O papel da educação do campo na construção do desenvolvimento rural

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FACULDADE SANTA FÉ CURSO DE PEDAGOGIA MARYANNE MONTEIRO SOUSA O PAPEL DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NA CONSTRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO RURAL

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FACULDADE SANTA FÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

MARYANNE MONTEIRO SOUSA

O PAPEL DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NA CONSTRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO RURAL

SÃO LUÍS

2014

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MARYANNE MONTEIRO SOUSA

O PAPEL DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NA CONSTRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO RURAL

Dissertação apresentada à disciplina de Educação do Campo para obtenção de nota para o segundo bimestre.

Profª.: Márcia Thaís.

SÃO LUÍS

2014

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Cada grupo social possui uma educação coerente com seus ideais e

que corresponda com seu projeto de sociedade. Para fazer uma relação entre

educação e desenvolvimento considera-se que o ato educativo é

essencialmente político e intencional, por isso pode ser usado como um

instrumento de formação de sujeitos críticos, reflexivos e agentes de

transformação e desenvolvimento.

A Educação do Campo nasceu das lutas e movimentos sociais

presentes na área campesina e é diferente da Educação Rural, pois

O movimento social que preconiza uma “Educação do Campo” no Brasil o faz em oposição ao que se tem tido sob a denominação de Educação Rural. Trata-se de uma demarcação de classe, na medida em que defendemos aeducação aos trabalhadores e aos filhos dos trabalhadores do campo. (MUNARIM, 2009, p. 62).

.A Educação Rural percorreu uma trajetória que deu início à década

de 1930, paralelamente ao início da industrialização no Brasil. Esta educação

sempre contribuiu para o homem sair do campo para a cidade, pois esses

sujeitos posteriormente abandonariam o campo ao receberem uma educação

de orientação urbana. Não se valorizava uma educação criada no campo, pois

o currículo era produzido na cidade, em que não se tinha conhecimento das

necessidades e da realidade de quem vive e trabalha no campo. Contemplava-

se uma educação operária, formadora de trabalhadores para as indústrias

devido à necessidade de mão de obra para atender o capitalismo industrial

brasileiro. Nasce um discurso de modernização do campo, retratando-se a este

como um atraso para o país e a necessidade dos camponeses em se

ajustarem às novas técnicas agrícolas que seriam implantadas.

A Educação Rural acentuava as desigualdades sociais já existentes

em que a população do campo estava em desvantagem, o que lhes cabia

apenas negar a sua identidade e adequar-se com a modernidade.

Ao contrário da Educação do Campo, a educação rural sempre foi instituída pelos organismos oficiais e teve como propósito a escolarização como instrumento de adaptação do homem ao produtivismo e à idealização de um mundo de trabalho urbano, tendo contribuído ideologicamente para provocar a saída dos sujeitos do campo para se tornarem operários na cidade. (OLIVEIRA; CAMPOS, 2012, p. 237).

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Assim, a educação do campo para Caldart (2009) foi uma iniciativa

de trabalhadores pobres do campo, sem terras e desempregados que reagiram

contra a situação em que viviam como uma forma de luta, ampliando o olhar

para contemplar o conjunto de todos os trabalhadores do campo.

A Educação do Campo diverge da Educação Rural porque a

primeira tem um objetivo de ampliar as possibilidades de condições de

existência do campo, sendo que esse tipo de educação é feita por pessoas do

campo que buscam uma qualidade de vida. Dessa forma, serve como uma

estratégia de transformação do sujeito do campo, nas categorias sociais,

políticas, ambientais, éticas, econômicas e culturais.

Para os movimentos de luta pela terra de trabalho o campo abarca

um sentido político de continuidade das lutas campesinas internacionais, pois

A Educação do Campo, que tem sido tratada como educação rural na legislação brasileira, tem um significado que incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O campo, nesse sentido, mais do que um perímetro não urbano, é um campo de possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção das condições da existência social e com as realizações da sociedade humana (ARROYO, CALDART, MOLINA, p. 176, 2009).

Entende-se que a Educação do Campo é formulada pelos sujeitos

do campo e voltada para o campo, conquistada pelas lutas sociais campesinas

em que visam uma transformação social contextualizada à sua realidade local.

Todavia, para que a escola atenda as necessidades dos sujeitos locais é

preciso que a escola seja construída e organizada no campo. Dessa forma,

precisa estar acessível às pessoas que a frequentam, pois é onde os sujeitos

trabalham e vivem. Para tanto, é necessário que o currículo escolar do campo

seja elaborado a partir da realidade local, poisA Educação do Campo é um conceito cunhado com a preocupação de se delimitar um território teórico. Nosso pensamento é defender o direito que uma população tem de pensar o mundo a partir do lugar onde vive, ou seja, da terra em que pisa, melhor ainda: desde a sua realidade. Quando pensamos o mundo a partir de um lugar onde não vivemos, idealizamos um mundo, vivemos um não lugar. Isso acontece com a população do campo quando pensa o mundo e, evidentemente, o

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seu próprio lugar a partir da cidade. Esse modo de pensar idealizado leva ao estranhamento de si mesmo, o que dificulta muito a construção da identidade, condição fundamental da formação cultural. (FERNANDES, p. 67, 2004).

Portanto, é necessário que a educação produzida no campo seja

construída no campo, atendendo às necessidades dos que vivem e trabalham

nele. Não tem sentido e nem há interesse em uma educação utópica, que foge

da realidade local, pois o seu papel é a transformação social desses sujeitos

como melhoria para a forma de vida campesina. Conforme Freire (1996, p. 30)

“dar importância ao espaço vivido do educando” para que este aprenda com

prazer e entenda a aplicabilidade desse ensino em sua vida, levando em

consideração os conhecimentos prévios dos alunos e visando um

desenvolvimento rural.

Em uma perspectiva histórica, a Educação do Campo tem galgado,

a passos lentos, espaço nas políticas educacionais e, foi a partir da década de

1980 que começou a se pensar com mais veemência em uma educação do

campo. “Os movimentos sociais carregam bandeiras da luta popular pela

escola pública como direito social e humano e como dever do Estado”.

(ARROYO; CALDART; MOLINA, 2009, p.14). São nessas lutas sociais em

busca de direitos iguais e de afirmação dos ideais campesinos que a educação

do campo tem alcançado destaque e atenção nas políticas educacionais para o

desenvolvimento contínuo rural, sem necessidade que esse sujeito formado

migre para a área urbana, mas, pelo contrário, permaneça no campo para que

este cresça. Quando dizemos por uma Educação do Campo estamos afirmando a necessidade de duas lutas combinadas: pela ampliação do direito à educação e à escolarização no campo; e pela construção de uma escola que esteja no campo, mas que também seja do campo: uma escola política e pedagogicamente vinculada à história, à cultura e às causas sociais e humanas dos sujeitos do campo, e não um mero apêndice da escola pensada na cidade [...]. (KOLLING, CERIOLI, CALDART, 2002, 19).

Em suma, a Educação do Campo se fundamenta em princípios

pedagógicos socialistas, que apontam para a emancipação e formação

humana integral ao buscar a superação da sociedade de classes e que esteja

preparada para uma transformação social e desenvolvimento rural ao valorizar

a cultura e a identidade local.

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REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel Gonzalez; CALDART, Roseli Salete; MOLINA, Mônica

Castagna (Org.). Por uma Educação do Campo. Petrópolis: Vozes, 2009.

CALDART, Roseli Salete. O MST e a Formação dos Sem Terra: o movimento

social como princípio educativo. Petrópolis: Vozes, 2009.

CALDART, Roseli Salete. Por uma educação do campo: traços de uma

identidade em construção. In.: KOLLING, Edgar Jorge; CERIOLI, Paulo

Ricardo; CALDART, Roseli Salete. (orgs.). Educação do campo: identidade e

políticas públicas. Brasília, DF: Articulação Nacional Por uma Educação do

Campo, 2002.

FERNANDES, Bernardo M.; CERIOLI, Paulo R.; CALDART, Roseli S. Primeira

Conferência Nacional “Por Uma Educação Básica do Campo”: Texto

preparatório. In: ARROYO, Miguel Gonzalez; CALDART, Roseli Salete;

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

educativa. São Paulo: Paz e terra, 1996.

KOLLING, Edgar Jorge; CERIOLI, Paulo Ricardo; CALDART, Roseli Salete

(orgs.). Educação do campo: identidade e políticas públicas, Brasília, DF:

articulação nacional. Por uma Educação Básica do Campo, 2002. Articulação

Nacional Por uma Educação do Campo, 2002.

MOLINA, Mônica Castagna (Org.). Por uma Educação do Campo. Petrópolis:

Vozes, 2004.

MUNARIM, Antônio et al. Política publica de educação do campo: a articulação

entre o Estado e a sociedade. In: AUED, Bernadete Wrublevisk; VENDRAMINI,

Célia Regina. Educação do campo: desafios teóricos e práticos. Florianópolis:

Insular, 2009. p. 53 – 116.

OLIVEIRA, Lia Maria Teixeira de; CAMPOS, Marília. Educação Básica do

Campo. In.: Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo:

Expressão Popular, 2012.