O Principezinho - Reflexão

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8/19/2019 O Principezinho - Reflexão http://slidepdf.com/reader/full/o-principezinho-reflexao 1/4 O Principezinho. E eis que no fnal da leitura deste pequeno livro, fquei sem saber o que escrever sobre ele. O mesmo deixou-me em silêncio, roubou-me as palavras e entregou-me ao pensamento. Suspeito que muito já se escreveu e que pouco poderei escrever e acrescentar a tudo o que já oi escrito sobre esta ist!ria, e que este meu comentário vá ser somente mais um adorno que difculte o olar da alma pelo v"u do intelecto que porventura poderei estender.  # di$cil escrever sobre a bele%a, quando esta n&o se apresenta aos olos do nosso corpo, mas aos olos da nossa alma. '$ todas as palavras s&o como pequenos copos insufcientes para conter todo o oceano de imagens, sentimentos e emo()es que a alma experimenta e que quer transmitir. O *rincipe%ino acava a sua rosa bela porque a sua orma era bela. +as os olos do corpo, aqueles que ir&o morrer, apenas le ensinaram os turbil)es da paix&o, e essas correntes o aastaram do objecto desejado. onge da sua rosa, os olos da sua alma sobrepuseram-se aos olos do seu corpo e ele contemplou a verdadeira bele%a, nesse mesmo momento ele come(ou a amá-la. O pr!prio livro " como a rosa do *rincipe%ino. &o " na sua orma, cor, l$ngua, ou at" mesmo na ist!ria que vamos encontrar a sua bele%a, mas nas mensagens que transmite. 's palavras que o leitor lê, acabam por ser como os campos de trigo s&o para a raposa, e ent&o talve% possamos di%er sobre o texto, aquilo que a raposa disse sobre os campos de trigo, e assim, de uma orma semelante eu n&o possuo-o as palavras, mas estas ar-me- &o lembrar de verdades e pelo agitar destas pelo vento da mente eu, recordarei e amarei o camino do Ser. &o sei se uma crian(a consegue compreender este livro e o curioso " que todo ele está escrito como se osse para uma crian(a. +as, uma coisa posso garantir, o cora(&o de uma crian(a " capa% do entender e o cora(&o de uma crian(a at" mesmo um adulto o pode possuir. *rocurando esquecer a dor, irm& da paix&o, que sentia pela sua rosa, o *rincipe%ino inicia uma viagem. /ma viagem de uga que se tornou numa viagem de encontro. # desta orma que cega 0 1erra, o s"timo planeta que visita desde a sua partida do pequeno planeta que tina como morada. a infnidade de seres que podia ter encontrado, o primeiro com que estabelece contacto " uma serpente. O diálogo da serpente deixa transparecer sabedoria e mist"rio, ao ponto do principe%ino le perguntar “- Mas porque falas sempre por enigmas?” . *ergunto-me se a escola da serpente por parte do autor terá sido um acaso2 *ois vem-me 0 mente o qu&o semelante " a pergunta do principe%ino, com a pergunta que os ap!stolos f%eram a 3esus. 4omo

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O Principezinho.

E eis que no fnal da leitura deste pequeno livro, fquei sem saber o queescrever sobre ele. O mesmo deixou-me em silêncio, roubou-me as palavrase entregou-me ao pensamento.

Suspeito que muito já se escreveu e que pouco poderei escrever eacrescentar a tudo o que já oi escrito sobre esta ist!ria, e que este meucomentário vá ser somente mais um adorno que difculte o olar da almapelo v"u do intelecto que porventura poderei estender.

 # di$cil escrever sobre a bele%a, quando esta n&o se apresenta aos olos donosso corpo, mas aos olos da nossa alma. '$ todas as palavras s&o comopequenos copos insufcientes para conter todo o oceano de imagens,sentimentos e emo()es que a alma experimenta e que quer transmitir.

O *rincipe%ino acava a sua rosa bela porque a sua orma era bela. +as osolos do corpo, aqueles que ir&o morrer, apenas le ensinaram os turbil)esda paix&o, e essas correntes o aastaram do objecto desejado. onge da suarosa, os olos da sua alma sobrepuseram-se aos olos do seu corpo e elecontemplou a verdadeira bele%a, nesse mesmo momento ele come(ou aamá-la.

O pr!prio livro " como a rosa do *rincipe%ino. &o " na sua orma, cor,l$ngua, ou at" mesmo na ist!ria que vamos encontrar a sua bele%a, masnas mensagens que transmite. 's palavras que o leitor lê, acabam por sercomo os campos de trigo s&o para a raposa, e ent&o talve% possamos di%er

sobre o texto, aquilo que a raposa disse sobre os campos de trigo, e assim,de uma orma semelante eu n&o possuo-o as palavras, mas estas ar-me-&o lembrar de verdades e pelo agitar destas pelo vento da mente eu,recordarei e amarei o camino do Ser.

&o sei se uma crian(a consegue compreender este livro e o curioso " quetodo ele está escrito como se osse para uma crian(a. +as, uma coisa possogarantir, o cora(&o de uma crian(a " capa% do entender e o cora(&o de umacrian(a at" mesmo um adulto o pode possuir.

*rocurando esquecer a dor, irm& da paix&o, que sentia pela sua rosa, o*rincipe%ino inicia uma viagem. /ma viagem de uga que se tornou numaviagem de encontro. # desta orma que cega 0 1erra, o s"timo planeta quevisita desde a sua partida do pequeno planeta que tina como morada.

a infnidade de seres que podia ter encontrado, o primeiro com queestabelece contacto " uma serpente.

O diálogo da serpente deixa transparecer sabedoria e mist"rio, ao ponto doprincipe%ino le perguntar “- Mas porque falas sempre por enigmas?” .*ergunto-me se a escola da serpente por parte do autor terá sido um

acaso2 *ois vem-me 0 mente o qu&o semelante " a pergunta doprincipe%ino, com a pergunta que os ap!stolos f%eram a 3esus. 4omo

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consta na passagem do Evangelo de S&o +ateus “- Por que lhes falas por 

 parábolas?”   e a esta pergunta responde 3esus “"Porque a vós é dado a

conhecer os mistérios do eino dos céus! ao passo que a eles no é dado#

Pois $quele que tem! será dado! e estará na superabund%ncia& mas $quele

que no tem! mesmo o que tem ser-lhe-á tirado# 'is por que lhes falo em

 parábolas( porque eles olham sem ver e ouvem sem ouvir! nemcompreender#”  4om isto quer 3esus di%er que a verdade s! se revela a quemestá preparado para a receber.

' serpente parece assumir o papel de um ser sábio, um mestre, e esteencontro entre os dois lembra os contos das 'ntigas 1radi()es que di%emque sobre a 1erra andaram poderosas serpentes que instru$ram os 5omensnos mist"rios mais $ntimos do universo, na ciência, no governo de simesmos, etc. Estas serpentes, di% 6lavats78 9oram os primeiros iniciados e'deptos :5omens Sábios; que oram iniciados nos mist"rios da ature%a

pela mente universal representada pelos anjos mais elevados, oramcamados de :<rag)es; e tamb"m :Serpentes de Sabedoria; 9. a $ndiaestes 5omens oram camados de agas que " uma palavra s=nscrita quesignifca serpente.

'frma a serpente

“- )quele que eu toco! eu o devolvo $ terra de onde veio! continuou a

serpente# Mas tu és puro# *u vens de uma estrela###

+ principe,inho no respondeu#” 

<ando assim a entender que conece os mist"rios da morte e da eternidadedo Esp$rito.

 'S mesmas 1radi()es já no passado nos di%iam que o 5omem " um Esp$ritoenvolto pelo 4orpo, e que unindo o Esp$rito ao 4orpo existe a 'lma, umadelicada or(a que se pode arrastar aos inernos da paix&o ou elevar-se aodivino amor. Os gregos camavam o esp$rito por ous, o corpo por Soma e aalma por *sique e este duplo amor da alma, pelo superior e pelo inerior, oneoplat!nico *lotino camou de >enus /r=nia e >enus *andemosrespectivamente.

<i%-se que na ora da morte a 'lma separa-se do 4orpo e regressa 0 suacasa eterna, o Esp$rito. Somente o 4orpo se degrada, decomp)e,regressando 0 terra de onde veio, ou seja, 0 pr!pria terra.

:1u vens de uma estrela;, tu "s u%, um Esp$rito puro, por isso n&o podesmorrer, porque aquilo que " eterno, nunca poderá desaparecer.

Entre os 5omens, qualquer de um tamb"m se pode sentir s!, di% a serpente.4omo pode o omem iluminar o espa(o ao seu redor e ver o seusemelante se n&o descobriu ainda a candeia eterna que se encontra no

seu cora(&o2

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Escreveu +ario ?osso de una

“) folha da árvore no pode conhecer a outra folha vi,inha& mas se fosse

 possvel ela identi.car-se com a seiva que a fecunda! compreenderia muito

rapidamente que a dita seiva é a mesma que anima também a folha

companheira#” 

's @ltimas palavras deste conto prendam as nossas emo()es e despertemsentimentos capa%es de a%er verter uma lágrima. +as, aben(oadaslágrimas pois tal como di% o fl!soo Aail Bibran

"Podeis esquecer aquele com quem ristes! mas nunca aquele com quem

chorastes# /eve haver algo de estranhamente sagrado no sal! uma ve, que

ele está nas nossas lágrimas e no mar#"

o entanto, mesmo sendo menos emocionante que o fnal do conto,

tamb"m o encontro do *rincipe%ino com a raposa fcou fxado 0 minamente. 'qui a raposa ensina-le onde ele pode encontrar a verdadeiraessência das coisas. Esta está no interior e n&o no exterior de qualquer ser.E que quando se criam la(os entre as essências, nasce no cora(&o averdadeira ami%ade, que " um dos muitos nomes do sentimento de amor.Esta " a ami%ade flos!fca, resulta do conecer-se, de se conecer aquiloque " eterno e n&o se altera com o passar dos anos, da verdade. E f%reerência 0 ami%ade flos!fca pois *ilo Sopia " o amor 0 Sabedoria.Sabedoria n&o " intelecto, n&o " um mero acumular de inorma()es,sabedoria " aquilo que no oriente camam de 6udi, um estado de

ilumina(&o interior que permite ao omem ver atrav"s das mais densastrevas. Simultaneamente C um estado que une o amante ao objecto amado,aquilo que no ocidente os alquimistas camaram de casamento alqu$mico,em que a alma se une com o esp$rito, com a essência, e este " o mesmoque se encontra tanto no corpo do amante como no do amado, tal como aseiva das olas do exemplo atrás citado. <este ponto revela-se tamb"m olema que estava escrito na entrada do templo de <elos :4onece-te a timesmo, e conecerás os <euses e o universo.;

<a$ em diante pela or(a desse la(o, esse ser será @nico aos olos docora(&o. 1udo aquilo que antes era desprovido de sentido, adquire agora um

novo signifcado. 'gora o trigo, n&o " s! trigo, agora o trigo participa comos$mbolo na linguagem da alma, pois irá a%er recordar, ondulando com ovento, um atributo do ser amado, assim o dourado do trigo iria semprelembrar 0 raposa o cabelo dourado do principe%ino.

<i% a raposa que o rito " importante para alcan(ar este estado, algo que osomens já esqueceram ou ent&o negligenciam. 'rist!teles di%ia-nos que oomem " um ser potencialmente virtuoso, mas no entanto " s! pela práticada virtude que o omem passa do potencial ao concreto, ou seja, n&o se "virtuoso por conecer a virtude, mas pela vivência da mesma. <eixando de

praticar a virtude, o omem esquece, e aos poucos, tal como um bal&o

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esva%ia quando n&o se mant"m a press&o, assim, o omem esva%ia o seucora(&o de bem e elicidade, fcando so%ino e sem amigos.

:0ó se v1 o bem com o cora2o# + essencial é invisvel para os olhos#” 

Este " o segredo que a raposa nos deixou.