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    Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Amricas, Vol. 2, N 1, Janeiro-Junho (2008)

    O Mtodo Comparativo e a Cincia Poltica

    Rodrigo Stumpf Gonzalez1

    Introduo

    A definio do mtodo utilizado parece ser a questo mais temida atualmentenas bancas de trabalhos de concluso de curso e de dissertaes da rea de cinciassociais. cada vez mais comum o uso de uma frase, muitas vezes descontextualizada,dizendo que "o mtodo utilizado neste trabalho X", para resolver o problema dadefinio. Questionar sobre o porqu deste enquadramento colocar o avaliado emrisco de um colapso cardaco.

    Por um lado, a discusso sobre epistemologia e mtodo, como caminho lgico

    na construo do conhecimento, tem desaparecido dos currculos da graduao e dosmestrados, substituda pelas exigncias de especializao dos contedos, pelacompresso dos tempos dos cursos, priorizando-se a formao em temas especficos darea de conhecimento, em detrimento de uma formao mais geral. Por outro lado, temsido desconsiderada por discurso crtico, que usa a acusao de "cartesianismo" comosuficiente para desqualificar qualquer exigncia de definio mais estrita de

    procedimentos lgicos de um trabalho.

    Na contramo desse caminho, este trabalho procura resgatar a importncia domtodo comparativo como uma das opes de mtodo nas cincias sociais e na cincia

    poltica, apresentando, em linhas gerais, seus pressupostos e desenvolvimento, com adiscusso de seu uso no passado recente e seus limites e possibilidades.

    Mtodo Comparativo

    Buscando suas origens, o desenvolvimento da concepo de mtodocomparativo se deve, em grande parte, ao trabalho de John Stuart Mill, Sistema deLgica Dedutiva e Indutiva, de 1843.

    O autor prope, nesta obra, as regras fundamentais do que deveria ser oraciocnio lgico e cientfico. Em relao aos mtodos de pesquisa experimental, definiuduas formas bsicas, que se dividem. Segundo Mill:

    Os mtodos mais simples e familiares de escolher entre as circunstncias queprecedem ou seguem um fenmeno, aquelas s quais esse fenmeno estrealmente ligado por uma lei invarivel so dois: um consiste em comparar osdiferentes casos em que o fenmeno ocorre; o outro, em comparar casos emque o fenmeno no ocorre. Esses dois mtodos podem ser respectivamentedenominados o mtodo de concordncia e o mtodo de diferena. (Mill, 1984,p. 196)

    1 Doutor em Cincia Poltica pela UFRGS. Pesquisador Associado ao Ncleo de Pesquisas sobre aAmrica Latina - NUPESAL/UFRGS.

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    Segundo o mtodo da concordncia, se uma circunstncia pode ser eliminadasem alterar o fenmeno, ela no tem relao causal. Se eliminada altera o fenmeno,tem relao causal. Os casos devem concordar em um ponto, mas discordar em todosos demais.

    Essas consideraes vo gerar seu primeiro cnone:

    Se dois ou mais casos do fenmeno objeto de investigao tm apenas umacircunstncia em comum, essa circunstncia nica em que todos os casosconcordam a causa (ou efeito) do fenmeno. (Mill, 1984, p.198)

    O mtodo de diferena, ao contrrio, busca o uso de casos idnticos, salvo emrelao ao fenmeno a ser estudado. Neste caso se comparam um caso onde ele ocorree um onde no ocorre. Gera-se o segundo cnone:

    Se um caso em que o fenmeno sob investigao ocorre e um caso em que noocorre tm todas as circunstncias em comum, menos uma, ocorrendo estasomente no primeiro, a circunstncia nica em que os dois casos diferem oefeito, ou a causa, ou uma parte indispensvel da causa, do fenmeno. (Mill,

    1984, p.199)Mill concluiu que, sendo ambos os mtodos de eliminao, o mtodo da

    diferena adequado para a experimentao artificial e o mtodo da concordncia deveser empregado quando a experimentao no possvel. Apresentou ainda a

    possibilidade de uso conjunto da concordncia e da diferena e ainda o mtodo deresduos, que geram o terceiro e o quarto cnone.

    de importncia particular para as cincias sociais o mtodo das variaesconcomitantes, a ser usado quando for impossvel a eliminao ou isolamento dofenmeno por tratar-se de causa natural, permanente. Neste caso, a sada fazer variarou observar a variao desta causa no eliminvel sobre o resultado. Temos ento oquinto cnone:

    Um fenmeno que varia de uma certa maneira todas as vezes que um outrofenmeno varia da mesma maneira, ou uma causa, ou um efeito dessefenmeno, ou a ele est ligado por algum efeito de causao. (Mill, 1984,p.207).

    Para Mill, no entanto, esses mtodos no se aplicavam s cincias sociais.

    A discusso sobre o uso do mtodo comparativo encontrada posteriormenteem Durkheim (1987). No captulo referente s regras relativas administrao da provaretomar os cnones de Mill, afirmando:

    No temos seno um meio de demonstrar que um fenmeno causa de outro, comparar os casos em que esto simultaneamente presentes ou ausentes,

    procurando ver se as variaes que apresentam nestas diferentes combinaesde circunstncias testemunham que um depende do outro. Quando podem serproduzidos artificialmente vontade do observador, o mtodo de verificao a experimentao propriamente dita. Quando, pelo contrrio, a produo dosfatos no est ao nosso alcance e no obtemos seno tais quais se produziramespontaneamente, o mtodo a empregar o da experimentao indireta, oumtodo comparativo. (Durkheim, 1987, p.109).

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    Na verdade, temos a descrito, de forma sinttica, os mtodos da semelhana eda diferena de Mill - "comparar os casos em que esto simultaneamente presentes ouausentes". O mtodo de experimentao indireta, "quando a produo dos fatos no esta nosso alcance", corresponde situao em que Mill prope o mtodo das variaesconcomitantes.

    Discordando de Mill, Durkheim entende que o mtodo comparativo aplicvels cincias sociais, mas o nico que apresenta maior utilidade o mtodo das variaesconcomitantes, pois muito difcil encontrar fenmenos sociais em que as semelhanasou diferenas sejam de um nico ponto.

    Entre as vantagens do mtodo das variaes concomitantes estaria no necessitarde um nmero extenso de casos para ser utilizado. Ir, por fim, afirmar que a sociologiacomparativa identifica-se com a prpria sociologia, no sendo apenas uma parte desta.

    Esta afirmao seria contestada no futuro por autores que veem no mtodocomparativo uma alternativa em relao a outros mtodos que podem ser empregadosnas cincias sociais. Sua utilizao do mtodo comparativo em sua obra O suicdio

    considerada por vrios autores um modelo.Uma outra forma de comparao realizada por Weber (1974; 1994), em seu

    estudo sobre as religies, quando afirma:

    Os trabalhos subseqentes, sobre a tica Econmica das Religies Mundiais,tentam, atravs de uma observao geral das relaes entre as maisimportantes religies culturais com a economia e a estrutura social de seucontexto, destacar as duas relaes causais, at onde for necessrio para acharpontos de comparao com o subseqente desenvolvimento ocidental[...] Estesestudos, portanto, no pretendem ser anlises completas das culturas, mesmoque breves. Pelo contrrio, eles procuram destacar, propositadamente em cadacultura aqueles aspectos nos quais diferia e difere da civilizao ocidental.

    (Weber, 1994, p.12)O tipo de comparao feita por Weber includo por alguns no campo histrico

    ou, na nomenclatura de Ragin e Zaret, "case-oriented"2. O uso de tipos ideais, comoconceitos gerais, segundo Gerth; Mills (1974) so os instrumentos de Weber pararealizar a comparao.

    Mtodo Comparativo na Cincia Poltica

    De uma maneira menos precisa que a proposta por Mill, o uso da comparaocomo mtodo de estudo na poltica remonta ao trabalho de Aristteles e seu elenco dasformas de governo. O desenvolvimento desta tradio origina a produo moderna de

    instituies comparadas, largamente influenciada pelo campo do Direito.Na verdade, estas obras normalmente fazem a caracterizao das instituies

    polticas de vrios pases, colocando-as lado a lado dentro do mesmo texto. Segundo aanlise de Hardgrave; Bill (1973), o que intitulam de estudo tradicional de polticacomparada possui seis caractersticas negativas: configuraes descritivas, legalismo

    2RAGIN C.; ZARET, D. Theory and Method in Comparative Research: Two Strategies. In: Social

    Forces.V. LXI, p. 731-754, 1983, apud Panebianco, 1994, p 98.

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    formal, paroquialismo, conservadorismo, nfases no tericas e insensibilidademetodolgica. Uma nova viso metodolgica buscou romper essas barreiras.

    A crtica ao modelo de estudo de "Governos Comparados", agregada a outrosfatores, comeou a mudar a forma de se fazer poltica comparada, a partir do final dosanos 50 do sculo XX. A conjuntura internacional provocou a necessidade,

    principalmente dos Estados Unidos, de conhecer melhor a poltica de outros pases. Asanlises de comparao institucional normalmente preocupavam-se com o estudo dosEstados Unidos e alguns pases da Europa Ocidental, principalmente Frana, Alemanhae Reino Unido. Os estudos preocupavam-se com a poltica formal partidos,

    parlamentos, gabinetes, etc.

    A insuficincia conceitual desses estudos para dar conta da realidade de pasesda Amrica Latina, frica e sia auxiliou o crescimento das anlises baseadas noestrutural-funcionalismo e na teoria dos sistemas, que tem maior maleabilidade paraanlise das relaes polticas extrainstitucionais.

    A necessidade poltica de aumentar o conhecimento norte-americano colaborou

    na existncia de financiamento abundante para as pesquisas feitas no exterior. Este fatocontribui no desenvolvimento que poltica comparada vem a ser o estudo de pases queno os Estados Unidos.

    Os estudos de governos comparados foram substitudos por outrasmetodologias. A comparao passou a ser abordada, por diversos autores, como ummtodo ao lado de outros, diferindo, neste ponto, de clssicos como John Stuart Mill eDurkheim.

    A contribuio de autores, como Almond, Apter, Riggs e outros, contestada,no entanto, por Holt e Turner (1972). Para estes autores, o que foi enfatizado foi a

    pesquisa emprica de teorias. Segundo os autores, "they are comparativists in the sensethat their theories are applied to more than one political system" (Holt; Turner, 1982,

    p.5)

    A preocupao destes autores a falta de uso mais acurado do mtodocomparativo. Para Holt e Turner:

    In anthropology and in at least a part of sociological tradition, the comparativerefers not to a substantive field, but to a method of research and analysis. Butin political science few studies in comparative politics have employed thecomparative method, as envisaged and used, for example, by Durkheim,Nadel, and Murdock. (Holt; Turner, 1972, p.5)

    Crtica semelhante faz Sartori (1994) ao identificar um carter aindaparoquialista, em especial dos comparativistas norte-americanos, que so assim

    considerados somente porque estudam outros pases que no os Estados Unidos.A poltica comparada, no entanto, mesmo com dificuldades, acabou

    sobrevivendo identificada mais pelo seu mtodo (comparativo) do que pelo seucontedo (estudo comparado de diferentes pases). Mas o mtodo comparativo no exclusivo da cincia poltica nem o nico a ser utilizado por ela.

    Seu desenvolvimento analisado, a seguir, a partir de suas bases, colocadas emautores como John Stuart Mill, mile Durkheim e Max Weber, particularmente a partir

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    do final dos anos 60 do sculo XX. Por fim, so discutidas algumas das dificuldades douso do mtodo comparativo, apontadas pelos diversos autores.

    Os autores analisados acima utilizavam a comparao como um mtodo geralaplicvel cincia ou s cincias sociais. Nos anos 60, a comparao passa a serincluda, por vrios autores, como um dos mtodos aplicveis.

    Em sua anlise, Smelser (1968) identificou trs mtodos: o experimental,o estatstico e o comparativo. Sua diferena se d no tratamento dado a parmetros evariveis operativas. Para que seja possvel determinar a diferena entre variveisindependentes, dependentes e intervenientes:

    One of the most fundamental ways of organizing conditions is found in thedistinction between conditions treated as parameters and conditions treated asoperative variables. Parameters are conditions that are known or suspected toinfluence the dependent variable, but which, in the investigation at hand, aremade or assumed not to vary. Operative variables are conditions that areknown or suspected to influence the dependent variable and which, in theinvestigation, are made or allowed to vary in order to assess this influence.

    (Smelser, 1968, p.151)

    O uso do mtodo experimental consiste em manipular diretamente a situaopara criar parmetros e variveis operativas. O mtodo estatstico busca o mesmoobjetivo do mtodo experimental, de transformar condies operativas em parmetros.Sua diferena em relao ao mtodo experimental que o alcanaria atravs demanipulao conceitual, pelo uso da matemtica.

    O mtodo comparativo, neste caso, tem o mesmo objetivo, mas adequadoquando os dados no podem ser controlados experimentalmente e o nmero de casos

    pequeno. Exemplifica com o uso de Durkheim em sua pesquisa sobre o suicdio e a deWeber sobre a Sociologia das Religies.

    It takes cognizance of the variability in sociocultural context but attempts tocontrol it by the method of systematic illustration, and by continuoustransformation of parameters into operative variables and vice versa. (Smelser,1968, p.153)

    Identificam-se duas formas do mtodo comparativo: a comparao de casossimilares e o mtodo de replicao em diferentes nveis para o estabelecimento dedescobertas comparativas.

    Em estudo posterior, Lijphart (1971) retoma a proposio de Smelser daidentificao dos trs mtodos. Acrescentar referncias ao mtodo de estudo de caso.O objetivo dado a explicao cientfica e, segundo o autor:

    All three methods (as well as certain forms of the case study method) aim atscientific explanation, which consists of two basic elements: (1) theestablishment of general empirical relationships among two or more variableswhile (2) all other variables are controlled, that is, held constant. (Lijphart,1971, p. 683)

    A lgica dos mtodos a mesma do mtodo experimental. A nicadiferenciao entre o mtodo estatstico e o comparativo seria o nmero de casos, nohavendo uma clara linha de diviso entre eles. O mtodo comparativo o substituto

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    possvel e imperfeito para o mtodo experimental nas cincias sociais. Aimpossibilidade de uso extenso de casos afastaria na maior parte das vezes o uso domtodo estatstico.

    Uma outra apresentao do mtodo comparativo dada por Przeworski e Teune(1970). Os autores diferenciam duas estratgias comparativas. A primeira, baseada no

    princpio das variaes concomitantes, denominada de desenho dos sistemas maissimilares (most similar systems)

    Intersystemic similarities and intersystemic differences are the focus of the"most similar systems design. Systems constitute the original level ofanalysis, and within-system variations are explained in terms of systemicfactors. Although these designs rarely have been formulated rigorously, theirlogic is fairly clear. Common systemic characteristics are conceived as"controlled for", whereas intersystemic differences are viewed as explanatoryvariables. (Przeworski; Teune, 1970, p. 33)

    Como apontam os autores, neste caso parte-se do nvel de sistemas por inteiro,utilizando-se sistemas que sejam os mais idnticos possveis em todas as caractersticas.

    As caractersticas comuns so consideradas variveis controladas, enquanto asdiferenas so as variveis explicativas.

    Trata-se de uma forma de estudo de variao concomitante, o que seenquadraria nos conceitos de Mill de mtodo da diferena e mtodo da variaoconcomitante. Uma vez escolhido o nvel de anlise, este no pode ser mudado.

    A segunda metodologia de pesquisa identificada pelos autores a dos sistemasmais diferentes "most different systems". Neste caso, a unidade de anlise seroamostras de sistemas diferentes. Pressupe-se que os fatores sistmicos no explicam avariao e que as populaes so homogneas. O objetivo eliminar fatores sistmicosque so irrelevantes para explicar a variao.

    The alternative strategy takes as the stating point the variation of the observedbehavior at a level lower than that of systems. Most often this will be the levelof individual actors, but can be the level of groups, local communities, socialclasses or occupations. [...] The initial assumption is that individuals weredrawn from the same population; in other words, that systemic factors do notplay any role in explaining the observed behavior. (Przeworski; Teune, 1970,p.34-35).

    Neste caso, possvel utilizar mais de um nvel de anlise. Partindo do nvelindividual, podem ser feitas anlises em nveis de subsistemas ou sistemas.3Enquanto asanlises forem vlidas sem considerar fatores sistmicos, so vlidas. Caso algum fatorsistmico intervenha, este nvel de anlise deve ser considerado. Essa estratgiaidentifica-se com o mtodo da concordncia de Mill.

    Por outro lado, Ragin & Zaret,4citados por Panebianco (1994), identificam doistipos diferenciados de comparao: o primeiro, o estatstico, que seria baseado em

    3 Sartori discorda da necessidade de considerar diferentes nveis para o uso dessa estratgia de

    comparao.4RAGIN C.; ZARET, D. op.cit., apud Panebianco, 1994.

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    variveis e buscaria comparar hipteses de alcance geral. Identifica-se com o modelo deO Suicdio, de Durkheim, tambm citado por Smelser (1968) e Lijphart (1971).

    O segundo, o histrico, est baseado em casos. Este buscaria a comparao pelalgica da semelhana e da diferena e se identificaria com a tradio weberiana.Entretanto, Bartolini (1994) manifesta sua contrariedade com as concluses de Ragin eZaret acerca da contraposio e uso dos tipos de comparao.

    Com uma postura crtica em relao aos comparativistas tradicionais, como japontado, Holt e Turner (1972) encontram no mtodo comparativo uma forma de testarhipteses, na busca de teorias mais gerais e vlidas. Para a utilizao correta do mtodo,segundo os autores:

    Basically, three ways of doing this are open to the researcher. The backgroundvariables can be controlled by randomization, by specification, or by somecombination of these two. (Holt; Turner, 1972, p.8)

    A randomizao identificada com o uso da estatstica e o mtodo daespecificao adota como modelo a metodologia weberiana do estudo da tica

    protestante.Em texto mais recente, Sartori (1994) identifica o mtodo comparativo como

    uma especializao do mtodo cientfico em geral, identificando quatro tcnicas deverificao utilizveis nas cincias humanas: os mtodos experimental, estatstico,comparado e histrico.

    Para o autor, comparar implica fundamentalmente encontrar semelhanas ediferenas, o que pode ser feito pelo uso da classificao, na qual as categorias devemser mutuamente excludentes. As estratgias comparativas so escolher os sistemas maissemelhantes ou os sistemas mais diferentes.

    A diviso de tipos de comparao, feita por Charles Tilly, citada por Smith

    (1995), identifica diferenas na finalidade mais que de mtodo. Para Tilly, podem seridentificados quatro tipos de comparao: individualizantes, universalizantes, "variation-finding" e englobantes. Para sua aplicao pode ser, no entanto, utilizada, de formacombinada, tanto a estratgia da maximizao das semelhanas como a das diferenas.

    As diferentes abordagens da comparao

    Os diversos autores que discutem o uso do mtodo comparativo frequentementeusam linguagens diferentes para expor o mesmo contedo. As discordncias, por outrolado, vo desde diferenas bsicas epistemolgicas, como de conceituao de cincia edos objetivos da pesquisa cientfica, levando a divergncias sobre os objetivos do uso

    do mtodo comparativo.Por exemplo, para Przeworski e Teune (1970), deve ser a busca de explicaes.

    Sartori (1994) defende o ponto de vista do uso como mtodo de controle, o quetambm referido por Morlino (1994).

    A relao entre mtodo comparativo e mtodo estatstico tampouco pacfica.Para Lijphart (1971), o mtodo comparativo seria uma sada para a impossibilidade deutilizao do mtodo estatstico. Peter Smith (1995) coloca em dvida a preferncia do

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    uso da estatstica, lembrando que, em algumas situaes, a opo qualitativa pode sermais interessante.

    Abstraindo das divergncias sobre o emprego do mtodo comparativo, podemosencontrar alguns pontos em comum. De forma simplificada, podem-se dispor os autoresanalisados no seguinte quadro, que aponta alguns dos pontos convergentes:

    Quadro 1

    Estratgias de Comparao

    Autor estratgia I estratgia II

    Mill Diferena Concordncia

    Durkheim Weber

    Ragin e Zaret estatstico histrico

    variable-oriented case-oriented

    Przeworski e Teune MDS MSSquantitativo qualitativo

    Holt e Turner randomizao especificao

    A base da comparao ainda a desenvolvida por John Stuart Mill. Nestesentido, as diversas classificaes do mtodo comparativo so, em geral, baseadas nomtodo das semelhanas, com nfase na opo pela sua variante, o mtodo dasvariaes concomitantes, por um lado, e o das diferenas, por outro.

    Problemas do uso do mtodo comparativo

    Em seu artigo, Lijphart (1971) aponta algumas limitaes do mtodocomparativo, que o tornariam limitado em relao ao mtodo experimental ou aomtodo estatstico.

    Seu principal problema seria a relao entre muitas variveis e "N" pequeno, isto, poucos pases a serem considerados, diante de muitas variveis, tornando impossvelo uso de estatstica, por exemplo.

    As sadas propostas pelo autor so:

    a) aumentar o nmero de casos tanto quanto possvel. Neste caso, uma daspossibilidades o uso de conceitos de base funcional como os desenvolvidos porAlmond e Powell (1972). Esta ampliao conceitual, no entanto, sofreu crticas de

    autores como Badie e Hermet (1993) e Sartori (1970; 1994).b) reduzir o "espao de propriedades da anlise: usando tcnicas avanadas,

    como a anlise fatorial, diminuir, por exemplo, o nmero de classe em que divididauma varivel;

    c) enfocar a anlise comparativa em casos comparveis: seria adotar ospressupostos do mtodo da variao concomitante de Mill ou o que Przworski e Teune

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    chamam de Most Similar System ou adotar a perspectiva de comparao por rea,como a Amrica Latina, por exemplo, que maximizaria a semelhana entre sistemas;

    d) enfocar a anlise em variveis-chave: o uso de parcimnia na escolha dasvariveis consideradas relevantes, compreendendo ser impossvel utilizar todas asvariveis envolvidas, devendo ser escolhidas as teoricamente mais importantes.

    Um enfoque diferenciado do mtodo comparativo desenvolvido por Sartori(1970), que observa um uso inadequado da quantificao, pela transformao deconceitos em variveis. Isto se d pelo uso de conceitos que podem originarclassificaes, em variveis, analisadas como um continuum que permite gradao emedio. Segundo ele, preciso primeiro definir adequadamente os conceitos,desenvolver categorias para, ento, pensar na possibilidade de criar gradaes.

    Algumas formas de mau uso do mtodo comparado so identificadas porSartori (1970 e 1994): o paroquialismo, o mau uso da classificao, do gradualismo edo estiramento conceitual.

    O nvel de anlise

    A tradio da poltica comparada era da anlise configurativa de diferentespases, considerados em sua estrutura institucional. As estratgias desenvolvidas a partirdos anos 50, com base em mtodos quantitativos, com a expanso do survey comoinstrumento de coleta de dados e conceitos funcionalistas, mudaram este panorama,mantendo, no entanto, o nvel de sistemas polticos como um todo como unidade

    privilegiada de anlise.

    No entanto, j neste perodo, a discusso da poltica comparada como mtodo, eno como contedo, dava mostras de ampliar estas fronteiras.

    Smelser, ao discutir o mtodo comparativo aplicado ao campo da economia,aponta que em determinados momentos a escolha do nvel intrassistmico pode ser maisadequado do que o intersistmico, citando o exemplo da comparao entre Alemanha eItlia ou entre regies alems e regies italianas entre si. exatamente o exemplo deSmelser que Lijphart utiliza, ao discutir as dificuldades encontradas pelo mtodocomparativo. Cita ainda Juan Linz e Miguel:

    The comparison of these sectors of two societies that have a greater numberof characteristics in common while differing on some crucial ones may bemore fruitful than overall national comparisons. (Linz; Miguel, 1966, apudLijphart,1971, p.268)5

    A discusso sobre nveis sistmicos diferenciados tambm apresentada por

    Przeworski e Teune (1970). Em relao ao mtodo da variao concomitante,identificam que predominantemente utilizado ao nvel de sistemas. Mas admitem quea conceituao de sistema pode variar:

    Enumeration in terms of national social or political systems or cultures is onlyone of the many possible ways of conceptualizing systems as units of analysis

    5LINZ, Juan; MIGUEL, Amando de. "Within Nation Differences and Comparisons: The Eight Spains."

    In: MERRIT; ROKKAN (Eds.) Comparing Nations: The Use of Quantitative Data in Cross-NationalResearch. New Haven: Yale University Press, 1966, apud Lijphart, 1971. p. 268.

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    in any theory. One could design research at the level of American states,Finish regions, Peruvian villages, Northern Californian tribes, and so forth.(Przeworski; Teune, 1970, p.36)

    A utilizao do mtodo da maximizao das diferenas tambm permite o usode diferentes nveis de anlise. Embora baseado normalmente em amostras de

    indivduos, a anlise pode se dar no nvel individual ou em diferentes nveis sistmicos,como no caso de estudo de lideranas locais, de uma amostra de comunidades, que

    poderia ser analisada nos nveis individual ou de comunidade.

    A viso da comparao como uso do mtodo comparativo, podendo ter comoobjeto uma pluralidade de estados ou partes de um nico estado, tambm compartilhada por Holt e Turner, ao afirmar:

    In principle, there is no difference between comparative cross-cultural researchand research conducted within a single society. The differences lie, rather, inthe magnitude of certain types of problems that have to be faced. (Holt;Turner,1972, p.6)

    Discutindo a necessidade de adaptao conjuntura atual das estratgias decomparao, Menendez-Carrin e Bustamante defendem a reviso da estratgia baseadaem reas definidas geograficamente para os autores:

    Thus it will be increasingly important to carry out local and community-levelstudies, as well as urban and micro-regional studies, since the latter arespecially affected by global changes in an increasingly differentiated andheterogeneous manner. Many international links no longer involve the nation-state as chief protagonist; rather, they tie directly in to local networks withoutregard for state frontiers. (Menendez-Carrin; Bustamante, 1995, p.65)

    Embora defendendo nveis diferenciados de anlise, fugindo da meracomparao entre sistemas como um todo, no fica clara no texto a considerao da

    possibilidade do uso do mtodo comparativo dentro de um nico pas. Os exemploscitados de comparaes de nvel subnacional, como o de comunidades, contemplam ocarter internacional, mantendo a viso tradicional da poltica comparada.

    A defesa de comparaes tendo por objeto partes do sistema poltico, aocontrrio de tom-lo como um todo, j fora igualmente desenvolvida por La Palombara(1972), que via nesta estratgia melhores condies de operacionalizao das pesquisas,e realizadas pelo prprio autor (La Palombara, 1982).

    Uma das dificuldades para o uso do mtodo encontrada nos estudos relativoss transies democrticas da Europa e da Amrica Latina, que tiveram grande destaquenas dcadas de 80 e 90 do sculo XX. Esses estudos eram, em geral, constitudos deanlises individualizadas de diversos pases, desenvolvidas por diferentes autores,

    agregadas construo de um quadro comparativo por parte de autores comparatistas.Mantendo os diferentes pases como unidades bsicas de anlise, provavelmente

    nos estudos de cultura poltica que o uso da comparao tenha se difundido mais nasltimas dcadas.

    A partir dos estudos e do quadro terico proposto por Almond e Verba (1989),o uso de surveysse difundiu na coleta de dados, com o uso de amostras de indivduos

    para representar pases como agregado. Hoje h inmeras experincias de surveys

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    realizados concomitantemente em mltiplos pases, com instrumentos homlogos, como objetivo de comparao como o Eurobarmetro, o Latinobarmetro e a PesquisaMundial de Valores (World Values Survey ou VWS).

    Esses levantamentos so realizados periodicamente, constituindo bancos dedados que permitem anlises comparativas entre populaes de diferentes pases ou emum nico pas, em perspectiva diacrnica, verificando mudanas de comportamento aolongo do tempo.

    A experincia mais ousada , provavelmente, a do World Values Survey6,coordenado por Ronald Inglehart, da Universidade de Michigan. Essa pesquisa realizada a cada cinco anos h mais de duas dcadas, contando hoje com mais de 80

    pases em seu banco de dados. O Brasil um dos pases includos, tendo a ltima ondado surveysido realizada pela Universidade de Braslia.

    Concluso

    Embora o mtodo comparativo na cincia poltica e a poltica comparadapossam ser considerados sinnimos, nem sempre os termos so usados assim. A polticacomparada certamente mudou muito desde a justaposio de estudos configurativosinstitucionais. Atravs da contribuio dos diversos autores analisados neste textovemos que a viso da poltica comparada, tendo como objeto o que se encontra"abroad", foi substituda pela concepo de mtodo comparativo. Neste sentido, a

    poltica comparada deixa de ser identificada pelo seu objeto, mas sim pelo seu mtodo.

    No entanto, como outros ramos da cincia poltica, esta uma rea claramenteno paradigmtica. Se h alguma concordncia, ela se encontra nas classificaes dosmtodos de pesquisa cientfica e numa certa proximidade na diviso das estratgias de

    comparao.Por outro lado, abundam as divergncias. Algumas destas podem ser

    encontradas quanto concepo de cincia e aos objetivos da comparao ou ainda autilidade do estudo de caso na poltica comparada. Estratgias quantitativas ainda sofrequentemente contrapostas s qualitativas. Os funcionalistas e os sistmicos,aparentemente predominantes, tambm recebem duras crticas.

    A poltica comparada parece, entretanto, libertada das amarras da conjuntura daguerra fria bem como se afastando do paroquialismo anglo-saxo, em especial o norte-americano, como o desenvolvimento de obras de comparativistas nos pases vistos poraqueles como objeto de pesquisa.

    Por outro lado, importante considerar a conexo entre mtodo e quadroterico. Embora a preciso metodolgica seja imprescindvel para a construo de um

    bom trabalho, os limites de sua capacidade explicativa sempre estaro dados pela teoriautilizada na anlise dos dados. Boas teorias sem dados e sem um mtodo adequado sefragilizam, porm a abundncia de dados, variveis e resultados de pacotes estatsticos

    6www.worldvaluessurvey.org

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    intil sem um corpo terico que lhe d sentido. Essa integrao continua sendo um dosdesafios da construo de conhecimento.

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