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O modelo da tríplice hélice como fator de desenvolvimento de Santa Rita do Sapucaí
Autoras:
Andréa Pinto Arantes1
Cecília Velasquez Serpa2
Incubação de empresas orientadas para o desenvolvimento local e setorial:
Resumo
O presente artigo objetiva analisar os atores envolvidos no processo de Inovação de Santa
Rita do Sapucaí, de forma a entender o papel de cada um no desenvolvimento desta cidade.
A economia do município, inicialmente centrada na produção cafeeira, sofreu uma drástica
mudança a partir da década de 50 com a implantação da primeira escola técnica de
eletrônica do país. Tal iniciativa teve como consequência direta uma alteração na economia
da cidade, o que permitiu a criação de uma escola de nível superior, o Instituto Nacional de
Telecomunicações (Inatel). A criação das duas escolas definiu, por meio da especialização
da mão de obra e da troca de experiências entre academia e empresas, o surgimento da
Incubadora de Empresas e Projetos do Inatel. Outro importante fator que contribuiu para o
desenvolvimento da cidade foi o apoio da prefeitura que criou o Programa Municipal de
Incubação Avançada de Empresas de Base Tecnológica (Prointec) e a Incubadora Municipal
de Empresas “Sinhá Moreira” (IME). Atualmente, Santa Rita do Sapucaí apresenta um total
de três Incubadoras de Empresas (número que rivaliza com a capital do Estado de Minas
Gerais, que possui um total de cinco incubadoras), incluindo a recente iniciativa da
Faculdade de Administração e Informática-FAI de se integrar ao movimento de incubação.
Diante do potencial da cidade em desenvolver ações integradas de Inovação, foi realizada
uma pesquisa de caráter qualitativo e descritivo, com o uso de dados primários (por meio de
questionários) e secundários (por meio de análise documental e pesquisa bibliográfica)
utilizando o município de Santa Rita do Sapucaí como Estudo de Caso. A construção dos
dados foi feita baseada no modelo da Tríplice Hélice, elaborado por Loet Leydesdorff e
1 Bacharel em Gestão do Agronegócio pela Universidade Federal de Viçosa – UFV. Cidade Administrativa
Presidente Tancredo Neves – Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n. Bairro Serra Verde. (031)8580-3370.
E-mail: [email protected]
2 Bacharel em Ciências Biológicas pela Pontifícia universidade Católica de Minas Gerais. Cidade Administrativa
Presidente Tancredo Neves – Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n. Bairro Serra Verde . (031)9955-8814.
E-mail:[email protected]
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Henry Etzkowitz. As conclusões apresentadas, a partir da análise dos resultados do estudo
de caso, foram que as ações coordenadas entre todos esses atores estimula o processo de
geração, desenvolvimento e atração de empreendimentos de base tecnológica no município,
ocasionando o seu desenvolvimento econômico e social, cujas causas remetem,
principalmente, aos seguintes fatores: a instalação de um ambiente empreendedor para a
população, o envolvimento do governo local em incentivar as políticas públicas de Ciência,
Tecnologia e Inovação; a visão sistêmica entre os agentes envolvidos e a caracterização de
uma ação conjunta planejada por empresas e governos.
Palavras chaves: Incubadoras de Empresas; Habitats de inovação; Modelo da tríplice
hélice; Desenvolvimento regional.
The Model of the triple helix as a development factor in Santa Rita
do Sapucaí.
Authors:
Andréa Pinto Arantes3
Cecília Velasquez Serpa4
Incubation of companies towards the sector and local development:
Abstract:
This article aims to analyze the players involved in innovation of Santa Rita do Sapucaí, in
order to understand the role of each one in the development of this city. The city's economy
which was initially centered on coffee production, has suffered a drastic change from the 50s
with the introduction of the first technical electronics school in the country. This initiative
changed the city’s economy, which allowed the creation of a school of higher education, the
National Institute of Telecommunications (Inatel). The creation of these two schools was
decisive to the creation of the Business Incubator of Inatel, because of the specialization of
3 Major in Agribusiness Management - Universidade Federal de Viçosa – UFV. Cidade Administrativa Presidente
Tancredo Neves – Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n. Bairro Serra Verde. (031)8580-3370. E-mail:
4 Major in Biological Sciences - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Cidade Administrativa
Presidente Tancredo Neves – Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n. Bairro Serra Verde . (031)9955-8814.
E-mail:[email protected]
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labor and exchange of experiences between academia and business. Since then, Santa Rita
do Sapucaí has become a national reference in Electronics and Telecommunications.
Another important factor that contributed to the city's development was the support of the
municipal administration which created the Municipal Business Incubation Program and
Municipal Business Incubator "Sinha Moreira" which both aimed advanced technology
companies. Currently, Santa Rita do Sapucaí features a total of three Business Incubators (a
number that rivals the state capital of Minas Gerais, which has a total of five incubators),
including the recent initiative of the Faculty of Administration and Information-FAI to integrate
the movement of incubation. Given the city's potential to develop integrated actions of
Innovation, a survey was conducted qualitative and descriptive, with the use of primary data
(through questionnaires) and secondary (through documentary analysis and literature
research) using the city of Santa Rita do Sapucaí as a Case Study. The construction of the
data was performed using the Triple Helix model, developed by Loet Leydesdorff and Henry
Etzkowitz. The conclusions from the analysis of the case results were that coordinated action
among all these players stimulates the process of creation, development and attraction of
technology-based enterprises in the city, causing their economic and social development,
whose causes refer mainly to the following factors: the installation of an entrepreneurial
environment for the population, the local government involvement in encouraging public
policy of Science, Technology and Innovation, the systemic vision among stakeholders and
the characterization of a planned joint action by companies and governments.
Keywords: Business Incubators; Innovation Habitats; Model of the triple helix; Regional
Development.
1. Introdução
Com o fortalecimento da sociedade do conhecimento (aquela na qual o
conhecimento é o principal fator estratégico para o desenvolvimento), as empresas que
apostam em pesquisa, tecnologia e inovação como principais insumos, garantirão vantagem
competitiva em relação àquelas que atuam no mercado de forma tradicional, uma vez que a
capacidade de competir está diretamente relacionada à capacidade de se diferenciar, criar e
inovar (LAGO et al, 2011)
O status de Inovação, no Brasil, tem sido traduzido em número na Pesquisa de
Inovação Tecnológica (PINTEC), realizada pelo IBGE com o apoio da Finep e do MCTI. Em
sua quarta edição, em 2008, a pesquisa apontou que, 38,1% das empresas pesquisadas
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realizaram algum tipo de inovação. Essa é a maior taxa de inovação do setor industrial
desde que a pesquisa começou a ser realizada em 2000, quando o percentual era de
31,5%, subindo para 33,3% em 2003 e 33,4% em 2005 (LAGO et al, 2011).
Por outro lado, o processo de inovação vem exigindo, cada vez mais, uma interação
entre academia e empresa, sem prescindir da presença do governo, como principal agente
financiador das transformações tecnológicas. Forma-se, desta forma, uma tríplice aliança,
chamada por Henry Etzkowitz de Hélice Tripla, um modelo teórico de ampla utilização, cuja
finalidade é explicar como estes três atores interagem de forma a impulsionar o
desenvolvimento local e regional sob a égide da economia do conhecimento. Nesse sentido,
iniciativas relacionadas à criação dos habitats de Inovação, como as Incubadoras de
Empresas de Base tecnológicas, têm sido desenvolvidas com maior ênfase nos últimos
anos.
Neste contexto, as Incubadoras de Base Tecnológicas (IEBT) assumem papel de
destaque, como agente de desenvolvimento econômico regional, uma vez que abrigam
empresas cujos produtos, processos ou serviços são gerados a partir de resultados de
pesquisas aplicadas, nos quais a tecnologia e Inovação representam alto valor agregado.
Santa Rita do Sapucaí é um dos mais expressivos pólos de tecnologia,
empreendedorismo e inovação do país. Trata-se de um município de aproximadamente
38.000 habitantes, no sul de Minas Gerais (IBGE, 2007).
Essa cidade desenvolveu um importante papel no que se refere ao desenvolvimento
regional. Isso deve-se ao elevado número de empresas de alta tecnologia, originadas de
incubadoras, condomínios de empresas e programas municipais de incentivo ao
empreendedorismo.
O objetivo do presente trabalho é analisar como o sistema de Inovação do município,
por meio dos agentes envolvidos na tríplice hélice, contribui para o desenvolvimento
regional. Além da introdução e das considerações finais, o artigo foi dividido em quatro
partes. A primeira é uma contextualização da temática de inovação, com enfoque nas
incubadoras de empresas de base tecnológica e no modelo da tríplice hélice. A segunda
parte é dedicada à apresentação da metodologia utilizada para conduzir o estudo
exploratório e descritivo deste trabalho. A terceira parte aborda o histórico do sistema local
de inovação de Santa Rita do Sapucaí, suas transformações e o papel das instituições
envolvidas na construção da inovação local. Finalmente, a quarta parte apresenta os
resultados da pesquisa explicitada na metodologia.
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2. Revisão Bibliográfica
Segundo Ferraz et al (1995), o processo de inovação vem sendo um dos indicadores
mais utilizados para avaliar a competitividade, uma vez que seus resultados se encontram
vinculados à capacidade de acompanhar as mudanças e o desenvolvimento do mercado,
bem como a criação e ocupação de novos mercados – processo esse, por sinal, cada vez
mais dinâmico.
Sendo assim, a existência de um ambiente propício para o desenvolvimento da
inovação tecnológica é fundamental para o crescimento de uma determinada região.
As incubadoras de empresas entram nesse contexto proporcionando condições
favoráveis para que as micro e pequenas empresas desenvolvam seus produtos/serviços
inovadores e conquistem o mercado.
Para Medeiros, citado por Carvalho (2000), uma incubadora existe para oferecer
infraestrutura física; apoio técnico e gerencial; reduzir custos; buscar novos apoios e
parcerias para as novas empresas; acelerar a consolidação de novas empresas por meio do
fortalecimento da capacitação empreendedora e do desenvolvimento de ações associativas
e compartilhadas.
Ao desempenhar essas funções, as Incubadoras contribuem para o desenvolvimento
socioeconômico de uma determinada região, uma vez que ela estimula a geração de
empregos e renda, por meio das suas empresas incubadas e graduadas.
No Brasil, foram contabilizadas cerca de 400 Incubadoras de Empresas, com mais
de 6.300 empresas vinculadas e com um faturamento de 1,6 bilhões nas empresas
graduadas (ANPROTEC, 2011). Esses números são muito expressivos, principalmente, por
se tratar de um movimento recente no país (as primeiras incubadoras de empresas surgiram
na década de 80).
Nos EUA, tal iniciativa existe desde 1959 quando uma fábrica da Massey Ferguson,
localizada no estado de Nova York, fechou, deixando milhares de residentes
desempregados. Joseph Mancuso, comprador da fábrica, resolveu subalugar o espaço para
pequenas empresas iniciantes que compartilhavam equipamentos e serviços. Com esta
iniciativa estava lançada as sementes de uma estratégia que iria rodar o mundo, pela sua
simplicidade e objetividade de seu funcionamento, sem perder de vista os resultados
promissores das primeiras experiências, ainda em solo americano.
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Já nos anos 70 na região do Vale do Silício, também nos Estados Unidos, as
incubadoras apareceram como meio de incentivar universitários recém-graduados a
disseminar suas inovações tecnológicas em um mercado altamente empreendedor como é o
norte americano.
O Vale do Silício vem demonstrar de forma explicita a relação entre conhecimento e
ciência como uma estratégia de desenvolvimento econômico, em que as universidades e,
por decorrência, suas atividades de pesquisa, tiveram um papel fundamental.
Seu surgimento deu-se com a consolidação da Universidade de Stanford, em Palo
Alto. Fundada no final do século XIX pelo senador Leland Stanford, essa que é hoje uma
das mais importantes universidades norte americana, mudou definitivamente o perfil sócio
econômico, não apenas da pequena Palo Alto, onde ela situa-se, mas de toda uma região
em volta da baia de São Francisco. Com a incorporação junto a sociedade local de jovens
pesquisadores, em comunhão com um invejável corpo de professores de altíssima
capacidade intelectual.
Tal combinação foi, aos poucos, transformando uma economia agrária, cuja principal
atividade era a produção de licor de damasco em uma sofisticada economia tecnológica,
dando origem a um dos mais dinâmicos clusters do planeta.
As invenções da válvula e da companhia telegráfica são alguns dos ícones dos
primórdios dessa região inovadora. Mas foi o seu potencial em eletrônica que permitiu que
vários de seus estudantes abrissem suas empresas de tecnologia na região.
O Professor Fredrick Terman, formado em Química e Engenharia Elétrica em
Stanford, teve um importante papel nestas transformações, não apenas como pesquisador
nas áreas de comunicação e engenharia do rádio, mas também e, principalmente, no
desenvolvimento da universidade e da região. Ele foi um incansável defensor da importância
da relação universidade - empresa e usou todos os meios possíveis para promovê-la e
como prova de sua obstinação, quando se tornou vice-reitor da Universidade de Stanford,
montou um programa de apoio às Indústrias, algo que, naquela época era absolutamente
inusitado para o cargo que ocupava.
Seguindo esta mesma linha de pensamento, em 1951, Terman ofereceu terras da
Universidade de Stanford para as empresas da área de eletrônica que tivessem forte
relação com a pesquisa, criando assim o Parque Industrial de Stanford que mais tarde ficou
conhecido como Parque Tecnológico, tendo em vista o perfil diferenciado das empresas que
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nele habitava. Em 1955 havia 7 empresas, até 1960, 32 e 70 no final de 1970. Na década de
80 já eram 90 empresas gerando um total de 25.000 empregos.
Além do espírito empreendedor e visão de futuro do Professor Terman, outros
fatores que contribuíram para o sucesso do Vale do Silício foram: o aumento na demanda
de dispositivos eletrônicos para a utilização militar e a aceleração do programa espacial para
ultrapassar os soviéticos. Diante disso, as empresas instaladas no Vale do Silício
aproveitaram essa oportunidade oferecida pelo governo americano para se consolidarem no
mercado, como fornecedoras de produtos e prestadoras de serviços para as grandes
empresas do setor aeroespacial que se instalaram no cluster aero espacial liderados pelas
vizinhas Los Angeles e San Diego.
Nota-se então, que os três fatores decisivos para a criação de um ambiente propício
à inovação capaz de impactar toda uma região são: a existência de uma base sólida
científica para desenvolver tecnologias, o apoio governamental e a aproximação com a
iniciativa privada. Isso, por seu turno, é a materialização da acima citada interação
Universidade - Governo - Empresa, conforme descrita no modelo desenvolvido por
Etzkowitz.
Esse modelo faz uma reflexão do papel das universidades na produção e
transferência do conhecimento além dos efeitos das relações governos e sociedade. Ou
seja, como a atividade de pesquisa promove parcerias entre universidade -empresa,
universidade - sociedade e universidade - governo.
Para que esse modelo seja aplicado é imprescindível a colaboração entre as esferas
institucionais envolvidas com a inovação. Na prática isso se dá por meio de discussões para
buscar novas alternativas para desenvolver a economia local, de forma a promover o
crescimento regional, bem como estabelecer, por exemplo, um conselho de tecnologia.
O modelo da Tríplice Hélice passou para vários modelos até chegar ao formato que
hoje ele é conhecido.
O primeiro deles foi chamado de Modelo estático. Nele o Estado, em um primeiro
momento, atua como elemento de um sistema no qual as relações entre academia e
indústria coexistem de modo que não há diferenciação Indústria-Estado e Academia-Estado
(conforme a figura 1). Nesse modelo, o governo tomava frente no desenvolvimento de
projetos e no fornecimento de recursos para novas iniciativas.
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Figura 1: Modelo Estatista
Fonte: Leydesdorff & Etzkowitz (2008).
O segundo é o Modelo laissez-faire. Nesse modelo, de acordo com a figura 2, as
esferas são separadas e os papéis institucionais distintos. Não existe um espaço integrador
das ações Governo – Academia - Indústria, assim como a relação é unilateral. Espera-se
que o governo tenha um papel limitado de regulação ou de compra de produtos.
Figura 2: Modelo laissez-faire
Fonte: Leydesdorff & Etzkowitz (2008).
O modelo da Tríplice Hélice, destacado na figura 3, tem-se o modelo dinâmico, no
qual existe a intersecção (destacada em preto) das 3 esferas que promovem a inovação
Govern
o
Academi
a
Indústri
a
Indústria Academia
Estado
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científica e tecnológica. Nesse espaço, cada esfera incorpora a função da outra, mantendo,
porém, sua independência.
Figura 3: Modelo Tríplice Hélice
Fonte: Leydesdorff & Etzkowitz (2008).
Nesse modelo, por exemplo, as universidades podem assumir o papel da Indústria
no que se refere à formação de empresas (principalmente, por meio das Incubadoras) e na
transferência de tecnologia, mas não perdem sua missão central.
Existe então, o “espaço do consenso”, onde todos os agentes envolvidos irão se unir
em uma discussão profícua, para coordenar as relações e ideias de um projeto em comum
para melhorar o sistema de inovação quer seja em uma região, estado ou país.
3. Metodologia
O presente artigo pode ser classificado como um estudo exploratório e descritivo, e o
método utilizado foi o qualitativo, com a utilização de questionários por escrito.
O objetivo com o estudo exploratório foi pesquisar sobre inovação,
empreendedorismo, Modelo da Tríplice Hélice, formação de clusters de alta tecnologia e o
papel das incubadoras no processo de desenvolvimento local e regional.
Como estudo descritivo, foram analisados artigos, dissertações, teses, livros e
documentos eletrônicos sobre a cidade, sua história e os personagens que mais
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influenciaram sua trajetória de transformações, as instituições e o papel que elas
representaram e ainda representam para a problemática estudada.
A pesquisa descritiva permite que os fatos sejam observados, registrados,
analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador exerça interferência a
partir de sua análise.
Assim, como método de coleta de dados de campo, utilizou-se a aplicação de
questionários, que foram enviados, no período de maio a junho de 2012, para os principais
atores envolvidos no processo de Inovação e de empreendedorismo de Santa Rita do
Sapucaí, sendo eles:
Prefeitura Municipal;
Instituição de Ensino (Inatel)
Incubadoras de Base Tecnológica (Incubadora do Inatel e Incubadora Municipal
Sinhá Moreira).
A opção por esta estratégia, com questões dirigidas por escrito a pessoas escolhidas
teve como objetivo recolher suas opiniões, sentimentos, interesses, expectativas, situações
vivenciadas, entre outros, de modo a fundamentar os argumentos que aqui serão
apresentados sobre a problemática eleita. Como vantagens desta opção têm-se a
possibilidade de: atingir várias pessoas, ter um custo baixo; garantir o anonimato do
informante; permitir que as pessoas respondam na hora de sua melhor conveniência e de
não expor o entrevistado às influências externas.
O trabalho abordará as seguintes questões:
Como se dá o relacionamento entre os atores locais e quais são as estratégias e
ações voltadas para o desenvolvimento regional;
De que forma as atividades relativas à Inovação do município se assemelham com
as propostas no modelo de Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff ?
No caso em tela, fez-se um estudo de caso, cuja unidade social de análise é a
cidade de Santa Rita do Sapucaí, situada no extremo Sul do Estado de Minas Gerais, por
meio dos representantes das instituições acima nominadas, com o objetivo de compreender
os motivos pelos quais essa cidade, que tem como uma de suas principais característica a
de ser muito empreendedora, passou a ser reconhecida também como referência no
desenvolvimento e estimulo à inovação.
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4. O histórico do sistema local de inovação de Santa Rita do Sapucaí
Os fundamentos do atual perfil da cidade de Santa Rita do Sapucaí remontam ao
início da década de 50.
Naquela época, a cidade seguia a mesma trilha de tantas outras do interior mineiro,
qual seja, era uma sociedade com foco agrário, estruturada na cultura do café e na
produção de leite, ambas tocadas de forma absolutamente convencional, sem, portanto, o
emprego de técnicas mais avançadas de produção e/ou manejo.
O inicio da sua transformação para uma sociedade industrial veio com uma iniciativa
de uma ilustre conterrânea, filha de uma das mais tradicionais e abastada família local,
sobrinha do ex – presidente da República, Delfim Moreira, de nome Luzia Rennó Moreira,
mais conhecida como Sinhá Moreira.
Mulher de grande fibra, que viveu vários anos no exterior, era dotada de um
incomum: um aguçado espírito empreendedor. Prova disso foi a sua inquietação quando
morou no Japão, acompanhando seu esposo, um diplomata de carreira, ao conhecer os
avanços tecnológicos que aquele país começava apresentar, com destaque para uma nova
tecnologia: a eletrônica. Seduzida pela enorme aplicabilidade que ela já demonstrava, já
naquela época, teve a idéia de trazer esse conhecimento para o seu país. E a forma como
materializar esta ideia, seria por meio da construção de uma escola técnica para formar mão
de obra especializada para a indústria, uma atividade, por sinal, que o Brasil estava também
iniciando naqueles tempos de “cinqüenta anos em cinco”, conforme era o lema do então
presidente JK.
De volta para o Brasil e obstinada em implantar uma escola de eletrônica, que ela
obstinadamente defendeu ser na sua cidade natal, procurou os melhores professores de
São Paulo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, os três maiores centros de excelência em
conhecimento daquela época e pediu a eles formularem o projeto pedagógico desta nova
escola que seria a primeira, não apenas do Brasil, mas de toda América Latina. Como
resultado desses esforços, no dia 17 de setembro de 1958, foi aprovado pelo então
presidente Juscelino Kubitschek, o Decreto no 44.490, que estabelecia a criação do curso
de eletrônica em nível médio, no Brasil.
A Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa – ETE foi fundada em
1959, focada nas áreas de: eletricidade, eletroeletrônica, telecomunicações e correlatas. A
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ETE era uma escola diferenciada e inovadora para a época, seu currículo incluía aulas
teóricas de conhecimentos científicos e aulas práticas dentro de laboratórios especializados.
A partir da metade do curso, os primeiros alunos da escola já recebiam ofertas de
colocações em grandes indústrias de São Paulo, Brasília, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Sua administração contava com a participação de padres jesuítas e sua estrutura oferecia
residência aos estudantes, que tinham aula em período integral.
Devido a esses motivos, a criação da ETE teve como consequência uma alteração
na economia e na composição de classes da cidade, permitindo a criação de futuros
empreendimentos que, em conjunto, transformariam mais tarde, Santa Rita do Sapucaí em
uma referência nacional na área de Eletrônica e Telecomunicações.
No inicio de 1965, foi criado o Instituto Nacional de Telecomunicações de Santa Rita
do Sapucaí, o Inatel. De acordo com Perobelli (1996), esta escola seria, primeiramente,
criada em Itajubá (a 40 km de Santa Rita do Sapucaí). O curso seria criado como
engenharia de operações, mas, por força de lei, teve que se transformar em um curso de
formação plena, o que foi realizado com a institucionalização e criação do Inatel, ministrando
um curso de engenharia elétrica com ênfase em eletrônica e telecomunicações, com
duração de cinco anos.
Atualmente o Inatel possui uma infraestrutura de 75 mil m² de área, abrigando
diversos laboratórios, como Comunicações Digitais, Eletrônica Analógica e Digital, Iniciação
à Eletrônica, Controle e Automação, Rádio – Frequência e Microondas, Telefonia, Física,
química e Tratamento da Informação (INATEL, 2002). Oferece quatro cursos de Graduação
em Engenharia, com duração de cinco anos e três Cursos Superiores noturnos de formação
de tecnólogos, com duração de três anos. Além disso, o Instituto oferece quatro cursos de
pós-graduação lato sensu e um curso stricto sensu (Mestrado em Telecomunicações).
Após a criação da ETE e do Inatel, em janeiro de 1971 o Ministério da Educação
autorizou o funcionamento da Escola de Administração de Santa Rita do Sapucaí
conhecida, atualmente, como Faculdade de Administração e Informática. A FAI é um centro
de ensino superior privado, mantido pela Fundação Educandário Santarritense, que oferece
os cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de gestão, tecnologia e educação. Sua
criação veio ao encontro com a necessidade da formação de mão de obra capacitada em
administrar toda a tecnologia gerada pelo município.
Devido a esta concentração de entidades de ensino técnico-universitário, nas
décadas de 60 e 70, Santa Rita do Sapucaí já apresentava um know-how diferenciado na
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área de eletroeletrônica e telecomunicações. Porém, as empresas de São Paulo e Rio de
Janeiro ainda não haviam manifestado interesse em instalar suas sedes na pequena cidade
do Sul de Minas Gerais.
Com o objetivo de manter o potencial de conhecimento e a capacidade competitiva
no próprio município, a solução encontrada foi à criação de incubadoras de empresas. Com
o respaldo da prefeitura, que sempre foi atuante no processo de inovação da cidade, as
empresas nascentes do próprio município encontraram nesta cidade um berçário propício
para desenvolverem seu potencial econômico e tecnológico.
Em Minas Gerais, segundo a RMI - Rede Mineira de Inovação, a primeira incubadora
foi a do Inatel. Em 1992, o Programa Incubadora de Empresas e Produtos, passou a ter
instalações próprias e regulamento formalizado. Atualmente, gerenciado pelo NEMP- Núcleo
de Empreendedorismo, o Programa Incubadora de Empresas e Projetos do Inatel tem a
capacidade para incubar 11 empresas de base tecnológica e de acordo com Luiz Carlos
Dionísio, Gestor de Negócios da Incubadora do Inatel, das 50 empresas graduadas 38
permanecem na cidade.
Com a experiência acumulada com a incubadora do Inatel, o NEMP presta
orientação técnica para a Incubadora da Prefeitura Municipal de Santa Rita do Sapucaí,
Incubadora Municipal de Empresas "Sinhá Moreira" – IME, em regime de convênio.
A Prefeitura, por sua vez, trabalha juntamente com o Inatel, a ETE e a FAI em um
programa denominado Prointec, Programa Municipal de Incubação Avançada de Empresas
de Base Tecnológica (INATEL, 2002).
O Prointec é um conjunto de ações desenvolvidas pela Divisão de Programas de
Incubação da Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio de Santa
Rita do Sapucaí – MG. O objetivo deste programa é apoiar à geração e consolidação de
empresas tecnologicamente inovadoras, o desenvolvimento regional e a valorização do
empreendedorismo no Vale da Eletrônica. Os agentes deste programa são: a Incubadora
Municipal de Empresas “Sinhá Moreira” – IME e o Condomínio Municipal “Ruy Brandão” –
CME.
De acordo com Dani Xavier, Diretora da Divisão de Programas de Incubação da
Prointec, “a Incubadora Municipal de Empresas "Sinhá Moreira" - IME, juntamente com o
Programa Municipal de Incubação Avançada de Empresas de Base Tecnológica, surgiram a
partir da Lei Municipal 3043/98 de 12 de junho de 1998 tendo como objetivo o fortalecimento
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das experiências de incubação já existentes nas Instituições de Ensino do Vale da
Eletrônica”.
Inicialmente, a Incubadora Municipal tinha capacidade para abrigar 10 empresas de
base tecnológica, mas, recentemente, em sua nova sede construída por meio do apoio da
Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – Sectes e da Fundação
Educandário Santarritense - FES, a capacidade passou a ser de 20 empresas, o que
representa um aumento total de 100% da capacidade de incubação. Atualmente, de acordo
com Dani Xavier, o IME abriga 18 empresas incubadas e já graduou um total de 34
empresas, sendo que, 27 continuam ativas e apenas 01 juntou-se a um grupo maior e
mudou sua sede para outra região.
Ambas as incubadoras são reconhecidas em âmbito nacional devido a sua atuação
na transformação da realidade econômica e social do município no qual estão inseridas. No
ano de 2003, a Incubadora Municipal de Empresas “Sinhá Moreira” foi a primeira Incubadora
mineira a receber a premiação de “Incubadora do Ano” na categoria base tecnológica, pela
Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
Em relação às conquistas realizadas pela Incubadora de Empresas e Projetos do
Inatel, pode-se citar o prêmio da Anprotec de Melhor Programa de Incubação Orientado
para o Desenvolvimento de Produtos Intensivos em Tecnologia, recebido em 2005, e o
prêmio de 1º lugar na modalidade Empresa Incubada, da categoria Ciência e Tecnologia,
ganho pela empresa NibTec Inovações, no 2º Prêmio Werner Von Siemens de Inovação
Tecnológica.
Quanto ao sucesso das empresas de Santa Rita, grande parte do crédito deve-se ao
potencial tecnológico da cidade, decorrente, em grande medida, da qualidade do ensino e
dos incentivos oferecidos. As empresas são também responsáveis por este êxito, na medida
em que estabelecem contratos de cooperação entre si, que visam melhorias em sua
produção e aumento da competitividade de seus produtos. Por meio do Sindicato das
Indústrias local, as empresas trocam boas práticas, fornecem peças, compartilham
laboratórios e tomam decisões em conjunto que beneficiam todos os empreendimentos
cooperados. Esse é, inclusive, um dos maiores diferenciais do arranjo produtivo local.
Em relação aos incentivos oferecidos às empresas pelo município, podemos citar,
além da criação e da manutenção das Incubadoras, o apoio incondicional para que elas,
após graduarem, se fixem na cidade. Com a condição de permanecerem na cidade, o
município contribui com metade do aluguel das empresas graduadas, por um período de até
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três anos e, por meio de uma parceria com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais –
BDMG garante a doação do terreno para a construção de sua futura sede.
Ainda neste contexto favorável a criação e manutenção de empresas nascentes de base
tecnológica, existem as seguintes leis que agregam, ampliam e monitoram todas as ações
de incremento de pesquisa, desenvolvimento e inovação no país:
Lei Complementar nº 123, de 2006, “Lei Geral das micro e pequenas empresas”
prevê que no mínimo 20% do orçamento público destinado a investimentos em
tecnologia sejam revertidos para ações de apoio aos micro e pequenos negócios.
Lei Federal de Inovação nº 10.973, de 2004, que além de fomentar a pesquisa com
recursos para a inovação, permite o relacionamento entre empresas e instituições
científicas e tecnológicas.
O Governo do Estado de Minas Gerais ainda apóia o arranjo produtivo de Santa Rita por
meio de leis, decretos e programas como:
Programa de Indução à Modernização Industrial (PROIM) e Programa de Apoio às
empresas de Eletrônica, Informática e Telecomunicações (PROE – Eletrônica). Em
ambos os casos os recursos aportados provem do Fundo de Desenvolvimento de
Indústrias Estratégicas (Fundiest).
Lei Estadual nº 17.348, de 2008, que garante recursos extras para o Fundo Estadual
de Incentivo à Inovação Tecnológica FIIT, que prevê que 1% da arrecadação do
ICMS seja destinado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(Fapemig).
Decreto nº 43.080, de 2002, que beneficia com redução no ICMS cobrado a
empresas industriais de produtos de informática, eletroeletrônica e
telecomunicações.
Outro fator que contribui para o desenvolvimento das atividades relativas à Inovação
nesse município é sua localização privilegiada. Situada no extremo sul de Minas Gerais, o
município encontra-se próximo aos três maiores centros econômicos e comerciais do Brasil
(São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte). A cidade é cortada pela BR-459, um dos mais
importantes sub-eixos do sistema Fernão Dias, que conecta duas das mais movimentadas
rodovias brasileiras, a BR-381 e a BR-116, e atua como eixo de escoamento da produção
de Santa Rita.
Além disso, sua localização na BR-459 permitiu que cidade fizesse parte do
planejamento de um importante projeto de desenvolvimento regional denominado Rota
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Tecnológica 459, que reúne cidadãos de 88 municípios sul- mineiros e 19 paulistas, situados
numa faixa de 50 km em torno do eixo dessa rodovia. Pode-se considerar como um dos
benefícios da inserção de Santa Rita do Sapucaí neste projeto a promoção do
desenvolvimento regional integrado que somará forças para aumentar a atração de novos
investimentos para a região.
Os resultados gerados por esse conjunto de fatores favoráveis podem ser observados
nos seguintes dados, apresentados pelo Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos,
Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel): atualmente, o arranjo produtivo local
possui cerca de 142 empresas, o faturamento anual é de R$ 1.5 bilhões de reais/ano,
gerando cerca de 9.600 empregos. Tais valores são expressivos considerando que Santa
Rita do Sapucaí possui uma população com menos de 40.000 habitantes.
5. Análise de Resultados
Santa Rita do Sapucaí é reconhecida como o “Vale da Eletrônica” devido à
familiaridade com o Vale do Silício no que se refere à formação do ambiente de Inovação.
Os dois se assemelham na oferta de uma educação sólida, por meio das instituições de
ensino superior e escolas técnicas e de incentivos fiscais que favorecem o
empreendedorismo local.
O potencial tecnológico e o forte incentivo à educação empreendedora nessa cidade,
assim como no Vale do Silício, permitiu a existência de mão-de-obra especializada e
favoreceu a criação de empresas inovadoras.
Outra importante semelhança é a visão empreendedora de Sinhá Moreira. Assim
como o Professor Terman, ela atuou na economia de Santa Rita do Sapucaí transformando
um cenário agrário em tecnológico, apostando no ensino e incentivando a abertura de
empresas tecnológicas.
O ambiente tecnológico e inovador que se instituiu em Santa Rita do Sapucaí só foi
possível devido à coordenação entre Governo – Universidade – Empresas que, até os dias
de hoje, estão em perfeita sintonia.
A Prefeitura, por meio de sua Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia, Indústria
e Comércio, fomenta o empreendedorismo com ações próprias por meio do Programa
Municipal de Incubação Avançada de Empresas de Base Tecnológica e subsidia ações de
outras entidades que também promovem o empreendedorismo, a exemplo da Feira
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Industrial do Vale Eletrônica (Fivel), realizada pela Associação Industrial do Vale da
Eletrônica.
Além da Prefeitura, o Sindvel e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) são importantes parceiros para os empresários, pois estimulam a melhoria
continua por meio da capacitação humana e tecnológica das empresas.
Já as instituições de ensino, caracterizam-se por estimular seus alunos a serem futuros
empreendedores, da seguinte forma:
Participando do programa de incubação;
Contribuindo para a efetiva integração empresa-escola;
Incentivando o incremento de suas próprias atividades internas de pesquisa nas
áreas de atuação tecnológica desenvolvidas na Incubadora e
Apoiando as empresas incubadas facilitando o acesso a bibliotecas e laboratórios e
compor o Conselho Consultivo da Incubadora Municipal.
No Inatel, a disciplina de empreendedorismo é obrigatória em sua grade curricular, além
da existência de duas atividades complementares com foco em empreendedorismo:
"Elaboração de Planos de Negócio" e "Programa Nossa Primeira Empresa".
Segundo o coordenador pedagógico do Inatel, Professor Mario Augusto de Souza
Nunes, o Instituto, por meio do seu corpo docente, oferece consultoria informal ajudando os
empresários incubados no desenvolvimento de novos produtos e na inovação tecnológica,
evidentemente sem custo, já que estas atividades são consideradas muito importantes para
a vida acadêmica.
Já a Incubadora Municipal desenvolve ações de sensibilização na comunidade, por
meio da divulgação dos benefícios do Programa de Incubação e do Condomínio de
Empresas, tendo como recursos materiais físicos e eletrônicos, palestras e cursos.
O conselho consultivo da Incubadora Municipal é formado pelo Secretário Municipal
de Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio, Diretor da Divisão de Programas de
Incubação, Diretor do Inatel, Diretor da FAI, Diretor da ETE, Presidente da Rede Mineira de
Inovação, Representante da Sectes MG e Representante do Sebrae MG. Ou seja, o
conselho tem interação de todos os atores ligados à inovação de Santa Rita do Sapucaí.
A maioria das empresas do Vale da Eletrônica foi criada por ex-alunos de instituições
de ensino da cidade. Por intermédio das Incubadoras e Condomínios de Empresas, os
empresários têm acesso aos editais de fomentos do governo, além de receberem suporte
técnico para desenvolver seus produtos/serviços.
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Isso demonstra grande interação entre todos os atores envolvidos nas ações
referentes à inovação no município. A presença forte do governo e a interação com os
demais agentes, conforme proposto pela Tríplice Hélice, é vista claramente em Santa Rita
do Sapucaí.
O diagrama da hélice tripla que configura a realidade dessa cidade encontra-se na figura 4.
Figura 4: Modelo hélice tripla de Santa Rita do Sapucaí
No modelo, a esfera que representa o Governo inclui: Sectes/Fapemig, Sebrae,
Prefeitura e Sindvel. São importantes instituições propulsoras desse movimento de inovação
ao lado das esferas representas pela Academia (FAI, Inatel, ETE) e Empresas,
caracterizadas, pelas empresas incubadas, graduadas das Incubadoras e residentes do
Condomínio Municipal.
Assim como no modelo de Etzkowitz, a existência de um espaço do consenso é
definida por meio do Programa Municipal de Incubação Avançada de Empresas de Base
Tecnológica (Prointec). Tal programa ao promover o encontro de todos os atores envolvidos
no processo de inovação de Santa Rita do Sapucaí, possibilita a criação do chamado
espaço do consenso. É neste espaço, que são discutidas as estratégias e programas para
alavancar o empreendedorismo e o desenvolvimento tecnológico da cidade.
Espaço do consenso: Prointec
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6. Conclusão
Para compreender as relações Governo – Empresa - Academia em Santa Rita do
Sapucaí, o estudo retratado neste artigo, analisa os principais atores envolvidos e sua
importância no desenvolvimento do empreendedorismo e inovação deste município.
Tendo em vista os aspectos observados sobre os agentes de inovação citados,
pode-se observar que estes interagem de forma sistêmica, com o objetivo comum de
alavancar o arranjo produtivo local, destacando Santa Rita do Sapucaí no movimento de
Inovação de Minas Gerais.
A Prefeitura desempenha um papel fundamental na integração dos três agentes por
intermédio do Programa Municipal de Incubação Avançada de Empresas de Base
Tecnológica (Prointec). Além de ser um grande disseminador do empreendedorismo no
município, oferecendo incentivos fiscais aos empresários.
A academia, representada pelo Inatel, desenvolve pesquisa, conhecimento e
inovação por meio dos seus cursos de graduação e pós-graduação e colabora com o arranjo
produtivo local produzindo mão de obra especializada no setor de eletroeletrônica e
telecomunicações.
Já as Incubadoras de Empresas do Inatel e Sinhá Moreira, consideradas duas da
melhores do Estado, contribuem para o desenvolvimento socioeconômico de Santa Rita do
Sapucaí, através da geração de empresas de base tecnológica.
A interação entre as empresas incubadas/graduadas com as instituições de ensino
permite aos empresários facilidade de acesso aos professores e pesquisadores,
estabelecendo fortes parcerias no desenvolvimento de projetos. Em contrapartida, a
academia também tem esse acesso facilitado quando buscam nas empresas algo que tenha
valor acadêmico para professores e alunos.
Ademais, o histórico da cidade baseado em estratégias de desenvolvimento do
empreendedorismo tecnológico, favoreceu a criação de uma sociedade baseada no
conhecimento.
O modelo da tríplice hélice explicitado em Santa Rita do Sapucaí serve de referência
para que outros governos locais, bem como instituições de pesquisa possam entender essa
experiência e aproveitá-la para desenvolver suas politicas públicas de inovação.
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