

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Figura 1: Diagrama simplificado dos agentes e componentes telemáticos da audioaula.

Fonte: Projeto Vídeo Audioaula do Centro Universitário Claretiano.

Essa ferramenta está disponível para os alunos EAD, presencial e para os funcionários, que ao acessarem essa ferramenta, encontrarão opções de filtros para facilitar a busca dos podcasts, como: palavra-chave, disciplina, professor e data.

Atualmente, o Podcast conta com um repositório com cerca de 1511 podcasts (arquivos em constante acréscimo) abrangendo 175 disciplinas dos 14 cursos que o Centro Universitário Claretiano oferece e a média diária de acessos aos podcasts é de 107,33.

Esse modo de postagem de podcast é entendido por Primo (2005, p.6) como enhanced, fragmentação, ou seja, ao invés de postar a aula toda, esta é editada por conteúdos, perguntas e respostas, “oferecendo um fluxo, um teor de conteúdo não linear”.

Dessa maneira esperarmos contribuir com material de estudo e pes-quisa para os alunos.

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4.1 Pesquisa

Com a ferramenta Podcast em andamento, o Centro Universitário Claretiano optou por analisar a forma de uso e aplicou um questionário para que os alunos respondessem algumas questões e o resultado foi o se-guinte:

- Quando perguntado se o podcast facilita a complementação dos es-tudos, 90,34% dos entrevistados responderam que sim. Isso demonstra que os alunos aprendem com o podcast.

- Quando perguntado se era utilizado o MP3 para ouvir o conteú-do dos podcasts, apenas 37,39% dizem utilizar esse recurso. A questão da portabilidade ainda é dependente de poder aquisitivo para a compra desse tipo de aparelho.

- 86,08% responderam que a aprendizagem é facilitada pelo podcast.

- Com o podcast, 83,47% responderam que o interesse em pesquisar temas da área de formação aumentou e 64,34% responderam que o pod-cast incentivou o aumento da interação entre tutores e colegas. Como co-locado por autores como Primo e Voigt, o podcast facilita a interação, pois muitas vezes traz reflexões que não foram pensadas pelos alunos, mas que é pertinente para a compreensão dos estudos em determinada disciplina.

- 71,30% acessam somente as disciplinas do curso que cursa e 32% acessam tanto as disciplinas do seu curso como as demais, visto que o pod-cast não tem acesso restrito.

- 92% responderam que o podcast facilita o aprendizado. Esse resul-tado pode ser conseqüência da oralidade do professor que aproxima o alu-no da sua fala, do seu discurso.

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Quanto à forma de acesso:

- 76,52% utilizam a busca por filtro disciplina.- 56% utilizam a busca por filtro professor.- 52,17% utilizam a busca por palavra-chave.- 34,78% utilizam a busca pelo filtro data.

Com isso se percebe que a maioria prefere buscar pela disciplina e um pouco mais da metade buscam por palavra-chave. A busca por pala-vra-chave pode ser entendida como uma busca mais imediata, em que o aluno procura por temas específicos.

Quando questionados sobre o conteúdo dos podcasts, 86% respon-deram que o conteúdo é satisfatório e a freqüência mensal com que aces-sam é de 70% quatro vezes ao mês (em média 1 vez por semana) e os ou-tros 30% acessam aleatoriamente, tanto diariamente quanto poucas vezes, como uma vez ao mês.

5. CONCLUSÃO

Conclui-se que a utilização de podcasts para Educação à Distância no Centro Universitário Claretiano é satisfatória, pois complementa e facili-ta o aprendizado, assim como proporciona o interesse em pesquisar mais sobre os temas e discutir com os outros alunos e tutores.

O podcast facilita a entrada de novas tecnologias no âmbito educativo por ser de fácil acesso, produção e distribuição e coloca o aluno em contato com a oralidade do professor, argumento de valor para o aprendizado.

O fato dos arquivos estarem disponíveis aos alunos a todo o tempo permite que os mesmos sejam ouvidos várias vezes, respeitando o ritmo de aprendizagem de cada aluno. Como coloca Carvalho (2008, p. 54):

A existência de algumas boas práticas, a nível nacional e internacion-al, levam-nos a considerar o processo do podcasting como uma forma

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eficaz de aproximar o aluno dos objetivos didático-pedagógicos que se pretendem ver alcançados, tendo em conta, não só a vertente atrativa e emotiva própria das ferramentas audiovisuais, mas também o lado pragmático da superação de dificuldades de nível espaço-temporal.

Desse modo podemos perceber com essa experiência e as experiên-cias internacionais que a contribuição do podcast é satisfatória tanto no sentido de aprendizagem quanto no sentido de liberdade e autonomia para se utilizar esse recurso. Um fator importante a ser considerado com relação ao uso do podcast é devido à oralidade, à espontaneidade da fala, que transmite certa proximidade e afetividade por meio da entonação.

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Title: Podcast on the use of distance learning of Claretiano University Center.Author: Lícia Frezza Pisa.

ABSTRACT: The aim of this article is to make a brief study on the creation and avai-lability of podcasts in education, especially in distance education at the Claretiano University. For this was a poll which sought to examine the use of audio (spoken) in education and the audio in podcast format, with the media characteristics, interaction and portability. Later was a qualitative research with students to learn how the podcast was seen by them. As a result of the survey, most students asked positively with the use of this tool.Keywords: Education. Podcast. Claretiano University Center.