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O sentido do trabalho para empregados de uma empresa do setor elétrico sediada em Santa
Catarina
Julho/2018
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018
O sentido do trabalho para empregados de uma empresa do setor elétrico
sediada em Santa Catarina
Crislaine Bardini - [email protected]
Suzana da Rosa Tolfo - [email protected]
Psicologia Organizacional e do Trabalho Instituto de Pós-Graduação - IPOG
São Luís, MA, 01 de dezembro de 2017
RESUMO
Os sentidos do trabalho referem-se aos propósitos singulares atribuídos pelas pessoas para a
realização das suas atividades laborais. A presente pesquisa teve como objetivo analisar os
sentidos do trabalho para os empregados lotados na Divisão de Segurança do Trabalho e Saúde
Ocupacional de uma empresa do setor elétrico sediada em Santa Catarina. Para tanto, o
instrumento de coleta de dados utilizado foi a Escala do Trabalho com Sentido (ETS), de 2015,
com 22 respondentes. Foram verificados, quantitativamente, os fatores contribuintes para o
sentido do trabalho, tais quais: desenvolvimento e aprendizagem; utilidade social; qualidade das
relações; autonomia; e ética no trabalho. Por meio da avaliação dos dados, constatou-se que os
fatores que mais fazem sentido para o trabalho destes profissionais são a utilidade social e a
qualidade das relações; e os fatores que menos caracterizam o sentido são a autonomia e ética.
Para fortalecer os fatores com maiores índices, é salutar a realização de ações organizacionais
para a manutenção do sentido do trabalho; e para possíveis aperfeiçoamentos dos fatores com
menores índices, há a necessidade de uma avaliação qualitativa para efetuar um plano de ação que
possibilite melhorias nestes fenômenos organizacionais.
Palavras-chave: Sentido do trabalho. Profissionais de saúde e segurança do trabalho. Empresa do
setor elétrico.
ABSTRACT
The meanings of work refer to the singular purposes attributed by the people to carry out their
labor activities. The current study has as objective to analyze the meanings of work for employees
allocated in Occupational Safety and Occupational Health Division of an electrical company
based in Santa Catarina. Therefore, the data collection instrument used was the work scale with
Sense (ETS), 2015, with 22 respondents. Were checked quantitatively the factors contributing to
the sense of work, such as: development and learning; social utility; quality of the relationships;
autonomy; and work ethic. Through the evaluation of the data, it has been found that the factors
that make sense for these professionals' tasks are the social usefulness and the quality of
relationships; and the factors that least characterize the sense are autonomy and ethics. To
strengthen the factors with the highest rates, it is salutary to carry out organizational actions to
maintain the meanings of work; and for possible improvements of the factors with lower rates,
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there is a need to make a qualitative assessment of a plan of action that will enable improvements
in these organizational phenomena.
Keywords: The meanings of work. Health professionals and safety. Electrical company.
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1 INTRODUÇÃO
No decorrer da história humana, o conceito e práticas de trabalho vêm se modificando
em um movimento dialético. Assim como transforma a realidade, este também é fortemente
influenciado pelo meio social, pelos aspectos tecnológicos, de gestão e, principalmente,
econômicos. O trabalho tem passado por mudanças significativas em sua concepção: desde
algo inútil, causador de sofrimento (vale lembrar-se de tripalium ou trabicula – termos latinos
associados à tortura) a gerador de prazer e satisfação, colaborando para a construção da
identidade do indivíduo e a inserção deste na sociedade. Ou seja, até os dias atuais, o trabalho
tem múltiplos significados e/ou sentidos. O trabalho, portanto, é vital para o ser humano, pois
permite desenvolver sua força criativa e sua capacidade de imaginar.
Sócio-historicamente, as concepções de trabalho foram construídas e transformadas.
Borges (1999) destaca como principais: a clássica, a capitalista tradicional, a marxista, a
gerencialista, a da centralidade expressiva e a da centralidade externa, na revisão da literatura
com mais detalhamento. Ressalta-se que, embora estas concepções tenham emergido em
momentos distintos, o surgimento de uma não anula a outra. Todas, de alguma forma,
permanecem existindo, conforme a realidade de cada sociedade. Citar estas concepções é
condição para a compreensão do trabalho e seus sentidos, desde quando era atribuída a ele
baixa centralidade na vida e características como degradante, inferior, desgastante e duro; a
um trabalho com valores, que seja humanizador, digno, fonte de satisfação, racional,
desafiante (BORGES, 1999).
O tema trabalho é objeto de diversos estudos, de diferentes abordagens, e este trabalho
busca analisar os sentidos do trabalho para os empregados lotados na Divisão de Segurança
do Trabalho e Saúde Ocupacional, composta por 22 funcionários, de uma empresa do setor
elétrico, sediada em Santa Catarina e localizada na cidade de Florianópolis. Por meio de um
instrumento quantitativo, a Escala do Trabalho com Sentido (ETS), buscou-se verificar se o
trabalho que realizam apresenta sentido na percepção desses empregados.
Esta divisão é composta por uma equipe multiprofissional de saúde e segurança do
trabalho, formada por engenheiros e técnicos de segurança, médicos, enfermeiros e técnicos
de enfermagem do trabalho, assistentes sociais, dentista e psicólogo. São formações que,
originalmente, dão suporte/apoio para os empregados do quadro funcional da empresa e,
portanto, verificar e compreender se o trabalho desenvolvido tem sentido é importante para
identificar possíveis propósitos e fatores que possam interferir na motivação,
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comprometimento ou engajamento no trabalho. Por meio desta pesquisa, haverá condições de
identificar características do ambiente, da organização e do conteúdo do trabalho que venham
a interferir, positivamente ou negativamente, na percepção de sentido do trabalho para esta
equipe (BENDASSOLLI; BORGES-ANDRADE, 2015).
Assim, a partir deste diagnóstico propiciado pelo ETS, poder-se-á criar um plano de
ação para possíveis melhorias que venham a favorecer o aperfeiçoamento no desempenho das
atividades desenvolvidas pela equipe, que busca o desenvolvimento organizacional e humano,
com foco na preservação da saúde e bem-estar dos empregados.
2 O SENTIDO DO TRABALHO
2.1 AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES SOBRE O TRABALHO
O "mundo do trabalho" passa por constantes transformações - principalmente as
tecnológicas, das relações e organizacionais - e resulta de um processo histórico e, portanto,
não é constituído aleatoriamente. Seu desenvolvimento e propagação estão relacionados às
diferentes formas e relações de produção, da organização da sociedade como um todo e das
formas de conhecimento humano. Desta forma, o surgimento de cada concepção do trabalho
associa-se a interesses econômicos, ideológicos e políticos (BORGES, 1999). De forma geral,
as concepções não são estáticas e não existe uma única aceita pela sociedade, pois elas não se
eliminam, mas coexistem e lutam entre si. Ou seja, são influências e influenciam diversos
agentes, como o ambiente de trabalho, os sindicatos, os governos, as organizações religiosas,
as famílias, entre outras entidades, assim como os trabalhadores.
A primeira concepção a ser abordada é a concepção clássica originada da filosofia de
mesma designação e do trabalho escravo. Segundo Borges (1999), na Antiguidade, era
atribuída baixa centralidade ao trabalho na vida do indivíduo e o mesmo era considerado
degradante, inferior, desgastante e duro; em contrapartida, o principal valor era o ócio.
Trabalhar era, pois, atividade dos escravos, e atividades políticas e/ou intelectuais não eram
concebidas como trabalho, de modo que os filósofos ou políticos viviam no ócio, entregues à
contemplação ou à ação política.
Sob a influência da Igreja Católica, a concepção de trabalho começou a passar por uma
transição. Oscilava entre exaltar o trabalho a tomá-lo como punição e/ou ferramenta de
penitência a algum pecado. “Nos primeiros tempos do cristianismo, o trabalho era visto como
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punição para o pecado, que também servia aos fins últimos da caridade, para a saúde do corpo
e da alma, e para afastar os maus pensamentos provocados pela preguiça e pela ociosidade.”
(ALBORNOZ, 1994, p. 51).
Com a reforma protestante, todavia, o trabalho é reavaliado e considerado, por
exemplo, por Lutero, como a base e chave da vida; e por Calvino, a ideia de predestinação.
Começa, então, a surgir a segunda concepção, a capitalista tradicional, em que o homem
religioso e o homem econômico coincidiriam com o empresário burguês. Tal concepção, além
do predomínio da religião protestante como influência, baseou-se também nos fundamentos
da economia e administração clássicas e da psicologia industrial, atribuindo elevada
centralidade ao trabalho, o que a torna muito distinta da primeira concepção, na qual era visto
como mercadoria.
A terceira concepção, a marxista, também atribui elevada centralidade ao trabalho na
vida do indivíduo, mas surge da crítica à concepção capitalista tradicional, ao concebê-lo
como representante da própria expressividade e autoconstrução do ser humano. Também
defende um trabalho produtor da própria condição humana, expressivo, de conteúdo criativo e
desafiante, dignificante, de controle coletivo, fornecedor de recompensas conforme
necessidade de cada um e protegido pelo Estado. Ou seja, é uma concepção de trabalho
bastante distinta da concepção capitalista tradicional, na qual o trabalho é descrito como uma
mercadoria, alienante, explorador, monótono e repetitivo, discriminante, submisso e
embrutecedor. Contudo, tanto a concepção marxista quanto a capitalista tradicional entendem
que a glorificação ao trabalho está fundamentada na crença de que a produção em massa
acarreta avanço qualitativo para a sociedade (BORGES, 1999).
As críticas à concepção marxista e a outros movimentos, como o anarquismo, parecem
subsidiar o desenvolvimento de uma quarta concepção do trabalho, a gerencialista. Borges
(1999) afirma que, embasada pela corrente keynesiano-fordista na economia, das relações
humanas nas organizações e pelos estudos precursores que originaram a psicologia
organizacional, esta concepção é caracterizada por atribuição de uma centralidade mais baixa
ao trabalho, em comparação a concepções marxista e capitalista tradicional. Esta concepção
acrescenta os aspectos interpessoais na base do poder, com habilidades interpessoais mais
polidas. Quanto aos valores, defende ainda um trabalho que seja mercadoria (vínculo estreito
com o consumo, isto é, provedor de salários, assistência, benefícios, rede de proteção
institucional), mas com garantia de emprego e provedor de contatos interpessoais. Porém,
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pobre de conteúdo, parcelado, monótono, mecanizado e repetitivo para grande parte dos
trabalhadores.
Frente ao paradoxo em que se encontra a sociedade atual, Borges (1999) destaca duas
concepções emergentes do trabalho: a centralidade expressiva e centralidade externa. Com
atribuição elevada da centralidade ao trabalho, a centralidade expressiva relaciona-se com os
valores do trabalho do marxismo, com características humanas (humanizador), digno, fonte de
satisfação de necessidades básicas, racional, deliberado e desafiante. Evidencia a questão da
horizontalização das estruturas organizacionais, a participação e a pluralidade do poder. Como
principais valores, têm-se, portanto, a expressividade, a riqueza de conteúdo do trabalho e o
avanço tecnológico.
Simultaneamente à concepção da centralidade expressiva, surgiu a concepção da
centralidade externa. Embora muito próxima à concepção anterior - por buscar fundamentos
nas críticas desenvolvidas pela economia radical, mas com influências neoliberais -, atribui
baixa centralidade ao trabalho e diferencia-se drasticamente nos valores, defendendo um
trabalho instrumental, um igualitarismo relacionado à socialização de aspectos positivos e
negativos do trabalho, horizontalização, instabilidade, um trabalho leve em decorrência da
alta tecnologia e na diminuição da jornada de trabalho. O principal valor desta concepção é o
prazer fora do trabalho, por intermédio do consumo e do lazer (BORGES, 1999).
Ter conhecimento dos principais aspectos, tendências e mudanças no trabalho no
decorrer da história é relevante para a compreensão atual do sentido do trabalho e de
expectativa laborais para o futuro.
2.2 BREVE HISTÓRICO SOBRE A RELAÇÃO DA PSICOLOGIA COM O TRABALHO
Ao realizar uma breve retrospectiva da constituição do campo da Psicologia
Organizacional e do Trabalho (POT), constata-se que, através dos tempos, diversos
pesquisadores se interessaram em estudar sobre o trabalho e os indivíduos.
O primeiro momento, no qual a psicologia se insere no mundo do trabalho, dando
início a um novo campo, é datado por volta do começo do século XX. Nesta época, a POT
instaurava-se como disciplina e campo profissional, chamado de psicologia industrial, cujo
objetivo era, sobretudo, o desenvolvimento de técnicas para seleção e treinamento de pessoal.
De forma simplificada, os diferentes interesses envolvidos na apropriação psicológica do
trabalho, segundo Bendassolli, podem ser assim analisados:
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[...] ora esses interesses têm a ver com o ajuste, a disciplina e controle dos
indivíduos a fim de garantir a produtividade da empresa, ora têm a ver com o
enriquecimento da experiência desses mesmos indivíduos com o trabalho, seja ou
não com o propósito de melhorar a produtividade e a eficiência. De um lado, o
objetivo de controlar e de disciplinar; de outro, o objetivo de emancipar, de
“empoderar” os indivíduos para que estes atualizem e realizem seus próprios
potenciais - dentro ou fora da empresa e até do trabalho. (2009, p. 37)
Ao retomar os primeiros momentos em que Psicologia foi formalmente inserida no
mundo do trabalho e suas relações, destaca que diversos foram os estudos neste âmbito.
Todavia, o marco instituinte e mais reconhecido está no trabalho de Hugo Münsterberg, com a
publicação, em 1913, de Psychology and Indutrial Efficiency. O grande elemento definidor
desta fase inicial da psicologia inserida no ambiente de trabalho é avaliação psicológica e
ajuste homem/máquina/trabalho.
Em um segundo momento, cita Bendassolli (2009), a área ganha espaço como
disciplina independente. Com o surgimento das teorias sobre o desenvolvimento
organizacional na administração, é renomeada como psicologia organizacional, com uma
ampliação temática e mais diversificada, na direção do universo da organização como um
organismo com outros subsistemas interdependentes. Por conseguinte, a “velha” psicologia
industrial é substituída pela psicologia organizacional.
Era um período pós-guerra, de expansão e crescimento e, neste cenário, mais
especificamente nos Estados Unidos e na Europa, esta “nova” psicologia se consolida. Assim,
“o escopo dos problemas tratados pelos psicólogos se amplia: eles se tornam consultores para
uma gama de problemas organizacionais – desde o desenho de postos de trabalho, passando
por seleção, treinamento, introdução de novas tecnologias e desenvolvimento organizacional.”
(ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES, 2014, p. 554).
Por volta de 1980, aumenta o destaque nas questões envolvendo a relação do indivíduo
e dos grupos com o trabalho e com a organização em que se encontram inseridos (com tópicos
como saúde, segurança, doenças ocupacionais, assédio, qualidade de vida, ergonomia, entre
outros). Assim sendo, sua nomenclatura muda novamente, agora, para psicologia
organizacional e do trabalho.
No Brasil, as primeiras e principais experiências da POT ocorreram em 1924, com
aplicações de testes psicotécnicos em empresas ferroviárias, mesmo antes da profissão do
psicólogo ser reconhecida legalmente no país, na década de 1960. Esta é a primeira fase da
trajetória da POT no Brasil.
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Na Era Vargas e no mandato de Juscelino Kubitschek, com a consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT) e a intensificação da industrialização no país, emerge a segunda fase da
POT. A área de gestão de recursos humanos, então, demonstra ser mais do que uma área que
realiza recrutamento e seleção, e insere em seu rol de atribuições as atividades de treinamento,
desenvolvimento e de avaliação de desempenho.
Nas décadas de 1970 e 80, contudo, surge um movimento de crítica ampla à forma de
atuação dos psicólogos organizacionais no Brasil, dado que este ainda estava atuando como o
psicólogo industrial e sob o estigma de não se preocupar com as demandas sociais presentes
no trabalho, apenas com as necessidades da empresa ou do capital. Wanderley Codo, em
1984, escreve um texto chamado “O papel do psicólogo na organização industrial (notas sobre
o lobo mau em Psicologia)” que marcaria e influenciaria esta fase de crítica a atuação da POT
no país.
A partir deste movimento, constitui-se a terceira fase do desenvolvimento deste
campo no país. Zanelli, Bastos e Rodrigues, (2014, p. 560) analisam que:
A preocupação com as organizações (produtividade, qualidade e competitividade),
com a gestão (modelos de gestão de pessoas, políticas de pessoal) e com os
trabalhadores (em termos de saúde, bem-estar e qualidade de vida) de uma forma
integrada, como fenômenos articulados em uma complexa rede de
multideterminações recíprocas, é o que define o campo no momento presente.
A POT, em vista de todos os acontecimentos relevantes, afirmou-se como uma
disciplina científica, contribuindo para o desenvolvimento de conhecimentos sobre o
comportamento humano em geral e em contextos inerentes ao trabalho. É imprescindível
comentar que este campo profissional e científico não se constituiu isoladamente, fez e faz
interação com outros campos afins, como psicologia social, antropologia e sociologia. Para
complementar, é pertinente destacar que para a construção de organizações saudáveis e
produtivas, todos os psicólogos organizacionais devem ser agentes atentos à rede de pessoas,
na qual estão envolvidos, para atuar junto tanto aos trabalhadores quanto gestores e nunca
dicotomizar esta interação.
2.3 SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO TRABALHO: ABORDAGENS DOMINANTES
Por envolver elementos sociais, culturais, históricos e psicológicos, o trabalho e os
seus sentidos para os indivíduos sofreram transformações no decorrer dos tempos, desde
quando o trabalho era considerado sem valor e inferior, no período da antiguidade; quando,
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em um caráter religioso, oscilava entre exaltar o trabalho ou tomá-lo como ferramenta de
punição/castigo; e, por fim, atrelado a sociedade industrial, em que o trabalho era visto como
mercadoria.
Na Psicologia, em meados de 1970 e nos anos seguintes, mais especificamente nos
anos 80, os estudos sobre o sentido e significado do trabalho se ampliaram. Neste período, o
interesse pelo tema foi incentivado por algumas razões, entre elas:
1. Pelas polêmicas em torno do papel estruturante do trabalho; 2. Pelo surgimento de
novos modelos de gestão e de organização do trabalho, pondo ênfase em cognições e
em competências complexas, bem como nas emoções; 3. Pelas mudanças nas
relações de trabalho principalmente no que concerne ao desmantelamento da
organização trabalhista (sindical); 4. Pelo crescimento do setor de serviços; 5. Pelas
mudanças epistêmicas na Psicologia, que ampliaram a atenção à construção de
significados e sentidos. (BORGES; YAMAMOTO, 2010, p. 250)
Os significados e os sentidos do trabalho, por sua vez, têm sido objeto de estudo de
diversos pesquisadores. Todavia, ressalta-se que, por serem construtos complexos e em
construção, não há um consenso em relação ao uso das terminologias sentido e significado do
trabalho. Há autores, como Tolfo, Coutinho, Baasch e Cugnier (2005), que os diferenciam,
enquanto outros utilizam suas definições como se tratassem do mesmo fenômeno. E, na busca
por definir estes conceitos e contribuir para a construção de um conhecimento ampliado sobre
a questão, Tolfo, Coutinho, Baasch e Cugnier (2005, p. 9) compreendem “os significados
como construções elaboradas coletivamente em um determinado contexto histórico,
econômico e social concreto. Já os sentidos são uma produção pessoal decorrente da
apreensão individual dos significados coletivos, nas experiências cotidianas.”.
Dessa forma, na Psicologia, há diferentes bases epistemológicas que estudam os
sentidos e significados do trabalho. Tolfo (2015) cita as principais: cognitivista,
existencialista, sócio-histórica e construcionista. A seguir, algumas destas bases serão
brevemente explicitadas.
Na perspectiva cognitivista, destacam-se as pesquisas de uma equipe, cujo trabalho
veio a ser conhecido como Meaning of Work - MOW. Suas pesquisas, conduzidas no final de
1980, em oito países, são consideradas um marco nos estudos sobre o significado do trabalho.
Este modelo, segundo Bendassolli (2009, p. 94), propõe três dimensões:
[...] a primeira envolve as “variáveis condicionais” do significado do trabalho que
incluem: a situação pessoal e familiar; o trabalho atual e a história laboral do
indivíduo; e o ambiente macrossocioeconômico. A segundo dimensão compreende
as “variáveis centrais” do modelo: centralidade no trabalho como um papel de vida;
normas sociais sobre o trabalho; resultados valorizados do trabalho; importância dos
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objetivos de trabalho; e identificação com o trabalho como um papel. [...] Por fim, a
última dimensão diz respeito às “consequências”, como dois elementos: expectativas
subjetivas sobre as condições futuras de trabalho e resultados objetivos do trabalho.
Sendo assim, o significado do trabalho, a partir dos estudos do MOW, passa a ser
compreendido como um composto de dimensões cognitivas (atitudes, crenças, conhecimento,
pensamentos, ideias, representações e informações acerca do trabalho), afetivos (valorações,
motivações, emoções, necessidades e sentimentos), predisposição de comportamento
(intencionalidade) e macroestruturas (normas, cultura organizacional e social e princípios)
(BENDASSOLLI, 2009).
A pesquisadora Lívia de Oliveira Borges (2001) também adota essa perspectiva como
base em suas pesquisas e identifica como facetas do significado do trabalho a centralidade do
trabalho, os atributos valorativos, os atributos descritivos e a hierarquia dos atributos. A
autora (2001, p.15-16) descreve o conceito de centralidade do trabalho como a “importância
que o indivíduo atribui ao trabalho, comparando-o às outras esferas de vida: família, lazer,
religião e comunidade.”. Os atributos valorativos condizem “às características atribuídas ao
trabalho, as quais oferecem uma definição de como este deve ser.”. Sobre os atributos
descritivos, estes se referem ao que o trabalho é concretamente, ou seja, “é a realidade do
trabalho como mentalmente representada ou abstraída por casa pessoa.”. Por fim, a autora
explica o que contempla as hierarquias de atributos: são os “arranjos individuais, os quais
consistem na organização dos diversos atributos valorativos e descritivos segundo sua ordem
de importância” (BORGES, 2001, p.16). Dessarte, a pesquisadora propôs, após revisão de
diversos estudos no campo da cognição e trabalho, uma formulação própria na direção da
compreensão do significado do trabalho.
Outra base epistemológica citada por Tolfo (2015) é a abordagem existencialista, que,
baseada nos estudos do Grupo MOW, do psiquiatra existencialista Victor Frankl e Irvin
Yalom, pesquisam sobre o sentido do trabalho e, dentre os principais pesquisadores, encontra-
se Estelle M. Morin. Para a autora, os componentes do sentido do trabalho são:
Quadro 1 – Componentes do sentido do trabalho
SENTIDO DO TRABALHO
Significação Orientação Coerência
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- é a definição do trabalho, isto
é, o conhecimento e a
compreensão que o indivíduo
tem dele ou, em outras
palavras, a representação do
trabalho;
- a centralidade do trabalho,
isto é, a importância ou o valor
do trabalho para o indivíduo.
- a função do trabalho, isto é a
intenção, a finalidade ou o
desejo pessoal associado ao
trabalho, ou as razões pelas
quais o indivíduo trabalha;
- os resultados pessoais
buscados pelo trabalho.
- a relação do indivíduo com o
trabalho, isto é, o equilíbrio que
o indivíduo encontra graças às
experiências e às imagens que
lhe proporcionam seu trabalho.
Fonte: Morin e Aubé, 2009, p. 117
Em pesquisa realizada no Brasil, Morin, Tonelli e Pliopas (2007) analisaram o sentido
do trabalho em três dimensões: o sentido que o trabalho assumiu para o próprio indivíduo -
dimensão individual; o sentido que pode ser encontrado na relação da pessoa com a
organização - dimensão organizacional; e de acordo com o sentido que pode ser encontrado
na relação da pessoa para com a sociedade - dimensão social. E, a partir de outro estudo,
conduzido na França, Morin (2001) sintetiza as características principais de um trabalho com
sentido, conforme quadro a seguir.
Quadro 2 – Síntese das características de um trabalho que tem sentido associadas aos
princípios da organização
Um trabalho que tem
sentido é um que... Características do trabalho Princípios da organização
É realizado de forma
eficiente e leva a um
resultado
Finalidade
Clareza e importância dos
objetivos
Utilidade, valor dos resultados
Eficiência Racionalidade das tarefas
É intrinsecamente
satisfatório
Aprendizagem e
desenvolvimento das
competências
Correspondência entre as
exigências do trabalho e as
competências da pessoa
Realização e atualização Desafios e ideais
Criatividade e autonomia
Margem de manobra sobre a
administração das atividades e a
resolução dos problemas
Responsabilidade Feedback sobre o desempenho
É moralmente aceitável
Retidão das práticas sociais e
organizacionais
Regras do dever e do saber viver
em sociedade
Contribuição social Valores morais, éticos e
espirituais
É fonte de experiências de
relações humanas
satisfatórias
Afiliação e vinculação Trabalho em equipe
Serviço aos outros Relações do tipo cliente-
fornecedor
Garante a segurança e a
autonomia
Independência financeira Salário apropriado e justo
Saúde e segurança Boas condições de trabalho
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Mantém ocupado Ocupação Carga de trabalho adequada
Fonte: Morin, 2001, p. 18
Tolfo (2015) analisa também as abordagens construtivista e sócio-histórica. A
primeira, resumidamente, fundamenta-se na psicologia social e compreende que os indivíduos
dão sentido ao mundo do qual estão inseridos por meio do conhecimento do senso comum
produzidos no dia a dia, ou seja, o sentido está nas vivências subjetivas. Na segunda
abordagem, com contribuições relevantes da obra aberta de Vigostski e, em grande parte,
pelos estudos do psicólogo russo Alexei Leontiev, o sentido do trabalho é entendido como:
[...] construído nos processos de mediação semiótica entre homem e natureza
(atividade), dentro de um contexto sócio-cultural particular. Assim, o trabalho é
entendido como uma atividade orientada, ao mesmo tempo para o sujeito, para os
outros e para o objeto da atividade, resultando em uma transformação de si, dos
outros e do mundo. (BENDASSOLLI; GONDIM, 2014, p. 137)
Percebe-se, no decorrer desta breve revisão da literatura, que os pesquisadores sobre o
tema dos sentidos e significados do trabalho, abordam-no de forma variada, ora tratados como
sinônimos, ora distinguidos. Sendo esta temática complexa, em construção e relativamente
recente, compreende-se tal diversidade.
Contudo, nesta pesquisa será utilizado o conceito de sentido, pois além da ferramenta
Escala do Trabalho com Sentido (ETS) ser baseada nos estudos de Morin e Dassa, o sentido
“diz respeito ao fato de que o sujeito, na realização de seu trabalho, identifica elementos, ou
fatores, que tornam seu trabalho uma atividade vivenciada como algo com propósito, direção
e finalidade, estando em sincronia com a autorepresentação que ele tem de sim mesmo, sua
identidade.” (MORIN, 1997, 2003, 2007 apud BENDASSOLLI; BORGES-ANDRADE,
2015, p. 223.). No que se refere aos fatores, o ETS avalia seis: utilidade social do trabalho;
ética no trabalho; liberdade no trabalho; aprendizagem e desenvolvimento; qualidade das
relações no trabalho e coerência e expressividade do trabalho, na metodologia explicitados
com maiores detalhes.
3 MÉTODO
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA PESQUISADA
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A empresa participante da pesquisa exerce seu papel de prestação de serviço no
mercado de geração e transmissão de energia elétrica, construindo e operando instalações
neste segmento. Além disso, presta serviços de telecomunicação e busca desenvolver
pesquisas e empreendimentos voltados a fontes alternativas como a energia limpa, em
especial a eólica e solar.
Sobre sua estrutura organizacional, possui assembleia de acionista, conselho de
administração e diretoria executiva, com presidência e assessorias, e quatro diretorias:
administrativa, financeira, de engenharia e de operação. Em cada diretoria, há os
departamentos, com suas respectivas divisões e setores. Esta pesquisa foi realizada em um
departamento da Diretoria Administrativa, o Departamento de Gestão de Pessoas - DGP, na
Divisão de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional - DVSS - constituída por três setores:
saúde ocupacional, segurança do trabalho e acompanhamento funcional e social. Atualmente,
a empresa atua nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do
Sul e Rondônia.
Tabela 1 – Empregados do quadro funcional
Cargo
Número de
empregados
Gênero
M F
Profissional - Médio Operacional 610 593 17
Profissional - Médio Suporte 156 89 67
Profissional - Pesquisador 1 1 0
Profissional - Superior 549 407 142
TOTAL 1316 1090 226
Fonte: Dados fornecidos pela empresa pesquisada
Conforme se observa na Tabela 1, a empresa conta com um quadro funcional de 1.316
empregados, sendo 82,82% de homens e 17,17% mulheres. Destes, 46,35% ocupam o cargo
de médio operacional, 11,85% o cargo de médio suporte, 41,79% refere-se ao cargo de
profissional de nível superior e um profissional pesquisador.
E, considerando o serviço prestado, entre os profissionais de nível superior, a
formação predominante é de engenheiros, com 52,18% e, em segundo, administradores, com
14,36%. No Departamento de Gestão de Pessoas, dos 51 empregados lotados neste
departamento, há a predominância de profissionais de médio suporte (29,4%), composto por
técnicos em enfermagem do trabalho e empregados de nível médio. Quanto aos cargos de
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nível superior, os administradores correspondem a 17,6% e os profissionais da DVSS, por sua
vez, representam 45% dos profissionais deste departamento.
3.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Os profissionais de saúde ocupacional e de segurança do trabalho atuam com o
objetivo de contribuir para o bem-estar, saúde e segurança dos trabalhadores. É uma equipe
do Departamento de Gestão de Pessoas que lida diretamente com o público interno, e, como
tal, compreendem a necessidade de um ambiente e organização de trabalho de qualidade, em
que as atribuições designadas precisam fazer sentido para o trabalhador. Deste modo, o
objetivo desta pesquisa, busca analisar os sentidos do trabalho para os empregados da Divisão
de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional de uma empresa do setor elétrico sediada em
Santa Catarina, com vistas a possibilitar o diagnóstico e melhorias, caso necessário.
A pesquisa, com delineamento quantitativo, foi realizada entre os meses de agosto e
outubro de 2015 e para sua realização foi utilizada uma ferramenta quantitativa chamada
Escala de Trabalho com Sentido (ETS), de Bendassolli e Borges-Andrade, 2015.
A escolha da Escala do Trabalho com Sentido advém do objetivo em pesquisar,
quantitativamente, o sentido do trabalho e, dentre os instrumentos já validados no Brasil, o
ETS foi a escolha mais adequada. Sobre a aplicação da ferramenta, a maioria (63,4%) foi
realizada pessoalmente e 36,4% foram encaminhadas por email, tendo em vista a
multirregionalidade da empresa.
Este instrumento fundamenta-se no modelo de sentido de trabalho de Morin e Dassa
que o utilizaram, em uma primeira aplicação, em 582 profissionais dos serviços de saúde e
social no Canadá, em 2006. As pesquisas destas autoras se dedicam à compreensão de quais
características do trabalho contribuíam para a relação entre o eu e o trabalho e,
consequentemente, produziam uma percepção de coerência e sentido nos indivíduos. Além
disso, as pesquisadoras definem o instrumento como um meio de identificar fatores que fazem
o trabalho ter sentido (BENDASSOLLI; BORGES - ANDRADE, 2015). Posteriormente, foi
traduzido e adaptado para o português por Bendassolli e Borges-Andrade (2011) e aplicado a
406 profissionais que atuavam nas denominadas “indústrias criativas” do Estado de São
Paulo. A escala brasileira é constituída de 24 itens, com a presença de 06 fatores. Ou seja,
[...] cada item/fator dessa escala avalia o quanto a pessoa julga que seu trabalho atual
se aproxima do que ela espera que o trabalho deva ter para que ele tenha sentido.
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Espera-se, portanto, que, quanto maiores forem as médias fatoriais da cada dimensão
do construto, maior seja a percepção de sentido naquele trabalho. (BENDASSOLLI
E BORGES-ANDRADE, 2015, p. 226)
Inicialmente, a escala tinha uma versão de 25 itens e cinco fatores para avaliar as
características de um trabalho com sentido, conforme Quadro 3.
Quadro 3 – Estrutura original encontrada para a ETS
Categorias de análise Aspectos avaliados
Desenvolvimento e aprendizagem Avalia a possibilidade oferecida pelo trabalho
para as pessoas alcançarem seus objetivos,
aprenderem e se desenvolverem.
Utilidade social do trabalho Avalia a utilidade do trabalho à sociedade.
Qualidade das relações no trabalho Avalia existência e contatos interessantes no
trabalho e o apoio dos colegas.
Autonomia no trabalho Avalia a possibilidade de o indivíduo exercer seu
julgamento para resolver problemas e de tomar
decisões com liberdade;
Ética no trabalho Avalia a existência de justiça e equidade no
trabalho.
Fonte: Morin e Dassa (2006, apud BENDASSOLLI E BORGES-ANDRADE, 2015, p. 224)
Após a aplicação do teste e nos estudos para verificação de evidências de validade em
uma amostra brasileira, os autores da pesquisa, Bendasssoli e Borges-Andrade (2011),
sugeriram mais um fator, o fator coerência e expressividade do trabalho, sendo que este
fator “diagnostica a percepção de que o trabalho corresponde às competências que o sujeito
desenvolveu a aos seus interesses profissionais e permite que esse sujeito atinja seus objetivos
e se faça ouvir.” (BENDASSOLLI; BORGES-ANDRADE, 2015, p. 226). A ETS, portanto, é
considerada uma escala multifatorial e seus resultados devem ser apurados considerando cada
um dos seis fatores que a compõem, juntamente a seus respectivos itens.
3. 3 PARTICIPANTES
Com relação aos respondentes, 22 empregados da divisão de segurança do trabalho e
saúde ocupacional, após a assinatura do Consentimento Livre e Esclarecido, participaram da
pesquisa. Esta equipe multiprofissional é composta por 23 profissionais, dentre eles
engenheiros e técnicos de segurança, médicos do trabalho, enfermeiro e técnicos em
enfermagem do trabalho, assistentes sociais e psicólogo. A formação predominante na divisão
é do setor de segurança do trabalho, com 32%, sendo que 18% são de técnicos em segurança
do trabalho e 14% são engenheiros de segurança. Além destes, outros 18% referem-se à
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formação em serviço social. A tabela, a seguir, demonstra as variáveis demográficas pessoais
e funcionais da equipe, com seus respectivos percentuais.
Tabela 2 – Dados sociodemográficos: características pessoais e funcionais
Variáveis pessoais Percentil Variáveis funcionais
Percentil
Gênero
Masculino
Feminino
64%
36%
Cargo
Médio Operacional
Médio Suporte
Superior
Não respondeu
9%
41%
32%
18%
Escolaridade
Curso técnico
Superior completo
Pós-graduação
23%
23%
54%
Cargo de chefia
9%
Idade
(média em anos) 46 anos
Tempo de serviço
3 a 5 anos
6 a 9 anos
10 a 15 anos
Mais de 15 anos
(média em anos)
13%
23%
23%
41%
Fonte: Dados colhidos na pesquisa
No questionário sociodemográfico, incluso juntamente à escala, foram demandadas
outras informações como: solicitação de transferência para outra área, e 86% referiram nunca
ter feito algum pedido de transferência. Também foram questionados sobre seus afastamentos
de saúde neste último ano, e 59% informaram que não se afastaram nenhuma vez. Contudo,
23% se afastaram entre 1 a 14 dias e 14% por mais de 15 dias, sendo encaminhados para o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS
Sobre a escala, sendo uma ferramenta multifatorial, os resultados foram apurados
considerando cada um dos seis fatores que a constituem e seus respectivos itens: utilidade
social (itens 2, 4, 15, 23); ética (itens 9, 10, 11 e 17); liberdade (itens 6, 19, 22 e 24);
aprendizagem e desenvolvimento (itens 12, 8, 14, 21); qualidade das relações (itens 3, 5, 7 e
20); e coerência e expressividade (itens 1, 13, 16 e 18). No próximo capítulo, intitulado
Apresentação e discussão dos resultados, estes fatores e seus respectivos itens estarão
elencados para melhor visualização.
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De acordo com Bendassolli e Borges-Andrade (2015), sobre o uso e aplicação da
ferramenta, os resultados foram obtidos por meio da média de cada fator. Ou seja, primeiro
somou-se o valor que cada participante atribuiu a cada um dos itens de cada fator,
separadamente. A soma de cada fator foi dividida por 4 (número de itens em cada fator). Para
o resultado geral por fator, somaram-se os valores obtidos por cada participante pelo número
de respondentes. O mesmo procedimento foi realizado nos demais fatores, sempre dividindo a
soma dos valores individuais pelo número de itens (4).
Quanto à interpretação das médias dos fatores, os escores acima de 4,9 (considerando
que o intervalo da escala é de 1 a 6) indicam uma percepção evidente de que o trabalho em
análise tem sentido. Considera-se, portanto, satisfatório. Ainda conforme o intervalo da
escala, abaixo de 3,5 é considerado uma média baixa. Destaca-se, portanto, que quanto
maiores forem as médias, mais se pode afirmar que o item avaliado do trabalho em questão
tem sentido para o grupo de respondentes.
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Apresentam-se, a seguir, tabelas com a indicação dos fatores e seus respectivos itens
que caracterizam um trabalho com sentido. A partir dos dados mensurados no grupo, estão
descritas, nas tabelas, as médias por item e a média geral de cada fator. Assim sendo, cada um
dos seis fatores terá seu resultado e discussões desenvolvidas subsequentemente.
Tabela 3- Fator contribuinte para o trabalho com sentido
Fator 1: UTILIDADE SOCIAL DO TRABALHO MÉDIA
2. Meu trabalho é útil para a sociedade. 5,18
4. Meu trabalho traz uma contribuição para a sociedade. 4,95
15. Meu trabalho é útil aos outros. 5,36
23. Meu trabalho é importante para os outros. 5,13
MÉDIA DO FATOR 5,15
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
Este primeiro fator diz respeito à utilidade do trabalho desempenhado em relação a
outras pessoas e à sociedade em geral. Para os participantes, este fator é o de maior
preponderância (5,15), sendo que o item “Meu trabalho é útil aos outros” merece destaque,
com um índice de 5,36, embora a maioria deles apresente escore acima de 5.
As pesquisadoras Morin, Tonelli e Pliopas (2007) realizaram uma pesquisa qualitativa
com um grupo de alunos de administração e verificaram a utilidade como uma característica
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crucial para que o trabalho tenha sentido. Há, então, sentido quando o trabalho e seu produto
servem para algum propósito e quando o indivíduo tem a percepção de todo o processo
produtivo, começo, meio e fim. As pesquisadoras inserem esta característica na dimensão
organizacional, quando o sentido do trabalho está ligado à relação entre a pessoa e a
organização. Ainda neste fator, constata-se que a dimensão social também se apresenta como
outro elemento contribuinte para dar sentido ao trabalho. Umas das características desta
dimensão é a contribuição para a sociedade, encontrada na relação do indivíduo com a
sociedade e o que este pode contribuir para a sociedade (MORIN; TONELLI; PLIOPAS,
2007).
Merlo (2014) analisa a relação do trabalho, estabelecida na interação com o outro e no
fato do trabalhador esperar um reconhecimento, contribuindo de alguma forma com o trabalho
realizado. O autor avalia que:
[...] quando o trabalhador obtém esse reconhecimento, ele permite uma apropriação
da qualidade de trabalho realizada e a percepção de que ele tornou-se mais hábil do
que era até aquele momento. Esse reconhecimento terá um papel sobre a construção
de sua identidade. De reconhecimento em reconhecimento, o indivíduo ultrapassa
etapas, com as quais ele transforma a si mesmo. Essa transformação se dá pelo olhar
dos outros, mas, também, pelo olhar da sociedade [...]. (MERLO, 2014, p. 18)
Em outro estudo, Morin (2001) conclui que o trabalho com sentido engloba seis
características, dentre elas, ser realizado de maneira eficiente e que leve a algum resultado, de
forma que a atividade agregue valor a alguma coisa. Todavia, o processo de trabalho deve ter
objetivos e clareza para favorecer a eficiência e resultados positivos.
Em relação aos participantes da pesquisa, pode-se inferir que a própria formação
interfere na avaliação deste fator, pois mesmo com característica peculiares nas suas áreas
específicas, todos atuam na prevenção e promoção da saúde e segurança do trabalho, ou seja,
na qualidade de vida e no bem-estar do próximo, tornando-se útil para o outro (item com
maior escore do fator). Ademais, por ser uma empresa do setor elétrico, este serviço também
contribui e é útil à sociedade, o que se soma ao elevado valor do índice de 5,18.
Quando se analisa a ética no trabalho, têm-se os resultados apresentados na Tabela 4, a
seguir.
Tabela 4 - Fator contribuinte para o trabalho com sentido
Fator 2: ÉTICA NO TRABALHO MÉDIA
9. Trabalho em um ambiente que valoriza a justiça (que respeita meus direitos). 4,45
10. Trabalho em um ambiente em que todos são tratados com igualdade. 4,18
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11. Trabalho em um ambiente que valoriza a consideração pela dignidade humana. 4,72
17. Trabalho em um ambiente que respeita as pessoas. 4,68
MÉDIA DO FATOR 4,51
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
Neste fator, a ética é analisada por intermédio de itens que avaliam a ocorrência de
justiça, equidade, respeito e consideração pela dignidade humana no trabalho. Observa-se que
os índices estão acima da média dos escores (considerando que o intervalo da escala é de 1 a
6), mas não acima do valor considerado satisfatório que é de 4,9. Entre todos os fatores
mensurados, é o segundo com menor média (4,51).
Embora um trabalho com sentido deva ser útil e contribuir para a sociedade, Morin
(2001) e Morin, Tonelli e Pliopas (2007) consideram que um trabalho que tem sentido deve
ser moralmente aceitável e ético, com regras do dever e do saber viver em sociedade. Por isso,
mesmo que o item “Trabalho em um ambiente em que todos são tratados com igualdade”
tenha sido avaliado na média, com um índice de 4,18, é um valor relativamente baixo em
comparação com os demais itens. Desse modo, há a sugestão de que, no ambiente de trabalho
da equipe há profissionais que não percebem um tratamento igualitário entre todos.
Diretamente correlacionada à ética em uma organização encontram-se os valores.
Robbins, Judge e Sobral (2010) mencionam que o valor diz respeito àquilo que o indivíduo
acredita ser justo, desejável e bom, sendo que, inclusive, influencia na percepção, na
compreensão de atitudes e da motivação. Estes autores analisam o atributo de conteúdo e de
intensidade específica nos valores: o primeiro é relativo a um modo de conduta ou condição
de existência importante para o sujeito, enquanto o último corresponde à intensidade, o quanto
deste modo de conduta ou condição de existência são importantes.
Todos os indivíduos possuem uma hierarquia de valores e um grau de importância,
portanto. Nesta perspectiva, quando alguns respondentes avaliaram que há certa desigualdade
no tratamento entre os colegas no ambiente de trabalho, demonstram que o tratamento
igualitário é de relevância para a equipe e deveria ser mais praticado. Além disso, quando há
dissonância entre os valores da organização ou do líder e o trabalhador, poderá ocorrer uma
ruptura na relação, o que tende a refletir no desempenho, motivação e satisfação, e pode
acarretar sofrimento psíquico, afinal este sujeito não se identifica com os valores praticados.
Ao se analisar a autonomia para realizar o trabalho, conforme Tabela 5, verifica-se o
que segue.
Tabela 5 - Fator contribuinte para o trabalho com sentido
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Fator 3: AUTONOMIA NO TRABALHO MÉDIA
6. Em meu trabalho, tenho liberdade para resolver os problemas de acordo com
meu julgamento.
3,77
19. Tenho autonomia em meu trabalho. 4,13
22. Meu trabalho me permite tomar decisões. 4,45
24. Tenho liberdade para decidir como realizar meu trabalho. 4,36
MÉDIA DO FATOR 4,18
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
Este fator refere-se à autonomia e liberdade no trabalho e agrupa os itens que avaliam
o quanto o trabalhador pode exercer seu julgamento para resolver problemas inerentes à sua
função e tomar decisões com liberdade. Verifica-se que este fator obteve a menor média entre
todos (4,18), ou seja, dentre as características mensuradas, é a menos percebida no ambiente
de trabalho, sendo o item “Em meu trabalho, tenho liberdade para resolver os problemas de
acordo com meu julgamento.” o menor índice, com uma média de 3,77.
Robbins, Judge e Sobral (2010) citam o modelo de características do trabalho
desenvolvido por J. Richard Hackman e Greg Oldham (1974) que propõe as cinco dimensões
essenciais para qualquer trabalho, tais quais a variedade de habilidade, identidade e
significância na tarefa, feedback e autonomia. Ou seja, o grau de independência e de critério
pessoal que o sujeito possui para executar e planejar o seu trabalho, sem depender da
liderança ou outras pessoas, são fundamentais para que seu trabalho lhe faça sentido.
No grupo pesquisado este fator é o menos perceptivo no ambiente de trabalho e uma
das hipóteses para esta avaliação é devido à verticalização da empresa (diversos níveis
hierárquicos no organograma) e ao estilo de liderança. Por ser uma empresa com diversos
níveis hierárquicos, a autonomia do trabalhador torna-se mais limitada, pois há centralização
de decisões. Certas ações, iniciativas e decisões, sejam rotineiras ou estratégicas, ficam sob
responsabilidade dos gestores. Zanelli e Silva (2012, p. 84) analisam que:
[...] a segmentação, deformação e sonegação de informações são fatores fortemente
restritivos ao desenvolvimento de equipes. A liberdade para iniciativas e decisões
alinhadas a um plano geral depende do conhecimento das estratégias e demais
elementos basilares da condução do sistema organizacional.
Neste caso, mesmo que os empregados da divisão pesquisada tenham um problema
para resolver, não poderão saná-lo conforme julgamento próprio, como se refere o item, até
porque a autonomia em uma organização é relativa, não absoluta. Precisarão da anuência ou
conhecimento de suas lideranças, e, tendo uma quantidade maior de chefias, a resolutividade
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pode se tornar reduzida ou morosa. Morin (2001, p.16) verificou, após diversas pesquisas,
que:
O fato de que o indivíduo ter que resolver problemas durante a realização do
trabalho e exercer seu julgamento para tomar decisões relativas à organização das
suas atividades reforça o sentimento de competência e eficácia pessoal; isso tem
uma influência direta são somente no desenvolvimento da autonomia pessoal, mas
também na motivação. Além disso, o fato de ter que resolver problemas e vencer
dificuldades estimula a criatividade dos indivíduos.
O estilo de liderança também pode intervir na liberdade do trabalhador. Se os líderes
forem, por exemplo, centralizadores, autocráticos, evidentemente, não promovem a
participação efetiva da sua equipe nas decisões e também prejudicam as condições para a
visão compartilhada e o alinhamento do grupo. Zanelli (2012, p. 123) corrobora afirmando o
seguinte:
Pessoas conscientes das regras e responsabilidades, informadas das estratégias e dos
objetivos da organização, das limitações e oportunidades, trabalhando com
entusiasmo e com possibilidades concretas de criar, podem construir um ambiente
de crenças e valores que instiga a busca por resultados, mas também torna possível a
saúde e qualidade de vida [...].
E, dentre as múltiplas funções do líder, o mecanismo do feedback deve ser praticado
com constância. É neste momento que a chefia pode orientar, informar e facilitar a regulação
das atribuições e estimular o senso de responsabilidade, dentro do que for possível.
Outra possibilidade para compreender o baixo índice do fator corresponde ao fato de
que a empresa de energia elétrica é regulamentada por diversas instituições externas, como a
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS), normas regulamentadoras, como as NR’s, e diversas normativas internas. A empresa e
os empregados seguem normas rígidas sobre os processos de trabalho, o que, diretamente ou
indiretamente, influenciam no desempenho destes profissionais e na sua autonomia.
Em suma, ter autonomia e poder exercer seu julgamento é fator condicionante para o
sentido do trabalho e o que menos está presente, conforme percepção dos pesquisados, no seu
ambiente de trabalho. Tal constatação pode gerar impactos na qualidade de vida e na saúde do
trabalhador, pois pode provocar insatisfação pessoal, falta de sentido em suas atribuições,
desmotivação e menos produtividade, uma vez que as determinadas ações podem estar
limitadas. Fatores, estes, característicos de riscos psicossociais na organização do trabalho, o
que pode desencadear o surgimento de sofrimento psíquico.
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Quanto às possibilidades de desenvolvimento e de aprendizagem, a Tabela 6
demonstra os resultados.
Tabela 6 - Fator contribuinte para o trabalho com sentido
Fator 4: DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MÉDIA
12. Meu trabalho me permite aprender. 4,86
8. Meu trabalho permite que eu me aperfeiçoe. 4,22
14. Meu trabalho me permite desenvolver minhas competências. 4,4
21. Tenho prazer na realização de meu trabalho. 4,77
MÉDIA DO FATOR 4,56
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
O quarto fator avalia a percepção dos participantes sobre o quanto seu trabalho oferece
possibilidades de alcançar seus objetivos, desenvolver suas competências e aprender novos
conhecimentos. Embora o índice não esteja acima de 4,9, o que indicaria que os empregados
percebem, claramente, sentido no trabalho desempenhado, o índice está dentro da média.
É sabido, de acordo com Rabaglio (2014), que a competência é compreendida pelo
conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes (CHA) - saber, saber fazer, saber ser e
querer fazer, porém as condições ambientais devem estar adequadas para poder aprender,
reter e aplicar as competências desenvolvidas em diferentes situações e contextos. O capital
humano e intelectual de uma organização é crucial para sua imagem e sobrevivência no
mercado. E o aprendizado, seja individual ou coletivo, é primordial para aumentar este capital
intelectual e armazenar conhecimentos, habilidades e atitudes úteis para as organizações,
propiciando também o desenvolvimento organizacional. Estes bens intangíveis devem ser
valorizados pela organização por meio de ações de treinamento e desenvolvimento.
Bendassolli e Borges-Andrade (2011) também avaliaram o fator desenvolvimento e
aprendizagem, mas com trabalhadores de indústrias chamadas criativas, cujo índice deste
fator foi o mais elevado, demonstrando que, dependendo do setor e da cultura de cada
organização, os sentidos do trabalho podem variar. No caso dos participantes da pesquisa de
Bendassolli e Borges - Andrade (2011), aprender e se aperfeiçoar dependerá unicamente do
próprio profissional criativo, pois não há um sistema formal para muitos destes profissionais,
como dança, teatro, desenho, fotografia, artes plásticas, entre outros.
Quanto aos respondentes da pesquisa, o item “Meu trabalho permite que eu me
aperfeiçoe.” teve a menor média dentre os quatro itens do fator, com índice de 4,22. No
entanto, proporcionar oportunidades de aprendizagem e aperfeiçoamento pode favorecer
mudanças comportamentais como motivação, comprometimento, prazer ao realizar
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determinado trabalho e perspectiva de crescimento profissional. Morin, Tonelli e Pliopas
(2007, p. 52) avaliam que:
[...] os indivíduos demonstram preocupação com uma eventual estagnação de suas
carreiras. A perspectiva de galgar as escalas hierárquicas traz sentido ao trabalho.
[...] Assim, trabalho com sentido passa a ser aquele que proporcione a aquisição de
habilidades e conhecimentos, que permite o aprimoramento de competências do
indivíduo.
Deste modo, saber gerir as competências dos empregados, além de promover
benefícios para os próprios, certamente, tornará esta organização diferenciada, que valoriza
seu capital humano e, sobretudo, o intelectual, dando oportunidade para estes profissionais
explorarem seu potencial.
Sobre a qualidade das relações no trabalho, a Tabela 7 demonstra os resultados.
Tabela 7 - Fator contribuinte para o trabalho com sentido
Fator 5: QUALIDADE DAS RELAÇÕES NO TRABALHO MÉDIA
3. Meu trabalho me permite ter bons contatos com meus colegas. 5,04
5. Tenho boas relações com meus colegas de trabalho. 4,9
7. Existe companheirismo entre meus colegas de trabalho e eu. 4,45
20. Posso contar com o apoio de meus colegas de trabalho. 4,71
MÉDIA DO FATOR 4,79
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
O quinto fator avalia a existência de contatos interpessoais no trabalho e o apoio dos
colegas, isto é, a qualidade percebida das relações no trabalho. A ênfase é nos
relacionamentos pessoais, mensurando o contato existente entre os empregados, o
companheirismo e apoio recíproco. Com índice de 4,79, este fator atingiu a segunda maior
média entre os seis fatores, constatando que as relações entre os respondentes são de
qualidade e podem fazer com que o trabalho tenha sentido. Embora o índice não esteja acima
de 4,9, o item “Meu trabalho me permite ter bons contatos com meus colegas.” atingiu o valor
de 5,04. O que indica que para a maioria dos empregados que compõe a Divisão de Segurança
do Trabalho e Saúde Ocupacional o trabalho é fonte de experiências de relações humanas
satisfatórias que envolvem afiliação e vinculação, sendo um dos principais fatores que
caracterizam o sentido para o trabalho. Além disso, as relações constituídas a partir da
interação com outro contribuem para a formação da identidade tanto individual quanto
organizacional. Robbins, Judge e Sobral (2010) analisam o comportamento em organizações,
incluindo a identidade social, componente essencial para a formação de grupos, sejam eles
formais ou informais.
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Estes autores verificaram que determinadas características estão envolvidas neste
processo, tais quais: similaridade – quando os integrantes do grupo possuem os mesmos
valores ou atributos dos outros integrantes de sua organização; distinção – os integrantes do
grupo percebem as identidades que mostram como elas são diferentes de outros grupos; status
– os indivíduos tendem a sentirem mais interesse em se relacionar com grupos de status
maior; e redução de incerteza – esta característica auxilia o indivíduo a entender quem eles
são e como se adaptam ao mundo. À vista disso, a troca e a associação com o outro possibilita
o desenvolvimento da identidade, fomenta a satisfação e, consequentemente, o sentido no
trabalho (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010).
Morin (2001) também analisa que um trabalho com sentido, além de proporcionar
experiências de relações humanas satisfatórias, possibilita o trabalho em grupo, entendendo
grupo como dois ou mais sujeitos interdependentes e interativos, visando atingir determinado
objetivo. A autora constatou que o fato de o trabalhador estar em contato com os outros, de se
relacionar, interfere como um verdadeiro estimulante, não apenas para o desenvolvimento de
sua identidade social e pessoal, mas também para o desenvolvimento de laços de afeição
duradouros. A formação de grupos, sendo assim, deve ser trabalhada constantemente, tendo
em vista que certos atributos existentes em um participante podem complementar outro e
vice-versa. Tende a possibilitar o desenvolvimento de novas competências, fortalecer o grupo
e desempenhar papel importante no comprometimento e satisfação destes indivíduos, bem
como potencializar o trabalho com sentido.
Os dados do último fator analisado, “coerência e expressividade”, encontram-se logo
abaixo, na Tabela 8.
Tabela 8 - Fator contribuinte para o trabalho com sentido
(continua)
Fator 6: COERÊNCIA E EXPRESSIVIDADE MÉDIA
1. Realizo um trabalho que corresponde às minhas competências. 4,95
13. Meu trabalho corresponde a meus interesses profissionais. 4,59
(conclusão)
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
O último fator mensurado avalia a percepção dos trabalhadores no que diz respeito à
correspondência de suas competências e o trabalho desempenhado, os seus interesses
Fator 6: COERÊNCIA E EXPRESSIVIDADE MÉDIA
16. Meu trabalho permite que eu me faça ouvir. 4,52
18. Meu trabalho me permite atingir meus objetivos. 4,5
MÉDIA DO FATOR 4,62
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profissionais, permitindo que esse indivíduo atinja seus objetivos e se faça ouvir. Salienta-se
que este fator foi inserido na escala após a verificação de evidências de validade em uma
amostra brasileira.
Assim como em outros fatores avaliados, o índice de 4,62, apesar de não estar acima
de 4,9, situa-se dentro da média da escala. O número indica que o trabalho para os
trabalhadores da Divisão de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional (DVSS) tem sentido
na medida em que lhes é permitido se expressar, fazer-se ouvir e por em prática suas
competências e interesses. Zanelli e Silva (2012, p. 102) fazem uma conexão entre as
competências e a estratégia organizacional, mencionando que:
No âmbito individual, a determinação das competências dos participantes da
comunidade organizacional vincula-se às competências essenciais, necessárias para
alcançar a estratégia. Incluem conhecimentos e aptidões desenvolvidas em processos
de educação que extrapolam as experiências individuais no âmbito das organizações
de trabalho. Na organização, as estratégias estão ligadas às competências que, por
sua vez, influenciam as estratégias, em processo dinâmico e contínuo. A aquisição e
o desenvolvimento de conhecimentos, sua disseminação e construção da memória
organizacional é processo coletivo, que pode assegurar a sobrevivência e o
aprimoramento de todos.
Sendo assim, os empregados perceberão mais sentido no trabalho à medida que seus
objetivos, expectativas, competências e interesses, muitas vezes baseados em seus valores,
tenham a oportunidade de serem colocados em prática. O que acarretaria o seu
desenvolvimento e da organização.
Morin e Aubé (2009) verificaram, por meio de suas pesquisas, a existência de três
componentes fundamentais para o sentido do trabalho: a significação do trabalho para o
sujeito - a definição que este confere ao trabalho e o valor que tem para ele; a orientação do
sujeito no que diz respeito ao trabalho – como objetivo pessoal ou a função do trabalho para a
sua vida; e a coerência - a relação do indivíduo com o trabalho. Este último componente
correlaciona-se com o fator “coerência e expressividade”, presente na escala, à medida que é
definido como:
[...] os resultados pessoais buscados, bem como a consistência que a experiência de
trabalho empresta ao indivíduo (isto é, o equilíbrio que o indivíduo pode encontrar
em si graças às suas experiências e às imagens que o cumprimento de suas tarefas
lhe proporciona). (MORIM; AUBÉ, 2009, p. 117)
No que concerne aos resultados pessoais, o item “Meu trabalho me permite atingir
meus objetivos.” obteve o menor índice (4,5) dentre os demais, sinalizando que os objetivos
pessoais dos pesquisados não são atingidos suficientemente por intermédio do trabalho.
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Usualmente, os objetivos estão associados aos valores individuais do trabalhador, logo,
quanto mais este trabalhador perceber que seus interesses e objetivos estão nivelados com o
seu trabalho e a organização como um todo, há maior probabilidade deste ver sentido nas suas
atividades laborais e, possivelmente, estará mais comprometido, produtivo e satisfeito.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É evidente o papel do trabalho e o sentido que ele desempenha na vida do ser humano
na concepção adotada neste trabalho. E, nesta perspectiva, qual seria o sentido do trabalho
para profissionais que, diariamente, atuam para promover o bem-estar, a saúde e qualidade de
vida aos trabalhadores de uma organização? Buscou-se, então, verificar, por meio de
instrumento que privilegia a abordagem quantitativa, o sentido do trabalho para profissionais
da saúde e segurança do trabalho de uma empresa do setor elétrico sediada em Santa Catarina.
E, diante do que foi apresentado, o objetivo proposto de analisar o sentido do trabalho para
estes profissionais foi alcançado.
Os resultados evidenciam que, na percepção dos participantes da pesquisa, os fatores
que mais fazem sentido para o seu trabalho são a utilidade social e a qualidade das relações.
Entretanto, os fatores com menores médias e, portanto, menos percebidos no ambiente de
trabalho, são a autonomia e ética, a seguir descritos com maior detalhamento.
Para estes profissionais, contribuir para a sociedade e para os outros, com algum
propósito, é a principal forma de obter sentido. Tal resultado pode ser decorrente das
respectivas formações dos participantes, como serviço social, medicina, enfermagem e
engenharia de segurança, e da natureza social do serviço prestado à empresa (saúde e
segurança) e à sociedade, energia elétrica. O segundo elemento mais importante para que o
trabalho tenha sentido aos empregados da divisão de segurança do trabalho e saúde é a
qualidade das relações no seu cotidiano de trabalho, permitindo ter bons contatos,
companheirismo e apoios dos colegas. Sem dúvida, a interação humana, neste caso, é vital,
uma oportunidade, por meio das trocas, de se construir identidades e a própria realidade de
trabalho desta equipe multiprofissional. Haja vista tais resultados, fortalecer estes fatores, por
intermédio de ações organizacionais, torna-se salutar para manutenção dos sentidos do
trabalho a eles associados.
O resultado, todavia, com a menor média corresponde ao fator autonomia no trabalho,
demonstrando que os empregados possuem pouca liberdade para tomar decisões, resolver os
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problemas conforme seu julgamento ou decidir como realizar seu trabalho. Tais resultados
podem estar associados a diversos fatores como o estilo de liderança, a verticalização da
empresa ou mesmo pelo tipo de serviço prestado, a energia elétrica, regulado por agências
externas. O segundo fator com menor índice foi ética no trabalho, e é importante comentar
que ética, neste aspecto, corresponde à existência de justiça e equidade no ambiente de
trabalho e não à dimensão moral, do ponto de vista das normas ou extrapolação destas.
Diretamente associada à ética, há os valores pessoais que, neste caso, se não compartilhados
com a liderança ou com os valores organizacionais, poderá provocar uma dissonância na
relação entre estes atores, com prejuízos tanto para a organização quanto para o trabalhador.
Estes resultados indicam a necessidade de uma análise mais detalhada do cenário avaliado,
pois, sendo a escala uma ferramenta diagnóstica, propicia mapear algumas características do
ambiente de trabalho para posterior aperfeiçoamento.
Além disso, como indicador de fatores que interferem na realização do trabalho, os
resultados da escala são um recorte do momento em que a pesquisa foi realizada e refere-se à
percepção dos empregados e suas características intrínsecas. Ou seja, embora constituam um
grupo, um coletivo, há características singulares que merecem atenção. Como tais, para
maiores esclarecimentos, sugere-se a ampliação da análise por meio de entrevista semi-
estrutura e/ou grupo focal, para qualificar estes dados mensurados. A partir disso, desenvolver
um plano de ação que possa interferir positivamente nestes fenômenos organizacionais.
Por intermédio de consultas nas principais bases de dados, destaca-se que a principal
dificuldade encontrada neste estudo foi a carência de pesquisas brasileiras que utilizaram a
Escala do Trabalho com Sentido. Uma possibilidade para tal resultado é que a validação e a
publicação literária deste instrumento são recentes, datada de 2011 e 2015, respectivamente.
Sendo assim, seriam relevantes outros estudos brasileiros, porém em setores diversificados da
economia, não somente na indústria criativa. O elemento facilitador, entretanto, é o fato da
pesquisadora fazer parte da equipe pesquisada, favorecendo a adesão à pesquisa e a aplicação
da escala.
Em síntese, avaliar os sentidos do trabalho é pertinente para a compreensão do vínculo
existente entre o indivíduo, seu trabalho e a organização. Ademais, diagnosticar o sentido do
trabalho também dá a oportunidade à organização e seus líderes de conhecer e compreender
melhor seus trabalhadores, o que tende a proporcionar maior satisfação, motivação e
comprometimento e gerar mais prazer e entregas no trabalho. Afinal, como bem define a
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célebre frase do escritor Leon Tolstoi: “Pode-se viver no mundo uma vida magnífica, quando
se sabe trabalhar e amar: trabalhar pelo que se ama e amar aquilo em que se trabalha.”.
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