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Campina Grande, REALIZE Editora, 2012
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O USO DA LEITURA COMO ESTRATÉGIA PARA O ENSINO
CONTEXTUALIZADO DA GRAMÁTICA
Gerivaldo Matias de Sousa
Aluno do 8º período do curso de Licenciatura Plena em Letras
da UESPI – Campus Prof. Alexandre Alves de Oliveira
Adriana Olival Costa
Professora de Língua Portuguesa em turmas de Ensino Médio, da SEDUC-MA.
RESUMO
O trabalho ora em destaque objetiva refletir a cerca do envolvimento de alunos e professores da
disciplina Língua Portuguesa, no que tange ao ensino e compreensão da gramática de forma
contextualizada. O levantamento de dados vêm sendo desenvolvido junto a turmas de 1º ano do
ensino médio, nos turnos manhã e noite, da Escola “Governador”, nome fictício para efeito de
sigilo, na cidade de Parnaíba-PI. Para tanto o presente trabalho apropria-se da pesquisa
bibliográfica, “a qual utiliza-se fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre
um determinado assunto” (GIL apud GONÇALVES, 2007, p. 39), e também nos utilizaremos
do contato direto, tendo em vista não ser possível conhecer uma realidade se não tivermos um
mínimo de proximidade, de contato, seja de natureza direta (indo visitar, observar, participar,
etc.) ou indireta (por meio de informações orais ou escritas por alguém do meio). Esta pesquisa,
ainda em andamento, delimitará o seu tema vislumbrando se a leitura de textos, em seus
diversos gêneros, é utilizada nestas salas de aula como recurso didático para o ensino
contextualizado da gramática, haja vista que tais orientações metodológicas têm sido defendidas
por teóricos a exemplo de Luiz Carlos Travaglia, Irandé Antunes e Isabel Solé, entre muitos
outros. Segundo os estudos voltados para a necessidade e importância da contextualização
(leitura/gramática) em sala de aula, tem-se evidenciado a ineficácia dos resultados de ensino
baseado em contextos enunciativos improvisados e propiciadores de mera decodificação de
códigos linguísticos e memorização das regras gramaticais. O trabalho, portanto, enfoca a
importância deste ensino gramatical contextualizado e da possibilidade do uso da leitura com
esse fim, bem como o estudo do conjunto das regras de nossa língua visto a partir do texto.
Palavras-chave: Leitura. Estratégia de ensino. Gramática. Contextualização.
01. INTRODUÇÃO
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Percebe-se ainda ser cada vez mais difícil aprender e ensinar gramática normativa
em um mundo onde as crianças, os jovens e até mesmo os adultos estão profundamente
voltados para o universo da informatização e da mídia. Assim, o mais sensato e
oportuno é entrelaçar os conteúdos gramaticais a textos oriundos desses meios de
comunicação, dentre outros espaços de circulação e suporte, adaptando-os às realidades
socioculturais do público estudantil em foco.
Partindo desse princípio é que se percebeu a necessidade de realizar uma pesquisa
voltada para a área do ensino contextualizado da gramática, a partir do uso da leitura, a
fim de levantarmos os pontos que precisam ser discutidos em prol de possíveis
estratégias que venham a favorecer o sucesso nas atividades, envolvendo os alunos e
educadores. Portanto, o objetivo geral deste trabalho é averiguar os processos
metodológicos do exercício da leitura como recurso didático para o
ensino/aprendizagem de gramática, em quatro turmas do 1º ano do ensino médio, dos
turnos manhã (1º B e D) e noite (1º I e H), da escola “Governador”, na cidade de
Parnaíba-PI.
O empenho em averiguar a existência contextualizada do ensino da gramática em
sala de aula parte da curiosidade de perceber se um tema como esse tão debatido no
meio acadêmico, realmente ganha corpo na prática docente, já que pela leitura de
teóricos desta área de pesquisa, entendemos que para o ensino de gramática ser
realmente funcional faz-se necessário ele ter como referência o uso efetivo da língua, o
qual, como se tem afirmado, acontece não através de palavras ou frases soltas, mas
apenas mediante a condição do texto.
O2. A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM
DA LÍNGUA MATERNA
Uma reflexão acerca da leitura e do ensino de gramática em sala de aula, mais
precisamente do ensino/aprendizagem contextualizado, tendo a leitura de textos como
recurso didático para o ensino da gramática, leva-nos, inicialmente a
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[...] reconhecer que as línguas naturais encontram-se organizadas por um
sistema de regras (regras fonológicas, sintáticas, lexicais, etc.) entender que
[...] essas regras podem ser identificadas e observadas nos diferentes textos
[...] uma vez que é por meio deles que o ser humano organiza o mundo,
produz e transmite conhecimento (SARMENTO, 200, p. 5)
É com essa visão de conjunto, de unidade, que cientistas da linguagem têm
colocado a relevância de se trabalhar o ensino da “norma padrão” de nossa língua
materna, já que sempre nos comunicamos através de textos sejam eles orais ou escritos.
Por isso não é coerente um estudo pautado apenas em palavras ou frases sem contexto,
visto que a leitura de textos é primordial e a partir dela os diversos conhecimentos são
ativados favorecendo assim o aprendizado.
Ao ler um texto, o leitor trabalha com dois tipos de informações: aquelas que
se constituem em suas experiências de vida, seu conhecimento de mundo e
aquelas que o autor lhe passa através do texto lido. Neste sentido, a leitura é
“um encontro de sujeitos, enquanto tais, sujeitos situados numa sociedade e
por ela influenciados, mas não como resultados mecânicos de suas condições,
mas como sínteses destas condições históricas e de suas ações sobre elas
(GERALDI, 1996, p. 125)
É principalmente essa condição de sujeito, situado em um meio social, que deve
ser valorizada dentro do ambiente escolar, assim a leitura colabora como um meio
essencial para tal objetivo.
A leitura é um ato social, entre dois sujeitos – leitor e autor, que interagem
entre si, obedecendo a objetivo e necessidade socialmente determinadas [...] é
mediante a leitura que a interação de diversos níveis de conhecimento, como
o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor
consegue constituir sentidos. (KLEIMAN, 2000, p.13)
Construção, essa é a palavra chave para uma educação que pretende formar
cidadãos críticos, reflexivos e conhecedores dos seus direitos e deveres e não apenas
pessoas dotadas de conteúdos, cuja funcionalidade não conseguem perceber, nem
utilizar apropriadamente. E nesse sentido, de acordo com os PCNs, é no Ensino Médio
que o desenvolvimento da competência linguística do aluno deve ser trabalhada com
mais ênfase, e não apenas o conhecimento voltado para o domínio técnico de uso da
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língua legitimada pela norma, mas, principalmente, na capacidade de saber usar a língua
em situações subjetivas ou objetivas que exijam graus de distanciamento e reflexão
sobre contextos e estatutos de interlocutores. Dessa forma entende-se que tal capacidade
de desenvoltura linguística, que é nata de cada ser humano, só pode ser instigada,
valorizada, a partir de ações concretas e para tanto a escola pode e deve contribuir nessa
batalha, proporcionando aos seus educandos, leitura de textos, de bons textos, porque
A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória,
abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo vocabulário e a
facilidade da comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência
pelo contato com formas e ângulos diferentes sobre os quais os mesmos
problemas podem ser considerados. Quem lê constrói sua própria ciência;
quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu [...]. É
preciso ler, ler muito, ler bem. (RUIZ, 2006, p. 35)
2.1. A prática da leitura na escola
Quando nos referimos acima com o título “A prática da leitura na escola”, é
porque queremos nos referir à leitura não como algo restrito à disciplina de Língua
Portuguesa, embora a ela possa caber a maior carga. Todavia, no tocante a esse tema tão
importante e necessário, que é a prática da leitura, esta deve ser trabalhada como uma
prioridade, permanente em qualquer estabelecimento de ensino com projetos e
atividades interdisciplinares constantes e assim favorecendo o aprendizado dos alunos
em todas as atividades, sobretudo no processo de contextualização do
ensino/aprendizagem da gramática. No entanto o que alguns estudos apontam é que
algumas escolas ainda não trabalham adequadamente o manejo pedagógico nas
atividades de leitura, as quais acabam tornando-se artificiais ou passa tempo como
afirma João Wanderley Geraldi.
Na prática escolar, institui-se uma atividade linguística artificial: assumem-se
papeis de locutor /interlocutor durante o processo, mas não é
locutor/interlocutor efetivamente. Essa artificialidade torna a relação
intersubjetiva, ineficaz, porque a simula. Não estou querendo dizer que
inexiste interlocução na sala de aula, estou querendo apontar o seu
falseamento, dado que os papeis básicos dessa interlocução estão
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estaticamente marcados: o professor e a escola ensinam; o aluno aprende (se
puder). (GERALDI, 2002, p. 88).
As palavras do autor explicitam o quanto este processo está sendo mal conduzido,
e assim atrapalhando não só uma interação, um relacionamento mais próximo do aluno
com o professor, como também a verdadeira compreensão do texto lido, prejudicando o
aprendizado, quando na realidade o resultado em uma atividade de leitura deve ser
outra, como poderemos ler abaixo.
A leitura é uma atividade de acesso ao conhecimento produzido, ao prazer
estético e, ainda, uma atividade de acesso às especificidades da escrita. [...].
A atividade da leitura favorece num primeiro plano, a ampliação dos
repertórios de informação do leitor. Na verdade, por ela, o leitor pode
incorporar novas ideias, novos conceitos, novos dados, novas e diferentes
informações a cerca da coisa, das pessoas, dos acontecimentos, do mundo em
geral. (ANTUNES, 2003, p. 70)
Todavia esses resultados antes mencionados e muitos outros que nascem da
prática de leitura, a exemplo de um ensino/aprendizagem da gramática, só são possíveis
com práticas pedagógicas de leitura bem conduzidas e realizadas com uma grande
frequência e procurando interagir com as outras disciplinas, tornando assim uma
atividade da escola e não um compromisso isolado de uma disciplina ou até mesmo para
o simples fato de obtenção de uma nota mensal ou bimestral dentro da disciplina de
Língua Portuguesa.
03. A AULA DE PORTUGUÊS E O TRABALHO COM A GRAMÁTICA
3.1. Concepções de gramática e linguagem
Ainda é presente no meio educacional, diversas concepções de gramática, com
destaque àquela concebida como manual composto por regras prontas, que devem ser
obedecidas por todos aqueles que desejam falar ou escrever bem, isto é, um padrão de
escrita e de fala como sendo a única correta. Dessa forma,
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Gramática é o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever,
estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos
bons escritores e dizer que alguém sabe gramática significa dizer que esse
alguém conhece essas normas e as domina tanto nocionalmente quanto
operacionalmente (TRAVAGLIA, 2009, p. 24)
Com base em outra concepção, a descritiva, a gramática é vista muito mais em um
aspecto linguístico de análise da funcionalidade da língua dentro do contexto
enunciativo. Os estudiosos não fazem uma distinção entre gramática geral e universal,
já que o objetivo, o foco de análise são muito próximos, isto é, ambas trabalham com a
“investigação das características linguísticas comuns a todas as línguas do mundo”
(PERINI apud. TRAVAGLIA, 20009, p. 36). No referente á gramática histórica e á
comparada, as quais iremos nos reportar agora, trata-se de um estudo muito mais de
cunho diacrônico, tendo em vista que ambas, em sua análise, leva em consideração as
fases evolutivas da língua.
Gramática histórica é a que estuda a origem e a evolução de uma língua,
acompanhando-lhe as fases desde o seu aparecimento até o momento atual.
[...] Gramática comparada é a que estuda uma sequência de fases evolutivas
de várias línguas, normalmente buscando encontrar pontos comuns
(TRAVAGLIA, 2009, p. 37)
Dessa forma, ao termos falado em diversos tipos de gramática até parece que cada
língua é capaz de ser dotada de inúmeros manuais para o estudo de um mesmo idioma,
o que não é verdade, na realidade o que precisamos é ter em mente que todo falante é
detentor de uma língua e por conseguinte de conhecimentos gramaticais, mesmo que de
forma intuitiva. E quando este falante chega ao ambiente escolar, sua linguagem, apenas
vai sofrer o processo de adequação ás regras gramaticais da variedade padrão da língua.
A enunciação é um ato monológico, individual, que não é afetado pelo outro
nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a
enunciação acontece. As leis da criação linguística são essencialmente as leis
da psicologia individual e da capacidade de o homem organizar de maneira
lógica seu pensamento por meio de uma linguagem articulada e organizada.
(TRAVAGLIA, 2009, p. 21)
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Por outro lado, concebendo a linguagem como instrumento de comunicação,
como meio objetivo para a comunicação, nada mais é do que um código pré-
estabelecido em convenção social onde a língua é entendida isoladamente na fala,
segundo Saussure, ou no desempenho de acordo com Chomsky. Com isso, tal
concepção pode ser explicada nas seguintes palavras.
Essa é uma visão monológica e imanente da língua, que a estuda segundo
uma perspectiva formalista que limita esse estudo ao funcionamento interno
da língua – e que a separa do homem no seu contexto social. (TRAVAGLIA,
2009, p. 22)
Na realidade separar língua e sociedade é algo não muito aceitável, até mesmo em
estudos gramaticais mais tradicionais, uma vez que as influências linguísticas nos
apontam para uma visão não apenas da gramática em suas regras rígidas, mas também
no que diz respeito à funcionalidade da linguagem em suas variações. Em outra
concepção gramatical, a internalizada, o conceito de gramática é entendido como algo
nato de cada ser, sendo que este ser vai aperfeiçoando, ou não, essa sua competência
gramatical, a depender da criatividade, esforço e dedicação do usuário. Assim sendo,
Gramática corresponde ao saber linguístico que o falante de uma língua
desenvolve dentro de certos limites impostos pela sua própria dotação
genética humana, em condições apropriadas de natureza social e
antropológica. Nesse caso saber gramática não depende, pois em principio de
escolarização, ou de quaisquer processos de aprendizagem sistemática, mas
da atividade, avaliação e amadurecimento progressivo (ou da construção
progressiva), na própria atividade linguística, de hipóteses sobre o que seja a
linguagem e de seus princípios e regras. (TRAVAGLIA, 2009, p. 28)
Com isso, observamos algumas concepções de gramática que certamente são
influenciadas pelas concepções linguísticas envolvidas em cada processo histórico
educacional. Mais modernamente, percebeu-se a linguagem como expressão do
pensamento, isto é, fruto do processo de interação, da troca de informações entre o
falante e o ouvinte, ou entre texto e leitor, pois as ações sociais se manifestam
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contribuem positivamente no ambiente escolar, tornando o aprendizado um todo
contextualizado, significativo para a vida dos professores e alunos.
3.2. O ensino de Gramática no cotidiano escolar
Uma aula de português para que possa transcorrer dentro de uma normalidade, o
planejamento faz-se necessário, independentemente da etapa escolar na qual se encontra
o educando e até mesmo no ensino médio a visão pedagógica deve focar, segundo
Irandé Antunes da seguinte forma,
Em geral, o que se deve pretender com uma programação de estudo do
português, não importa o período em que acontece, é ampliar a competência
do aluno para o exercício cada vez mais pleno, mais fluente e interessante da
fala e da escrita, incluindo, evidentemente, a escuta e a leitura. (ANTUNES,
2003, p. 110)
Nessa perspectiva, dentro do objetivo geral de ampliar a competência do aluno em
seus eixos essenciais, os quais são: a fala, a escrita, e a leitura, as aulas ganham em
objetividade e os alunos serão motivados a desenvolverem através da leitura de textos as
suas habilidades gramaticais e assim produzirem um aprendizado contextualizado da
gramática, tendo sempre em foco o texto como objeto de estudo, como explica Irandé.
Se o texto é o objeto de estudo, o movimento vai ser ao contrário: primeiro se
estuda, se analisa, se tenta compreender o texto (no todo e em cada uma de
suas partes – sempre em função do todo) e para que se chegue a essa
compreensão, vão-se ativando as noções, os saberes gramaticais e lexicais
que são necessários. Ou seja, o texto é que vai conduzindo nossa análise e em
função dele é que vamos recorrendo às determinações gramaticais, aos
sentidos das palavras, ao conhecimento que temos da experiência, enfim.
(ANTUNES, 2003, p 110)
É nesta perspectiva que o texto e a gramática andam juntas no contexto
ensino/aprendizagem; a gramática sendo estudada a partir da compreensão do texto, o
qual sempre deverá ser o objeto de estudo por excelência, principalmente, no que tange
à compreensão da língua materna.
04. A DIMENSÃO INTERACIONAL DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA:
LEITURA E ENSINO DE GRAMÁTICA
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Estudos e pesquisas têm relatado as práticas nada inovadoras que acontecem no
Brasil ano após ano, no tocante ao ensino de gramática descontextualizada, na qual se
prioriza um ensino fragmentado de classificação, flexão e análise sintática de algumas
palavras fora de contextos enunciativos reais e assim perpetuando cada vez mais o mito
de que Língua Portuguesa é difícil e chato de se aprender em sua gramática. Mas
vejamos como tem sido ensinado.
O ensino de gramática em nossas escolas tem sido primordialmente
prescritivo, apegando-se a regras de gramática normativa, [...] Nas aulas há
uma ausência quase total de atividades de produção e compreensão de textos
[...] O ensino de gramática (teoria) aparece como algo desligado de qualquer
utilidade ou utilização prática. (TRAVAGLIA, 2009, p. 101-102).
Com essa realidade o nosso ensino de gramática provavelmente pode até
conseguir alguns resultados com poucos alunos, que não ficam somente naquilo que é
visto em salas de aula, mas procuram avançar em estudos mais profundos e
contextualizados com o meio social. Contudo, não seria possível esse estudo
significativo para todos os estudantes em sala de aula? Acreditamos que sim com base
na apreensão, confirmação e reelaboração de conhecimentos por meio do texto, e no
tocante à língua materna o ensino pode ser ainda melhor contextualizado como
poderemos observar na proposta a seguir.
Propõe que o ensino de gramática seja basicamente voltado pra uma
gramática de uso e para uma gramática reflexiva, com o auxílio de um pouco
de gramática teórica e normativa, mas tendo sempre em mente a questão da
interação numa situação específica de comunicação e ainda o que faz da
sequência linguística um texto que é exatamente a possiblidade de estabelecer
um efeito de sentido, uma unidade de sentido para o texto como o todo.
(TRAVAGLIA, 2009, p. 108)
É entendendo que a contextualização da gramática é possível que várias
produções têm sido produzidas objetivando um avanço metodológico e sucesso no trato
com a exploração pedagógica no referente ao ensino/aprendizagem da leitura e da
gramática de forma conjunta.
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4.1. Explorando a leitura e a gramática em suas implicações pedagógicas
Muito se fala sobre o mito de que o português é difícil e chato de ser estudado.
Entretanto, o mais provável em torno dessa dificuldade e enfado no estudo da língua
materna sejam as formas repetitivas das abordagens pedagógicas que em sua maioria
são explorações de um ensino de leitura de “decodificação da escrita, sem interesse, sem
função, sem gosto, sem prazer, puramente escolar, incapaz de suscitar no aluno a
compreensão das múltiplas funções sociais da leitura”. (ANTUNES, 2003, p. 28).
E no tocante ao ensino de gramática a realidade também não é muito diferente, já
que ainda podemos encontrar em algumas de nossas escolas a seguinte realidade
envolvendo os aspectos didáticos de ensino da gramática.
O ensino de uma gramática descontextualizada [...] fragmentada, de frases
inventadas, da palavra e da frase isoladas, sem sujeitos interlocutores sem
contexto, sem função, frases feitas para servir de lição, para virar exercício,
[...] uma gramática voltada para a nomenclatura e a classificação das
unidades; Portanto uma gramática dos “nomes” das unidades, das classes e
subclasses dessas unidades (e não das regras de seus usos.) [...] uma
gramática inflexível, petrificada, de uma língua supostamente uniforme e
inalterável, irremediavelmente “fixada” num conjunto de regras que,
conforme constam nos manuais, devem manter se a todo custo imutáveis [...]
uma gramática predominantemente prescritiva, preocupada apenas com
marcar o “certo” e o “errado” [...] uma gramática que não tem como apoio o
uso da língua em textos reais [...]. (ANTUNES, 2003, p. 31-33)
Todavia essa realidade pode avançar para caminhos melhores, desde que mude as
estratégias de exploração tanto do ensino da leitura quanto da gramática. Por que não
um ensino de leitura “de textos autênticos, leitura interativa, motivada, do todo, crítica,
diversificada, apoiada no texto, da reconstrução dele em seus possíveis sentidos”
(ANTUNES, 2003, p. 79)? E de uma gramática que possa ser “relevante, funcional,
contextualizada, instigante, enfim, uma gramática que é a da língua, que é das pessoas”.
(ANTUNES, 2003, p. 96)? São com esses pré-requisitos que leitura e gramática podem
e devem ser abordadas de maneira conjugada nas aulas de Português, favorecendo assim
o aprendizado através da contextualização (leitura/gramática).
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05. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Já vimos, no decorrer dos itens anteriores que o ensino da gramática pode ser
beneficiado com a contextualização do seu ensino à leitura e assim sacramentamos um
casamento que há anos inúmeras publicações em torno do assunto afirmam ser a
solução para tornar a leitura e a gramática mais atrativa aos olhos e gosto dos
estudantes, e como fruto disso um processo educacional mais interativo tendo como
base única de estudo, o texto, isto é, a aprendizagem da gramática de uma língua, só
pode ser favorecida pela leitura, se for dentro de um texto
O texto é um espaço de interação, de diálogo entre autor-texto-leitor, sendo que
esse dialogismo vai contribuir para o aprendizado de diversas naturezas, entre os quais o
da leitura e o da gramática de uma língua.
Assim, a leitura é tão indispensável no aprendizado que ela merece ser trabalhada
de forma interdisciplinar, por todos os professores e não ficar como uma carga de
responsabilidade apenas nas costas do educador de Língua Portuguesa – “A Leitura é
importante [...], o seu processo permite alargar os horizontes de expectativas do leitor e
amplia as possibilidades de leitura [...] da própria realidade social.” (MARTINS, 2005,
p. 66).com base na fala de Maria Helena Martins, mais uma vez evidenciamos o social
dentro da sala de aula e é com vistas neste mundo concorrido do lado de fora das quatro
paredes da sala que os seus formandos vão à procura de espaço no mercado de trabalho,
por isso é que as situações extra-sala podem e devem ser discutidas e abordadas
conjuntamente: texto, gramática e vida social. Ratifica-se, com isso, a importância da
contextualização e o entendimento de que a leitura de produções textuais de gêneros
variados deve funcionar como unidade básica do ensino e da interação em sala de aula.
Outro aspecto corrobora para o uso de leituras diversas no exercício de
entendimento da gramática materna. Trata-se da oportunidade que o educando tem de
exercitar a sua oralidade, a pronúncia de léxicos novos, assim enriquecendo o seu
repertório lingüístico, favorecendo-lhe também para o sucesso de uma futura produção
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textual, requisito básico na maioria dos concursos de vestibular e ENEM. Assim vemos
a leitura como algo indispensável em qualquer sala de aula e essencial na hora do ensino
de gramática, portanto, do ensino da “norma padrão” a ser oferecido.
Renova-se, portanto, a relevância dos educadores na formação de bons usuários
da nossa língua materna, bem como a contínua formação daqueles, afim de que se
sintam munidos dos conceitos e estratégias metodológicas necessários ao ensino
eficiente e significativo da língua portuguesa. Porque acredita-se que para utilizarmos
bem esse nosso patrimônio imaterial faz-se muito mais necessário saber o sentido que
expressa as palavras dentro de um contexto do que saber somente as nomenclaturas da
classe gramatical a qual elas pertencem e para tal fato dialógico se concretizar em sala
de aula, um dos caminhos mais rápidos é a leitura discursiva de textos de vários
gêneros.
06. REFERÊNCIAS
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e suas tecnologias/secretaria de Educação Básica. Brasília: Ministério da educação e
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CASTILHO, Ataliba Teixeira de. A língua falada no ensino de português. 7ª ed. São
Paulo: Contexto. 2006.
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Paulo: Alinea, 2007.
GUEDES, Paulo Coimbra. A formação do professor de português: que língua vamos
ensinar? 2ª ed. São Paulo: Parábola. 2006.
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KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 7ª ed. Campinas –
São Paulo: 2000.
MARTINS, Jorge santos. O trabalho com projetos de pesquisa: do ensino
fundamental ao ensino médio. 2ª ed. Campinas – São Paulo: Papirus, 2002.
MARTINS, Maria Helena, O que é leitura. 19ª ed. São Paulo: Brasiliense. 2005.
NASCIMENTO, Marivaldo Lima do; SOUSA, Gerivaldo Matias de. Por ser essencial
na formação escolar, a leitura merece atenção especial dos professores da língua
portuguesa. 2009. 15 f. Artigo Científico (graduando) Letras/Português, Universidade
Estadual do Piauí, Parnaíba, 2009.
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RICARDO, Stella Maris Bortoni. Educação em língua materna: a sociolinguística na
sala de aula. 2ª ed. São Paulo: Parábola. 2004.
RODRIGUES, Maria Anunciada Nery. A leitura no livro didático de ensino médio:
decodificação ou construção de sentido?. 2009. 13 f. Artigo Científico (graduação) –
Letras /Português, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Paraíba, 2009.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed. 2008.