O Resgate de Antigas Brincandeiras

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  Universidade de Brasília Centro de Excelência em Turismo O RESG TE DE NTIG S BRINC DEIR S N S ESCOL S PRIV D S DE GOIÂNI Suzana Menezes Orientadora: Dra. Dulce Suassuna Monografia apresentada ao Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília como Requisito parcial para a obtenção do certificado de Especialista em Turismo: Cultura e Lazer. Brasília – DF, maio de 2005.

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Este TCC fala sobre o resgate de brincadeiras antigas.É importante resgatar as brincadeiras tradicionais nos dias de hoje.

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  • Universidade de Braslia

    Centro de Excelncia em Turismo

    O RESGATE DE ANTIGAS BRINCADEIRAS NAS ESCOLAS PRIVADAS DE GOINIA

    Suzana Menezes

    Orientadora: Dra. Dulce Suassuna

    Monografia apresentada ao Centro de Excelncia

    em Turismo da Universidade de Braslia como

    Requisito parcial para a obteno do certificado

    de Especialista em Turismo: Cultura e Lazer.

    Braslia DF, maio de 2005.

  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    Centro de Excelncia em Turismo

    Curso de Especializao em Turismo: Cultura e Lazer

    O RESGATE DE ANTIGAS BRINCADEIRAS NAS ESCOLAS PRIVADAS DE GOINIA

    Suzana Menezes

    Banca Examinadora:

    Prof.(a) Dulce Suassuna (orientadora)

    Prof. Marcelo de Brito (membro)

  • Braslia, maio de 2005.

    Agradecimentos Em primeiro lugar a Deus, por me conceder o privilegio de mais uma conquista de vida.

    A meus pais, David e Dbora, por sempre depositarem em mim a confiana em realizar

    meus sonhos e desejos. Pelo apoio indispensvel, seja no sustento material, seja na

    compreenso e amor nos momentos de cansao, fadiga, humores alterados por conta

    de horas e dias de ausncias e viagens.

    A meus tios e primos, pelo conforto e acolhida em seus lares nos perodos de aulas e

    por representarem meu porto seguro ai em Braslia.

    Aos meus familiares e amigos pelo carinho, respeito e compreenso em momentos de

    ausncia de seus convvios principalmente nos interminveis fins-de-semana.

    Aos meus colegas de estudo, pelo carinho, ateno, solidariedade nas horas de carona

    e que hoje se tornaram meus amigos fraternais.

    Aos nossos respeitados Mestres e Professores, que souberam ministrar de forma

    precisa e estimulante. Em especial minha orientadora Dra. Dulce Suassuna, com seu

    jeito meigo e amvel que me fez acreditar que era possvel mesmo quando tudo se

    apresentava invivel.

  • RESUMO

    Brincar coisa sria! Este trabalho trata do Resgate de Antigas Brincadeiras nas

    Escolas Privadas de Goinia. Abordando sua caracterstica ldica e buscando a ligao

    com o processo da necessidade de uma valorizao e de um resgate de brincadeiras

    antigas dentro do ambiente escolar, pois brincando a criana desenvolve seu cognitivo,

    o afetivo e o social, aprendendo ainda a preservar esse patrimnio cultural que vm se

    perdendo.

    Palavras Chaves: Jogos Tradicionais Brincadeiras Infantis Escola e o Espao do Brincar Resgate da Cultura Popular.

  • ABSTRACT To play is a very serious thing! This work has the importance of Reintroducing Old

    Childs Plays in Private Schools at Goinia. Reinforcing that Childs plays has a special

    characteristic that is very significant to the children and searching for some process that

    can bring back this ancient plays to the school environment, because when children

    play, they develop their minds, hearts and social skills, learning that Old Childs Play is a

    Cultural Heritage that was lost by the time .

    Key Words: Traditional Games Childs Plays The School and The Space of

    Playing Recovering People Culture.

  • Sumrio INTRODUO Justificativa ................................................................................................................9

    Objetivo Geral ............................................................................................................12

    Objetivo Especfico ....................................................................................................12

    Problema ...................................................................................................................12

    Hiptese .................................................................................................................... 12

    METODOLOGIA Lcus de Investigao .............................................................................................. 13

    Os atores: Perfil do Entrevistado ...............................................................................17

    Captulo I O jogo e a brincadeira ......................................................................... 19 1.1 Jogos e sua origem ........................................................................................ 20

    1.2 Jogos Tradicionais A Origem dos Brinquedos Antigos .................................22

    1.3 -- Escola e o espao do brincar .......................................................................... 27

    Captulo II A Importncia do Resgate do Ldico .................................................. .29 2.1 O Brincar e o Brinquedo como objeto de Cultura ................................ ............38

    2.2 Brincadeira ou Atividade Ldica? .....................................................................43

    2.3 A Cultura Popular Ldica e Os Jogos Tradicionais Infantis ............................. 49

    Captulo III Resgate como forma de preservao: a brincadeira como o patrimnio imaterial ............................................................. ...50

  • CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 55 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 57 ANEXOS

    LISTAS DE FIGURAS

    Foto 01 Instituto Presbiteriano de Educao (IPE)

    Unidade I Setor Central .......................................................................................... 13

    Foto 02 Instituto Presbiteriano de Educao (IPE)

    Unidade II Setor Bueno .......................................................................................... 14

    Foto 03 Colgio Marista ......................................................................................... 15

    Foto 04 Colgio Maria Auxiliadora 1956 acervo ..................................................16

    Foto 05 Colgio Maria Auxiliadora 2001 ................................................................ 16

    Figura 01 Celerifero 1791 ....................................................................................... 22

    Figura 02 Imagem Ilustrativa - Bolinhas de Gude .................................................. 22

    Figura 03 Teatro de Bonecos Gravura ................................................................ 23

    Figura 04 O Parque Infantil 1823 Gravura .......................................................... 23

  • ANEXOS

  • 98%

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    IPE

    MAR

    IMA

    Grfico 01 - Fonte: Menezes Suzana / abril de 2005.

  • Grfico 02- fonte :Menezes Suzana / abril de 2005

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    sim no

  • 100% 100% 100%

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    IPE MAR IMA

    IPE MAR IMA

    Grfico 03 - Fonte: Menezes Suzana / abril de 2005

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    0%

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    40%

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    AlunosG

    Grfico 04 - Fonte: Menezes Suzana / abril 2005.

    .

  • ANEXO I - ROTEIRO DE ENTREVISTA

    Tema: O Resgate de Antigas Brincadeiras nas Escolas Privadas de Goinia

    Nome da Instituio: ___________________________________________________

    Nome do Entrevistado: _________________________________________________

    Cargo / Funo: ____________________________________________

    Data da Entrevista: _______________________ Hora: _____________

    Material utilizado: _____________________________________________________

    1- O que a escola tem feito para valorizar o resgate de antigas brincadeiras? Existem programas,

    eventos especficos para este tipo de resgate?

    2- H uma preocupao por parte da escola em introduzir as antigas brincadeiras como forma de

    preservao? Ou simplesmente para o aproveitamento do tempo livre?

    3- De que forma a escola introduz as chamadas brincadeiras antigas em seu contedo

    programtico?

    4- Como a escola v a importncia de se preservar antigas brincadeiras? importante? Por qu?

    5- De que forma de d a aceitabilidade por parte dos alunos a este tipo de resgate?

    6- H uma preocupao por parte da escola em aliar antigas e novas brincadeiras?

    7- Como se d esta fuso entre o que antigo e novo?

    8- dentro da escola que estamos dando oportunidades s crianas de conhecer, vivenciar e

    praticar o resgate de antigas brincadeiras como forma de preservao? Por Qu?

    Anotaes: __________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

  • 9

    INTRODUO

    O resgate de antigas brincadeiras nas escolas privadas de Goinia

    Pode parecer estranho e curioso para alguns falar em Resgate de Antigas

    Brincadeiras nos dias de hoje. Faz tempo em que estas manifestaes de identidade

    e cultura popular espontneas esto com os seus espaos cada vez reduzidos.

    Nas ruas, nas praas, nos quintais est mais raro de se ver ou ouvir das bocas

    infantis expresses e canes que, na simplicidade das suas melodias, gestos,

    ritmos e palavras, as quais guardam sculos de sabedoria e riqueza condensada no

    imaginrio popular.

    Estas atividades no so usuais, mas tambm no esto extintas. Apesar de terem

    suas formas transformadas e partes omitidas ou esquecidas, elas sobrevivem era

    do computador. Talvez, como um reflexo da busca do contato com a expresso

    genuna e ancestral que , em ltima instncia, insubstituvel.

    O fato que em nada se altera o teor valioso que as Brincadeiras Antigas

    representam. Elas continuam contendo marcas expressivas de toda uma vida; pois

    pelo entretenimento que a criana descobre o mundo, relaciona-se com outras

    crianas, prepara-se para a vida e mantm-se saudvel.

    Usadas como instrumento de convvio social, as brincadeiras funcionam como

    pretextos maravilhosos para a criana experimentar o seu corpo e a linguagem, e

    para se descobrir a si prpria tornando-se adultos equilibrados e mais

    felizes.Utilizando a fala de Plato: Voc pode aprender mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que uma vida inteira de conversao

    Brincar coisa sria! algo inerente ao ser humano, os bebs j nascem sabendo.

    Na infncia, a brincadeira assume papel de destaque, uma vez que permeia todas

    as relaes da criana com o mundo.

  • 10

    A brincadeira em si tem propsitos bem definidos e o principal meio pelo qual a criana pe

    em prtica conhecimentos que j possui, adquire novos e interage com outras crianas. Albert

    Eintein j dizia: Brincar a mais elevada forma de pesquisa.

    A brincadeira uma forma privilegiada de aprendizagem. Ela importante para o

    desenvolvimento da linguagem e para a socializao. Na medida em que vo

    crescendo, as crianas trazem para suas brincadeiras o que vem, escutam,

    observam e experimentam.

    As brincadeiras ficam mais interessantes quando as crianas podem combinar os

    diversos conhecimentos a que tiveram acesso. Nessas combinaes, muitas vezes

    inusitadas aos olhos dos adultos, as crianas revelam suas vises de mundo, suas

    descobertas.

    Atualmente, as crianas comeam a freqentar cada vez mais cedo as instituies

    voltadas para elas, como as creches e as escolas de Educao Infantil. Nesses

    espaos, o brincar muitas vezes desvalorizado em relao a outras atividades

    consideradas mais produtivas. Neles, a brincadeira realizada no intervalo,

    ocupando um prazo determinado. Valorizar a brincadeira no deve ser apenas

    permiti-la, deve ser tambm suscit-la.

    Mas por que brincar na escola? Uma parte considervel da educao infantil deveria

    se dar na rua, pulando amarelinha, jogando bet (jogos de tacos) outros jogos com os

    vizinhos. A descaracterizao desse espao de lazer nos grandes centros urbanos

    gera um vazio nas crianas, que pode ser preenchido pela escola.

    As crianas precisam de tempo, espao, companhia e material para brincar. Quanto

    mais as crianas vem, ouvem ou experimentam, quanto mais aprendem e

    assimilam, de quanto mais elementos reais dispem em suas experincias, tanto

    mais considervel e produtiva ser a atividade de sua imaginao. A escola pode e

    deve reunir todos esses fatores bem como o papel do educador nesse processo

    tambm fundamental.

  • 11

    Ao observarmos atentamente o modo como as diferentes crianas brincam,

    possvel perceber que os usos que fazem dos brinquedos e a forma de organiz-los

    esto relacionados com seus contextos de vida e expressam vises de mundo

    particulares.

    Na escola cada brincadeira planejada, conduzida e monitorada. A ao do

    educador fundamental. Ele estrutura o campo das brincadeiras, por meio da

    seleo e oferta de objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, do arranjo dos espaos

    e do tempo para brincar, a fim de que os alunos alcancem objetivos de

    aprendizagem predeterminados, sem limitar sua espontaneidade e imaginao.

    As brincadeiras infantis so consideradas como atividades completas, pois a criana

    exercita naturalmente o seu corpo, desenvolve o raciocnio e a memria, estimula o

    gosto pelo canto, poesia e dana.De acordo com Melo (1985),Poesia, msica e dana unem-se em uma sntese de elementos imprescindveis a educao global .

    Vale lembrar que, a atividade ldica constitui o aspecto mais autntico do

    comportamento da criana. Ao brincar, a criana est correspondendo a

    necessidades vitais, dando vazo a impulsos que a permitem desenvolver-se como

    ser pleno e afirmar a sua existncia singular; mostrando que o divertimento libera a

    criatividade e que as brincadeiras antigas como amarelinha, chicotinho queimado e

    cabra-cega contribuem para liberar o lado ldico e que resgatar brincadeiras

    infantins buscar-se a si mesmo favorecendo a convivncia e elevando a um

    aprendizado adequado.

    As Brincadeiras Antigas estimulam com a sensibilidade, o ritmo, o corpo e o

    movimento, alm de trabalharem o equilbrio e a emoo. O interesse maior pelo

    desenvolvimento desta pesquisa parte de uma constatao prpria de como

    importante e essencial se fazer e se dar o privilgio de futuras geraes gozarem

    dessa prtica tradicional alicerada de emoo, criatividade e sentimento. Esse

    tipo de pesquisa importante para que tradies como estas de Resgate de Antigas

    Brincadeiras, no caiam no esquecimento e alienao.

  • 12

    Existe um vasto mundo de cultura infantil que ainda pouco aproveitado como

    contedo escolar. Por meio do resgate de antigas brincadeiras nas escolas privadas

    de Goinia, possvel exercitar a imaginao, estimular a espontaneidade e

    promover o convvio em grupo; pois elas tambm podem ser utilizadas como um

    importante instrumento didtico para outros fins. Partindo das prticas tradicionais

    de brincadeiras, por exemplo, se pode ministrar uma bela aula de Histria e de

    Educao Patrimonial.

    Com tudo isso o objetivo geral que norteia o desenvolvimento desta pesquisa:

    Identificar o papel da escola na insero de antigas brincadeiras como forma de

    resgate e preservao da cultura popular.

    Quanto aos objetivos especficos esta pesquisa visa identificar a importncia que

    as instituies de ensino privado de Goinia tm em resgatar e preservar estas

    manifestaes ldicas; investigar as prticas de antigas brincadeiras junto s

    instituies de ensino privado de Goinia; analisar de que forma as brincadeiras

    antigas inseridas nessas instituies contribuem para a preservao e resgate

    cultural.

    Para tanto, esta pesquisa apresenta como problema de investigao: qual o

    papel da escola na insero de antigas brincadeiras como forma de resgate e

    preservao da cultura popular?. Mediante este problema em questo, indica-se os

    seguintes pressupostos: por meio do brincar, h o resgate de antigas brincadeiras e

    por este resgate, se fornece oportunidades s futuras geraes de vivenciarem na

    prtica estas atividades de importante valor cultural.

    Com o intuito de conhecer o que as instituies de ensino privado de Goinia dizem

    sobre o resgate de antigas brincadeiras no mbito escolar, optei por utilizar como

    delineamento da pesquisa o estudo de caso comparativo. A tcnica utilizada foi a

    observao participante, com registro das informaes colhidas em dirio de campo

    e por entrevista semi-estruturada, ambos com roteiro previamente definido (ver em

    anexo), gravada e transcrita para posterior anlise.

  • 13

    Antes da aplicao das entrevistas, foi desenvolvido o que chamamos de

    observao participante, com o intuito de apurar e levantar dados que levem a

    identificao tanto das instituies de ensino privado de Goinia a serem

    pesquisadas, bem como, das atividades recreativas desenvolvidas dentro destas

    instituies, a fim de investigar se h no seu contexto escolar a preocupao de

    insero de antigas brincadeiras como forma de resgate e preservao da cultura

    popular, analisando se estas instituies do oportunidades de se preservar estas

    tradies e o interesse por parte delas em preservar estas brincadeiras antigas.

    O lcus de investigao, de onde partiu a identificao das instituies de ensino

    privado em Goinia a serem pesquisadas, se deu em nvel de amostragem e foi

    escolhido por critrios previamente estabelecidos por serem instituies

    consideradas tradicionais na cidade de Goinia e assim ser possvel analisar de que

    forma estas instituies trabalham o resgate e a preservao dentro do seu

    contexto.Para tanto, foram escolhidas trs (03) Instituies de Ensino Privado na

    cidade de Goinia como assim descreve:

    INSTITUTO PRESBITERIANO DE EDUCAO (IPE) Em 1951, do ideal das professoras Gilda Machado Pimenta, Marta Rochael Frana, Sebastiana Rochael

    Pimenta e do Rev. Wilson de Castro Ferreira, nasceu um ensino voltado para uma

    formao crist que se chamou: Instituto Presbiteriano de Educao IPE. Suas

    primeiras instalaes, localizadas rua 68 n 95, no Setor Central, tinham

    capacidade para sessenta e sete alunos e quatro professores, que trabalhavam

    imbudos de um esprito empreendedor e idealista.

    Foto 01 - Instituto Presbiteriano de

    Educao Unidade I - Setor Central

  • 14

    Hoje, o IPE prepara o seu aluno da Pr-Escola ao 2 grau, com uma equipe de

    qualidade, tendo o propsito de integr-lo neste mundo tecnologicamente

    competitivo, sem prejuzo na formao do carter tico e moral. Isto implica na

    formao integral do aluno, dentro de um ambiente saudvel, onde os valores

    cristos so cultivados.

    Foto 02 - Instituto Presbiteriano de

    Educao Unidade II Setor Bueno

    COLGIO MARISTA DE GOINIA - Fundado no dia 18 de maro de 1962, construdo em uma vasta rea do Setor Pedro Ludovico, onde j era conhecida

    antes por "Marista" ou "dos Maristas". O Colgio Marista de Goinia funcionou com o

    Ensino Fundamental, da 1 8 srie, at 1996, quando incluiu a Educao Infantil.

    Alm de no ter parado de crescer, o Marista procura oferecer um servio de

    qualidade em termos didtico-pedaggico-pastorais. A Vila Marista conjuga o visual

    das reas coloniais e a instrumentao moderna.

    Uma rplica da Igreja da Boa Morte, da Cruz do Anhangera, da Casa de Cora

    Coralina e outros aspectos da antiga metrpole Vila Boa- agora Cidade de Gois,

    reconhecida como Patrimnio Cultural da Humanidade pela UNESCO-, no faltando

    sequer uma miniatura do Rio Vermelho.

  • 15

    Em 2000, atendendo aos anseios e s expectativas da Comunidade, implanta-se o

    Ensino Mdio, que vem crescendo no s em quantidade, mas, sobretudo, em

    qualidade, tendo como grande preocupao e objetivo a excelncia acadmica, com

    o intuito de preparar o seu alunado para enfrentar os desafios da vida.

    Alm de fornecer um ensino de qualidade, que proporcione condies para que o

    educando esteja preparado para enfrentar os desafios da vida, desenvolvem,

    juntamente com a comunidade, projetos na rea social, tendo por base aes e

    gestos concretos de solidariedade, dentre eles, uma Casa de Acolhida que recebe e

    acolhe meninos e meninas em situao de risco e vulnerabilidade social.

    Foto 03 - Colgio Marista

    INSTITUTO MARIA AUXILIADORA As irms Salesianas chegaram em Goinia no dia 24 de fevereiro de 1956, vindas de Belo Horizonte para fundar o Instituto

    Maria Auxiliadora, escola destinada educao da juventude feminina, no

    perdendo de vista o principal objetivo do nosso carisma: cuidar das meninas dos

    meios populares, sobretudo as mais carentes.

    Durante cerca de seis meses, as primeiras irms destinadas nova obra residiram

    na Avenida Tocantins n. 39, numa casa de famlia, cedida pelo Dr. Belarmino

    Cruvinel e Sra. Alice Borges Cruvinel, pais da nossa irm Llian Borges Cruvinel,

    salesiana que fez parte da primeira comunidade do Instituto Maria Auxiliadora. Neste

    mesmo local, apesar do pouco espao oferecido pela infra-estrutura da casa, passou

    a funcionar imediatamente o Curso Elementar com 21 alunas.

  • 16

    Foto 04 - Colgio Maria

    Auxiliadora, 1956 - acervo

    No mesmo ano, comearam as obras do prdio destinado ao Instituto Maria

    Auxiliadora, no seu atual endereo, onde no dia 1 de maro de 1957, passa a

    funcionar em definitivo, atendendo cerca de 270 (duzentos e setenta) alunas.

    Em 2004, o Instituto Maria Auxiliadora completou 48 anos de prestao de servios

    educacionais comunidade goianiense, consciente de ser um laboratrio do

    pensar, do falar e do agir criticamente para crianas, adolescentes e jovens.

    Foto 05 - Colgio Maria

    Auxiliadora, 2001

  • 17

    O enfoque central da pesquisa foi direcionado especificamente ao Ensino

    Fundamental destas instituies onde so desenvolvidas as atividades ldicas e

    desportivas para os devidos fins propostos nesta pesquisa.

    As entrevistas (ver em Anexo: Roteiro de Entrevista) foram destinadas aos

    professores e coordenadores da rea de recreao e artes do Ensino Fundamental,

    onde foi possvel uma maior integrao dos assuntos abordados e propostos em

    questo para um melhor aproveitamento da pesquisa. De acordo com Trivios:

    A entrevista estruturada, ao mesmo tempo em que valoriza a presena do investigador,

    oferece todas as perspectivas possveis para que o informante alcance a liberdade e a

    espontaneidade necessria, enriquecendo a investigao.

    (1987, p. 146).

    Os atores: Perfil do Entrevistado

    No decorrer da pesquisa foram realizadas trs entrevistas semi-estruturadas, cada

    uma com durao de 30 minutos aproximadamente. Os entrevistados foram: 01

    (uma) Coordenadora do Departamento de Educao Fsica do Instituto Presbiteriano

    de Educao (IPE), 01 (um) Professor de Educao Fsica responsvel pela

    recreao do Instituo Maria Auxiliadora e, por ltimo, (01) um Coordenador do

    Departamento de Educao Fsica do Colgio Marista de Goinia.

    Busquei, pelas entrevistas semi-estruturadas, com cada um dos entrevistados,

    estabelecer um dilogo para conhecer o que eles entendem e dizem sobre o resgate

    de antigas brincadeiras, dentro do planejamento e da prtica destas atividades no

    contexto escolar e seu desenvolvimento na prtica com este tipo de atividades. Alm

    disso, procurei compreender as suas concepes acerca do Resgate de Antigas

    Brincadeiras como forma de preservao da cultura popular.

    Para tanto me conduzi nas seguintes questes: O que a escola tem feito para

    valorizar o resgate de antigas brincadeiras? Dentro das escolas existem programas

    ou eventos especficos para este tipo de resgate? H uma preocupao por parte da

    escola em introduzir as praticas de antigas brincadeiras como forma de preservao

  • 18

    ou simplesmente para o aproveitamento do tempo livre? Como a escola v a

    importncia de se preservar na prtica as antigas brincadeiras? De que forma ocorre

    a aceitabilidade por parte dos alunos a este tipo de resgate? dentro da escola que

    estamos dando oportunidades s crianas de conhecer, vivenciar e praticar o

    resgate de antigas brincadeiras como forma de preservao?

    Aps a realizao de cada entrevista, foi feito registro em dirio de campo, na busca

    de uma compreenso mais pormenorizada do que foi discutido no decurso da

    entrevista entre o investigador e o investigado. Os dirios de campo contribuem, a

    medida em que, assim que finalizada a entrevista, ainda no calor das falas, o

    entrevistador relata com autoria as suas impresses, sentimentos e opinies acerca

    do que se constituiu dilogo entre ele e o entrevistado.

    Para o desenvolvimento desta pesquisa me fundamentei nas teorias dos autores:

    ries(1986), Vygotsky(1991), kislhimoto(2002), Brougre(1992) entre outros como:

    Marcellino(1995), Laraia(1995), Huizinga(1999), que vm pesquisando temas

    relativos infncia, criana, ao brincar e ao patrimnio imaterial.

  • 19

    CAPTULO I O jogo e a brincadeira no espao escolar

    Acredita-se que todos os povos os praticaram jogos. Suas origens remontam s

    cerimnias e rituais religiosos, costumes antigos e ritos de fertilidade ligados a longa

    histria agrria do homem. Entre as causas de sua existncia incluem-se o esprito

    ldico e a necessidade humana de comunicao, da qual as brincadeiras infantis

    so as primeiras manifestaes.

    Todos os tipos de jogos desempenham importante papel no desenvolvimento fsico

    e espiritual do indivduo. A denominao jogo dada a diversas formas de

    atividades fsicas ou mentais que tm por fim a recreao, embora s vezes envolva

    tambm interesse financeiro.Os jogos se praticam segundo regras estabelecidas,

    em sua maioria de aceitao universal, apesar de serem tambm freqentes as

    modalidades determinadas por peculiaridades ou costumes locais. Para o autor

    Hizinga o jogo seria mais antigo que o trabalho (...) o jogo e pelo jogo que a civilizao

    surge e se desenvolve. (1999,p: 23).

    Tudo isso se d devido ao fascnio e atrao provocada pelo jogo no

    homem.Segundo o autor, o jogo um recorte do tempo, em que a pessoa assume

    uma vida paralela real e, com base na teoria de que a cultura humana s ocorre

    com a existncia da segunda realidade, natural uma certa tendncia do homem ao

    jogo, por este ser um grande agente responsvel por essa manifestao.

    Os jogos podem ser classificados em dois grandes grupos: os sedentrios, em que

    predomina a atividade mental, e os de movimento, que envolvem esforo fsico.

    Entre os jogos sedentrios, destacam-se especialmente os chamados jogos de

    mesa. Os esportes se incluem na ltima categoria e, em geral, despertam grandes

    entusiasmos no pblico de uma maneira geral.

    Nos jogos sedentrios, o mais importante a atividade intelectual, como no caso

    dos quebra-cabeas, palavras cruzadas, adivinhaes, charadas e passatempos

    matemticos. So praticados desde a antiguidade, como demonstraram escavaes

  • 20

    realizadas na cidade mesopotmica de Ur, que revelaram tabuleiros de diversos

    tipos, datados do terceiro milnio a.C.

    Gregos e romanos praticaram grande nmero de jogos de mesa. De incio, os dados

    eram os jogos mais populares na Europa. Aps o perodo medieval, porm, os jogos

    comearam a diversificar-se. Foram muito divulgados nessa poca o baralho,

    importado da China, e o xadrez, de origem indiana e introduzida pelos rabes no

    Ocidente.

    Tambm o domin de origem antiga e acredita-se que j era jogado na China no

    sculo XII. Pode-se ainda determinar uma classe de jogos intermediria entre os

    fsicos e os sedentrios. Os chamados jogos de atividade moderada incluem, por

    exemplo, o bilhar e o tnis de mesa.

    Com o avano da informtica, tornaram-se muito populares os videogames e jogos

    de computador. A introduo desses jogos trouxe uma verdadeira revoluo no

    conceito tradicional de entretenimento do homem. Conceitos esses que

    abordaremos a respeito do que realmente so jogos ou brincadeiras antigas.

    1.1 O jogo e a sua origem Denominado como fator fundamental no desenvolvimento das aptides fsicas

    e mentais da criana, os jogos infantis ou brincadeiras infantis, tambm,

    contribuem para apurar a percepo do mundo exterior. Nas brincadeiras, ao

    estabelecer vnculos sociais com seus semelhantes, a criana descobre sua

    personalidade, aprende a viver em sociedade e se prepara para as funes

    que assumir na idade adulta.

    Jogos infantis so todas as diverses e passatempos de crianas. Podem envolver

    atividades espontneas, no organizadas, baseadas principalmente na imaginao,

    ou jogos com regras estabelecidas. Muitos deles se inspiram na vida cotidiana e

    reproduzem situaes prprias da cultura em que tiveram origem. Alguns jogos

  • 21

    infantis so muito antigos, como o balano, de que h registros na ilha de Creta em

    1600 a.C, e o jogo das cinco pedrinhas, praticado na Grcia antiga.

    A cabra-cega e o pique (esconde-esconde) existem h dois mil anos. Jogos de

    mesa, como o ludo e o gamo, populares no sculo XIX, se conservaram no gosto

    infantil ou renasceram depois de um perodo de esquecimento. As inovaes

    tecnolgicas tm grande influncia na histria dos jogos infantis. Com a descoberta

    da borracha, por exemplo, criaram-se novos tipos de bolas e jogos de bola.

    O intercmbio comercial e cultural possibilitou a internacionalizao de jogos

    originrios de diferentes culturas, como o caso da pipa, criada na China. A

    tecnologia de vdeo e informtica deu origem aos jogos eletrnicos, que

    revolucionaram os jogos e toda a conduta infantil nas ltimas dcadas do sculo XX.

    A atividade ldica do ser humano comea por volta dos quatro meses de idade,

    quando o beb passa a brincar com o prprio corpo e com o da me. A partir dos

    oito meses, meninos e meninas engatinham e brincam com areia, terra e gua.

    Ao completar um ano, brincam com tambor, bola e boneca, todos eles objetos muito

    antigos e de simbologia primitiva. No fim do segundo ano, a criana demonstra

    interesse por panelas, canecas e outros recipientes cujo contedo transfere ou

    despeja. Ao trs anos, no limiar da segunda infncia, idade por excelncia da vida

    ativa e do interesse ldico, interessa-se por carros e locomotivas. Os brinquedos

    personificam os objetos reais e a ao se exerce sobre eles sem angstia nem

    culpa. A criana brinca, repetindo as situaes satisfatrias e elaborando as

    situaes traumticas.

    Dos trs aos cinco anos os brinquedos de pegar so os preferidos. Depois de cinco

    anos, os meninos se interessam por mistrio e conquista e as meninas brincam de

    casinha e comidinha.

    Aos seis anos, incio da idade pueril, a entrada na escola abre um novo captulo: os

    nmeros e letras enriquecem o mundo dos brinquedos. A criana passa do jogo

    individual, livre, para o jogo de equipe, regulamentado. Tal passagem, segundo

  • 22

    alguns autores, marca sua integrao sociedade dos adultos. O perodo que vai

    dos 7 a 12 anos o dos jogos de esconder em quarto escuro e o da explorao do

    corpo.O gosto do maravilhoso substitudo pelo da aventura. Entre 10 e 11 anos

    amplia-se o crculo social, e a formao de grupos estveis leva ao abandono final

    dos brinquedos individuais. (Fonte extrada da Barsa Planeta Internacional Ltda).

    1.2- Jogos Tradicionais - A Origem dos Brinquedos Antigos Bicicleta: Leonardo da Vinci tinha estudos sobre ela, mas sua histria oficial comeou em 1790, quando um conde francs criou o Celerfero, ou cavalo de duas

    rodas, como foi chamada pelos parisienses esta estranha mquina de madeira, sem

    pedais e sem correntes, era empurrado com os ps no cho.

    Figura 01: Celerfero

    Frana - 1791

    Bolas de Gude: As mais antigas datam de 3.000 a.C. So de pedras semipreciosas e estavam no tmulo de uma criana egpcia.

    Figura 02 - Imagem Ilustrativa

    Bolinhas de Gude

  • 23

    Bonecas: Na Grcia e em Roma, em 500 a.C., eram conhecidas como "nympha" ou "pupa" (moa pequena), pois tinham cara de gente grande.

    Quando os artesos passaram a confeccionar bonecas carregando o filho,

    despertou o interesse das crianas e, da, passaram a produzi-las com feies

    infantis.

    Marionetes: As encontradas no Egito tinham corpo de madeira e cabea de marfim e serviam de divertimento para os faras. Em Atenas, no sculo 5 a.C., o teatro de

    marionetes apresentava as tragdias gregas.

    Figura 03 -Teatro de Bonecos- Gravura

    Pipas: Na China, os militares a usavam como meio de comunicao durante guerras e conflitos.

    Figura 04 - Johann Michael Voltz, Alemo.

    (1784 1858)

    O Parque Infantil, c. 1823 - Gravura.

  • 24

    Soldados de chumbo: Nasceram como jogos de guerra. Lus 14 recebeu de presente um exrcito de soldados de prata. No final de seu reinado, decepcionado,

    derreteu todos. (Fonte: "A Histria do Brinquedo", Cristina Von).

    E ainda outros jogos como Amarelinha, Xadrez, Sueca, Buraco, Canastra, Pacincia

    do Rei ou Relgio, Domins, Dados em Tabuleiros, Ps-de-lata, Aros, Pies e Pipas.

    A grande maioria desses jogos j era muito antiga no sculo XVI. E uma das coisas

    que mais fascinam o fato de que continuam capazes de despertar a curiosidade e

    o prazer tantos anos depois.

    Antes de tudo, importante compreender o que estamos chamando de jogos

    tradicionais. Chamamos de tradicionais aos jogos que antecedem Modernidade.

    Quando falamos em Moderno, estamos nos referindo ao perodo histrico. Assim

    importante lembrar que no passamos de uma era a outra em funo apenas desse

    ou daquele fato histrico, como se fosse uma demarcao em um calendrio. Essa

    passagem gradual, construda scio-historicamente.

    Passamos da Idade Mdia Moderna porque os modos de produo da existncia

    mudaram essencialmente. E passamos a compreender a ns mesmos e ao mundo

    de uma outra maneira. Ou seja, atribumos novos significados a experincia

    humana.

    Os jogos tradicionais, transmitidos oralmente desde a Antigidade eram, como

    qualquer objeto cultural, um espelho de sua poca. Portavam crenas, valores,

    discursos. Traziam neles a representao da forma tradicional de viver e

    compreender a existncia. So jogos que falam sobre o grande jogo da vida. A

    grande maioria teve funo como objeto sagrado ou de ligao com o sagrado. Sua

    origem remota desconhecida, embora seja possvel identificar evidncias de sua

    existncia j em certo perodo, no possvel identificar sua criao.

    Os jogos tradicionais eram partilhados por todos os adultos e, como o conceito de

    infncia algo que s vai ganhar formato no perodo Moderno, tambm por

    crianas. Com o advento da Modernidade, o trabalho ganhou uma representao

  • 25

    social at ento inexistente. A nova moralidade fruto da Reforma Protestante

    relacionou o brincar ao cio e o cio s era permitido infncia, mesmo assim sob

    sria vigilncia e restries. Brincar virou coisa de criana. Os jogos tradicionais

    foram a herana deixada criana moderna. Essa criana que inaugurou a infncia.

    Esses velhos brinquedos e brincadeiras j haviam ligado o homem a si mesmo, j

    haviam decodificado o passado e o futuro, j haviam cumprido a funo de

    aproximar o homem de Deus e, no sacralizados e esvaziados de seus contedos

    originais, se ofereciam como suporte s brincadeiras infantis.

    Eles so esvaziados, mas no inteiramente. No somos apenas o ceticismo do

    homem contemporneo, nem apenas o racionalismo do homem moderno. Tambm

    fomos tecidos na narrativa de nossos ancestrais e, ainda que nada nos tenha

    chegado por completo, com os cacos que recebemos, construmos belos mosaicos.

    Recuperamos ou reinventamos antigos rituais, ou ainda, apenas os repetimos,

    mesmo que desconhecendo os seus propsitos.

    Denominado como fator fundamental no desenvolvimento das aptides fsicas e

    mentais da criana, os jogos tradicionais ou brincadeiras infantis, tambm contribuem

    para apurar a percepo do mundo exterior. Nas brincadeiras, ao estabelecer

    vnculos sociais com seus semelhantes, a criana descobre sua personalidade,

    aprende a viver em sociedade e se prepara para as funes que assumir na idade

    adulta.

    De acordo com o grfico 01(em anexo) foi detectado nos colgios:

    MAR - Colgio Marista desenvolve atividades freqentes de brincadeiras antigas,

    pois existe um programa efetivo dentro do planejamento escolar onde estas

    atividades so desenvolvidas no decorrer do ano letivo independentemente de datas

    ou comemoraes especficas, desenvolvidas principalmente com os alunos do

    ensino fundamental, de 1a. a 4a. Sries, onde a pula-corda, amarelinha, pique-

    esconde, cabra-cega, queimada entre outras, fazem parte da rotina na parte de

    recreao desta instituio. Para as aulas de artes ficam as atividades dos

    chamados contadores de histrias, fantoches, teatros, apresentaes poticas

  • 26

    dentre outras que para a instituio estas atividades dirigem a criana para a

    descoberta de sua identidade e tambm atravs delas que surge s experincias

    que so necessrias para desenvolver o seu carter; como frisa a entrevistada.

    Totalizando assim 100% de aproveitamento.

    No IPE Instituto Presbiteriano de Educao, com 98%, tambm conta com este

    tipo de planejamento e insero de atividades de resgate de antigas brincadeiras,

    mas na maioria das vezes em datas pr-estabelecidas como, por exemplo, o dia

    denominado Brincando como Antigamente quando dada a oportunidade dos

    alunos conhecerem, atravs de pesquisas realizadas junto a seus pais e avs, de

    como eram realizadas as brincadeiras de sua poca e aliando depois teoria com a

    pratica na escola. H tambm o evento anual realizado sempre no ms de maio

    denominado Dia da Famlia Ipeana, onde pais e filhos se encontram em um

    acampamento promovido pela escola e l so desenvolvidas atividades tradicionais

    como andando de perna-de-pau, oficinas de pipas e pio.

    O IMA Instituto Maria Auxiliadora, com 97%, conta tambm com este tipo de

    planejamento, mas no somente com as praticas de resgate de antigas brincadeiras,

    como tambm prioriza as atividades desportivas que so aliadas de modo igual junto

    com as atividades ldicas desenvolvidas em horrio de aula, com professores de

    educao fsica responsveis por esta rea, com uma durao de 50 minutos.

    Sendo que para cada aula so desenvolvidas 05 (cinco) atividades ldicas, com uma

    durao de aproximadamente 30 minutos que podemos chamar de brincadeiras

    antigas, como o pique-esconde, gato e rato, toca do coelho, queimada, brincadeiras

    com arcos e as atividades desportivas como o futebol, com o restante do tempo em

    aproximadamente 20 minutos.

  • 27

    1.3 - A escola e o espao do Brincar

    Espao de brincar, Espao sagrado;

    Espao adequado, Espao alegre;

    Espao tumultuado, Espao flexvel;

    Espao grande ou pequeno,

    Espao criativo;

    Espao caloroso, Espao moderno

    e Espao antigo;

    Espao de lembranas,

    Espao de saudades;

    Espao de presenas,

    Espao de descobertas;

    Espao de aprendizagens,

    Espao de brincar;

    Meu espao, Teu espao,

    Nosso espao.

    (Adriana Friedmann - O Papel do Brincar na Cultura Contempornea)

    Toda a estrutura da escola, desde o prdio at o currculo, disciplinar. Inspirada

    em instituies disciplinares anteriores como, por exemplo, o quartel e o convento,

    ela herdou (como acontece em todas as famlias) o melhor e o pior de cada um de

    seus antecessores.

    Jogos tradicionais podem e devem ser usados desde a Educao Infantil at o

    Ensino Mdio e mais. Tudo depende do objetivo do educador ao introduzir esse ou

    aquele jogo. Pois, se possvel para o aluno perceber o jogo em sala de aula

    apenas como entretenimento, para o educador ele ser sempre fruto de uma

    escolha consciente e planejada, que tem por objetivo o trabalho pedaggico.

    A educao para o lazer deve ser um tema de debates e, quem sabe, de

    experimentao, em todos os nveis de escolaridade: do redirecionamento do recreio

    escolar ate a concepo de universidade como centro de cultura.

  • 28

    Muito embora prevalea entre os estudos da rea a transformao da escola em

    schole (sentido etimolgico grego da palavra lazer), devido s dificuldades

    estruturais da educao brasileira, h indcios de que experincias sistemticas da

    recreao/ lazer podero ser introduzidas dentro do sistema formal de educao

    como uma possvel disciplina escolar". ( Bramante) Segundo o mesmo autor:.

    necessrio que todos sejam educados nas questes relativas recreao e ao lazer para

    que compreendam e vivam as suas importncias, porque aquilo que no se compreende,

    no se valoriza; aquilo que no se valoriza ter cada vez menos defensores, e aquilo que

    no se defende, perde-se. (Educao Fsica & esportes Perspectivas para o sculo XXI.

    Antnio Carlos Bramante).

  • 29

    CAPTULO II- A importncia do resgate do ldico

    Antes de falarmos sobre a importncia do resgate do ldico refletiremos um pouco

    sobre a infncia e o direito de brincar.

    As crianas sempre brincaram ao longo da histria e em todas as culturas segundo

    a Declarao da IPA sobre a criana e o direito de brincar elaborada em Novembro

    de 1979, na reunio consultiva preparatria de Malta, para o Ano Internacional da

    Criana.

    Foi revista pelo Conselho Internacional da IPA, em Viena, em Setembro de 1982 e

    em Barcelona, em Setembro de 1989, assim diz em relao ao que consideram

    brincar: Brincar comunicao e expresso, associando pensamento e ao. um

    ato instintivo voluntrio e espontneo. uma atividade natural e exploratria. Ajuda

    as crianas no seu desenvolvimento fsico, mental, emocional e social. um meio

    de aprender a viver e no um mero passatempo. Brincar, a par da satisfao das

    necessidades bsica de nutrio, sade, habitao e educao uma atividade

    fundamental para o desenvolvimento das capacidades potenciais de todas as

    crianas. Ao longo da histria foram sendo construdas diferentes concepes de

    infncia.

    Hoje, ao se entender a criana como sujeito imerso na cultura e com sua forma

    singular de agir e pensar, no se pode deixar de pensar no tempo e no espao da

    brincadeira como a prpria forma de a criana conhecer e transformar o mundo em

    que vive. Se os jogos e brincadeiras no so caractersticas genuinamente infantis,

    no h dvida de que o direito de brincar o elo que liga todos os outros direitos.

    Quando pensamos no que seria genuinamente infantil, nos deparamos com

    questes que nos remetem nossa prpria condio de adultos; o que

    caracterizaria ser adulto? O que diferencia a infncia da fase adulta? Quando

    deixamos de ser crianas? Quando as crianas passam a ser adultos?

  • 30

    A noo de infncia no uma categoria natural, mas sim histrica e cultural. A

    diferenciao entre crianas e adultos vai depender do contexto e das condies

    scio-histricas e culturais em que vivem.

    Podemos constatar, no grfico 02( em anexo), a unanimidade dos entrevistados em

    assegurar esta oportunidade das crianas em poder vivenciar e praticar o resgate de

    antigas brincadeiras como forma de preservao dentro da escola.

    As brincadeiras e a cultura popular sempre estiveram presentes nos programas e

    contedos escolares. De um jeito formal ou de forma transversal, sempre houve o

    espao na educao para se tratar desses dois assuntos.

    Cultura, diz respeito ao modo de ser e de viver dos grupos sociais: a lngua, as

    regras de convvio, o gosto, o que se come, o que se bebe, o que se veste vo

    formando aquilo que prprio de um povo.

    De acordo com Laraia (1995, p. 50) Cultura um processo acumulativo, resultante

    de toda a experincia histrica das geraes anteriores.

    Em um pas como o Brasil, to diverso, to grande, com tantas expresses

    diferentes, com tantos jeitos de ser, de brincar e de conviver, que vo se

    modificando de lugar para lugar, e a toda hora, no podemos falar de uma nica

    cultura, mas das muitas culturas que o formam. Se pararmos para pensar, por

    exemplo, quantas naes indgenas ns temos e das culturas africanas que para c

    vieram no foi uma nao, mas foram muitas a formar o que chamamos de cultura

    afro-brasileira.

    Os portugueses no foram os nicos, pois na verdade, foram muitos os povos

    europeus, cada um com suas tradies, lnguas, expresses, jeito de ser e crer, que

    vieram para c e misturados aos diferentes povos indgenas e africanos, ajudaram a

    formar este pas plural e de muitas culturas. A cultura popular tudo isso misturado

    e refletido nos muitos jeitos de ser de cada brasileiro.

  • 31

    Com tudo isso, impossvel de falar sobre a educao sem integr-la questo

    cultural, pois a educao o resultado das prticas culturais dos grupos sociais. O

    prprio processo de ensinar e aprender revela essas prticas.

    A cultura o fermento que alimenta, d forma e contedo educao. Em sala de

    aula, experincias, vivncias e singularidades esto reunidas. Alunos e professores

    trazem suas bagagens e histrias. Confrontos, trocas, negaes e reafirmaes de

    culturas pulsam o tempo todo nesse convvio.

    Cabe escola a tarefa de tornar disponveis todo um acervo cultural quer seja

    atravs de brincadeiras tradicionais, contos, lendas que do contedo expresso

    imaginativa da criana, abrir o espao para que a escola receba e divulgue outros

    elementos da cultura que no somente a escolarizada para que beneficie e

    enriquea o repertrio imaginativo da criana.

    A cultura forma a inteligncia e a brincadeira, favorece a criao de situaes

    imaginrias reorganizando experincias vividas.

    na escola que se abrem s portas para a cultura e condiciona o saber a um fazer.

    Aprendizado esse que comea com brincadeiras em que se aprende a criar

    significaes, a comunicar-se com outros, a tomar decises, decodificar regras,

    expressar a linguagem e principalmente se socializar.

    Se desejarmos formar seres criativos, crticos e aptos para

    tomar decises, um dos requisitos o enriquecimento do

    cotidiano infantil com a insero de contos, lendas, brinquedos

    e brincadeiras".( Kishimoto,2002)

    Numa perspectiva histrica sobre a infncia na Europa, os estudos de Philippe Aris

    (1986) no seu livro Histria Social da Criana e da Famlia, revelaram que a idia de

    infncia, no sentido de diferenciao do adulto, uma construo da modernidade,

    comeando a surgir nos finais do sculo XVII, nas camadas superiores da

    sociedade, e se sedimentando no sc. XVIII.

  • 32

    De acordo com este autor, na Idade Mdia, assim que a criana tornava-se mais

    autnoma em relao aos cuidados da me ou da ama, logo se inseria na sociedade

    dos adultos, participando dos seus trabalhos e jogos. As crianas adquiriam seus

    conhecimentos junto aos adultos, sendo entregues s famlias, muitas vezes

    desconhecidas, para serem educadas, prestarem servios domsticos ou

    aprenderem algum ofcio. A escola da Idade Mdia no se dirigia especificamente

    criana.

    Segundo Aris, foi a partir de uma srie de mudanas na sociedade ascenso da

    burguesia, difuso do impresso e crescente interesse pela alfabetizao e

    moralizao que a separao ocorre. A criana deixa de ser misturada aos adultos

    e de aprender a vida diretamente, atravs do contato com eles, sendo separada dos

    adultos e mantida distncia numa espcie de quarentena, antes de ser solta no

    mundo. Essa quarentena foi escola, o colgio. Comeou ento um longo processo

    de enclausuramento das crianas (p.11).

    Para Aris, esse processo s foi possvel com a cumplicidade da famlia, que passou

    a experimentar uma afeio pela criana, trazendo para si a responsabilidade pela

    sua proteo e formao, e tornando-se nuclear. A sociabilidade extensiva do Antigo

    Regime foi sendo substituda por uma socializao mais restrita famlia e escola.

    Como o prprio autor coloca, no se pode dizer que as crianas eram

    negligenciadas ou tratadas com desprezo; especialmente os pequenos eram

    paparicados, como animaizinhos de estimao mas pela sua anlise, no existia

    um sentimento de infncia.

    Foi a importncia dada educao que trouxe as crianas para o ncleo familiar e

    com ela, dois ingredientes contraditrios passaram a fazer parte da sua formao: a

    ternura e a severidade. Sentimentos traduzidos em forma de paparicao dos

    adultos pela criana, por consider-la ingnua, inocente e graciosa, e em

    moralizao, por consider-la como ser incompleto e imperfeito, que precisa ser

    educado. Sentimentos que, at os dias atuais, trazem a dualidade anunciada por

    Pinto (1997) em que,

  • 33

    uns valorizam aquilo que a criana j e que a faz ser, de

    fato, uma criana; outros, pelo contrrio, enfatizam o que lhe

    falta e o que ela poder (ou dever) vir a ser. Uns insistem na

    importncia da iniciao ao mundo adulto; outros defendem a

    necessidade da proteo em face desse mundo.Uns encaram a

    criana como um agente dotado de competncias e

    capacidades; outros realam aquilo que ela carece. (p.33).

    E neste contexto que trazemos a tona importncia do resgate do ldico

    buscando compreender o espao que as atividades ldicas ocupam na vida das

    crianas. Podemos considerar o brincar como um fato universal, pois sua linguagem

    abrange todas as crianas do mundo independente da idade, sexo, raa ou classe

    social como foi constatado em minha pesquisa sobre a importncia de se preservar o resgate de antigas brincadeiras dentro da escola.

    Todas as escolas pesquisadas( ver no grfico 03 em anexo) foram unnimes em

    afirmar a importncia de se praticar este tipo de resgate de antigas brincadeiras na

    escola, at mesmo dentro de seus contedos programticos. Elas acham que se faz

    necessrio encorajar as prticas dessas brincadeiras, envolvendo no apenas o

    papel da escola neste contexto, mas as crianas, os pais, os educadores e a

    sociedade, levando a criana a se auto conhecer e ocupar proveitosa e

    inteligentemente seu tempo livre, ou seja, o perodo na escola e fora dela,

    procurando instalar nelas o hbito da prtica de atividades grupais e culturais

    tambm.

    As brincadeiras tradicionais so passadas de gerao para gerao, pela oralidade,

    e com o tempo vo sendo esquecidas, modificadas, j que estamos em constante

    evoluo.

    Muitas vezes, vem deste esquecimento a preocupao em resgatar alguns trechos

    de nossa cultura, no apenas por mero saudosismo, mas sim por demonstrar a

    importncia que estas brincadeiras exercem na infncia. Utilizar o tempo e o espao

  • 34

    disponvel que as escolas hoje possuem para produzirem cultura e no somente ser

    possuidora de mercadoria.

    Para os entrevistados preciso evitar que este tipo de resgate se perca, a fim de

    que fique conservado na memria, no apenas das crianas, mas tambm de toda

    uma sociedade, para que possa ser repassado s futuras geraes.

    Por isso a importncia de mostrar que no apenas por mero tradicionalismo que

    devemos recuperar estas atividades na memria da sociedade, e sim porque elas

    trazem no s divertimento, mas faz parte do aprendizado infantil.Assim como

    salienta Marcellino:

    As atividades de lazer favorecem, a par do desenvolvimento pessoal, tambm o

    desenvolvimento social, pelo reconhecimento das responsabilidades sociais... pelas

    oportunidades de contatos primrios e de desenvolvimento de sentimentos de solidariedade

    (...) o regate do lazer, do ldico no se trata de uma posio utpica de retorno sociedade

    tradicional, mas de um posicionamento contra o privilgio na aspirao e no acesso

    produo cultural. (1995. p. 60, 62-63)

    Nestas ltimas dcadas, o avano tecnolgico e cientfico ocorreu de maneira

    extremamente acelerada, e com isto vrias transformaes aconteceram no interior

    da sociedade. Em relao ao desenvolvimento da criana e ao brincar podemos

    considerar como avanos, os estudos e pesquisas desenvolvidos acerca desta

    temtica, a conscientizao por parte de educadores da importncia do brincar para

    o desenvolvimento integral das crianas e uma preocupao maior em relao

    segurana na fabricao dos brinquedos.

    Como retrocessos podemos apontar que as condies sociais e tecnolgicas da

    modernidade comprometeram, de certa forma o espao, o tempo, e os objetos de

    brincar. As crianas perderam o espao e a segurana das ruas e caladas, com

    isso perderam tambm parte da liberdade na escolha das suas brincadeiras e

    companheiros.

  • 35

    As grandes cidades, os pequenos apartamentos no permitem mais as interaes

    sociais. Com a modernidade as crianas no tm tempo para perder com

    brincadeiras, pois tm uma srie de responsabilidades que so consideradas mais

    importantes, como cursos de informtica, lnguas, danas, esportes. As instituies

    escolares so tambm fotografias destas mudanas de valores, as brincadeiras

    foram deixadas de lado em detrimento das atividades pedaggicas, que so mais

    produtivas.

    Em relao experincia do brincar necessrio que acontea uma busca coletiva

    dos valores ficados para trs, dos brinquedos tradicionais, autnticos, construdos a

    base de materiais simples, mas com infinitas possibilidades de brincar e sonhar;

    como as bolinhas de gude, as pipas de papel de seda, o cavalinho de pau, a boneca

    de pano, os carrinhos de madeira, as latinhas reaproveitadas que serviam para a

    construo de uma infinidade de objetos para brincar.

    Precisa-se tambm, que haja um resgate das brincadeiras da nossa cultura popular,

    as brincadeiras alegres, cheias de energia e companheirismo, como: o pique-

    esconde, a amarelinha, o soltar pipa, o brincar de casinha, o passar anel, o futebol

    de rua, as brincadeiras de roda; experincias gostosas e saudveis, nas quais as

    crianas corriam, pulavam, rolavam, brigavam e aprendiam.

    So estas brincadeiras que deixam saudades e que marcam a vida das pessoas,

    pois so significativas e acontecem profundamente na experincia de ser criana.

    ABRAMOVICH (1983), desenvolveu um trabalho de pesquisa com objetivo da saber

    se as crianas de hoje ainda brincam e com o que brincam e foi conversar

    diretamente com elas. Baseada nos depoimentos das crianas chegou s seguintes

    consideraes:

    Vejam s, as crianas no esto vendo muita graa nestes

    brinquedos passivos, que s pedem que se olhem e que se

    lidem com eles cumprindo ordens, no melhor estilo escolar e no

    pior enfoque ldico.

    ...E tem mais: no gostam no de brincar sozinhas

  • 36

    e no esto vendo muito charme nessas propostas

    segregacionistas e isoladas... Querem companhia pra brincar!

    (...) E se ainda preferem os brinquedos de sempre,

    aqueles que so eternos, como o carrinho e a boneca,

    se estes continuam a grande paixo (com todas as razes),

    esto perdendo todos os referenciais de antigamente por que

    os pais no

    esto lhes passando as magias e fascnios de suas prprias

    infncias.

    (p. 153)

    A televiso, inserida em um universo de mudanas e de novos valores na

    sociedade, alm de instrumento eficiente na divulgao de brinquedos

    modernos passou a concorrer fortemente com as brincadeiras livres e

    tradicionais das crianas, trazendo novas concepes acerca do que seja

    entretenimento.

    As crianas por uma srie de motivos como: falta de companhia para brincar,

    escassez de tempo dos pais para acompanh-la nas diverses, falta de

    brinquedo e de espao fsico, passam horas diante da imagem sedutora da TV.

    Outro instrumento o computador, grande smbolo da modernidade, se tornou

    mais um instrumento no rol dos brinquedos das crianas. Juntamente com a

    internet, ambos contemporneos televiso, fazem parte tambm de um novo

    paradigma acerca do que seja o ldico, paradigma este que vem sendo

    construdo paralelamente aos avanos cientficos e tecnolgicos da nossa

    sociedade.

    Contudo, mesmo variando as formas e ou as concepes, as crianas continuam a

    brincar, desde a criana dos centros das cidades, das periferias, ou do campo;

    desde a criana carente at a com melhores condies econmicas, at a criana

    de rua ou a institucionalizada, fato , que todas elas procuram maneiras e espaos

    para se descobrirem e descobrir o mundo atravs de suas brincadeiras. Em todas as

    instituies pesquisadas constatou-se uma enorme aceitabilidade por parte dos

  • 37

    alunos quanto s prticas de brincadeiras antigas, conforme se evidencia pelo

    grfico a seguir.

    Em todas as instituies se constatou (grfico 04 em anexo) uma enorme

    aceitabilidade por parte dos alunos de cada instituio pesquisada a cerca das

    prticas de brincadeiras antigas.

    Atravs do resgate de antigas brincadeiras adotadas na prtica dentro das escolas,

    pude notar que s crianas de uma maneira geral vo aprendendo a conhecer

    melhor seus limites, a construir seus vnculos afetivos, o que contribuem

    significativamente para o seu desenvolvimento emocional.

    Outro fator muito importante que nas brincadeiras aplicadas com os alunos, se

    detecta claramente como elas so capazes de se expressam livremente, usando os

    jogos e as brincadeiras como um meio de expresso.

    Na brincadeira que a criana desenvolve seu senso de humor; sua capacidade de

    construir conceitos de presente, passados e futuro; refletir sobre os fatos da

    realidade, diminuindo seus medos, angstias e ansiedades.

    Portanto, a importncia da prtica do resgate de brincadeiras antigas dentro da

    escola como parte do universo infantil, contribuindo assim, para o desenvolvimento

    integral da criana. dos alunos de cada instituio pesquisada a cerca das prticas de brincadeiras antigas.

    Nas ltimas dcadas temos conhecimento de algumas iniciativas que buscam

    resgatar os brinquedos e o brincar no seu sentido amplo, que so as Brinquedotecas,

    estrutura fsica e social que tm como principal objetivo promoo do

    "desenvolvimento de atividades ldicas e o emprstimo de brinquedos e materiais de

    jogo". (KISHIMOTO, 1998).

  • 38

    2.1 - O brincar e o brinquedo como objeto de cultura

    Algum me deu de presente, em fevereiro, esta peteca. rosa, com penas de laivos verdes,

    amarelos e brancos; luminosa e leve, mas, tem carga latente. Ficou desde ento pousada

    sobre a mesa, espera. espera apenas de um gesto. (Lcio Costa - A Inusitada Peteca) Do

    brinquedo brincadeira, todo um universo est condensado espera daqueles que se

    disponham a descobri-lo.

    Vrios autores de diversas reas mergulharam na histria dos jogos e dos

    brinquedos. Apenas para citar alguns destaco, Johan Huizinga, Walter Benjamin,

    Philippe Aris, Roger Caillois e Gilles Brougre.

    Num dos ensaios do filsofo alemo Walter Benjamin (2002), escrito entre 1928 e

    1930, sobre a histria dos brinquedos, o autor alerta que h um grande equvoco na

    suposio de que so simplesmente as prprias crianas, movidas por suas

    necessidades, que determinam todos os brinquedos.

    As crianas, quando brincam, se defrontam o tempo todo com os vestgios que as

    geraes mais velhas deixaram. O brinquedo, mesmo quando no apenas

    miniatura de objetos que circulam no mundo dos adultos, confronto, no tanto da

    criana com os adultos, mas destes com a criana. No so os adultos que, em

    primeiro lugar, oferecem esses objetos s crianas?

    Para Brougre (1992), olhar para o brinquedo se confrontar com o que se ou, ao

    menos, com a imagem do mundo e da cultura que se quer mostrar criana. O

    brinquedo um objeto que traz em si uma realidade cultural, uma viso de mundo e

    de criana.

    Nesse sentido, dependendo do material de que foi fabricada, madeira, espuma,

    ferro, pano; da forma e ou do desenho bonecas beb ou adultas; do aspecto tteis

    bichos de pelcia ou de borracha; da cor panelinhas cor-de-rosa; do cheiro e dos

    sons que porventura emitam, os brinquedos oferecem possibilidades de experincia

    variadas.

  • 39

    Em outros tempos, o brinquedo era a pea do processo de produo que ligava pais

    e filhos. Madeira, ossos, tecidos, sementes, pedras, palha e argila eram os materiais

    usados para sua construo. Antes do sculo XIX, a produo de brinquedos no

    era funo de uma nica indstria.

    Dos restos dos materiais usados nas construes, os adultos criavam objetos que,

    de um modo ou de outro, iam parar nas mos das crianas. No entanto, nem sempre

    foi assim.

    A partir do sculo XIX, quando o brinquedo deixa de ser o resultado de um processo

    domstico de produo, que unia adultos e crianas, para ser comercializado, sua

    forma, tamanho e imagem mudam. As miniaturas cedem lugar aos objetos maiores,

    indicando que, cada vez mais, a criana passa a brincar sozinha, sem a parceria do

    adulto.

    Com a Segunda Guerra Mundial, o uso do plstico substituiu materiais como

    madeira, cera e pano e permitiu o desenvolvimento de uma produo em srie.

    No mbito dos brinquedos artesanais, a partir desse momento, iniciou-se o que

    Paulo Salles de Oliveira (1989) chamou de industrianato, brinquedos inspirados nos

    artesanais, feitos em srie, com temas ditados pela mdia e que, na reproduo,

    escondem a autoria do arteso; e os chamados brinquedos de autor.

    Essa denominao dada queles objetos que guardam um carter local. So

    brinquedos em que a identidade de um grupo pode ser reconhecida, como as

    bonecas de pano do Agreste paraibano, ou guardam caractersticas de seu

    idealizador, como os brinquedos feitos por um jovem cearense, conhecido como

    Dim. Antonio Jader Pereira dos Santos, o Dim, recria, com extrema habilidade,

    brinquedos tradicionais, dando-lhes novas formas e cores e por vezes, novos uso.

    O arteso porta-voz de vivncias coletivas e, ao mesmo tempo, autor de um

    discurso muito prprio, que ele inscreve em suas criaes.

    Atualmente, portanto, a quantidade de brinquedos enorme e sua qualidade varia

    tanto no brinquedo artesanal quanto no brinquedo industrializado.

  • 40

    A Histria, no entanto, no nica e linear. Existem povos que viveram processos

    distintos de desenvolvimento e que atribuem diferentes noes de famlia, adulto ou

    criana. Tal fato nos leva a perceber que os significados e valores dados aos

    brinquedos e brincadeiras vo variar de acordo com o tempo e com o contexto.

    Os grandes centros urbanos, em geral, passaram por transformaes que permitem

    identificar caractersticas semelhantes em vrias partes do mundo.

    At a metade do sculo XX, as cidades no eram to grandes nem to violentas e

    havia espaos para brincar na rua, no quintal, nos terrenos vazios e nas praas.

    Grupos de crianas de idades e origens sociais variadas participavam das

    brincadeiras.

    O brinquedo industrializado j circulava na cidade, mas era ainda restrito classe

    mdia. A sociedade de consumo, no entanto, no tinha se consolidado e os adultos

    (pais, tios avs, vizinhos) ainda contribuam ativamente para as experincias ldicas

    das crianas, confeccionando bonecas de pano, carrinhos de madeira e bolas de

    meia, ou participando das brincadeiras, propondo cirandas, batendo corda ou

    riscando o jogo da amarelinha no cho.

    Gradativamente, no entanto, as crianas foram sendo alijadas do convvio com os

    adultos e do espao urbano. O espao das crianas foi se limitando cada vez mais,

    at se tornar um conjunto de pequenas reas, ou locais de consumo. Houve um

    processo de infantilizao da brincadeira e uma progressiva desvalorizao j que,

    num mundo orientado pelo trabalho e pelo lucro, ela considerada uma atividade

    no produtiva.

    Deve-se levar em conta, tambm, que a forma de divulgao dos brinquedos

    modernos se alterou, interferindo na escolha do brinquedo pelo adulto. Agora, so

    as crianas que escolhem que brinquedos querem ganhar. E, nesse contexto, os

    brinquedos mais vendidos so aqueles mostrados pela televiso.

  • 41

    Da mesma forma como para os contedos televisivos, os

    fenmenos do modismo e da mania regem a vida dos

    brinquedos.(Brougre, 1995: 58).

    Se grande parte das crianas entra cada vez mais cedo para instituies

    especialmente voltadas para elas, como as creches e as escolas, cabe a pergunta:

    que lugar o brinquedo e a brincadeira assumem nesse contexto? Que papis devem

    assumir os profissionais que atuam na rea da educao?

    Pedagogos como, Froebel, Montessori e Decroly chamaram a ateno para o valor educativo

    do jogo e fizeram com que muitos educadores reconhecessem a importncia de tal atividade.

    Ainda hoje, os sistemas pr-escolares discutem se o jogo infantil um ato de

    expresso livre, um fim em si mesmo ou um recurso pedaggico. (Kishimoto, 2002).

    Brincar na escola diferente de brincar em casa. Os brinquedos so da instituio;

    as possibilidades de brincadeiras em grupo so maiores e crianas da mesma idade

    costumam ficar sob a responsabilidade de poucos adultos. Todos esses fatores

    influenciam os modos de brincar e exigem reflexo.

    Na rea da educao, muitas vezes, a preocupao com o ldico se manifesta

    apenas pela quantidade de brinquedos disponveis no acervo, sem se levar em

    conta os significados que esses objetos carregam.

    O acervo de brinquedos num espao institucional, como creche e escola, deve fazer

    parte de uma proposta pedaggica que envolva adultos e crianas, pois o acervo de

    brinquedos significativo quanto aos objetivos que aquela creche ou escola

    pretende atingir. No se trata de tornar pedaggica toda e qualquer brincadeira, mas

    sim de compreender sua especificidade e importncia.

    A histria do brinquedo permite que se compreenda que, ao longo dos sculos, a

    criana e o brinquedo assumiram diferentes significados.

  • 42

    A convivncia de crianas e professores com um conjunto de brinquedos diversos

    podem permitir que inmeras experincias ldicas se realizem e que as histrias

    neles contidas sejam lembradas, descobertas, transmitidas e questionadas.

    Muitos so os brinquedos industrializados ou artesanais que se fundam em imagens

    estereotipadas. A cor rosa, por exemplo, foi associada culturalmente, entre ns, ao

    gnero feminino. Panelas nessa cor sugerem que esse tipo de brinquedo e,

    indiretamente, o ato de cozinhar se destinam s meninas. Neste caso, sejam de

    barro ou de plstico, a cor o aspecto preponderante e refora valores que devem

    ser questionados. Meninos no podem brincar de casinha?

    Existem bonecas louras, negras, adultas e crianas o que a presena marcante de

    apenas algumas delas nas lojas, nas residncias e nos acervos escolares significa?

    As crianas brincam com o que tm nas mos e com o que tm

    na cabea. Os brinquedos orientam a brincadeira, trazem-lhe

    matria. (Brougre, 1995).

    Algumas pessoas so tentadas a dizer que eles a condicionam, mas ento, toda a

    brincadeira est condicionada pelo meio ambiente. S se pode brincar com o que se

    tem, e a criatividade, tal como a evocamos, permite, justamente, ultrapassar esse

    ambiente, sempre particular e limitado.

    O educador pode, portanto, construir um ambiente que estimule a brincadeira em

    funo dos resultados desejados. No se tem certeza de que a criana v agir, com

    esse material, como desejaramos, mas aumentamos, assim, as chances de que ela

    o faa; num universo sem certezas, s podemos trabalhar com probabilidades".

    Uma proposta ldica no contexto escolar deve considerar os significados inscritos

    nos brinquedos e como estes objetos podem chegar s mos das crianas, de modo

    a proporcionar as mais diversas experincias. O brinquedo recheia de contedos as

    brincadeiras das crianas e as relaes delas com os adultos. A brincadeira permite

    decidir, pensar, sentir emoes distintas, competir, cooperar, construir, experimentar,

    descobrir, aceitar limites, surpreender-se.

  • 43

    Mas ser que os profissionais que atuam com as crianas tiveram uma formao

    que valorizasse sua prpria criao, imaginao e ludicidade? O certo que a

    histria de cada brinquedo se entrelaa histria de cada professor e de cada

    criana que dele se apropria. O interessante que haja mais trocas entre adultos e

    crianas.

    2.2 - Brincadeira ou atividade ldica

    A impreciso dos termos utilizados para definir brincar, brincadeira, jogo, brinquedo

    e ldico tem uma explicao, pois o resultado de diferentes significaes, muitas

    vezes contraditrias, que circulam socialmente.

    Na Lngua Portuguesa, a definio para as noes de jogo, brinquedo e brincar

    bem complexa. Entre ns, o termo brincar oriundo do latim vinculum, que quer

    dizer lao, unio. Tal significado no possui equivalente nas lnguas europias como

    o francs, ingls, alemo ou espanhol e possui uma especificidade. (Santa , 1993,

    23 )

    J o termo brinquedo definido como objeto que serve para as crianas brincarem;

    jogo de crianas; brincadeira; divertimento, passatempo; festa, folia, folguedo. E

    encontramos ainda brincar comodivertir-se infantilmente; entreter-se em jogos de

    criana ou ainda recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar".

    O termo jogar, por outro lado, extensivo tanto s noes de brincar quanto a vrias

    outras atividades, sendo usado mais freqentemente para definir passatempos e

    divertimentos sujeitos s regras. Temos tambm o termo ldico, que deriva do latim

    ludus, mais abrangente, que remete s brincadeiras, aos jogos de regras, a

    competies, recreao, representaes teatrais e litrgicas".(cito. p. 24)

    Para que uma atividade seja um jogo necessrio, ento, que seja tomada e

    interpretada como tal pelos atores sociais em funo da imagem que tm dessa

    atividade.

  • 44

    Longe de ser apenas uma atividade natural da criana, a brincadeira uma

    aprendizagem social. As brincadeiras dos adultos com crianas bem pequenas so

    essenciais nessa aprendizagem. A criana inicia esse processo inserindo-se no jogo

    preexistente do adulto como um brinquedo, sem desempenhar, de imediato, um

    papel muito ativo. Nesse momento, o beb no ainda um parceiro do jogo, mas

    suas manifestaes de contentamento, como risos e murmrios, incentivam o adulto

    a continuar brincando. Em seguida, ele vai poder se tornar parceiro, assumindo o

    mesmo papel do adulto, mesmo que de forma desajeitada. Na brincadeira de

    esconder o rosto com um pano, por exemplo, a criana pequena aprende a

    reconhecer certas caractersticas essenciais do ato de brincar.

    Aos poucos, as crianas passam a usar essas estruturas preexistentes que definem

    a atividade ldica em geral e cada brincadeira em particular.

    As crianas, portanto, as apreendem antes de utiliz-las em novos contextos, quer

    estejam sozinhas, em brincadeiras solitrias, quer estejam com outras crianas, em

    brincadeiras em grupo.

    Ao identificar essas estruturas, Gilles Brougre (2002, p.22-23), professor de

    Cincias da Educao da Universidade Paris-Nord, chama a ateno para a

    presena de uma cultura preexistente que define o jogo, torna-o possvel e faz dele,

    mesmo nas formas solitrias, uma atividade cultural que supe uma aprendizagem.

    As crianas, quando brincam, no esto apenas entrando em contato com a cultura

    de uma forma geral. Quando se brinca, aprende-se antes de tudo a brincar, a

    controlar um universo simblico particular.

    Existe uma cultura ldica, ou seja, um conjunto de regras e significaes prprias do

    ato de brincar ou jogar que aquele que brinca ou joga adquire e domina no contexto

    de suas brincadeiras. Brougre (1995, p.99-100) identifica a existncia de uma

    comunicao especfica, uma metacomunicao, presente na brincadeira. Os

    parceiros precisam entrar em acordo sobre cdigos que indicam que se trata de uma

    brincadeira. H uma troca de mensagens que feita atravs de sinais e que s

    possvel se existe um certo grau de metacomunicao.

  • 45

    As significaes podem ser explcitas ou implcitas; verbais ou no-verbais.

    freqentes o uso de verbos no imperfeito, quadrinhas e gestos especficos que

    indicam a vontade de brincar.

    Quando a criana diz Vamos brincar? Ou Finge que voc um prncipe!, ela est

    deflagrando a brincadeira e anunciando um determinado espao, onde as atividades

    vo ter um outro valor.

    Quando a criana muito pequena e ainda no domina a fala, costuma fazer uso da

    linguagem gestual para indicar que quer brincar. Muitas vezes, sem dizer nada,

    entrega um brinquedo outra criana, ou a um adulto. Muitos adultos, ao

    desconhecerem a importncia e o significado destes cdigos, limitam-se a empilhar,

    ao seu redor, os brinquedos oferecidos pela criana. freqente tambm, que

    digam: Que carrinho bonito! Ou Pegue um de cada vez, seno vira baguna!,

    comentrios que no estimulam em nada a deflagrao ou a continuidade de uma

    brincadeira.

    Ao se dar conta desses cdigos, o adulto pode identificar a inteno da criana e

    corresponder ao convite, enriquecendo as possibilidades de desdobramento, se

    levar em conta que:

    A brincadeira uma mutao do sentido, da realidade: as

    coisas tornam-se outras. um espao margem da vida

    comum, que obedece a regras criadas pela circunstncia".

    (Brougre, G. 1995, p.99-100)

    Quando um adulto alerta que a criana deve comer uma cenoura de plstico

    S de mentirinha!, ele est, informalmente, ensinando que o espao do

    jogo peculiar. A partir dessas interaes com adultos ou com seus pares, a

    criana vai, aos poucos, descobrindo que uma boneca no um beb de

    verdade, mas que pode fazer de conta que .

  • 46

    Essa aprendizagem acontece informalmente, pois caso contrrio, se o adulto

    se dispuser a adotar mtodos para ensinar as crianas a brincar, corre o

    risco de destruir a brincadeira. Essa uma das principais diferenas entre

    brincadeira e atividade ldica.

    Para que haja a brincadeira, necessria uma deciso dos que brincam: deciso de

    entrar na brincadeira, mas tambm de constru-la segundo modalidades particulares.

    Sem a livre escolha, no existe brincadeira, mas uma sucesso de comportamentos

    que tm origem fora daquele que brinca. Quando os adultos se afastam demais

    dessa atividade, acabam por ter, em geral, dificuldades em reconhec-la. No dispor

    dessas referncias no poder brincar.

    A cultura ldica no nica e imutvel. Existe um conjunto de regras de jogos

    disponveis numa determinada sociedade, que se somam s regras que um

    indivduo cria. Essa combinao vai compor uma cultura ldica prpria.

    Mesmo as brincadeiras tradicionais, que se encontram em vrios contextos culturais,

    ganham contornos especficos. A amarelinha, por exemplo, pode ser jogada a partir

    de vrios traados e com regras que variam de regio para regio. At mesmo o

    nome pode ser outro.

    Em Portugal, este jogo conhecido como Jogo do Aeroplano ou Jogo da Macaca. A

    cultura ldica um conjunto vivo, diversificado conforme os indivduos e os grupos.

    As regras dessa cultura ldica so bem particulares, pois so vagas e com

    estruturas gerais e imprecisas. Brougre (2002) prefere cham-las de esquemas de

    brincadeiras, que so uma combinao complexa da observao da realidade social,

    hbitos de jogo e suportes materiais disponveis.

    A cultura na qual a criana est inserida, junto com a cultura ldica que ela possui,

    provocam uma variedade enorme de combinaes possveis. Essa cultura ldica se

    produz e se propaga de vrias maneiras. A criana, quando brinca, vai acumulando,

    desde beb, as experincias que vo constituindo sua cultura ldica. Essa

    experincia vai se enriquecendo na medida em que ela participa de brincadeiras

  • 47

    com outros parceiros (adultos e crianas), pela observao de outras crianas e pela

    manipulao cada vez maior de objetos de jogo.

    A brincadeira um processo de relaes da criana com o brinquedo, com outras

    crianas e com os adultos, portanto, um processo de cultura. O uso que a criana

    faz do brinquedo, a maneira como brinca e suas preferncias indicam uma produo

    de sentidos e de aes.

    Na brincadeira, a criana se apropria dos contedos disponveis, tornando-os seus,

    por uma construo especfica. As brincadeiras variam segundo as idades, o gnero

    e os nveis de interao ldica. As brincadeiras coletivas expressam apropriaes de

    contedos diferentes dos que esto presentes numa situao individual.

    Toda interao supe uma interpretao. A criana vai agir em funo da

    significao que vai dar aos objetos dessa interao, adaptando-se reao dos

    outros elementos da interao, para reagir tambm e produzir assim novas

    significaes que vo ser interpretadas pelos outros, como numa espiral.

    A experincia ldica se alimenta continuamente de elementos que vm da cultura

    geral. Essa influncia se d de vrias formas e comea com o ambiente e as

    condies materiais. O que dizem e o que fazem os adultos a respeito dessa

    atividade, bem como o espao, o tempo e os materiais colocados disposio das

    crianas (na cidade, nas moradias e nas escolas), so aspectos que vo ter papel

    fundamental para o desenvolvimento da experincia ldica.

    A forma de comunicao prpria da brincadeira pressupe um aprendizado com

    conseqncias sobre outros aprendizados, pois permite abrir possibilidades de

    distino entre diferentes tipos de comunicao: reais, realistas, fantasiosas. A

    criana, quando brinca, entra num mundo de comunicaes complexas que vo ser

    utilizadas no contexto escolar, nas simulaes educativas e nos exerccios.

  • 48

    Nesse sentido, extremamente importante distinguir os diferentes tipos de atividade

    que podem e devem ter seu lugar garantido no contexto escolar. Existe uma certa

    confuso por parte de alguns educadores, que chamam de brincadeira uma srie de

    atividades que podem ser ldicas, mas que no so propostas nem desenvolvidas

    pelas prprias crianas. Quando a especificidade da brincadeira mantida, os

    elementos que predominam so incerteza, ausncia de conseqncia e sucesso de

    decises tomadas por aqueles que brincam.

    Os educadores no devem hesitar em organizar e propor atividades dirigidas e

    construdas em funo de objetivos pedaggicos, mas que tenham uma lgica

    completamente diferente da brincadeira. A relao entre a brincadeira e as

    atividades dirigidas so tambm interessantes, visto que as duas formas podem se

    enriquecer mutuamente.

    As atividades dirigidas podem sugerir idias, oferecer oportunidades de as crianas

    ampliarem sua viso de mundo. As crianas podem, depois, transferir suas

    descobertas para suas brincadeiras. Reciprocamente, o educador pode observar o

    contedo cultural da brincadeira para desenvolver outras atividades que, desse

    modo, vo partir dos interesses demonstrados pelas prprias crianas.

    Quando a brincadeira valorizada em todas as fases da vida, as crianas aprendem

    com os adultos e estes aprendem com as crianas, como nos versos dessa cano.

    No final do arco-ris mora uma criana,

    Que pintou no cu as cores da esperana,

    Para fazer do mundo um lugar feliz.

    O sopro de uma brisa sopra o cata-vento,

    Cada coisa tem seu tempo e seu momento:

    Um dia do mestre, um dia do aprendiz.

    , brincando se aprende a viver,

    Cantando para no esquecer que adulto tambm criana.

    E, brincando se aprende a crescer,

    E o adulto no pode perder a doce magia da infncia.

    Na estrela mais brilhante a luz da alegria,

  • 49

    Tudo no mundo tem o dom da fantasia,

    s procurar dentro do corao.

    O planeta Terra gira pelo universo.

    O poeta gira em torno do seu verso,

    Escrevendo a vida em forma de cano.

    (Brincando se Aprende a Viver Msica de Michael Sullivan e Dudu Falco)

    2.3- A cultura popular ldica e os jogos tradicionais infantis

    A cultura popular ldica um dos componentes mais representativos da cultura

    tradicional e sob as formas de manifestaes das mais diversas: festas populares,

    carnaval, quermesses, sabadadas ou sabticas, folias de reis, micaretas ou

    micarmes, festas juninas, espetculos teatrais de rua e outras. O bom humor

    popular, todas as formas de zombarias e de parodias aparecem como expresses

    muito ricas do ser humano devido sua qualidade de homo ludens.

    J os jogos tradicionais infantis fazem parte integrante da cultura ldica popular,

    freqentemente devido a sua origem. Sabe-se que muitos jogos derivam de

    espetculos ou de cerimnias religiosas de adultos, mas diferenciam-se sobretudo

    pelo seu esprito.

    A alegria, a busca do prazer, as brincadeiras e o divertimento de uma parte, a

    diversidade, a criatividade, o exerccio que estimula as capacidades do corpo e do

    esprito humano, de outra parte, so as caractersticas que os jogos infantis

    compartilham com a cultura ldica tradicional, embora existam as especificidades.

    Nelas pode-se encontrar a origem das grandes categorias desses jogos,

    freqentemente criados pelas prprias crianas, em sua estrutura e, sobretudo, em

    suas funes. Atuam em funo de imitao, de desenvolvimento, de criatividade e

    de autonomia. Pode-se notar que as funes educativas so mais acentuadas nos

    jogos infantis do que nas formas ldicas dos adultos. (Ivan Ivic - Colquio

    Internacional de Jogos Tradicionais UNESCO, Paris, maro 1989).

  • 50

    CAPTULO III- Resgate como forma de preservao: a brincadeira como patrimnio imaterial

    De acordo com a Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial,

    aprovada pela Unesco em 17 de outubro de 2003, entende-se por patrimnio

    cultural imaterial as prticas, representaes, expresses, conhecimentos e

    tcnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes so

    associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivduos

    reconhecem como parte integrante de seu patrimnio cultural. Este patrimnio

    cultural imaterial, que se transmite de gerao em gerao, constantemente

    recriado pelas comunidades e grupos em funo de seu ambiente, de sua interao

    com a natureza e de sua histria, gerando um sentimento de identidade e

    continuidade, contribuindo assim para promover o respeito diversidade cultural e

    criatividade humana.

    Falar em resgate de antigas brincadeiras nos remete a busca da preservao da

    tradio, a verdadeira cultura de uma sociedade - sua identidade cultural. Segundo

    Menezes,

    (...) A identidade quer pessoal, quer social,

    sempre socialmente atribuda, mantida e transformada (...). O

    processo de identificao um processo de construo de

    imagem e o suporte fundamental a memria, atravs da

    qual se obtm informaes, conhecimentos, experincia e, por

    isso mesmo, a possibilidade de dar lgica, sentido e

    inteligibilidade aos vrios aspectos da realidade". (1989: 14)

    Desta forma, ocorre que no grupo de brincadeiras quer cantando ou danando, as

    crianas trazem elementos do passado da humanidade para o seu presente, "A

    partir da vivncia deste passado relacionado aos contedos do seu presente,

    encontra-se em condies de projetar o seu futuro" (Menezes, 1989: 15).

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    "Neste processo a criana tem a possibilidade de transformar o

    desconhecido em conhecido, o inexplicvel em explicvel, e

    reforar ou alterar o mundo. Pode levantar questes, discutir,

    inventar, criar, transformar" (Heller, apud. ibid. p. 14 ) .

    A tudo isso, denomina Cultura como sendo tudo o que o homem no decorrer de sua

    vida acrescenta a natureza. O conceito de cultura tem origem etimolgica em cultivo

    e cultivo tem origem em culto. Produto de uma sociedade, criado atravs do

    processo social, conseqentemente, fundamentado pelo processo histrico. Pela

    convivncia social se deram e se do s organizaes do trabalho, as relaes

    humanas, a comunicao, a troca de informaes e conhecimentos, o

    desenvolvimento cientfico e intelectual. Os hbitos, comportamentos, formas de

    organizao social, manifestaes intelectuais, artsticas formam a cultura de uma

    sociedade.

    Arraigado a tudo isso, nos deparamos com os chamados bens de natureza material

    e imaterial portadores de referncia identidade, ao e memria dos grupos

    formadores da sociedade e que constituem o chamado Patrimnio Cultural, que

    todos tm o dever de valorizar, difundir, preservar e promover a memria nacional.

    Nos dias de hoje, fcil constatar os benefcios j alcanados pelas iniciativas de

    valorizao e proteo do patrimnio material no contexto das diversas instncias da

    administrao pblica e das comunidades de um modo geral. J o patrimnio

    imaterial ou intangvel parece estar distanciado da compreenso dos mais amplos

    setores da sociedade, quer pela sua abstrao quer pela dificuldade de

    conscientizao nas comunidades.

    No plano educacional, o conjunto dos valores que constituem o patrimnio imaterial

    tem