O Texto e a Imagem na Literatura "Infantil"

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O Texto e a Imagem na Literatura “Infantil” Contado por Kassiane dos Santos Oliveira sob a orientação de Celia Abicalil Belmiro Com amável colaboração de ilustradores da E. M. Cora Coralina Pedagogia- turma B UFMG-FAE

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O Texto e a Imagemna Literatura “Infantil”

Contado por

Kassiane dos Santos Oliveirasob a orientação de

Celia Abicalil BelmiroCom amável colaboração de ilustradores

da E. M. Cora Coralina

Pedagogia- turma B

UFMG-FAE

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IntroduçãoO desejo de fazer este trabalho surgiu durante

as aulas de Comunicação Educativa. A partir das discussões sobre a natureza das imagens e os vários veículos de comunicação social pude estabelecer um dialogo com um trabalho já realizado sobre o desenho infantil como uma linguagem especifica. Assim surge meu desejo de compreender como a criança se apropria do texto verbal e o transforma em imagens – desenhos.

Para tanto faço uma breve síntese da construção social de infância. Tenho como desafio apresentar uma concepção de como a criança constrói a imagem e de que forma é influenciada pelo convívio social.

Por fim compartilhar as ilustrações feitas por crianças de sete e oito anos de um poema e de um conto, respectivamente, propondo uma reflexão coletiva da relação entre texto e a imagem na ótica infantil.

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Construção Social da Infância

As mudanças na organização social e seus reflexos na estrutura familiar determinaram um lugar para a criança no contexto sócio, histórico e cultural.

Nos registros sobre a arte medieval não há representação da infância, as crianças são representadas com adultos em miniatura.

No final do século XVII começaremos a perceber uma preocupação com a educação das crianças. Estas deveriam ser preparadas para virem a ser adultos civilizados. A criança ainda não tinha valor em si mesma.

Neste momento surge a literatura infantil, preocupada em moralizar e normalizar comportamentos segundo a ótica do adulto.

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Construção Social da InfânciaNo século XIX teremos os estudos de Piaget

sobre o desenvolvimento intelectual da criança. A concepção de criança muda, pois a psicologia da criança estuda a criança por si mesma. Estes estudos mostram a infância como uma das fases da vida e o desenvolvimento da inteligência como um processo continuo.

Hoje, em nossa sociedade, a criança ocupa um lugar diferente. A infância é tida como uma das fases da vida, um momento de formação em que o sujeito necessita ser educado e respeitando em suas particularidades.

A literatura destinada a ela também mudou, agora é apenas mais um dos meios de formação e entretenimento.

As novas tecnologias permitem que as crianças tenham acesso em tempo real a tudo que acontece no mundo.

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Construção da imagem pela criança

A criança constrói sua forma de ver o mundo mediada pelas relações sociais produtora de uma cultura coletiva e dinâmica.

Vivemos em um mundo cercado por imagens e os diversos estímulos visuais não tem fronteira geográfica. Através da internet e da televisão temos contato direto e em tempo real com imagens de vários lugares do planeta e até fora dele. E a criança faz parte deste contexto.

“o olho não é um passivo captador biológico- perceptivo do real, há nele um fator cultural fundante do real. O meio em que a criança se desenvolve é o universo adulto, e esse universo age sobre ela da mesma maneira que todo contexto social.” Richter (2006).

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Piaget-Fases de desenvolvimento1 -Garatuja: Fase sensório motora (0 a 2 anos) e da fase pré-operacional (2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer nesta fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira imaginária.

2 -Pré- Esquematismo: Fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. A figura humana, torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos.

3 -Esquematismo: Fase das operações concretas (7 a 10 anos). Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo.

4 -Realismo: Final da fase das operações concretas. Existe uma consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos.

5 -Pseudo Naturalismo: Fase das operações abstratas (10 anos em diante). É o fim da arte como atividade espontânea. Na figura humana as características sexuais são exageradas, presença das articulações e proporções.

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O Macaco e VelhaEra uma vez uma colina; em cima dela um casebre.

Dentro dele, uma velha; na frente, um jardim; atrás, uma bananeira.

Um dia, a velha acordou e quis comer torta de banana. Quando foi pegar a escada, viu que estava quebrada.

Naquele momento, apareceu um macaquinho na bananeira.

- Macaquinho, macaquinho, joga umas bananas pra mim!Mas o animal era safado: em fez de jogar, ele comia as

bananas e jogava a casca na velha. E não só isso: ainda algumas bananas podres – daquelas bem pretas – e também jogava na velha.-Ah, macaco! Vou te pegar! – disse a velha.A velha preparou uma boneca de cera e deixou-a na frente da cabana, com uma cesta de repleta de frutas.

E esperou um, dois, três dias. Finalmente, o macaco chegou perto da boneca.

Ô Caterina, da uma frutinha pra mim! – gritou.Ela não respondeu.- Caterina, se você não me der uma frutinha, vou dar um

tapa no seu rosto! – ameaçou o animal.A boneca continuou em silêncio.

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- Foi você que pediu, Caterina!

O macaco deu um belo tapa no rosto da boneca. Só que a mão dele ficou presa na cera.

- Você não desiste, não é? !

E deu outro tapa na boneca; a outra mão também ficou grudada na cera.O animal deu, então, um chutão na boneca; o pé dele ficou igualmente preso na cera. Foi então que apareceu a velha:

- Peguei você, macaco safado! A velha puxou-o pelo pescoço e gritou para dentro do

casebre: - Maria, macaquinho pro almoço!

A cozinheira pegou o animal. Na hora de matá-to, ele começou a cantar:

- Me mata devagar, dói, dói, dói.Eu também tenho filhos.. dói, dói, dói!Na hora de esfolá-lo, lá vinha ele novamente:- Me esfola devagar, que dói, dói, dói.Na hora de temperá-lo, vocês já sabem: - Me tempera devagar, que dói, dói, dói, dói! Eu também tenho filhos.. dói, dói, dói!

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O macaco estava cheiroso, temperadinho. Maria abriu o forno e colocou-o lá dentro:

- Me assa devagar, que dói, dói, dói.

Eu também tenho filhos.. dói, dói, dói!

Ao ser tirado do forno, o animal estava douradinho, prontinho pronto para ser comido. A cozinheira preparou uma linda mesa para a patroa. Além do macaco, havia arroz, feijão, mandioca frita e suco de pitanga.

A velha, morrendo de fome, aproximou-se, olhou o para o suculento macaco e pegou um pedacinho para experimentar.

- Me mastiga de devagar, que dói, dói, dói.

Eu também tenho filhos.. dói, dói, dói.

A gulosa fez que não ouviu; comeu o macaco inteiro.

Alguns minutos depois, começou a sentir uns movimentos estranhos e dolorosos dentro da barriga. Tomou remédio; não adiantou. Fez massagem; não adiantou. Deu mais de cem pulinhos; não adiantou.

Uma voz de dentro dela começou a falar:

- Velha, quero sair daqui!

- Macaco! É você?

- Soooou !!!

- Sai pelas minhas orelhas, macaco! – gritou a velha.

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- Não dá, estão com cera!- Sai pelo meu nariz!- Não dá, está repleto de meleca!- Sai pela minha boca!- Não dá, está cheia de cuspe!A velha não teve outra alternativa: pôs-se de cócoras e começou a fazer força:- Ahhh! Ahhh! Ahhh! Ouviu-se, então, um grande estrondo:- BUMMMMMMMMM!Ela tinha soltado um pum tão forte que o barulho ecoou a quilômetros e quilômetros de distância.Depois do alívio, a velha olhou para baixo e percebeu que saíram de dentro dela, não um macaquinho, mas vários deles – todos com uma viola na mão, contando:- Eu vi a bunda da véia, iá, iá, Eu vi a bunda da véia, iô, iô.- Eu vi a bunda da véia, iá, iá, Eu vi a bunda da véia, iô, iô.

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Comentário sobre os desenhos

Os desenhos que acabamos de ver foram feitos por crianças de sete e oito anos. Optei trabalhar com gêneros textuais diferentes com a intenção de explorar aspectos variados de cada texto.

O poema foi ilustrado por crianças de sete anos com o propósito de observar como elas representariam elementos abstratos, por exemplo “Ele tinha no rosto um sonho de ave extraviada”.

Como a minha intenção era que as crianças lessem sozinhas o texto, optei que as crianças de oito anos ilustrassem o conto. Pois este exigem um domínio maior da leitura.

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Comentário sobre os desenhosPercebemos que as crianças de sete anos não

se preocuparam em entender palavras diferentes, como por exemplo extraviada, mas sim em desenhar elementos do texto que elas conhecem bem, como um menino e uma ave. As palavras que eles conhecem é que foram mais representadas em seus desenhos.

O cenário não é um elemento descrito no poema e as crianças também não se prenderam em criar um. Notamos também que não existe uma preocupação em determinar “chão” nos seus desenhos. Outro aspecto é que as palavras também são usadas como elementos para ilustrar o que elas entenderam do poema.

Acredito que as crianças se dedicaram em desenhar o que elas entenderam do poema e não se limitaram em desenhar apenas o que estava escrito.

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Comentário sobre os desenhosA ilustração feita pelas crianças de oito anos

sobre o conto mostram outros aspectos do desenho infantil.

As crianças estão mais preocupadas em representar cada elemento descrito no texto. Mas notamos que os personagens são o foco da atenção na maioria dos desenhos. A velha e o macaco estão presentes em quase todas as cenas do texto.

As características de uma velha são recorrentes nos desenhos das criança; bengala, óculos, cabelo preso. O macaco é representado quase da mesma forma que um menino acrescentado o rabo.

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Comentário sobre os desenhosEm outras ilustrações vemos o cenário

desenhado com muitos detalhes, cada elemento do texto foi representado. A criança busca representar cada acontecimento do texto em seu desenho. Mesmo aqueles que não são muito descritos no conto algumas crianças usam o que elas sabem sobre o objeto para desenha-lo, por exemplo a cozinha da casa da velha.

As crianças de oito anos também usam palavras em seus desenhos, mas com a função de legenda, sentem necessidade de colocar o nome daquilo que desenharam. Acredito que neste caso as crianças se dedicaram em desenhar o que estava descrito no texto, usando as imagens que elas já tem internalizadas sobre os objetos e personagens citados no conto.

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O desenho infantilDesenhar constitui, para a criança, uma

atividade integradora, que coloca em jogo as inter-relações do ver, do pensar, do fazer e dá unidade aos domínios perceptivo, cognitivo, afetivo e motor.

É um imenso prazer para criança quando ela consegue desenhar ou pintar algo como ela deseja. Pois as imagens e as palavras não são simples símbolos no sentido comum para a criança: são a emancipação das coisas, são as coisas.

O texto escrito, seja um poema ou um conto, está repleto de elementos que levam a criança construir imagens. Ela cria a imagem mental dos personagens e do cenário onde a estória acontece baseando-se em elementos que ela já conhece, mas também imagina novas hipóteses, inventa e cria novas possibilidades.

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Conclusão ou não-conclusãoA literatura “infantil”, acredito que literatura é

para todos, deve ser prazerosa e atraente. As imagens presentes nos livros devem ser cuidadosamente selecionadas para não produzirem estereótipos e pré-conceitos. O desenho nos livros podem apenas representar o que está escrito como também podem ser a estória contada na forma de imagens.

Por fim sabemos que as imagens transmitem uma mensagem e para lermos estes textos não-verbais necessitamos compreender os múltiplos significados em relação ao lugar e tempo em que elas foram geradas.

Defendo que a escola proporcione à criança ferramentas para que ela faça leituras de forma crítica das imagens que o mundo adulto lhe impõe e possa construir sua forma ver e representar o mundo em que vivem.

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A todas e todos muito obrigada!

Beijos, Kassiane.Fim.

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Referências Bibliográficas ÀRIES, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro:

Guanabara, 1986. BARROS, Manoel. Rio de Janeiro. Record, 2007. BRENMAN, Ilan. O macaco e a velha. In: As Narrativas preferidas de um

contador de histórias. São Paulo. DCL, 2007. CUNHA, Susana Rangel Vieira da. As transformações das imagens na

literatura infantil. In. PILLAR, Analice Dutra (org.) A educação do olhar no ensino de artes. Porto Alegre : Mediação, 2006. (págs.153 -165).

MÈREDIEU, Florence. O desenho infantil. São Paulo: Editora Cultrix, 2008. PEREIRA, Katia Helena. Como usar artes visuais na sala de aula. São Paulo.

Contexto, 2008. PIAGET, Jean. A psicologia da criança. São Paulo: Difel, 1974. RICHTER, Sandra. Infância e imaginação: o papel da artes na educação

infantil. In. PILLAR, Analice Dutra (org.) A educação do olhar no ensino de artes. Porto Alegre : Mediação, 2006. (págs. 183-198).

Ilustrações feitas por crianças de sete e oito anos, estudantes do 2º e 3º ano do primeiro ciclo na Escola Municipal Cora Coralina e pelo cartunista Danilo A. P. Tavares em 2007.