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O processo de apropriação da leitura e da escrita na Educação de Jovens e Adultos
Cleuza do Rocio Valomin
RESUMO
Este estudo foi desenvolvido com a finalidade de promover ações educativas que favorecessem a apropriação e o desenvolvimento da leitura e da escrita nos educandos jovens e adultos. É preciso salientar que ler e escrever são habilidades essenciais para a realização de novas aprendizagens e constitui fatores imprescindíveis para o aperfeiçoamento científico. Para o alcance do objetivo proposto foi desenvolvido um trabalho com a professora de Língua portuguesa do Ensino Fundamental Fase II de um CEEBJA, do município de Campo Largo, proporcionando um aprofundamento teórico sobre a EJA, sobre os índices do analfabetismo no Brasil e reflexões acerca das questões pedagógicas que envolvem o processo educacional, especificamente, na apropriação da leitura e da escrita. Considerando os educandos sujeitos ativos do processo histórico e cultural foi proporcionado a eles a possibilidade de interagir, por meio de contos de fantasia e mistérios, de maneira agradável e eficaz no universo da leitura e da escrita e otimizar o processo de aprendizagem dos mesmos.
Palavras-chave: educação, apropriação, leitura, escrita, Educação de Jovens e
Adultos.
ABSTRACT: This essay was developed due to promote educational actions that favors the appropriation and development of reading and writing with the young and adult learners. It is important to stress that to read and to write are essential skills to the fulfillment of new learnings and it is an indispensable factor to the scientific improvement. To reach the initial objectives it was developed a work with the Portuguese teacher from Fundamental teaching, stage II of a CEEBJA located in Campo Largo, giving a theoretical improvement about one EJA, about the levels of illiteracy in Brazil and the reflections about pedagogic questions that involves the educational process, specially in the appropriation of reading and writing. Considering that the learners are active subjects of the historical and cultural process, it was given them the possibility to interact by fantasy tales and mysteries, a pleasant and effective way in the learning process of them.
Key-words: education, appropriation, reading, writing, young and adult education.
2
1. INTRODUÇÃO
A relação entre a leitura e a escrita e sua apropriação é fundamental no
processo educativo favorecendo ao aluno o aprendizado de conhecimentos
elaborados ao longo da história da humanidade. Contudo, a aprendizagem da leitura
e escrita não ocorre de forma natural ou espontânea, demandando situações
pedagógicas específicas que, na atualidade, são desenvolvidas e disponibilizadas
majoritariamente na escola (KLEIN, s/d). Assim, é função desta instituição fornecer
os instrumentos necessários para que o educando consiga se apropriar dos
conhecimentos que extrapolem o cotidiano, pois na escola o aluno deve entrar em
contato com aquilo que não lhe é cotidiano – a ciência, a arte e a filosofia
(BARROCO, TULESKI, 2006). Estes conhecimentos possibilitam, de forma geral, a
expansão dos conhecimentos dos alunos e, em especifico, a promoção da
aprendizagem da linguagem oral e escrita.
É preciso salientar que ler e escrever são habilidades essenciais para a
realização de novas aprendizagens e constitui fatores imprescindíveis para o
aperfeiçoamento científico, independente da disciplina (matemática, história,
geografia, ciências, etc.), haja vista que não somente a disciplina de língua
portuguesa demanda a leitura e a escrita bem como a interpretação do código para
a aprendizagem de conteúdos. Portanto, ler não se restringe a um acúmulo de
informações, mas se constitui fundamentalmente na apropriação de um tipo de
conhecimento elaborado pela humanidade.
Entretanto, na atualidade, há um número significativo de indivíduos que ainda
não são alfabetizados no Brasil. Dados estatísticos demonstram a magnitude do
problema.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad –
2006), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006
havia 14,9 milhões de brasileiros com mais de 10 anos de idade analfabetos. Para
as pessoas com 15 anos ou mais, a taxa de analfabetismo, em 2006, era de 10,4%.
Segundo a pesquisa Anuário 2007: Qualificação Social e Profissional,
divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-
Econômicos (DIEESE), em 2007 o contingente de analfabetos no Brasil acima de 15
anos, 14 milhões de pessoas, colocou o país no grupo das 11 nações com mais de
3
10 milhões de não-albabetizados, ao lado do Egito, Marrocos, China, Indonésia,
Bangladesh, Índia, Irã, Paquistão, Etiópia e Nigéria. Cerca de 11% dos brasileiros
ainda eram analfabetos. Outros 30% da população eram considerados analfabetos
funcionais – pessoas que embora dominem as habilidades básicas do ler e do
escrever não são capazes de utilizar a leitura e a escrita na vida cotidiana ou na
escola – e um terço dos jovens com idade entre 18 e 24 anos não freqüentava
escolas de ensino médio.
Diante dessa perspectiva assustadora que nosso país se encontra – com um
grande contingente de analfabetos e de analfabetos funcionais – é preciso haver
uma preocupação maior com a educação básica e valorização, sobretudo, da
escolaridade dos jovens e adultos brasileiros num processo de desafio das políticas
públicas para promover o sucesso educativo do educando.
Neste sentido, torna-se prioridade desenvolver metodologias educacionais
que favoreçam o aprendizado da leitura e da escrita e que promovam ações
pedagógicas que atendam as necessidades de aprendizagem de jovens e adultos.
É com este ensejo que no presente trabalho será explanada a intervenção
realizada com alunos matriculados em um Centro Estadual de Educação Básica de
Jovens e Adultos (CEEBJA), no município de Campo Largo, que teve como objetivo
promover ações educativas que favorecessem a apropriação e o desenvolvimento
da leitura e da escrita. Antes, será realizada uma breve explicação do que é a
Educação de Jovens e Adultos e a importância da apropriação da leitura e escrita
nessa modalidade de ensino.
2. DESENVOLVIMENTO 2.1 A Educação de Jovens e Adultos na atualidade
Conforme determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBN 9394/96), a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem como finalidade
atender à camada da população que não teve acesso a educação durante a infância
e adolescência. É concebida como uma modalidade do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio, a qual garante, aos jovens e adultos precariamente escolarizados,
4
educação que vai além da alfabetização e das séries iniciais do Ensino
Fundamental.
A LDBN 9394/96 determina que os sistemas de ensino devem assegurar
cursos e exames que proporcionem oportunidades educacionais apropriadas aos
interesses, às condições de vida e trabalho de jovens e adultos. Esclarece também
que o Poder Público deve viabilizar e estimular o acesso e a permanência do
trabalhador na escola, mediante ações integradas.
Em 2000, foi fixado o Parecer da Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação (Parecer CNE/CEB) n° 11/2000 que estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos aprovadas pelo
Conselho Nacional de Educação, de autoria do Professor Carlos Roberto Jamil Curi.
Esse Parecer significou um grande avanço na elaboração de políticas para a
educação de jovens e adultos. É salientado nesse Parecer que a EJA representa
uma “dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a e nem
domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido
a força de trabalho empregada na constituição de riquezas e na elevação de obras
públicas” (BRASIL, 2000, p. 5, grifos nossos).
Destaca-se ainda no Parecer CNE/CEB 11/2000 que a EJA procura recuperar
avanços definidos na Constituição de 1988:
Quando o Brasil oferecer a esta população reais condições de inclusão na escolaridade e na cidadania os “dois brasis”, ao invés de mostrarem apenas a face perversa e dualista de um passado ainda em curso, poderão efetivar o princípio de igualdade de oportunidades de modo a revelar méritos pessoais e riquezas insuspeitadas de um povo e de um Brasil uno em sua multiplicidade, moderno e democrático. (BRASIL, 2000, p. 67)
A Lei n° 10.172/2001 do Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece
metas para a educação de jovens e adultos, dentre elas: alfabetizar em cinco anos
dois terços do contingente total de analfabetos, de modo a erradicar o analfabetismo
em uma década. Essas metas implicam uma expansão quantitativa da oferta de
oportunidades educacionais para jovens e adultos.
É preciso destacar que a Educação de Jovens e Adultos é parte constitutiva
do sistema regular de ensino que propicia a educação básica e deve ser otimizada
5
em todos os sentidos, envolvendo todos os componentes estruturais por parte das
autoridades competentes e também da população.
No que concerne a dimensão pedagógica da EJA, esta deve voltar-se para a
promoção do aluno possibilitando o desenvolvimento de suas potencialidades numa
perspectiva transformadora.
Assim, a EJA deve propiciar a todos (jovens, adultos e idosos) a apropriação
de conhecimentos científicos, fornecendo instrumentos necessários para que
consigam compreender informações mais elaboradas. Para tanto, é imprescindível
propiciar conhecimentos que promovam avanços quanto à compreensão da
realidade para libertar o pensamento do indivíduo das experiências concretas e
imediatas para a operacionalização de conceitos mais abstratos, racionais e
generalizados. (BARROCO, TULESKI, 2007)
Esse avanço nos conhecimentos demanda, por sua vez, a ampliação da
compreensão sobre o processo de aprendizagem do aluno jovem e adulto, as
características e especificidades desse processo, garantindo a elaboração de
atividades pedagógicas específicas, com a consciência de que a juventude e a idade
adulta também são tempos de aprender.
Além da expansão das experiências e conhecimentos dos alunos, Vieira Pinto
(2005) defende a educação de adultos como uma condição necessária para o
avanço do processo educacional nas gerações infantis e juvenis. Segundo ele,
através dessa modalidade de ensino é possível produzir indivíduos mais capacitados
para usufruir socialmente, e afirma:
A educação de adultos não é uma parte complementar, extraordinária do esforço que a sociedade aplicam em educação (supondo-se que o dever próprio da sociedade é educar a infância). É parte integrante desse esforço, parte essencial que tem como obrigatoriamente que ser executada paralelamente com a outra, pois do contrário esta última não terá o rendimento que dela se espera. Não é um esforço marginal, residual, de educação, mas um setor necessário do desempenho pedagógico geral, ao qual a comunidade se deve lançar. (VIEIRA PINTO, 2005, p. 82)
Klein (2003) aponta alguns desvios na interpretação da EJA. O primeiro deles
se refere a promover a subordinação do processo pedagógico às limitações dos
alunos, reduzindo tempo de estudo e conteúdos com o pretexto de adaptá-los às
condições reais dos educandos. Outro desvio citado pela autora diz respeito a uma
6
pedagogia voltada aos reais interesses e necessidades do aluno levando a
discussão de temáticas pautadas apenas no senso comum, deixando de lado o
conhecimento científico, gerando um barateamento de conteúdos. Afirma ainda que
é necessário buscar uma articulação entre ambos os interesses: o particular
(cotidiano imediato) e o universal.
Para Klein (2003), o desenvolvimento científico deve ser o norte para o
desenvolvimento de conteúdos. E comenta que:
[...] é necessário, sim, promover adequações no que diz respeito à organização do processo pedagógico, ao calendário, ao horário das aulas, às possibilidades de freqüência dos alunos, criando condições concretas para sua inserção no processo ensino-aprendizagem; entretanto, essas adequações devem ter como meta a possibilidade de apropriação do conhecimento científico que se inscreve em um quadro transformador, e não, a pretexto de “poupar” um aluno já atingido por inúmeros sofrimentos, desembocar em encaminhamentos que resultam na redução de oportunidades de aprendizagem. Da mesma forma, há de se contemplar os interesses dos alunos, inclusive os imediatos, introduzindo os temas cotidianos estrategicamente no desenvolvimento das aulas. Porém, essa abordagem não poderá ter como custo o sacrifício de suas necessidades e interesses mais amplos, os quais, no que diz respeito ao ensino, se traduzem enquanto domínio do conhecimento mais avançado, ou seja, enquanto superação do senso-comum. (KLEIN, 2003, p.14)
Klein (2003) salienta ainda que compete ao professor, apoiado em um sólido
conhecimento dos fundamentos explicativos dos dados da realidade, orientar a
discussão na direção de um aprofundamento consistente. 2.2 A Educação de Jovens e Adultos e a apropriação da leitura e da escrita
Aprender a ler e a escrever, isto é, tornar-se alfabetizado significa codificar
em língua escrita (escrever) e de decodificar a língua escrita (ler), porém para os
dias atuais isso não é o suficiente, é preciso apropriar-se da escrita, isto é, fazer uso
das práticas sociais de leitura e escrita.
Segundo Klein (2003), apropriação da leitura e da escrita é um processo
complexo que envolve tanto o domínio do sistema alfabético/ortográfico quanto à
compreensão e o uso da língua escrita em inúmeras práticas sociais, ocupando um
lugar de destaque no processo ensino-aprendizagem.
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A apropriação da leitura e da escrita deve estar interligada a dimensões que
se articulam num processo que envolve: dimensão lingüística, a qual faz a
passagem da oralidade para a escrita; dimensão cognitiva, que proporciona às
atividades mentais manter-se em interação com a escrita tanto na aquisição do
código quanto na produção do seu significado; e dimensão sociocultural que revela a
funcionalidade e adequação da leitura e da escrita nas práticas sociais (SOARES,
2008).
Em nosso país ainda enfrentamos, como já salientado, o problema do
analfabetismo: há uma massa populacional que ainda apresenta baixos níveis de
letramento, não podendo assim participar efetivamente do mundo da escrita. Nos
dias atuais, com o grande avanço da tecnologia, além da importância de conhecer o
sistema da escrita, é necessário também participar de práticas sociais letradas.
Segundo Soares (2003, p.20), “só recentemente passamos a enfrentar essa
nova realidade social em que não basta apenas saber ler e escrever, é preciso
também fazer uso do ler e escrever, saber responder às exigências de leitura e
escrita que a sociedade faz continuamente”. E, para a autora, é isto que torna um
indivíduo letrado.
Soares (2003) define letramento como o estado ou condição de quem não só
sabe ler, mas exerce as práticas sociais de leitura e de escrita que circulam na
sociedade em que vive conjugando-as com as práticas sociais de interação oral.
Partindo dessa realidade Klein (2000, p. 11) afirma que letramento é mais que
um mero instrumento de comunicação e que devemos entendê-lo como uma das
condições necessárias para a realização do cidadão: “[...] ele o insere num circuito
rico de informações, sem as quais não poderia exercer livre e conscientemente sua
vontade”. Portanto, para a autora, subtrair o domínio da escrita significa reduzir as
possibilidades de realização plena do sujeito. Nas palavras da autora,
[...] o homem contemporâneo é afetado por outros homens, fatos e processos por vezes tão distantes de seu cotidiano, que somente uma rede muito complexa de informações pode dar conta de situá-lo, minimamente, na teia de relações em que se encontra inserido. Neste universo, tão mais vasto e complexo, a escrita assume relevante função registrando e colocando ao seu alcance as informações que podem esclarecê-lo melhor (KLEIN, 2000, p. 11).
8
Saviani (2003) defende a idéia de que o saber sistematizado, a cultura
erudita, é uma cultura letrada. Daí que a primeira exigência para o acesso a esse
tipo de saber seja aprender a ler e escrever.
O aprendizado da leitura e da escrita, na atualidade, é uma das condições
necessárias para o desenvolvimento do ser humano, devendo satisfazer seus
desejos e necessidades e, desse modo, possibilitar um maior envolvimento às
práticas sociais, podendo se apresentar sob diversas perspectivas, devendo
acontecer de modo dinâmico e criativo.
E, no que diz respeito ao aprendizado Vigotski salienta que:
O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seria impossível de acontecer. Assim o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas especificamente humanas. (VIGOTSKI, 2002, p. 117)
Klein (2003) defende a idéia de que conceber a escrita em uma perspectiva
social implica entendê-la como produção humana e compreender a forma que ela
assume sob determinada organização social, quais funções cumpre e no interesse
de quem.
A autora ressalta também a importância de entender o caráter histórico da
comunicação e afirma ser necessário entender quais são as necessidades
comunicacionais do homem contemporâneo e qual papel desempenha a escrita
nesse contexto.
É importante salientar que a linguagem não é uma habilidade dada
naturalmente, ou seja, o homem pode nascer com o aparato fonológico, contudo, a
possibilidade de fala só é possível através da apropriação da linguagem criada
historicamente. A partir deste pressuposto entende-se que o homem é um ser social,
ou seja,
[...] que cada indivíduo tem a sua vida produzida pelo conjunto da sociedade. Isto é, as coisas de que ele necessita para viver humanamente – inclusive as suas próprias capacidades humanas – não existem naturalmente, precisando ser produzidas. Essa produção, por outro lado, só é possível mediante uma relação de interdependência entre os homens (KLEIN, 2003, p. 27).
9
Segundo Vigotski (1988), é por conta da necessidade de comunicação entre
seus semelhantes que o homem criou e utiliza a linguagem. Nesse sentido, o
intercâmbio social é a principal função da linguagem em uma sociedade.
Sobre esse aspecto Luria (1994) argumenta que a linguagem teve
importância decisiva para a reorganização da atividade consciente do homem,
sendo a linguagem o veículo fundamental de transmissão de informação que se
formou na história da humanidade. E comenta que:
Ao transmitir a informação mais complexa, produzida ao longo de muitos séculos de prática histórico-social, a linguagem permite ao homem assimilar essa experiência e por meio dela dominar um ciclo imensurável de conhecimentos, habilidades e modos de comportamento, que em hipótese alguma poderiam ser resultado da atividade independente de um indivíduo isolado [...] e que a linguagem é realmente o meio mais importante de desenvolvimento da consciência. (LURIA, 1994, p.81)
Luria (1994) ressalta que a linguagem desempenha funções importantes:
reorganiza substancialmente os processos de percepção do mundo exterior e cria
novas leis dessa percepção, muda essencialmente os processos de atenção do
homem e muda também os processos da memória do homem.
Vygotski (1988) também apresenta a linguagem como pensamento
generalizante que tem como função ordenar fatos, falas, objetos, enfim tudo o que
representa o real.
E, para o referido autor, as palavras desempenham um papel central não só
no desenvolvimento do pensamento, mas também na evolução histórica da
consciência como um todo. Para ele a aquisição da linguagem desempenha papel
decisivo no desenvolvimento dos processos psicológicos superiores.
Considerando a importância que a leitura e a escrita representam na
formação das pessoas é preciso analisar de modo mais amplo todos os aspectos
envolvidos no processo intelectual e cultural dos indivíduos em relação à
aprendizagem na sua especificidade. De acordo com Saviani (2003), é no processo
de aprendizagem que se dá a assimilação do saber sistematizado e para isso é
necessário dominar os mecanismos próprios da linguagem escrita. Dominados os
fundamentos, a leitura e a escrita podem fluir com segurança e desenvoltura.
Diferentemente da aprendizagem da linguagem oral que é apropriada “na
medida em que a criança partilha situações de uso da linguagem por aqueles que já
10
a dominam”, a linguagem escrita demanda situações pedagógicas específicas, ou
seja, “é necessário que alguém forneça, ao aprendiz, condições especiais de refletir
sobre os mecanismos e recursos da escrita” (KLEIN, s/d, p. 9). Assim, o aprendizado
da linguagem escrita representa novo e considerável salto no desenvolvimento da
pessoa.
É imprescindível, portanto, que o professor explore o conhecimento dos
alunos sobre texto escrito, não se restringindo ao mero domínio do código.
Conforme Klein (2003, p. 28), “o alfabetizado é o leitor/escritor que sabe operar
competentemente o discurso escrito”.
Sendo então a linguagem uma produção humana, a sua apropriação, oral ou
escrita, é um processo que exige muito esforço para a aprendizagem. No caso
específico da linguagem escrita é necessária a mediação do professor, através de
metodologias que contribuam ativamente para a apropriação do aluno.
É necessário, portanto, que o educador valorize o papel da leitura e da
escrita, independente da disciplina que leciona, levando os educandos a
compreenderem o real significado dessa aprendizagem. Saviani (2003) assinala que
o educando passará a estudar ciências, história, geografia, aritmética através da
linguagem escrita, isto é, lendo e escrevendo de modo sistemático. Dá-se assim o
aprofundamento e maior entendimento do universo letrado.
Ler e escrever demanda reflexão a qual deve aperfeiçoar o conhecimento e
permitir o entendimento do que foi lido. Diante disso é necessário que o professor
trabalhe com textos que tenham significado para o aluno promovendo a interação
com o texto. Vieira Pinto (2005) comenta que a ação do educador tem de consistir
em encaminhar o educando adulto a criar por si mesmo sua consciência crítica
passando de cada grau ao seguinte.
O processo de apropriação da leitura e da escrita realmente é indispensável e
significativo na vida das pessoas, vai além do aprender a se comunicar e decodificar
códigos e se constitui na possibilidade de adquirir conhecimentos, desenvolver
raciocínios, ampliar a visão de mundo e compreender a função social do texto.
No caso da linguagem, afirma Klein (2003), o professor deverá atentar para a
possibilidade real de interlocução com o aluno, observando vocabulário, exposição e
uso de estratégias que articulem o conhecimento que se pretende construir com os
conhecimentos já apropriados pelos alunos. Klein (2003) salienta também ser
necessário que o professor consiga viabilizar as estratégias mais pertinentes para o
11
aprendizado, com o cuidado de escolhê-las entre aquelas que mais promovem a
participação ativa dos alunos.
O aprendizado da leitura e da escrita transforma o indivíduo permitindo-lhe
um constante crescimento. Para que o aluno aprenda a ler e a escrever é necessário
conviver com práticas reais de leitura e de escrita, que entrem em contato com
textos diversos, criando assim situações que tornem necessárias e significativas as
práticas de ler e escrever. Esse processo deve garantir que o educando compreenda
o texto e que construa uma idéia sobre o mesmo. Klein (2003, p. 34) salienta
A leitura deve contemplar uma tipologia variada: textos informativos, narrativos, narrativo-descritivos, normativos, dissertativos, de correspondência, textos argumentativos, textos literários, em prosa e em verso, textos lúdicos, textos didáticos, textos publicitários, entre outros, buscando promover o conhecimento da função social e dos mecanismos constitutivos de cada tipo.
A leitura e a escrita são meios importantes na escola para novas
aprendizagens e no decorrer dos estudos aumenta-se a exigência em relação às
mesmas. Através dessas práticas é fundamental levar os educandos a desenvolver
suas potencialidades, adquirir o hábito da leitura e utilizá-las para ter acesso a novos
conteúdos nas diversas áreas do conhecimento, utilizando diversas estratégias para
que o aluno encontre estímulos para leitura.
Entende-se que a ação pedagógica mais adequada e produtiva é aquela que
contempla, de maneira articulada e simultânea, a alfabetização e o letramento. É
necessário, portanto, compreender o desenvolvimento e as mudanças do processo
educativo da leitura e da escrita, cabendo a escola considerar a importância e a
necessidade de fundamentar sua prática, tornando o aluno alfabetizado e letrado.
2. 3 A apropriação da leitura e da escrita na EJA: implantação de projeto de intervenção Como já salientado, ler escrever são processos distintos e complementares. A
aprendizagem da leitura e da escrita encontra na escola o lugar privilegiado, na
atualidade, de sistematização e assimilação. Porém, como afirma Saviani (2003, p.
26), “é necessário viabilizar as condições de sua transmissão e assimilação”, ou
12
seja, condições satisfatórias e efetivas que promovam a aprendizagem de jovens e
adultos precariamente escolarizados. Foi com essa diretriz, que ações pedagógicas
que viabilizassem a apropriação e desenvolvimento da leitura e da escrita foram
desenvolvidas no CEEBJA Professor Domingos Cavalli, no município de Campo
Largo, pois havia reclamações dos professores de que muitos alunos apresentavam
dificuldades em dominar tais habilidades.
Sob consentimento da direção da escola e diante de tal queixa, optou-se pelo
trabalho em conjunto com a professora regente da disciplina de língua portuguesa
do Ensino Fundamental Fase II, do período noturno, a qual possuía uma turma de
30 alunos. Destaca-se aqui, que a professora demonstrou interesse de imediato pelo
projeto, pois valorizava a potencialidade de seus alunos e os considerava sujeitos
ativos do processo histórico cultural.
Neste sentido, iniciou-se a implantação do projeto através de ações junto à
professora e aos alunos da referida turma. Primeiramente, o projeto de pesquisa e o
material didático elaborados da professora PDE foram apresentados à professora
regente. A partir do estudo desse material, a professora comentou sobre a
importância e a necessidade de desenvolver a apropriação da leitura e da escrita
nos alunos. Afirmou que determinados alunos demonstravam falta de interesse em
ler e escrever e que outros realmente encontravam muitas dificuldades em
aperfeiçoar essa aprendizagem.
Para a efetiva aprendizagem da leitura e da escrita junto aos alunos elencou-
se como metodologia de trabalho o conto por considerá-lo um gênero literário que
apresenta grande flexibilidade de seres e acontecimentos e que se constitui como
uma narrativa que pode ser contada oralmente ou por escrito. Além disso, o conto é
um importante recurso pedagógico que atende a diversas necessidades dos
educandos desenvolvendo sua consciência critica.
Foi depois de muita reflexão e discussão, juntamente com a professora
regente, sobre o ato de ler e escrever e sobre a metodologia de trabalho, a partir das
leituras supracitadas, que o projeto se encaminhou para a sala de aula.
Primeiramente foi realizada uma sondagem sobre a realidade de vida dos
educandos e constatou-se: eram homens e mulheres trabalhadores/as,
empregados/as e desempregados/as ou em busca do primeiro emprego; filhos, pais
e mães; moradores urbanos, rurais e de periferias; com diferentes níveis sócio-
econômicos; diferentes idades, cultura, interesses e expectativas; dotados de
13
sonhos e desejos. De forma geral, eram sujeitos que privados do acesso à cultura
letrada.
Diante disso, questionava-se: Como incentivá-los a gostar de ler e escrever?
Começou-se a estabelecer contato e valorizar o esforço de cada um, procurando
elevar sua auto-estima e confiança, ajudando-os, juntamente com a professora da
turma, em suas dificuldades em sala de aula. Foi realizada a apresentação do
projeto explicando aos alunos a necessidade e importância de saber ler e escrever.
Expôs-se que se deve valorizar esse aprendizado, pois, dessa forma, seria possível
entender melhor os conteúdos das outras disciplinas, além de enaltecer que em
nossa sociedade dependemos da leitura e da escrita em nosso dia-a-dia. Procurou-
se estimulá-los a freqüentar uma biblioteca (alguns nunca haviam entrado em uma
biblioteca) de forma a despertar o interesse pela leitura. Após, foram apresentados
em sala de aula alguns livros de contos de fantasia e mistério, dos quais os alunos
fizeram uma leitura e posteriormente expuseram oralmente à turma o que haviam
lido.
Para explorar a oralidade dos educandos os mesmos foram incentivados a
contarem seus “causos” de fantasia e mistério, o que rendeu participação de todos.
Prosseguindo, foi apresentado um conto escrito por um autor da cidade de Campo
Largo, dando ênfase à cultura local, o qual despertou o interesse de muitos alunos
em lerem a coleção completo do autor. Alguns alunos trouxeram outros contos para
a sala de aula que retiraram de jornais e revistas. Pôde-se perceber que
determinados alunos estavam realmente lendo além do que era disponibilizado na
escola. Na continuidade, apresentou-se um conto, produzido por duas alunas de
outra escola com a finalidade de demonstrar que todos são capazes de criar suas
próprias histórias. Para, então, levá-los a produzir seus próprios contos (individual ou
em equipe). Antes da escrita os alunos assistiram alguns vídeos de contos (Barbosa,
Negócio Fechado, O lobisomem e o Coronel e o Xadrez das cores) para dar mais
embasamento ao ato de escrever.
Durante o momento da escrita surgiram muitas dúvidas, muitos receios,
alguns demonstraram insegurança em por no papel suas ideias, sentiam-se
incapazes. A produção foi acontecendo lentamente, mas foi fluindo de forma
agradável, havendo sempre o incentivo e acompanhamento da professora regente e
da professora PDE. Os alunos foram motivados pela ideia de que seus contos
14
produzidos iriam se tornar um livro da turma e que poderiam autografar a obra
realizada, a qual seria divulgada para toda escola.
O próximo passo foi o da reescrita, onde as professoras (PDE e regente)
desenvolveram um trabalho individual para cada conto produzido, juntamente com o
educando-autor, apontando, questionando e fazendo a correção necessária. Na
sequência os textos forma digitados pelos alunos.
O título foi escolhido pelos alunos através de uma votação. Montou-se então
um livro intitulado “A realidade assustadora dos contos” e contou com 14 contos
criados por 24 alunos, dos quais foram impressos 50 livros. Após a conclusão, os
livros foram autografados e os contos foram apresentados em forma de
dramatização. E, finalizando, os alunos envolvidos foram divulgar seu trabalho
realizado para os demais alunos da escola. Alguns exemplares do livro foram
catalogados na biblioteca da escola para apreciação de todos.
2. 4 Análise do projeto de leitura e escrita junto a alunos da EJA A linguagem oral e escrita se faz presente no cotidiano das pessoas. Em
nossa realidade estamos cercados de textos que estão impressos para comunicar,
informar, transmitir ideias e sentimentos. Sendo assim, precisamos dominar de
maneira eficaz a leitura e a escrita e, para isso, é necessário que haja um domínio
de certos mecanismos próprios da linguagem.
Segundo Saviani (2003), é preciso fixar certos automatismos, incorporá-los,
isto é, torná-los parte de nosso corpo, de nosso organismo, integrá-los em nosso
próprio ser. Dominadas as formas básicas, a leitura e a escrita podem fluir com
segurança e desenvoltura. O referido autor também cita que na medida em que o
aluno vai se libertando dos aspectos mecânicos, buscará significado naquilo que é
lido e escrito. Essa libertação se dá porque tais aspectos foram apropriados,
internalizados. A esse respeito Klein (2003) aponta que os recursos discursivos
podem se aprimorar indefinidamente e que se constituem assim objetos de ensino e
de aprendizagem os quais são abordados desde o início da alfabetização e
estendem-se ao longo da formação dos alunos.
Diante desse contexto, aparece a função da escola que é propiciar a
aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado. Saviani
15
(2003) resume que é pela mediação da escola que acontece a passagem do saber
espontâneo ao saber sistematizado, da cultura popular à cultura erudita. O mesmo
autor ainda acrescenta que se trata de um movimento dialético, isto é, a ação
escolar permite que se acrescentem novas determinações que enriquecem as
anteriores.
A leitura e a escrita são ferramentas do aprimoramento do saber e não
apenas instrumentos para expressá-lo. Diante disso, faz-se necessário o trabalho
com leitura e escrita nas diferentes áreas de conhecimento. Saviani (2003) afirma
que essa aprendizagem se dá através do conjunto do currículo escolar, através do
estudo das diversas disciplinas, isto é, lendo e escrevendo. As variadas práticas de
leitura e escrita podem oferecer aos estudantes um rico universo a ser revelado,
possibilitando localizar informações importantes e avaliar criticamente as
informações.
Partindo dessa concepção desenvolveu-se o presente trabalho com alunos da
EJA, como já salientado, promovendo a apropriação da leitura e da escrita através
da inserção dos mesmos a cultura letrada, promovendo o diálogo entre eles o texto.
Quando o indivíduo tem acesso a diferentes materiais de leitura e de escrita pode
aumentar o seu nível de letramento. Quanto mais for explorada essa capacidade,
maior será seu desempenho. E, neste sentido, Soares escreve:
Dissociar alfabetização de letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança [e também do adulto] no mundo da escrita se dá simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização, e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento. Mão são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização se desenvolve no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só pode desenvolver-se no contesto da e por meio da aprendizagem das relações fonema/grafema, isto é, em dependência da alfabetização. (SOARES, 2003, p.12)
Assim ensinar a ler e escrever significa propiciar ao aluno ao domínio de
códigos mais elaborados e mais especializados. Essa tarefa cabe ao professor,
porém não unicamente ao professor de Língua Portuguesa, mas a professores de
qualquer disciplina, promovendo a passagem do saber espontâneo ao saber
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sistematizado. Todos os professores devem proporcionar aos seus alunos o acesso
ao conhecimento científico e oportunidades de leitura e de escrita significativas,
assim seus educandos acabam percebendo que são capazes de expressar suas
ideias, que tem o que dizer, que tem história.
Levando em consideração tais apontamentos, o presente projeto
proporcionou à professora regente da turma, através desta intervenção, um maior
aprofundamento teórico sobre a Educação de Jovens e Adultos, visto que ela iniciou
neste ano seu trabalho nesta modalidade de ensino e também lhe favoreceu um
conhecimento mais profundo a respeito de sua turma. Afirmou a mesma que desse
modo foi possível verificar as dificuldades existentes relativas à leitura e a escrita,
pois muitos alunos demonstravam insegurança e medo em participar da aula, devido
ao fato de não dominarem totalmente o ler e o escrever. Pôde-se então analisar as
possibilidades de seus alunos, o que eles já dominavam, qual era a melhor forma de
agir para atingir a todos e reorganizar os caminhos metodológicos para enfrentar
essa realidade de maneira a conduzi-los a sentirem sujeitos ativos e participativos
contribuindo significativamente para a promoção escolar desses indivíduos.
De acordo com Klein (2003, p.15), a prática pedagógica constitui uma relação
entre dois sujeitos, com características específicas. Os sujeitos são, obviamente, o
professor e o aluno, e a relação que se estabelece entre eles é de ensino e
aprendizagem. Entretanto, como afirma a autora, deve-se salientar que o professor
como detentor dos fundamentos científicos precisa aprimorar, em sua prática
pedagógica, esses conhecimentos apresentando sempre uma postura de constante
investigação, planejando suas atividades com qualidade, promovendo a
aprendizagem e a apropriação do conhecimento pelos seus alunos. Ao educando,
cabe o papel de se dedicar para a efetivação desse conhecimento (KLEIN, 2003).
Enfatiza, ainda, que a atividade teórico-prática de ensinar é tão fundamental para a
aprendizagem quanto é o processo subjetivo de esforço cognitivo do aluno.
Quanto ao trabalho com os alunos obteve-se bons resultados e significativa
atuação dos mesmos em todo o processo da implementação. O grupo mostrou-se
interessado em realizar as atividades propostas, indagaram sobre suas dúvidas,
queriam expor suas idéias e expandi-las. Trouxeram materiais relativos ao tema para
sala de aula. Houve até depoimentos de alguns alunos que estavam sentindo
vontade de ler materiais diversos. Procurou-se expandir o aprendizado do educando
da língua como instrumento de compreensão do mundo que o cerca, possibilitando a
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clareza das leituras apresentadas, estimulando à escrita, mostrando a eles que eram
capazes, criando assim um ambiente favorável. A dinâmica estabelecida propiciou
que os alunos defendessem seus pontos de vista, argumentando-os através da
expressão oral da leitura e da escrita, proporcionado aulas interessantes e
desafiadoras.
O projeto foi conduzido através de diversas atividades como visitas à
biblioteca da escola e na biblioteca municipal da cidade; inúmeras leituras em
grupos e individuais, as quais eram conduzidas para uma discussão a respeito do
que foi lido, abrindo espaço para o debate entre os alunos; apresentações de vídeos
e dramatizações realizadas pelos alunos, buscando sempre o envolvimento de
todos; produções textuais a respeito do tema.
Sendo a leitura um processo de interação entre o leitor e o texto procurou-se
então satisfazer os objetivos propostos através das atividades acima descritas e
como resultado constatou-se um leitor construindo um significado para suas leituras,
pois ler exige a capacidade de desenvolvimento de habilidades inerentes à
compreensão e a interpretação de textos. Segundo Kleiman (1997), a
aprendizagem da leitura é um empreendimento de risco se não estiver
fundamentado numa concepção teórica firme sobre os aspectos cognitivos
envolvidos na compreensão do texto. Nas atividades de escrita os alunos foram
estimulados para a produção textual e aos poucos aceitaram o desafio, mostraram-
se seduzidos pela proposta apresentada e produziram seus contos, individuais ou
coletivos. Alguns encontraram dificuldades, mas mediados pelas professoras PDE e
regente da turma, diminuíram suas preocupações e expandiam sua criatividade de
modo dinâmico, demonstrando interesse pelo que estavam produzindo, sentindo-se
importantes, pois estavam descrevendo, na maioria dos casos, histórias que
afirmavam ter vivenciado. Para Vygotski (1989), o indivíduo aprende por meio da
interação sócio cultural que mantém com o objeto de conhecimento (escrita) e por
meio da relação com outras pessoas alfabetizadas.
De acordo com Klein (2003), o ensino da língua escrita tem por objetivo
produzir um falante/leitor/escritor competente. Isto é, objetiva tornar o aluno capaz
de se expressar oralmente e por escrito com clareza e objetividade, bem como ler e
interpretar com facilidade e profundidade.
As atividades de leitura e escrita foram acompanhadas da reescrita individual,
trabalho este que conduziu o aluno a refletir e analisar o processo da escrita.
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Neste sentido, Klein (2003) lembra que a correção do texto tem sempre um
duplo objetivo: por um lado, confirmar e consolidar os conhecimentos já dominados
e, por outro, identificar o erro e proceder ao esclarecimento de forma correta.
A aprendizagem aconteceu a partir da interação entre o aprendiz e o objeto
do conhecimento, dentro de um contexto com sentido e significado mostrando que
há diferentes formas e caminhos para o aprendizado. Levou-se os alunos a agirem
com flexibilidade, a acolher e compreender sua realidade cultural.
No desenvolvimento do trabalho, verificou-se que houve realmente uma
aprendizagem significativa, tanto daqueles que ensinaram quanto daqueles que
aprenderam. Os alunos passaram a apreciar a leitura de diversos livros e percebeu-
se mudanças em seu processo de formação.
3. CONCLUSÃO
A taxa de analfabetismo no Brasil é muito expressiva, como já salientado
anteriormente. Dados estatísticos nos dão uma importante visão do problema: quase
um terço da população encontra-se em baixos níveis de letramento, o que significa
que embora dominem as habilidades básicas da leitura e da escrita, não
demonstram capacidade de utilizá-las na produção de textos de modo que satisfaça
as exigências do aprendizado. Percebe-se então a necessidade de imergir nossos
educandos na cultura letrada.
Almejou-se então, neste trabalho, desenvolver ações voltadas para
oportunizar aos alunos situações de leitura e produção de textos, favorecendo a
utilização da língua escrita nas atividades em que se faz necessária, lendo e
produzindo textos.
Com esse trabalho obteve-se um bom desempenho em sala de aula, porém é
necessário salientar que não foi possível desenvolver de uma forma mais
aprofundada devido à questão do tempo. Salienta-se, portanto, a importância de
haver uma continuidade do mesmo na escola para que assim possa atingir um maior
número de alunos e professores e, com isso, alavancar a aprendizagem e
desenvolvimento daqueles que ensinam e que aprendem. Espera-se que este
projeto tenha incitado tal proposta.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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