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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CHRISTIANE KAMINSKI O PAPEL DO TUTOR NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA CURITIBA 2012 CHRISTIANE KAMINSKI

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CHRISTIANE KAMINSKI

O PAPEL DO TUTOR NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA

CURITIBA2012

CHRISTIANE KAMINSKI

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O PAPEL DO TUTOR NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA

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Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Educação, na Linha de Pesquisa Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano, Universidade Federal do Paraná, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Profª. Drª. Tânia Stoltz

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CURITIBA2012

AGRADECIMENTOS

A Deus, força inigualável de vida, benção e proteção.

À Professora Doutora Tânia Stoltz, que me orientou com carinho, incentivos e paciência, contribuindo para a elaboração deste trabalho.

À Professora Doutora Onilza Borges Martins, por ter compartilhado deste sonho, por acreditar, junto comigo, que seria possível.

À Professora Doutora Lúcia Helena Possari, pelas valiosas contribuições acadêmicas e em especial pelo seu apoio neste trabalho.

À Professora Doutora Maria de Fátima Quintal de Freitas, por acreditar em cada aluno e incentivar e se emocionar com o crescimento de cada um de nós.

À Professora Doutora Valéria Luders, por sua colaboração e consideração por este trabalho.

À Professora Doutora Helga Loss, pela sua afetividade, emoção e acolhida nos diversos momentos desta trajetória.

Ao Professor Doutor Ricardo Antunes de Sá, por sua presença sábia, que com seus apontamentos contribuiu para o desenvolvimento desta pesquisa.

Às Professoras Doutoras Sônia Haracemiv e Verônica Branco, por seus exemplos de garra e dedicação à educação a distância.

Ao Professor Doutor Luciano Vitor Medeiros, por aceitar e participar desta pesquisa.

Ao Professor Doutor Americo Agostinho Rodrigues Walger, pela colaboração e contribuição que foram fundamentais para a realização deste trabalho.

Ao estimado pessoal da Secretaria da Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná: Cinthia, Patrícia e Sandra que caminharam juntos em todos os momentos.

Aos colegas da Pós-Graduação pela solidariedade e apoio: Marlene, Tammy, Liége, Luiz, Luciano e Camila.

Aos meus pais Maria Zilda e Renato e irmãos Dani e Júnior, por apoiar e incentivar esta realização.

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Ao meu querido e companheiro marido Vinícius, por todo amor e compreensão durante este tempo.

A minha amada filha Camila que com paciência (nem sempre) compreendeu minha falta de tempo para ela.

É impossível ensinar sem esta coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência.É impossível ensinar sem a capacidade forjada, inventada, bem cuidada de amar.É preciso

ousar, no sentido pleno desta palavra, para falar em amor sem temer ser chamado de piegas, de meloso, de a-científico, senão anti-científico. É preciso ousar para dizer, cientificamente e não bla-bla-blantemente, que

estudamos, aprendemos, ensinamos, conhecemos com o nosso corpo inteiro. Com os sentimentos, com as emoções, com os desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e também com a razão crítica. Jamais

com esta apenas. É preciso ousar para jamais dicotomizar o cognitivo do emocional. É preciso ousar para ficar ou permanecer ensinando ao risco de cair vencidos pelo cinismo. É preciso ousar, aprender a ousar, para

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dizer não à burocratização da mente a que nos expomos diariamente. É preciso ousar para continuar quando às vezes se pode deixar de fazê-lo, com vantagens materiais”

FREIRE

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo caracterizar o papel do tutor na educação a

distância em instituição pública, buscando contribuir para o redimensionamento

deste papel, por meio de entrevistas, observações e levantamento bibliográfico

especializado à luz da perspectiva histórico-cultural, em que Vygotsky compreende o

desenvolvimento do homem, a partir das interações sociais que estabelece em

determinada cultura. Os conceitos de mediação, processo de internalização, zona de

desenvolvimento proximal e o processo de produção de significações são

especialmente relevantes na discussão do objeto de estudo. A pesquisa orientou-se

a partir do método de identificação de núcleos de significação (Aguiar e Ozella,

2006), que procura compreender o importante referencial constituído pela unidade

contraditória do simbólico e do emocional, que se refere à distinção entre significado

e sentido. O levantamento de dados foi realizado por meio de entrevistas com 12

tutoras da educação a distância do curso de Pedagogia, atuantes em uma instituição

pública. Como resposta ao problema foram identificados três núcleos de

significação, que se articulam entre si: preparação para o exercício da tutoria, eu

tutor e a relação tutor-aluno. A análise dos núcleos de significação evidencia a

necessidade de novas discussões e reflexões, na busca da compreensão do papel

do tutor e do reconhecimento que efetivamente as instituições e os poderes públicos

devem aferir a este profissional altamente qualificado e que contribui imensamente

para a construção do conhecimento do aluno na modalidade da educação a

distância. A partir das participantes do estudo conclui-se que o tutor é um mediador

cognitivo e afetivo do conhecimento que tem a sua atividade pautada pela ampliação

do poder de autorregulação do aluno no que se refere à compreensão de sua

realidade a partir do conhecimento elaborado e da gestão de sua afetividade. Tal

consideração requer formação abrangente e continuada para o trabalho com o

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ensino a distância e que envolva o tutor em uma perspectiva integral, abrangendo a

indissociabilidade entre cognição e emoção dentro de determinada cultura. Neste

sentido, o referencial de Vygotsky apresenta-se como interessante possibilidade de

discussão do papel do tutor na educação a distância.

Palavras-chave: Educação a distância. Tutor. Núcleos de significação. Perspectiva

histórico-cultural.

ABSTRACT

The present study aims to characterize the role of the tutor in distance education at a

public institution, seeking to contribute to the scaling of this paper, through interviews,

observations and literature specializing in the light of historical-cultural perspective, in

which Vygotsky understands development of man, from establishing social

interactions in a given culture. The concepts of mediation, internalization process,

zone of proximal development and production of meanings are especially relevant in

the discussion of the subject matter. The research was guided by the method of

identifying clusters of meaning (Aguiar and Ozella, 2006), which seeks to understand

the important reference made by the contradictory unity of the symbolic and

emotional, which refers to the distinction between meaning and sense. The survey

was conducted through interviews with 12 tutors of distance education of the Faculty

of Education, acting in a public institution. In response to the problem identified three

clusters of meaning, which are linked together: preparing for the practice of

mentoring, I tutor and tutor-student relationship. The core analysis of meaning

highlights the need for further discussions and reflections, in the quest for

understanding the role of tutor and the recognition that effective institutions and

public authorities should decide on this highly qualified professional, which

contributes greatly to the construction of knowledge student in the form of distance

education. From the study participants concluded that the tutor is a mediator of

cognitive and affective knowledge that has guided its activities by expanding the

power of self-regulation of the student in relation to their understanding of reality from

the knowledge developed and management of their affection. This consideration

requires comprehensive training and continuing to work with distance learning and

involving the tutor in a comprehensive perspective, covering the inseparability of

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cognition and emotion within a particular culture. In this sense, the framework of

Vygotsky presents itself as an interesting opportunity to discuss the role of the tutor in

distance education.

Keywords: Distance Education. Tutor. Different meaning. Historical-cultural

perspective.

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LISTA DE SIGLAS

ABED - Associação Brasileira de Educação a Distância

ANATED - Associação Nacional dos Tutores da Educação a Distância

ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições

Federais de Ensino Superior

CIPEAD - Coordenadoria de Integração de Políticas de Educação a

Distância

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior

DED - Diretoria de Educação a Distância

EAD - Educação a Distância

EJA - Educação de Jovens e Adultos

ENADE - Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

IFETs - Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

ICFEs - Instituto Colombiano para el Fomento de la Educación Superior

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEB - Movimento de Educação de Base

MEC - Ministério da Educação

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

PDE - Plano de Desenvolvimento da Escola

PRONTEL - Programa Nacional de Teleducação

SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SESC - Serviço Social do Comércio

SINTED - Sistema Nacional de Televisão Educativa

SINRED - Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa

SEED - Secretaria de Estado de Educação

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TICs - Tecnologias da Informação e Comunicação

UFPR - Universidade Federal do Paraná

UNAD - Universidade Aberta e a Distância - Colômbia

UNED - Universidade Nacional de Educação a Distância - Espanha

ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................10

.1.1 JUSTIFICATIVA...................................................................................................10

1.2 O PROBLEMA..................................................................................................... 12

1.3 OBJETIVOS.........................................................................................................13

2. À GUISA DE INTRODUÇÃO.................................................................................15

2.1 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO CONTEXTO MUNDIAL E NO BRASIL..........15

2.2 ALGUMAS DAS EXPERIÊNCIAS COM PROGRAMAS E CURSOS A

DISTÂNCIA NO CONTEXTO MUNDIAL....................................................................18

2.3 O PERCURSO DA MODALIDADE A DISTÂNCIA: DOS PRIMEIROS PASSOS

A SUA REGULAMENTAÇÃO NO BRASIL...............................................................22

2. 4 A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ E A UNIVERSIDADE ABERTA

DO BRASIL ..............................................................................................................29

3. A TECNOLOGIA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DA

MODALIDADE A DISTÂNCIA...................................................................................37

4. O PAPEL DO TUTOR NA MODALIDADE A DISTÂNCIA....................................52

5. MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E A PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL.......69

6. METODOLOGIA....................................................................................................81

6.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA........................................................................81

6.2 CONTEXTO DO ESTUDO...................................................................................84

6.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO..........................................................................85

6.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA........................................................................85

6.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS....................................................87

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................91

7.1 CONSTITUINDO OS NÚCLEOS DE SIGNIFICAÇÃO DO(S) DISCURSO (S)

DOS TUTORES PRESENCIAIS E A DISTÂNCIA.....................................................91

7.2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO(S) DISCURSO(S) DOS TUTORES PRESENCIAIS

E A DISTÂNCIA ........................................................................................................93

7.3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO NÚCLEO: PREPARAÇÃO PARA O EXERCÍCIO

DA TUTORIA..............................................................................................................95

7.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO NÚCLEO: EU TUTOR........................................107

7.5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO NÚCLEO: A RELAÇÃO TUTOR-ALUNO.........119

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8.0 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PERCURSO REALIZADO.........................126

REFERÊNCIAS.......................................................................................................130

ANEXOS..................................................................................................................139

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1. INTRODUÇÃO

1.1 JUSTIFICATIVA

Quando escola/universidade não sabem ler o mundo ou mantêm estratégias ultrapassadas para lidar com o mundo, este lhes escapa, deixando para os alunos

a sensação de vazio para sempre. Nada ou quase nada aprendem, muito menos aprendem a aprender.

Pedro Demo

O mundo no qual vivemos aponta para a necessidade de habilidades e

qualificações em nível social, cultural e tecnológico cada vez mais exigentes. Diante

dessa demanda por conhecimento e emergente globalização da economia, da

cultura e das inovações tecnológicas, a sociedade contemporânea vive paradoxos

que podem se traduzir em inclusão e exclusão dos sujeitos.

Dessa maneira, esta pesquisa procura na proposta da educação a distância

como modalidade educacional, a possibilidade de proporcionar ao homem a garantia

de inclusão e de transformação de suas condições de vida por meio do

conhecimento elaborado, em que o papel da escola tem a função histórica de educar

seus cidadãos.

A educação a distância, considera Belloni (1999), emerge como uma nova

proposta que viabiliza mudanças paradigmáticas por meio da inserção de novas

tecnologias e estrutura didático-pedagógica distintas do modelo presencial de

educação, inserindo-se como uma modalidade de educação desafiadora, que exige

novos espaços de socialização e de qualificação dos envolvidos neste processo

educativo. Trata-se, portanto, de uma proposta de educação que exige novos

debates, novas ponderações para um novo caminho educacional, preocupado com a

organização e a interpretação de processos pedagógicos que possibilitem o

conhecimento e o desenvolvimento integral do indivíduo.

Para Martins (2005), essa modalidade possibilita condições de formação

educacional à população adulta, trabalhadora, que precisa estudar e que não possui

tempo e ou condições de se deslocar diariamente para os centros de educação

formal. Assim, essa modalidade educacional possibilita uma nova perspectiva de

ensino-aprendizagem, diferenciando-se da educação presencial, ao utilizar-se,

principalmente, das possibilidades tecnológicas, tempo e espaços diferenciados, que

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expandem os horizontes e permitem novas e diferentes formas de transmissão de

conteúdos e de interação entre professores e alunos; e é nesse cenário que se

apresenta o objeto de investigação desta pesquisa: o tutor.

A figura do tutor, segundo Martins (1991; 2005); Preti (2002; 2010); Catalina

(1988); Saraiva (2010) e Alonso (2005; 2009), se insere como um dos principais

protagonistas na educação a distância, enquanto categoria acadêmica que tem

como compromisso a formação de alunos capazes de se apropriar, refletir e elaborar

conhecimento.

Trabalhar o conhecimento no processo formativo do aluno à luz dessa

compreensão significa, segundo Martins (2005), dar concretude a uma das funções

básicas da tutoria: a de garantir condições para que o aluno seja o centro do

processo de aprendizagem.

Refletindo sobre essa consideração, esta pesquisa busca, na concepção

histórico-cultural de Vygostky, elementos que contribuam para compreender e

estabelecer novas relações sobre o papel do tutor; esse autor desenvolve sua

investigação a partir do pressuposto teórico, filosófico e metodológico do

materialismo histórico-dialético que se configura como um enfoque epistemológico

importante que oferece também, condições para o esboço de uma proposta que

permite ampliar a discussão sobre o papel do tutor na educação a distância. Essa

posição é tomada mediante o fato de que a concepção de educação em uma

perspectiva histórico-cultural é entendida como a possibilidade de desenvolvimento

de um sujeito ativo e crítico de sua história, que se realiza e se amplia na relação

com o outro.

Essa perspectiva pressupõe que o aprendizado e o desenvolvimento

humano ocorrem por meio de atividades mediadas por instrumentos físicos e

psicológicos. Aponta para uma concepção de educação que tem como objetivo o

desenvolvimento de um sujeito capaz de entender e de transformar conscientemente

o seu meio.

Nesse sentido, é necessário buscar na literatura e na análise do discurso dos

tutores elementos para o desvelamento das situações reais destes protagonistas

que possam sustentar uma compreensão crítica do papel do tutor na educação a

distância. Uma vez que estas poderão averiguar alguns dos aspectos e

particularidades apontadas pelos próprios tutores para o desenvolvimento e a

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articulação da práxis pedagógica deste profissional à luz de uma perspectiva que

compreenda o seu papel de mediador do conhecimento.

Para tanto, o papel do tutor deve se constituir, ele próprio, em uma prática

reflexiva que possibilite a compreensão de um conjunto de idéias, princípios e

valores que estruturam o processo pedagógico dessa modalidade.

Deste modo, se faz necessário caracterizar este tema acerca do papel do

tutor na educação a distância em instituição pública como uma necessidade e, de

certo modo, um desafio para o atual momento histórico na área da educação.

1.2 O PROBLEMA

A grande demanda educacional e a constante pressão das transformações

sociais, políticas e tecnológicas desencadeiam a necessidade de novas posturas

que promovam a democracia e a cidadania. E é nesta vertente que se insere a

educação a distância, tendo em vista a possibilidade de utilização intensiva das

tecnologias de informação e comunicação que, combinadas ao trabalho pedagógico,

demandam soluções práticas e inovadoras em relação à democratização do ensino.

A modalidade de educação a distância afirma-se no cenário nacional a partir

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96. A oficialização desta modalidade

permitiu a oferta de vários cursos nos diferentes níveis de ensino no Brasil,

possibilitando sua ampliação como modalidade de ensino. Para Preti (2002, p.64):

[...] não deve ser simplesmente confundida com o instrumental, com as tecnologias a que recorre. Deve ser compreendida como uma prática educativa situada e mediatizada, uma modalidade de se fazer educação, de se democratizar o conhecimento.

Nesse contexto, em que a expansão e as características próprias da

educação a distância demandam necessidades e questionamentos referentes às

implicações, possibilidades e práticas desta modalidade, faz-se necessário avançar

em pesquisas que propiciem a sua compreensão. Nesta pesquisa, o objeto de

investigação é o tutor.

Nesse sentido pergunta-se: qual é o papel do tutor na Educação a Distância

em instituição pública?

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Outras indagações estão postas no entorno da problemática acima citada e

se expressam pelos questionamentos:

- Para atuar como tutor faz-se necessário um conhecimento específico?

- Por que este papel surge na Educação a Distância?

- Há a necessidade deste profissional na educação a distância?

- Como o seu trabalho pode colaborar para a autonomia e criticidade do

estudante?

- O tutor, na modalidade a distância, é o mediador do conhecimento?

Em face destas questões e outras que certamente surgirão no decorrer desta

pesquisa, salienta-se que a Educação a Distância rompe diversas barreiras, entre

elas as pedagógicas, tecnológicas e geográficas, necessitando, portanto, de

pesquisas que permitam a superação de barreiras e a ampliação de possibilidades

para este formato arrojado de educação.

1.3 .OBJETIVOS

Caracterizar o papel do tutor na Educação a Distância em uma instituição

pública.

Contribuir para o redimensionamento do papel do tutor na educação a

distância, estabelecendo parâmetros que possam ser utilizados para apoiar

futuramente esses profissionais, e outras pesquisas.

Os objetivos específicos desta pesquisa são:

a) Realizar levantamento bibliográfico acerca da história da educação a distância no

Brasil e no mundo.

b) Reconhecer, na literatura especializada, o papel do tutor na modalidade de ensino

a distância, bem como as contribuições de uma abordagem histórico-cultural na

definição deste papel.

c) Realizar entrevistas com tutores de cursos de Pedagogia a distância sobre o

papel do tutor em instituição pública.

d) Observar a dinâmica do trabalho de tutoria realizada em instituição pública em

curso de Pedagogia de educação a distância.

e) Identificar, a partir das falas dos tutores, o papel do tutor no ensino a distância.

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Na modalidade a distância, o tutor tem um papel fundamental, pois, mediante

a sua didática e prática orientadora, vislumbra-se a possibilidade de garantir a inter-

relação personalizada e contínua do aluno no sistema, além de viabilizar a

articulação necessária entre os elementos do processo e consecução dos objetivos

previstos. Cada instituição que desenvolve o seu projeto político - pedagógico em

educação a distância constrói uma proposta tutorial própria visando o atendimento

às especificidades locais e regionais, incorporadas aos programas e cursos desta

modalidade.

A dinâmica desse profissional deverá, portanto, promover o conhecimento,

além de possibilitar a coesão social e a integração de todos. Espera-se, desse

profissional, o respeito ao aluno como sujeito ativo da construção do saber. De

acordo com Silva, (2005 p.54), “[...] é através de um processo pedagógico que

permita às pessoas se tornar conscientes do papel de controle e poder exercido

pelas instituições e pelas estruturas sociais que elas podem se tornar emancipadas

ou libertadas de seu poder e controle”.

Esta investigação, por meio de referenciais científicos à luz da perspectiva

histórico-cultural e da práxis pedagógica do tutor, pretende caracterizar o papel do

tutor contribuindo para os processos e os desafios que cercam esse profissional

como mediador do conhecimento. Stoltz (2010, p. 179), observa que “[...] para

mediar a sua relação com os outros e com o meio ambiente o ser humano se vale

de símbolos e instrumentos culturais, como, por exemplo, o discurso, o saber ler e

escrever, a linguagem matemática. Mais tarde, interiorizados, esses recursos

passam a mediar o conhecimento de si do próprio homem”.

Compreender essa relação, captar as contradições ao nível das práticas dos

sujeitos e apreender os significados dos discursos dos entrevistados, implicará em

um avanço teórico-reflexivo, que irá subsidiar as hipóteses que esta pesquisa irá se

propor.

A questão que se coloca nesta pesquisa, portanto, visa a fomentar o

surgimento e o fortalecimento de discussões que possibilitem caracterizar o papel do

tutor na educação a distância em instituição pública por meio de referenciais

científicos e da análise do discurso destes protagonistas.

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2. À GUISA DE INTRODUÇÃO

2.1 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO CONTEXTO MUNDIAL E NO BRASIL

Num mundo cada vez mais complexo e heterogêneo, a educação precisa dar passos mais acelerados e respostas mais coerentes, com novas formas de

desenvolver competências cognitivas, relacionais e éticas.José Manuel Moran

A modalidade a distância, diante das tendências políticas, educacionais,

sociais e tecnológicas do mundo, tem procurado contribuir com propostas que

correspondam às necessidades imperativas desses tempos de mudanças. Neste

sentido, buscam-se novas possibilidades que possam minimizar os desajustes

sociais e educacionais que se impõem, devido ao elitismo educacional e às relações

de poder existentes na sociedade.

As experiências com a educação a distância surgiram em decorrência da

necessidade de proporcionar um sistema educacional diferenciado aos variados

segmentos da sociedade que não se encontravam devidamente favorecidos pelo

sistema tradicional de ensino; e, por vezes, a educação a distância representa a

única oportunidade de estudos oferecida a adultos (não exclusivamente) engajados

na força de trabalho, em que o tempo e os afazeres do cotidiano acabam por afastá-

los da escola tradicional.

Pode-se, inicialmente, imaginar que a educação a distância é algo “novo”,

mas, ao contrário, esta modalidade de educação vem se construindo e se

desenvolvendo no decorrer de décadas, e principalmente nos dias de hoje, em

função do significativo desenvolvimento das tecnologias e dos meios de

comunicação.

Dessa maneira, é importante apresentar o percurso da educação a distância

iniciando pela Antiguidade. Martins (2005), e Araújo e Maltez (1997), descrevem um

prelúdio desta modalidade presente nas trocas de correspondência no cotidiano das

civilizações gregas e romanas, sendo que estas trocas viabilizavam uma rede de

comunicação, em que informações, orientações e instruções eram socializadas entre

as pessoas ou cidades geograficamente distantes. Acredita-se que esta seja uma

das primeiras formas de educação a distância, mesmo que realizada de maneira

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simplista: por meio de trocas de informação e comunicação, sem a necessidade do

encontro “frente a frente”.

Assim, a educação a distância inicia seu caminho ampliando a perspectiva de

comunicação, de troca e de conhecimento entre as pessoas, projetando uma nova

forma de educação. Nessa nova forma de educação, o tempo e o espaço passam a

ser percebidos de maneira diferenciada pelo homem, devido aos diversos

movimentos que se impõem em uma sociedade ávida em materializar e difundir as

informações, pensamentos e conhecimentos, desafiando os padrões tradicionais de

educação.

Para Araújo e Maltez (1997), essa forma alternativa de educação passa a se

desenvolver com maior avidez a partir do surgimento da imprensa no séc.XV, por

cujo meio ocorre a difusão da informação escrita, disseminando uma nova realidade,

decisiva para a evolução e o desenvolvimento da sociedade.

As condições e os objetivos do homem vão se modificando à medida que as

atividades humanas ficam mais complexas. A sociedade, os valores culturais e

econômicos se transformam em um movimento dinâmico que é histórico. A partir da

metade do século XVIII, o mundo passa a viver sob a égide do capitalismo e da

consolidação do modo de produção capitalista. Neste momento histórico, a

burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos e produção

acelerada, busca qualificar trabalhadores que deem conta dessa demanda.

É em meio a essa realidade capitalista que a educação a distância passa a se

estabelecer. Martins (2005). compartilha com Landim (1997), que a educação a

distância encontra no ano de 1728, um dos registros mais marcantes de sua história,

em que, por meio do anúncio de aulas por correspondência ministradas por Cauleb

Phillips (20 de Março de 1728), na Gazette de Boston, EUA, essa modalidade passa

a se estabelecer como uma nova oportunidade de qualificação para as pessoas que

necessitam de instrução.

[...] as primeiras iniciativas de ensinar determinados saberes sem a necessidade de haver o contato presencial entre o preceptor (professor) e o aprendiz (aluno). Por volta de 1728, a Gazeta de Boston (Estados Unidos) publicou um anúncio de autoria do professor Cauleb Phillips em que dizia:” Toda pessoa da região, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa várias lições semanalmente e ser perfeitamente instruída, como as pessoas que viviam em Boston.( SARAIVA, 1996 apud MARTINS, 2005, p.19).

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Os cursos a distância, de acordo com Alves (1994), são relatados também na

Grã-Bretanha e se realizavam por meio de aulas de taquigrafia por correspondência,

oferecidas por Issac Pitman. Nos Estados Unidos essa modalidade é relatada

novamente nos anos de 1884 e 1891, com a oferta de cursos de contabilidade e de

segurança de minas.

Já na metade do século XX destacam-se, de acordo com Landim (1997), as

Universidades da Grã-Bretanha, como Oxford e Cambridge, que oferecem cursos de

extensão nessa modalidade. Além das universidades americanas de Chicago e de

Wisconsin, das escolas alemãs (1924) e das australianas (1910), Moore e Kearsley

(1996), destacam, ainda, que o desenvolvimento dessa modalidade ocorreu graças

à confiabilidade e ao baixo custo dos serviços prestados pelos correios daquela

época, o que permitiu maior interação entre alunos e instrutores por meio da

correspondência.

Na década de 20, os cursos a distância passam a contar com uma nova

metodologia favorecida pela comunicação radiofônica, que possibilita, conforme

Martins (2005), a chegada de informações a comunidades distantes e o avanço

significativo dos cursos a distância em todo o mundo. Esses avanços, no decorrer

dos anos, se multiplicam tanto no que se refere à educação a distância, quanto ao

desenvolvimento tecnológico, permitindo a ampliação das possibilidades dessa

modalidade.

Ao longo do caminho percorrido pela modalidade a distância, chega-se à

década de 60. De acordo com Alves (1994), durante esse período os cursos a

distância vivenciam uma das melhores fases de sua trajetória, a qual é propiciada

pelo desenvolvimento tecnológico e pela promoção de várias ações nos campos da

educação secundária e superior. Essas ações são iniciadas na Europa (França e

Inglaterra) e se expandem para os demais continentes.

Dessa forma, percebe-se que a modalidade a distância vem avançando

visivelmente em todo o mundo, e se expandindo por meio das universidades,

instituições de nível superior e médio, e pós-graduação. E essa expansão contou,

sem dúvida, com os grandes avanços tecnológicos que se iniciaram com o rádio,

passaram pela televisão, até chegar ao computador e a possibilidade dos ambientes

virtuais.

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Por meio da contribuição da tecnologia, importante ferramenta de

comunicação e interação, a educação a distância passa a desenvolver importantes

trabalhos para o processo educacional de jovens e adultos. E é nesse cenário de

possibilidades que a modalidade a distância passa a se firmar como proposta

diferenciada de educação.

Nesse sentido, o próximo capítulo pretende descrever algumas das mais

importantes experiências acadêmicas em que a modalidade a distância esteve

envolvida. Tem-se, assim, como intenção, evidenciar o percurso da educação a

distância por meio dos diferentes programas e cursos desenvolvidos e que

contribuem para a democratização do saber e para o desenvolvimento da cidadania

de milhares de pessoas em todo o mundo.

2.2 ALGUMAS DAS EXPERIÊNCIAS COM PROGRAMAS E CURSOS A

DISTÂNCIA NO CONTEXTO MUNDIAL

Atualmente a modalidade a distância, de acordo com Martins (2005),

encontra-se difundida em mais de 80 países e nos cinco continentes. Atende em

diferentes níveis, em sistemas formais e não formais de educação, a milhares de

estudantes em todo o mundo. Esta realidade demonstra que a educação a distância

tem sido utilizada amplamente para promover oportunidades educacionais em todo o

mundo, “tanto no setor conservador como na perspectiva progressista, a educação

vem sendo considerada um poderoso instrumento de mudança social.” (CABANÃS,

2005 apud MARTINS, 2005, p. 09).

Essa demanda por uma educação diferenciada desafia e se impõe como uma

perspectiva que visa a enfrentar as contingências educacionais do presente e do

futuro em todo o mundo.

Dessa maneira, torna-se relevante fazer uma breve incursão nas diferentes

instituições de educação a distância para, em rápidas pinceladas, conhecer o

movimento da modalidade a distância que vem se desenvolvendo no mundo.

Nos Estados Unidos, segundo Peterson (1996), existem diversas instituições

de nível superior e médio reconhecidas e capacitadas em cursos e programas a

distância. Dentre estas, a Pennsylvania State University destaca-se por ofertar

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cursos por correspondência desde 1892. Além dessas, citam-se como

tradicionalmente ligadas à educação a distância, as universidades de Utah, desde

1916; de Ohio, desde 1924; Stanford, 1969, entre várias outras instituições

universitárias que mantêm cursos de graduação e pós-graduação de amplo

reconhecimento público.

Na Nova Zelândia, a modalidade a distância se desenvolveu desde 1922, por

meio de um sistema de ensino por correspondência, com o objetivo de oferecer

cursos para crianças (básico e fundamental) que não tinham acesso à escola, em

razão de dificuldades físicas e ou geográficas, ou que não residiam

permanentemente no país. A partir de 1946, com a criação da Open Polytechnic of

New Zealand, contou-se também com cursos profissionalizantes, de educação a

distância de nível médio e de educação continuada. Hoje, como na maioria dos

países, essa instituição conta com graduação e pós-graduação nas mais diferentes

áreas (UNESCO, 1992).

A República Popular da China conta com cursos a distância desde a década

de 50, com programas de graduação, pós-graduação e cursos técnicos. Esses

cursos, a princípio, eram realizados por meio de correspondências e,

posteriormente, por meio de materiais impressos e rádio; a partir da década de 60,

por televisão. Atualmente esse ensino inscreve anualmente 300 mil alunos e já

formou mais de 1,5 milhão de chineses, conforme Daniel (1998).

Uma das mais importantes referências mundiais, pioneiras dessa proposta

educacional, destaca Martins (2005) e Preti (2010), é a universidade do Reino

Unido, a Open University, criada em 1969, que oferta cursos a distância desde o ano

de 1971 (graduação e pós-graduação). Atualmente, essa instituição conta com mais

de 200 mil alunos que utilizam a educação a distância como oportunidade de aliar

trabalho e estudo, permitindo a esses estudantes estudar em sua própria residência

e trabalho, através das ferramentas tecnológicas disponíveis (televisão, computador,

internet, entre outros) e do material didático especialmente desenvolvido para esse

sistema de ensino.

Outras experiências importantes são as realizadas por instituições não-

governamentais que possuem parceria com o Instituto de Educação da Universidade

de Londres, que são responsáveis pelo programa de mestrado e doutorado em

educação a distância e que também oferecem cursos de curta duração voltados a

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alunos de países em desenvolvimento. Neste caso, da inserção da educação a

distância em países com desfavoráveis condições sociais e econômicas, a maior

preocupação está em desenvolver metodologias e sistemas de fácil acesso e baixo

custo que possam promover o acesso ao conhecimento elaborado, o

desenvolvimento de diferentes capacidades e a melhoria das condições de vida

destes estudantes.

Uma das experiências de educação a distância com resultados expressivos,

foi o projeto-piloto da Universidade de Délhi, Índia, em 1962 -1970, em que muitas

universidades daquele país se envolveram na experiência e implantação dessa

modalidade de ensino. A partir do sucesso da implantação desse sistema de ensino

no país, outras universidades convencionais passaram a desenvolver programas de

educação a distância em seus departamentos, principalmente no que tange à área

de pós-graduação. Nesta fase de constatação da qualidade do sistema de ensino,

cria-se a primeira universidade a distância da Índia – a Andhira Pradesh Open

University (1982). Hoje a Índia conta com mais de 38 universidades convencionais

que mantêm programas de educação a distância e outras dezenas de universidades

a distância que oferecem diferentes cursos para uma das maiores populações do

mundo (Souza,1996).

O antigo centro da União Soviética, hoje Rússia, segundo Menezes (1998),

dispõe da educação a distância desde a década de 30 como um instrumento que

permite a oportunidade de educação a milhares de pessoas. Esse país, que passou

e ainda passa por mudanças e ajustes em seu contexto político e econômico,

utilizou-se dessa modalidade desde a intenção de capacitação de trabalhadores do

campo, até a formação em nível de graduação e pós-graduação no auge do

socialismo.

Nos novos tempos da Rússia, com a abertura política, social e econômica, a

educação a distância mantém seu caráter de destaque no processo de reconstrução

do país, diante da versatilidade do modelo capaz de encurtar distâncias e chegar

aos mais diferentes e remotos lugares ao mesmo tempo.

Nos anos 80, a educação a distância conta com a criação da Universidade

Aberta de Portugal, criada em 1988, e reconhecida em 1994. Essa universidade

oferece cursos de bacharelado em história, língua portuguesa, gestão, matemática

aplicada, estudos europeus, ciências sociais, literatura, além de licenciaturas nessas

mesmas áreas e em informática, como também cursos qualificadores para o

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trabalho (não-formal). Além de um programa de pós graduação, que oferta diversos

cursos de mestrado em diferentes áreas como administração, educação,

comunicação, entre outros.

A Espanha é um dos maiores centros de estudo e de programas de educação

a distância, segundo Arétio (1996), sendo a UNED – Universidade Nacional de

Educação a Distância, reconhecida como qualquer outra universidade presencial

daquele país, ou seja, seus cursos são respeitados e constituídos com a mesma

credibilidade e qualidade que qualquer universidade presencial.

A UNED conta com mais de 150 mil alunos e, ao lado da qualidade de seus

cursos, esse formato de ensino permite a redução dos custos em 41 por cento, se

comparado ao modelo de ensino presencial, além de possibilitar aos alunos uma

flexibilidade de horários de aula e de estudo, oportunizando-lhes continuarem com

suas atividades profissionais. Mais de 83 por cento dos alunos dessa instituição são

trabalhadores.

Por meio dessa breve exposição da trajetória de algumas instituições que

desenvolvem trabalhos com a educação a distância, percebe-se que essa

modalidade está em constante construção e se insere nos diferentes países como

uma oportunidade de educação voltada à diminuição do impacto das desigualdades

sociais e educacionais, destacando-se na busca por uma educação de qualidade,

igualitária e capaz de superar grandes distâncias.

Estamos vivendo transformações multidimensionais na educação. Como

assinala Castells (1999, p. 24), “há uma reorganização do tempo e da formação de

uma nova cultura”, e acreditar nesse fenômeno educativo, no seu percurso e na sua

proposta poderá constituir-se em uma nova fase que beneficie a democratização do

saber e o acesso aos bens materiais e culturais acumulados pela humanidade.

Considera-se a educação a distância, portanto, como uma proposta que pode

vir a atender a emergência do acesso a uma educação igualitária e de qualidade; no

Brasil, essa proposta de educação também se faz presente. Assim, conhecer o

percurso da educação a distância no Brasil (de onde vem e para onde vai) é uma

necessidade que se impõe como complemento às reflexões que cercam esta

pesquisa. Buscam-se, assim, por meio da trajetória da educação a distância no

Brasil, importantes conhecimentos que delimitem tanto a história dessa modalidade,

quanto a importância do papel do tutor.

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2.3 O PERCURSO DA MODALIDADE A DISTÂNCIA: DOS PRIMEIROS PASSOS A

SUA REGULAMENTAÇÃO NO BRASIL

Muitos pesquisadores procuram delimitar o marco histórico da educação a

distância no Brasil; entre esses estão Martins (2005), Alves (2009), Preti (2010),

Sousa (1996), e Menezes (1998), que destacam como uma das primeiras iniciativas

desta modalidade no Brasil, a oferta de cursos de profissionalização por

correspondência (datilógrafo) na seção de classificados, no Jornal do Brasil, Rio de

Janeiro, no ano de 1900, apesar de também apontarem para o fato de que inexistem

registros precisos da primeira iniciativa desta modalidade no Brasil.

Demonstra-se, no entanto, que a iniciativa de intercambiar informações e

instrução para a melhoria da educação brasileira é uma proposta que se consolida

há bastante tempo no Brasil. Essas primeiras iniciativas de educação a distância, de

acordo com Martins (2005), caracterizavam-se apenas por propostas de instrução

ministradas por professores particulares.

De acordo com Alves (2010), só a partir do ano de 1904 é que se passa a

contar no Brasil com uma unidade de ensino oficial, que oferece cursos por

correspondência, voltado para a formação de mão de obra nos setores de comércio

e serviço: as “Escolas Internacionais”. Essas “Escolas Internacionais”, segundo

Moran (2009), imitavam os modelos de educação a distância de outros países e

ainda não desenvolviam projetos e programas que imprimissem a realidade e a

necessidade brasileira.

Para Menezes (1998), o ano de 1923 marca uma nova era no processo da

educação a distância no Brasil, com o projeto privado da Rádio Sociedade do Rio de

Janeiro, uma das primeiras e reais iniciativas nacionais de educação a distância,

idealizada pelo movimento de cientistas e intelectuais brasileiros, em que a proposta

era a de promover a educação e divulgar a ciência e a cultura nas diferentes regiões

do país.

Essa instituição, no entanto, teve abreviada sua iniciativa privada de

educação popular, tendo em vista a turbulência política vivida na década de 30

(Golpe Militar), em que, de acordo com Menezes (1998), os programas transmitidos

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pela rádio traziam muitas preocupações para os governantes da época, que

passaram a instaurar inúmeras sanções e a acreditar que seus programas

educativos eram subversivos. Dessa maneira, no ano de 1936, a Rádio Sociedade

do Rio de Janeiro, passa das mãos de seus idealizadores para as mãos do então

Governo Militar que determina que a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro passa a se

chamar: Rádio Ministério de Educação, hoje Rádio MEC.

Não obstante esta ação, Alonso (1996), destaca que, independentemente das

sanções que foram estabelecidas pelo Regime Militar aos programas educativos

transmitidos via rádio, esse processo educativo transformou e promoveu um formato

diferenciado de instrução e educação nas mais diferentes e longínquas regiões do

Brasil; assim pode-se considerar a rádio como o segundo meio de transmissão do

saber, apenas atrás da correspondência no que tange ao percurso da educação a

distância.

No ano de 1939, depois da repercussão dos programas educativos

transmitidos via rádio, dá-se destaque, segundo Alves (2010), a uma das primeiras

escolas pioneiras em desenvolvimento de projetos de educação a distância: o

Instituto Monitor, escola esta voltada inicialmente para o ramo da eletrônica.

Esta escola destaca Alves (2010), se estabelecia na ação de poder colaborar

com o crescimento do Brasil, em que por meio de uma idéia aparentemente simples,

nasce um dos primeiros cursos a distância: composto por algumas apostilas e um

kit, e onde ao final do curso seria possível construir um modesto rádio caseiro. É

ainda importante acrescentar que essa escola desenvolveu uma metodologia própria

para o acompanhamento dos alunos, por meio de correspondências, e inclusive, da

correção das tarefas encaminhadas aos alunos como forma de medir o

aproveitamento no curso.

A trajetória dessa escola segundo Alves (2010), remete a mais de 5 milhões

de alunos que já estiveram matriculados e hoje são mais de 30 mil alunos

espalhados em todo o Brasil, aprendendo uma nova profissão. Este Instituto é uma

das grandes referências em educação no Brasil, sendo reconhecido como uma

importante escola em todas as linhas: educação básica, passando pelo nível médio,

incluindo-se os cursos técnicos, o EJA, o superior e educação continuada, tanto no

formato presencial quanto, e principalmente, no formato a distância que sempre foi o

destaque principal da instituição.

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Com a possibilidade promissora dessa modalidade, surgem no Brasil, na

década de 40, novos programas privados de educação e, conforme aponta Pinto

(1997), entre essas instituições destacam-se o Instituto Monitor e o Instituto

Universal Brasileiro com métodos bastante semelhantes de iniciação profissional em

áreas técnicas e sem a exigência de escolaridade anterior. Estes cursos são

endereçados a pessoas que, por diferentes motivos, não puderam ou não podem

frequentar escolas regulares.

Entre os cursos ofertados pelas instituições merecem destaque os cursos

profissionalizantes de corte e costura, mestre de obras, eletrônica rádio e tv,

cabeleireiro, dentre outros, e também cursos técnicos de transações imobiliárias,

gestão comercial, secretario(a) e secretario(a) escolar) e o supletivo oficial.

É importante, destacar que a trajetória da educação a distância no Brasil,

tanto no que tange aos programas privados, quantos aos programas marcados pela

austeridade do Regime Militar se desenvolveram e procuraram romper com o ciclo

de desigualdades sociais, econômicas e educacionais contribuindo, assim para o

progresso de toda uma sociedade.

Desde sua origem, a Educação a Distância teve como premissa a democratização e facilitação do acesso à escola. Não foi criada para complementar o sistema regular, tampouco para funcionar como um sistema provisório e, sim, como sistema fundado na Educação Permanente, para atender à demanda que a sociedade impõe hoje, como forma de superação dos problemas relativos ao desenvolvimento econômico e tecnológico vivenciados atualmente (MARTINS, 2005, p. 21).

Nesse caminho de prosperidade e desenvolvimento da modalidade a

distância por meio da educação como proposta de democratização e de condições

de representatividade das classes trabalhadoras e empresariais, cria-se, no Brasil,

ainda na década de 40, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e,

logo em seguida, o Serviço Social do Comércio (Sesc).

Essas entidades, de acordo com Preti (1996), promoveram e promovem um

dos maiores sistemas de desenvolvimento social de todo o mundo, em que por meio

de programas educacionais permitem a formação e a capacitação de trabalhadores

em todo o território nacional.

De acordo com Alves (2010), essas instituições oferecem programas

alternativos de capacitação que procuram atingir uma clientela sem condições de

frequentar cursos em horários e locais fixos. Esse sistema de educação do Senac

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em parceria com o Sesc, oferece, além dos cursos de formação profissional, cursos

de instrumentação/suplementação do ensino regular e de assuntos relacionados à

qualidade de vida dos cidadãos.

O Sesc e o Senac segundo Alves (2010), continuam a se destacar como

importantes instituições que promovem a educação e a capacitação dos

trabalhadores, possibilitando debates sobre temas ligados a educação, trabalho,

inclusão social, saúde, meio ambiente, a capacitação dos docentes e ainda,

ofertando cursos de pós-graduação lato sensu a distância (credenciado pelo MEC).

Diante dessas promissoras experiências que demonstram que a educação a

distância se firma como uma importante proposta de democratização do saber,

destaca-se, no final da década de 50, uma das mais importantes iniciativas de

expansão da educação a distância no Brasil: o Movimento de Educação de Base-

MEB.

O MEB é considerado um dos maiores projetos de alfabetização para jovens

e adultos de classes populares, inspirado nos pressupostos de Paulo Freire e na

perspectiva da metodologia do ver, julgar e agir; Martins (2010), destaca que esse

movimento surgiu para amparar as classes mais populares, procurando criar

condições de conscientização de cidadania e de participação social que

colaborassem para a construção de uma sociedade justa e ética.

Em 1956, surgiu o MEB (Movimento de Educação de Base), considerado uma das maiores propostas de Educação a Distância não formal desenvolvidas em nosso país, tinha como pressuposto básico a alfabetização de jovens e adultos das classes populares por meio do rádio. Esse projeto político-pedagógico atingiu as regiões Norte e Nordeste do país. Em 1964, o Golpe Militar extinguiu o programa (MARTINS, 2005, p. 21).

Nessa época, apesar do cerceamento imposto pelo governo para as

transmissões de programas educativos, surgem, de acordo com Pinto (1997), as

mais variadas emissoras educativas. Emissoras que não obedeciam a nenhum

planejamento que decorresse de uma política setorial de governo e que tinham

como fundamento de sua existência, a tenacidade de idealistas, idéias particulares,

e poucos objetivos explicitamente definidos.

Os anos se passam e diferentes programas de educação a distância são

criados, mas percebe-se na história desta modalidade “[...] a existência de alguns

momentos de estagnação provocados por ausência de políticas públicas para o

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setor” (ALVES, 2010, p.09). Na tentativa de ampliar e organizar esse modelo de

educação, o governo militar da década de 70 procura regulamentar as atividades do

setor, e cria o Programa Nacional de Teleducação - Prontel.

Esse programa, o Prontel, apesar de inúmeras tentativas de coalisão com as

diferentes emissoras, segundo Alves (2010), não atinge seus objetivos, sendo

extinto em 1979 e substituído pela então Secretaria de Aplicações Tecnológicas –

SEAT; secretaria que, sabedora das dificuldades encontradas pela sua antecessora,

busca alternativas para a organização das emissoras; após várias reuniões, cria-se

o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa, o SINTED.

O SINTED, foi criado informalmente em 1979, e somente em 1982 obteve o

respaldo legal, por meio da Portaria MEC/MINICOM nº. 162. Em 1983, com a

inclusão das emissoras de rádio educativo, o Sistema passou a denominar-se

Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa – SINRED e foi regulamentado pela

Portaria MEC nº. 344, e hoje está vinculada à Rádio MEC.

O SINRED teria como objetivo. segundo Pinto (1997), permitir que todas as

emissoras educativas veiculassem uma programação constituída por programas

produzidos por todas as integrantes, diferentemente do que ocorria com as redes

comerciais que se limitavam a retransmitir a programação das cabeças-de-rede. As

programações veiculadas concentravam-se na veiculação de programas didáticos

destinados ao Ensino de 5ª. a 8ª. séries do 1º. Grau e ao Ensino de 1ª. a 4ª. séries

do 1º. Grau. Além de programas pioneiros na produção e veiculação de materiais

didáticos voltados para o Ensino Supletivo, produziu também o Curso de Madureza

Ginasial (1969). Em 1978, produziu-se e veiculou-se o Telecurso de 2º. Grau que,

posteriormente, viria a receber a parceria da Fundação Roberto Marinho.

No ano de 1973 veiculou-se a primeira novela pedagógica, idealizada pelo

Prof. Gilson Amado, destinada ao Ensino de 1º. Grau e denominada “João da Silva”;

foi, inicialmente, veiculada pelas emissoras comerciais TV Globo e TV Rio.

Dessa maneira é importante ressaltar o grande trabalho de unificação do

SINRED, de acordo com Martins (2005), que conseguiu cumprir o seu papel

aglutinador dos sistemas de teleducação, provocando um crescimento enorme no

número de retransmissoras existentes até aquele momento.

Essas retransmissoras conhecidas como retransmissoras mistas, após a sua

grande expansão, passaram a autodenominar-se de TVs Comunitárias, modelos que

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já existiam em diferentes países do Ocidente, mas com outra denominação, “TV

Pública”, “TV Alternativa”, “TV de Quarteirão” ou “TV de Baixa Potência (Low Power

Television)”.

Esses modelos de TV, segundo Peruzzo (2009), refletiam a iniciativa de

grupos ou de comunidades que, utilizando-se do acesso à tecnologia de baixo custo,

reagiam contra as formas de controle social decorrentes do aparato estatal

centralizado, ou então, das grandes empresas de comunicações, privadas ou

públicas. Em ambos os casos tornaram-se marcas que, muito embora a moderna

tecnologia de televisão tivesse efeitos concentradores, a TV Comunitária colocava à

disposição do público recursos que tinham um sentido contrário, com efeitos de

cidadania e democratização.

No Brasil, ainda de acordo com Peruzzo (2009), esse sistema de

retransmissão voltado para a construção de cidadania e educação, acabou sendo

desperdiçado. E devido a uma legislação falha, esses programas ficaram sob a

direção de políticos e grandes empresários, perdendo, assim, o caráter de

programação comunitária.

A programação dessas emissoras passa a ter então não apenas um caráter

educativo, mas a transmitir programas jornalísticos, culturais e de entretenimento,

apesar de todos esses programas, de acordo com Alves (2010), terem ainda como

fio condutor a educação.

Não obstante, de acordo com Pinto (2007), a veiculação de programas

didáticos passa a ser feita, com sucesso, em circuito fechado, como ocorre com a

“TV Escola”, programação sob a responsabilidade do Ministério da Educação.

Apesar de todo o avanço ocorrido nos últimos anos no que se refere à

educação a distância, essa modalidade ainda não contava com um marco que lhe

imprimisse legitimidade, sendo que a regulamentação só ocorre por meio da

promulgação da LDB 9394 de 20 de Dezembro de 1996 que, em seu artigo 80,

refere-se à modalidade a distância e ao papel do Poder Público, nesses termos: “O

Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino

a distância em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada”.

Diante da nova oportunidade, agora regulamentada por lei, a modalidade a

distância, de acordo com Alves (2010), passa a ter a garantia de espaço e

importância no sistema educacional, em todos os níveis e modalidades de ensino e,

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por meio deste dispositivo, a educação a distância dá um grande salto para sua

consolidação.

Porém, Belloni (2002), destaca que, ao nos aprofundarmos melhor no que se

refere a análise do dispositivo que regulamenta a educação a distância, percebe-se

que há uma série de pontos inseridos na legislação que são descumpridos. Além da

ausência de regulamentação complementar e da pouca clareza de suas linhas, ora

de forma implícita e/ou nas entrelinhas da regulamentação; ora de forma disfarçada

ou obtusa, em que o entendimento da lei não é claro, e dá margem a muitas

especulações.

A tendência então, se por um lado a educação a distância dá um salto, por

outro este sistema continua a se deparar com entraves políticos que suscitam a

desconfiança da sociedade e, portanto, necessitam de revisão e reflexão. Pois,

apesar de a educação a distância estar sempre a serviço da cidadania e da

qualificação do trabalhador, para essa modalidade urgem regulamentações dignas

de sua magnitude.

Justamente, refletindo sobre a importância dessa modalidade para a

educação brasileira e da falta de dispositivos legais que garantam a qualidade dos

cursos a distância, é que o Ministério da Educação – MEC, em 1999, passa a

organizar um documento que não possui força de lei, mas que pretende dar

excelência aos cursos de educação a distância, imprimindo, assim, uma nova

organização à modalidade.

Este documento tem como preocupação central, segundo Alves (2010),

apresentar um conjunto de definições e conceitos que garantam a qualidade nos

processos de educação a distância, como um norteador para embasar os atos legais

do poder público nos processos específicos de regulação, supervisão e avaliação da

modalidade a distância.

Esses referenciais, de acordo com Blois (2004), apresentam considerações

que subsidiam a organização das múltiplas linguagens e recursos educacionais e

tecnológicos da modalidade e cujas orientações possuem função indutora, não só

em termos da própria concepção teórico-metodológica da educação a distância, mas

também de sua organização.

O Ministério da Educação estabeleceu Referenciais de Qualidade de EAD para a autorização de cursos de graduação a distância, buscando assegurar que as instituições trabalhem, continuamente, visando a melhorias na

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criação, aperfeiçoamento e divulgação de conhecimentos culturais, científicos, tecnológicos e profissionais, que contribuam para superar os problemas regionais, nacionais e internacionais e para o desenvolvimento sustentável dos seres humanos, sem exclusões, nas comunidades e ambientes em que vivem. E mais, objetiva orientar aos atores envolvidos - alunos, professores, técnicos e gestores de instituições de ensino superior – para que venham a usufruir de seus benefícios e empenhar-se por maior qualidade em seus processos e produtos (BLOIS, 2004, p. 106).

Muito embora os Referenciais de Qualidade, ainda sejam específicos e

apenas orientadores para a educação superior, eles são um importante instrumento

de cooperação e integração, que preconiza a padronização de normas e

procedimentos nacionais que servem de base para a reflexão e a elaboração de

referenciais específicos para os demais níveis educacionais que podem ser

ofertados a distância.

Esse documento, segundo Blois (2004), procura tomar como premissa, a

possibilidade da compreensão de “educação” como fundamental, antes de se pensar

no modo de organização “a distância”, que deve ser entendido como um processo

específico, diante das diferentes possibilidades pedagógicas, tecnológicas, de

informação e comunicação que esse sistema possibilita.

Diante dessa breve “síntese histórica” procurou-se demonstrar que o percurso

da modalidade a distância, desde as suas primeiras iniciativas por correspondência,

da era do rádio, dos programas de teleducação, da regulamentação por meio da

LDB 9394/96 e dos referenciais de qualidade para a educação superior a distância

no Brasil, permitiu o progresso dessa importante modalidade educacional em nosso

país.

A educação a distância se consolida hoje no cenário educacional brasileiro e

se apresenta como uma possibilidade de democratização do saber. E nesse cenário

se apresenta uma das primeiras universidades a acreditar na contribuição dessa

modalidade: a Universidade Federal do Paraná. Devido a essa e a tantas outras

experiências de sucesso com a educação a distância, cria-se um movimento que

culmina na formação da Universidade Aberta do Brasil, cuja proposta se volta ao

resgate de uma enorme dívida social referente à educação, acumulada durante

séculos no Brasil.

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2.4 A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ E A UNIVERSIDADE ABERTA DO

BRASIL

Diante da possibilidade e do desenvolvimento da modalidade educacional a

distância no Brasil, destacam-se as articulações e propostas da Universidade

Federal do Paraná – UFPR, como uma das pioneiras da educação a distância,

preocupada em estudar, promover e estabelecer condições para “[...] a discussão

sobre o papel que cabe às Universidades desempenhar frente aos desafios

culturais, sociais, políticos e econômicos interpostos pela ordem mundial (MARTINS,

1999, p. 07)”.

Essa modalidade surge na Universidade Federal do Paraná em meados da

década de 80 e, de acordo com Miranda (2003), a preocupação inicial da instituição

não se baseava apenas na implemetação de um novo sistema de dar aulas ou

transmitir conteúdos, mas primeiramente teria um caráter investigativo, procurando

compreender e delimitar os diferentes processos que se estabeleciam naquela

inovadora modalidade educacional e que contou com alguns dos importantes nomes

da universidade para a proposta de implantação de educação a distância na UFPR;

entre eles destacam-se os Profs. Dra. Onilza Borges Martins, Dra. Ymiracy

Nascimento de Souza Polak, Dr. João Carlos da Cunha, Dr. Ricardo Antunes de Sá,

Dra. Verônica Azedo Mazza, Dr. Sérgio Scheer, Dra. Graciela I. B. Muniz, Dr. Remy

Lessnau.

O movimento da mentalidade que punha a educação como uma das condições de superação do desenvolvimento nos anos 70, teve, como não poderia deixar de ser, grande repercussão no meio acadêmico brasileiro. A educação, neste caso, representava a grande esperança que haveria de “resgatar”(era essa a palavra-chave repetida em todos os meios qualquer que fosse o tema de discussão!!!) e retirar o país do subdesenvolvimento em que se encontrava atolado. Na Universidade Federal do Paraná essa repercussão tem lugar sobretudo na criação de uma área de concentração com o nome de “Recursos Humanos e Educação Permanente” em 1983 no Programa de Pós-Graduação em Educação, o que proporcionou ampliar o terreno de discussão para um sem-número de áreas de ensino mediante os trabalhos de no mínimo 79 dissertações orientadas pelos professores do Programa ( MIRANDA, 2003, p. 142).

O espírito que motivou o movimento na UFPR na década de 80, e que

amadureceu no decorrer dos anos, por meio das discussões e investigações dos

profissionais envolvidos na modalidade a distância da instituição, desencadeou uma

das primeiras obras sobre educação a distância, de autoria da pioneira e referência

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nacional em educação a distância, Profª Drª Onilza Borges Martins, do Setor de

Educação da UFPR: “A educação superior a distância e a democratização do saber”,

da editora Vozes, 1991. Esta obra procurou mobilizar os centros universitários

brasileiros sobre a relevância dessa modalidade para a democratização do ensino

em nosso país.

A discussão amadurecera como educação permanente, a ser levada ao conhecimento dos acadêmicos e dos professores como uma forma de saída para a situação da fase de subdesenvolvimento. Essa discussão pode ser condensada de uma maneira abrangente em duas obras de professoras que a abriam após a estadia em centros universitários europeus. A primeira delas, A educação superior à distância e a democratização do saber, a qual se propunha difundir os diferentes meios pelos quais o Movimento Nacional de Formação do Educador continuou mobilizando todos os profissionais do ensino formal, no sentido de fazer avançar o processo de democratização do saber em favor das classes menos favorecidas perante a retroação progressiva no processo da democratização do ensino. Consciente de que ‘instituições tais como a Universidade de Brasília e outros órgãos de nível estatal dispunham de projetos e experiências empenhados na educação superior aberta à distância’, a autora Onilza Borges Martins diz que ‘vários outros fatores tais como a carência de professores competentes para o exercício do magistério no ensino fundamental e médio (1º. e 2º. graus), a atualização desses professores, a dificuldade de cursos presenciais acenam à Universidade, instituição formal com acesso aos bens culturais, uma ação cultural a qual sem privilegiar uma clientela de elite seja exercida em sentido amplo com vistas à transformação social de toda a comunidade. Desta maneira, o acesso ao ensino a distância apresenta-se como uma situação concreta para toda a situação brasileira que independente de sexo, raça ou classe, por razões sociais e econômicas não teve oportunidade de se apropriar do conhecimento e das informações necessárias ao processo de progressão humana e social’ ( MIRANDA, 2003, p. 142-143).

Essas preocupações embasam e motivam muitas instituições, no que diz

respeito a assumir propostas a distância, pois essa modalidade tem sido

apresentada como uma proposta de atendimento a uma grande quantidade de

alunos, de maneira mais efetiva que as outras modalidades, e que permite o criar e

o recriar um outro modo de ensinar e aprender, em que a aprendizagem se impõe

fora dos parâmetros convencionais de uma sala de aula em que o professor ministra

o saber.

Para Lima (2004), esse processo não reduz a qualidade do ensino; pelo

contrário, estimula o conhecimento mais aprimorado, uma vez que o processo

sistemático de educação se cumpre pela pesquisa e por sua reelaboração. Mesmo

assim, a educação a distância ainda é permeada por muito descrédito, tanto no que

tange a sua eficiência, quanto a ser considerada uma modalidade de segundo nível.

Segundo Moran (2002), a educação a distância passa por inúmeras 32

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transformações e esta realidade à margem dos padrões tradicionais vai sendo,

aos poucos, transformada. Transformações que não são uniformes e nem

rápidas, mas contínuas e das quais não se pode mais retornar.

Dessa maneira, de acordo com SÁ (2007), a UFPR passa, no decorrer dos

anos, a realizar vários congressos, cursos e seminários que discutem os caminhos

dessa modalidade de educação e a estabelecer pequenos projetos de educação

superior a distância, considerando o entendimento dos processos que norteiam a

modalidade, sua flexibilidade, metodologia e os novos espaços geográficos. Essa

situação gera uma revisão dos significados e permite transformações e reflexões

para o I Seminário de Educação a Distância: marco referencial de educação na

UFPR, em Julho de 1999. Para Martins (1999), “trata-se, portanto, de um ato

fundamentalmente político, já que, a UFPR fez opção pela inclusão de uma nova

modalidade de educação para participar de uma visão integradora de mundo”

(MARTINS, 1999, p. 84).

Os fatos acima expõem que o desenvolvimento da modalidade a distância na

Universidade Federal do Paraná não ocorreu ao acaso e nem se implementou da

noite para o dia. Contou com o esforço de muitos professores e colaboradores que

acreditaram que a expansão da educação a distãncia ampliaria a possibilidade de

promoção cultural e o aperfeiçoamento profissional a uma maior parcela da

sociedade.

O esforço dos educadores que acreditaram na proposta dessa modalidade,

após muitos anos de estudos e debates, resultou na regulamentação e

institucionalização da educação a distância na UFPR, que passou a atender cursos

em nível de graduação e de ensino profissionalizante. O credenciamento ocorreu no

dia 5 de abril de 1999, permitindo que a universidade seja uma das cinco pioneiras a

dar credibilidade a essa modalidade de educação, de acordo com Sá (2007).

O credenciamento do MEC permitiu à UFPR projetar novas possibilidades

educacionais para a construção de referenciais transformadores e propostas

inovadoras para uma educação sem fronteiras com o uso da metodologia da

educação a distância.

Com base nessas informações, percebe-se que a trajetória da educação a

distância na UFPR inicia-se na década de 80 e, ao longo desse tempo, procurou

difundir a modalidade e demonstrar que a proposta amplia os processos de

democratização e acesso ao saber. Dado o esforço inicial de seus pesquisadores,

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professores e colaboradores, a UFPR destaca-se como uma das melhores

instituições de ensino a distância do país.

Hoje, em pleno século XXI, a UFPR é apontada como uma das instituições de

excelência na modalidade a distância no Brasil. De acordo com a Revista Época nº.

641 de 27 ago. 2010, que apontou as melhores instituições de educação a distância

do país e entre elas a universidade Federal do Paraná como “uma das primeiras

federais a oferecer graduação a distância, que iniciou seu trabalho na educação a

distância em 1998, com pedagogia. Em sua estrutura, os tutores passam por um

curso de seis meses em que aprendem a atender os alunos, lidar com os

professores e usar os recursos tecnológicos oferecidos pelos cursos. A UFPR

mantém também uma grade constante de palestras e oficinas de novas tecnologias

usadas no ensino a distância para professores e funcionários em geral. “A duração

dessa graduação é de 7 semestres com 20% de aulas presenciais em 05 pólos no

Paraná, sendo as mensalidades gratuitas” (REVISTA ÉPOCA, p.84/88).

A UFPR é, sem dúvida, uma das grandes referências na modalidade a

distância no Brasil e, diante desse e de outros tantos projetos bem sucedidos, como

os da Universidade Federal do Mato Grosso, Universidade Federal do Espírito

Santo, Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual de Campinas, entre

outras, verificou-se a necessidade de ampliar esse processo educacional para um

maior contingente de universidades públicas, destacando–se, neste sentido, a

iniciativa do Ministério da Educação e Cultura - MEC e do Conselho Federal de

Educação com a proposta da Universidade Aberta do Brasil e a criação de

consórcios das universidades públicas na modalidade a distância.

Em 1986 houve a iniciativa de se criar uma comissão de especialistas do MEC e Conselho Federal de Educação, para a viabilização de propostas em torno da Universidade Aberta. Esta comissão foi coordenada pelo conselheiro Arnaldo Niskier e produziu um documento denominado Ensino a Distância uma opção - proposta do Conselho Federal de Educação (PRETI, 2007, P.01).

A proposta da criação de um projeto de Universidade Aberta e da criação de

consórcios das universidades públicas na modalidade a distância se fez devido à

necessidade de ampliar e difundir essa modalidade para um número maior de

instituições públicas que, por meio da metodologia da educação a distância,

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passariam a oferecer cursos de nível superior para camadas da população que têm

maior dificuldade de acesso à formação universitária em nosso país.

Na realidade, a UAB não é uma nova instituição educacional, pois não tem sede ou endereço. O nome faz referência a uma rede nacional experimental voltada para a pesquisa e para a educação superior (compreendendo formação inicial e continuada), formada pelo conjunto de IES públicas em articulação e integração com o conjunto de pólos municipais de apoio presencial (Segenreich, 2009, p. 211).

Trata-se de uma política pública de articulação entre a Secretaria de

Educação a Distância - SEED/MEC e a Diretoria de Educação a Distância -

DED/CAPES com vistas à expansão da educação superior, referendada pelo

Decreto nº. 5.800 de 8 de Junho de 2006 em seu Art. 1º. : Fica instituído o Sistema

Universidade Aberta do Brasil – UAB, voltado para o desenvolvimento da

modalidade a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos

e programas de educação superior no país.

A Uab é uma parceria entre consórcios públicos nos três níveis

governamentais: federal, estadual e municipal, e conta com a participação de

universidades publicas e de outras organizações interessadas em ofertar vagas para

estudantes no ensino superior a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar

a oferta de cursos e programas de educação superior no País.

No discurso governamental, a EAD é apresentada, explicitamente, no Plano Nacional de Educação como uma forma de acelerar o cumprimento de dois compromissos desse Plano, em relação à Educação Superior: "prover até o final da década a oferta de educação para, pelo menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos" e "estabelecer uma política de expansão que diminua as desigualdades de oferta existentes entre as diferentes regiões do país" (Brasil, 2001 citado por Segenreich, 2009, p. 206).

Esse programa, portanto, funciona como articulador entre as instituições de

ensino superior e os governos estaduais e municipais, com vistas a atender às

demandas locais por educação superior. Essa articulação estabelece qual instituição

de ensino deve ser responsável por ministrar determinado curso em certo município

ou certa microrregião por meio dos pólos de apoio presencial.

O Sistema UAB organiza-se de acordo com a biblioteca digital (BRASIL, 2006), em

cinco eixos fundamentais:

• Expansão pública da educação superior, considerando os processos de

democratização e acesso;

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• Aperfeiçoamento dos processos de gestão das instituições de ensino

superior, possibilitando sua expansão em consonância com as propostas

educacionais dos estados e municípios;

• Avaliação da educação superior a distância tendo por base os processos de

flexibilização e regulação implantados pelo MEC;

• Estímulo à investigação em educação superior a distância no País;

• Financiamento dos processos de implantação, execução e formação de

recursos humanos em educação superior a distância.

Os primeiros cursos executados no âmbito do Sistema UAB, segundo

Segenreich (2009), permitiram a concretização do Sistema UAB, por meio da

seleção para integração e articulação das propostas de cursos, apresentadas

exclusivamente por instituições federais de ensino superior e, nos anos seguintes,

passa a ocorrer a participação de todas as instituições públicas, inclusive as

estaduais e municipais.

A atuação do Sistema UAB, de acordo com Preti (2007), após a abertura para

todas essas instituições, permite a ampliação de seus horizontes, fomentando,

assim, a criação de cursos na área de Administração, de Gestão Pública e outras

áreas técnicas. Além de atuar diante do âmbito do Plano de Ações Articuladas, para

equacionar a demanda e a oferta de formação de professores na rede pública da

educação básica, apoiando a formação de professores com a oferta de vagas não-

presenciais para o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação.

O portal da UAB, com acesso no ano de 2011 (BRASIL, 2006), destaca que a

UAB conta hoje com 88 instituições de ensino superior participantes, 679 pólos, e

oferece 441 cursos de graduação, 155 cursos de aperfeiçoamento e 213 cursos de

especialização, tendo atingido cerca de 140.000 alunos em todas as modalidades. A

meta da UAB era atingir 1.000 pólos e 300.000 alunos em 2010.

Devido a exigências da legislação brasileira do ensino superior cabe ressaltar

que a UAB não é uma universidade “aberta” propriamente dita, pois existem

requisitos e exames de ingresso (vestibular) para os cursos em nível de graduação,

e processos seletivos para a maioria dos cursos de pós-graduação no país.

O sentido de ‘aberta’ que a Open University da Inglaterra difundiu pelo mundo no campo da EaD vai nessa direção. Não há pré-requisitos nem impedimentos legais para ingresso na universidade. Ela acolhe todo cidadão desejoso em se matricular em qualquer curso.

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No caso da UAB, o sentido é mais restritivo, pois para ingressar na universidade o cidadão necessita passar por um exame, o Vestibular e ter concluído o Ensino Médio. Além de outras exigências das instituições como, por exemplo, ‘ser funcionário público’, ‘estar atuando na rede pública de ensino’, ‘ser funcionário do Banco do Brasil’.É restritivo também quanto ao número de vagas. Oferece o número que as instituições envolvidas na parceria dão conta de atender, de acordo com recursos humanos e financeiros.‘Aberta’ está aqui muito mais no sentido de que é a Universidade que sai do seu campus ou campi e vai onde o aluno estiver. É a Universidade que se ‘abre’, saindo de seus muros (PRETI, 2007, p.06).

Preti (2007), e Segenreich (2009), argumentantam que o projeto da

Universidade Aberta do Brasil é, sem dúvida, um grande passo que permite o

acesso de muitos estudantes ao nível superior de ensino, além do reconhecimento

do projeto diante dos órgãos federais que procuram desenvolver ferramentas

capazes de avaliar o rendimento dos cursos e o desempenho dos alunos nos cursos

de graduação a distância, ingressantes e concluintes, em relação aos conteúdos

programáticos em que estão matriculados.

A caminhada da educação a distância está apenas começando, e percebe-se

que ela proporciona novos horizontes para a educação, na medida em que se

propõe ao enfrentamento da desigualdade social e ao rompimento de antigos

paradigmas educacionais, por meio das mudanças e reflexões que impõe diante de

seu formato tão diferenciado do modelo presencial de ensino.

Assim, deve-se considerar o esforço dos primeiros desbravadores da

educação a distância nas instituições de ensino superior do Brasil, e em especial o

dos professores e pesquisadores da UFPR, que se destacaram como pioneiros

nesta modalidade, em busca de uma educação de qualidade para todos. Essa

coragem abriu as portas para que outras instituições promovessem a mesma

modalidade, além de chamar a atenção dos órgãos responsáveis pela educação em

nosso país para a possibilidade de uma educação preocupada com a “[...]

democratização e o acesso ao saber escolarizado para atender à demanda imposta

pela sociedade contemporânea, como uma das formas de superação dos processos

de exclusão social” (MARTINS, 2005, p. 33).

Perceber o esforço e o trabalho desses professores, pesquisadores e

instituições é de suma importância para a compreensão do percurso da educação a

distância em nosso país; é necessário, porém, expandir essa realidade.

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Assim, o próximo capítulo pretende demonstrar o avanço da educação a

distância, por meio da efetivação do uso de recursos tecnológicos. Recursos estes

que hoje fazem parte do cotidiano de uma grande maioria da população e que

permitem a esta modalidade a ampliação de suas possibilidades educacionais.

3. A TECNOLOGIA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DA

MODALIDADE A DISTÂNCIA

A virtualização do ambiente de aprendizagem vem agregar a educação maiores probabilidades de um ensino dinâmico, rápido e objetivo entre seus

participantes. Levy

O mundo encontra-se rodeado por tecnologia, telefones celulares, televisão,

computadores de alta performance, comunidades virtuais e ambientes artificiais que

hoje fazem parte da rotina da maioria dos cidadãos do planeta. Para Pretti (2002), as

mudanças ocorrem em ritmo acelerado e estão provocando um avanço nas

tecnologias da informação e da comunicação com repercussão nas estruturas dos

sistemas da vida, da educação e da cultura.

Um novo paradigma se impõe à sociedade e aos meios educacionais: a era

tecnológica, está se constituindo como uma exigência dos novos tempos em que a

especificidade deve ser compreendida em sua totalidade e não em pequenos

pedaços, pois ao se desmembrar essa modalidade, corre-se o risco de sucumbir a

reflexões e suposições desencontradas.

Aliás, o próprio conceito de distância está se transformando, como as relações de tempo e espaço, em virtude das incríveis possibilidades de comunicação a distância que as tecnologias de telecomunicações oferecem. Também o conceito de interatividade carrega em si grande ambigüidade, oscilando entre um sentido mais preciso de virtualidade técnica e um sentido mais amplo de interação entre sujeitos, mediatizada pelas máquinas. Cabe perguntar que espécie de interação pode existir entre o sistema complexo que produz o jogo na internet e seus milhões de usuários jovens espalhados pelo mundo, ou mesmo entre estes últimos?(BELLONI, 2002, p.123).

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A partir dessa compreensão, infere-se o percurso da educação a distância

como um sistema que acompanha com maior agilidade os passos desse movimento

histórico, compartilhando dos propósitos como um modelo educacional bastante

adequado e desejável, tendo como ponto de referência as novas demandas

educacionais, tecnológicas e as próprias relações de poder existentes.

A primeira dessas trajetórias parte do pressuposto de que a EAD, desde que tecnicamente bem elaborada, pode sustentar o desenvolvimento de ‘programas de capacitação’ economicamente mais viáveis do que os presenciais, permitindo o crescimento exponencial do número de formados, capacitados, qualificados, atualizados e/ou treinados (BARRETO, 2006 p.38).

Belloni (2001), traz em suas reflexões a compreensão de que a sociedade

atual demanda por competências e habilidades científico-técnicas, sociais e

metodológicas e de que nesse cenário, as transformações refletem-se em novos

desafios para o sistema educacional. Dessa maneira considera-se a educação a

distância um sistema que contribui para atingir os conhecimentos técnicos e

científicos que elevam a qualidade da produção e da integração social do indivíduo

no trabalho e na sociedade.

Percebe-se, assim, que a formação exigida na fase tecnológica, não é apenas

a de uma formação segmentada e ou técnica para o trabalho, mas considera-se uma

nova cultura, a cultura de indivíduos reflexivos, críticos e com autonomia em que, de

acordo com Lévy (2001), o trabalho linear segmentado, padronizado e repetitivo,

característicos do padrão taylorista/fordista tem sido substituído por uma nova

modalidade marcada pela integração, a flexibilidade e a necessidade de soluções

imediatas e de iniciativas. Considera-se, portanto, um reconfiguramento para este

novo milênio em que os indivíduos devem possuir a capacidade de liderar sua

própria vida, tomar a iniciativa e assumir as responsabilidades.

Essa nova demarcação da sociedade moderna demonstra quanto o papel da

educação é primordial e quanto a própria educação deve ser redimensionada, “[...] a

educação é uma atualização da cultura, é a reprodução consciente do movimento da

espécie” (LEVY, 2001, p. 37).

Sendo assim, percebe-se que o mundo de hoje está “radicalmente moderno”

na medida em que a tecnologia e a globalização estão em todas as esferas da

sociedade e da educação, criando-se novos estilos de vida, de vivenciar o mundo e

de aprender.

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A educação a distância diante dessa realidade é um recurso de incalculável

importância, que possibilita atender a grandes contingentes de alunos em tempos e

espaços diferenciados além da capacidade de proporcionar acesso ao saber como

meio apropriado à permanente atualização dos conhecimentos gerados pela ciência

e cultura humana, como assinala Castells (1999, p. 24): “há uma reorganização do

tempo e da formação de uma nova cultura”.

Vale ressaltar que a educação a distância, conforme Martins (2005), não é

uma modalidade educativa alternativa para a democratização do saber, mas uma

prática educativa situada e compromissada em fazer educação e democratizar o

conhecimento.

Assim, depreende-se a necessidade de caracterizar os elementos que

permeiam a educação a distância, seus processos e possibilidades educacionais

que são inúmeros e decorrem, dentre outros fatores, do avanço das tecnologias de

informação e comunicação, da rapidez desses fluxos, do crescimento da rede de

informações, dos percursos a serem trilhados, das articulações que podem ser

feitas, dos novos significados que podem ser produzidos.

As tecnologias permitem um novo encantamento na escola, ao abrir suas paredes e possibilitar que alunos conversem e pesquisem com outros alunos da mesma cidade, país ou do exterior, no seu próprio ritmo. O mesmo acontece com os professores. Os trabalhos de pesquisa podem ser compartilhados por outros alunos e divulgados instantaneamente na rede para quem quiser. Alunos e professores encontram inúmeras bibliotecas eletrônicas, revistas on line, com muitos textos, imagens e sons, que facilitam a tarefa de preparar as aulas, fazer trabalhos de pesquisa e ter materiais atraentes para apresentação. O professor pode estar mais próximo do aluno. Pode receber mensagens com dúvidas, pode passar informações complementares para determinados alunos. Pode adaptar a sua aula para o ritmo de cada aluno. Pode procurar ajuda em outros colegas sobre problemas que surgem, novos programas para a sua área de conhecimento. O processo de ensino-aprendizagem pode ganhar assim um dinamismo, inovação e poder de comunicação inusitados. (MORAN, 1995, p.25).

Nessa modalidade educacional, a utilização da tecnologia como ferramenta é

uma perspectiva quase imprescindível e que pode ser útil, lembra Almeida (2003),

tanto na tentativa de simular a educação presencial com o uso de uma nova mídia,

como para criar novas possibilidades de aprendizagem por meio da exploração das

características inerentes às tecnologias empregadas.

A educação a distância, portanto, insere-se como um compromisso para

contribuir e não para fragmentar o sistema educacional. Esse compromisso implica

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rever valores e, para que isso aconteça, é necessário compreender suas

características e elementos que lhe permitem esse formato arrojado, situado no

ciberespaço, que desconhece as divisões dos espaços-tempo e das hierarquias

convencionais. Para Almeida (2003, p.335), “[...] a educação a distância em

ambientes digitais e interativos de aprendizagem permitem romper com as

distâncias espaço-temporais e viabilizam a recursividade, múltiplas interferências,

conexões e trajetórias, não se restringindo à disseminação de informações e tarefas

inteiramente definidas a priori”.

Sem dúvida, as características e os elementos dessa modalidade

transformam a natureza e o modo de gestão do conhecimento, na medida em que

permitem novas perspectivas por meio das ferramentas tecnológicas nos processos

educacionais.

Pretende-se, assim, neste capítulo, abordar as características e os elementos

que envolvem a modalidade a distância: sua flexibilidade metodológica que adota

novos espaços geográficos, imaginários e simbólicos e as mediações que realiza

para os processos de aprendizagem, processos estes que consideram a

aprendizagem como um processo dinâmico que possibilita transformações,

estabelece diálogos e trocas entre os envolvidos no sistema.

Essa modalidade educacional, devido a sua flexibilidade metodológica, ao uso

de ferramentas tecnológicas, encurta distâncias e possibilita estudos mais

aprofundados e de qualidade; mesmo onde a falta de estrutura física é uma

realidade. Para Moran (2000, p.70), “[...] o novo desfio das universidades é

instrumentalizar os alunos para um processo de educação continuada que deverá

acompanhá-lo em toda sua vida”.

Essa modalidade, portanto, procura romper com as barreiras que dificultam o

acesso à educação, partindo de um contexto de mudança de valores, em que a

diversidade cultural está presente, além da contextualização de saberes e de

conhecimentos tecnológicos, procurando assumir o seu papel em uma sociedade

globalizada, ávida por qualificações, informações e comunicação.

Para Almeida (2003), a tecnologia utilizada na educação a distância é também

a mediatizadora dos processos de aprendizagem, pois esta permite a comunicação

entre os envolvidos e assume o papel de informação e comunicação. Diante

desse processo, Preti (2002, p. 68), faz uma ressalva, “[...] ainda que a comunicação

multimídia favoreça a aprendizagem, ela não a garante”; compreende-se, assim, que

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não basta apenas o uso das tecnologias de comunicação para conceber os

processos de ensino-aprendizagem na educação a distância. Essa ferramenta

apenas permite a organização dos sistemas de educação a distância, mas não

garante o estímulo e a aprendizagem; essa possibilidade, para Preti (2002), deve

estar apoiada nos processos de mediação entre professor, tutor e aluno, além de

contar com a ajuda das diferentes linguagens e dos processos tecnológicos, que

oferecem suporte e estrutura que incentivam e viabilizam os processos de ensino-

aprendizagem.

Os processos de aprendizagem na modalidade a distância não ocorrem ao

acaso, mas é o resultado da comunicação e do diálogo dos diferentes processos

que caracterizam a educação a distância: a concepção filosófica-política, a

mediação, a tecnologia, a metodologia e a didática diferenciadas do modelo

presencial de educação.

A educação a distância, portanto, encontra-se alicerçada na integração dos

“multimeios” que pretendem assegurar a comunicação bidirecional, em que o aluno

não é mero receptor de informações, mas alguém que estabelece uma relação de

troca e de participação .

Assim, a educação a distância em ambientes digitais e interativos de aprendizagem permite romper com as distâncias espaço-temporais e viabiliza a recursividade, múltiplas interferências, conexões e trajetórias, não se restringindo à disseminação de informações e tarefas inteiramente definidas a priori. A EaD assim concebida torna-se um sistema aberto, ‘'com mecanismos de participação e descentralização flexíveis, com regras de controle discutidas pela comunidade e decisões tomadas por grupos interdisciplinares’ (Moraes, 1997, p. 68).

Em linhas gerais, não existe educação sem troca e, portanto, é um fator

indiscutível nessa modalidade, mesmo que, muitas vezes, ele se realize apenas

virtualmente. Para Martins (2001), Pretti (2002), e Niskier (2009), o diálogo virtual

entre professores, alunos e tutores é uma parte indissociável dessa modalidade,

mas, sempre que possível e desejável, não é negada a presença física dos

envolvidos nesse sistema educacional.

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A flexibilidade didática e metodológica possibilita que o processo de

aprendizagem não ocorra apenas “a distância” como sendo um objeto ou

mercadoria, mas que o processo seja compartilhado em um movimento de ir e vir.

Nesse entendimento, as novas tecnologias e técnicas de ensino, bem como

os diferentes processos de aprendizagem, fornecem recursos eficazes para atender

e motivar os envolvidos na modalidade a distância, implicando em processos de

aprendizagem que não se realizam de maneira “simplificada”, de um lado a

tecnologia e do outro o aluno, mas que se faz na relação contínua dos processos de

mediação estabelecidos pelos meios didáticos e pedagógicos presentes nas novas

mídias.

Para Belloni (2001), é através de práticas didático-pedagógicas e

metodológicas que a relação de aprendizagem é construída e reconstruída,

estabelecendo-se novas possibilidades de conhecimento. Esse acesso ao

conhecimento deve partir do princípio da atuação efetiva do sujeito envolvido no

processo de ensino-aprendizagem considerando os recursos tecnológicos utilizados

como meio de formação de um sujeito social, comprometido com o processo, ou

seja, protagonista de sua própria caminhada em busca da aprendizagem.

Essa realidade dinâmica dos processos de aprendizagem e dos recursos

tecnológicos remete à necessidade de apropriação e envolvimento com as Mídias e

as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) de forma que elas

contribuam na aprendizagem e no conhecimento, proporcionando aos alunos a

liberdade responsável no seu uso, do aumento da autonomia e da responsabilidade,

além do desenvolvimento de novas habilidades e da interação com diferentes

comunidades.

Para Almeida (2003), a apropriação das TIC no processo da educação a

distância reconstrói o que se entende por conhecimento. E é através dessas

ferramentas tecnológicas e de mediações atuantes, realizadas por professores e

tutores, que os processos de aprendizagem passam a se firmar, e as relações de

tempo e espaço assumem um novo papel, não mais o de problema, mas o de uma

educação sem distância, com flexibilidade de tempo em que o sistema educacional

permita realizar o seu real papel: o papel de uma educação inclusiva, estimulante e

motivadora. Barreto (2006), porém, pondera sobre a utilização das TIC na formação

dos aprendentes, sugerindo que haja uma superação da razão instrumental

tecnicista de sua utilização, destacando-se a necessidade do fortalecimento da

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dimensão didático-pedagógica, do redimensionamento do trabalho docente e de

práticas sociais e escolares que apontem em direção oposta à substituição

tecnológica.

As TIC propiciam uma nova linguagem no espaço educacional, facilitam a

troca entre os protagonistas da modalidade e devem garantir uma postura dialética

no processo de construção de uma práxis comprometida com os processos

formativos inovadores e da superação de antigos paradigmas educacionais. Para

pesquisadores como Martins (2001), Pretti (2002), e Niskier (2009), uma das

características mais importantes dessa modalidade é o fato de este espaço virtual

estar desvinculado da presença física do aluno. Essa desvinculação refere-se à

condição de o aluno estudar em quaisquer regiões do mundo, evitando a

necessidade do deslocamento provisório ou permanente desse sujeito. Nesse

sentido, a utilização das TIC no sistema a distância não deve ser desconsiderada;

pelo contrário, deve ser uma importante ferramenta que contribua para a ampliação

e a expansão da modalidade a distância, oportunizando o contato com professores,

tutores, além de outros estudantes de diferentes classes sociais e culturais,

facilitando a integração de diferentes conhecimentos e culturas que podem

acrescentar novas perspectivas que, efetivamente, propiciam um acréscimo cultural

e de saberes, tendo como conseqüência não só conhecimento, mas novas

habilidades sociais, de comunicação e colaboração.

Compreender a especificidade e a utilização das ferramentas tecnológicas é

apenas o início do percurso para o entendimento da complexa rede que integra esse

sistema educacional. A educação a distância não se encontra permeada somente

pela tecnologia; esse sistema conta com bases pedagógicas, metodológicas e

didáticas que oferecem um conjunto de referenciais que dimensionam e promovem a

modalidade em questão.

A organização da educação a distância, destacam Martins (2005), e Preti

(2003), é bem mais complexa que o sistema da educação presencial, pois nessa

modalidade conta-se com uma diversidade de conteúdos e procedimentos que

asseguram a integração dos processos pedagógicos, didáticos e tecnológicos.

Processos que devem assegurar qualidade e conhecimento ao estudante.

[...] o conhecimento é o que cada indivíduo constrói como produto do processamento, da interpretação, da compreensão da informação. É algo

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construído por cada um, muito próprio e impossível de ser passado para o outro – o que é passado é a informação que advém desse conhecimento, porém nunca o conhecimento em si (VALENTE, 2003, p.140).

O conhecimento, na modalidade a distância não se dá a priori, mas se realiza

na possibilidade de liberdade e autonomia do aluno, tanto no que diz respeito aos

processos pedagógicos, quanto aos metodológicos e didáticos.

Os diferentes processos situam e criam caminhos para a modalidade a

distância, além de possibilitar ao professor, tutor e aluno estabelecer e desenvolver

suas identidades. Para Wachowicz (2009), esses caminhos se fundamentam na

necessidade do envolvimento e do domínio sobre os métodos de ensino que serão

transmitidos, procurando desenvolver e estabelecer interesses emancipatórios e

reflexivos que se efetivem em ações e relações significantes de aprendizagem, para

ambos os envolvidos na modalidade.

Litwin (2001), destaca ainda, que essa modalidade possui características

específicas e diferenciadas do modelo presencial, em que a separação física entre o

professor e o aluno, a metodologia diferenciada, a didática e a tecnologia são

apenas algumas de suas peculiaridades, o que provoca a necessidade de

argumentação e construção de novos conceitos específicos para a modalidade.

As características diferenciadas da modalidade a distância promovem

modificações substanciais nos paradigmas de educação vigentes, uma vez que

oferecem aos envolvidos na modalidade inúmeras possibilidades de acesso à

informação e ao conhecimento, em que novas formas de aprender e ensinar são

requeridas nesse novo ambiente.

Com base nesses fatos, nossa compreensão é de que uma das características mais importantes da EAD é sua trajetória: ela flexibiliza metodologias, adota novos espaços geográficos, imaginários e simbólicos nos quais o aluno encontra consistência teórica e qualidade tanto pelas mediações que realiza, como pelas interfaces que ocorrem durante o processo de aprendizagem (MARTINS, 2010, p.92).

Essa visão parece coincidir com a perspectiva de Preti (2004), que considera

que o processo pedagógico deve oferecer a qualidade e o suporte necessários para

a mediação do processo ensino-aprendizagem, na medida em que eles possibilitam

ao aluno questionar, classificar, processar e entender as diferentes informações a

partir de suas múltiplas possibilidades cognitivas.

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A aprendizagem, portanto, não é só conhecimento. Ela também se

(re)constrói na habilidade emancipatória do ser humano, ela não se faz apenas da

consagração da idéia de educação como ensino, instrução ou treinamento, mas sim,

da relação dialética entre os sujeitos, que podem inverter os fatores de reprodução

do conhecimento, para a (re)construção de um processo de aprendizagem, com

base em pesquisa e elaboração do próprio aluno.

É nesse sentido que Freire (1996, p.14), destaca que: “[...] formar é muito

mais do que treinar o educando no desempenho de destrezas”, salientando a

importância de uma concepção de escola que sabe que: “[...] ensinar não é transferir

conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção”,

garantindo, assim, o tempo de cada um, numa perspectiva de respeito às

diversidades e singularidades de cada grupo ou indivíduo.

Assim, a educação a distância em seu processo acadêmico, necessita de

diferentes ferramentas para ampliar a sua ação educativa e entre elas merece

destaque o material didático.

O material didático na educação a distância deve ser dimensionado e

desenvolvido com exclusividade para essa modalidade e, de acordo com Ferreira e

Silva (2010), o material deve ser desenvolvido mediante uma ação conjunta entre

professores, tutores, alunos, designers, diagramadores, coordenadores

pedagógicos, ilustradores e outros atores que participam direta ou indiretamente do

contexto da educação a distância. Essa troca de conhecimento e saberes entre os

participantes é requisito fundamental para a construção dos processos dialógicos do

material didático.

Para Preti (2002, p.67), o material didático é “[...] o elo de diálogo do

estudante com o autor, com o professor, com as suas experiências, com a sua vida

mediando seu processo de aprendizagem”.

Assim, aquele que acredita que educar é transmitir informações produzirá um material repleto de dados, comentários e explicações que pouco espaço oferecerá ao leitor para reflexões e questionamentos. O que ele apresenta é registrado como verdade absoluta em um texto inflexível e fechado em suas mensagens (FERNANDES, 2009 p. 397).

A esse respeito, portanto, importa ressaltar que a construção do material

didático, para Martins (2005), Preti (2002), e Fernandes (2009), deve visar a uma

inserção crítica que provoque o diálogo e a reflexão. Pois um material didático de

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excelência, em forma e conteúdo, deve ser um elemento capaz de construir

diferentes interpretações, na medida em que reconhece que é o leitor, partindo de

suas vivências e conhecimentos adquiridos, que atribui significados ao material que

lhe é oferecido.

Nessa perspectiva a elaboração do material didático deve ter como princípio o

acesso aos conhecimentos científicos, além dos contextos sociais, políticos e

culturais que devem estar apresentados de uma forma que possibilitem reflexões e

questionamentos aos estudantes. Esse processo deve estimular o estudante, a fim

de que ele explore o material a partir de suas necessidades, e seja levado a

interpretar a realidade e o novo universo de conhecimentos que lhe são

apresentados. Logo, a produção do material didático, para Martins (2005), Preti

(2002), e Fernandes (2009), é um dos fatores decisórios na qualidade de um curso

na modalidade a distância, já que cabe a esse recurso grande parte do aprendizado

do aluno.

Mas, o material didático na educação a distância não se limita apenas a

materiais impressos de qualidade, pois hoje, como já se mencionou, conta-se com a

tecnologia e as diferentes perspectivas de aprendizagem e comunicação que a

modalidade oferece.

A grande rede é atraente e sedutora. Podemos entrar anonimamente no ciberespaço, sentir-nos donos das informações acessadas e, como voyers, apreciar conteúdos que pipocam daqui e dali, descartar o que não nos interessa e apropriar-nos do que julgamos interessante. Não há estrada principal, não há sinalização nos cruzamentos, as palavras têm múltiplos sentidos. Uma pluralidade de textos, vídeos, animações, jogos e sons nos encantam e nos fazem viajar e nos perguntar de vez em quando ‘ O que eu estava pesquisando, mesmo? Como vim parar aqui?’ (PALANGE, 2009, p. 379).

Então, ao deparar-se no ciberespaço e na pluralidade de textos, vídeos, sons

e informações que esse espaço oferece, o processo pedagógico e o próprio material

didático devem adaptar-se às novas circunstâncias, considerando-se as

possibilidades e limitações das tecnologias envolvidas no ambiente da educação a

distância. Dessa maneira destaca-se como ferramenta o uso da tecnologia no

modelo de ensino não presencial, em que o modelo de ensino/aprendizagem situa-

se em um ambiente virtual, aproveitando o sistema para a comunicação e a criação

de novas relações propiciadas pelas ferramentas digitais.

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Para Passarelli (2009, p. 329), ”[...] o universo da cibercultura nos permite

transitar, simultaneamente, por diferentes instâncias da realidade”; dessa forma as

possibilidades de informação e do conhecimento são ampliadas, permitindo sua

democratização e incentivando a autonomia e a construção de diferentes formas de

aprender.

Já não cabe considerar apenas leituras de livros, porque um novo modo de ler se impõe, orientado por arquitetura fluida, leve, volátil e hipertextual. A leitura torna-se nômade, pois perambula de uma lado para o outro, junta fragmentos e mapas; perde-se e encontra-se. É leitura topográfica, pois uma nova escritura vai sendo elaborada nos nexos encontrados e feitos pelo leitor-produtor. Pode ser instrucionista, mas pode ser criativa, se aparecerem pesquisa e elaboração em contexto de autonomia reconstrutiva ( DEMO, 2007 p. 44).

O ambiente das novas tecnologias mudou a educação e o modo como se

interage e se vê o mundo; hoje conta-se com cenários de aulas virtuais que geram

inúmeras possibilidades de interação, participação e aprendizagem. Muitos desses

processos mediados pela tecnologia oportunizam ao estudante o contato imediato

com o professor e com outros alunos, mesmo que eles se encontrem em diferentes

e distantes lugares.

Esse formato de comunicação disponibilizado pela via digital permite um novo

relacionamento e novas discussões sobre os processos de comunicação e ensino-

aprendizagem. A flexibilidade do tempo e do espaço, ou seja, a separação física

entre o aluno e o professor, permitem a essa modalidade, para Preti (2002), e

Martins (2005), a democratização do ensino.

Deve-se, então, compreender que a educação a distância caracteriza-se por

processos distintos de ensinar e aprender: síncronos e assíncronos.

O processo síncrono é estabelecido por Martins (2005), Preti (2002), e Litwin

(2001), como toda comunicação que exige que os interlocutores estejam conectados

(on line) no mesmo momento da troca de mensagens. Essa comunicação interativa

relaciona-se através de ferramentas como telefone, televisão, chat, e-mail, fóruns,

‘skipe’, msn, que permitem a interação e a troca de informações entre os envolvidos

na modalidade a distância.

As vantagens desse sistema estão na:

- Interação dos participantes: - Os envolvidos nesse sistema interagem entre si

em tempo real, através dos mecanismos de comunicação. Os momentos de 48

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encontro ocorrem virtualmente e a comunicação é estabelecida on-line (mesmo

tempo) permitindo ao tutor e ou/professor e ao aluno a troca e a motivação

necessárias para o auxilio no processo de aprendizagem.

As desvantagens estabelecidas nesse processo caracterizam-se pela

exigência de sofisticados equipamentos tecnológicos que, muitas vezes, acabam

aumentando os custos do sistema de ensino, fazendo com que algumas instituições

optem por sistemas mais econômicos.

Mas o que se percebe, é que mesmo diante de algumas dificuldades de

ordem financeira, a tecnologia veio para tornar possíveis as diferentes formas de

comunicação e informação. Antes da educação a distância contava-se apenas com

algumas formas de comunicação como a televisão, o rádio e o ensino por

correspondência; hoje essa modalidade amplia-se por meio da era digital, com a

possibilidade de diálogo e da participação ativa que envolve o universo a distância,

oferecendo recursos diversos à comunicação humana que contribui para a revolução

da educação, da informação e das diferentes formas de interação e autonomia do

estudante.

A autonomia é uma das características marcantes da educação a distância

que vem a ser, para Martins (2005), a independência e a flexibilidade, ou seja, o

sujeito capaz de gerir o seu processo de aprendizagem, de se auto-dirigir e auto-

regular-se; segundo Preti (2002), eles objetivam promover a aprendizagem de um

conteúdo, além de capacitar o "aprender a aprender" e o "aprender a fazer" de forma

flexível, autônoma em relação ao tempo, espaço, ritmo de aprendizagem.

Meu bom senso me diz. Saber que devo respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prática, procurar a coerência com este saber, me leva inapelavelmente à criação de algumas virtudes ou qualidades sem as quais aquele saber vira inautêntico, palavreado vazio e inoperante. De nada serve a não ser para irritar o educando e desmoralizar o discurso hipócrita do educador, falar em democracia e liberdade, mas impor ao educando a vontade arrogante do mestre. (FREIRE1996, p.62).

Aprender a distância, portanto, exige do aluno aprender em seu ritmo, utilizar-

se de sua criatividade, relacionar-se com as diferentes ferramentas da modalidade a

distância, além de ter a responsabilidade de agir com autonomia diante desse

sistema aberto e diferenciado.

O mesmo ocorre com os diferentes protagonistas dessa modalidade:

professores e/ou tutores que atuam no sistema, pois eles são desafiados ao uso

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efetivo das ferramentas tecnológicas e à seleção de técnicas e estratégias de ensino

adequadas ao desenvolvimento de novas competências que os auxiliem no trabalho

didático e pedagógico que irá pautar a construção da autonomia e da liberdade dos

aprendentes.

Se persistirmos em trabalhar apenas com conceitos, como se eles fossem a própria realidade; se teimarmos em ignorar o fantasma real do não saber o porquê das coisas, então será verdade que os alunos aprendem pouco na escola. Ao contrário, se entendermos a aprendizagem como sendo a reestruturação das nossas estruturas cognitivas, a ponto de sermos capazes de buscar explicações em situações novas, por mais complexas que estas sejam, então teremos que concordar que o trabalho da escola é formar atitudes de aprender, atitude esta que, uma vez consolidada, fará com que o aluno prossiga sua caminhada como um sujeito que faz história e não apenas é feito por ela. Ou melhor, será um sujeito da História, o que significa que faz enquanto se faz (WACHOWICZ 2009, p.109).

Para Martins (2005), professores e tutores afirmam-se nessa modalidade por

meio de uma nova forma de aprendizagem, de planejamento didático e pedagógico,

em que o ambiente dinâmico e tecnológico favorece a exploração de diferentes

perspectivas que exigem deles um esforço extra na atividade de planejamento e

desenvolvimento de estratégias que minimizem as possíveis limitações que possam

comprometer a autonomia e a liberdade de aprendizagem do aluno.

Litwin (2001), traz uma concepção educativa semelhante à de Martins (2005),

em que à eficiência de uma educação a distância é mais resultado da preparação

que da inovação. Por essa razão, o planejamento e o desenvolvimento da ação

didática e pedagógica, assumem uma importância vital para o sucesso de qualquer

programa de educação a distância.

E, para que a mesma seja considerada adequada é preciso que satisfaça, pelo menos, dois critérios: a) deve ser clara e precisa; deve ser capaz de fazer tomar consciência das contradições e insuficiências dos velhos conceitos, de modo que crie as condições necessárias para iniciar um processo construtivo; e b) o professor precisa ter um conhecimento preciso, entre outras coisas, das relações entre linguagem e pensamento: da função de “regulador” do comportamento que exerce a linguagem; das técnicas de confronto de conceitos; das possíveis combinações entre comunicação verbal e comunicação visual e do grau de eficiência que corresponde a cada uma destas combinações.Uma reflexão acerca destes critérios pode apontar caminhos para que a comunicação seja melhor aproveitada nos processos de ensino e aprendizagem na EAD e possa, de fato, contribuir para com o desenvolvimento cognitivo dos alunos. (GUTIERREZ, 1994, p.10-11).

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Portanto, as ações fundamentadas na participação ativa de seus integrantes,

mediadas pelas tecnologias de comunicação digital na modalidade a distância,

devem propor práticas inovadoras que poderão levar a melhoria da qualidade dos

processos de ensino-aprendizagem e do acesso a uma educação democrática, em

que sua concepção poderá tornar a educação a distância “[...]um processo de

formação humana, emancipatório, crítico ou restrito de treinamento, ou de

adestramento” (Martins, 2005, p.49). Essa modalidade se destaca como um novo

compromisso com o sistema educacional fundamentando sua concepção na busca

por um modelo de educação diferenciado e inovador. Cabe, assim, estabelecer uma

nova consciência educacional, em que se conta com novas e diferentes formas de

ensinar e de aprender, desvelados por uma nova didática em um espaço e tempo

diferenciados.

Preti (2003), e Martins (2005), destacam que a educação a distância

caracteriza-se por grandes desafios em que os novos recursos tecnológicos

disponíveis deverão estar aliados às especificidades dessa modalidade, exigindo

uma concepção pedagógica interativa, colaborativa e reflexiva, em que a

comunicação docente/discente exige novos esquemas mentais e novas concepções

acerca do saber que envolve diálogos constantes, intercâmbios singulares,

criatividade, disponibilidade para investigação, e competência da gestão dos tempos

e da distância desse sistema de ensino.

A Educação a Distância não deve ser simplesmente confundida com o instrumental, com tecnologias a que recorre. Deve ser compreendida como uma prática educativa situada e mediatizada, uma modalidade de se fazer a educação, de se democratizar o conhecimento. É, portanto, uma alternativa pedagógica que se coloca hoje ao educador e que tem uns práticos fundamentados em fundamentos éticos, solidários e compromissados com as mudanças sociais (PRETI, 2002, p.27).

Nesse sentido deve-se buscar, através de estudos, elementos que possam

contribuir e possibilitar avanços nas práticas didáticas, pedagógicas e políticas que

possibilitem a transformação e construção de novos movimentos educacionais; isso

por meio de processos educativos emancipatórios que permitam a autonomia, a

criticidade, a consciência e a reflexão dos envolvidos no sistema, para que haja

sempre mais possibilidades de aprendizagem e de conscientização do processo do

qual fazemos parte; a crescente demanda pela educação e a constante necessidade

de uma reciclagem pessoal nas diferentes instâncias do saber e da cultura, vêm

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sinalizado ao sistema de ensino presencial suas limitações quanto ao aumento da

clientela, devido a sua grande amplitude, nos países em desenvolvimento.

O crescimento, expansão e barateamento do acesso às novas tecnologias fez com que organizações até então afastadas da EAD passassem a encará-la como um desafio a ser vencido, prevendo, em curto prazo incorporá-la às suas ações. Nesse caso está o mundo universitário em geral, que há cerca de cinco ou seis anos atrás, via a EAD como oferta exclusiva para levar ensino regular (cursos supletivos) à massa fora da faixa etária, com raras e honrosas exceções (Blois, 2004, p.102).

Esse fenômeno educativo, suas características e elementos constituintes

devem ser mais bem investigados e compreendidos para que possam contribuir para

produzir processos educativos que favoreçam a aprendizagem.

E é justamente, pensando nesses processos e no processo ativo da

construção do saber, que compreende liberdade, democracia e conhecimento, que

Martins (2005), Preti (2002), Moran (2004), Litwin (2001),e Belloni (1999), destacam

o papel do protagonista dessa pesquisa: o tutor.

Para esses autores o tutor é considerado como um dos fatores fundamentais

para o bom desempenho do aluno. Assim, o tutor será o objeto de estudo do

próximo capítulo que procura estabelecer relações e transitar por referenciais

acadêmicos que possam apontar os caminhos que delimitam o seu papel na

educação a distância.

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4. O PAPEL DO TUTOR NA MODALIDADE A DISTÂNCIA

O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A

rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processos de busca.

Paulo Freire

Com a expansão do ensino a distância, a importância do tutor cresce a cada

dia no Brasil. Nos últimos três anos, segundo fontes do Censo EaD ( BRASIL ,2010)

da ABED, houve um aumento de 3.000 por cento no número de alunos nos cursos a

distância, havendo, portanto, a necessidade de maior número de profissionais que

atuem nessa modalidade. De acordo com a ABED, o tutor pode atuar, no máximo,

com um grupo de 40 a 50 alunos no sistema a distância.

Para a Associação Brasileira de Ensino a Distância - ABED, a educação a

distância deverá crescer em torno de 8% neste ano no Brasil. Ainda, de acordo com

dados da SEED – Secretaria de Educação a Distância e do MEC – Ministério da

Educação, o Brasil conta com 210 instituições de ensino superior com ensino a

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distância, das quais 91 estão no Sudeste, 43 no Sul, 42 no Nordeste, 19 no Centro-

Oeste e 15 no Norte.

Apesar do crescimento da educação a distância, conforme fontes do MEC e

da ANATED – Associação Nacional dos Tutores da Educação a Distância (BRASIL,

2011), o papel desse profissional no Brasil ainda é pouco valorizado, mesmo diante

da constatação de sua importância para a educação. Sendo assim, a ANATED1 luta

para valorizar o profissional, seu trabalho, sua dedicação e o seu comprometimento

com a atividade docente.

Reverter esse quadro, em nosso país, passa primeiramente pela necessidade

de entender quem é o profissional, suas características, seu compromisso, função e

perspectivas. Essa modalidade de educação se consolida mediante processos

diferenciados de ensino-aprendizagem, que admitem novas possibilidades e

características que a diferenciam da modalidade presencial.

A educação na modalidade a distância destaca, em seu âmago, a figura do

tutor com concepções, hipóteses e novas interpretações de seu papel. E é nessa

direção que se faz a necessidade de caracterizar e delimitar tal protagonista da

educação a distância, para que se estabeleçam posturas e informações que possam

garantir tanto o desempenho do trabalho dele, quanto a garantia de reconhecimento

e valorização de sua atividade como tutor.

A palavra tutor, de acordo com o dicionário (LAROUSSE, 2006), “[...] provém

do latim óris, que significa guarda, defensor, protetor, curador, ou seja, aquele que

exerce uma tutela, que ampara, defende, é o guardião”. Na Nova Enciclopédia

Larousse (2006, p. 314) “[...] o tutor é aquele que orienta e aconselha sobre um

determinado assunto ou matéria, além de ser o responsável por uma pessoa menor

ou incapacitada”.

11 Em meados do ano de 2006 inicia-se o movimento dos tutores de educação a distância para a defesa dos alunos que se formavam nessa modalidade de ensino, pois havia uma forte resistência das diretorias de ensino em aceitar os alunos formados pela educação a distância – EAD. Esse movimento inicial torna-se mais forte com o enfrentamento de problemas, como a falta de definição do papel do tutor e a da baixa qualificação para o exercício da função, entre outros.s. Em 2009 formaliza-se a ANATED - Associação Nacional dos Tutores da Educação a Distância, que procura defender e fortalecer a educação a distância, elevando a qualidade da educação, por meio de um profissional altamente selecionado e qualificado para os desafios que exige essa modalidade de ensino.

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Em diferentes áreas acadêmicas utiliza-se o vocábulo tutor, e seu conceito

passa a ter novas considerações de acordo com a área em que está sendo

empregado. No Direito, por exemplo, tutor significa indivíduo que exerce uma tutela,

aquele que ampara e protege. Na Administração, no entanto, tutor é aquele que

supervisiona, dirige, governa. Tem-se também a idéia de tutor como aquele aluno a

quem se delega a instrução de outros alunos. Além desses, tutor pode significar [...]

”estaca ou vara que se enterra no solo para amparar uma planta de caule frágil,

flexível ou volúvel, conceito este utilizado na agricultura”, de acordo com o dicionário

(LAROUSSE, 2006, p.314).

No campo da educação o uso do termo tutor “[...] significa a ação de ajudar,

guiar aconselhar e orientar os alunos por parte de um professor” (BERNAL, 2008, p.

59).

A tutoria não é um processo recente, e muito menos se encontra restrita ao

modelo de educação a distância como muitos imaginam. Sua origem, segundo

alguns historiadores, remete às universidades da Idade Média. Para Bernal (2008), a

tutoria era uma necessidade nos processos educativos daquela época, em que se

desejava um sujeito que pudesse guiar e orientar a conduta moral, social e

intelectual dos estudantes na busca pelo conhecimento.

Esse papel do tutor, portanto, no campo da educação daquela época era o de

um sujeito inflexível, que detém o conhecimento e guia os passos de seu pupilo e o

encaminha de acordo com sua vontade e suas expectativas, não oportunizando ao

aluno a reflexão e a autonomia.

A partir do final do século XV, a figura do tutor no campo acadêmico passa por

mudanças, em especial nas universidades inglesas de Oxford e Cambridge. Para

Bernal (2008), essas academias redimensionaram o termo tutor, favorecendo uma

releitura de seu papel, concebendo, então, que esse sujeito passaria a desempenhar

um papel de estreita e individual relação com o aluno, tendo como finalidade

estimular a curiosidade permanente, em um ambiente de amizade e confiança

mútuas.

Para Preti (2010), esse modelo de tutor presencial passa a influenciar a

configuração da tutoria concebida pela primeira universidade a distância, a Open

University e que serviu de “modelo” às mega universidades a distância que surgiriam

depois dela, como a UNED da Espanha, a Anadolu University da Turquia, a

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University of South Africa, a Indira Gandhi National Open Univesity da Índia, entre

outras academias.

Para Botti e Rego (2008), o termo tutor aparece no Brasil em meados do

século XVIII, e define-se por guarda, proteção, defensor, curador. Além de significar

aquele que mantém as pessoas sob sua vista, que olha, encara, examina e observa;

ou seja, tutor é aquele que tem a função de amparar, proteger, defender e governar.

Na História brasileira destaca-se um grande exemplo do papel de tutor na

figura de José Bonifácio de Andrade e Silva. De acordo com os pesquisadores Botti

e Rego (2008), José Bonifácio fora então nomeado pelo imperador D. Pedro I como

tutor de seu filho D. Pedro II, em função de sua necessidade de abdicar do trono em

favor de seu filho para poder retornar à Europa. Sendo D. Pedro II menor de idade, o

papel que José Bonifácio exerceu em sua formação, devido ao afastamento de seu

pai, teve grande influência na formação de seu caráter, pois José Bonifácio, o tutor

de D. Pedro II, era tido como um homem de caráter forte e dominador. Uma figura

imponente e, embora seu tutorado tenha sido efêmero, sua figura inflexível,

acentuada ainda mais pela velhice, exerceu importante influência sobre a vida e as

ações de D. Pedro II.

O tutor, nesse cenário, apresentava-se como um sujeito experiente e

competente, com a capacidade de ajudar, ensinar e estimular o desenvolvimento

pessoal de seu pupilo, apesar da forma rígida e inflexível de agir.

Essa realidade dominadora do tutor também é demonstrada na história da

educação brasileira por Azevedo (1963), em especial na formação da elite brasileira,

que importava professores/tutores da Europa para ensinar poucos indivíduos

privilegiados.

Para Azevedo (1963), o papel do tutor também aparece no cenário da escola

presencial, em particular no trabalho realizado por alunos mais adiantados que

ofereciam seus conhecimentos a outros alunos que apresentavam dificuldades de

aprendizagem.

Diante desse contexto inicial do termo tutor, deve-se ter o cuidado para não

analisar a palavra apenas no seu sentido original, além de compreender que o seu

significado na educação se transformou e se redimensionou no decorrer da história,

incorporando reflexões e conceitos mais amplos e mais criativos.

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Se analisarmos a palavra em seu sentido original e sua passagem ao contexto da educação, significam que o aluno é uma pessoa que necessita de ajuda e é incapaz de autogovernar-se; portanto, a função tutorial diminui à medida que o sujeito, por seu próprio desenvolvimento, alcança sua independência. Se assumirmos o conceito em sua origem, estaremos, então, prolongando a concepção de um tutor que acompanha um estudante dependente, e que há de tomá-lo pela mão para conduzi-lo pelas trilhas do conhecimento, cuidar da forma como se transmite esse conhecimento e constatar que ele tenha aprendido. No entanto, se concebermos o tutor a partir de um aspecto mais criativo, como aquele que olha, observa, contempla e, ao mesmo tempo, vigia, cuida, defende e protege, estaremos diante de um tutor que desenvolve habilidades e competências para acompanhar um estudante que necessita de sua atenção. (BERNAL, 2008, p.57/58).

O século XX, a era da Revolução Tecno-Científica (que compreende a

aplicação de tecnologias em diferentes etapas produtivas da indústria, do comércio e

da vida do ser humano) nos coloca frente a novas e diferentes perspectivas que

invadem o século XXI. Essa revolução tecnológica invade o mundo no qual vivemos

e hoje o homem precisa ensinar e aprender em uma sociedade globalizada e

interconectada. Como aprender? Como contribuir no processo de ensino-

aprendizagem característico desse momento histórico?

Nessa perspectiva, o papel do tutor se torna evidente e sua atuação na

educação deverá atender a uma ação orientadora global, compreendendo um

conjunto de ações educativas que possam contribuir para desenvolver e

potencializar as capacidades básicas dos alunos, orientando-os no crescimento

intelectual e da sua autonomia.

Evidencia-se, portanto, que a tutoria é um conjunto de ações dirigidas ao

processo de formação do estudante, que “[...] motiva, incentiva, dá os primeiros

passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vai ser feito, para a importância

da participação do aluno nesse processo” (MORAN, 2000, p.47), e não apenas uma

assessoria acadêmica para a resolução de dúvidas e problemas de aprendizagem.

A tutoria, nesse sentido, deverá compreender a relação entre tutor e aluno, ou

seja, um caminhar juntos no processo de construção do conhecimento e do

desenvolvimento humano, os quais não são transmitidos ou adquiridos como um

objeto ou mercadoria, mas construídos na realidade e no sentido de nossa interação

com o mundo e com o outro.

É possível constatar aqui o ponto de vista de Vygotsky: o desenvolvimento humano é compreendido não como a decorrência de fatores isolados que amadurecem, nem tampouco de fatores ambientais que agem sobre o organismo controlando o seu comportamento, mas sim através de trocas

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recíprocas, que se estabelecem durante toda a vida, entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o outro (REGO, 2009 p.95).

Cabe considerar que o papel do tutor na educação a distância deverá

estabelecer situações que impulsionem e promovam o desenvolvimento integral do

sujeito, através da troca e do diálogo com o outro. Dessa forma são estabelecidos

processos que envolvam aquele que ensina (educador), a quem se ensina

(educando) e o que se ensina (conteúdo), assim Martins (2005), afirma que o papel

do tutor deve ser compreendido como um dos elementos fundamentais do processo

educativo na modalidade a distância. Essa prática educativa deverá promover

atitudes orientadoras em relação ao estudante, reconhecer os processos de ensino-

aprendizagem que considerem a capacidade do sujeito, e da sua necessidade de

interpretação. Isso contribui para a construção de um sujeito ativo e capaz de

produzir suas próprias modificações.

Para tal, este ‘novo educador’ deverá conhecer as características, necessidades e demandas do alunado, formar-se nas técnicas específicas da modalidade a distância, desenvolver atitudes orientadoras e de respeito à personalidade dos estudantes e dar-se conta de que sua função é formar alunos adultos para uma realidade cultural e técnica em constante transformação (PRETI, 2002 p.31).

Caberá, portanto, ao tutor desenvolver condições que permitam o processo

de ensino-aprendizagem em uma relação de respeito que considera o aluno como

um sujeito ativo da construção do saber, na medida em que esse processo respeita

a liberdade, a democracia e o conhecimento; que deve ser um bem adquirido por

todos e legitimado por modelo de educação, que busque viabilizar e superar

obstáculos; e, nessa contrapartida, o tutor irá se estabelecer e viabilizar sua

contribuição para a modalidade a distância. Para Alonso (2009, p. 91), “[...] nesta

visão, o aluno não transfere, simplesmente, o saber que vem do mundo externo para

sua memória; ele constrói interpretações, com base em suas interações”.

Ao tutor caberá não apenas deter o conhecimento a ser ensinado, mas se faz

necessário que ele seja portador de conhecimentos, de técnicas e recursos

adequados, que possam auxiliar na gerência dos processos de ensino-

aprendizagem.

Um dos grandes desafios para o educador é ajudar a tornar a informação significativa, a escolher as informações verdadeiramente importantes entre

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tantas possibilidades, a compreendê-las de forma cada vez mais abrangente e profunda e a torná-las parte do nosso referencial. Aprendemos quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços, entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido (MORAN, 2000 p. 23).

Nesse sentido, é necessário observar a necessidade de uma perspectiva

educativa que esteja pautada em uma concepção consciente das contradições e da

insuficiência dos velhos conceitos; deve possibilitar a criação de novas e diferentes

condições, para que se iniciem processos construtivos que incorporem reflexões

acerca dos caminhos que possam contribuir para o desenvolvimento e o

conhecimento dos sujeitos envolvidos nos processos de ensino-aprendizagem da

educação a distância. É através da influência do outro, da ação do sujeito no

mundo, que ocorrem as modificações nas estruturas do pensamento do próprio

indivíduo, provocando, assim, transformações do conhecimento e do

desenvolvimento humano.

Meu bom senso me diz. Saber que devo respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prática, procurar a coerência com este saber, me leva inapelavelmente à criação de algumas virtudes ou qualidades sem as quais aquele saber vira inautêntico, palavreado vazio e inoperante. De nada serve a não ser para irritar o educando e desmoralizar o discurso hipócrita do educador, falar em democracia e liberdade, mas impor ao educando a vontade arrogante do mestre. (FREIRE, 1996, p.62).

Pensar o papel do tutor, portanto, é estabelecer uma interlocução entre o

aluno e o tutor, e as possibilidades dessa relação; nessa dinâmica, os processos de

diálogo e de troca podem permitir a construção de uma pedagogia fundamentada na

ética, no respeito à dignidade e na própria autonomia do educando. Para Demo

(2007, p. 32), “[...] o educador precisa saber descobrir o tipo de influência que, no

outro lado, não implique submissão, mas reação autônoma”. Esse papel, portanto,

deverá estar pautado não apenas no domínio do conteúdo, que é imprescindível

para o exercício desta função, mas também deverá estar aliado à necessidade do

dinamismo, da reflexão, da criticidade e da responsabilidade de estimular a busca de

conhecimentos e habilidades nos processos de ensino-aprendizagem. Conforme

Preti (1996, p.27), “[...] o tutor, respeitando a autonomia da aprendizagem de cada

cursista, estará constantemente orientando, dirigindo e supervisionando o processo

de ensino-aprendizagem” “[...] é por intermédio dele, também, que se garantirá a

efetivação do curso em todos os níveis”.

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O modelo a distância insere-se exatamente como uma proposta que oferece

uma série de possibilidades pedagógicas, diferentes recursos didáticos, tecnológicos

e de comunicação que podem favorecer o conhecimento e a aprendizagem do

estudante. E para que esse sistema de educação possa desenvolver suas

atribuições tão singulares de fazer educação e de democratizar o conhecimento, a

representatividade do tutor deverá se fazer presente e essencial, instituindo e

desafiando uma nova ordem educativa.

Dessa maneira, admite-se que todo sistema de educação a distância deverá

dispor de tutores, pois é este o profissional especializado que assiste e acompanha

o estudante em todas as disciplinas durante o curso.

Preti (2010), destaca que as instituições de educação a distância estabelecem

as figuras do “tutor presencial” e do “tutor a distância”, que demarcam funções

diferenciadas e não apenas de terminologia, sobretudo em relação à atuação e

dinâmica desenvolvidas na modalidade a distância.

Diante da perspectiva de que todo sistema de ensino a distância dispõe de

tutores, faz-se necessário obter informações sobre como se caracteriza esse papel,

não somente nas instituições brasileiras, mas também em algumas instituições

internacionais, a fim de que os referenciais apresentados permitam, de alguma

maneira, contribuir para a investigação pretendida nesta pesquisa sobre o papel do

tutor na educação a distância.

A tutoria na UNED, através da visão da professora e pesquisadora Catalina

Martinez Mediano, em seu livro: Os sistemas de educação superior a distância – A

prática tutorial na UNED (1998), contribuiu para as reflexões na delimitação do perfil

e da atuação do tutor nessa instituição.

Mediano (1998), relata que o papel do tutor é definido pela própria instituição

(UNED) em seu estatuto, atribuindo a esse profissional um papel de

assessoramento diretivo e sistematizado, na medida em que destaca, ainda, esse

sujeito como protagonista indispensável para a aprendizagem do estudante, “[...] a

primeira função do tutor demonstrada nos Estatutos é o de orientar o aluno em seus

estudos. E é esta a base de todo sistema” (MEDIANO, 1988, p.74).

Para Mediano (1998), a tutoria tem como função primordial ajudar os

estudantes em relação às suas dúvidas e dificuldades de aprendizagem, além de

garantir a compreensão do conteúdo trabalhado e a realização das atividades de

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estudo. Suas funções, portanto, consideram o ajudar, o orientar, o contribuir, além de

possibilitar ao estudante o entendimento do conteúdo didático e dos processos

pedagógicos que se desenrolam nessa modalidade, motivando e estimulando o

aluno no aprofundamento de seus estudos; isso acontece na medida em que avalia

e conhece a situação real de cada estudante, através do “material” produzido por

esses sujeitos e também dos encontros tutor-aluno que vão sendo realizados no

decorrer dos estudos.

A prática tutorial na UNED, de acordo com Mediano (1998), conta com tutores

presenciais e tutores a distância. Essa prática tutorial presencial é desenvolvida

através dos encontros semanais, com atendimento em grupo e, algumas vezes,

individualmente. A tutoria a distância, por sua vez, realiza-se através do atendimento

a partir de diferentes meios de comunicação, tais como: correio, correio eletrônico,

telefone, rádio, videoconferência, videotexto, em que o tutor e o estudante

encontram-se separados geograficamente.

Caberá, tanto ao tutor presencial, quanto ao tutor a distância, a tarefa de

avaliar os trabalhos realizados no decorrer do curso, como função apenas auto-

avaliativa para os estudantes, pois não influenciam no resultado final da avaliação,

cabendo aos professores da UNED a realização da avaliação final do estudante.

Nesse sentido, Pretti (2010), e Mediano (1998), reconhecem que essa

fragmentação no processo pedagógico de atuação do tutor pode afetar o

desenvolvimento de seu trabalho, na medida em que sua atuação estaria

prejudicada por uma visão tecnicista que viabilizaria apenas partes do processo.

Essa visão fragmentada prejudicaria, portanto, a atuação do tutor em suas funções

de orientação e mediação diante dos processos de ensino-aprendizagem que

envolvem a mediação e a comunicação da modalidade a distância.

Sem a pretensão, no entanto, de que essa crítica seja conclusiva, Preti

(2010), e Mediano (1998), concebem a UNED como uma instituição de excelência, e

que desenvolve um trabalho educacional para a expansão, organização e

investigação da educação a distância.

Destaca-se também como referencial internacional para essa pesquisa: a

universidade da Colômbia, UNAD – Universidade Aberta e a Distância.

A UNAD se destaca nos meios acadêmicos pelos processos formativos

estabelecidos e a inovação e qualidade com que são institucionalizados na

modalidade a distância. Através dos estudos realizados pela Profª.Drª. Edith

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González Bernal, quando relata os conceitos de tutor e tutoria assumidos pelo

modelo colombiano de educação a distância, têm-se novos parâmetros para se

fundamentar a realidade do papel do tutor na modalidade de EaD.

Para Bernal (2008), o conceito de tutor foi definido pelo ICFES – Instituto

Colombiano para el Fomento de la Educación Superior, e esse modelo sustenta a

atuação do tutor concebida pela UNAD. Essa definição parte do princípio de que

caberá ao tutor “[...] a ação de acompanhar o estudante em seu processo de

aprendizagem, concretamente na educação a distância” (BERNAL, 2008 p. 56).

Estabelecendo-se uma relação direta entre a origem do termo tutor, dir-se-á

que a definição estabelecida pelo ICFES nos remete ao entendimento original do

significado de tutor, em que caberia a ele o simples papel de orientador, aquele que

acompanha o estudante, ou seja, aquele que conduz o estudante pelas trilhas do

conhecimento.

Mas, também se pode conceber o termo tutor sob uma outra ótica; a que

contemple uma intenção de superação de seu significado, deixando de estar

atrelado às condições milenares do uso deste vocábulo.

[...] se concebermos o tutor a partir de um aspecto mais criativo, como aquele que olha, observa, contempla e, ao mesmo tempo, vigia, cuida, defende e protege, estaremos diante de um tutor que desenvolve habilidades e competências para acompanhar um estudante que necessita de sua atenção. (BERNAL. 2008 p. 58).

Essa apreciação proporciona uma nova reflexão diante do termo tutor, em que

se estabelece um processo em que ele passa a ser visto como um orientador capaz

de mediar valores e princípios que respeitam e possibilitam o crescimento e a

aprendizagem individual de cada estudante.

A UNAD, em seu percurso, vivencia essas duas visões do termo tutor. Para

Bernal (2008), a primeira etapa dos trabalhos desenvolvidos por tutores naquela

universidade remete ao papel do tutor treinado e capacitado para atuar como um

agente educativo que promove e favorece os processos de aprendizagem dos

estudantes.

Nessa primeira fase do trabalho do tutor na UNAD, Bernal (2008), ressalta

que esse profissional distingue-se em dois tipos: o pedagógico e o acadêmico. O

tutor pedagógico é aquele que conhece a filosofia e a metodologia da educação a

distância, além dos princípios, objetivos, estrutura, didática e conteúdos que dizem 62

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respeito aos programas das universidades aberta e a distância. Já o tutor

acadêmico, além de exercer o papel de tutor pedagógico, participa e planeja os

processos de pesquisa, seleção e capacitação que objetivam a formação, o

treinamento e a avaliação dos tutores pedagógicos.

Para Bernal (2008), essa fase formaliza a figura do tutor como orientador do

processo acadêmico dos estudantes, cumprindo a função de motivar, acompanhar e

assessorar os alunos individual e coletivamente. Esse profissional, nessa fase, ainda

é mantido distante dos processos de seleção de conteúdos e desenvolvimento de

materiais para a educação a distância, sendo essa função atribuída aos docentes.

Essa concepção revela um tutor que não necessita pensar nos conteúdos de

uma disciplina e nem na seleção de conteúdos essenciais a serem ensinados, ou

seja, não participa, de acordo com Bernal (2008), dos processos pedagógicos e

didáticos de ensinar a distância. Limita-se apenas a motivar e a corrigir avaliações

pré-estabelecidas, convertendo-se, assim, em conselheiro que pode prevenir

deserções e/ou emitir juízo acerca da aprendizagem dos estudantes.

Na medida em que o mundo passa por mudanças e o desafio da educação

passa a ser o de construir uma sociedade democrática com princípios de igualdade

e oportunidade para todos os cidadãos, a educação a distância necessitou rever o

seu papel. E, diante desta nova visão, o papel do tutor necessitava ser revisto pela

UNAD.

Para Bernal (2008), o século XX e XXI situam a educação a distância em um

novo tempo; tempo esse que abre novas oportunidades educativas influenciadas por

componentes pedagógicos e tecnológicos e que situa o tutor como mediador dos

processos de ensino-aprendizagem.

[...] inclina-se pela capacitação do tutor para a revolução tecnológica, a virtualidade, o manejo das redes globais de comunicação telemática e a preparação para a sobrevivência em uma sociedade dominada pela economia global. Ao mesmo tempo, deseja-se que ele se forme paulatinamente para liderar projetos de pesquisa que o convertam em um interlocutor válido nas inovações educativas. (BERNAL, 2008 p. 71).

Esse processo de requalificação do papel do tutor na UNAD, de acordo com

Bernal (2008), encontra-se em processo de construção e superação e, diante da

nova ordem social, política e científico-tecnológica do mundo, o tutor, além de

orientar, ensinar, aprender e transmitir conhecimentos, é desafiado a mediar e

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assumir diferentes processos tecnológicos, que imprimem a construção de uma

nova cultura e múltiplas competências inerentes.

As considerações descritas sobre a figura do tutor na educação a distância no

âmbito internacional, até este momento, nos permitem considerar que esse processo

de caracterização não se encontra pré-determinado. Persiste a necessidade de

investigação e entendimento dos processos que determinam o papel desse

protagonista no sistema a distância.

No Brasil, a realidade, no que no que se refere à educação a distância, seus

elementos e características, parece indicar, também, a necessidade de

investigações e reflexões. Nesse caso toma-se como base de investigação o papel

do tutor descrito nos Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância

(BRASIL, 2007), que não possui força de lei, mas procura apontar caminhos que

sirvam de orientação para as instituições que atuam com esse modelo educacional.

Esse documento é um ponto de referência que regulamenta o papel do tutor

na modalidade a distância. Para Os Referenciais de Qualidade para Educação

Superior a Distância - MEC (BRASIL, 2007, p. 21), o tutor “é compreendido como um

dos sujeitos que participa ativamente da prática pedagógica, sendo que suas

atividades podem ser desenvolvidas a distância e/ou presencialmente, devendo

estar a cargo da instituição mantenedora estabelecer e prever estes papéis”.

Estabelece-se, ainda de acordo com os Referenciais de Qualidade da

Educação Superior a Distância (BRASIL, 2007, p. 21), “[...] que a tutoria a distância

deverá atuar no processo pedagógico com os estudantes que se encontram

geograficamente distantes, e referenciados aos pólos descentralizados de apoio

presencial”. Cabe também a esse tutor a distância, segundo os Referenciais

(BRASIL, 2007), o papel de intervir nos processos cognitivos do estudante,

ajudando-o a superar dificuldades de aprendizagem, auxiliando-o na elaboração de

guias de estudo e nas avaliações.

Será ainda de sua competência, de acordo com o texto dos Referenciais de

Qualidade (BRASIL, 2007), a intervenção e o esclarecimento de dúvidas dos

estudantes através de fóruns de discussão pela Internet, pelo telefone, participação

em videoconferências, entre outros, de acordo com o projeto pedagógico da

instituição; “[...] além da responsabilidade de promover espaços de construção

coletiva de conhecimento, selecionar material de apoio e sustentação teórica aos

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conteúdos e, frequentemente, faz parte de suas atribuições participar dos processos

avaliativos de ensino-aprendizagem, junto com os docentes” (BRASIL, 2007, p.21).

No que se refere à caracterização desse profissional que atua como tutor

presencial, o documento, Referenciais de Qualidade da Educação Superior a

Distância (BRASIL, 2007, p. 21-22), considera que a tutoria presencial “[...] deverá

atender os estudantes em lugares e horários pré-estabelecidos (pólos), sendo este o

responsável pelo acompanhamento junto aos estudantes, atuando como um

orientador de estudo que aguça a curiosidade, esclarece dúvidas e dá apoio e

incentivo nos momentos de desânimo e dificuldade”.

O papel desse tutor presencial reflete na “[...] promoção da comunicação

entre os alunos através da formação de grupos de estudo, do debate e da troca de

idéias” (BRASIL, 2007, p. 22). Esse profissional deve conhecer o projeto pedagógico

do curso, o material didático e os conteúdos específicos que são de sua

responsabilidade, auxiliando os estudantes no desenvolvimento de suas atividades

individuais e em grupo, oportunizando o hábito da pesquisa, esclarecendo dúvidas

em relação a conteúdos específicos, bem como ao uso das tecnologias disponíveis,

segundo os Referenciais de Qualidade (BRASIL, 2007).

Com base no exposto, a tutoria compreende a interação entre tutor e o aluno. Compete, então, ao tutor apoiar o estudante nas escolhas profissionais, ajudá-lo na organização dos planos de estudo e de trabalho em sua totalidade, assim como realizar um seguimento de seu processo de formação e socialização de conhecimentos. De igual maneira, o tutor propiciará a produção de novos saberes a partir da investigação e do fortalecimento das áreas em suas unidades acadêmicas ou nos programas nos quais está inscrito. (BERNAL, 2008 p.60-61).

Ao tutor caberá, ainda, (BRASIL, 2007, p. 22), “[...] participar dos encontros

presenciais, tais como avaliações, aulas práticas em laboratórios e estágios

supervisionados, quando se aplicam, mantendo uma permanente comunicação tanto

com os estudantes quanto com a equipe pedagógica do curso”.

Tutores a distância e presenciais, portanto, são parceiros e deverão trabalhar

em colaboração mútua, estabelecendo elementos facilitadores da aprendizagem do

estudante que reflitam um objetivo comum: apoiar e ajudar o aluno na construção da

autonomia e do conhecimento.

Nesse sentido, na busca de referenciais que possam colaborar para delimitar

o perfil do tutor na educação a distância, destaca-se também, no cenário nacional, o

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trabalho realizado pela UAB – Universidade Aberta do Brasil, criada pelo MEC para

atender à demanda por essa modalidade de ensino e ampliar o acesso à educação

superior às pessoas que não puderam ou não tiveram acesso a esse nível escolar.

Esse consórcio conta com a assessoria da CAPES – Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior que lhe confere apoio a pesquisas

em metodologias inovadoras de ensino superior, respaldadas em tecnologias de

informação e comunicação.

A UAB formou-se da necessidade de expansão do ensino superior no Brasil e

esse desafio lhe confere uma condição diferenciada, na medida em que o panorama

resulta em novas experimentações tecnológicas aliadas à qualidade e ao

conhecimento para atender a demanda educacional da sociedade brasileira.

[...] como se pode observar, trata-se de um projeto de grande envergadura e que se torna, de acordo com as pretensões governamentais, decisivo para que seja a atingida a meta de que 30% dos estudantes brasileiros tenham acesso à formação superior até o ano de 2011. É notória a importância do aumento do índice de estudantes universitários em um país, sobretudo quando se considera o real significado do processo educacional/formativo universitário e seus desdobramentos na produção do conhecimento tecnológico. Em meio à miríade de políticas educacionais patrocinadas pelo governo brasileiro, as quais se coadunam no objetivo de que seja arrefecida nossa defasagem universitária em relação a outros países, o programa Universidade Aberta do Brasil se diferencia não só pelos consórcios estabelecidos entre os três níveis governamentais, mas principalmente por se caracterizar como um programa de formação universitária na modalidade de educação a distância (EaD) (ZUIN, 2006, p.944).

Para Mendes (2009), a UAB objetiva promover e ampliar o número de vagas

no ensino superior a distância e, para tanto, a proposta deve contar com recursos e

métodos que estimulem, viabilizem e promovam a autogestão do estudante na

educação a distância.

Nessa direção, a tecnologia é apresentada como ferramenta que possibilita a

expansão do número de vagas no ensino superior a distância, ao mesmo tempo em

que diminui as distâncias geográficas. Esses recursos tecnológicos são

apresentados por meio das TICs - Tecnologias da Informação e da Comunicação

que possibilitam o acesso ao conhecimento e ao diálogo por pessoas que estão

geograficamente distantes, em tempos e espaços diferenciados.

Considerando a importância da tecnologia para a viabilização do programa da

UAB, Mendes (2009), identifica a relevância do papel do tutor no projeto que

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relaciona esse profissional com as múltiplas funções dos processos pedagógicos,

educacionais e tecnológicos.

Para Mendes (2009), o tutor que atua na UAB pode ser de dois tipos: tutor a

distância ou tutor presencial.

O tutor presencial, de acordo com Mendes (2009), no modelo estabelecido

pela UAB, possui a função de desenvolver atendimento direto aos alunos,

procurando sempre manter contato permanente com os discentes,

esclarecendo dúvidas, dando suporte para a teoria e as práticas, além de auxílio nos

aspectos acadêmico-administrativos e tecnológicos, cabendo ainda a motivação, a

orientação e acompanhamento ao acesso e ao cumprimento das atividades do aluno

no ambiente de aprendizagem do curso. Além dessas, tem a função de intermediar a

comunicação aluno-universidade e vice-versa.

Ao tutor a distância, da proposta da UAB, cabe, segundo Mendes (2009), a

função de atuar sobre os processos de ensino-aprendizagem dos alunos no

ambiente virtual de aprendizagem “moodle”, interagindo virtualmente com o aluno

em diversas oportunidades de comunicação, a fim de motivá-lo e ajudá-lo, facilitando

suas atividades. Ainda, de acordo com Mendes (2009), os tutores a distância que

atuam na UAB são professores com formação na área de conhecimento da

disciplina ofertada.

Dessa forma, o papel do tutor no sistema da UAB procura acompanhar,

monitorar, orientar e avaliar os percursos dos estudantes em seu processo de

formação ao longo das disciplinas. Para Preti (1996), o tutor deve mediar a

aprendizagem e a autonomia do aluno, sendo ele o responsável pela supervisão e

orientação do processo de ensino-aprendizagem do aluno.

No anseio de buscar soluções para o problema da educação no Brasil, Zuin

(2006), destaca que o programa lançado pela UAB deve ter o cuidado de não

incrementar apenas os índices do ensino universitário brasileiro, mas realmente

lançar propostas e condições para mudar a realidade da educação superior no

Brasil. Para esse pesquisador, o papel dos tutores, sejam presenciais ou a distância

na UAB, deverá sempre privilegiar uma proposta consciente e criativa de atuação

pedagógica.

O tutor não pode simplesmente absorver os conhecimentos transmitidos pelos professores, quer seja nos encontros presenciais esporádicos entre ambos, quer seja no sortilégio que as imagens de tais mestres ‘virtuais’

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possam exercer. Ele deve se permitir, cada vez mais, ousar saber, o que implica não a aceitação passiva dos conhecimentos obtidos, mas sim o questionamento destes mesmos conhecimentos (ZUIN, 2006 p.949).

Nesse sentido, a atuação do tutor, sua formação, conhecimentos e

expectativas irão colaborar para aprimorar os processos de ensino-aprendizagem.

Para Martins (2005, p. 54), “[...] é imprescindível a todos os profissionais de

educação que irão assumir projetos de EAD a necessidade de fazer uma opção por

um quadro de referências acerca das concepções de aprendizagem a fim de

subsidiar sua ação pedagógica”.

Então, a compreensão das concepções de ensino-aprendizagem na

Educação a Distância será apenas mais um dos desafios significativos para o tutor,

que irá se deparar com a preocupação de educar para a vida e não apenas ensinar.

Para Moran (2000), ensinar é uma condição que se organiza socialmente

(normas, tradições, leis) através de uma série de atividades didáticas, que

compreendem ajudar os alunos em determinadas áreas específicas (ciências,

matemática, história). E no que tange à preocupação com a educação, o foco

encontra-se em “[...] ajudar a integrar todas as dimensões da vida, a encontrar nosso

caminho intelectual, emocional, profissional, que nos realize e que contribua para

modificar a sociedade que temos” (MORAN, 2000, p. 12).

Por meio da perspectiva de Moran (2000), o papel do tutor propicia ao aluno

uma relação pedagógica capaz de promover o prazer pelo estudo e a motivação do

estudante. O tutor, nessa vertente, propõe-se a contribuir para a construção do

conhecimento na perspectiva das oportunidades, do crescimento e do

desenvolvimento pessoal e profissional de cada aluno, realizado por meio da

comunicação e da relação tutor-aluno.

Para Martins (2005), o papel do tutor destaca-se como “imprescindível”,

sendo depositado neste profissional o crédito de mediador dos processos de

aprendizagem. Cabe a esse protagonista o papel de acompanhar os alunos,

observar, assessorar, sendo ele um facilitador que ajuda o estudante a

compreender; agindo como um suporte ao aprendizado dele, atuando tanto no

campo motivacional, afetivo, quanto no cognitivo, através de método de trabalho,

organização e planejamento.

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Não se pode esquecer que, além destas exigências múltiplas, o tutor irá se

deparar com a didática e as ferramentas metodológicas diferenciadas do sistema

presencial que requerem desse profissional um novo posicionamento frente à cultura

virtual hoje estabelecida. Para Maggio (2001), cabe ao tutor a função de orientador

dos processos de ensino-aprendizagem na relação tutor-aluno, propondo atividades

e auxiliando na resolução destas, além de estimular e sugerir ao aluno fontes

adicionais de informação. Incorpora-se a essa compreensão o entendimento de

Litwin (2001, p.104), que aponta a necessidade de uma “[...] formação teórica,

disciplinar e pedagógico-didática que deverá ser atualizada com a formação na

prática dos espaços tutoriais, aspecto que não deve ser deixado ao acaso”.

Essas exigências e desafios sobre o papel do tutor na modalidade a distância

destacam-se nessa investigação como uma perspectiva que confere ao

protagonista, o tutor, a figura de mediador dos processos de aprendizagem, “[...]

processos estes tidos como uma atividade inerentemente social, na qual o diálogo

cooperativo permite que os participantes experimentem similaridades e diferenças

entre vários pontos de vista” (FILANTRO, 2009, p. 98). Portanto, o tutor, diante das

perspectivas apontadas, deve estar amparado sob uma ótica que possibilite a

formação humana, a responsabilidade e o respeito aos limites do outro, na medida

em que os desafios possam ser transformados em trocas e conquistas de novos

saberes.

Defende-se neste trabalho uma perspectiva histórico-cultural de mediação

como condição que oportuniza a troca e a reflexão para o desenvolvimento da

autonomia intelectual do aluno, elemento fundamental do processo pedagógico da

educação a distância.

Nesse ponto busca-se a compreensão do papel do tutor na modalidade a

distância a partir da perspectiva vygotskyana e que se o entenda como “[...] dotado

de conhecimento científico e espírito humanizador no que se dispõe a mediar e

busca promover autonomia e realização humana, cumprindo em sua função social

de educador-professor, o seu papel de cidadania, ou seja, como dever de todos

profissionais colaboradores sociais” (MENEGUETTI, 2009, p.10).

É importante destacar os trabalhos desenvolvidos pelas universidades da

UNED (Universidade Nacional de Educação a Distância – Espanha), UNAD

(Universidade Aberta e a Distância – Colômbia) e da UAB (Universidade Aberta do

Brasil) por seu entendimento diferenciado do papel do tutor. Essas instituições estão

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comprometidas com programas de educação superior a distância que destacam o

trabalho do tutor na modalidade a distância como um dos importantes protagonistas

dessa modalidade.

A contribuição dessas universidades, portanto, não se configura apenas em

propiciar educação superior para todos com qualidade e democracia, mas se faz por

meio de uma iniciativa ímpar de compartilhar experiências e conhecimentos

comprometidos com as transformações sociais, educacionais e tecnológicas de toda

uma sociedade. E assim possibilitar diferentes perspectivas, que possam se interpor

e complementar novos caminhos que caracterizem o papel do tutor na modalidade a

distância.

O capítulo a seguir busca caracterizar o papel do tutor por meio de uma

perspectiva histórico-cultural, procurando discutir o seu papel como mediador do

conhecimento na modalidade a distância.

5. MEDIACÃO PEDAGÓGICA E A PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL

[...] deixe inteiramente a condição de estojo e desenvolva todos os aspectos que respiram dinamismo e vida. Em todo trabalho docente do velho tipo formavam-se

forçosamente um certo bolor e ranço, como em água parada e estagnada. E aqui de nada servia a costumeira doutrina segundo a qual o mestre tem uma missão

sagrada e consciência de seus objetivos ideais. Vygotsky

A Educação a Distância é percebida na sociedade de hoje como uma

modalidade capaz e importante que viabiliza a democratização do saber, a expansão

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e a difusão do conhecimento. Essa modalidade, afirma Litwin (2001), possui um

papel significativo na educação pública na medida em que permite a ampliação da

oferta de vagas para atender às necessidades de qualificação e re-qualificação da

população.

Nesse cenário discute-se a importância do papel do tutor como mediador do

processo de ensino-aprendizagem na educação a distância, na medida em que ela

se estabelece tanto por meio da relação presencial (tutor presencial), quanto pelo

uso de tecnologias de comunicação, na relação virtual (tutor a distância). Conforme

Martins (2005 p. 33), “[...] o papel do tutor é despertar no aluno o desejo de

aprender”.

Esse despertar do “desejo” de aprender é alimentado por uma relação

pedagógica, na qual o tutor tem o papel didático-pedagógico de acompanhar,

motivar, orientar e estimular o aprendizado do aluno. Cabe, ainda, a esse

protagonista o papel de apoio ao trabalho docente, esclarecendo dúvidas e

gerenciando atividades. A figura do tutor na modalidade a distância, de acordo com

Bentes (2009), deve oferecer um caminho que viabilize e incentive a autonomia do

estudante e dos processos de aprendizagem, favorecendo a comunicação e a

mediação do conhecimento.

O tutor. Pois, é esta figura quem lida diretamente com o estudante, seja para prestar esclarecimentos administrativos, seja no processo de ensino e aprendizagem, na avaliação do processo formativo do estudante ou simplesmente na monitoria das atividades dos estudantes e, por isso, é considerado o “fator humanizador” do sistema de ensino na modalidade a distância (OLIVEIRA, 2006, p.02).

Essa concepção é defendida também por Preti (1996), que complementa que

o papel do tutor deve respeitar e orientar a individualidade da aprendizagem e da

autonomia de cada indivíduo, estabelecendo e buscando processos que permitam

compartilhar a construção do conhecimento.

As considerações de Preti (1996), Oliveira (2006), Bentes (2009), e Martins

(2005), destacam, portanto, o tutor como mediador do conhecimento. Por essa

razão, da dimensão de “mediador”, busca-se na perspectiva histórico-cultural de

Vygotsky o referencial que possibilite compreender o papel do tutor na educação a

distância.

A perspectiva histórico-cultural de Vygotsky (2001), e de seus colaboradores

Luria (2001), e Leontiev (2001), tem como foco a “dimensão psicológica do ser

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humano” que busca compreender o homem por meio de sua condição histórica, do

lugar que ocupa nesse contexto, bem como do que ele significa e de como é

significado pelos demais sujeitos com os quais se relaciona o que se configura em

expressão não de um sujeito em si, mas da própria história humana.

Assim, considera-se que a tutoria privilegia os processos da mediação, cerne

da teoria de Vygotsky, que percebe o desenvolvimento cognitivo, especificamente

humano, por meio das formas de interação social e cultural.

[...] não pode existir nem na natureza, nem na sociedade, nenhum objeto que neste sentido [...] não seja mediado, não seja resultado de mediações. Desse ponto de vista a mediação é uma categoria objetiva, ontológica, que tem que estar presente em qualquer realidade, independente do sujeito (LUKÁCS, 1979, p. 90).

Para Rego (2009), a aprendizagem vista sob a ótica da perspectiva histórico-

cultural de Vygotsky é um processo de construção determinado por condições

socioculturais e históricas, na medida em que a ação do outro sobre cada sujeito

que aprende é fundamental, não só como incentivadora, mas como uma ponte

indispensável entre este e a realidade.

Stoltz (2007), em suas reflexões sobre a teoria vygotskiana aponta essa

perspectiva como instrumental, histórica e cultural. É instrumental, por se referir à

natureza mediada pelas funções psicológica superiores2, é histórica e cultural por

propor a compreensão do ser humano inserido em uma cultura determinada, com

suas ferramentas inventadas e aperfeiçoadas no curso da história social da

humanidade.

Assim, delimita-se, a partir dessa teoria, a relação tutor-aluno, que deve se

estabelecer a partir das características socioculturais e individuais da realidade do

próprio aluno, propiciando o sentimento de pertença como aspecto fundamental para

que o estudante supere as possíveis dificuldades quanto aos processos de

aprendizagem, conhecimento e autonomia.

Vygotsky (1996), destaca em seus estudos que a aprendizagem se realiza por

diferentes níveis de desenvolvimento, tanto real quanto potencial, devendo, em

22 Funções psicológicas superiores ou funções superiores da consciência são estruturas cerebrais tipicamente humanas: memória seletiva, pensamento abstrato, atenção concentrada, vivência emocional e intencionalidade da ação.

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situação de interação3 possibilitar que cada um seja agente de aprendizagem do

outro. Se, em um momento, o aluno aprende, em outro, ele ensina, pois o

desenvolvimento não é linear; é dinâmico e sofre modificações qualitativas.

Ao ser estimulado pela realidade objetiva, ele se apropria dos estímulos provenientes da mesma, internalizando conceitos, valores, significados, enfim, o conhecimento construído pelos homens ao longo da história. Neste sentido, a prática do sujeito está sempre relacionada à prática social acumulada historicamente (MEIER; GARCIA, 2007, p.56).

Nesse caso, o mediador, deve estar atento, de modo a que todos se

apropriem do conhecimento e, conseqüentemente, alcancem as funções superiores

da consciência, pois é a aprendizagem que vai determinar o desenvolvimento. O

mediador, portanto, atua na zona de desenvolvimento proximal do sujeito em que,

por meio de intervenções intencionais, possibilita a aquisição dos conhecimentos

sistematizados.

Vygotsky (1988), e seus colaboradores Luria e Leontiev apontam dois

elementos básicos responsáveis pela mediação4: o instrumento, que tem a função

de regular as ações sobre os objetos, e o signo, que regula as ações sobre o

psiquismo das pessoas. Nesse caso, o instrumento é o objeto em si (a mamadeira, o

lápis...) e o signo é a representação social desse objeto. Essa capacidade de

mediação simbólica representa um novo comportamento, que envolve as atividades

denominadas funções psicológicas superiores, em que o indivíduo deixa de

necessitar de marcas externas e passa a utilizar signos internos, isto é,

representações mentais que substituem os objetos do mundo real.

Já o processo de internalização, para Vygotsky (1996), tem início por meio

dos processos sociais que se transformam em processos internos, interiores do

sujeito, e, por meio da linguagem5, chega-se ao pensamento. Esse processo,

segundo Rego (2009), não é o de uma transferência (ou cópia) dos conteúdos da

realidade objetiva para o interior da consciência, mas é o próprio processo criador da

33 Processo fundamental para a interiorização do conhecimento e ou transformação dos conceitos espontâneos em científicos, por meio do processo de tornar intrapsíquico o que antes era inter-psíquico.

44 O conceito de mediação está no cerne de todas as ações intencionais e voluntárias do ser humano.

55 A linguagem tem um papel importante na teoria de Vygotsky sobre a formação da consciência, compreendida na relação de síntese entre organismo e ambiente.

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consciência, que ocorre a partir da atividade do sujeito, com a ajuda de instrumentos

socioculturais, que são os conteúdos externos, da realidade objetiva.

O processo pelo qual o indivíduo internaliza a matéria-prima fornecida pela cultura não é, pois, um processo de absorção passiva, mas de transformação, de síntese. Esse processo é, para Vygotsky, um dos principais mecanismos a serem compreendidos no estudo do ser humano. É como se, ao longo de seu desenvolvimento, o indivíduo “tomasse pose” das formas de comportamento fornecidas pela cultura, num processo em que as atividades externas e as funções interpessoais transformam-se em atividades internas, intrapsicológicas (OLIVEIRA, 1997, p.38).

Segundo Vygotsky (1984), é por conta da necessidade de comunicação entre

seus semelhantes que o homem cria e utiliza a linguagem. Nesse sentido, o

intercâmbio social é a principal função da linguagem em uma sociedade que de

acordo com Lane (1997, p.34) “[...] a palavra, a língua, a cultura relacionam-se com

a realidade, com a própria vida e com os motivos de cada indivíduo”.

Portanto, na concepção de Vygotsky (1984), ampliada por seus colaboradores

Luria (2001) e Leontiev (2001), o aprendizado da linguagem escrita representa um

novo e considerável salto no desenvolvimento da pessoa, na medida em que o

domínio do sistema complexo de signos fornece novos instrumentos de pensamento

e amplia a capacidade de memória e registro de informações do sujeito, “[...] enfim,

promove modos diferentes e ainda mais abstratos de as pessoas se relacionarem

com outras e com o conhecimento” (VYGOTSKY, 1994, p.143).

Para Vygotsky (1994), a educação tem como objetivo intervir na realidade do

aluno e, a partir da apropriação de novos conceitos, possibilita uma nova

compreensão dessa mesma realidade. Cabe à escola, portanto, possibilitar uma

outra forma de entender a realidade que nos rodeia.

A escola, nesse sentido, é compreendida por Castorina (1995), como aquela

que se organiza diferentemente do aprendizado realizado em outros contextos da

vida humana; que tem como objetivo principal a produção de um trabalho planejado,

sistematizado e intencional, que permite ao indivíduo desenvolver a consciência e a

apropriação do saber historicamente construído pela sociedade.

A escola aparece como elemento mediador na apropriação, pelo indivíduo, do saber historicamente acumulado ao longo do desenvolvimento da humanidade. Nessa perspectiva teórica, assume um papel primordial, pois ‘a instituição escolar foi criada para desempenhar uma função: a de comunicar às novas gerações os saberes socialmente produzidos, aqueles

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que são considerados, em um determinado momento histórico, válidos e relevantes’ (LERNER, 1996, p. 95 apud CORREIA E LIMA, 2001, p.559).

Nesse processo dinâmico, ativo e singular, Martins (2010, p.135), entende

que “[...] fundamentar a educação no sujeito que aprende é condição básica para a

construção de uma nova cultura sobre o ato educativo”. Esse raciocínio constitui-se

da aprendizagem das situações específicas da vida social e cultural que levam ao

desenvolvimento. Para Vygotsky (1998), a aprendizagem explica o desenvolvimento,

e é nesse contexto da aprendizagem que se iniciam as regulações que as outras

pessoas exercem sobre nós.

O homem aprende desde o momento de seu nascimento. E essa

aprendizagem ocorre mediante as trocas recíprocas que realiza com o meio e com o

outro, pois é só através das trocas que o homem se transforma e intervém no mundo

que o cerca, “[...] nesse sentido, as características de cada indivíduo vão sendo

formadas a partir das inúmeras e constantes interações do indivíduo com o meio,

compreendido como contexto físico e social, que inclui as dimensões interpessoal e

cultural” (MARTINS, 2010, p. 55).

A educação a distância, enquanto fenômeno educativo imerso nesse contexto sócio-histórico poderá contribuir para construir um processo educativo de formação ou até de alienação e de desalienação com vistas a conceber uma visão civilizatória que promova a humanidade, garantindo a democratização e o acesso aos bens materiais e culturais edificados pelos conjuntos das populações ( MARTINS, 2005, p. 18).

Essa concepção de educar, segundo Oliveira (1997), possibilita o acesso a

conhecimentos e instrumentos que permitem a inserção consciente do indivíduo na

sociedade, na medida em que este a compreende e passa a modificá-la. A prática

educativa, nesse sentido pode ser entendida como atividade por meio da teoria de

Leontiev (teoria da atividade) que considera o conjunto de ações destinadas a criar

oportunidades de aprendizagem.

A escola, portanto, é um ambiente organizado para promover essas

oportunidades de aprendizagem e que se constitui de forma única na medida em

que é socialmente construído por alunos, professores e tutores, através das

interações estabelecidas entre si (fontes materiais e simbólicas do ambiente).

Castorina (1995), no entanto, adverte que a aprendizagem depende do

comprometimento do estudante com a realização das atividades, do seu interesse

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no que está sendo feito, do motivo que o impulsiona a participar e até mesmo do que

ele espera ao passar por aquele processo.

Dessa maneira Lampreia (1999), considerando as reflexões de Leontiev

destaca a necessidade de que toda atividade deve se constituir de uma razão, de

um motivo para que a ela aconteça. Toda atividade, portanto, está intrinsecamente

ligada a um motivo, e essa necessidade cria a atividade, que acontece através de

ações, cada uma com seu objetivo próprio.

Assim, para Lampreia (1999), o sujeito busca na situação em que ele se

encontra todos os pré-requisitos para que a atividade aconteça. Ele pode não ter

consciência da necessidade que o leva a realizar determinada ação, mas é

necessário que ele seja consciente do objetivo dela, “[...] a sociedade produz a

atividade que forma seus indivíduos” (LEONTIEV, 1981, p. 67 apud PONTELO e

MOREIRA, 2008, p.04).

Esse conjunto de ações destinadas a criar oportunidades de aprendizagem,

destaca Castorina (1995), possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento do nível

potencial do indivíduo. Esse desenvolvimento potencial é situado por Luria (1991)

pelo conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, que se configura como: “[...] a

distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através

da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,

determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em

colaboração com companheiros mais capazes” (VYGOTSKY, 1994, p.112).

A discussão de Vygotsky (1994), sobre as ZDPs pressupõe o papel de um

mediador do conhecimento, que não deve ser entendido como um supervisor ou um

simples organizador de conteúdos e/ou espaços, mas de um protagonista

responsável pelo que o aluno vai aprender e se ele vai aprender. Para Stoltz (2008)

é a figura do docente que principalmente contribui para avanços nos alunos, e isso

só se torna possível por meio de sua interferência na zona proximal do discente.

Vygotsky superou a comparação do trabalho do professor com a atividade realizada pelo jardineiro ou como simplesmente organizador do meio social, como apregoam a Escola Nova e o Construtivismo, no qual a própria criança se auto-educa. Nos estudos posteriores desenvolvidos na escola de Vygotsky fica evidente que a transmissão e apropriação da experiência sócio-histórica tornam-se fundamentais para o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, ou seja, para o próprio processo de humanização dos indivíduos, residindo aí, o grande e importante trabalho a ser realizado pelo professor na sala de aula. (FACCI, 2009, p.102).

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Cabe, então, a esse docente, o importante papel capaz de ampliar as

possibilidades de conhecimento do aluno, à medida que considera necessária a

articulação dos conceitos espontâneos (conhecimentos prévios) com os

conhecimentos que se deseja levar o aluno a construir (conhecimentos científicos),

privilegiando, assim, as diferentes ZDPs. A idéia de desenvolvimento dos processos

psicológicos a partir da atividade e da linguagem no contexto histórico-cultural está

intrinsicamente relacionada com a apropriação dos conceitos científicos, que

possibilitam ao indivíduo conhecer a sua realidade de forma crítica, desviando-se

das amarras da alienação.

A Zona de Desenvolvimento Proximal, portanto, refere-se ao caminho que o

indivíduo percorrerá para desenvolver funções que estão em processo de

amadurecimento e que, no futuro, se tornarão funções consolidadas no seu nível de

desenvolvimento real. Para Luria (1991), a ZDP é um domínio psicológico em

constante transformação, ou seja, um processo de aprendizagem que desperta os

processos de desenvolvimento que, aos poucos, tornam-se parte das funções

psicológicas consolidadas do indivíduo; “[...] é, portanto na relação dialética com o

mundo que o sujeito se constitui e se liberta” (REGO, 2009, P. 94).

De fato, Vygotsky (1994), possibilita ao ensino, por meio das Zonas de

Desenvolvimento Proximal, uma nova dimensão para o aprendizado que se adianta

ao desenvolvimento, na medida em que se pode estimular uma série de processos

internos que ainda não se encontram amadurecidos. Possibilita-se ao docente um

instrumento significativo para a orientação de seu trabalho. O trabalho desenvolvido

na dimensão das ZDPs permite uma relação direta com o entendimento do caráter

social do desenvolvimento humano e das situações de ensino escolar, levando-se

em conta as mediações histórico-culturais possíveis nesse contexto. Para Castorina

(1995), partindo da visão de Vygotsky, é importante que o estudante possa contar

com a orientação e a ajuda de outro indivíduo que esteja mais adiantado que ele,

estabelecendo-se, assim, uma relação capaz de construir e estabelecer novas

capacidades e habilidades potenciais.

Essas capacidades e habilidades, para Rego (2009), uma vez que são

internalizadas, tornam-se parte das conquistas independentes do indivíduo. O

trabalho do tutor, nesse sentido, voltado para a “exploração” das ZDPs e para a

construção de conhecimentos, irá possibilitar o entendimento e a atuação desse

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protagonista na complexidade do processo de construção do aluno, que envolve as

múltiplas influências sociais e do mundo, ou seja, a mediação escolar e as relações

com o outro.

Na perspectiva vygotskyana, embora os conceitos não sejam assimilados prontos, o ensino escolar desempenha um papel importante na formação de conceitos de um modo geral e dos científicos em particular. A escola propicia às crianças um conhecimento sistemático sobre os aspectos que não estão associados ao seu campo de visão ou vivência direta (como no caso dos conceitos espontâneos). Possibilita que o indivíduo tenha acesso ao conhecimento científico construído e acumulado pela humanidade. Por envolver operações que exigem consciência e controle deliberado, permite ainda que as crianças se conscientizem dos seus próprios processos mentais (processo metacognitivo) (REGO, 2009, p. 79).

Rego (2009), ressalta ainda, que a escola é importante meio de mediação

para o desenvolvimento do indivíduo, seja este uma criança, um adolescente ou um

adulto, salientando, no processo educativo, o papel do docente.

Para Castorina (1995), através desses processos de troca entre docente-

discente, ocorre a construção do conhecimento, que se realiza de forma conjunta.

Esses processos devem ser olhados não como momentos de ações isoladas, mas

como momentos convergentes entre si, em que todo o desencadear das trocas

colabora para que se alcancem os objetivos traçados e planejados pelo sistema

educativo.

Rego (2009), no entanto, alerta para o fato de que essas relações que

ocorrem no âmbito educativo nem sempre são produtivas.

O ensino direto de conceitos é impossível e infrutífero. Um professor que tenta fazer isso geralmente não obtém qualquer resultado, exceto o verbalismo vazio, uma repetição de palavras pela criança, semelhante à de um papagaio, que simula um conhecimento dos conceitos correspondentes, mas que na realidade oculta um vácuo. (VYGOTSKY, 1987 apud REGO, 2005 p. 78).

A mediação, na visão de Vygotsky (1994), contrapõe-se a esse verbalismo

vazio exposto na citação de Rego (2005), pois diante da perspectiva sócio-

interacionista percebe-se uma outra dinâmica, em que a ação ou o discurso do

professor e ou tutor causam modificações na forma de pensar e agir do aluno,

interferindo, desse modo, na elaboração e na apropriação do conhecimento do

estudante. O conhecimento, assim, deixa de ser consumido, assimilado

passivamente e passa a ser produto de processos de elaboração e construção.

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A mediação é uma idéia central para a compreensão das concepções sobre o desenvolvimento humano como processo sócio-histórico: enquanto sujeito do conhecimento, o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do real, operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe. A construção do conhecimento se dá através da interação mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, assim, como no construtivismo e, sim, pela mediação feita pelos outros sujeitos. O outro social pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo. (DIAS e LEITE, 2010, p. 56).

A mediação, portanto, caracteriza a relação do homem com o mundo e com

os outros homens. E é através dessa relação que desafia e estimula os conceitos

cotidianos e os conceitos científicos, que ocorre o desenvolvimento dos processos

psicológicos do indivíduo.

Cabe, então, ao professor sistematizar conteúdos que, por ventura, propiciem

a relação entre os conceitos nos processos educativos. Diante da modalidade a

distância, no entanto, que coloca novas questões e exige um reposicionamento da

educação, o papel de mediação se reflete principalmente na figura do tutor que

personaliza a missão primordial de “[...] prover orientação sistemática ao estudante,

realizando-a ao longo do processo formativo para acompanhá-lo na tomada de

decisões sobre os caminhos da aprendizagem e da construção do conhecimento”

(BERNAL, 2008, p.59).

Para Preti (2002), a mediação realizada pela figura do tutor no âmbito a

distância acompanha o estudante em seus esforços de aprender, provocando o

desenvolvimento e a autonomia do indivíduo.

Assim, a educação a distância destaca-se no processo de mediação do

conhecimento pelo tutor. Sendo protagonista, ele se distingue do papel de professor

tradicional, mas não deixa de ser concebido como um docente, por alguns

estudiosos que o consideram como uma extensão do papel do professor que

orienta, sistematiza e conceitua os caminhos da aprendizagem e da construção do

conhecimento “[...] o sistema professor-tutor da EaD e este imaginado por Comenius

guardam uma certa semelhança, sendo que o professor da EaD desempenharia um

papel análogo ao do pedagogo comeniano e os tutores atuariam como os

professores da escola” ( SARAIVA, 2010 p.163).

No entanto, autores como Preti (2002), Martins (2005) e Bernal (2008)

defendem o tutor com o papel de um docente especialista, na medida em que ele

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possui características distintas para o desenvolvimento de suas atividades de

orientação e mediação pedagógica na modalidade a distância.

Atualmente, a formação do tutor se caracteriza por dar maior ênfase na formação de um profissional comprometido com a educação a distância, mediante o desenvolvimento de sua autonomia pessoal e profissional, entendida a partir do domínio de conhecimentos, habilidades e técnicas articuladas a sua prática educativa. Assim mesmo, pretende-se que o tutor possua ampla formação cultural, com nível de compreensão de seu tempo e de seu contexto de maneira que possa enfrentar os desafios culturais e os fatos que apresentam os novos paradigmas pedagógicos (BERNAL, 2008, p. 71).

Essas considerações caracterizam o papel do tutor e as diferentes

habilidades que esse profissional deve desenvolver como mediador nos processos

de aprendizagem na educação a distância, além das exigências de sua atuação, que

viabilizem a comunicação, a autonomia e a construção do conhecimento. Entende-

se, portanto, que a relação tutor-aluno só se realiza mediante o conhecimento dos

processos pedagógicos que envolvem essa modalidade.

[...] nesse processo de construção do conhecimento, que envolve diferentes atores e tem no tutor um personagem fundamental, é necessário entender a aprendizagem como pessoal, potencializada pelo grupo, com interferência da ação dos orientadores acadêmicos, visando a obter objetivos bem marcados e definidos (AZEVEDO, 2008, p. 25).

Assim, o tutor deve ser compreendido como um mediador do conhecimento e,

por essa razão, deve estar inteiramente consciente e integrado quanto aos

conteúdos, metodologias, disciplinas e atividades. Deve evidenciar, sobretudo, o

contexto em que seu aluno está inserido, sua realidade, suas limitações e

principalmente, seu potencial.

Para Castorina (1995), a educação, nesse sentido, traz no seu bojo a

dualidade representada pela sistematização de conteúdos elaborados e, ao mesmo

tempo, se atualiza, em função das mudanças geradas pelos modos de produção,

avanços tecnológicos, alta competitividade e globalização. A teoria da atividade

enaltece, assim, a importância do aprendizado através da ação e das relações com

o meio sócio-cultural, possibilitando o desenvolvimento do homem e de sua própria

atividade.

Nessa perspectiva, o papel do tutor se delineia como mediador dos processos

científicos, processos que se configuram para o estudante como possibilidade de

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ampliação de seu potencial de desenvolvimento cognitivo e psicológico,

determinando uma outra realidade, realidade que descortina novas conceituações,

pensamentos, autonomia e transformação de sua vida.

Em síntese, as contribuições de Vygotsky para a educação e, em particular,

para a educação a distância incrementam as discussões e representam novas

contribuições na expansão de práticas pedagógicas que promovam diferentes

possibilidades para a educação.

A análise crítica dessa concepção e do papel do tutor por meio do

entendimento da mediação na perspectiva vygotskyana, vislumbra apenas uma

parcela dos desafios da formação desse especialista, mas “[...] é importante não

começar pelos problemas, pelos erros, não começar pelo negativo, pelos limites. E,

sim, começar pelo positivo, pelo incentivo, pela esperança, pelo apoio na nossa

capacidade de aprender e mudar” (MORAN, 2000, p.30). Dessa maneira novas

condições e relações poderão se apresentar e possibilitar novos patamares de

análise, compreensão e intervenção na formação do aluno e do também cidadão;

bem sabemos que essas condições têm implicado numa contradição social de

proporção globalizada.

É preciso, portanto, conceber uma visão que compreenda o fenômeno

educativo e os processos que envolvem a tutoria, estabelecendo parâmetros que

caracterizem e delimitem o papel do tutor e a sua práxis pedagógica.

Assim, esta pesquisa busca por meio de sua metodologia o pressuposto

orientador que esteja intrinsecamente vinculado à concepção de realidade deste

tutor, ou seja, à concepção da relação homem-mundo. Mais especificamente, a

ênfase se coloca na busca por compreender o que se passa com as pessoas em

seus cotidianos psicossociais, tendo o contexto social e histórico como síntese de

múltiplas determinações em suas vidas.

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6. METODOLOGIA DA PESQUISA

6.1. DELINEAMENTO DA PESQUISA

A voz do herói sobre si mesmo e o mundo é tão plena como a palavra comum do autor; não está subordinada à imagem objetificada do herói como uma de suas características, mas tampouco serve de intérprete da voz do autor. Ela possui

independência excepcional na estrutura da obra, é como se soasse ao lado da palavra do autor coadunando-se de modo especial com ela e com as vozes

plenivalentes de outros heróis.Bakhtin, 1981, p. 03.

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Esta pesquisa desenvolve-se motivada pelas discussões que giram em torno

do papel do tutor na Educação a Distância. Entende-se que a capacitação e atuação

pedagógica desses profissionais são aspectos relevantes nos processos de

aprendizagem e da autonomia do aluno na modalidade a distância.

Desde o início da pesquisa teve-se a consciência da dificuldade e da

complexidade que envolve a natureza da educação a distância, suas ferramentas,

processos pedagógicos, professor, tutor e aluno. Esse fato determinou o interesse

em observar e organizar questões que pudessem direcionar o melhor caminho de

compreensão dos fatos que parecem ser relevantes no processo de investigação

que se pretende.

O pressuposto teórico-metodológico que norteia esta pesquisa está

fundamentado em uma abordagem histórico-cultural. “A estratégia utilizada em

qualquer pesquisa científica fundamenta-se em uma rede de pressupostos

ontológicos e da natureza humana que definem o ponto de vista que o pesquisador

tem do mundo que o rodeia” (RICHARSON, 1999, p.32).

A exemplo de Köche (1997), compreende-se o método como um

procedimento regulado por normas que prescrevem o percurso que o investigador

deve seguir para a construção de seu objeto de estudo.

Segundo Kude (1997), o método é a justificativa para o enfoque da pesquisa

(quantitativo ou qualitativo) e a metodologia é o conjunto dos procedimentos

utilizados para a realização do estudo. Esta pesquisa tem um enfoque qualitativo

descritivo e exploratório, que considera a necessidade de familiarização com o

objeto dela: o tutor em instituição pública, protagonista este ainda, pouco explorado

no universo acadêmico.

A intenção é conhecer o papel do tutor por meio de sua formação, de seu

discurso, de seu ambiente e de como ele próprio se reconhece dentro da função que

realiza, pois o “significado” que as pessoas dão durante o processo de investigação

do objeto estudado deve ser o foco de atenção especial do pesquisador. Não se

pode deixar escapar “detalhes” durante todo o processo de investigação. Por isso, a

compreensão da realidade do entrevistado deve ser uma preocupação durante a

pesquisa. Segundo Bauer e Gaskell (2010, p.65):

A compreensão dos mundos da vida dos entrevistados e de grupos sociais especificados é a condição sine qua non da entrevista qualitativa. Tal compreensão poderá contribuir para um número de diferentes empenhos de

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pesquisa. Poderá ser um fim em si mesmo o fornecimento de uma ‘descrição detalhada’ de um meio social específico; pode também ser empregada como uma base para construir um referencial para pesquisas futuras e fornecer dados para testar expectativas e hipóteses desenvolvidas fora de uma perspectiva teórica específica.

Por meio da análise da realidade observada, das respostas às entrevistas,

das experiências e da linguagem dos tutores, este trabalho buscará compreender e

desenvolver estudos que forneçam informações valiosas para o processo da

pesquisa. Lembre-se aqui que, para Spink (2004), a perspectiva do pesquisador é

limitada pela sua própria visão de mundo. Pois, para ele, o pesquisador nunca está

completamente abstraído de seu conteúdo dogmático.

Ao abordar a entrevista inicial como prática discursiva, estamos, antes de mais nada, entendendo-a como ação, ou melhor dizendo, como interação. Esta interação se dá em um certo contexto, numa relação constantemente negociada. Numa conversa o locutor posiciona-se e posiciona o outro, ou seja, quando falamos, selecionamos o tom, as figuras, os trechos de histórias, os personagens que correspondem ao posicionamento assumido diante do outro que é posicionado por ele. As posições não são irrevogáveis, mas continuadamente negociadas (SPINK, 2004, p. 186).

Nesse sentido, o pesquisador deve criar métodos e estratégias que

minimizem sua interferência durante o trabalho; “[...] é impossível considerar uma

técnica em abstrato, pois é um elemento de um conjunto mais amplo: a postura e a

metodologia decididos pelo pesquisador” (RICHARDSON, 1999, p.209).

Esta pesquisa, portanto, recorre ao referencial de pesquisa qualitativa de

observação e entrevista, no sentido de poder compreender da melhor maneira

possível o fenômeno que pretende estudar. Os métodos qualitativos consideram o

todo da investigação, sem reduzi-lo a partes; investigam os sujeitos e tentam

conhecê-los como pessoas, não reduzem a palavra e os atos a equações

estatísticas. Para Sampieri (2006), a pesquisa qualitativa dá profundidade aos

dados, oferece um ponto de vista recente, natural e holístico do fenômeno

investigado.

Pesquisas qualitativas tipicamente geram um enorme volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos. Isto se faz através de um processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Este é um processo complexo, não-linear, que implica um trabalho de redução, organização e interpretação dos dados, e que se inicia já na fase exploratória, acompanhando toda a investigação em uma relação interativa com dados empíricos: à medida que os dados vão sendo coletados, o

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pesquisador vai procurando tentativamente identificar temas e relações, construindo interpretações e gerando novas questões e/ou aperfeiçoando as anteriores, o que, por sua vez, o leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que testem suas interpretações, num processo de ‘ sintonia fina’ que vai até a análise final (ALVES, 1991, P.60).

A pesquisa qualitativa estimula o entrevistado a pensar livremente sobre o

tema, objeto ou conceito que está sendo abordado. Esse modelo de pesquisa

exploratória faz emergir tanto aspectos subjetivos quanto conscientes no

entrevistado. Oportuniza ao pesquisador a possibilidade de buscar, por meio de suas

próprias percepções e entendimento, a natureza geral de uma questão, abrindo

espaço para a sua interpretação.

Essa alternativa, para Bauer e Gaskell (2010), amplia a compreensão a

respeito do campo de conhecimento da pesquisa, apresentando uma compreensão

mais detalhada dos significados e das características situacionais apresentadas

pelos entrevistados, em lugar de uma produção meramente quantitativa de

características e comportamentos. Revela áreas de consenso (positivos ou

negativos), além de situações que envolvem o desenvolvimento e o aperfeiçoamento

de novas idéias.

Percebe-se que a metodologia, portanto, é a principal responsável pelas

inovações, na medida em que propõe questionamentos e possibilidades sobre um

determinado ponto de vista, buscando, por meio deste, compreender o objeto de

estudo e possibilitando o avanço do conhecimento.

Assim, por meio de um enfoque qualitativo, à luz de uma visão histórico-

cultural que privilegia o sentido e o significado do discurso dos participantes irá se

estabelecer o percurso desta pesquisa.

6.2. CONTEXTO DO ESTUDO

Esta pesquisa desenvolve-se motivada pelas inúmeras críticas e qualidades

que predominam o universo da modalidade de educação a distância.

A EAD surge como uma possibilidade apropriada para atender a grandes

contingentes de alunos. Segundo Martins (2005, p. 15), “[...] o sistema educacional

brasileiro, por sua vez, encontra-se em descompasso com a demanda de pessoas

presentes na sociedade, tendo em vista que os direitos de cidadania estão sendo

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negados, pois grande parte da população não tem acesso ao sistema educacional”,

e essa capacidade que aparenta ser uma qualidade, surge como uma de suas

maiores críticas de sistema, “educação para quantidade sem qualidade”.

Conforme o MEC, o número de alunos matriculados no ano de 2000 era de

5.287 matrículas, e passou, em 2009, para 838.125 mil estudantes matriculados nos

cursos de graduação em EAD, números que se multiplicaram 158 vezes em uma

década (dados do INEP, autarquia vinculada ao MEC). O número de profissionais

que atuam como tutores na educação a distância, não passa de 35 mil, ou seja, uma

relação de 40 a 50 alunos por profissional, segundo fontes da ABED (2009).

Além de considerar essa relação numérica, significativa para esta pesquisa,

toma-se o fato de que esse profissional, de acordo com a ANATED, não é

valorizado, sendo seu trabalho muitas vezes considerado um “bico” ou uma “renda

extra”, fatores que podem comprometer e descaracterizar o trabalho, afetando,

assim, a qualidade da educação que está sendo oferecida.

Esta pesquisa busca, portanto, estabelecer o tutor na instituição pública no curso

superior de pedagogia. Para Pinto (1993), a instituição pública deve “[...] possibilitar

o acesso de todos à educação e à cultura”. E esta via educativa, deve ter o apoio do

Estado, pois se isto não ocorrer, este fato produzirá uma inconstitucionalidade, que

fere os princípios de toda a sociedade e que poderá se refletir em uma não ação

educativa.

Partindo dessa premissa, pretende-se considerar para esta investigação uma

instituição pública de educação superior, com curso de Pedagogia a distância, que

promove a educação por meio dos recursos oferecidos pelo Estado e do controle

que este exerce sobre as ideologias do setor. Portanto, as instituições públicas

devem promover a igualdade de oportunidades em um mundo em que o trabalho e a

participação social dependem da capacitação e do conhecimento. Assim,

compreender e mapear a presença desse profissional, o tutor, é fator primordial para

inferir confiabilidade e qualidade da modalidade de EAD.

6.3. PARTICIPANTES DO ESTUDO

86

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A escolha dos sujeitos pesquisados teve como critério a necessidade de

formação e atuação como tutor na educação a distância nos cursos de graduação

de Pedagogia, em universidade pública do estado do Paraná.

Contou-se no total com 12 tutores, no estudo principal, sendo que desses, 06

exercem suas funções como tutor presencial em instituição pública de ensino

superior e em curso de Pedagogia a distância e 06 de tutor a distância em instituição

pública de ensino superior e de curso de Pedagogia a distância. Destaca-se que

outras 03 entrevistas foram realizadas com tutores no sentido de realizar o estudo

piloto; este foi desenvolvido em uma instituição pública de ensino superior com curso

de Pedagogia a distância, e verificou-se que o instrumento utilizado seria adequado

para a coleta de informações que norteia esta pesquisa.

Seguiu-se, nessa investigação, o critério aleatório de escolha dos tutores,

sendo apenas considerado necessário que eles exercessem suas funções em uma

instituição pública de ensino superior e do curso de Pedagogia a distância.

Os tutores que participaram dessa pesquisa inserem-se tanto no contexto de

atuação de tutor a distância de ensino, quanto no contexto de atuação como tutor

presencial de ensino.

6.4. PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

A ênfase deste trabalho será no conteúdo da fala dos tutores e, para tanto, o

caminho escolhido para esta investigação será o da técnica de entrevista semi

estruturada (TRIVINOS, 1987; SAMPIERI, 2006), pois ela parte de certos

questionamentos que se encontram apoiados em teorias e hipóteses, e ainda irão

oferecer um amplo caminho de interrogativas e novas suposições, calcadas nas

respostas dos informantes, em que o pesquisador tem a liberdade de manifestar-se

sobre as questões que complementam as informações com maior precisão, obtendo,

dessa maneira, as respostas necessárias para a investigação.

Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa (TRIVINOS, 1987 p. 146).

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Sendo o objetivo desta pesquisa, caracterizar o papel do tutor na educação a

distância em uma instituição pública, pretende-se utilizar como método para esta

pesquisa, além da entrevista semi-estruturada, a observação. Recurso este que

possibilita novos parâmetros de investigação.

A observação qualitativa não é mera contemplação (‘sentar e ver o mundo e fazer anotações’), nada disso. Implica entrar a fundo em situações sociais e manter um papel ativo, assim como uma reflexão permanente, e estar atento aos detalhes (não às coisas superficiais) gerar hipóteses para futuros estudos (SAMPIERI, 2006, p.383).

Por meio da análise das entrevistas e da observação dos tutores que atuam

na educação a distância, os resultados da pesquisa serão delineados.

A primeira etapa desta pesquisa fez-se por meio do estudo piloto, que

permitiu conferir a viabilidade e a confiabilidade do método. Então a partir dos

resultados apresentados e das variantes inseridas, deu-se prosseguimento à

investigação.

A coleta de dados realizou-se com o auxílio da coordenação das instituições

envolvidas, no sentido de permitir o acesso ao quadro dos profissionais que exercem

a função de tutor. Após a autorização da instituição, a pesquisadora fez contato com

os tutores. Realizou-se primeiramente, o procedimento de coleta da autorização dos

participantes (tutores), por meio do termo de consentimento livre esclarecido (TCLE),

assegurado a eles, o entendimento sobre os procedimentos e conteúdo da pesquisa

que está sendo realizada.

Os dados foram coletados por meio de observação e de entrevistas semi-

estruturadas e em diferentes momentos (manhã/tarde/noite), conforme o tempo

disponível dos participantes desta investigação. O registro ocorreu por meio de

anotações desta pesquisadora, além da gravação e da mediação realizada por esta

pesquisadora, sendo a abordagem efetivada através do contato direto com os

pesquisados.

As observações desta pesquisadora foram realizadas in loco e com a

autorização da instituição. Essas observações foram realizadas nos espaços de

trabalho desses tutores, presenciais e a distância, do curso de Pedagogia em

instituição pública de educação a distância. Procurou-se não alterar o cotidiano

desses profissionais, e a observação foi realizada durante o exercício de suas 88

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funções. Destaca-se ainda, que a observação foi realizada com diferentes grupos de

tutores presenciais e a distância.

Após a realização das observações, deu-se início às entrevistas com os

tutores. As entrevistas foram gravadas pela pesquisadora e tiveram a duração média

de 15 a 25 minutos, constituindo-se de questões semi-abertas6 que procuraram

explorar a realidade e o cotidiano destes tutores.

Consideraram-se, também, para essa investigação, os seguintes referenciais:

Nome, profissão, instituição em que trabalha o tutor, a função como tutor presencial

ou a distância, o tempo de tutoria, a formação de graduação (licenciatura) e da pós-

graduação (se houver) desses tutores.

É importante destacar que as informações colhidas durante as entrevistas

com os tutores foram transcritas, e um código foi atribuído a cada tutor participante.

Dessa forma, se qualquer informação for divulgada em relatório ou publicação, não

aparecerão os nomes verdadeiros dos entrevistados, preservando a

confidencialidade dos participantes.

6.5. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS

Para dar conta do compromisso da análise do material coletado durante as

observações e as entrevistas, buscou-se na abordagem de Aguiar e Ozella (2006),

cujo aporte teórico é a psicologia sócio-histórica, um dos referenciais que norteiam

este trabalho.

Aguiar e Ozella (2006), ao tomar como base o método da psicologia sócio-

histórica, afirmam que não existe método separado de uma concepção de homem.

Essa base teórica determina a necessidade de se estudar o homem constituído a

partir de uma relação dialética com o social e a história, um homem que é, ao

mesmo tempo, único, singular e histórico, um homem que se distingue da realidade

social, mas, ao mesmo tempo, não se dilui nela, pois são diferentes.

Dessa maneira, apoiando-se nos estudos de Vygotsky (2001), Aguiar e Ozella

(2006) estabelecem um importante referencial constituído pela unidade contraditória

do simbólico e do emocional, que se refere à distinção entre significado e sentido.

66 Entrevistas em anexo, com as perguntas e respostas das tutoras envolvidas nesta investigação.

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O significado, para Aguiar e Ozella (2006), remete às produções históricas e

sociais que permitem a comunicação e a socialização de nossas experiências, “[...]

aos conteúdos instituídos, mais fixos, compartilhados, que são apropriados pelos

sujeitos, configurados a partir de suas próprias subjetividades” (AGUIAR e OZELLA,

2006, p. 226).

Já o sentido, segundo Aguiar e Ozella (2006), é muito mais complexo que o

significado, pois este se destaca na singularidade historicamente construída que

considera a totalidade humana: cognitiva e afetiva, ou seja, refere-se “[...] a

necessidades que, muitas vezes, ainda não se realizaram, mas que mobilizam o

sujeito, constituem o seu ser, geram formas de colocá-lo na atividade” (AGUIAR e

OZELLA, 2006, p.227).

Essas categorias destacadas por Aguiar e Ozella (2006) encontram respaldo

nas reflexões de Namura (2004) a respeito da dimensão de ‘sentido’, ao considerar

todas as instâncias envolvidas nesse processo: a razão e a emoção, e não apenas

reducionismos científicos, pois, “[...] só quando compreendemos a possibilidade do

todo, é que este poderá contribuir para a compreensão da produção de sentido com

sua concepção histórica e social da linguagem trazendo a cultura, a ideologia, a

ética e a estética” (NAMURA, 2004, p.111).

Partindo dessa compreensão sócio-histórica, considera-se, portanto,

relevante a análise dos dados desta pesquisa por meio do método de identificação

dos núcleos de significação de Aguiar e Ozella (2006).

Os núcleos de significação de Aguiar e Ozella (2006) constituem importante

ferramenta metodológica para a apreensão e constituição dos sentidos das falas dos

tutores, pois o compromisso desse referencial está pautado em uma análise da

realidade do discurso dos sujeitos participantes.

O primeiro passo para a obtenção de uma análise comprometida com a

realidade do discurso dos sujeitos participantes inicia-se por meio de várias leituras

denominadas “leituras flutuantes”, “que são a primeira unidade do momento empírico

da pesquisa; partimos dela sem a intenção de fazer mera análise das construções

narrativas, mas com a intenção de fazer uma análise do sujeito” (AGUIAR e

OZELLA, 2006, p.230). Essas leituras permitirão que o material coletado destaque

os temas que emergiram com mais frequência, caracterizando, por meio dessas

repetições, a fala dos informantes, a carga emocional presente, as contradições e as

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possíveis insinuações não concretizadas. Esses indicativos, de acordo com Aguiar e

Ozella (2006), irão destacar e se organizar como pré-indicadores para a construção

dos núcleos futuros.

Por meio da leitura “flutuante” e dos pré-indicadores se manifestará o

processo de aglutinação do conteúdo coletado, que se estabelece pelo conjunto de

indicadores e seus conteúdos. “Critérios estes que não são isolados entre si, mas

são complementares pela semelhança do mesmo modo que pela contraposição”

(AGUIAR e OZELLA, 2006, p. 230).

É nesse momento da pesquisa, já de posse do conjunto de indicadores e

seus conteúdos, que para Aguiar e Ozella (2006, p.231), se inicia o “processo de

articulação que resultará na organização dos núcleos de significação através de sua

nomeação”, e representa o processo que possibilita a análise dos núcleos de

significação. Essa fase de análise para a pesquisa à luz da perspectiva histórico-

cultural por meio dos núcleos de significação, irá apreender, não apenas o conteúdo

da fala dos informantes, mas articulá-la com o processo interpretativo do

investigador, revelando-se um movimento do empírico para o interpretativo.

Assim só avançaremos na compreensão dos sentidos quando os conteúdos dos núcleos forem articulados. Nesse momento, temos a realização de um momento da análise mais complexo, completo e sintetizador, ou seja, quando os núcleos são integrados no seu movimento, analisados à luz do contexto do discurso em questão, à luz do contexto sócio-histórico, à luz da teoria. (AGUIAR; OZELLA, 2006, p.232).

Essa visão dos núcleos de significação corrobora, portanto, a realidade que

se pretende investigar neste trabalho, na medida em que se realizam articulações da

história do sujeito, de sua realidade, dos conhecimentos científicos e da própria

visão do investigador. Esses fatores imprimem uma nova realidade, reveladora das

contradições e desses movimentos dialéticos fundamentais para a apreensão da

constituição dos sentidos em uma pesquisa qualitativa.

Para Brandão (2004), seguindo esse princípio, no sentido de captar e tentar

interpretar a(s) categoria(s) dos discursos dos sujeitos da presente amostra ao nível

de suas respectivas práxis, deve-se ter o cuidado de não destacar apenas a

homogeneização do discurso do sujeito, mas que se percebam também as

contradições, “várias linguagens em uma única e não ao contrário” (BRANDÃO,

2004, p. 88).

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[...] o diferente que subjaz o discurso, que não exclua a noção de heterogeneidade como elemento constitutivo de práticas discursivas que se dominam, se aliam ou se afrontam em um certo estado de luta ideológica e política, no seio de uma formação social em uma conjuntura histórica determinada ( BRANDÃO, 2004, p. 88).

Essa forma de abordar o discurso permite compreender a questão dos

significados na relação que se estabelece entre o homem e a realidade; segundo

Palmer (1969, p. 230), “a compreensão é o meio pelo qual o mundo se coloca face

ao homem; a compreensão é sempre a posição a partir da qual vemos aquilo que

vemos”. A análise do discurso, portanto, [...] não deve buscar a unidade de todas as

formações discursivas de uma conjuntura, definindo uma invariante universal, nem a

multiplicação ao infinito e sem hierarquia das relações entre os campos (BRANDÃO,

2004, p. 94).

Não existe receita pronta para fazer uma análise do discurso, assim como

uma receita de bolo que se pode seguir passo a passo. O que se encontra são

caminhos que orientam e indicam possíveis enfoques para a análise dos discursos.

[...] o pesquisador está interpretando o sentido de cada unidade de análise. Embora as interpretações estejam restringidas tanto pela teoria quanto pelo referencial de codificação, faz sentido perguntar se outros codificadores teriam chegado à mesma conclusão (BAUER E GASKELL, 2010, p. 356).

A intenção desta pesquisa é conhecer esse “outro”, o tutor, por meio das

representações que utiliza, de seu discurso e das práticas sociais e pedagógicas

que desenvolve. Valorizam-se como suporte de entendimento desta investigação os

vários indicadores que estruturam a pesquisa qualitativa e que permitem construir

novos olhares e novos enfoques à luz da perspectiva histórico-cultural de Vygotsky.

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.1 CONSTITUINDO OS NÚCLEOS DE SIGNIFICAÇÃO DO(S) DISCURSO (S)

DOS TUTORES PRESENCIAIS E A DISTÂNCIA

92

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A investigação e a justificação têm vários objetivos locais, mas nenhum objetivo geral chamado verdade... Só haveria um objetivo 'mais elevado' da investigação se houvesse algo como a justificação última – justificação diante de Deus, ou diante

do tribunal da razão, ao invés de justificação diante de meras e finitas audiências humanas.

Rorty

O discurso é uma prática, uma ação do sujeito sobre o mundo “[...] é o ponto

de articulação dos processos ideológicos7 e dos fenômenos linguísticos8 e [...] um

modo de produção social, “[...] é o elemento necessário de mediação entre o homem

e a realidade, uma vez que os processos que a constituem são históricos-sociais”

(BRANDÃO, 2004, p. 11).

Esse trabalho busca, portanto, na análise do(s) discurso(s) dos sujeitos,

constituir elementos que possam contribuir para compreender o papel do tutor na

educação a distância: sua realidade e atribuições.

Desta maneira, busca-se por meio dos núcleos de significação o instrumento

de análise do(s) discursos dos tutores presenciais e a distância de instituição pública

de educação a distância do curso de pedagogia. A análise apresentada aqui resulta

da articulação dos dados coletados durante as observações realizadas e das

entrevistas coletadas para justificar, ampliar e contextualizar as considerações

apresentadas “[...] esse procedimento explicitará semelhanças e/ou contradições

que vão novamente revelar o movimento do sujeito” (AGUIAR E OZELLA, 2006, p.

231).

A partir da organização das entrevistas das 12 tutoras9 (06 presenciais e 06 a

distância), tomam-se como ponto de partida os núcleos de significação, que

objetivam investigar os significados e os sentidos que os tutores atribuem ao “papel

do tutor”, na busca de articular o significado e o sentido nos muitos conteúdos das

sua(s) fala(s), que reúnem pensamentos, palavras e emoções. Assim, busca-se

77 Concepção de mundo de uma determinada comunidade social numa determinada circunstância histórica.

88 Um fenômeno linguístico se caracteriza por um determinado acontecimento que ocorre na história de determinada língua, criando uma nova forma de comunicação e modificando a língua como um todo.

99 Esta pesquisa faz uma relação feminina a classe de tutores, por destacar que na totalidade das entrevistas realizadas naquela instituição, somente participaram tutoras do sexo feminino.

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neste instrumento a compreensão da subjetividade deste sujeito, que considera

“todas as expressões humanas sejam cognitivas e afetivas” (AGUIAR E OZELLA,

2006, p. 227).

Na perspectiva adotada, portanto, a separação entre pensamento e afeto jamais poderá ser feita, sob o risco de fechar-se definitivamente o caminho para a explicação das causas do próprio pensamento, pois a análise do pensamento pressupõe necessariamente a revelação dos motivos, necessidades e interesses que orientam o seu movimento (AGUIAR E OZELLA, 2006, p.227).

Constituíram-se assim os núcleos de significados e sua relação com os

indicadores finais, conforme a organização que se pode verificar no Quadro 1 a

seguir.

NÚCLEOS DE SIGNIFICAÇÃO INDICADORES FINAIS

PREPARAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DA TUTORIA

- formação inicial e pós-graduação

- a formação continuada

EU TUTOR

- as diferentes atividades

- a função

- a rotina

- o reconhecimento profissional

RELAÇÃO TUTOR - ALUNO

- as ações pedagógicas

- autorregulação do aluno

- os processos de mediação

No que se refere a esta pesquisa, têm-se consciência da necessidade de

prudência no trato dos dados, buscando-se assim uma visibilidade maior dos

procedimentos de análise formulados, a fim de que permitam inferências sobre todo 94

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o processo do(s) discurso(s). Desta maneira utiliza-se o cruzamento de todas as

informações obtidas, procurando estabelecer um aprofundamento da visão que

estes tutores têm acerca de seu papel na educação a distância.

Seguindo no processo de análise, importa considerar que ele começou no

interior de cada núcleo e foi avançando para o estabelecimento de relações entre os

núcleos, evidenciando-se semelhanças e contradições, seja no discurso de um tutor

ou no(s) discurso(s) entre si. Para o início desta análise os núcleos primeiramente

são destacados para depois serem reintegrados ao contexto social e histórico,

conforme os procedimentos propostos por Aguiar e Ozella (2006).

Cabe evidenciar, que a análise não se restringe exclusivamente ao

depoimento das participantes. Mas, busca-se articulação com o contexto do discurso

ampliado em sua dimensão sócio-histórica como se pretende evidenciar no próximo

capítulo da análise e discussão do(s) discurso(s) dos tutores presencias e a

distância.

7.2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO DISCURSO DOS TUTORES PRESENCIAIS E A

DISTÂNCIA

A Perspectiva Histórico-Cultural contribuiu, a partir de seu método e de suas

categorias teóricas, para a compreensão da relação homem/mundo. Nesta

perspectiva, destaca Vygotsky (1998), cada sujeito é único em sua singularidade, ao

vivenciar determinadas situações particulares, sociais e históricas, que são

mediadoras da sua subjetividade.

No entanto, Vygotsky (1998) destaca, ainda, que não se pode deixar de

lembrar que o social se revela no individual e vice-versa. Dialeticamente, o social

(todo) não é, portanto, uma soma de indivíduos (partes). Um faz parte da

constituição do outro, negando-o, afirmando-o, complementando-o, assim este

sujeito encontra-se rodeado e constituído de inúmeras informações, compreensões

e emoções.

Então, por meio da análise das entrevistas das doze tutoras de instituição

pública superior de educação a distância do curso de Pedagogia, que se dispuseram

a participar deste trabalho, optou-se pelo método dos núcleos de significação de

Aguiar e Ozella (2006).

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Este caminho se justifica por se constituir em um procedimento de análise

que visa “[...] apreender os sentidos que constituem o conteúdo do discurso dos

sujeitos informantes” (AGUIAR E OZELLA, 2006, p.223).

Nessa análise, busca-se uma síntese do(s) discurso(s) das doze tutoras

acerca da realidade que percebem de seu papel como tutoras na educação a

distância. Papel este que por meio dos procedimentos de análise do(s) discurso(s)

resultaram na apreensão de três núcleos de significação, conforme a proposta de

Aguiar e Ozella (2006).

Os núcleos são:

- Preparação para o exercício da tutoria;

- Eu tutor;

- A relação tutor-aluno.

Estes núcleos, refletidos por meio da visão do pesquisador, procuram na

aparência do discurso(s) do(s) informante(s) articular “[...] o contexto social, político,

econômico, em síntese, histórico, que permite acesso à compreensão do sujeito em

sua totalidade” (AGUAR E OZELLA, 2006, p. 231).

Ao investigar o papel dos tutores na educação a distância, parte-se do

pressuposto de que a dimensão sociopolítica está sempre presente nas práticas

educacionais, apontando para um determinado tipo de sociedade; incentivando

determinado tipo de sujeito, de cidadão. Ou seja, o tutor, ao desenvolver seu

trabalho, sempre estará compreendido em uma ação social; seu trabalho estará

sempre vinculado a um dos projetos sociais existentes e em disputa na sociedade.

Evidencia-se, desse modo, a complexidade desse processo, em que este

sujeito pode ou não ter clareza desta relação e desta presença, tornando-se um

profissional acrítico, que sem perceber reforça as concepções dominantes10 da

sociedade.

Então, por meio da identificação dos núcleos de significação constrói-se o

caminho desta investigação, “[...] que não se revela facilmente, não está na

101 A pedagogia do dominante de acordo com a concepção de Paulo Freire é um educação bancária, em que predomina o discurso e uma prática totalmente verbalista, em que o saber é dado, fornecido de cima para baixo; é autoritário, pois manda quem sabe. Nesta concepção o sujeito da educação é o educador, sendo os educandos como vasilhas a serem cheias pelo conhecimento depositado pelo educador.

96

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aparência; muitas vezes, o próprio sujeito o desconhece, não se apropria da

totalidade de suas vivências, não as articula” (AGUIAR E OZELLA, 2006, p. 228).

Desta maneira, procura-se retomar o objetivo da pesquisa, a abordagem

teórica construída nos capítulos anteriores e as análises individuais de cada sujeito;

e do cruzamento desses dados, apresentam-se nos próximos tópicos as análises e articulações

realizadas por esta pesquisadora.

7.3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO NÚCLEO: PREPARAÇÃO PARA O EXERCÍCIO

DA TUTORIA

A sociedade na qual vivemos atravessa um momento único, determinado por

uma visão singular da realidade, em que questionamentos inserem-se de maneira

vertiginosa, nesta nova ordem social e política permeada pelas novas tecnologias, a

universalização e a transformação da informação.

Para Martins (2007), “[...] trata-se de um desafio que exige deixar um método

de domínio para aprender o novo”, e neste momento de tantas transformações,

outras posturas devem ser construídas, na medida em que o avanço tecnológico e

as exigências sócio-econômico-culturais, impostas pela sociedade, provocam

grandes mudanças, tanto nas estruturas dos empregos, quanto na forma de

trabalhar.

O mundo do trabalho é outro ponto crítico a demandar um enorme esforço, tanto dos governos, quanto de órgãos de classe e das próprias organizações, para atender a necessidade premente de preparação de pessoal, que responda, nos postos de trabalho, às exigências de um mercado cada vez mais competitivo em todos os aspectos. Poder contar com pessoal que possa dar respostas rápidas às mudanças cotidianas, refletir sobre essas mudanças, saber interagir com as novas tecnologias, fazendo delas um diferencial a seu favor e a favor da organização, é o que as empresas procuram nos colaboradores já contratados e a contratar (BLOIS, 2004 p.98).

Desta maneira insere-se na modalidade a distância o papel do tutor,

trabalhador este que deve articular uma nova significação, frente às mudanças e

reflexões do modo como construímos o conhecimento.

Esta pesquisa, portanto, busca colaborar na pretensão de compreender o

papel do tutor na educação a distância. Papel este que procura se adaptar e

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desenvolver processos que possibilitem uma proposta de educação preocupada

com a formação do cidadão.

Neste sentido busca-se no núcleo: preparação para o exercício da tutoria, o

início das reflexões que irão delimitar o papel do tutor nesta instituição pública de

educação a distância.

Assim, dispuseram-se duas categorias de tutores: presenciais e a distância

que caracterizam e dão suporte para a compreensão do primeiro indicador: a

formação inicial e pós-graduação, quadros 2 e 3.

TUTORES PRESENCIAIS

Nome Tempo de tutoria

(aproximadamente)

Formação Inicial Pós-Graduação

LAURA 05 anos Pedagogia Especialização em

Interdisciplinariedade

e atualmente PDE11

do EstadoMARIA 02 anos Pedagogia

Filosofia

ANA LUIZA 08 meses Pedagogia Pedagogia

empresarial e

Educação inclusivaLÍDIA 03 anos Normal Superior Orientação

EducacionalLUANA 06 meses História Especialização em

Educação a

DistânciaMARIA HELENA 02 anos e 07 Pedagogia Organização do

111 PDE - Plano de desenvolvimento da educação, que é uma política pública que estabelece o diálogo entre os professores da Educação Superior e os da Educação Básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense (BRASIL, 2011).

98

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meses trabalho pedagógicoQUADRO 2 – CARACTERIZAÇÃO DA FORMAÇÃO INICIAL, PÓS-GRADUAÇÃO E

TEMPO DE TUTORIA DAS TUTORAS PRESENCIAIS12

TUTORES A DISTÂNCIA

Nome Tempo de tutoria

(aproximadamente)

Formação Inicial Pós-Graduação

CLARA 05 anos e 06

meses

Pedagogia Magistério Superior

BEATRIZ 03 anos Serviço Social Gestão de Políticas

Públicas e

Mestrado em

EducaçãoLUCIANA 03 anos Pedagogia Especialização em

Inovações de

Projetos

Educativos,

Especialização em

Tecnologia

Educacional e

Educação à

Distância e

Mestrado em

EducaçãoFRANCIELI 03 anos Comunicação

Social

Mestrado em

Educação,

Especialização em

MarketingAMANDA 03 anos Psicologia Psicopedagogia e

Mestrado em

EducaçãoEDUARDA 02 anos e 06 Física Especialização em

121 Cabe evidenciar que os nomes das tutoras foram alterados por nomes fictícios para que a confidencialidade dos participantes fosse mantida, nos quadros 2 e 3.

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meses FísicaQUADRO 3 – CARACTERIZAÇÃO DA FORMAÇÃO INICIAL, PÓS-GRADUAÇÃO E

TEMPO DE TUTORIA DAS TUTORAS A DISTÂNCIA

Estes elementos: relação tempo de atuação, formação inicial e pós-

graduação dos quadros 1 e 2, se fazem importantes meios que caracterizam o papel

do tutor na educação a distância em instituição pública, pois estes estabelecem

aspectos importantes, que relacionados ao conteúdo do(s) discurso(s) dos tutores

visam apreender a significação do(s) discurso(s) dos tutores envolvidos nesta

investigação “[...] mesmo considerando que uma boa entrevista possa contemplar

material suficiente para uma análise, se houver condições, alguns outros

instrumentos podem permitir o aprimoramento e refinamento analítico” (AGUIAR E

OZELLA, 2006, p.229).

A universidade é uma instituição social que aspira à universalidade e que tem a sociedade como seu princípio e sua referência normativa e valorativa, a qual se percebe inserida na divisão social e política e busca definir uma universalidade (imaginada ou desejada) que lhe permita responder às contradições impostas por esta divisão. Logo, a universidade é um devenir, uma construção constante que está amparada numa concepção de possibilidade de destruir os fins capitalistas pelo que até agora ela atuou e de construir uma nova história como resultante de ações de seres humanos conscientes (Chauí, 2001, p.216).

Todas as doze tutoras participantes desta pesquisa, presenciais e a distância,

contemplam formação inicial de nível superior (conforme quadros 1 e 2), sendo 06

tutoras presenciais e 06 tutoras a distância.

As tutoras presenciais em relação a sua formação inicial se dispõem: 04

(quatro) formadas em pedagogia, 01 (uma) em normal superior e 01(uma) em

história. Já, em relação à análise dos dados da formação inicial das tutoras a

distância, percebe-se que a pedagogia deixa de ser a graduação mais evidenciada,

observando-se uma variedade de graduações iniciais: 02 de pedagogia, 01 de

serviço social, 01 de comunicação social, 01 de psicologia, 01 de física.

Estes dados supõem, a princípio, que o papel de tutor não exige

especificidade em termos de formação (inicial), apontando para um ecletismo no que

tange a esta condição, contemplando-se assim, o indicador “capacitação”.

De acordo com Maggio (2001), Preti (2001) e Blois (2003), não há indicadores

oficiais que discorram sobre a necessidade de uma formação inicial específica que 100

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evidencie o papel do tutor na educação a distância. Já Martins (2010), enfatiza a

necessidade de cursos de pós-graduação e/ou extensão para capacitação deste

profissional, e Leal (2005, p.04), de que o tutor “[...] deve ter uma formação

acadêmica definida por sua experiência acadêmica, seu conhecimento didático-

pedagógico”, “[...] além, talvez de uma experiência no ensino presencial”.

Estas considerações acerca do ecletismo da formação inicial do tutor, no

entanto, se contrapõe às regulamentações do ofício circular 20/2011 – DED/CAPES,

onde se estabelece que o tutor deve “possuir formação na área da disciplina ou do

curso em que atuam”, garantindo assim a qualidade da formação em nível superior

oferecida no âmbito do Sistema UAB. Neste sentido, cabe ponderar que a

universidade em questão, deveria estar se organizando para atender a estas

regulamentações, e que, talvez, nem todos tutores entrevistados tenham tido contato

com estas informações, deixando uma lacuna de possibilidades e interpretações no

que tange a este indicador.

Nota-se, novamente, a repetição de que a diversidade das formações iniciais

das tutoras entrevistadas, não é um obstáculo para a condição da tutoria na

educação a distância no curso de Pedagogia. No entanto, estas tutoras referem-se à

falta de uma disciplina que aborde o contexto da modalidade a distância, em suas

graduações. Para Luciana, tutora a distância, sua percepção e a de que “[...] a

minha formação específica na graduação, ela não contribuiu de uma maneira muito

efetiva pra essa prática da tutoria”, Luana, tutora presencial, também discorre sobre

este ponto de vista de que a formação inicial não contemplou a relação educação a

distância e muito menos temas sobre o papel do tutor “[...] então, na verdade, assim,

na questão da tutoria em si, assim, o que é ser tutor, eu acho que não contemplou”.

A tutora a distância Camila relata que apesar de sua formação inicial ser a de

Comunicação Social, este fato não a desqualificou para o exercício da tutoria para o

curso de Pedagogia a distância, “[...] a minha área é comunicação social”, “[...] ela foi

muito importante, nesse sentido de pessoas, de estudo, de abrir a sua cabeça em

relação a pessoas mesmo, esse contato, essa coisa de você ser o professor, mas ao

mesmo tempo ser o orientador”.

Da mesma maneira relata Eduarda (tutora a distância), que possui a formação

inicial em Física, “[...] eu acredito que o curso de licenciatura me abriu muito os

horizontes e muita coisa que eu aprendi lá na licenciatura eu estou usando agora”.

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[...] antes de eu fazer o curso de Física eu fiz o curso normal e o curso normal me deu muito subsídio pra dar aula pra crianças e eu a vida inteira dei aula para o ensino fundamental. Então, se eu tenho algum conhecimento que eu posso passar para os meus alunos, é dessa minha experiência profissional do curso de magistério e da licenciatura de Física e, ainda, eu dei aula dois anos aqui na instituição como professora na disciplina de Metodologia do ensino de Física e Prática do ensino de Física. Então, eu acredito que o curso de licenciatura me abriu muito os horizontes e muita coisa que eu aprendi lá na licenciatura eu estou usando agora (EDUARDA, tutora a distância).

[...] agora, essa coisa da formação, qualquer formação que você tenha, eu fiz normal, né, eu fiz colegial e normal, então, com o normal eu já tive uma formação pra professor, o meu curso de Comunicação é como qualquer outro curso, você lê muito, você estuda muito, quando você entra numa tutoria você tem que ter leitura porque senão, é como qualquer outro professor, se você não tem leitura, você não sabe como se comunicar com os seus alunos (CAMILA, tutora a distância).

[...] eu fiz magistério no nível médio, então isso que me ajuda bastante na tutoria e por eu trabalhar com as séries iniciais também, né, 20 horas semanais, também ajuda, mas em relação ao curso mesmo, assim, acredito que não muito assim (LUANA, tutora presencial).

[...] eu acho que esse conhecimento prévio que eu já tinha, tem ajudado no trabalho da tutoria e também a minha prática como professora, principalmente nas disciplinas de metodologia e tal, então, a minha prática do dia-a-dia como professora também contribui (MARIA HELENA, tutora presencial).

Para a tutora Clara (tutora a distância), também não importa a formação

inicial, mas ela destaca que é importante o tutor compreender os processos

pedagógicos da modalidade a distância: “[...] os conhecimentos pedagógicos são

fundamentais pra questão da tutoria, mas, eu penso que na formação em relação à

EaD achei que faltou”.

No entanto, esta não representa a totalidade das impressões sobre a

formação inicial, como se pode perceber nesta fala, “[...] se eu tivesse uma outra

formação que não fosse a Pedagogia, eu acredito que eu não conseguiria dar conta

da tutoria “(MARIA HELENA, tutora presencial).

Estes discursos destacam que a discussão sobre este referencial: formação

inicial, ainda não é bastante polêmica as tutoras da educação a distância e carece

de muita discussão para se efetivar um posicionamento efetivo.

102

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Compreende-se, portanto, por meio da análise dos sentidos e significados das

falas das tutoras sobre a formação inicial, que o papel do tutor não está atrelado a

uma “determinada graduação”, mas que deve, sim, estar comprometido com uma

práxis educativa que possibilite o entendimento das dificuldades e possibilidades

pedagógicas da educação a distância.

Nesta vertente, percebe-se que o papel do tutor não se encontra

regulamentado. O que se encontra é a providência de ações solitárias que buscam

um caminho “para dar certo” o trabalho do tutor na educação a distância. Para

Martins (2010) e Litwin (2001), o papel do tutor necessita de qualificação profissional

que o capacite para compreender as relações pedagógicas, relações estas que

contribuem para o desenvolvimento dos processos de ensino aprendizagem e

autonomia do aluno no ensino a distância.

Arguindo nesta sequência, procurou-se perceber a relevância de cursos de

extensão entre as tutoras entrevistadas, e percebeu-se que todas as 12 tutoras têm

o nível de pós-graduação, sendo que destas 03 possuem mestrado em educação,

01 pós-graduação em filosofia e 08 pós-graduação em diferentes áreas da

educação.

A pós-graduação nesta universidade pública, entre os tutores entrevistados

desta pesquisa, se revelou uma constante. Desta maneira, concebe-se que todos os

tutores desta amostra que desenvolvem atividades nesta universidade detêm

alguma especialização.

Quando indagadas sobre a pós-graduação, a(s) tutora(s) destacam que a

especialização acresce as condições de conhecimento em geral e também permite

uma melhor compreensão da dinâmica da educação a distância, principalmente

quando voltada para a área tecnológica.

Para Beatriz (tutora a distância), “[...] a formação inicial, ela desvincula

realmente essa possibilidade de produção da educação à distância. Agora, na

especialização, daí você já escuta alguma coisa”. A tutora a distância Luciana, relata

que a sua especialização na área tecnológica, lhe conferiu maiores habilidades para

lidar com os elementos da tutoria, “[...] durante as minhas especializações e até por

conta delas, eu escolhi essas especializações em tecnologia educacional, em

educação à distância, justamente pela necessidade que eu senti de uma formação

complementar, que seria especifica pra ta me ajudando nessa prática de tutoria, de

trabalho com educação à distância”. Já, para Lídia (tutora presencial), a sua pós-

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graduação em orientação educacional, é que lhe permitiu compreender melhor a

relação do trabalho em grupo, “[...] por ter feito gestão, a questão de administrar de

trabalhar com o grupo, facilitou bastante”. “[...] eu não vejo dificuldades de estar

trabalhando com o grupo”.

[...] durante as minhas especializações e até por conta delas eu escolhi essas especializações em tecnologia educacional, em educação à distância, justamente pela necessidade que eu senti de uma formação complementar que seria especifica pra ta me ajudando nessa prática de tutoria, de trabalho com educação à distância, de escrita de material didático pra educação à distância, que tem que ter esta especificidade que é diferente de escrever um material didático para um curso presencial, então eu penso que essas disciplinas e o próprio curso de graduação, de especialização, ele me formou pra isso, ele me ajudou nas disciplinas a ta refletindo, a ta construindo um referencial teórico, uma base teórica que me auxilie nessa prática com a educação à distância hoje em dia (LUCIANA, a distância).

A pós-graduação pode-se dizer, não é uma necessidade que se impõe

apenas em relação ao papel do tutor na educação a distância, mas uma exigência

desta nova sociedade, que têm o dever de estar sempre adquirindo novos

conhecimentos, a fim de capacitar profissionais críticos de sua práxis.

Em uma dimensão de mudança social na direção de uma sociedade mais justa e igualitária, pode-se afirmar que a extensão universitária apresenta como principais vantagens: a difusão e socialização do conhecimento detido por uma determinada área de ensino e dos novos conhecimentos produzidos pela área de pesquisa; o conhecimento da realidade da comunidade em que a universidade está inserida; a possibilidade de diagnosticar necessidades de pesquisas acadêmicas; a prestação de serviços e assistência à comunidade; o fornecimento de subsídios para o aprimoramento curricular e criação de novos cursos, bem como da estrutura e diretrizes da própria universidade na busca da qualidade educacional; a possibilidade de a comunidade universitária conhecer a real problemática nacional e atuar de modo efetivo na busca de soluções plausíveis entre outras (SANTOS, 2010, p.14).

Para Belloni (1999), Landim (1997), Litwin (2001) e Maggio (2001), o papel do

tutor ocupa cada vez mais uma posição de destaque no cenário educacional, em

face da grande expansão no ensino superior a distância no Brasil nos últimos anos.

As especificidades desta modalidade demandam ao tutor uma série de novas

aprendizagens e atividades, muitas das quais ele não foi preparado, trazendo

consigo desafios desde a sua formação inicial universitária. E diante desta

constatação, a universidade vislumbrou a necessidade de ofertar cursos para a

formação de tutores em EaD.

104

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O curso de formação de tutores para educação a distância desta universidade

pública, é promovido por meio de uma resolução do Conselho Universitário13, que é

uma unidade vinculada a Pró-Reitoria de Graduação, com competência para

implementar políticas e diretrizes para a Educação a Distância (EAD). Essas

diretrizes compreendem o interesse em democratizar o conhecimento científico para

as diferentes camadas sociais; propiciar a emancipação coletiva e oportunidade de

acesso ao saber acadêmico, visando a redução das desigualdades sociais; acelerar

o desenvolvimento humano, individual e coletivo, buscado reduzir o nível de

desqualificação profissional e favorecendo a melhoria de qualidade de vida a uma

maior parcela da população, além de formar pessoal com qualidade educativa para

atuar com educação a distância.

A partir destas considerações, buscou-se estabelecer determinações que

atendam à demanda desta universidade pública, por meio da oferta de curso de

capacitação de tutores em EAD, que compreende módulos de 30 horas, de unidades

realizadas a distância, em que estes tutores são avaliados semanalmente, por meio

de tarefas e da participação em fóruns virtuais. Os módulos deste curso de

capacitação procuram abranger os diferentes contextos que se inserem na

modalidade a distância, tais como os fundamentos e políticas de EaD, os diferentes

ambientes de aprendizagem e colaboração, avaliação da aprendizagem em EaD,

além de caracterizar as atividades inerentes ao tutor presencial e a distância. Estas

unidades se dividem em seis módulos que totalizam 180 horas de curso a distância,

que são:

- Fundamentos e políticas em EaD – 30h

- Gestão, estrutura e funcionamento em EaD – 30h

- Teoria e prática tutorial em EaD – 30h

- Comunicação e informação em EaD – 30h

- Ambientes de aprendizagem e colaboração em EaD – 30h

- Avaliação da Aprendizagem em EaD - 30h

A educação a distância é estabelecida por esta universidade pública como

uma modalidade complexa, composta de muitos sub-sistemas (tutoria, avaliação,

131 Órgão máximo deliberativo para traçar a política universitária e instância recursal. É resultante da reunião dos membros do Conselho de Planejamento e Administração com os do Conselho de Ensino, pesquisa e Extensão e é presidido pelo Reitor.

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gestão, comunicação e informação) conectados e não triviais que provocam uma

nova organização dos processos de ensino-aprendizagem.

Apesar da pretensão exemplar desta universidade pública de busca por

definições e qualificações essenciais ao papel do tutor na educação a distância, o

que se percebe, no entanto, por meio das falas de algumas tutoras é a falta de

definições, apoio organizacional e diálogo para estabelecer o entendimento da

realidade do papel do tutor.

A tutora Amanda (a distância) estabelece como sentido deste curso de

formação de tutores, uma breve introdução ao exercício da tutoria, uma capacitação

que deveria ser continuada, que a princípio parece realizar algumas contribuições

para o exercício da tutoria, mas que no decorrer das ações tutoriais vai deixando

muitas lacunas a serem preenchidas, “[...] o aprendizado, isso é mais no dia-a-dia

eu acho que sempre deveria ter, sabe assim, palestras”. “[...] eu senti no decorrer,

assim, da minha atividade, necessidade, assim, de trocar, de conversar, de ampliar,

mas eu acho que o curso inicial ajuda bastante” (AMANDA, a distância).

A fala da tutora Maria Helena (presencial), também revela esta postura da

reduzida contribuição do curso de formação de tutores, “[...] eu fiz o curso oferecido

aqui pela universidade pra tutores, mas é uma coisa muito teórica, digamos assim, a

prática você aprende no dia-a-dia”. Beatriz, tutora a distância, também relata que

esta capacitação é muito básica, que não prepara o tutor para as suas atribuições

“[...] como tutora eu tive essa formação aqui na instituição mesmo, mas eu vou lhes

dizer uma coisa, o curso de aperfeiçoamento de tutor que a instituição aqui dispõe

ele é muito simplório”. A tutora Eduarda (a distância), quando indagada sobre qual a

contribuição do curso de formação de tutores, para as suas atividades tutoriais,

responde um sonoro “não” a esta questão, revelando seu descontentamento e

ansiedade frente a esta situação. No entanto, podem-se destacar algumas

contradições nas falas das tutoras que no decorrer da conversa parecem refletir que

talvez o curso não prepare “tão bem”, mas que diante dos recursos tecnológicos

“até” que o curso de formação de tutores “ajudou”. Amanda (tutora a distância)

refere-se, assim, o seu curso de tutoria, “[...] ele foi, assim, fundamental pro manejo,

as questões mais técnicas, né, de como postar atividades.“ “[...] mas o aprendizado,

isso, é mais no dia-a-dia”.

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[...] aqui na Universidade a gente tem o curso de capacitação de tutores, né? Fiz este curso, gostei bastante, né, pra atuar como tutora à distância utilizando a plataforma moodle que é o que nós utilizamos dentro do curso da Pedagogia EaD foi fundamental, né, que foi através desse curso que a gente teve, assim, um primeiro contato ( CLARA, tutora a distância).

Assim, destaca-se por meio das observações e considerações acerca do(s)

discurso(s) das tutoras envolvidas nesta investigação, a dificuldade que se

estabelece nestas interpretações, que se revelam preenchidas de emoções e

expectativas. O tutor investigado nesta pesquisa busca o seu espaço e ainda sente

dificuldades diante dos diferentes processos pedagógicos e tecnológicos que

envolvem a dinâmica do universo a distância.

Prosseguindo nesta caminhada para compreender o papel do tutor, destaca-

se o indicador “formação continuada”. Pois, ao se fazer uma pequena prévia dos

indicadores até o momento apresentados, pode-se aferir o quanto estas tutoras

“gostariam” de ações, que lhes permitissem desenvolver o papel do tutor com mais

“segurança”, diante das inúmeras possibilidades pedagógicas e tecnológicas que

provocam diferentes situações e ações inéditas na tutoria.

Nas duas últimas décadas, formação e trabalho configuram um binômio interactivo e mutuamente condicionado: se as situações de trabalho apelam à formação, também esta última influencia os contextos de trabalho, sendo visível a crescente e proliferada procura e oferta de formação nos mais diversos grupos profissionais e contextos organizacionais (SILVA, 2000, p.90).

É importante frisar que esta universidade oferece cursos de formação

continuada para toda a comunidade, por meio dos recursos do PAC14. Cursos estes

que de acordo com informações do setor responsável desta universidade,

abrangeriam a formação continuada dos tutores, não como curso de formação

continuada exclusiva para estes, mas um curso genérico, que segundo a

universidade poderia prover “tal” condição.

Portanto, neste indicador “formação continuada” emergem as representações

das dificuldades e frustrações que estes tutores expressam ao se depararem com

esta questão: “[...] acredito que é importante uma formação continuada porque tem

questões, assim, que você só no dia-a-dia você vai sentindo as dificuldades”

(AMANDA, tutora a distância). A grande maioria destas tutoras representa este

141 Programa do Governo Federal de Aceleração do Crescimento.

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indicador de forma dissimulada em seu discurso, associando os diferentes contextos

que demonstram a falta de suporte continuado para desenvolver as suas atividades.

[...] então assim, participar desse novo formato da Pedagogia EaD dentro da ---- com a utilização da plataforma moodle foi complicado, né? Porque o início, né, de um curso, então assim, há todas as questões administrativas, coisas que não são função do tutor acabam ficando pro tutor, né, mas assim, como a gente tem que ter bom senso, né, e acredita que a educação à distância, né, realmente ela tem uma função e é capaz realmente de formar mesmo sendo um curso de formação inicial, aí a gente acaba relevando algumas coisas, mas isso acaba sobrecarregando o trabalho do tutor, então assim, eu acho que a dificuldade maior é por ter sido essa nova edição do curso (CLARA, tutora a distância).

[...] então, eu lhes afirmo que a minha formação de tutor foram consolidadas com segurança através das minhas colegas, das trocas inter tutorial, e interessante isso, essa relação inter profissional porque nós estávamos além do curso (BEATRIZ, tutora a distância).

Esta pesquisa busca destacar a necessidade de ampliar e compreender a

realidade que se apresenta no núcleo: preparação para o exercício da tutoria, que

vislumbrou a diversidade de formações iniciais e de pós-graduações, por meio das

falas das tutoras envolvidas nesta pesquisa.

O que se destacou por meio das narrativas das tutoras, em síntese, é que a

diversidade de formações e pós-graduações não imprimiram um caráter

representativo de impedimento e/ou comprometimento de suas atividades como

tutoras.

No entanto, é válido refletir, que esta é apenas uma pequena amostra do

universo que se insere o tutor a distância, ou seja, uma pequena parcela de tutores

de uma instituição pública. E que esta modalidade, ainda necessita de muitas

pesquisas e regulamentações, pois ela se estabeleceu apenas em 1996, ao ser

incluída como uma das alternativas de diversificação do sistema de ensino no Art. 80

da Lei n. 9.394, que estabeleceu as Diretrizes e Bases da Educação Nacional -

LDB/1996, provocando a curiosidade de diversas universidades que, então,

passaram a desenvolver projetos de cursos e/ou graduação a distância.

Para Lima (2006), esta modalidade tem transgredido a sua impressão inicial

de “aligeiramento” e expansão desenfreada da oferta de vagas na educação

superior, denotando-se, hoje, o reconhecimento de que a educação a distância não

se resume a uma estratégia de mercantilização e privatização do ensino, e sim, que

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deve ser reconhecida em termos de sua utilização como política de Estado e em

termos das novas questões de ordem institucional e pedagógica que suscita.

Os elementos, até este momento aqui expostos, apontam para a riqueza da

relação sentido e significados das falas das tutoras, que discutidos por meio dos

referenciais acadêmicos contribuem para caracterizar o papel do tutor na educação

a distância em instituição pública do curso de Pedagogia. Percebe-se, no entanto,

que outros indicadores são necessários para compreender e ampliar esta reflexão.

Desta maneira, cria-se uma expectativa para o próximo segmento que busca no

núcleo: eu tutor, a ampliação da análise desta pesquisa, para que se possa melhor

compreender o papel do tutor na educação a distância.

7.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO NÚCLEO: EU TUTOR

Este núcleo é fundamental porque revela como as tutoras constituem os

significados e sentidos que atribuem ao papel que desempenham na educação a

distância, por meio de suas experiências e percepções que trazem significações a

esse fato.

Para Stotz (2007) o papel da cultura na construção teórica de Vygotsky é a

base da explicação sobre o funcionamento mental humano e da mediação

semiótica. Para esta autora, a cultura tem a ver com a existência concreta dos

homens em processo sociais, é produto da vida social e da atividade social.

Este núcleo, portanto, procura reunir indicadores constituídos pela unidade

contraditória do simbólico e do emocional da construção humana que compreendem,

de acordo com Aguiar e Ozella (2006), a subjetividade do sujeito que é dada pelos

sentidos, que são o resultado da vivência do sujeito com o significado

contextualizado.

Queremos apropriar-nos daquilo que diz respeito ao sujeito, daquilo que representa o novo, que, mesmo quando não colocado explícita ou intencionalmente, é expressão do sujeito, configurado pela unicidade histórica e social do sujeito, revelação das suas possibilidades de criação (AGUIAR E OZELLA, 2006, p.227).

Então, é por meio da relação dialética entre o aspecto afetivo e simbólico que se

constitui a noção de “[...] compreensão do sujeito e, assim, dos sentidos” (AGUIAR E

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OZELLA, 2006, p. 227), apontando para a complexidade do processo que conduzirá esta

investigação.

Não podemos esquecer que o pensamento, sempre emocionado, não pode ser entendido como algo linear, fácil de ser captado; não é algo pronto, acabado. É interessante quando Vigotski afirma que o pensamento muitas vezes termina em fracasso, não se converte em palavras. Com essa afirmação, podemos entender que vivências ocorrem, que um processo está ocorrendo, mas que não se expressa claramente, ou nem é significado claramente, objetivamente, e, assim, podemos concluir que as vivências são muito mais complexas e ricas do que parecem ( AGUIAR E OZELLA, 2006,p.229).

Diante desta constatação, procura-se não fazer uma mera análise da narrativa do(s)

sujeitos desta pesquisa, mas leva-se em conta as condições, observações e o olhar do

pesquisador que procura refletir por meio de destas narrativas do papel do tutor presencial e a

distância desta modalidade de educação a distância.

A tutoria presencial desta instituição compreende os processos pedagógicos,

por meio do contato direto com os estudantes, ou seja, o atendimento do aluno é

realizado de forma presencial. Além, de que este profissional tem sob sua

responsabilidade o dever de contribuir com os estudantes no desenvolvimento de

seu conhecimento por meio de orientações, esclarecimentos de suas atividades, e

do uso das tecnologias de informação.

A modalidade presencial, que se realiza por contatos presenciais com os alunos, individualmente ou em grupos, visa a elucidar questões referentes às dificuldades de conteúdo e dúvidas quanto à metodologia ou aos aspectos estruturais do curso, tais como provas, trabalhos acadêmicos, etc (BARBOSA E REZENDE, 2006, p.476).

Cabe ressaltar, neste sentido, a percepção a que se remete a tutora

presencial Maria, que percebe que sua presença é necessária em diferentes

momentos do processo de ensino-aprendizagem do aluno: “[...] ajudamos em todas

as atividades que o aluno não entendeu, a gente tá disponível no pólo para todas as

dúvidas do que o aluno não entendeu. Para Ana Luíza, tutora presencial, o contato

direto com o aluno é necessário, “[...] cabe ao tutor presencial receber este aluno,

que tem a necessidade de um contato e a gente acaba fazendo esse papel de

humanizar mesmo”.

O tutor presencial desenvolve um contato mais direto, contato este necessário

para estimular e incentivar os estudantes, “[...] o que eu faço como tutora presencial

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é estar sempre avaliando o aluno com algumas atividades e isto requer mais da

nossa dedicação, por que tem que levar mais material, colocar o aluno a par das

atividades e dos trabalhos” (LÍDIA, tutora presencial). Pode-se perceber também que

estas tutoras remetem a uma diferenciação de seus trabalhos, por meio de seu

discurso, ressaltando-se uma divisão de atividades e ou maior e menor importância

de suas funções, “[...] o tutor a distância é aquela relação de máquina, e de

atividades” (ANA LUIZA, tutora presencial).

A fala da tutora Ana Luiza (presencial), revela uma apropriação de

(des)valoração da relação mediada pelo tutor a distância. Esta consideração pode

estar atrelada à educação presencial e à crença de que a comunicação só se faz

“olho no olho,” pela proximidade entre as pessoas.

O problema reside na natureza da comunicação humana. Pensamo-la como um produto do espírito, mas é feita por corpos: movimentos faciais, tons de voz, movimentos corporais, gestos de mão (…) Na Internet, o espírito está presente, mas o corpo está ausente (J.L.Locke, 2000 citado por Giddens, 2004, p. 101).

Apoiando-se nesta perspectiva, percebe-se que a relação mediada pelas

ferramentas tecnológicas, ainda tende a ser considerada uma forma de

comunicação impessoal e limitada, até mesmo por aqueles que se encontram

inseridos no contexto da educação a distância.

A supremacia da comunicação secundária sobre a primária não pode ser analisada, caso se desconsidere a forma como as relações de produção contemporâneas determinam as condições nas quais ocorre tal heteronomia. De acordo com esta premissa, a análise das características dos programas de educação a distância deve se pautar pelo exame dos contextos históricos nos quais tais programas são aplicados (ZUIN, 2006, p. 942).

No entanto, cabe ressaltar, que esta percepção não é compartilhada pela

grande maioria das tutoras desta pesquisa, sejam estas tutoras presenciais e a

distância. Pois, para Clara (tutora a distância), esta relação se dá de forma

completamente diferente, até mesmo ao questionar que talvez o trabalho do tutor a

distância ofereça uma maior possibilidade ao aluno de comunicação, troca e

desenvolvimento, “[...] há um crescimento do aluno ao longo do tempo com essas

orientações e é uma orientação muito individualizada porque a gente faz o

atendimento individualizado” “[...] se fôssemos comparar com o presencial, esse

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acompanhamento individual direto é muito importante e que, muitas vezes, no

presencial não acontece”.

Então, este não é um ponto pacífico, mas vale refletir, que não se pode mais

voltar no tempo, pois as inúmeras possibilidades e potencialidades das ferramentas

tecnológicas de comunicação proporcionam a sociedade e a educação, um novo

tempo, um novo espaço.

[...] um novo conceito que não se assente numa dicotomia rígida entre os processos de educação presencial daqueles da legítima Educação à Distância, pois as possibilidades cada vez mais intensas de conectividade e de interação propiciadas pela Internet e pelo desenvolvimento das telecomunicações em geral, tornam a noção de presença e distância bastante discutíveis (MARTINS, 2007, p.07).

Cabe destacar, neste momento, o trabalho dos tutores a distância, sendo que

ao tutor a distância atribui-se o papel de contribuir junto aos processos pedagógicos

dos estudantes, com o apoio e o esclarecimento de dúvidas por meio de aportes

tecnológicos e alguns poucos encontros presenciais que ocorrem nesta instituição

pública. No entanto, as diferenças pungentes entre dois modelos de tutoria se

evidenciam diante da constatação de que nesta instituição pública os tutores a

distância avaliam as atividades e o desenvolvimento dos alunos desta modalidade,

cabendo ao tutor presencial apenas o acompanhamento e a orientação das

atividades e do desenvolvimento destes alunos.

Este profissional, na grande maioria das vezes, interage com seus alunos por

meio de encontros virtuais, além de participar ativamente dos processos avaliativos

de ensino-aprendizagem. Para a tutora a distância Amanda, apesar de a

comunicação ser virtual, o vínculo entre tutor-aluno se estabelece, “[...] mesmo

sendo à distância, quando estamos juntos, assim, existe uma proximidade porque

semanalmente nós estamos interagindo, né, são os contatos, as mensagens e o

skype”. A visão de Clara de tutora a distância é a de que seu trabalho se encontra

bastante centrado na plataforma moodle, “[...] o trabalho de tutor à distância, no

curso de Pedagogia EAD, ele tá bem centrado no uso da plataforma”.

Na verdade, na base de muitas das resistências à educação online estavam, e estão, muitos mal-entendidos quanto à natureza da comunicação mediada por computador. Esta percepção tem vindo aos poucos a alterar-se; dado que quer a investigação, quer a prática corrente de intensas trocas sociais através da internet que mostram que a comunicação mediada por computador pode promover comportamentos de

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proximidade e afiliação, relacionamentos interpessoais positivos e relações sociais intensas que podem constituir um solo fértil para ambientes educacionais muito ricos (MENDES; MORGADO; AMANTE, 2010, p.20).

Ao buscar o indicador “função” compreende-se, neste sentido, que este possa

acrescentar considerações relevantes para a caracterização do núcleo: “Eu Tutor”.

Maria Helena, Lídia e Beatriz aparentam certa ansiedade ao descrever suas

funções como tutoras, “[...] eu não me vejo ser professor, ser tutor, separado,

digamos só com o olhar pedagógico” (BEATRIZ), pois segundo elas a dinâmica da

tutoria se confunde com as funções de um professor, de um cuidador, incentivador e/

ou talvez auxiliar de turma. Para Maria, tutora presencial, o tutor é, basicamente,

uma pessoa “[...] ativa, dinâmica, que pensa pra frente, que deve ter uma visão

totalmente aberta e que também passe aquela segurança para os alunos”. Ou seja,

ela percebe o tutor como um incentivador do aluno, aquele que mobiliza intenções

para despertar neste aluno a motivação que se encontra nele próprio.

[...] eu não tinha a mínima ideia do que era ser tutor, né? Eu sabia que acompanhava os alunos e tal, mas como se desenvolvia na verdade esse trabalho com os alunos eu não tinha a mínima ideia, né? Eu fiz o curso oferecido aqui pela universidade pra tutores, mas é uma coisa muito teórica, digamos assim, a prática você aprende no dia-a-dia e, assim, eu percebo que esse trabalho que nós fazemos com os alunos é diferente do trabalho do ser professor, de você estar lá pra você transmitir aquele conhecimento, do ensinar porque não é só isso, não é só a questão “ah, eu tenho dúvida em tal conteúdo” e você vai tentar sanar essa dúvida do aluno, não é só isso. É um trabalho, principalmente eu que sou tutora presencial, que tenho esse contato mais direto com os alunos todas as semanas porque nós nos vemos todos os finais de semana, fora durante a semana que alguns ligam, ou mandam mensagem ou vão ao pólo, muito raro os meus alunos irem ao pólo, mas eles vão quando precisam, eles sentem no tutor um apoio e eu tento fazer o máximo possível pra estar ali pra dar este apoio, mesmo aqueles que vão bem, que não precisam tanto de você, eles gostam de sentir que tem alguém ali “se eu precisar o tutor tá aqui pra me ajudar”. Então, eu, assim, faço o máximo possível pra mostrar pra eles que eu estou à disposição, que o meu papel é esse, seja o de auxiliar, seja o de elogiar, seja o de dar uns puxões de orelha quando é necessário pra que eles sintam que eles não estão sozinhos porque eles não têm um professor na sala de aula, né? Eles têm a mim, que estou ali com eles mais diretamente (MARIA HELENA, tutora presencial).

[...] como disse, a gente tem que ajudar eles bastante, eles estudam e nós também... mas eu acredito que na medida que o curso vai chegando ao fim e eles percebem que não estaremos mais lá, eles aos poucos vão se soltando da gente (LÍDIA, tutora presencial).

Litwin (2001) destaca que todo bom tutor também é um bom professor, e vice-

versa e destaca que não há como separar estas funções, “[...] guiar, orientar, apoiar’

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devem se referir à promoção de uma compreensão profunda, e estes atos são

responsabilidade tanto do docente no ambiente presencial como do tutor na

modalidade a distância” (LITWIN, 2001, p.99). No entanto, Preti (2010) destaca que

a função do tutor, não é a de professor, mas de um profissional diferenciado que

atua como suporte à aprendizagem dos alunos.

[...] o tutor não é visto com a função de um professor. Seu papel consiste, sobretudo, em entrar em comunicação com cada estudante, individualmente, e agir como guia, como suporte à aprendizagem dos estudantes, atuando no campo cognitivo, metacognitivo, social, motivacional e afetivo (PRETI, 2010, p. 05).

Como se pode verificar em seu depoimento, Maria Helena (tutora presencial),

aponta para uma multi-função do papel do tutor na educação a distância, que difere

do papel de professor presencial: “[...]eu percebo que esse trabalho que nós

fazemos com os alunos é diferente do trabalho do ser professor. Revelando a

dificuldade em descrever o “real” papel do tutor, pois os referenciais de seu(s)

discurso(s) demonstram a carência da definição desta função, seja por parte dos

órgãos públicos responsáveis, seja pelas próprias instituições que não delimitam

corretamente a função do tutor, deixando ao cargo do próprio tutor estabelecer qual

o seu papel na educação a distância.

A consideração de “ser tutor” para Luciana (tutora a distância), revela um

outro ponto de vista, o de que o tutor não é um professor, “[...] o tutor, hoje, ele é um

mediador desse conhecimento, então, ele vai trabalhar basicamente junto com o

professor da disciplina, mas tendo funções diferentes da do professor da disciplina”.

Cabe considerar que as tutoras desta investigação não são ingênuas em

relação à falta de parâmetros e definições de sua função. No entanto necessitam se

submeter a estas condições, muitos por necessidade e outros tantas por acreditarem

no pragmatismo da educação a distância.

Destaca-se assim, que o tutor como qualquer outro sujeito da sociedade

precisa sobreviver e ingressar no mercado de trabalho, e acaba por se submeter aos

“conflitos15” e a “imposição” do outro“[...] educar por meios formais e convencionais,

151 O conflito para Vygotsky (2001) se insere como uma ajuda ao sujeito no sentido de refletir sobre suas ações e as situações em que se encontra. “Assim, o conflito não está ligado a um confronto de concepções, mas sim, na maior parte das vezes, a oposições ligadas às próprias ações e operações (Garnier et al, 2003, p. 23).”

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satisfazendo as múltiplas demandas da sociedade parece ser hoje praticamente

inviável”, “[...] é comprometer as possibilidades de atualização profissional e de

progresso social da maioria” (MARTINS, 2007, p. 86).

Avançando na compreensão deste núcleo, percebe-se que os indicadores

“rotina” e “reconhecimento profissional” estão intrinsecamente unidos ao indicador

“função”, como se pode perceber na fala da tutora Luana (presencial), que expressa

sua condição de tutora por meio das necessidades, impulsos, interesses e emoções

que se configuram sentidos particulares. Verifica-se no indicador “função” do tutor uma

carga emocional carregada de contradições e/ ou suposições por parte das tutoras desta

pesquisa.

Neste contexto Luana (tutora presencial) descreve que para ela ser tutor é ser

o orientador, o mediador do conhecimento, pois cabe a este aluno o papel de

principal desta modalidade, na medida em que a intervenção educativa deve levar o

aluno a uma nova leitura da realidade. Há aqui a consideração de Vygotsky (1994)

que destaca a educação como instrumento que objetiva a auto-regulação, a qual

implica no desenvolvimento da consciência. Sendo que este processo de auto-

regulação só é possível por meio do processo de internalização, que seria a

passagem do social para o individual, por meio da regulação pelos outros. Este

processo de internalização promove a negociação com a cultura e concebe a

criação de um sentido por meio de significados. Como já foi dito, para Vygotsky

(1994), o sentido é individual e resultado da atividade do sujeito com o significado.

Em um segundo momento, a tutora presencial Luana expressa sua

subjetividade em relação à falta de reconhecimento de seu papel como tutora, na

medida em que destaca juízos de desilusão e tristeza por esta falta de

reconhecimento de seu trabalho.

[...] ser tutor pra mim é aquele, aquela pessoa que o aluno tem contato, né, pra resolver os seus problemas, digamos assim, porque, queira ou não, na educação à distância o aluno ele é muito [...] agora que eu tô há seis meses, agora que eu to, assim, mais sabendo, assim, qual é minha função mesmo [...] eu acho assim muito triste ser uma bolsa, né, que vem do MEC, eu acredito assim que teria que ter mesmo a função, a profissão, não sei se ainda existe isso, né, a profissão do tutor, mas, assim, que fosse uma coisa mais fundamentada assim, ter direitos porque, queira ou não, você tá trabalhando com uma instituição, né, pública ou particular, né, uma responsabilidade você tá ali ( LUANA, tutora presencial).

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Já a tutora a distância Camila, faz referência a enorme quantidade de

trabalho do tutor (horas necessárias para a organização e o apoio aos estudantes) e

relaciona este fato à quantia aviltante que recebe de “salário”, que na verdade são

bolsas16 que denotam nenhum vínculo empregatício e a completa “desvalia” deste

profissional, “[...] eu faço meu trabalho porque eu gosto, ganho só R$750,00, sei lá,

acho que é isso, pra trabalhar de madrugada, o dia inteiro às vezes, corrigir

atividades, porque tenho que corrigir atividade, ler a atividade do aluno, ler a

atividade de 60 alunos” (CAMILA).

[...] nós tutores não temos nenhum reconhecimento do MEC nesse sentido, mas o tutor deste curso de Pedagogia da X é um professor que responde aos alunos a todas as suas dificuldades o tempo todo e em tempo real, ele pergunta você responde, ele faz atividade você responde, como? Corrigindo, corrigindo, corrigindo[...] o papel do tutor é totalmente fundamental para o aluno crescer no decorrer do curso, é como um professor mesmo, pelo menos pra mim. Os alunos me vêem na rua “oi professora!” eles nunca me chamam de tutora [...] o MEC acha que o tutor, vou usar aquele termo que eu já usei em conversa com você, é o lixo da EaD, ou seja, ele não tem nenhum tipo de reconhecimento. Se o tutor fosse um desmotivado que dependesse de feedback pra trabalhar, não teria nenhum aluno saído pedagogo desse curso porque não tem reconhecimento, não existe, eles não sabem... Eles sabem que existe um tutor que eles acham que o tutor não faz nada, que olha só pra ver se o aluno fez a tarefa, nem sabe se olha, ele não sabe como funciona aqui a nossa relação de tutor com o aluno, ele só sabe que ele tem porque além de nós eles têm n cursos de tutoria que a OAB dirige e hoje passou o pagamento pro MEC, pelo menos isso porque a gente fez, eu encabecei isso, a gente fez muitas cartas direcionadas ao FNDE, ao coordenador disso, ao coordenador de tutoria do MEC não sei o que, mostrando pra eles que nós somos profissionais, nós somos pessoas sérias, nós temos alunos na nossa mão que dependem da gente e que o curso EaD não vai pra lugar nenhum se não tiver o papel do tutor. A gente cansou de mandar esse tipo de carta, o efeito que fez não interessa contanto que hoje o pagamento não é mais atrasado, o MEC assumiu isso, talvez, pelo número de reclamações, não sei quem mais reclamou ou não, mas assim, eu particularmente não dependo de que me dêem feedback ou me reconheçam pelo meu trabalho. (CAMILA, a distância).

Beatriz (tutora a distância), ao se expressar sobre a sua função, rotina e

reconhecimento profissional, evidencia um emaranhado de emoções, considerando

o tutor como peça indispensável para a qualidade e formação dos alunos da

modalidade a distância e, mesmo assim, não recebendo o devido reconhecimento

de seu trabalho.

161 O valor da bolsa pago pela CAPES para os tutores é de R$765,00 (setecentos e sessenta e cinco reais) ; para os professores conteudistas, pesquisadores e revisores o valor da bolsa é de R$ 1.300,00 ( hum mil e trezentos reais).

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[...] uma das maiores dificuldades que eu percebo é a dificuldade de reconhecimento do trabalho e da importância desse trabalho de tutor porque nós não somos somente tutores, nós ocupamos talvez uma bolsa de tutoria, mas nós somos profissionais altamente qualificados a maioria dos profissionais, dos tutores que nós temos aqui no mínimo têm mestrado e no mínimo têm uma experiência no campo pedagógico a maioria dos meus colegas, pelo menos nos terceiros anos, que é o que eu posso falar, estamos num nivelamento muito elevado. Claro que isso reflete na qualidade dessa formação desse aluno, mas o que falta por parte da instituição UAB e desta instituição, é o reconhecimento desse papel e da importância desses sujeitos, desses atores que fazem esse processo de tutoria. Nós até nos reconhecemos assim como uma peça fundamental porque não adianta o professor dar aula se ele não tem o processo do acompanhamento. Infelizmente é transferido de forma até equivocada esse trabalho do professor pro tutor, entra até numa questão ética (BEATRIZ, tutora a distância).

A tutora Clara (a distância) associa-se a este sentimento, ao destacar que não

é reconhecida pelo trabalho que presta na instituição, “[...] não somos reconhecidos,

a gente percebe dentro da própria universidade, professores que não reconhecem o

valor e o significado da tutoria para um curso à distância. Então, às vezes, a gente

percebe isso em alguns comentários, em alguns ambientes, conversas de

professores”.

Todas as tutoras, mesmo as que não revelaram explicitamente seu

“descontentamento” pela falta de reconhecimento e de parâmetros de seu papel na

educação a distância, acreditam na necessidade de ações efetivas para mudar este

quadro e para que o seu trabalho seja compreendido e respeitado no sistema

educacional.

Toda compreensão representa a confrontação de um texto com outros textos [...]. Um texto vive unicamente se está em contato com outro texto. Unicamente no ponto deste contato é que surge uma luz que ilumina atrás e adiante e que insere o texto dado no diálogo (BAKHTIN,1985, p.384).

O papel do tutor, portanto, de acordo com o significado construído por estas

tutoras, revela a o aspecto que o tutor desenvolve e contribui nas diferentes frentes

do processo de aprendizagem da educação a distância, tais como a pedagógica, a

tecnológica, a cognitiva e a avaliativa. Destaca-se, ainda, que este tutor, aqui

investigado, possui formação superior, em nível lacto-sensu e stricto-sensu e não é

reconhecido pelo seu trabalho em prol da construção de nossa sociedade.

Para Martins (2010), Preti (2010), Sá (2007), a educação brasileira não tem

mais como se afastar das novas perspectivas que se imprimem com as

possibilidades da modalidade a distância. Modalidade esta que se insere como

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importante meio para reduzir espaços e distâncias, por meio da utilização de

inúmeros recursos didáticos e tecnológicos que permitem o acesso a educação, a

milhões de pessoas, antes excluídas do processo educacional. Sendo que esta

responsabilidade de conduzir as atividades de ensino-aprendizagem, se realizam na

educação a distância por meio do tutor. Protagonista este que permite uma relação

interativa de troca de saberes e de diálogo, que tem por meta a mediação da

aprendizagem e que deve ser tratado e reconhecido como profissional da educação.

Para além desta visão, cabe considerar que os referencias de qualidade para

educação superior a distância (BRASIL, 2007) apresentam algumas definições

generalizantes a este respeito, e a UAB (BRASIL, 2006) trata o tutor, não como

profissional da educação, mas apenas como um bolsista, e a universidade pública

apenas acolhe toda esta generalização e descaso no que se refere a esta

profissionalização.

O tutor deve ser compreendido como um dos sujeitos que participa ativamente da prática pedagógica. Suas atividades desenvolvidas a distância e/ou presencialmente devem contribuir para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico (BRASIL, 2006, p.21).

Tutor é o profissional selecionado pela IPES vinculada ao Sistema UAB para o exercício das atividades descritas a seguir. No entanto, cabe às instituições de ensino determinar, nos processos seletivos de tutores, as atividades a serem desenvolvidas para a execução dos Projetos Pedagógicos, de acordo com as especificidades das áreas e dos cursos (BRASIL, 2007).

Sem dúvida, são inúmeros os fatores que estão envolvidos na construção

deste núcleo e das posições aqui expressas: a falta de referenciais consistentes

sobre a função do tutor, sua rotina de trabalho e seu reconhecimento profissional, a

julgar pela análise do(s) discurso(s) e observação referentes a(s) tutora(s)

entrevistada(s) que destacaram o seu descontentamento e a banalização de seus

serviços.

Para autores como Preti (2010), Martins (2010), Litwin (2001) e Bernal (2008),

o papel do tutor é fundamental como garantia da inter-relação personalizada e

contínua do aluno na educação a distância, pois viabiliza a articulação necessária

entre os elementos do processo e execução dos objetivos propostos desta

modalidade.

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As políticas atuais de EAD sob influência das novas tecnologias de informação no âmbito das redes estão exigindo mudanças radicais na formação de profissionais, especialistas e de tutores em novas formas de gestão, de organização, estrutura e funcionamento do espaço e tempo das referidas instituições de ensino superior (MARTINS, 2007, p.10).

O tutor é, portanto, uma das engrenagens deste mecanismo educacional que

deve ser compreendido e reconhecido como uma das peças fundamentais que

significam e caracterizam a modalidade à distância. Desta maneira busca-se no

indicador “reconhecimento profissional” elementos que possam contribuir para

organizar este núcleo.

Assim, esse conjunto de reflexões, das narrativas das tutoras investigadas

nesta pesquisa, procura compreender por meio da análise dos sentidos e

significados a partir da perspectiva de Aguiar e Ozella, as tensões e impasses que

não aparecem devidamente assinaladas e/ou debatidas, seja na literatura

acadêmico-científica, nos documentos oficiais da UAB, de responsabilidade do MEC

e/ou da própria universidade em que estas tutoras realizam o seu trabalho.

Assim, falamos de um homem constituído numa relação dialética com o social e com a História, sendo, ao mesmo tempo, único, singular e histórico. Esse homem, constituído na e pela atividade, ao produzir sua forma humana de existência, revela - em todas as suas expressões -, a historicidade social, a ideologia, as relações sociais, o modo de produção. Ao mesmo tempo, esse mesmo homem expressa a sua singularidade, o novo que é capaz de produzir, os significados sociais e os sentidos subjetivos. Indivíduo e sociedade vivem uma relação na qual se incluem e se excluem ao mesmo tempo (AGUIAR e OZELLA, 2006, p. 224).

O conjunto de sentidos e significados encontrado nas falas das tutoras

destaca essas consideram o fato da educação a distância ser uma forma nova e

inovadora de educação, mas também alertam sobre as dificuldades, a falta de

qualificação e de reconhecimento necessário para exercer suas atividades.

O percurso desta análise revela múltiplos indicadores que estão

relacionados entre si. Considera-se que esta análise não se encerra aqui, mas que

suscita maiores discussões, e aponta que, devido à amplitude do contexto social,

político e econômico nas quais se inserem, são difíceis de serem explicadas.

No Brasil, as políticas sociais, econômicas e educacionais continuam se delineando de acordo com as propostas do mercado mundial. “É preciso fazer os ajustes necessários para que o país se desenvolva em sintonia com as outras nações!”, este é o tom dos discursos do governo.

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Modernização na educação (assim como na indústria), diversificação, produtividade, eficácia e competência, são as palavras de ordem. De certo modo, esta mentalidade tende a se cristalizar, o que representa um grande perigo para o campo educacional: ao se regular segundo a lógica da competição, não estaria a escola esvaziando seu sentido, ou contradizendoseu papel?(ANDRIOLLI e SANTOS, 2005, p.04).

É preciso destacar que a educação em nosso país, frente às nossas políticas

educacionais, tem sido tratada por meio de um discurso de banalização e descaso,

em que o seu real compromisso, que é o de preparar cidadãos conscientes de seu

papel na sociedade, fica a margem de vontades políticas. A questão que se coloca,

portanto, para o sistema de educação, remete a falta de compromisso e de

responsabilidade social perante seus cidadãos.

Nesse momento de tantas transformações no mundo, o que se percebe, não

é um compromisso com o desenvolvimento consciente deste sujeito, mas a

necessidade imperativa de formar mão de obra que se insira nos processos

produtivos do capitalismo. Se em tese, é esta realidade que emerge das políticas

públicas e educacionais, cabe nesse momento buscar elementos que por ventura

possam diminuir este abismo que se realiza entre as necessidades educacionais da

população e a elite política.

É preciso romper este círculo vicioso, e propor ações que permitam construir

uma educação projetada em posturas que valorizem a formação de indivíduos

qualificados e conscientes de seu papel na sociedade: “[...] assim, a singularidade

de cada indivíduo não resulta de fatores isolados, mas da multiplicidade de

influências que recaem sobre o sujeito no curso do seu desenvolvimento” (REGO,

2002, p.50).

Estes são alguns dos compromissos que se refletem no próximo segmento

que irá investigar o papel do tutor, por meio da relação tutor-aluno. Núcleo este que

compreende a articulação de novos indicadores que irão se unir a estes, para traçar

o objetivo desta pesquisa, que é o de caracterizar o papel do tutor na educação a

distância em instituição pública.

7.5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO NÚCLEO: A RELAÇÃO TUTOR-ALUNO

120

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A educação da sociedade moderna passa por uma crise cultural. De acordo com

Martins (2007, p. 86), “[...] não é possível pensar a educação como mero repasse de

conhecimentos depositados numa tradição cultural”. Busca-se hoje, novas formas de

educação, que compartilhem responsabilidades solidárias na construção do conhecimento e do

desenvolvimento humano.

Para Moll (1996); Oiveira (1997); Van der Veer; Valsiner (1999), a perspectiva

de Vygotsky possibilita a compreensão do processo de apropriação do

conhecimento que se realiza nas relações do sujeito com o mundo, por meio das

interações sociais e dos processos deliberados da instrução escolar. O sujeito é, em

essência, social em sua origem.

A partir destas considerações destaca-se o núcleo: a relação tutor-aluno, que revela

como as tutoras constituem os significados e os sentidos que atribuem aos

processos pedagógicos que determinam a sua prática. Neste núcleo estão reunidos

três indicadores: as ações pedagógicas, a autorregulação do aluno e a mediação.

Estes núcleos se encontram entrelaçados, e quase impossibilitam a intenção

de deslembrá-los, na medida em que um complementa o outro.

As ações pedagógicas se referem ao processo de aprendizagem, na qual o

tutor acompanha, orienta e ajuda o seu aluno. Este processo, portanto, se realiza

por meio de vínculos de proximidade, sem abandono do profissionalismo, de

maneira a quebrar as barreiras da distância, incentivando, encorajando e

construindo vínculos afetivos com o estudante.

O vínculo afetivo, para Oliveira (1997), estabelece relações necessárias para

que alunos e tutores percebam que ambos têm algo a oferecer, destacando-se,

nesta perspectiva, que a aprendizagem se realiza por intermédio das interações17

que são realizadas.

Nenhuma forma de comportamento é tão forte quanto aquela ligada a uma emoção. Por isso, se quisermos suscitar no aluno as formas de comportamento de que necessitamos teremos sempre de nos preocupar com que essas reações deixem um vestígio emocional nesse alunado (VYGOTSKY, 2001, p. 143).

Esta condição revela uma incógnita na possibilidade de uma educação “a

distância”, no entanto pondera-se esta limitação contextual, pois o conhecimento é

171 Para Vygotsky o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações interpessoais, de troca com o meio, e de relações intrapessoais.

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construído por meio da vivência, e esta não se restringe apenas ao contato físico.

Para Vygotsky (1998), a interação que se estabelece entre as partes envolvidas

contempla todos os atos comunicativos, intenções, crenças, valores, sentimentos e

desejos, que afetam as relações e, consequentemente, os processos de

aprendizagem.

Desta maneira é importante que o tutor perceba o seu aluno como um ser

intelectual e afetivo, que pensa, elabora e constrói conhecimento, não se

restringindo apenas à dimensão cognitiva do processo de ensino-aprendizagem.

Neste sentido, destaca-se o sentido que as tutoras remetem às suas ações

pedagógicas: “[...] é preciso motivar o aluno, dizer parabéns para ele. Eles precisam

disso, acho que isso é normal de toda pessoa, né” (MARIA, tutora presencial). Esta

postura da tutora Maria, revela a dimensão emocional que estabelece vínculos e se

realiza por meio da motivação que o tutor procura despertar no aluno. Pois, a

motivação não está no tutor, o papel do tutor, neste sentido, é o de “mobilizador” da

motivação que se encontra no próprio aluno.

A tutora a distância Luciana, reflete que a tutoria se realiza por meio das

trocas e interações aluno-tutor, o sentido que ela destaca desta relação tutor-aluno,

é o de construção do conhecimento “[...] é na interação com os outros que a gente

vai construir esses conhecimentos”. Para Maria Luiza, tutora presencial, o tutor, “[...]

auxilia os alunos nas atividades, tem os encontros no pólo em que os alunos

acabam mostrando os projetos, nos contando”... “faz aquela participação toda, uma

interação”. Depreende-se desta consideração que, para Maria Luiza, sua relação

pedagógica deve revestir-se de “sensibilidade”, a mediação do conhecimento deve

estar pautada na orientação e nas relações de afetividade.

Eduarda (tutora a distância) também considera que a afetividade interfere nos

processos de aprendizagem e desenvolvimento deste aluno: “[...] ter sensibilidade,

perceber quando o aluno é capaz de agir sozinho ou não, perceber até que ponto vai

a autorregulação do aluno”.

Então, por meio da fala(s) da(s) tutora(s) concebe-se que o significado da

ação pedagógica para essas tutoras se encontra pautado em atividades que buscam

promover a interação, a orientação e o auxílio aos estudantes nos processos de

ensino-aprendizagem. Pois, na modalidade de educação a distância, observa-se que

a atividade do estudante é muito mais exigida que no ensino tradicional.

122

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Neste modelo, portanto, o tutor que concebe sua ação pedagógica, por meio

de uma perspectiva histórico-cultural, irá reconhecer o aluno como um ser pensante,

e com capacidade de superar as suas limitações. Sendo que neste sentido o papel

do tutor nesta relação será o de mediador do conhecimento. Para Vygotsky (1994), é

por meio da mediação de outro mais adiantado, que o sujeito constrói o

conhecimento, que sozinho ele não seria capaz de alcançar, mas que por meio de

orientação é capaz de alcançar.

Esta condição de avanço no desenvolvimento por meio da aprendizagem

remete ao conceito de ZDP (zona de desenvolvimento proximal), que de acordo com

Vygotsky (1994), é a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado

pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, e o nível de desenvolvimento

potencial, determinado através da resolução de um problema sob a orientação de

uma pessoa mais experiente.

Desta maneira compreende-se que o papel do tutor na educação a distância

constitui-se em um conjunto de vivências contextualizadas, como apoiar os alunos

nas diferentes atividades, orientar, refletir sobre as ações pedagógicas, dialogar,

estabelecer vínculos que permitam a construção do conhecimento e da

autorregulação do estudante.

[...] ser tutor pra mim é um conjunto de atribuições, é uma somatória de toda a tua experiência, de todas as tuas vivências e teu histórico e que eu beneficio a instituição, na verdade, eu empresto a minha formação, toda essa minha carga pra instituição dizer que tem um tutor... Ser tutor é além da prática de tutoria (BEATRIZ, a distância).

[...] eu acho que tutor é um mediador , ele é o que media, leva o conhecimento que esclarece que está ali para apoiar. De repente a gente vê que tem alunos que requerem uma explicação um acompanhamento, até mesmo um estímulo. Que vc seja participativo, ativo. O que eu faço como tutora presencial é estar sempre avaliando ao aluno com algumas atividades e isto requer mais da nossa dedicação, por que tem que levar mais material, colocar o aluno a par das atividades e dos trabalhos (LÍDIA, tutora presencial).

[...] a tutoria pra mim, ela é assim, ela é mais que uma mediação, eu acho que é estar junto, né, é você medir a todo trabalho que o aluno faz, as atividades, faz os links, os contatos com os professores, com os orientadores, com nós que estamos no último ano que é de TCC, então, é estar presente, assim, é acompanhá-los, é estabelecer vínculo e a gente tem uma turma, assim, muito participativa, muito inteligente, então nós temos um bom contato. Então, a tutoria, ela tem sido, assim, um grande aprendizado (AMANDA, tutora a distância).

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Os elementos até este momento elencados, agregam considerações que

destacam os indicadores: autorregulação e mediação. Indicadores estes que se

fazem presentes nas ações pedagógicas destes tutores.

A autorregulação, na perspectiva histórico-cultural de Vygotsky (1998), é

entendida como o resultado de um processo de internalização que envolve a

negociação do sujeito com as regulações presentes no contexto sócio-histórico.

Implica em consciência, criatividade e emoção, portanto, vivência. É um processo

intrapsicológico que tem sua origem em processos interpsicológicos.

Esta prerrogativa denota que o papel do tutor na relação tutor-aluno, se

estabelece por meio das relações de respeito mútuo entre aluno-tutor e que

respeitem e possibilitem a construção de vínculos e de novos valores intelectuais, a

partir de discussões e de ações que consideram a opinião e a capacidade deste

aluno. Na verdade, o desenvolvimento da autorregulação é um dos pressupostos

desejáveis na modalidade a distância, pois como já foi observado, o aluno nesta

modalidade é muito mais exigido que no ensino presencial.

Para dar conta deste compromisso, o tutor deve substituir a postura

tradicional de ensino, que remete muito mais à cópia, à repetição de um saber que

se encontra pronto e acabado, e do qual o aluno é mero espectador. Deve substituí-

la por uma postura de reciprocidade e de orientação, em que o próprio aluno

constrói o seu saber, a sua autorregulação, a partir das relações interpessoais. E isto

tudo por meio da apropriação das ferramentas tecnológicas desta modalidade, que

enriquecem o processo de ensino-aprendizagem.

Em síntese, nessa abordagem, o sujeito produtor de conhecimento não é um mero receptáculo que absorve e contempla o real nem o portador de verdades oriundas de um plano ideal; pelo contrário, é um sujeito ativo que em sua relação com o mundo, com seu objeto de estudo, reconstrói (no seu pensamento) este mundo (REGO, 2009, p. 98).

Diante destes elementos, faz-se necessário perceber o quanto se concebe

por meio dos discursos destas tutoras as relações de autorregulação e de mediação

do conhecimento. A tutora presencial Luana, por meio de seu discurso reflete que o

seu papel busca nos processos de mediação a possibilidade da aprendizagem e da

construção do conhecimento, na medida em que ela procura orientar e acompanhar

o desenvolvimento intelectual de seus alunos: “[...] percebo isso através das leituras

124

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dos trabalhos, mas até nas conversas informal e formal na sala” “[...] e nos

trabalhos, então, você vai vendo, né, que eles vão se desenvolvendo” “[...] esse

mediar que eu acredito que é o mais importante”. Eduarda (tutora a distância)

compreende sua relação tutor-aluno como a de um orientador que deve ter

sensibilidade para compreender e permitir aos alunos desta modalidade o

desenvolvimento crescente de seus conhecimentos, por meio das relações que se

estabelecem entre tutor-aluno: “[...] a gente tem que ter sensibilidade, pra saber

quando eles estão errando porque não sabem fazer e quando eles não souberam o

que fazer, como fazer”. Para Maria (tutora presencial), a relação tutor-aluno permite

a construção da autonomia do aluno, a partir do envolvimento e da percepção que

este tutor tem de seu aluno: “[...] eu acho, assim... que eles precisam do tutor para

aprender... quando os trabalhos são postados, eles falam com a gente, tem muitas

dúvidas... mas aos poucos eles vão aprendendo e precisando menos da gente”.

As reflexões acima remetem a exemplificar os diferentes indicadores que

foram propostos neste segmento. Indicadores estes que revelam as ações

pedagógicas, a mediação e a autorregulação como partes que constituem o papel

do tutor na modalidade a distância. Esta perspectiva que percebe o tutor como o

mediador do conhecimento e que procura contribuir para a autonomia do aluno por

meio de suas ações pedagógicas, está presente na maioria dos discursos das

tutoras desta instituição.

[...] vê as potencialidades, acompanha o processo de construção daquele aluno, as fragilidades, as dificuldades que este aluno te demanda e você é a ponte de fazer melhor esse aluno processar aquelas informações que se julga necessárias ele ter pra que ele construa a sua própria formação sem desmerecer todo o conhecimento dele,e a história dele [...] quer dizer que essa consolidação desse conteúdo vai depender da qualidade desse tutor,das condições que esse tutor tem de dar as respostas necessárias pra que se consolide de fato o processo e a formação pedagógica, a construção e o desenvolvimento desse aluno [...] eu me coloco como instrumento para que ele construa o seu processo de desenvolvimento, apenas intervindo naquilo que ele não pode intervir ( BEATRIZ, tutora a distância).

[...] a partir do momento em que nós passamos a realizar o contato com este aluno e ele não compreende... e então nós mostramos um outro ponto de vista... e daí ele começa a entender e fazer sozinho o seu trabalho, pra mim esta é a nossa contribuição... que permite a autonomia deste aluno (MARIA LUÍZA, tutora presencial).

[...] a gente vai orientando de como fazer, né, vai chegar o momento em que ele vai ter que caminhar com as próprias pernas, né, no sentido de ele estar

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buscando, né, então a gente dá a orientação de com fazer, né, pra que ele possa fazer isso sem ajuda só que a gente também não pode ficar enganado que isso é automático, que isso acontece com facilidade que na verdade é todo um processo, assim como no presencial [...] é ser um mediador, mas também é uma mediação que não é uma mediação simples (CLARA, A DISTÂNCIA).

Os discursos apresentados refletem as percepções das tutoras a respeito do

papel que exercem na modalidade a distância. Papel este que está intrinsecamente

ligado à concepção histórico-cultural de Vygotsky, que reconhece o tutor como um

mediador do conhecimento, ou seja, aquele que orienta e organiza o trabalho

pedagógico para atender da melhor maneira possível às exigências do acesso ao

conhecimento deste aluno da educação a distância. Busca-se, assim, por meio da

relação tutor-aluno o envolvimento e o fortalecimento de ações compartilhadas que

permitam o acesso crítico e reflexivo ao saber elaborado.

A rigor, do ponto de vista científico, não se pode educar a outrem [diretamente]. Não é possível exercer uma influência direta e produzir mudanças em um organismo alheio, só é possível educar a si mesmo, isto é, modificar as reações inatas através da própria experiência (VYGOTSKY, 2003, p.75).

A análise deste núcleo: a relação tutor-aluno procurou caracterizar e

compreender as múltiplas-funções do tutor no ambiente da educação a distância em

instituição pública. Admite-se, assim, por meio das narrativas das tutoras presenciais

e a distância, que o tutor pode ser considerado um mediador do conhecimento à

medida que é vulnerável à alteridade de seu aluno. Pois, o desenvolvimento do

aluno depende de uma ação conjunta tutor-aluno, que é resultado de algo que

acontece no espaço desta relação e que possibilita a construção de um

conhecimento que cresce de modo compartilhado.

Atenção, no entanto! Não está se propondo um modelo de tutor, ou uma

relação ideal de tutoria, mas uma outra forma de percepção do papel do tutor na

EaD, sob a ótica dos próprios envolvidos nesta dinâmica educacional, por meio,

ainda, de uma perspectiva que pretende superar os reducionismos idealistas e

mecanicistas no entendimento da aprendizagem e desenvolvimento humano e que

considera o ser humano como ativo e resultado de suas interações em um contexto

que é social e cultural por excelência.

As considerações que até aqui estiveram relacionadas, procuraram

compreender a relação tutor-aluno, por meio do discurso das tutoras e dos 126

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indicadores: ação pedagógica, mediação e autorregulação. Colocadas estas

considerações, compreende-se que o papel do tutor nesta relação se revelou como

“professor”, “orientador” e “mediador”, que promove a construção do pensamento

crítico a partir do estabelecimento de vínculos afetivos, que permite ao aluno a

apropriação de conhecimentos mais complexos e a ampliação de sua capacidade de

autorregulação como sujeito pensante e capaz de “agir” sobre a sua própria

realidade.

8.0 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PERCURSO REALIZADO

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É importante que nos empenhemos em aprofundar a nossa consciência de que a atividade educacional é uma atividade política da mais alta importância

pois estamos fazendo uma nova proposta da sociedade.Neidson Rodrigues

O papel do tutor na educação a distância ocupa cada vez mais uma posição

de destaque no cenário educacional, em face da grande expansão no ensino

superior a distância no Brasil nos últimos anos. As especificidades apresentadas

nesta modalidade e nesta pesquisa, apontam para a demanda de um profissional

que realiza uma série de novas aprendizagens e atividades, para muitas das quais

ele não foi preparado, trazendo consigo novos desafios, desde a sua formação

inicial até as condições nas quais desenvolve as suas atividades tutoriais.

Esta pesquisa busca, portanto, contribuir para a reflexão sobre o papel do

tutor na educação a distância em instituição pública. Pois, compreende-se que não

existem medidas efetivas e/ou regulamentadas em lei, que definam o papel do tutor

e/ ou reconheçam efetivamente a sua importância como profissional da educação a

distância.

Busca-se, neste sentido, compreender o papel do tutor por meio da

identificação de núcleos de significação (Aguiar e Ozella, 2006), constituídos por

intermédio de observações e de entrevistas com doze tutoras de uma instituição

pública de ensino superior do curso de Pedagogia a distância. Por meio das falas

destas tutoras procurou-se estabelecer os significados e sentidos. Estes elementos,

agregados a referenciais científicos, à observação desta tutora e à escolha

metodológica de um estudo qualitativo, procuraram constituir-se em elementos

significativos para a ampliação da discussão sobre o tema.

O problema da presente pesquisa refere-se ao papel do tutor na educação a

distância em instituição pública, acerca da perspectiva que o tutor detém sobre o seu

trabalho pedagógico, sua atividade, formação e reconhecimento profissional na

universidade pública de educação a distância e à luz da perspectiva histórico-

cultural.

Por meio da identificação de três núcleos de significação, buscou-se articular

os objetivos do estudo e a análise do discurso das tutoras. Desse modo, cada

núcleo articula-se a um ou mais objetivos do estudo, assim como cada objetivo pode

estar imbricado em mais de um núcleo de significação.

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Os núcleos: preparação para o exercício da tutoria, eu tutor, a relação tutor-

aluno procuraram estabelecer parâmetros que possam colaborar para a

compreensão da dinâmica das atividades do trabalho do tutor.

Percebe-se claramente a falta de regulamentação por parte dos órgãos

públicos em nosso país, que concebem a modalidade de educação a distância por

meio de referenciais, que não possuem a força de lei. De acordo com o MEC, estes

referenciais têm o intuito de propiciar o debate e as condições básicas para o

desenvolvimento de cursos com qualidade na educação a distância. Compreensão

esta que estará subordinada às interpretações de outrem.

Neste contexto investigado, buscou-se analisar criticamente, portanto, o papel

do tutor, na medida em que cada um dos tutores entrevistados detém uma visão de

realidade e que por meio de suas experiências individuais e concepções distintas

refletem sobre o seu papel.

O primeiro núcleo: “preparação para o exercício da tutoria” procurou

compreender a relação da formação inicial, pós-graduação e a necessidade de

formação continuada das participantes do estudo. Neste propósito, as falas das

tutoras revelam a falta de definição em relação a uma formação específica que

pudesse ser “melhor” para o exercício da tutoria. E mais, reconhecem que a

formação inicial e mesmo a pós-graduação não abrangem os conhecimentos

referentes a modalidade a distância, apontando para a necessidade de uma

formação continuada que permita o amplo exercício e compreensão do papel do

tutor, para além de questões técnicas.

No núcleo: “eu-tutor,” as tutoras entrevistadas revelam as diferentes

atividades relacionadas à tutoria presencial e a distância, que se encontram

vinculadas aos indicadores: função, rotina e reconhecimento profissional. Este

núcleo constitui-se de inúmeras reflexões, sentimentos de insatisfação e indignação

por parte destas tutoras entrevistadas, que reconhecem em seu papel,

independentemente de serem tutoras presenciais e a distância, um trabalhador

polivalente, que tem que lidar com inúmeras possibilidades pedagógicas e

tecnológicas. Mas, que mesmo diante desta constatação, é deixado à margem do

reconhecimento profissional, seja pelos poderes públicos, seja pelas instituições em

que trabalha. Os sentidos aqui encontrados caracterizam o tutor como professor,

orientador e mediador sensível do conhecimento.

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No que tange o núcleo: “relação tutor-aluno”, depreende-se por meio das falas

das tutoras o significado a partir dos indicadores: ações pedagógicas,

autorregulação e processos de mediação. Elementos estes que, contextualizados,

definem possibilidades, limites e contradições que se articulam com “[...] a

construção dos sentidos de seu informante com suas vivências, suas experiências,

como a soma dos eventos psicológicos despertados pela palavra” (AGUIAR E

OZELLA, 2006, p.234). Os sentidos expressos neste núcleo de significação apontam

para uma relação afetiva e cognitiva, uma mediação sensível que deve levar à

autorregulação do aluno.

O conjunto de dados analisados neste investigação apontam o papel do tutor

como mediador cognitivo e afetivo, ou seja, aquele que orienta, ajuda e provoca o

estudante na construção do saber e das diferentes formas de autorregulação. A

construção de sentidos, relatados pelas tutoras, permitiu destacar o tutor como uma

das peças fundamentais que contribuem, por meio de suas ações pedagógicas, para

a construção do conhecimento e autonomia do aluno aprendente da modalidade a

distância.

Assim, por meio da perspectiva de Vygotsky (2003), pode-se considerar que o

papel do tutor permite que o aluno construa o seu conhecimento, mostre-se naquilo

que pede como ajuda e que estabeleça o seu próprio processo de aprendizagem.

Vale destacar, ainda, que Vygostky não considerou o papel do tutor na

modalidade a distância, mas de acordo com este estudioso, é necessário alguém

mais adiantado ou com maior conhecimento para mobilizar a construção do

conhecimento no outro. Depreende-se, ainda, da articulação destes núcleos, que o

papel do tutor deve estabelecer metas e objetivos em sua ação pedagógica, não

esquecendo, um segundo sequer, para quem se está ensinando. Conjugar isso

exige compromisso e responsabilidade com o aluno, o que permite ao tutor avançar

na exigência da compreensão dos processos de ensinar e aprender. Para Vygotsky

(2001), neste caminho a ser percorrido pela atividade do pensar, faz-se necessário

um mediador que 'ensine' o melhor caminho, sendo o aprendizado, o aprender por si

mesmo, mas auxiliado pelo outro.

E é a partir desta perspectiva histórico-cultural que se busca construir o papel

do tutor como mediador cognitivo e afetivo, em que a relação de troca possibilita que

o aluno negocie significados e construa sentidos, o seu pensar crítico, racional e

130

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sensível, que permite novas interações e ações em suas relações sociais. Tal

consideração requer formação abrangente e continuada para o trabalho com o

ensino a distância e que envolva o tutor em uma perspectiva integral, abrangendo a

indissociabilidade entre cognição e emoção dentro de determinada cultura. Neste

sentido, o referencial de Vygotsky apresenta-se como interessante possibilidade de

discussão do papel do tutor na educação a distância.

O panorama geral desta investigação colocou em evidência parâmetros que

caracterizassem e imprimissem os sentidos e os significados que tutoras conferem

ao seu papel em uma instituição pública de curso de Pedagogia na modalidade a

distância. Os poderes públicos devem, sim, intervir e reconhecer o importante papel

do tutor para a educação, a fim de permitir que este desempenhe o seu papel, não

como um “bolsista”, mas como um profissional altamente qualificado e que merece

reconhecimento e garantias como qualquer outro trabalhador brasileiro.

Assim, observa-se que esta pesquisa contempla elementos que permitem

uma resposta ao objetivo de caracterizar o papel do tutor na educação a distância

em uma instituição pública, além de contribuir para o redimensionamento de seu

papel.

Os dados deste estudo, ainda, apontam a importância da realização de novas

pesquisas visando ampliar a compreensão do papel do tutor na educação a

distância, seja na realidade das universidades públicas e/ou privadas. Tais pesquisas

poderão incluir outros objetivos e/ou procedimentos, assumindo que o papel do tutor

na educação a distância requer maiores discussões e reflexões. É preciso, sim, ter

metas e objetivos, que possam traçar um perfil digno deste profissional, para que se

possa dimensionar a sua realidade, as suas funções e, finalmente, o

reconhecimento de seu trabalho.

REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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ANEXO 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você, (tutor que atua na educação a distância), está sendo convidado a participar de um estudo intitulado “O papel do tutor na educação a distância em instituição pública”.

a) É através das pesquisas científicas que ocorrem os avanços importantes em todas as áreas, e sua participação é fundamental.

b) O objetivo desta pesquisa é investigar o papel do tutor na educação a distância e a complexidade de sua atuação.

c) Caso você participe da pesquisa, será necessário que você tutor possibilite a observação de seu trabalho e também responda a um questionário.

d) Como em qualquer pesquisa, você poderá experimentar algum desconforto, principalmente relacionado a observação de seu trabalho, além de considerar responder a perguntas a uma pessoa considerada estranha até o presente momento.

e) Você é livre para responder às perguntas tal como desejar e todas as respostas serão consideradas na pesquisa.

f) Para tanto este pesquisador irá comparecer na instituição classificada para esta pesquisa em Instituição pública de ensino superior de educação a distância de Pedagogia para realizar a observação e a coleta de dados através de questionário que será respondido pelo entrevistado – tutor e gravado por aproximadamente 10 a 15 minutos.

g) Os benefícios esperados desta pesquisa são:

- Compreender o papel do tutor que atua na modalidade a distância; - Observar o desenvolvimento e as implicações deste trabalho para a

educação; - Identificar na fala dos tutores as possibilidades e as dificuldades inerentes à atuação destes profissionais;

h) A pesquisadora Christiane Kaminski, pedagoga, mestranda em Educação da Universidade Federal do Paraná, telefone celular (041) 9998-2377, e-mail: [email protected] é a responsável pela pesquisa e poderá esclarecer eventuais dúvidas a respeito da sua participação.

142

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i) Estão garantidas todas as informações que você queira, antes durante e depois do estudo.

Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde da UFPRTelefone: (41) 3360-7259 e-mail: [email protected]

j) A sua participação neste estudo é voluntária. Contudo, se você não quiser mais fazer parte da pesquisa, poderá solicitar de volta o termo de consentimento livre e esclarecido assinado.

k) As informações relacionadas ao estudo poderão ser inspecionadas pelos orientadores que executam a pesquisa e pelas autoridades legais. No entanto, se qualquer informação for divulgada em relatório ou publicação, isto será feito sob forma codificada, para que a confidencialidade seja mantida.

l) A sua entrevista será gravada, respeitando-se completamente o seu anonimato. Tão logo a pesquisa termine, as fitas serão degravadas.

m) Todas as despesas necessárias para a realização da pesquisa (gravações, deslocamentos, transcrições) não são da sua responsabilidade.

n) Pela sua participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro.

o) Quando os resultados forem publicados, não aparecerá seu nome, e sim um código.

Eu,_________________________________ li o texto acima e compreendi a natureza e objetivo do estudo do qual fui convidado a participar. A explicação que recebi menciona os riscos e benefícios do estudo. Eu entendi que sou livre para interromper minha participação no estudo a qualquer momento sem justificar minha decisão. Eu entendi o que a minha participação será mantida no anonimato e as informações obtidas serão utilizadas tão somente para a pesquisa e sei que qualquer despesa financeira relacionado a esta pesquisa não terá custos para mim.Eu concordo voluntariamente em participar deste estudo.

_________________________________(Assinatura do sujeito de pesquisa ou responsável legal)

Local e data

Identificação do Responsável

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ANEXO 2

MODELO DE ENTREVISTA

Nome:

Profissão:

Instituição onde trabalha:

Tutor Presencial ou a Distância:

Tempo de tutoria:

Formação de Graduação (licenciatura):

Pós- Graduação:

1) Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e

especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações

pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

2) O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício

da tutoria presencial e a distância? Por quê?

3) Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para

atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

4) Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?144

Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde da UFPRTelefone: (41) 3360-7259 e-mail: [email protected]

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5) No seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da

EaD?

6) Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do

estudante?

7) Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores,

coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

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ANEXO 3 – AS ENTREVISTAS COM AS TUTORAS PRESENCIAIS E A

DISTÂNCIA

Nome: Laura Profissão: PedagogaInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: 5 anos aproximadamenteTutor presencial ou a distância: presencialFormação de graduação (licenciatura): Licenciatura plena em PedagogiaPós-graduação: Pós em Interdisciplinariedade e atualmente PDE do Estado.

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Eu tive um privilégio, eu sei que na minha graduação e nem na minha pós-graduação, eu não tive nenhum momento eu tive um aprendizado para isso, mas qdo eu iniciei como tutora no X... vc já teve ter ouvido falar... a 1ª coisa que a gente fez foi um curso de tutoria e este curso nos respaldou muito..apesar de ser uma tutoria diferente desta instituição, não do MEC e eu vou te explicar por quê...nesta época em outra instituição a gente dava tele-aulas para os alunos e a gente aplicava provas, a gente corrigia as provas e a gente acabava ao fim de toda aula a gente tinha que fazer atividades com os alunos, então nos acabamos dando as aulas qdo os alunos não se interessavam.. eu pelo menos acabava ligando a TV e dando a aula com o material já montado diferente que eu já via antes..aí eu via que tinha a possibilidade de incrementar mais a tutoria.. que a gente teve um preparo de 3 meses antes de iniciar o curso... diferente que eu digo da X que já está tudo programado.. vc tem atividade, vc desenvolve.. a atividade é diferente a gente ta aqui dentro da universidade e isso faz uma diferença muito grande.. então posso dizer que da minha formação enquanto pedagoga eu não tive, mas tive o privilégio de ter essa tutoria.. então qdo eu assumia tutoria aqui na Universidade.. creio que um pouco da minha dificuldade no início foi em termos tecnológicos, por que como vc sabe as ferramentas as TIC’s .. aí eu corri atrás deste prejuízo eu acho que o maior empecilho foi esse aí até esse momento, mas tive o privilégio de fazer o outro

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Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

antes.

Não tenho dificuldades com os conteúdos, claro que sempre tem alguma coisa que vc vai pesquisar, mas no geral não tenho problemas por causa da minha formação, que é pedagoga . Tanto que eu defendo, que pra ser tutor uma das 1ªs coisas é que o teu curso tem que casar com a tutoria, por quê o aluno não vai ficar com aquilo que o profº ensina na aula e na apostila, ele vai recorrer ao tutor presencial qdo não compreender um conteúdo ou outro.. ele vai fazer isso e eu já tenho experiência de 5 anos e eu trabalhei no outro 3 anos e estou aqui a mais de 2 anos e essa dificuldade o aluno têm e ele recorre, pra vc e vc tem que ter essa bagagem pra poder retornar para o aluno, por quê é muito importante.. então eu não tenho essa dificuldade pela minha formação e pelo curso de tutora.

Eu acho que ser tutor pra mim é quase ser um professor, eu penso assim. Ele tem que ter todas essas qualidades para ser tutor presencial, por que um dia vai chegar um dia que o teu aluno vai estar doente ou emocionalmente doente e vc vai ter que conversar com ele, vai ter que relevar algumas coisas, vc tem que acompanhar o teu aluno o crescimento dele no pólo, sentar com ele, ver se ele não ta entendendo, por as vezes pela plataforma eles não tão entendendo então vc vai ter que explicar e é vc, é vc que está com teu aluno o sucesso do curso depende de vc inclusive. Por quê vc tem que estar incentivando, facilitando muitas vezes as atividades que não tá no nível, fazer ele compreender a apostila mesmo qdo ele não compreende, explicando o texto que ta ali, eu acho que o tutor tem que ser praticamente um profº, eu não vejo muito a diferença falando aqui do tutor presencial. Então a gente tem aulas no pólo e aulas aqui (universidade) com o aluno e a gente faz as atividades do pólo e durante a semana os alunos recebem via plataforma umas atividades e eu tenho que abrir atividade por atividade desse aluno, olhar e como pedagoga eu olho o conteúdo, para dar

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Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

Como você vê a relação entre tutoria e

um feedback para as alunas.. que mandou certo aqui, que esta nas normas da Abnt, vc faz uma verdadeira cara para o aluno na hora de dar ok no trabalho, para então a tutora ã distância dar o ok dela tb, ela vai olhar o conteúdo e se precisar retornar ela vai retornar e então vai fazer a avaliação das alunas aqui, então a tutora a distância cabe esta situação da nota da avaliação em si, mas eu acho que eu e a tutora Lu, eu to muito cansada... a gente conversa muito por telefone, ela é da minha área norte eu tô sempre no núcleo, então eu vejo assim qdo o aluno começa a receber muito devolva o seu trabalho eu já olho o conteúdo e vejo que o conteúdo não ta legal eu digo: ó faltou argumentação, faltou coesão, ta faltando coerência, ta faltando o teórico então eu vejo a necessidade de ver o trabalho e caminhar junto com a Ana Arruda. Temos +- 200 atividades por semana, agora diminui para 100 então é uma profissão que eu não vejo diferença com p prfº nesse sentido.

Vou te dizer de novo, não posso dizer de outras Universidades, mas eu tive o privilégio no X e tb aqui nesta Universidade de um curso de tutoria, mas eu senti diferença entre os cursos...a tutoria da universidade a gente fez na plataforma e fizemos uma série de atividades e inclusive um TCC e foram 180 hs se eu não me engano. E o meu tutor lá foi maravilhoso de ter muita paciência, por que as vezes eu entrava meia noite e eu senti que o curso da Y foi muito 10. Aprendi um monte eu que já achava que sabia, até por que eu fui mexer com a plataforma, tirei as dificuldades que eu tinha no curso. Temos muito embasamento e base para os alunos do que outra universidades eu sei que tem.Nós da Y somos verdadeiros professores e vejo isso como benéfico, não vejo isso como ponto negativo.Eu vejo que as minha alunas tb, elas tem uma base para continuar o curso elas sabem que podem contar comigo.

Tê falei que aqui isso acontece, mas não

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o desempenho do aluno? Por quê?

No seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da EaD?

Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo,

posso falar das outras, mas o meu relacionamento com as minhas alunas é muito bom em todos os sentidos, na nossa aula no pólo , nas nossas vindas para cá de ônibus, então a gente já tem uma interação dentro do ônibus, tb qdo eu venho aqui a tarde e qdo vamos embora eu já vou dizendo mudou isto aqui, entrem em contato comigo , mudem assim. Etb temos uma outra vantagem que é o estágio das alunas no 2º período em que a gente fica ainda mais em contato com elas ainda, por isso que eu te digo que é importante o tutor ser da mesma área, por que eu não poderia estar atendendo o estágio das minhas alunas se eu não fosse tutora, a nossa base é o diálogo, a compreensão... existe cobrança muita eu cobro muito das meninas tem que usar o jaleco , fazer as atividades a produção dos textos, sei como cada uma escreve, então qdo c já tem essa interação com o aluno e o diálogo que a cidade pequena consegue, já a cidade grande não consegue.

A gente tem que olhar as tarefas deles toda a semana, fazer o feedback, nós temos que acompanhar os estágios e tb acompanhar o desenvolvimento deles se ele está fazendo os trabalhos , qual é o interesse dele no curso , corrigindo as atividades, as produões . vendo o potencial do aluno, chamando aquele que não ta conseguindo acompanhar aí eu dô uma aula a parte eu leio o texto junto.. eu já cansei de fazer isso de ajudar o aluno. Eu chego a sentar com as alunas e interpretar os textos junto com elas.

Então nós acompanhamos todas as atividades dos alunos e conhece até como ele escreve, por que a gente sempre corrige as atividades deles na plataforma, e as nossas atividades são bem intensas mesmo. Eu acredito que eles construam com o tempo esta autonomia intelectual, mas a nossa cultura impede um pouco esta autonomia.

Na verdade eu não vejo grandes dificuldades no nosso caso em específico, mas se eu não fosse da área

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de curso)? Por quê? eu acho que teria uma imensa dificuldade, por quê vc tem que ter conhecimento mesmo. Teórico e pedagógico da área para poder ajudar os alunos e entender o conteúdo. Com a coordenadora de pólo, até eu falei outro dia lá em Cerrro Azul... é uma pessoa muito dinâmica, corre atrás de tudo e temos um pólo novinho por causa dela. E ela sempre está lá e tb temos ônibus de graça para os alunos virem para as aulas em Ctba, a coordenadora sempre conversa com os alunos. Eu acho que o nosso caso é um caso particular eu to falando da minha realidade, não sei dos demais, até em reuniões a gente vê muitas reclamações dos tutores mas a nossa realidade proporciona uma situação diferente, novinho, muitos computadores e gente que a prefeitura contratou para a manutenção destes computadores, vou explicar por que eu acho que funciona a cidade é pequena e a escola é a única fonte de cultura que tem, a nossa coordenadora de pólo é profª e tudo isso facilita e é ela que batalhou para a universidade ir para lá no MEC, então a nossa realidade tem essa diferença muito grande das demais que eu ouço.Si não tivesse todas estas questões como muitos tutores não tem, devem realmente enfrentar muitas dificuldades.

Nome: Maria Profissão: PedagogaInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: presencialTutor presencial ou a distância: 2 anosFormação de graduação (licenciatura): PedagogiaPós-graduação: Filosofia

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Na verdade minha formação é pedagogia e eu sou tutora do curso de Pedagogia, então eu acredito que eu venha a todo momento há contribuir, com os alunos e o curso. Eu acredito que eu tenho uma bagagem tanto de prática qto de teoria.

Como eu poderia te dizer aqui: Às vezes

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Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?

No seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor oa EaD?

o conteúdo vai de encontro a realidade que pede... na verdade eu não vejo dificuldades nos conteúdos pra poder passar para os alunos, por que a maioria das atividades eu já vi, então não tenho muitas dificuldades para passar para eles.

Na verdade é assim: o que é ser tutor, na verdade o tutor é tudo, por que é ele que faz a ponte entre a universidade os alunos. O tutor tem que ser uma pessoa ativa dinâmica, que pense pra frente, que tenha uma visão totalmente aberta, que tb passe aquela segurança para os alunos... o aluno veio, perguntou e não entendeu, ele tem que ter a paciência, tem que ter o conhecimento para passar de uma outra forma o que ele(aluno) não entendeu. Ajudamos em todas as atividades que o aluno não entendeu, a gente ta disponível no pólo para todas as dúvidas do que o aluno não entendeu.

Então na verdade qdo eu entrei, a gente recebeu uma capacitação para trabalhar na plataforma, a gente fez o cursinho... eu acho que assim a princípio a gente ta.. eu to acompanhando a turma e tudo que é passado para a gente trabalhar com os alunos. To conseguindo acompanhar normal. Mas se não tivesse o curso eu acredito que teria dificuldades com a plataforma do curso. Pois ela é a base para entender a plataforma. Qdo a gente fala da formação do tutor, o curso prepara para a plataforma e a pedagogia prepara para a parte de docência mesmo.

Vc diz a relação assim... se não tivesse tutor? Acredito que não, por quê os alunos precisam ter uma pessoa que eles sabem que a qualquer momento eles podem contar com essa pessoa e essa pessoa é o tutor. Eles sabem que podem estar ligando, ir ao pólo... as vezes é preciso motivar o aluno, dizer parabéns para ele.Eles precisam disso, acho que isso é normal de toda pessoa, né.

Na verdade eu acho que eu vou estar me avaliando. Bem eu acho assim, bem é difícil a gente se avaliar. Mas eu acho que eu estou fazendo um bom trabalho, assim sabe, por que não tem reclamações,

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Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

nunca fui chamada aqui por problemas, muito pelo contrário fui chamada por elogios a minha atuação como tutora, por trabalhos que tiveram destaque de nossos alunos, lá de Cerro Azul. Ótimos projetos que estão sendo desenvolvidos, bem na verdade eu acho que está sendo um bom relacionamento, um bom trabalho. Com certeza este trabalho traz bons resultados. .

Eu acho, assim ... que eles precisam do tutor para aprender... quando os trabalhos são postados eles, falam com a gente tem muitas dúvidas... mas aos poucos eles vão aprendendo e precisando menos da gente, eu acredito que seja esta a nossa contribuição para a autonomia deles.

Hoje a dificuldade que eu encontro é a seguinte: é qdo eu tenho o vestibular em Cerro Azul, que é onde a gente se encontra, é de os alunos de fora de nossa região estar realizando este vestibular e tem a questão do estágio de ser lá em Cerro Azul, por ser o nosso pólo, e estes alunos de fora não querem ir até lá. Esa é a única dificuldade. Mas não é nada do que a gente não possa resolver, por enquanto tá tudo certo. Mas tb não conseguimos ter contato com os profº das disciplinas, que seria muito interessante, mas nós não temos. Mas temos total apoio da coordenadora e da tutora a distância.

Nome: Ana Luiza Profissão: Professora Pedagoga e TutoraInstituição onde trabalha: públicaTempo de tutoria: 8 mesesTutor presencial ou a distância: presencialFormação de graduação (licenciatura): PedagogiaPós-graduação: Pedagogia empresarial e Educação inclusiva

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais

Eu acho que é todo o processo , se vc pensar no sentido assim que a minha graduação foi presencial e a minha pós foi totalmente a distância e isso ajudou

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situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?

bastante por que acabei fazendo atividades e acho que isso me ajuda como tutora. Por que eu sou tutora presencial e lido com os alunos todos os dias e acho que estas formações me ajudam para auxiliar o aluno, relação professor-aluno, um vínculo.

Como eu sou formada em pedagogia, e acho que eu sou um professor também e isto me ajuda a trabalhar as disciplinas e as dificuldades do aluno. O aluno muitas vezes não tem o conhecimento de como funciona a educação a distância e cabe a nós ajudarmos ele a entender e motiva-lo. Então pra mim como pedagoga formada na área, todo conteúdo que eu pego é muito tranqüilo mesmo. Me sinto refazendo o curso.

Tutor pra mim, não é um professor é quase como um professor. Por que vc tem contato direto com o aluno e eu auxilio os alunos nas atividades a gente tem os encontros no pólo e eles acabam mostrando os projetos, nos contando... faz aquela participação toda, uma interação. Antes de trabalhar como tutora eu desconhecia o papel, e agora mesmo depois da capacitação que eu tive aqui na Y, o contato com os alunos eu consigo fazer esta diferença, é a mediação mesmo. Por que os alunos são bastante dependentes do tutor. Por que não entendem as atividades, os conteúdos.

Eu acho que é assim , né na minha graduação eu não tive nada, só na capacitação que eu tive aqui é que eu tive acesso ao material e ao entendimento do papel do tutor. Eu vejo que as pessoas tem muita dúvida quando eu digo o que eu faço, muitos não sabem o que é tutor, até mesmo os alunos da EaD não conseguem distinguir o tutor do professor. Para os alunos o tutor é um professor. Ainda existe muita confusão deste papel do professor e do tutor.

Como tutora presencial eu acho que eu me sinto como humanizadora do processo. Por que na educação a distância o aluno estuda sozinho, ele tem o primeiro contato aqui com o professor-formador e a partir daí, ele em o contato

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Do seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da EaD?

Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

com o tutor presencial e o tutor a distância. Mas o tutor a distância é aquela relação de máquina, e de atividades. E cabe ao tutor presencial receber este aluno, que tem a necessidade de um contato e a gente acaba fazendo essse papel de humanizar mesmo.

Meu trabalho acontece assim, eu faço as correções das atividades e mesmo antes de postado eu auxilio o aluno na execução das atividades, pois eles ainda tem dúvidas na interpretação do conteúdo, então eu faço esse auxílio aos alunos que vão até o pólo, mas não é todo aluno que vai e quanto aos que não foram eu faço uma primeira correção e verifico se está de acordo e se for o caso mando sugestões para que eles possam arrumar o trabalho. Com relação aos pólos e aos coordenadores temos reuniões todo mês e não vejo problemas. Então eu vejo meu trabalho neste sentido de auxílio das atividades e correção das atividades no pólo.

A partir do momento em que nós passamos a realizar o contato com este aluno e ele não compreende... e então nós mostramos um outro ponto de vista... e daí ele começa a entender e fazer sozinho o seu trabalho, pra mim esta é a nossa contribuição... que permite a autonomia deste aluno.

A dificuldade inicial eu acho é, eu vir de uma formação presencial e a Ead com relação a informática, eu acho recente pra mim e pros meus alunos. A minha dificuldade e com os alunos foi este contato via plataforma , em que vc tem que ser claro o suficiente para que ele entenda a sua explicação e não gere ainda mais dúvidas eu tenho dificuldade em não estar olho no olho. Pra mim a maior ainda é esta, nas outras não vejo maiores dificuldades.

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Nome: Lídia Profissão: TutoraInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: 3 anosTutor presencial ou a distância: presencialFormação de graduação (licenciatura): Normal superiorPós-graduação: Orientação Educacional

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é

Bom, primeiro como os conteúdos são similares, por eu ser formada em Normal Superior, quase todos os conteúdos fazem parte da minha tutoria. E por ter feito gestão, a questão de administrar de trabalhar com o grupo, facilitou bastante. Eu não vejo dificuldades de estar trabalhando com o grupo.

Olha o material é bastante claro, o objetivo também , tudo que a gente vai ver é discutido antes, então não se tem dúvidas, assim, né. Então eu acredito assim que o conteúdo ta bom a gente tá dentro e consegue trabalhar tranqüilo.

Eu acho que tutor é um mediador , ele é o que media, leva o conhecimento que esclarece que está ali para apoiar. De repente a gente vê que tem alunos que requerem um explicação um acompanhamento, até mesmo um estímulo. Que vc seja participativo, ativo. O que eu faço como tutora presencial é estar sempre avaliando ao aluno com algumas atividades e isto requer mais da nossa dedicação , por que tem que levar mais material, colocar o aluno a par das atividades e dos trabalhos

Olha o curso que eu fiz, tanto para ser tutora pelo X, como o curso aqui da Y que foi a distância também foi muito válido, né para o trabalho com os alunos, a única coisa talvez, bom é que existem muitas

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necessário nesta formação? Como?

Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?

No seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da EaD?

Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

divergências em relação a alunos, alunos desestimulados, com problemas de falta e a gente precisaria ter acesso a alguém mais próximo para resolver os problemas mais rápidos

O aluno acho que no curso Ead, ele tem que ser um aluno empenhado, senão ele não tem como dar conta. Por que veja bem, as vezes eles tem uma aula só da disciplina e eles tem que desenvolver esta aula em várias atividades durante um mês para daí fazer uma prova, então veja que eles se formam nesta disciplina em um mês. Então eles tem que dar conta, ser dedicado, e a gente procura ajudar ele também ao máximo, na verdade eles estudam e nós também, para poder estar auxiliando eles melhor.

Eu acho que está de acordo com o que é pedido, está tudo no caminho. Não vejo maiores dificuldades devido a minha formação.

Como disse, a gente tem que ajudar eles bastante, eles estudam e nós também... mas eu acredito que na medida que o curso vai chegando ao fim e eles percebem que não estaremos mais lá, eles aos poucos vão se soltando da gente.

Bom, talvez a maior de todas as dificuldades seja a gente não ter muito contato com o professor e com o conteúdo que o aluno vai ter, por que a gente tem o conteúdo igual ao aluno através da apostila. E as vezes o professor pensa uma coisa e fala outra na aula e pede outra na prova e a gente teve dificuldade, por que a gente corrige e também lê a mesma coisa que eles e percebe que o que fizemos não é o que o professor muitas vezes pediu na prova. A gente deveria ter um encontro com o professor da mesma maneira que a gente tem com a coordenação, para que o professor exponha o conteúdo de

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maneira que a gente possa ajudar melhor o aluno.

Nome: Luana Profissão: Professora e TutoraInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: 6 mesesTutor presencial ou a distância: presencialFormação de graduação (licenciatura): Licenciatura e Bacharelado em HistóriaPós-graduação: Educação à distância

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

Então, na verdade, assim, na questão da tutoria em si, assim, o que é ser tutor, eu acho que não contemplou. Não contribui pra isso, mas toda a questão da metodologia do ensino que as disciplinas do curso de História trazem, né, como pra orientar o nosso contexto dentro de sala, isso eu acho que auxilia, algumas, mas não em relação assim a... Como eu posso dizer, aos conteúdos mesmo do curso de Pedagogia, fora, digamos, metodologia do ensino de História que entraria dentro da minha formação, né? Mas também eu fiz magistério no nível médio, então isso que me ajuda bastante na tutoria e por eu trabalhar com as séries iniciais também, né, 20 horas semanais, também ajuda, mas em relação ao curso mesmo, assim, acredito que não muito assim. Até a questão da tecnologia, quase a gente nem viu nada assim, no curso de História, né, que eu fiz.

Então, eu acho assim, que é mais uma questão própria minha, assim, uma questão de gostar, da questão do ensino à distância, o perfil meu, assim, mas não que eu... Na verdade eu fui saber disso depois que eu saí da faculdade, eu fui ver que existiam cursos à distância, uma modalidade pela internet, né, que tinha toda essa questão de colaboração, né, diferente que eu fui saber depois, assim, mas durante a faculdade nem imaginava que teria uma forma de ensino como essa, diferenciada.

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O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

Bom, ser tutor pra mim é aquela pessoa que o aluno tem contato, né, pra resolver os seus problemas, digamos assim, porque, queira ou não, na educação à distância o aluno ele é muito... como eu posso dizer, assim, ele tem um trabalho muito individual dele mesmo, né, e quando ele vai ao pólo quem tá lá no pólo somos nós, né, a tutora presencial. Então, eu vejo assim, que nós somos, não sei, o apoio deles, né, nas dúvidas que eles têm nós que estamos com eles sempre, todas as aulas mesmo que eles tenham as aulas com os professores conteudistas, né, é diferente a relação nossa com os alunos, dos professores que eles vêem uma ou duas vezes, né? Muitas vezes, algumas dúvidas ou questionamentos que eles poderiam fazer direto com o professor da disciplina, eles fazem pra nós e nós que levamos pro professor da disciplina que eles estão cursando. Eu acho que o tutor é um professor,com certeza é sim um professor, queira ou não, você coloca um pouco de si, assim, né, quando você vai direcionar uma atividade no pólo, digamos, eu que sou tutora presencial, sempre você coloca alguma coisa da sua vivência, até na fala pra você explicar mesmo que o professor conteudista tenha feito aquela atividade você sempre coloca... até a tua forma de colocar a atividade para os alunos, né, acredito que sim.

Então, eu tenho acho que um outro olhar porque a minha pós é em educação à distância, então quando eu fiz um curso de tutor eu já tinha outro olhar, assim, eu já havia do curso que eu fiz à distância como aluna e aí eu fui vendo de outra forma, eu acho. Mas, se uma pessoa inicia um curso de tutor aonde ela nunca teve nenhum contato, eu acho que não é suficiente, assim, é um início mesmo porque até você entender como é o mecanismo, né, pra você ser um tutor, eu acho que isso leva mais tempo. Agora que eu to há seis meses, agora que eu to, assim, mais sabendo, assim, qual é

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Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?

No seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da EaD?

minha função mesmo.

Então, assim, primeiro pela vivência pessoal minha, né, de já ter passado pela faculdade, curso de pós-graduação, que tem dúvidas que eles trazem que a gente já passou por aquilo e a gente, né, só responder pra eles como é que eles devem fazer e eu acredito também que, essa mediação, assim, que seria nós estamos no meio entre eles e os professores, né, entre eles e a instituição. Então, esse mediar que eu acredito que é o mais importante.

Eu vejo assim, que nós, que somos as presenciais, a gente tá próximo assim, então, com certeza eles perguntam mais, né, as dúvidas até, você vê que em certos momentos se você der abertura você caminha do jeito que você quer, né, você leva eles pra direção, digamos, que você queira, mas também nós temos que deixar eles com autonomia, né, de pensar, de caminhar e construir o conhecimento por si sós, né. Então, vou dar um exemplo, digamos uma atividade de pólo aonde o professor lá fez, nós explicamos da nossa forma, né, no encontro presencial e eles têm muita dúvida, eles têm dúvidas ali de como tem que ser, como não tem que ser, né, tem tantas linhas, se não tem, se pode ser mais, se pode ser menos, até perguntas assim mais, né?... Eles têm dúvidas tanto com relação a conteúdo quanto ao formato de trabalho depende do grupo de alunos, eu acho. Alguns têm questão de formato outros de conteúdo, mas eles, quando eles perguntam pra gente, muitas vezes, assim: “ nossa me dê uma resposta pra isso”, né, e a gente tem que ficar nesse momento numa outra postura assim “não, você que tem que fazer, né, até nós podemos dar as orientações...” Muitas vezes, a gente até procura mais materiais do que aquele professor postou pro aluno fazer atividade porque a gente acha que aquilo vai ajudar o aluno melhor do que tal link que o professor colocou, né? Então, acho que é dessa forma que a

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Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

gente contribui a mais assim... Então, alguns professores já deixam que tenha mais autonomia, outros já são mais fechados, aí depende das disciplinas, né, da reunião que tem com eles e como que eles levam, se tem que ser só aquilo ali ou se a gente pode também fazer outros encaminhamentos.

O aluno vai se desenvolvendo intelectualmente, não estou há tanto tempo assim para acompanhar esse desenvolvimento de como ele entrou e como ele saiu do curso, mas como tenho acesso na plataforma pra ver, né, a questão dos trabalhos assim, isso com certeza. Percebo isso através das leituras dos trabalhos, mas até nas conversas informal e formal na sala, eles têm momentos de apresentações, assim, que eles fazem no pólo, né, dos trabalhos, então, você vai vendo, né, que eles vão se desenvolvendo. A relação tutor-aluno, isso meio que confunde assim, porque nós não somos os professores das disciplinas, né, então, assim, a relação é bem próxima, né, mas em certos momentos você tem que falar “não, agora eu não sou seu amigo...” e tenho que me posicionar como sendo ali quem tá mediando mesmo aquela atividade, mas é uma relação, com certeza, mais próxima, bem próxima.

Então, em relação à tecnologia, coisas comuns, assim, digamos, o skype que não dá certo, pode acontecer, digamos, problemas técnicos, né, e isso sempre acontece. A plataforma é uma ferramenta fácil de lidar. Têm alunos que eram bem leigos assim, e que eles conseguem bem, assim, utilizar a plataforma, né? Nós temos uma coordenação imediata no pólo que nós passamos os nossos anseios pra ela e ela que traz pra coordenação, mas nada também impede de nós, quando estamos aqui, levar as nossas dúvidas pra coordenação pessoalmente também, assim, não tem tanta hierarquia, no caso. Quanto a material didático, eles recebem a apostila de cada disciplina é bem legal,

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assim, a apostila, o conteúdo, têm, nesse caso, muitos materiais que eles podem pesquisar fora daqui, daí vai de cada aluno buscar ou não, né? Nós não participamos da elaboração dos materiais didáticos. A única coisa que acontece é uma reunião com o professor conteudista e os tutores à distância, que eles se reúnem para ver quais as atividades que têm naquela apostila vão ser postadas na plataforma pro aluno realizar, né? Então, nossa conversa com o professor conteudista é por e-mail, pela plataforma, né, e nós conversamos com os tutores à distância, aqueles que estão mais presentes e eles também fazem a sua orientação, que eles vão na reunião, buscam a informação e trazem pra gente. Eu acho que teria que ter, necessariamente, uma reunião com os tutores presenciais com o professor conteudista, porque eu acho que é... você não ... Muitas vezes você não sabe o que o professor tá querendo ali naquela atividade, aí você leva pro seu lado, mas se nós tivéssemos uma conversa ou participássemos da elaboração do material, com certeza, nosso caminho seria bem parecido com aquele que o professor quer que eu siga. A tutora à distância que dá as notas e elas que, daí, tem essa relação mais próxima com o professor. Os alunos têm que postar 75% das atividades pra poder realizar a prova e ter também presença nos encontros presenciais. Então, assim, nós olhamos o trabalho antes de ser postado, mas, sempre colocando pro aluno assim, que não somos nós que vamos avaliar, então, às vezes, o meu olhar sobre aquilo é um e da professora, tutora que vai avaliar é outro, então, nós olhamos, mas, assim, não damos muita opinião, sabe, pra não haver divergência, vai que eu falo que tá ótimo aquele trabalho e a tutora à distância vai lá e acha que não está, né? Então, a gente orienta, mas não damos assim, muito, digamos, não avaliamos ali, não damos nenhuma avaliação para o aluno, feedback pra eles. Com relação a salário e horas trabalhadas eu acho assim, por ser tutora presencial eu acredito que dou conta nas 20 horas, mas, se eu fosse tutora à distância, as minhas colegas, eu acho que não. Assim,

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elas têm muito trabalho pra ler, né, têm disciplinas que têm sete atividades todas escritas e elas têm que sentar, naquela semana e ler todas aquelas pra dar nota, então, acredito, pra elas, 20 horas é pouco, né, pra eu que sou presencial, não, assim, que eu atendo os alunos no pólo, então a gente marca horário, quem tá com dificuldade vem até o pólo durante a semana e aula no sábado, né, então, eu acho que o tempo assim pra mim tá bem. Em questão do salário, eu acho assim muito triste ser uma bolsa, né, que vem do MEC, eu acredito assim que teria que ter mesmo a função, a profissão, não sei se ainda existe isso, né, a profissão do tutor, mas, assim, que fosse uma coisa mais fundamentada assim, ter direitos porque, queira ou não, você tá trabalhando com uma instituição, né, pública ou particular, né, uma responsabilidade você tá ali, você... vou falar assim de uma maneira bem chula, você é a cara da instituição quando o aluno chega lá no pólo, né, você tá ali, ele olha pra você mas ele tá vendo a universidade quando ele olha pra você. Então, acredito assim, que o salário não, nos dias de hoje, né, pra 20 horas semanais é pouco, que é a bolsa de R$765,00, né, a tutoria. Nesse formato de educação são só duas turmas aqui na Yl que vem até aqui, né, que as outras, duas turmas e dois pólos, as duas turmas de segundo, do Rio Negro e Colombo e as duas do terceiro, Rio Negro e Colombo, que vem até, Cerro Azul, perdão, Cerro Azul e Colombo que vêm até aqui. Mas, assim, o formato da educação à distância é o professor conteudista e até o pólo, né, no meu caso eu acharia bem melhor, que eu sou lá de Colombo, se as aulas fossem todas lá, com certeza é mais, né... O meu pólo, eu acho, que até tem estrutura, só assim, tem biblioteca, o laboratório é bom, mas há poucas salas, talvez se tivesse uma sala a mais, assim, já melhoraria, mas, assim da questão das outras coisas eu acho assim, com relação aos pólos que eu já conheço eu acho que lá é bem estruturado, né? Com relação ao material didático, eu acho que dá conta, agora sim porque a biblioteca é recente, então,

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antes não tinha a biblioteca com todos os materiais que estão chegando agora, né, mas também não é uma questão assim do pólo, uma questão só da universidade porque têm outras universidades que também usam o pólo, a universidade de Ponta Grossa, então, ela também manda material, então assim, por ter outros cursos lá que eu acredito que tenha, assim, que é mais, tem mais materiais por causa disso.

Nome: Maria Helena Profissão: Professora Pedagoga e TutoraInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: 2 anos e 7 mesesTutor presencial ou a distância: presencialFormação de graduação (licenciatura): PedagogiaPós-graduação: Organização do trabalho pedagógico

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do

Como a minha graduação também é do curso de Pedagogia, então muitos dos conteúdos que os meus alunos vêem são conteúdos que eu tive na minha graduação. Então, isso contribui porque não é uma coisa totalmente nova que eu estou vendo, e que, com algumas exceções de algumas disciplinas, assim, que até tive uma pincelada durante a graduação, né?, Mas, a maioria das disciplinas são disciplinas comuns do curso de graduação presencial que foi o que eu fiz. Então, eu acho que esse conhecimento prévio que eu já tinha, tem ajudado no trabalho da tutoria e também a minha prática como professora, principalmente nas disciplinas de metodologia e tal, então, a minha prática do dia-a-dia como professora também contribui.

Acredito que consigo estreitar essa relação do conteúdo objeto da tutoria com a minha formação, que contribua bastante. Se eu tivesse uma outra formação que não fosse na Pedagogia, eu acredito que eu conseguiria dar conta da tutoria, né? Que nós temos apostila também, a mesma que os alunos têm pra embasamento, mas eu acredito que esse conhecimento prévio ajuda também.

Então, na verdade quando eu iniciei como tutora eu também tinha essa

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exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

pergunta: o que é que eu vou fazer lá? Porque eu não tinha a mínima ideia do que era ser tutor, né? Eu sabia que acompanhava os alunos e tal, mas como se desenvolvia na verdade esse trabalho com os alunos eu não tinha a mínima ideia, né? Eu fiz o curso oferecido aqui pela universidade pra tutores, mas é uma coisa muito teórica, digamos assim, a prática você aprende no dia-a-dia e, assim, eu percebo que esse trabalho que nós fazemos com os alunos é diferente do trabalho do ser professor, de você estar lá pra você transmitir aquele conhecimento, do ensinar porque não é só isso, não é só a questão “ah, eu tenho dúvida em tal conteúdo” e você vai tentar sanar essa dúvida do aluno, não é só isso. É um trabalho, principalmente eu que sou tutora presencial, que tenho esse contato mais direto com os alunos todas as semanas porque nós nos vemos todos os finais de semana, fora durante a semana que alguns ligam, ou mandam mensagem ou vão ao pólo, muito raro os meus alunos irem ao pólo, mas eles vão quando precisam, eles sentem no tutor um apoio e eu tento fazer o máximo possível pra estar ali pra dar este apoio, mesmo aqueles que vão bem, que não precisam tanto de você, eles gostam de sentir que tem alguém ali “se eu precisar o tutor tá aqui pra me ajudar”. Então, eu, assim, faço o máximo possível pra mostrar pra eles que eu estou à disposição, que o meu papel é esse, seja o de auxiliar, seja o de elogiar, seja o de dar uns puxões de orelha quando é necessário pra que eles sintam que eles não estão sozinhos porque eles não têm um professor na sala de aula, né? Eles têm a mim, que estou ali com eles mais diretamente, eles têm o professor uma vez a cada disciplina, então, eu tento passar o máximo possível pra eles “eu estou aqui pro que der e vier, vocês podem contar comigo”.

Eu acredito que seria interessante que, falando daqui, do nosso curso, que a coordenação do curso em parceria, como nós já havíamos conversado informalmente, não é só o curso de

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Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?

Pedagogia que oferece essa educação à distância, né? Acho que, de repente, poderia haver uma parceria entre os setores que oferecem cursos à distância e oferecer pros tutores outro tipo de formação, digamos assim, porque eu tenho até uma certa facilidade porque eu já sou professora há muito tempo, então eu já tenho essa bagagem de trato com os alunos, mas eu acredito que, de repente, outros cursos, palestras, contato com pessoas de outras instituições que, de repente, trabalhem de uma forma diferenciada, essa troca de experiências, eu acho que seria interessante, de repente trazer especialistas pra estarem... Vamos marcar lá um final de semana de curso pros tutores, eu acho que seria interessante se tivesse, porque como eu disse, pra quem já é professor, eu acredito que seja mais fácil, né? Mas, pensando em outros cursos, como eu te falei, de repente no de administração, que você não precisa ter a formação pedagógica pra você ta trabalhando como tutor, eu sinto pelo que eu converso com os tutores de administração lá do pólo que o trabalho é diferente, agora que elas estão começando a pegar essa coisa de professor-aluno porque a formação delas não é pedagógica. Elas fizeram o curso moodle, moodle não, de tutores pelo moodle, pela Y, mas ali, você... como eu falei, é a teoria, você aprende como surgiu a EaD, como que funciona, qual é o papel do tutor, etc. e tal, na teoria, mas a gente sabe que não é a teoria a única coisa que te forma, a prática também é importante, você estar em contato também é importante. Então, pensando no global, não só na Pedagogia, pensando no todo acho que seria interessante que a universidade oferecesse outros tipos de formação continuada para os tutores, assim como os professores têm formação continuada que os tutores também tivessem, acho que seria interessante.

A minha concepção é que, num curso como o nosso, o aluno precisa muito de sentir esse apoio porque ele, queira ou não queira, ele é um autodidata porque ele tem uma aula com o professor aqui e

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todas as outras atividades ele tem que fazer sozinho, no máximo nas atividades de pólo que eu estou lá pra dar um apoio e que as atividades, geralmente as atividades de pólo são em grupo então, ele consegue trocar uma ideia e tal com os colegas. imaginavam que por ser EaD E, eu penso que se o tutor não tiver ali o tempo todo falando: “olha fulano...” elogiando quando tem que elogiar, puxando quando tem que puxar, sabe? O aluno pela correria do dia-a-dia porque são todos alunos trabalhadores que têm um monte de coisa pra fazer e etc. e tal, ele... Não sei se todos conseguiriam estabelecer essa rotina que a EaD necessita, que ela exige na verdade, se você não criar uma rotina... Eu percebo claramente pelo desenrolar da turma. Nós começamos com 60 alunos, hoje nós estamos com 20, ou seja, 1/3 da turma ficou nesse caminho, né? E, principalmente no primeiro ano muitos alunos acabavam desistindo, obviamente que a gente ligava, mandava e-mail, corria atrás... “fulano o que aconteceu? Por que você está desistindo? Volta e fica”, etc. e tal, porque é o nosso papel, e muitos deles falavam que eles que seria muito mais tranquilo e que não conseguiam, alguns falavam: “eu não consigo estabelecer essa rotina que eu preciso, por mais que você me fale, ‘tente fazer assim tente fazer aquele outro’, eu não consigo”. Então, eu percebo que a EaD ela é muito mais, exige muito mais do aluno, neste sentido, do que uma presencial, por exemplo, e o tutor tem que ta ali dando este apoio o tempo todo, justamente pra ta estimulando o aluno, pra ta puxando “vamos lá...”. Agora no final do ano, os meus alunos por exemplo, tão já no terceiro ano e final de ano, eles já estão assim que não aguentam mais, daí nos encontros que nós temos juntos eu to o tempo todo “vamos lá gente, ta chegando o final do ano, vocês estão terminando, a formatura e tal...” e, às vezes... Eu tenho uma aluna que um dia desses ela falou pra mim: “eu só não desisti desse curso ainda de tanto você falar na minha cabeça porque senão eu já tinha desistido” e eu acho que é esse tipo de coisa que faz valer a pena. É

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No seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da EaD?

você ir, por exemplo, os meus alunos estavam fazendo estágio, você chegar numa escola e você ouvir a professora da turma falando: “nossa, mas eles são alunos de EaD, né? E que maravilha que são essas meninas” sabe? Isso é que faz valer a pena... Nossa! Você sai como se fosse uma mãe que tivesse recebido um elogio pro seu filho, sabe? Eu saio, assim, faceira da escola, né? Que coisa boa que é receber um elogio para um aluno seu. Então, assim, outra coisa que me chama atenção também com relação a eles é essa cumplicidade que a gente acaba tendo, né? Porque eles têm meu telefone celular, até da casa da minha mãe eles têm... “gente se vocês não me acharem em casa liguem na minha mãe porque se eu não tô em casa eu tô na minha mãe”. Até da casa da minha mãe eles têm o telefone, porque precisam de mim podem ligar qualquer horário, sábado, domingo, feriado pode me ligar, eles sabem que eles podem contar e eu percebo que a relação que eles têm comigo é diferente da relação que eles têm com a Elizandra, por exemplo, que é a tutora à distância porque eles a vêem só nos dias de prova, né? Eles não têm esse contato informal, mais informal que eles têm comigo, porque no pólo a hora de fazer atividade é hora de fazer atividade, mas nós temos os nossos momentos de descontração também, eles têm muito mais contato comigo do que com ela.Então, o que acontece, a turma como ela já tá junta há um tempo ela já criou um certo vínculo, inclusive comigo, pra você ter ideia no último sábado, eles fizeram, comemoraram o aniversário de algumas pessoas num boliche karaokê e eles me convidaram e eu estava junto com eles lá. Então, essa relação aqui dentro da sala de aula, você é a nossa tutora, né? E a gente consegue separar bem isso, aqui eu sou a tutora de vocês, mas não impede que fora eles façam alguma coisa e me convidem pra ir também.

Eu percebo que há mudança... Nossa, ocorreu uma mudança tremenda de como era o nosso relacionamento no primeiro ano, por exemplo, pra agora. Se eles têm

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Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

alguma dúvida, se eles estão com qualquer tipo de dificuldade eles não têm, assim, nenhum tipo de receio de me procurar, sabe? Seja por qualquer meio: e-mail, plataforma, telefone, em qualquer momento eles têm essa liberdade de me procurar e eu tento, por exemplo, quando estou com alguma dificuldade “ah, tal atividade eu to com dificuldade pra resolver” eu tento apontar o caminho, mas não... deixando com que eles... Né?... Só mostro assim: “olha, você vai por aqui, você, de repente, dá uma olhada em tal lugar, procura isso e tal”, mas, deixando que eles trilhem o seu caminho, porque eu acho que é por aí, a tal da história, você... Eu sou uma mediadora, eu me vejo enquanto tutora como uma mediadora do conhecimento.

Eu não levo nada pronto pra eles, mas estou ali dando apoio pra mostrar o caminho, não sei se seria certo isso, mostrar o caminho, mas ajudá-los a encontrar esse caminho, seria isso.

Então tá, vamos começar pelos alunos então. A minha turma é uma turma muito boa, muito boa, eu sou apaixonada por eles, sabe? O perfil da turma é um perfil diferente porque, como eu te disse, a maioria deles já têm, pelo menos, uma graduação, a maioria, e mesmo os que não têm nenhuma graduação, eles têm uma visão que não é uma visão simplista das coisas, eles conseguem discutir de igual pra igual com os alunos que têm uma graduação, eles conseguem elaborar o pensamento de uma forma bacana. Então, assim, é uma turma muito boa, a única dificuldade que eu tenho com relação aos alunos é que... isso acontece não é com a minha turma, mas, com todas as turmas, isso desde o ensino fundamental até o doutorado, acho que sempre tem um ou outro que é assim, né? É com relação aqueles alunos que não são tão comprometidos assim e que daí você tem que ficar o tempo todo correndo atrás, tentando apagar os incêndios, digamos assim, “fulano, o prazo para postar as atividades está

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acabando e você ainda não postou a atividade”, daí você tem que ficar correndo atrás, correndo atrás, correndo atrás e isso, às vezes, eu acho que cansa você e, às vezes, cansa até mesmo o próprio aluno, nesse sentido, mas, a gente sempre consegue contornar a situação e, enfim, fazer a coisa funcionar. Com relação à coordenação que, acho que a principal dificuldade que nós temos é com relação à questão das informações. Eu ainda me considero uma privilegiada porque eu deixo a Elizandra quase louca: “Elizandra eu preciso de tal coisa, Elizandra não sei o que” por nós termos já um vínculo, não só enquanto tutoria, então eu sinto que tenho a liberdade em ta ligando pra ela, pedindo e perguntando, quando eu preciso de alguma coisa da coordenação eu sei que eu posso passar pra ela que eu sei que ela vai correr atrás pra mim, até com relação a alguns questionamentos dos alunos e tal... Porque como nós estamos aqui em Colombo que é do lado, e assim, como eu te falei, nós temos um vínculo que é anterior à questão da tutoria, eu tenho essa liberdade, de repente, ligar na casa dela, mandar um e-mail e tal, e eu sei que ela vai correr atrás pra mim. Não sei como que é com relação às outras tutoras que estão nos pólos mais distantes, essa questão da comunicação com a coordenação, se precisam tirar alguma dúvida não sei como que funciona.Geralmente, eu passo a dúvida pra Elizangela e como é ela a tutora que está aqui, ela repassa para a coordenação, verifica a situação, de repente, alguma situação de aluno etc. e tal e depois ela me dá o retorno, então, ela acaba sendo a minha ponte com a coordenação. Inclusive porque, como eu te disse, eu sou professora da rede e esse é um também dos meus problemas, digamos assim, né? Porque eu não tenho dedicação exclusiva à tutoria, então, por exemplo, à tarde que é o horário que o coordenador está aqui, eu estou em sala de aula, então, eu não posso ta, de repente, no telefone ligando, perguntando, então, graças a Deus existe a Elizandra na minha vida que é a minha ponte com a coordenação. Com relação a salário... Isso é sem comentários... Eu

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acho que... Você, veja bem, a nossa bolsa hoje está em R$765,00, mas nós não recebemos vale transporte, vale alimentação, absolutamente nada. Esses dias eu estava fazendo uma conta, assim, muito superficialmente, dá menos de R$500,00. Resumindo, tudo o que eu gasto... Eu acesso a plataforma todos os dias. Isso é até uma das coisas que eu coloquei aqui, que nesses três anos que eu estou como tutora, uma coisa que eu senti falta é ter um período para você se desligar da tutoria, “não, eu vou ter tanto tempo de férias mesmo”. Pra você ter uma ideia, o ano passado nós tivemos um período que nós não precisávamos ir ao pólo propriamente, mas nós não podíamos nos desligar. Então, assim, eu tirei uns dias pra sair com a minha família, mas todos os dias eu tava lá, de manhã eu sou da família, à tarde eu preciso sentar pra corrigir relatório de estágio porque eu tenho que dar o retorno para os alunos. Oficialmente a nossa bolsa é para 20 horas, mas extra-oficialmente a gente trabalha, sendo bem sincera, todos os dias. Não tem como fugir. O dia que eu estou no pólo são 4 horas que eu fico lá, 3 horas e meia a 4 horas, mas em casa, por exemplo, domingo, que não é meu dia de trabalhar, no mínimo 2 horas e, praticamente todos os dias mais 2 horas. Mas, assim, isso é uma questão minha, eu Edna... Porque, às vezes, no domingo o aluno te passa o recado e daí você... Pelo menos eu dou uma passada de olhos, tem recado aí eu já respondo e assim por diante, né? Deixa eu ver o que mais... Outro problema também que acho que seria com relação a um problema meu, que é não ter a dedicação exclusiva, é com relação aos estágios, né? Pra poder acompanhar. Eu tenho uma diretora maravilhosa que eu consigo negociar horas com ela, daí vou trabalhar à noite e tal, consigo negociar pra eu acompanhar. Gostaria de acompanhar mais de perto, mas quem não consegue essa liberação eu não sei como faz pra acompanhar os estágios, essa é uma outra dificuldade que a gente têm, mas, entre, como diz, os percalços que nós encontramos, é uma coisa muito

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gratificante, eu gosto muito de trabalhar aqui.

Nome: Clara Profissão: Professora Pedagoga e TutoraInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: 5 anos e meio (3 anos à distância e 2 anos e meio presencial em Instituição privada)Tutor presencial ou à distância: à distânciaFormação de graduação (licenciatura): PedagogiaPós-graduação: Especialização em Magistério Superior

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Sim, mas acredito que poderia ter sido explorado mais o curso de Pedagogia. Na época que eu fiz havia uma disciplina optativa chamada educação à distância que foi ofertada no primeiro ano do curso e não aproveitei a disciplina como deveria, né, talvez por estar iniciando na faculdade não vi que aquela disciplina no momento seria importante, né, isso foi no ano de 1999. Então, assim, a disciplina não me chamou muito a atenção até mesmo na época como na forma que estava sendo conduzida no momento e eu acabei cancelando a disciplina, né, e assim, por curiosidade é uma disciplina que futuramente estaria me ajudando bastante, mas era uma disciplina optativa não era uma disciplina obrigatória, isso também já era um porém porque se fosse obrigatória eu teria cursado de qualquer forma, né, mas faltou bastante... A contribuição é da formação como pedagoga, como eu sou tutora à distância do curso de Pedagogia ter os conhecimentos pedagógicos são fundamentais pra questão da tutoria, mas, eu penso que na formação em relação à EaD achei que faltou, né, mas com relação aos conteúdos pedagógicos suficientes pra... O que faltou acredito

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O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?

justamente na parte da educação à distância que depois a gente vai ter que fazer cursos, como foi o caso.

Ser tutor pra mim é ser um mediador, mas também é uma mediação que não é uma mediação simples, mas é também ser um professor, né, porque na verdade quando a gente tá ali corrigindo as atividades do aluno a gente tá desenvolvendo o trabalho do professor que no presencial é o professor que corrige as atividades, né, e a mediação ela é necessária porque na verdade os alunos... Na verdade acho que é uma cultura do estudante brasileiro talvez, a gente tem muita dificuldade, né, de fazer as coisas por si só, sozinho, autônomo para buscar certas coisas, então o tutor vai estar ajudando neste processo.

Aqui na Universidade a gente tem o curso de capacitação de tutores, né? Fiz este curso, gostei bastante, né, pra atuar como tutora à distância utilizando a plataforma moodle que é o que nós utilizamos dentro do curso da Pedagogia EaD foi fundamental, né, que foi através desse curso que a gente teve, assim, um primeiro contato, né, com a plataforma, mas, acredito que a formação continuada ela é necessária porque muitas vezes a gente, na verdade, com o curso de tutor você tem uma noção inicial, com a prática da tutoria, utilizando a ferramenta, utilizando a plataforma moodle, aí você vai conhecendo mais os recursos que a plataforma tem.

Aí eu acho que vou voltar um pouquinho naquela outra resposta que eu dei porque assim, a gente consegue acompanhar a evolução do aluno durante os três anos, to colocando em destaque o curso de Pedagogia EaD daqui da Universidade. Então, a gente consegue acompanhar desde aqueles primeiros textos não muito claros, né, e aí a gente vai indicando “olha você tem que fazer uma leitura mais cuidadosa... quando você lê você tem que estar destacando os pontos importantes...” A gente vai fazendo essa orientação de como estudar e depois também de como escrever, a não usar

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No seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da EaD?

Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

certas palavras, ter cuidado com a pontuação e, então, a gente vai observando que há um crescimento do aluno ao longo do tempo com essas orientações e é uma orientação muito individualizada porque a gente faz o atendimento individualizado, acho que isso também esta é uma questão que a gente também tem que destacar se fôssemos comparar com o presencial essa não é a pergunta, né? Mas, se fôssemos comparar com o presencial, esse acompanhamento individual direto é muito importante e que, muitas vezes, no presencial não acontece, né, de forma tão intensa, to pensando na intensidade, mesmo à distância esta intensidade ela acontece.

Então assim, então a gente tem que pensar que o trabalho de tutor à distância ele, no curso de Pedagogia EAD, ele tá bem centrado no uso da plataforma. Nós atualmente, nós não encontramos mais os alunos, já aconteceu momentos de termos encontros aqui na Universidade que os alunos viam pra cá e nós tínhamos esse contato direto, pessoal com eles, agora é somente via plataforma moodle, né, mas o trocar mensagens, né, fazer a orientação de um trabalho, né, escrito do aluno onde a gente pode colocar as considerações necessárias, né, o trabalho pedagógico ele funciona porque a plataforma traz estes recursos de interação, né, entre aluno e tutor.

A autonomia intelectual, acho que é a grande chave, né? Porque a partir do momento que a gente vai orientando de como fazer, né, vai chegar o momento em que ele vai ter que caminhar com as próprias pernas, né, no sentido de ele estar buscando, né, então a gente dá a orientação de com fazer, né, pra que ele possa fazer isso sem ajuda só que a gente também não pode ficar enganado que isso é automático, que isso acontece com facilidade que na verdade é todo um processo, assim como no presencial.

Acho que eu vou elencar somente dois, eu acho que tem mais, né, mas, participar de um curso que está iniciando na Universidade depois da primeira edição

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do curso à distância que foi lá em 2005 ou 2003 me parece, não me lembro agora exatamente o ano, então assim, participar desse novo formato da Pedagogia EaD dentro da ---- com a utilização da plataforma moodle foi complicado, né? Porque o início, né, de um curso, então assim, há todas as questões administrativas, coisas que não são função do tutor acabam ficando pro tutor, né, mas assim, como a gente tem que ter bom senso, né, e acredita que a educação à distância, né, realmente ela tem uma função e é capaz realmente de formar mesmo sendo um curso de formação inicial, aí a gente acaba relevando algumas coisas, mas isso acaba sobrecarregando o trabalho do tutor, então assim, eu acho que a dificuldade maior é por ter sido essa nova edição do curso. Então, há todo um ajuste, né, de coordenação, de organização de curso, né, então, acho que a dificuldade no início foi bem maior. Em relação ao material didático, eu acho importante destacar a questão do material didático porque, às vezes, acontece do próprio professor ainda não ter aquele conhecimento para a produção de material para o curso de EaD que tem uma linguagem diferenciada de um artigo, né, de um trabalho que vai para uma revista científica, né, há esse diferencial, nem todos os professores estão preparados para esse tipo de escrita e, às vezes, isso dificulta na questão do material e aí vai caber ao tutor, ao repassar as atividades para os alunos se for uma atividade que não está numa linguagem, né, talvez, muito clara a gente fazer algumas adaptações, mas isso sempre com a orientação da coordenação de tutoria, não com o tutor por si só, mas sempre com a orientação da coordenação de tutoria e isso em alguns momentos foi feito. Com relação ao reconhecimento, eu acredito que não somos reconhecidos. Primeiro que você começa com uma bolsa, né? Eu tenho uma bolsa, né... E acaba não desmerecendo quem é bolsista, não é essa questão, mas é o valor da bolsa, se fosse um valor maior, né, nem caracterizaria essa questão de

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reconhecimento e, às vezes, não somente pela questão assim do MEC, da instituição, do Ministério, mas, às vezes, a gente percebe dentro da própria universidade, professores que não reconhecem o valor e o significado da tutoria para um curso à distância. Então, às vezes, a gente percebe isso em alguns comentários, em alguns ambientes, conversas de professores até achando que o aluno de graduação não podia ser um tutor já que são propostas atividades e como se estivesse desmerecendo, né, não que o aluno de graduação não tenha capacidade, mas, ele ainda tá num processo de formação. Com relação a salário, na verdade, o valor da bolsa é pra 20 horas, mas a gente trabalha mais que isso. Por exemplo, vou te dar o exemplo de uma disciplina de 120 horas que tem em média 10 atividades para 23 alunos, então são o que? 230 atividades que você tem que corrigir, né, fora as atividades que você tem que corrigir você tem todas as devologias que você tem que fazer não é só dizer “ok, o seu trabalho tá bom”, não, há comentários sobre o que ele fez, se está adequado se não está, se precisa fazer reflexão em tal ponto, refaz pede para refazer, torna a corrigir e além dessa correção tem todo um acompanhamento da vida acadêmica de cada estudante, se ele foi para o pólo, se ele fez a prova, se ele não fez a prova porque ele não fez, enviou atestado, não enviou atestado... Então, todo esse monitoramento além da parte pedagógica quem faz é o tutor, então, a questão de horas, a gente trabalha mais que 20 horas.

Nome: Luciana Profissão: Professora Pedagoga e TutoraInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: 3 anosTutor presencial ou a distância: à distânciaFormação de graduação (licenciatura): PedagogiaPós-graduação: Especialização em Inovações de Projetos Educativos, Especialização em Tecnologia Educacional e Educação à Distância e Mestrado em Educação

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Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

Bom, eu percebo que a minha formação específica na graduação ela não contribuiu de uma maneira muito efetiva pra essa prática de tutoria porque na época em que eu me formei a educação à distância ela não era algo muito presente ainda na sociedade. Então, acho que por conta disso também a nossa formação de Pedagogia no nosso currículo não havia disciplinas que contemplassem isso, né? Não sei em que medida isso hoje, no currículo de graduação está sendo feito ou não, devido essa grande explosão de educação à distância que tá tendo hoje em dia. Mas, durante as minhas especializações e até por conta delas eu escolhi essas especializações em tecnologia educacional, em educação à distância, justamente pela necessidade que eu senti de uma formação complementar que seria especifica pra ta me ajudando nessa prática de tutoria, de trabalho com educação à distância, de escrita de material didático pra educação à distância, que tem que ter esta especificidade que é diferente de escrever um material didático para um curso presencial, então eu penso que essas disciplinas e o próprio curso de graduação, de especialização, ele me formou pra isso, ele me ajudou nas disciplinas a ta refletindo, a ta construindo um referencial teórico, uma base teórica que me auxilie nessa prática com a educação à distância hoje em dia.

Eu percebo que esses conteúdos que são trabalhados no curso de graduação em Pedagogia, eles foram os mesmos, são as mesmas disciplinas basicamente, em que eu, quando estava cursando Pedagogia, eu me formei com essas disciplinas também, então, a gente, nós temos uma base teórica da época da formação de graduação que nos ajuda a ta mediando esse conhecimento com os alunos nessas disciplinas. Mas, eu percebo também que esses conteúdos mais específicos, esses conteúdos que se trabalham muito... assim, muita relação tem a ver com a nossa própria formação pessoal porque nós trabalhamos com um curso em que nós

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No seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da EaD?

damos conta de todas as disciplinas do curso de Pedagogia, então, é lógico que isso tem muito um caráter pessoal do tutor porque apesar de eu ter trabalhado com todas essas disciplinas dentro do curso de graduação, existem aquelas disciplinas em que a gente ou se deu melhor ou que a gente se identifica mais, então, e por conta disso durante as próprias especializações e durante todo o processo de estudo da vida, esse processo de estudo continuado da vida, a gente tende a estar mais inclinado à essas disciplinas que a gente tem mais afinidade ou não, então, essas disciplinas elas seriam, digamos assim, mais fáceis de estar mediando esse conhecimento com os alunos e até mais prazeroso pra gente.

Essa mediação acontece de diversas maneiras eu vejo, então, especificamente eu que sou tutora aqui da Universidade, essa mediação é feita através das tecnologias, então nós temos os fóruns onde é bem evidente isso porque os alunos, eles se colocam e nós nos colocamos em relação aos conteúdos. Existem momentos de questões de correção de atividades onde a gente percebe que, de repente, o aluno, ele não dominou determinado conceito ou, de repente, ele não entendeu a ideia que se passa naquela determinada disciplina daquele autor e que daí, de uma maneira mais escrita ou em forma de chat, alguma coisa assim, a gente tem que ta conversando com o aluno e refletindo com ele pra dizer assim: ”olha, veja bem, não sei se o que você escreveu é de fato o que você entendeu porque não ficou claro isso, então, vamos conversar sobre isso pra ver” e existem os momentos presenciais, no pólo, onde isso também fica mais evidente porque daí não é só relação tutor-aluno, tutor-estudantes, mas é a relação entre os estudantes e o tutor em que há uma reflexão mais coletiva sobre o que se estuda, sobre o que se produz, sobre quais são as atividades, então, geralmente essas atividades do pólo, elas são atividades de reflexões coletivas, de produções coletivas, de estudo coletivo pra que propiciem para os

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O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

alunos essa troca também, essa própria construção porque é na interação com os outros que a gente vai construir esses conhecimentos, então, esses momentos eles são importantes pra isso, especificamente nessas outras disciplinas que, de repente, você não tem uma formação tão específica ou que ta um pouco distante daquilo que você ta acostumado, nós temos toda a bagagem que a própria universidade nos oferta, seja a questão da biblioteca, seja a questão dos próprios professores que aqui dentro estão e que são os construtores dos materiais e os responsáveis pelas aulas presenciais daqui da universidade e que nós podemos recorrer a eles a todo momento. Então, em relação a isso, não tem dificuldade e até porque se tem uma disciplina que de repente os alunos, você perceba que eles estão muito mal, que eles não entenderam nada, que você, de repente, te falte um pouco mais de suporte pra isso que são aquelas disciplinas mais específicas, ou de base, o próprio professor ele pode ta sanando dúvidas, ou aprofundando os conhecimentos através de skype com os alunos, por exemplo no pólo, que é uma prática também que é sempre realizada principalmente com as atividades de prática de docência, que são professores que tem que ta todo momento ali conversando com os alunos até pra ver como é que ta correndo a disciplina e tudo mais.

O tutor, hoje, ele é um mediador desse conhecimento, então, ele vai trabalhar basicamente junto com o professor da disciplina, mas tendo funções diferentes da do professor da disciplina, basicamente ele vai ser esse mediador do conhecimento através das tecnologias e é ele que vai ta corrigindo as atividades e lidando com essa mediação entre os alunos e entre, não só, entre o tutor e o aluno, mas entre os alunos e o tutor também, pra que de fato esse processo de construção do conhecimento aconteça. Então, a gente ta ali como um ponto central do processo de ensino-

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Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?

Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

aprendizagem, não central no sentido de centro como professor tradicional que é o centro do processo, mas assim, ele é que vai, digamos assim, os vários eixos, as várias flechas ele tem, ele ta ali pra poder encaminhar todo o processo de ensino-aprendizagem mediado por essa tecnologia que se oferece.

Essa relação tutor-aluno é uma relação construída, então ela não é uma relação dada, uma relação posta, por quê? Porque nós estamos trabalhando com pessoas em formação. Cada um tem uma personalidade diferente, eu também tenho a minha, então, nessa troca, entende?, a gente vai construindo com os alunos uma identidade, uma identidade que é minha, uma identidade que é deles e depois uma identidade que vai ser da turma. Então, nessa construção de identidade, nessa relação de até respeito porque, assim, imagine com quantas características diferentes de alunos a gente lida ali,,né? e por mais que a gente esteja tratando com a tecnologia, essa relação dentro da tecnologia, ela não é só uma relação tecnológica, ela não é só uma relação fria, de máquina, ela é uma relação que ela existe, porque por mais que eu esteja ali virtualmente e os alunos também, existem momentos que não são virtuais, há momento de aula presencial e tudo, então é uma relação que você acaba construindo e que ela te facilita bastante essa construção de conhecimento, de troca com os alunos e tudo mais.

Contribuo sim para essa construção da autonomia intelectual do aluno, principalmente na educação à distância eu percebo isso porque na educação presencial os alunos ainda são muito acostumados ao professor, a educação ser centrada no professor, então o aluno ele está presente, ele está fisicamente presente na educação presencial e o aluno ele espera desse professor que ta ali na frente aquela devolutiva, né? Então, é assim aquela aula narrativa, dissertativa em que o aluno espera, é isso que ele quer. No curso de educação à distância a característica é outra.

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Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

Então, não existe isso. Ele não pode esperar de mim, ele tem que produzir,então, há aí uma construção que tem que ser feita por ele, entende? Por mais que eu esteja mediando não sou eu que dou, é ele que dá, é ele que traz, eu que devolvo, eu que recebo, mas ele também recebe nessa troca e é aí que essa construção, esse conhecimento vai se construindo, entende? Porque por mais que eu não esteja ali diariamente com o aluno, fisicamente, mas eu estou ali numa construção que ela não é presente no físico, mas ela é presente no estar, estar presente e é isso que faz com que a coisa aconteça. Você percebe nesse processo também, muito mais facilmente, a evolução do aluno, o crescimento intelectual do aluno do que quando é no presencial, por quê? Porque você consegue perceber até no tipo de escrita, no tipo de aprofundamento teórico, no tipo de posicionamento reflexivo que esse aluno tem, você vai caminhando com ele durante esses longos anos e você vai vendo assim “nossa, como tem aluno que amadurece, como tem aluno que evolui, como tem aluno que antes era tão raso e agora ele consegue fazer argumentações e reflexões tão interessantes que extrapola, assim, bem impressionante. E, às vezes, no presencial você não consegue perceber isso porque, veja que interessante, por mais que o professor esteja presente ele, muitas vezes essa relação é tão mais fria do que com essa mediação com a máquina que ele não consegue perceber essa evolução do aluno porque ele tá ali uma vez por semana, uma hora, cinquenta minutos, não sei, e ele não tem uma produção constante desse aluno que ele consiga medir, não no sentido de avaliação, mas medir esse crescimento de uma maneira tão, vamos dizer assim... um processo tão contínuo que nós temos, entendeu? Então, isso é bem interessante assim...

Bom, eu percebo que a educação à distância hoje ela se encontra num processo de expansão total, então, e principalmente aqui na universidade, né?

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Então, eu vejo que, com certeza, há dificuldades a serem superadas, eu percebo assim que muitas das, do que a gente chama hoje de dificuldade, de erro, é... ele foi construído no intuito de acerto mas e como nós estamos num processo de construção até de uma história de educação à distância dentro da universidade, essas coisas eu acho que não se refletem como algo negativo, mas algo que a gente possa sim ta refletindo depois e mudando as coisas pra que elas se tornem uma referência de repente ou que se expanda mais ainda, né?, que é o intuito. Hoje, o que eu percebo é assim, que a gente passa por dificuldades aqui no trabalho de tutoria, especificamente aqui na universidade, é... existem ainda muito descrédito desse curso de educação à distância pelos professores dos setores de educação, então, eu lembro bem que quando essa versão desse curso começou nós tínhamos assim o mínimo de professor que fazia força pra que de fato acontecesse, que tava ali presente do lado a todo o momento, então, todos os professores dos setores ainda não é uma ideia abraçada pelos setores de educação daqui da universidade, é uma pena, né? Ainda se vê muito a questão assim, da educação à distancia como sendo algo assistencialista apenas, uma formação muito rasa mas também não tem a preocupação de ir lá e conhecer qual é o trabalho. Então, essa é uma dificuldade que eu percebo, essa falta de interação com o professor das disciplinas, entende? É uma pena isso, é uma falta e algumas questões assim que eu percebo que às vezes o próprio curso ele acaba se esbarrando nas resoluções que regem a própria universidade, então, o curso ele é um curso de educação à distância mas como ele está dentro de uma universidade pública que tem as suas normas e resoluções, que não são feitas para a educação à distância mas são feitas para uma educação presencial e por isso nós temos que cumpri-las do mesmo jeito, é... nós temos, por exemplo, a obrigatoriedade de frequência nas aulas presenciais, então se uma das premissas da educação à distância é essa flexibilidade, é um curso à distância

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em que o presente não precisa estar fisicamente presente, eu, na minha visão, esta obrigatoriedade de percentual de frequência pro aluno não reprovar na disciplina fica algo meio contraditório à proposta de educação que se chama à distância, né? Mas, no entanto, nós estamos aqui e temos que cumprir isso. Então, existem algumas coisas assim que são burocráticas que acabam atrapalhando o curso. O curso, hoje, ele conta, eu digo hoje, com o mínimo de pessoas trabalhando ali dentro, coisa que até a um ano atrás não havia, então havia só coordenação de curso e estagiários pra toda organização pedagógica por em prática toda a papelada do curso, então isso era uma coisa que atravancava muito e que somente agora é que ta se colocando no papel. Então, o que eu percebo? Eu percebo que a gente ta num processo de construção mesmo e as coisas, às vezes, essas dificuldades são coisas que elas acabam atrapalhando e elas impedem, acabam atrasando esse processo de expansão de melhoria, de tudo, né? Sem contar, assim, nós utilizamos basicamente a tecnologia skype, videoconferências por skype e moodle e o material didático que os alunos têm, mas eu percebo que se houvesse uma integração um pouco maior entre os setores da universidade, então, o setor de comunicação que tem toda uma estrutura de ilha de edição, de produção de material audiovisual conosco aqui da educação à distância, eu penso que, de repente, a gente poderia inovar em alguns aspectos desse curso, entende? Ter um técnico que ficasse na... Nós temos uma sala de videoconferência, tem também montada toda uma estrutura tecnológica ali por que isso não é usado no curso de educação à distância? Sabe? Então, são coisas que ainda travam o processo assim, mas como é uma coisa nova e está em construção, infelizmente é coisa que incomoda, mas que de repente demore um pouco, alguns anos e isso a gente consiga superar, esse tipo de coisa assim...

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Nome: Camila Profissão: Funcionária Pública aposentada, Professora e Tutora Instituição onde trabalha: PùblicaTempo de tutoria: 3 anosTutor presencial ou à distância: à distânciaFormação de graduação (licenciatura): Comunicação SocialPós-graduação: Mestrado em Educação, Especialização em Marketing

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Contribuiu, pelo seguinte, como tutora à distância a minha função é corrigir atividades e mandar feedback pros meus alunos, como eles estão indo nas atividades para eles poderem fazer uma boa prova. A minha área é comunicação social, mas nós temos muitas, hoje em dia, por exemplo, você tem mídia, você tem tecnologia, todas essas áreas e também a minha formação, eu fiz três anos de Psicologia antes de fazer Comunicação Social, essa eu nem conto na minha vida, entendeu? Mas, ela foi muito importante, nesse sentido de pessoas, de estudo, de abrir a sua cabeça em relação a pessoas mesmo, esse contato, essa coisa de você ser o professor, mas ao mesmo tempo ser o orientador, o amigo, uma pessoa que tá respondendo com um feedback aquilo que o aluno tá querendo ouvir mesmo, entendeu? Porque o aluno ele tá ali esperando uma resposta, ele não está ali brincando, alunos à distância não têm tempo de brincar porque eles fazem aquilo porque eles não têm outro horário pra estudar no presencial. Então, o aluno à distância, ele precisa de feedback imediato, se ele mandou um recado pra você hoje, você tem que responder hoje, o quanto antes, né, porque eles têm pressa, também o tempo deles é pouco pra estudar. Agora, essa coisa da formação, qualquer formação que você tenha, eu fiz normal, né, eu fiz colegial e normal, então, com o normal eu já tive uma formação pra professor, o meu curso de Comunicação é como qualquer outro curso, você lê muito, você estuda muito, quando você entra numa tutoria você tem que ter leitura porque senão, é como qualquer outro professor, se você não tem leitura, você não sabe como se comunicar com os seus alunos.

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Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Na verdade, a formação que me trouxe este conteúdo foi a formação de Mestre em Educação, esse conteúdo maior dentro da Pedagogia, que no momento em que eu fiz Mestrado em Educação eu me inseri nos conteúdos da Pedagogia, eu li muito todos os autores necessários à Pedagogia, meu Deus, eu usei deles pra fazer Mestrado em Educação que a área de educação, apesar de que eu fiz Educomunicação, o meu tema foi internet e sala de aula, então eu trabalhei muito com a educação e com a informática. Autores das duas áreas e a relação que eles teriam, aí transformando-se em uma coisa de educação-comunicação, chama-se hoje a Educomunicação, é o professor que hoje tem que dar aula de tecnologia pro aluno de Pedagogia porque senão ele não vai conseguir fazer nada porque os alunos hoje todos trabalham com a informática e se você não souber trabalhar com eles nessa coisa digital, você tá perdido em sala de aula. Se fosse para eu assumir uma tutoria, além da Pedagogia, as áreas que eu estaria preparada são: administração, comunicação, artes, gestão de pessoas, recursos humanos, marketing, muitas áreas. Tenho um leque bastante grande pela formação que eu tenho: Comunicação, Marketing e Educação, eu abri um leque de propósito.

Ser tutor é ser um professor. Nós tutores não temos nenhum reconhecimento do MEC nesse sentido, mas o tutor deste curso de Pedagogia da X é um professor que responde aos alunos a todas as suas dificuldades o tempo todo e em tempo real, ele pergunta você responde, ele faz atividade você responde, como? Corrigindo, corrigindo, corrigindo, mas não é só você olha e diz que ele fez a tarefa e põe uma nota, não! Eu nem ponho nota se o aluno não tem um texto bom, se a concordância verbal dele não tá certa, se ele não sabe a diferença de um há com h e de um a sem h, se ele não sabe usar a crase, se ele não sabe escrever ele não vai poder ser um bom professor, então, ele não tem como sair daquela atividade se ele não refizer todo

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Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

aquele texto e isso faz com que o aluno do primeiro ano quando ele chega no terceiro ano ele tá escrevendo correntemente porque ele aprendeu isso junto com o tutor professor que foi mostrando pra ele quais eram os seus, as suas maiores falhas na escrita, na produção de texto, na hora de, enfim, nas atividades que ele tinha que fazer e, veja bem, professor, o tutor do curso de Pedagogia, ele tem que corrigir as atividades de todas as disciplinas que tem no curso de Pedagogia, não é só as disciplinas que ele se sente mais formado, mais preparado, ele tem que ler o livro que o professor da disciplina faz e ele tem que corrigir todas as disciplinas deste curso, então, você faz um curso de Pedagogia à distância junto como aluno.

O papel do tutor é totalmente fundamental para o aluno crescer no decorrer do curso, é como um professor mesmo, pelo menos pra mim. Os alunos me vêem na rua “oi professora!” eles nunca me chamam de tutora “oi professora... não sei o que...” ou mandam recado “professora eu tive uma dificuldade aqui não sei o que...” ou quando eu corrijo alguma coisa “ai professora, mas veja...” aí eles tentam argumentar, eu adoro isso porque aí eu posso responder a argumentação deles, entendeu? Então, na verdade, eu tenho papel pra eles daquela professora, daquela pessoa, tutora, professora, ou seja lá o que for, que está mostrando pra eles onde estão os seus problemas. Como eu tenho uma apresentação no moodle que é a nossa plataforma, quem eu sou intelectualmente, os cursos que eu fiz e até onde eu posso responder pra eles, eles sabem que eu tenho capacidade ou não para aquilo, entendeu? Eles respeitam você como aquele profissional, que no meu caso, tenho mestrado, poderia ter doutorado, mas não to com vontade de fazer. Quanto a autonomia intelectual do aluno procuro desempenhar meu papel mostrando pra ele que ele é o dono da intelectualidade dele. Ele vai ser a única pessoa que vai poder crescer, posso indicar, “olha, você tem um problema aqui, você tem um problema ali, quando for postar releia a

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Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

sua tarefa, não poste imediatamente” Tem que mostrar para o aluno que ele é um aluno de faculdade, primeiro, que ele é um aluno que tem que saber perceber os seus erros, além de ser aluno ele é professor, então, o tempo todo eu mostro essa relação a ele “você é um professor, você vai ensinar errado pro teu aluno do jeito que você está escrevendo errado nesse texto”. Então, na verdade a nossa relação é de que você é um aluno de faculdade, tem obrigação, já que você quer fazer esse curso e é um professor, de crescer junto comigo, to tentando fazer você crescer e mostrando pra você onde estão as suas dificuldades, então, você vai pegá-las e tentar mudar. E eles fazem isso, eles tentam mudar mesmo, eles refazem textos “professora, refiz o texto, reconheço, li de novo, vi que não tinha nada a ver com aquilo” ou “ai, tava horrível mesmo, meu Deus como consegui fazer aquela concordância sem s, verbo errado, não sei o que...” Eles crescem assim, refazendo, lendo, percebendo. Eles fazem isso pros alunos se a gente deixar porque muitos deles são professores.

A estrutura é muito boa, oferece tudo. A Universidade oferece computadores, sala, livro dos professores... Reconhecimento? Esqueça! O MEC é responsável pelos tutores, pelo pagamento, pelo..., enfim, você é um profissional regido pelo MEC. O MEC acha que o tutor, vou usar aquele termo que eu já usei em conversa com você, é o lixo da EaD, ou seja, ele não tem nenhum tipo de reconhecimento. Se o tutor fosse um desmotivado que dependesse de feedback pra trabalhar, não teria nenhum aluno saído pedagogo desse curso porque não tem reconhecimento, não existe, eles não sabem... Eles sabem que existe um tutor que eles acham que o tutor não faz nada, que olha só pra ver se o aluno fez a tarefa, nem sabe se olha, ele não sabe como funciona aqui a nossa relação de tutor com o aluno, ele só sabe que ele tem porque além de nós eles têm n cursos de tutoria que a OAB dirige e hoje passou o pagamento pro MEC, pelo

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menos isso porque a gente fez, eu encabecei isso, a gente fez muitas cartas direcionadas ao FNDE, ao coordenador disso, ao coordenador de tutoria do MEC não sei o que, mostrando pra eles que nós somos profissionais, nós somos pessoas sérias, nós temos alunos na nossa mão que dependem da gente e que o curso EaD não vai pra lugar nenhum se não tiver o papel do tutor. A gente cansou de mandar esse tipo de carta, o efeito que fez não interessa contanto que hoje o pagamento não é mais atrasado, o MEC assumiu isso, talvez, pelo número de reclamações, não sei quem mais reclamou ou não, mas assim, eu particularmente não dependo de que me dêem feedback ou me reconheçam pelo meu trabalho. Eu faço meu trabalho porque eu gosto, ganho só R$750,00 sei lá, acho que é isso, pra trabalhar de madrugada, o dia inteiro às vezes, corrigir atividades porque corrigir atividade, ler a atividade do aluno, ler a atividade de 60 alunos porque eu sei que eles são o que escrevem igual aluno presencial. Nós damos atendimento a 60 alunos, então a gente divide as tarefas, nós somos duas tutoras à distância e duas presenciais, então, eu e a M., a gente corrige 60 alunos, então como tem, por exemplo, às vezes, tem seis atividades, então uma corrige... “nessa disciplina, você corrige as ímpares e eu corrijo as pares”, porque não adianta nada você pegar e falar assim “eu vou corrigir a metade das tarefas...” por exemplo, dos 60 alunos “do A ao E eu corrijo e você o resto”, o que vai acontecer? Eu tenho uma maneira de corrigir aquela atividade ela tem outra e eu vou corrigir de um jeito, o outro de outro, vai dar maior confusão... Tem fóruns, o que é um fórum? Fórum é uma discussão dos alunos. “O que você pensa sobre essa questão?” Aí ele vai lá e põe no fórum o que ele pensa, e além de pôr o que ele tem que ler de dois colegas e dar um feedback, isso é subjetivo. Ou então vem uma questão lá sobre os PCN’s, não, sobre o PPP, por exemplo, isso eles têm que ir lá na escola, ou, ir pegar uma escola, uma instituição e ver como é que tá esse processo, isso é objetivo. Ele tem que fazer um trabalho,

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mostrar pra gente como que tá o PPP daquela escola e “como você vê isso tendo em vista o que você está lendo desse e desse autor” aí é mais objetivo, então tem lá um arquivo que ele vai escrever, a gente vai corrigir a escrita dele, então é aí nessa correção que entra como ele viu essa tarefa, se ele respondeu a todas as perguntas que a tarefa tava fazendo e junto com isso o texto porque um professor tem que saber escrever. E têm os trabalhos que a gente pede o PowerPoint, por exemplo, fazer apresentações de algumas situações que são mais relevantes pro aluno mesmo, pra ver como que ele faria um trabalho daquele pra apresentar pro aluno, pra ver se ele não vai escrever demais pra ficar cansativo o PowerPoint, se ele consegue pôr imagens que representa aquilo que ele quer dizer. Tudo isso que a gente tem que ver, não é só olhar se o aluno fez a tarefa, tem que ver se ele sabe fazer aquilo, se ele faz um PowerPoint que ele vai apresentar pro aluno dele, entendeu? Então, nós, eu acho que nós do curso de Pedagogia não estamos preocupados mais com esse feedback. Nós damos feedback ao nosso aluno e nosso aluno nos dá o feedback que a gente precisa. O salário, sem comentários! É uma bolsa, a gente acha, e têm professores que estariam nessa defesa com a gente, que nós deveríamos ser considerados como professores substitutos nessa função de tutor. A mesma coisa que o professor substituto ganha, faz em relação à universidade eles deveriam olhar a gente assim, mas aí a gente teria que começar uma batalha, você sabe que tutor ganha muito pouco, ele faz muitas outras coisas, não tem tempo de ir atrás dessas picuinhas. Com relação ao conteúdo, sobre isso que eu quero falar, o conteúdo é uma coisa bem assim complicada porque em muitos momentos, os professores que fazem as apostilas da EaD são professores presenciais da Pedagogia, hoje, a maioria é da UNIVERSIDADE, alguns já foram externos. O problema que a gente percebe como tutora à distância é que algumas atividades vêm desses professores como se fosse uma atividade

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presencial. Não sabe fazer muito essa relação de que o aluno não está fazendo a atividade presencial ele está fazendo a atividade à distância, então, a maneira como vem o pedido da atividade, às vezes, nas reuniões que nós temos antes de aplicar as atividades que vêm nas apostilas dos alunos nós temos que mudar a linguagem, a maneira de pedir porque o professor presencial ele, existe, isso é uma coisa em off mas eu vou te falar, existe uma retração muito grande dos professores da Pedagogia em relação a EaD, eles não gostam, não é a menina dos olhos de jeito nenhum, entendeu? Talvez por isso a dificuldade nas atividades não estarem voltadas ao pedido de elaboração de tarefa à distância, ela parece uma tarefa presencial, assim, daí a gente tem meio que reelaborar. Mas uma participação nossa na elaboração do material didático seria complicada porque a gente não ia ter tempo nem ganhar pra isso. Isso é outra coisa que iria complicar muito, seria interessante, mas, pra falar a verdade, o professor nunca se interessou em perguntar pra nós, tutoras, o que a gente achava de alguma coisa dos livros deles, entendeu? Então, a gente também não... Então, a relação com o tutor, tanto do professor como do MEC é a mesma, eles sabem que a gente existe, alguns acham que a gente tem obrigação de assistir as aulas que eles dão, de tá na reunião com eles, como você vai corrigir isso... A gente vai nessas reuniões, mas nós já sabemos como vamos fazer isso porque nós já temos experiências, assim, com os alunos e com as atividades. Mas, o professor não tá nem um pouco preocupado em como seria mais interessante, por exemplo, muita atividade não é interessante à distância, seria interessante pouca atividade condensada e que abrisse um leque de toda aquela disciplina de uma forma, assim, mais... não com tanta escrita, tanta atividade que acaba deixando o aluno... que ele nem faz direito, acaba recortando e colando, aí tem aquele outro problema que a gente tem que ir lá e quando você vê que aquilo... “eu conheço esse aluno, ele não escreve assim” você copia aquilo, põe no Google e você já vê

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de quem que ele tirou, recorta e cola tem muito. No começo era demais daí eles descobriram que a gente tava tirando nota por causa disso, mostrando “Olha, você fez essa tarefa, você copiou e colou, nem pois o nome do autor.” Aí acaba diminuindo, mas o recorta e cola no começo foi terrível. Infelizmente no presencial tem isso imagine na EaD que você tá ali, você já vai lá no Google já pega um texto e pra recortar, muito mais fácil.

Nome: AmandaProfissão: Psicóloga, Professora e TutoraInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: 3 anosTutor presencial ou à distância: à distânciaFormação de graduação (licenciatura): PsicologiaPós-graduação: Psicopedagogia e Mestrado em Educação

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Bom, felizmente na Psicologia nós temos três grandes áreas que é a clínica, a escolar, e é aí na escolar que eu pego o gancho, né, que eu já teria uma passada, assim, pelas escolas, fiz um trabalho durante a graduação, então, tem bastante a ver com a minha formação inicial nessa área da Psicologia escolar, então, dá pra dar link. Não vejo dificuldades com relação aos conteúdos da Pedagogia porque tem, a gente tem a Psicologia da Educação também, que é uma das matérias que a gente tem na tutoria, né, que tem que fazer todo um trabalho, e as outras tão relacionadas também com ser humano, com um aprendizado. Então, na própria graduação a gente vê todas as linhas, né, de Piaget, de Vygotsky, então, as linhas também da Psicologia tem bastante a ver com as questões do aprendizado.

A tutoria pra mim, ela é assim, ela é mais que uma mediação, eu acho que é estar junto, né, é você medir a todo trabalho que o aluno faz, as atividades, faz os links, os contatos com os professores, com os orientadores, com nós que estamos no último ano que é de TCC,

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Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê? E qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

então, é estar presente, assim, é acompanhá-los, é estabelecer vínculo e a gente tem uma turma, assim, muito participativa, muito inteligente, então nós temos um bom contato. Então, a tutoria, ela tem sido, assim, um grande aprendizado.

Bom, nós tivemos o curso de tutoria, ele foi, assim, fundamental pro manejo, as questões mais técnicas, né, de como postar atividades, tudo. Mas o aprendizado, isso é mais no dia-a-dia eu acho que sempre deveria ter, sabe assim, palestras. Hoje nós temos acesso às informações, mas eu senti no decorrer, assim, da minha atividade, necessidade, assim, de trocar, de conversar, de ampliar, mas eu acho que o curso inicial ajuda bastante. Acredito que é importante uma formação continuada porque tem questões, assim, que você só no dia-a-dia você vai sentindo as dificuldades, né? Nossa troca é entre os tutores, a gente tem, assim, contato, nós temos reuniões com a coordenação, a coordenação é bem flexível, né, tu tem apoio, nós temos a coordenação de tutoria e o coordenador de EaD, que é o professor Y e a professora X, nós temos muito acesso, então, isso facilita muito porque é uma coordenação flexível, então você se sente, assim, a vontade pra ta discutindo as questões que, às vezes, né, os nós, os pequenos nós no transcurso da atividade.

Acredito que o meu papel é fundamental pro desempenho do aluno, pra levar esse aluno à autonomia intelectual porque dentro da nossa função não fica restrito só aquele contato ali por e-mail ou pelo próprio sistema. Os encontros, nós temos os encontros que a gente amplia, vai... almoçamos juntos, tem os intervalos, a gente promove os cafés, tivemos, assim, dois chás de bebês. Então, são vários momentos aonde existe uma troca e uma interatividade que vai promovendo mais o conhecimento, as trocas. Mesmo sendo à distância, quando estamos juntos, assim, existe uma proximidade porque semanalmente nós estamos interagindo, né, são os contatos, as mensagens e o

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Do seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da EaD?

Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

skype, ele tá sendo assim, maravilhoso porque promove esse encontro, assim, a tecnologia tem facilitado.

É de uma forma bastante humana e não deixando, assim, muito, as coisas muito objetivas, sempre tendo, tanto nas avaliações quanto nas conversas, um olhar que vai além daquilo que tá escrito, né, e ali você percebe até quando o aluno ele tá passando por alguma dificuldade e não foram raras as vezes que a gente pegou o telefone, ligou. Então, existe uma aproximação que ao longo vai se desenvolvendo uma sensibilidade maior mesmo através da tecnologia, né, agora sim, citando o exemplo, uma das nossas alunas veio pra cá, a mãe ficou doente, teve um problema, assim, cardíaco, terminou fazendo uma cirurgia, então, sempre a gente tá dando um apoio, uma palavra, né? Quando as meninas também ganharam bebê, vai os presentinhos, vai as mensagens carinhosas. Então, existe assim, esse contato mais próximo e isso contribui porque o professor ele tem que ser humano, ele não pode ser, assim ser simplesmente super objetivo na sua função. O tutor termina sendo um professor porque a gente sempre ensina e aprende, né, e eu acho que essa interação que tá acontecendo é o ensino-aprendizado, o tutor tá aprendendo um tanto com eles, né, com treinos comuns, então, a gente media o trabalho dos professores e ao mesmo tempo a gente vai ensinando. A gente termina corrigindo também as atividades e termina exercendo uma função de professor também, né, no sentido de avaliações.

Bom, vamos assim o mais importante que eu percebo. Às vezes é a questão das provas, né, muitas vezes a gente tem dificuldades porque as provas elas são difíceis pros alunos e eles reclamam muito que eles não estão de acordo, às vezes, com todo aquele conteúdo que tá sendo ministrado e as notas baixam e eles reclamam. Então, eu sinto assim, que talvez se houvesse e tivesse entre os professores e os tutores um contato, uma

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comunicação maior que a gente pudesse também tá auxiliando, né, na elaboração dessas provas pra que elas não fossem tão difíceis, às vezes eles dizem que é até incoerente com o conteúdo que eles estudam, então, essa é uma das dificuldades, né? Hoje mesmo já trouxeram isso pra coordenação, às vezes a coordenação também reconhece que as provas tão num nível, assim, um pouco além daquilo que é esperado, né, do conteúdo que é ministrado que são aulas de duas horas, né, e é cobrado imensamente mais do que foi dado pro aluno, né? Claro que o aluno tem a responsabilidade de pesquisar também, mas sempre tem reclamações, eu to falando mais, assim, da minha experiência. A comunicação é boa, né, até pela tecnologia. O salário, às vezes tem, nessa parte é difícil até comentei com você, eu to, vai pra quatro meses já sem receber, então... Eu recebo de fundo, daí do fundo do Ministério da Educação uma bolsa, daí a bolsa passou da OAB pra CAPES, aí mudou, aí eles ficam sabe assim, muita burocracia, né, a gente não deixa de estar aqui, de desenvolver trabalho da melhor maneira, mas esse reconhecimento, às vezes, parece que não tem uma estrutura tão bem preparada nesse momento. Ou, as transições que estão acontecendo e eu levei azar porque tem colegas que tá tudo bem, eles estão conseguindo receber e tudo. Então, essa questão do reconhecimento, mais assim da remuneração que eu sinto que tem falha, mas no resto, assim, é tranqüilo, o trabalho em si é gratificante, é gostoso, né, não tem muito... Eu apontaria essas duas coisas como dificuldades, só isso.

Nome: Eduarda Profissão: Professora aposentada e TutoraInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: 2 anos e meioTutor presencial ou à distância: à distânciaFormação de graduação (licenciatura): Física licenciatura e bachareladoPós-graduação: Especialização em Física

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Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Antes de eu fazer o curso de Física eu fiz o curso normal e o curso normal me deu muito subsídio pra dar aula pra crianças e eu a vida inteira dei aula para o ensino fundamental. Então, se eu tenho algum conhecimento que eu posso passar para os meus alunos, é dessa minha experiência profissional do curso de magistério e da licenciatura de Física e, ainda, eu dei aula dois anos aqui na instituição como professora na disciplina de Metodologia do ensino de Física e Prática do ensino de Física. Então, eu acredito que o curso de licenciatura me abriu muito os horizontes e muita coisa que eu aprendi lá na licenciatura eu estou usando agora.

Bem, não podemos esquecer que eu fiz o curso de licenciatura em Física e eu tive algumas disciplinas como Didática, Psicologia da Educação, etc. etc., Prática de docência, e eu dei aula dois anos pra licenciatura de Física, então, eu acredito que muitos conteúdos que eu aprendi e abordei em sala de aula estão sendo úteis.

Tutor... À primeira vista eu vejo como um elo, uma imagem simbólica, um elo... Um elo entre o que? Entre o aluno, o professor e o conhecimento. É... Praticamente... O problema é... Então, o tutor na verdade ele fica à disposição dos seus tutelares, dos seus alunos, porque existe uma necessidade de... porque existe aí um problema... Na nossa cultura nós não somos tão auto determinados para estudar por conta própria e isso... Na verdade, essa competência deve ser incutida no aluno desde o pré, desde o jardim de infância e isso não é feito. Então, quando o aluno chega na idade adulta, a criança chega na idade adulta, o que acontece? Ela não tem essa auto determinação de estudar por conta própria, então o tutor ele precisa fazer esse... Precisa verificar essa defasagem e tentar, na medida do possível, mostrar para o aluno que, em última análise, ele é o responsável pela sua própria

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Você acredita que as Universidades e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

aprendizagem.

Não. Porque... Na verdade o tutor primeiro tem que ter... A primeira qualidade dele é ser humano, ter sensibilidade, perceber quando o aluno é capaz de agir sozinho ou não, perceber até que ponto vai a autonomia do aluno e isso, universidade nenhuma ensina, isso é a própria vida que ensina, o próprio estar com o aluno é que ensina e as experiências anteriores, mesmo que não sejam com a EaD, tipo assim, transferência de aprendizagem. Segundo, se a universidade, pelo menos até agora, não era à distância, então ela implicitamente não tinha essa preocupação de ensinar a gente a ser tutor, no máximo ser professor presencial. Ser tutor à distância exige certas habilidades que o tutor presencial não precisa ter, por exemplo, principalmente, na comunicação. O professor presencial, ele tem uma comunicação visual, nós tutores, professores tutores, não temos essa comunicação visual, não temos à mão, o que temos que valer é da comunicação escrita e isso exige uma aprendizagem da gente porque, veja bem, eu posso estar escrevendo para uma pessoa que me entenda, uma mensagem que o aluno entenda e posso estar... Um exemplo bem prático o que me aconteceu... Uma aluna perguntou pra mim que ela não tinha achado a atividade no livro, ela só tinha achado, por exemplo, a seção produza e reflita, acontece que a atividade estava no produza e reflita e daí eu falei pra ela: “está no produza e reflita”, ela disse: “eu não achei”, eu disse assim: “então, veja bem, na...” Daí o último e-mail que eu falei, escrevi pra ela a mensagem no e-mail, “a atividade é o próprio produza e reflita”. Então, veja, aí é um problema de comunicação e isso acontece muito porque nós não estamos trabalhando somente com alunos da nossa comunidade, nós estamos falando de outras comunidades com outros vícios de linguagem, com outro tipo de... não de comunicação, mas com outra maneira de falar, de se expressar.

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Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?

No seu ponto de vista como ocorre o seu trabalho pedagógico enquanto tutor da EaD?

Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

Veja, aí até é uma questão... Você esbarra numa questão cultural. O que pra mim tem significado... Eu leio muito, então eu posso ter até um desenvolvimento maior do que os meus alunos. Elas vão ter que ler, elas vão ter que interpretar, elas vão ter que se esforçar. Elas vão ter que... O que eu faço e gosto de fazer é, principalmente nos textos escritos das apostilas, eu gosto de dizer o que significa cada palavra, algumas palavras, sabe? E eu gosto muito das atividades de glossário porque é a única maneira que elas têm de... não é a única maneira, mas a gente ajuda,olha é complicado essa coisa... E ao mesmo tempo descobrir, descobrir não, e elas têm um vocabulário vasto, as minhas alunas em si, elas têm uma expressão muito rica, só que o que pra mim é comum pra elas não é comum.

É a questão das mensagens... “Isso significa isso, aquilo significa aquilo”, abro um... Posto um arquivo lá, mostrando algumas... explicitando os significados, é mais isso, e ajudando a interpretar as coisas.

Eles estão presos a uma cultura presencial porque veja, eles têm aula comigo, aqui à distância com a gente, mas eles continuam numa escola dando aula, trabalhando em escolas totalmente presenciais. Mas, os resultados, assim, que a gente percebe nos textos delas tudo, em dois anos de... Elas estão no segundo ano, elas evoluíram bastante e isto é um fato, é só olhar os primeiros textos e agora. Agora elas têm menos dificuldades de entender a pergunta, porque no começo elas tinham essa dificuldade de entender o que estava... Ah sim, o exemplo do que você falou, da pergunta passada me lembrei, a palavra comparar... Estava escrito assim na atividade: “compare isso com as suas experiências em sala de aula”. Não, era “compare esse autor com outro autor”. Eu vi que pelas atividades elas não sabiam fazer, até que eu fui, escrevi lá um catatau grande dizendo do que significa, do dicionário, ta tatata tatata... do que

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Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

significa isso, daí elas refizeram a atividade, fizeram certo. Entende então? É... Então nós temos que explicar, às vezes, conforme... O que pra nós é muito claro, pra eles não é. É isso que a gente tem que ter sensibilidade, pra saber quando eles estão errando porque não sabem fazer e quando eles não souberam o que fazer, como fazer.

Até agora nós estávamos fazendo por turma, atendendo uma turma do primeiro ano até o último ano e eu acho bom esse modelo, mas nós reparamos, eu reparo nesse modelo, que nós tendemos a ficar cada vez mais maternais com os alunos e isso não favorece a autonomia. Agora nós vamos entrar num outro esquema que é por disciplina, seremos professores tutores por disciplina. Eu acredito que este sistema será melhor porque daí eu não precisarei estudar todas as disciplinas do curso, fazer o curso de Pedagogia... Desse modo, eu teria que exigir um diploma de pedagoga. Agora, por disciplina, eu acredito que será melhor porque daí eu estudarei com mais afinco, com mais profundidade e talvez eu possa ajudar muito mais o meu aluno. E isso é uma esperança que eu tenho, não sei até que ponto, nós vamos tentar e talvez dê certo, talvez eu prefira o modelo anterior, não sei. Eu acredito que, com esse modelo, nós vamos criar condições de o aluno ser autônomo porque, mais autônomo, porque cada tutor imprimirá a sua personalidade e eles terão que fazer o confronto com muitas maneiras de pensar, muitas maneiras de ser corrigido, muitas maneiras de tudo, e isso, eu acredito que esta variedade de situações pro nosso aluno vai ser positiva, será positiva pra eles. Eu leio os materiais didáticos e acho que são bons, inclusive, veja, num curso presencial você tem que comprar os livros e ali não, a apostila é mastigadinha, tudo bom. Com relação a reconhecimento, eu to na condição de bolsista pela CAPES, e você sabe quanto ganha um bolsista pela CAPES... Olha, eu acho que educação à distância pelo menos aqui no curso de Pedagogia, está insipiente... Eu acredito que a gente é valorizado sim porque a gente não é considerado como tutor, e

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sim, como professor tutor e isso já é uma valorização, não estamos à parte do sistema. Quanto ao ganho isso no futuro, se a educação à distância vingar, eles vão refazer essas... vão mudar as regras do jogo. Isso compete ao futuro, no momento é isso aí e daí estamos aprendendo,a instituição também está aprendendo e quanto ao ganho eu já sabia quanto que eu ia ganhar, não adianta agora eu me queixar, né? Não ultrapasso os horários a trabalhar, só que tem que contar as horas de estudo, horas isso, mas acho que não ultrapasso e com o tempo a gente vai se organizando e eu nunca sou de trabalhar muito tempo a mais não. Só um detalhe, eu acredito na educação à distância!

Nome: Beatriz Profissão: Assistente Social, Professora e TutoraInstituição onde trabalha: PúblicaTempo de tutoria: 3 anosTutor presencial ou à distância: à distânciaFormação de graduação (licenciatura): Bacharel em Serviço SocialPós-graduação: Especialização em Gestão de Políticas Públicas, Mestrado em Educação

Você percebe algum conteúdo de sua formação inicial em graduação e especialização que contribuiu para a sua atuação como tutor. Em quais situações pedagógicas você sentiu essa contribuição ou falta dela? Como? Por quê?

Inicial não, até mesmo porque o curso de Serviço Social é um curso técnico, né? As Ciências Sociais aplicadas... Apesar de a gente ter metodologias, a científica, especificamente, mas, em relação a educação à distância, a gente nem é citado na verdade, o currículo não cita, nem discute a educação à distância. Então, a formação inicial, ela desvincula realmente essa possibilidade de produção da educação à distância. Agora, na especialização, daí você já escuta alguma coisa... Principalmente na habilitação do magistério superior, quando você discute a educação no contexto macro, você também começa a envolver. Eu comecei a discutir e estudar sobre a educação à distância até mesmo porque eu

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Como é a sua relação com o conteúdo objeto da tutoria? Por quê?

fiz o curso de Gestão de Políticas Públicas e a educação é uma das políticas que se aprofunda, em 2005, então, não tem uma distância tão significativa. Agora, aonde estive mais aprofundando e especificamente discutindo a educação à distância foi no curso de aperfeiçoamento de tutor que a instituição dispôs pra nós, pros tutores, e aí a gente teve essa formação inicial que nos deu suporte pra exercício da tutoria.

Antes de ser assistente social eu era professora, então, eu fui fazer o Serviço Social exatamente pra dar conta da demanda de sala de aula, então trabalhei oito anos em sala de aula e daí senti a necessidade de fazer algum curso que me desse um respaldo que me desse uma condição de atender... porque a gente... a sala de aula é um campo rico de questões diversas não somente pedagógica mas das questões sociais e a gente lida, o professor lida com os efeitos. Eu queria intervir na causa, só que a formação de magistério, você como professor, você não tem competências técnicas nem condições de intervir na realidade que chega na sala de aula e eu fui fazer o curso de Serviço Social exatamente pra dar conta da demanda das causas, eu queria intervir nas causas porque me incomodava e me causava muita dificuldade de leitura e de reação diante daqueles contextos, dentro da comunidade, dentro da escola, na sala de aula, aquela... os conflitos que se geravam com a família, com a escola e com o aluno, então isso realmente me levou a repensar a formação do magistério e foi que eu descobri, por influência da minha antiga também assistente social, descobri que eu deveria fazer o curso de Serviço Social porque as intervenções que ela fazia na delegacia, na comunidade, em outros campos de atuação em que ela estava era o que eu precisava em sala de aula porque aquela sala de aula era aquela realidade a qual ela estava intervindo e foi aí que eu parti pra fazer o curso de Serviço Social pra atender a causa que chegava em sala de aula e isso tem tudo a ver com a relação da escola, do magistério, do conteúdo de sala de aula, educação e o social porque tendo esse aparato, tendo esse suporte técnico de olhar de forma diferente e além do olhar pedagógico é o diferencial e que

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Você acredita que as Universidades

infelizmente as escolas, a EaD e outros... Inclusive, foi uma sugestão que eu dei na coordenação, que tivesse à disposição profissionais inter e multidisciplinares pra atender essa demanda que eu encontro na sala de aula virtual porque a mesma demanda que eu encontrava no presencial, encontro na sala de aula virtual também, porque, o que acontece, aquele aluno que tem uma variedade enorme de questões, de conflitos, de problemas e que aquilo afeta diretamente a sua produtividade pedagógica acadêmica e que o tutor sem uma formação... Eu me sinto até privilegiada porque eu consigo intervir em muitas realidades e até orientar de forma diferenciada, mediar de forma diferenciada porque eu consigo unir essa formação do Serviço Social, o olhar técnico ao olhar pedagógico, e isso faz realmente um professor diferente porque é impressionante como isso se desdobra na sala de aula, a demanda social porque a família do aluno, a comunidade, o meio em que ele convive, em que ele vivencia é um reflexo direto na sala de aula. Então eu não me vejo ser professor, ser tutor, separando, digamos só com o olhar pedagógico. O olhar pedagógico, mas também com a formação do Direito, com a formação da Psicologia, com a formação do Social porque no curso do Serviço Social nós temos muito aprofundado todas essas disciplinas pra gente poder intervir naquelas realidades complexas que o Serviço Social atua. Então, eu não sinto dificuldade assim digamos não sinto essa dificuldade que eu vejo que as minhas outras colegas que tem só a formação do magistério, elas se perdem, tanto que teve um exemplo aqui bem típico, um conflito gerado no pólo de Palmeira, que é o pólo que eu atuo, e gerou uma situação bem complexa que envolvia coordenação, envolvia tutor, envolvia aluno, envolvia advogado e ninguém conseguia desarmar e eu tive ciência dessa situação e em sala de aula chamei, escutei, conversamos e consegui desarmar aquele conflito que estava generalizado no pólo e na ---, foi aqui na ----, e já tomando outra proporção até a nível jurídico que estava se discutindo ali, então eu consegui mediar, discutir todas aquelas demandas e resolver o problema e tirar aquela força, digamos, que estava se gerando ali com conflitos.

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e as Instituições, preparam os tutores para atuar em EaD? O que é necessário nesta formação? Como?

O que é ser tutor para você? E quais as atividades que fazem parte do exercício da tutoria presencial e a distância? Por quê?

Então, quer dizer, que o coordenador, os tutores, que infelizmente nós não podemos ter todas as disciplinas, todas... ter essa formação, bom que tivesse, da Psicologia, do Direito, Social, principalmente essas disciplinas, mas, eu consegui realmente auxiliar e atender aquela demanda como que fosse uma atuação técnica do Serviço Social, mas dentro de um campo pedagógico. Então essa é uma coisa que me contribui, que me auxilia em todos os campos que eu venho atuando na área do magistério porque eu também sou professora, fui professora esses anos todos na sala de aula presencial, na educação presencial, então a gente apenas agrega e eu acho que o aluno e os resultados desse processo, ele na verdade é imensurável.

Como tutora eu tive essa formação aqui na instituição mesmo, mas eu vou lhes dizer uma coisa, o curso de aperfeiçoamento de tutor que a instituição aqui dispõe ele é muito simplório. È um curso que não... que... é uma pincelada inicial só uma, tipo assim, a nata do leite porque o aprofundado, realmente, a propriedade de todo esse movimento virtual e de toda essa demanda que se exige de um tutor você aprende na prática e nas trocas com os outros colegas. Então, eu lhes afirmo que a minha formação de tutor foram consolidadas com segurança através das minhas colegas, das trocas inter tutorial, e interessante isso, essa relação inter profissional porque nós estávamos além do curso. Quando nós fomos fazer o curso a gente já tinha uma prática de tutoria e através das trocas , já tinha uma prática de tutoria até mesmo porque estava se iniciando o curso da EaD, da educação à distância em Pedagogia, e não tinha disponível ainda, não tava aberto a plataforma pra formação de tutor, pra todos os tutores, alguns tinham feito, então aqueles que fizeram o curso passaram essas informações para aqueles que estavam chegando e eu fui uma dessas depois eu complementei com o curso, fiz o curso, mas, foi a escola de formação de tutoria que eu tive foi graças as minhas colegas, as trocas inter profissional.

Pra mim ser tutor é uma... Não sei uma definição, eu não consigo conceber uma definição do ser tutor porque o ser tutor é

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Como você vê a relação entre tutoria e o desempenho do aluno? Por quê?

Qual sua contribuição para a construção da autonomia intelectual do estudante?

muito simples... Ser tutor, o que é ser tutor? É atuar numa plataforma e não é educação à distância, mas não é só isso, pra você ser um tutor, atuar na frente de uma tutoria você tem que ter todo esse aparato porque somente a nomenclatura ou então a terminologia ser tutor, ela simplesmente... Se eu fizesse um curso, aquele curso que eu fiz inicialmente na Federal não me dava esse suporte pra atuar na tutoria, mas com esse suporte que eu tive, com toda a minha construção, com toda a minha carga de experiência e de conteúdos é que me dá realmente a capacidade de dizer que eu sou tutora porque se eu não tivesse toda essa carga eu me negaria, inclusive a entrar nesse campo porque não há condição de definir o que é tutor, o que é ser tutor, mas como você precisa saber o que é ser tutor, pra mim nesse momento ser tutor é você atender, ocupar um espaço onde você como profissional, não como tutor, porque o tutor não tem formação profissionalizante de tutoria, e sim como se fosse um curso técnico, não é um curso técnico, não deveria ser apenas uma formação complementar mas deveria ser uma formação mais aprofundada que te desse realmente competências técnicas, competências pedagógicas de aprofundar, que te desse competências da tecnologia, de todo esse aparato tecnológico que a gente vivencia no cotidiano que não se dá lá, então, é um conjunto. Ser tutor pra mim é um conjunto de atribuições, é uma somatória de toda a tua experiência, de toda as tuas vivências e teu histórico que eu beneficio a instituição, na verdade, eu empresto a minha formação, toda essa minha carga pra instituição dizer que tem um tutor... Ser tutor é além da prática de tutoria.

Primeiro eu considero a prática de tutoria e todo esse campo da educação à distância quando eu abro a plataforma, quando eu faço as devolutivas, entro naquele universo virtual, pra mim estou entrando numa sala de aula. Então aquilo ali é uma relação direta que eu tenho com o meu aluno e de forma individualizada, isso é interessante porque no presencial a gente tem uma ação mais coletiva, homogênea e ali não, ali é a realidade de cada uma, você vai pra cada um, entra no campo de cada um, vê as

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Quais as principais dificuldades no exercício da tutoria (alunos, professores, coordenadores de pólo, de curso)? Por quê?

potencialidades, acompanha o processo de construção daquele aluno, as fragilidades, as dificuldades que este aluno te demanda e você é a ponte de fazer melhor esse aluno processar aquelas informações que se julga necessárias ele ter pra que ele construa a sua própria formação sem desmerecer todo o conhecimento dele, sem desmerecer toda a história dele, então ali, essa relação como se consolida essa formação, esses conteúdos, o tutor, essa relação tutor-aluno ela é a mais... como fosse um cristal, a vida do aluno está na mão do tutor à distancia e do tutor presencial, principalmente do tutor à distância porque o tutor à distancia é como que fosse o vigário daquela paróquia, nós somos o confessionário desse aluno. Então quer dizer que essa consolidação desse conteúdo vai depender da qualidade desse tutor,das condições que esse tutor tem de dar as respostas necessárias pra que se consolide de fato o processo e a formação pedagógica, a construção e o desenvolvimento desse aluno.

Eu me coloco como instrumento para que ele construa o seu processo de desenvolvimento, apenas intervindo naquilo que ele não pode intervir. Por exemplo, na disponibilidade de conteúdos, de material a qual rege o curso, rege o regulamento da instituição etc. Então aquele conteúdo que está disponível e aquele cuidado que você tem que ter de repente esse aluno muitas vezes, hoje eu percebo uma evolução muito interessante de como este aluno estava, de como ele esteve no ano passado, de como ele iniciou no primeiro ano, como ele estava no segundo ano e como ele está agora, o processo de construção dele e realmente hoje eu percebo que eu tenho menos, digamos menos trabalho no sentido de que assim olhe, eu chamo menos a atenção, converso menos com ele a respeito daquilo que é atribuição dele e passo a ser um instrumento menos acessado, digamos, porque eles já conseguiram uma certa autonomia, digamos de construir o seu processo, eles já entenderam qual é o processo dele. Então, na verdade, essa construção da autonomia ela é muito relativa porque a nossa cultura de autonomia... Eu não posso lhe dizer que a educação é um processo cultural autônomo. Então, assim, o que é autonomia... tem várias formas de

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perceber essa autonomia e de sentir essa autonomia, agora, uma forma de se dar liberdade para que esse aluno pense, reflita e você auxiliar nesse processo de reflexão eu sei que eu sou um instrumento pra isso.

Uma das maiores dificuldades que eu percebo é a dificuldade de reconhecimento do trabalho e da importância desse trabalho de tutor porque nós não somos somente tutor nós ocupamos talvez uma bolsa de tutoria, mas nós somos profissionais altamente qualificados a maioria dos profissionais, dos tutores que nós temos aqui no mínimo têm mestrado e no mínimo têm uma experiência no campo pedagógico a maioria dos meus colegas, pelo menos nos terceiros anos, que é o que eu posso falar, estamos num nivelamento muito elevado. Claro que isso reflete na qualidade dessa formação desse aluno, mas o que falta por parte da instituição UAB e desta instituição, é o reconhecimento desse papel e da importância desses sujeitos, desses atores que fazem esse processo de tutoria. Nós até nos reconhecemos assim como uma peça fundamental porque não adianta o professor dar aula se ele não tem o processo do acompanhamento. Infelizmente é transferido forma até equivocada esse trabalho do professor pro tutor, entra até numa questão ética inclusive porque a minha disciplina quem tem que dar conta do começo ao fim sou eu, o meu trabalho eu não posso transferir para terceiro se eu iniciei um trabalho. Assim, como eu tenho um olhar técnico e de outra área também, eu vejo que nós tutores ocupamos um espaço que não é nosso, fazemos coisas que não nos pertencem, talvez o papel da tutoria fosse apenas da mediação de um campo, daquilo que o professor não consegue fazer no campo virtual, mas todo esse processo que nós atuamos e que não somos reconhecidos, não somos reconhecidos tanto do ponto de vista de remuneração e nem do ponto de vista das próprias relações de profissional, das inter-relações profissionais porque o professor talvez, o que a gente percebe é que eles olham assim “é o tutor”... É um igual, mas é um igual que ocupa espaços tanto no campo profissional como no campo financeiro diferente. Se avalia o valor que um professor, um

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professor conteudista recebe e do que ele faz e se avalia o que um professor tutor recebe e do que ele faz, então existe um equivoco nessa questão e isso é uma questão que tem que ser posta ainda à mesa pra se discutir frente às instituições. Então, uma das maiores questões que me incomoda é a falta de reconhecimento das instituições que desenvolvem a educação à distância na relação com a tutoria.