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O MANUSEIO DE CARGAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL E AS IMPLICAÇÕES PARA A SAÚDE DO TRABALHADOR Angela Regina Poletto (IFSC) [email protected] Silvana da Rocha Silva (IFSC) [email protected] Paula Karina Hembecker (UFSC) [email protected] Leila Amaral Gontijo (UFSC) [email protected] Uma quantidade expressiva de trabalhadores que atuam no setor da construção civil executam suas atividades em postos de trabalho precários e pouco estruturados, permanecendo expostos a vários fatores de risco e predispostos à lesões musculoesqueléticas decorrente do manuseio inadequado de cargas. O objetivo do estudo foi investigar a carga física a que são submetidos os trabalhadores nas etapas da construção de um edifício residencial com foco nas atividades de manuseio de cargas e as implicações para a saúde. Caracteriza-se por uma investigação de campo de natureza exploratória-descritiva, desenvolvida por um estudo de caso. Foram analisadas as atividades de levantamento manual de cargas de dois XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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O MANUSEIO DE CARGAS NA

CONSTRUÇÃO CIVIL E AS

IMPLICAÇÕES PARA A SAÚDE DO

TRABALHADOR

Angela Regina Poletto (IFSC)

[email protected]

Silvana da Rocha Silva (IFSC)

[email protected]

Paula Karina Hembecker (UFSC)

[email protected]

Leila Amaral Gontijo (UFSC)

[email protected]

Uma quantidade expressiva de trabalhadores que atuam

no setor da construção civil executam suas atividades em postos

de trabalho precários e pouco estruturados, permanecendo

expostos a vários fatores de risco e predispostos à lesões

musculoesqueléticas decorrente do manuseio inadequado de

cargas. O objetivo do estudo foi investigar a carga física a que

são submetidos os trabalhadores nas etapas da construção de

um edifício residencial com foco nas atividades de manuseio de

cargas e as implicações para a saúde. Caracteriza-se por uma

investigação de campo de natureza exploratória-descritiva,

desenvolvida por um estudo de caso. Foram analisadas as

atividades de levantamento manual de cargas de dois

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operadores de betoneira e três auxiliares de servente. Para a

avaliação do manuseio de cargas foi utilizado o método de

Análise Ergonômica do Trabalho (AET) na análise das

atividades. Para a avaliação da carga física de trabalho foi

aplicada a equação de levantamento revisada (ELN)

desenvolvida pelo National Institute for Safety and Health

(NIOSH). Em todas as etapas da construção foram identificadas

atividades de manuseio de cargas associadas a posturas

inadequadas e a movimentos repetitivos. A qualidade das pegas

dos materiais e as ferramentas e materiais utilizados são

inadequados, da mesma forma que há necessidade da

organização da matéria prima utilizada no canteiro de obras. As

cargas foram consideradas elevadas em todas as atividades

analisadas, com exceção do processo de colocação da água na

betoneira. Verificou-se a necessidade de mudanças do arranjo

físico para que ocorram melhorias na qualidade de vida dos

trabalhadores envolvidos, a importância da modernização dos

equipamentos e processos utilizados e a capacitação dos

trabalhadores.

Palavras-chave: Manuseio de cargas, construção civil,

ergonomia, saúde do trabalhador

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1. Introdução

A Construção Civil (CC) é um dos ramos mais antigos, todavia, o conhecimento produzido

nesta área não pode ser caracterizado como arcaico, pois os estudos refletem a preocupação

com o aprimoramento dos diversos aspectos relacionados a um desenvolvimento eficiente e a

um resultado satisfatório (SOSSMEIER, 2013; SAURIN; FORMOSO, 2006;

CAVALCANTE; FREITAS, 2009; MENDES, 2015).

Um número expressivo de trabalhadores atua em mais de vinte categorias profissionais na

CC, desenvolvendo suas atividades em postos de trabalho móveis e pouco estruturados. Estes

profissionais estão propensos a lesões musculoesqueléticas causadas devido aos trabalhos

físicos pesados, posturas incômodas e tarefas repetitivas (IIDA, 2005).

É de fundamental importância um ambiente de trabalho adequado, que permita ao profissional

executar suas funções em plenas condições de trabalho. A execução das atividades e a

produtividade da obra e dos serviços está intimamente relacionada ao planejamento e

organização do canteiro de obras. (SOOSSMEIER, 2013; AZI ,2004). A estrutura do canteiro

de obras é dinâmica, flexível e fundamental para o bom andamento das atividades, evitando

perda de tempo e de materiais e falta de qualidade dos serviços (VIEIRA, 2006;

CAVALCANTE; FREITAS, 2009).

Rego (2010) destaca que um canteiro de obras bem planejado proporcionará maior segurança

e produtividade, além de uma melhor qualidade de vida para os trabalhadores. Neste contexto,

a intervenção ergonômica mostra-se fundamental, tendo em vista a necessidade de serem

adotadas estratégias que permitam aos profissionais da CC desenvolverem suas atividades

com qualidade e sem prejuízo ao seu bem estar físico.

Este estudo tem como foco principal analisar as atividades que envolvem o manuseio de

cargas em um canteiro de obras de um edifício residencial e suas implicações para a saúde do

trabalhador.

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O manuseio de cargas é responsável pelo alto índice de absenteísmo, incapacidade e desgaste

excessivo dos trabalhadores. Entre os principais agravos à saúde, destacam-se os problemas

de coluna, pois reduzem a mobilidade e a vitalidade destes profissionais (KROEMER;

GRANDJEAN, 2005).

Somente no Brasil, no ano de 2005, mais de 491.000 trabalhadores sofreram acidentes de

trabalho, sendo que mais de 22.000 acidentes afetaram a região lombar, resultando em um

enorme custo social e econômico ao país (PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2006).

Diante deste contexto, mostra-se relevante a análise sobre o manuseio de cargas nos canteiros

de obras na CC, possibilitando identificar adequações que permitam ao trabalhador

desempenhar suas atividades de forma eficaz e com menor risco de danos à sua saúde.

Esse estudo tem como objetivo geral investigar a carga física a que são submetidos os

trabalhadores nas etapas da construção de um edifício residencial com foco nas atividades de

manuseio de cargas e as implicações para a saúde.

2. Método

2.1 Delineamento da pesquisa

Foi realizada uma pesquisa de campo, de natureza exploratória e descritiva, desenvolvida por

um estudo de caso em um canteiro de obras de um edifício residencial. Foram coletadas

informações sobre os fatores de risco nas atividades de manuseio de cargas.

2.2 Caracterização do local da pesquisa

A obra estudada se caracteriza como um Condomínio Residencial Multifamiliar, localizado

no bairro Real Parque, no município de São José, Santa Catarina. O empreendimento possui

quatro pavimentos, é um pilotis (sistema em que a edificação é sustentada através de uma

grelha de pilares ou colunas em seu pavimento térreo) com uma área de 5.700m² de obras. É

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uma obra de estrutura pré-fabricada de concreto, paredes de periferia em alvenaria

convencional e paredes internas em dry wall (parede seca).

Neste estudo foram analisadas as atividades dos operadores de betoneira, que são dois

trabalhadores do sexo feminino e de três auxiliares de servente que fazem o transporte de

blocos cerâmicos para a obra. A participação dos trabalhadores foi voluntária.

2.3 Métodos e técnicas de coleta de dados

Para a avaliação do manuseio de cargas foi utilizado o método de Análise Ergonômica do

Trabalho (AET) proposto por Guerin et. al. (2001), na análise das atividades.

A avaliação da carga física de trabalho nas atividades de levantamento manual de cargas foi

concebida com base na aplicação da equação de levantamento revisada (ELN) desenvolvida

pelo National Institute for Safety and Health (NIOSH, 1994). O Limite de Peso Recomendado

(LPR) resultante da aplicação da ELN representa a carga que os trabalhadores poderiam

manusear por um período de até oito horas diárias sem apresentar risco de desenvolver

problemas na região lombar. Já o índice de levantamento (IL) apresenta uma estimativa da

carga física de trabalho em cada atividade avaliada. A equação de NIOSH é representada pela

seguinte fórmula:

LPR = Cc x FH x FV x FD x FA x FF x FP

LPR = 23 x [25/H] x [1-(0,003|V-75|)] x [0,82 + (4,5/D)] x [1 –(0,0032 A)] x FF x FP).

O valor de referência da para a equação é de 23 kg, a uma altura de 75 cm do solo e a 25 cm

do corpo, para um deslocamento vertical de 25 cm. Este valor é multiplicado por seis valores

(variáveis) iguais ou menores a 1,0, de pendendo das condições de trabalho. A maioria dos

homens e mulheres pode suportar esta carga sem que ocorra lesão nos trabalhos repetitivos.

LPR: peso limite recomendável.

FH: distância horizontal entre o indivíduo e a carga em cm.

FV: distância vertical na origem da carga em cm.

FD: deslocamento vertical, entre a origem e o destino, em cm.

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FA: ângulo de assimetria medido a partir do plano sagital, em cm.

FF: frequência média de levantamentos em levantamentos/min.

FC: qualidade da pega.

Uma vez calculado o LPR para uma dada tarefa de levantamento de cargas, ele é comparado

com o peso real da carga levantada. Esta relação fornece o IL, e representa uma estimativa do

stress físico associado à tarefa que está sendo avaliada. Essa estimativa do nível de stress

físico é definida através da seguinte equação:

IL = PC/LPR onde:

PC – Peso real da Carga levantada (em quilogramas)

LPR - Limite de Peso Recomendado (em quilogramas)

O LPR e o IL são baseados no conceito de que o risco de lombalgia relacionada ao trabalho

aumenta à medida que a demanda da tarefa de levantamento aumenta, ou seja, à medida que a

magnitude do IL aumenta, o risco de lombalgia também aumenta. Contudo, sabe-se que as

tarefas com IL menor ou igual a 1 apresentam baixo risco e aquelas com IL maior que 3

apresentam alto risco de lombalgia entre os trabalhadores expostos (NIOSH,1994).

Optou-se neste estudo por selecionar as atividades que envolviam manuseio manual de cargas

realizadas pelos trabalhadores participantes da pesquisa segundo os seguintes critérios:

atividades que são realizadas rotineiramente pelos trabalhadores e que atendessem aos

critérios de aplicação da ELN. As variáveis da equação foram coletadas no momento da

realização das atividades, em situações reais de trabalho.

Para a obtenção das informações do estudo foram utilizadas as técnicas de observações

diretas, filmagens da execução das atividades, registro fotográfico, medições e conversas

informais com os trabalhadores. Os dados foram analisados qualitativamente e

quantitativamente.

3. Análise e discussão dos resultados

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Apesar dos avanços tecnológicos e da infinidade de equipamentos utilizados para facilitar o

desenvolvimento das atividades do trabalhador em uma obra de alvenaria estrutural,

comumente são realizadas tarefas de manuseio de cargas envolvendo o esforço físico deste

profissional (HONG; LI, 2005). Mesmo com meios de transporte como gruas, guinchos e

elevadores, um grande número de materiais necessita de transporte manual até seu local de

aplicação (REIS et al., 2005).

Em todas as etapas da construção há um grande manuseio de cargas, conforme observado na

análise das atividades, onde foram identificadas as seguintes demandas decorrentes do

manuseio de cargas, como posturas inadequadas, movimentos repetitivos e fadiga física. O

risco de lesão na coluna vertebral depende de fatores, tais como: as características da carga,

ambiente de trabalho e as demandas da atividade.

3.1 Análise das atividades de manuseio de cargas

A movimentação de cargas pesadas manualmente pode causar ferimentos, lesões

musculoesqueléticas e acidentes. Mesmo a movimentação de cargas mais leves por um longo

período sem descanso pode resultar em fadiga física. Em todas as etapas da construção

observa-se o intenso manuseio de cargas. Neste estudo optou-se por analisar duas atividades

presentes em todos os tipos de construção e no caso estudado em uma obra de alvenaria

estrutural: atividades do operador de betoneira e o transporte de blocos cerâmicos pelos

auxiliares de servente.

3.1.1 Operador de betoneira

O operador de betoneira realiza uma função indispensável em uma construção. Uma betoneira

ou misturador de concreto é o equipamento comumente utilizado para mistura de materiais,

no qual são adicionadas cargas de pedra, areia, cimento e água, na devida proporção e de

acordo com a finalidade da mistura. O operador da betoneira adiciona os agregados para

formar o concreto (JÚNIOR, 2012), executando diversas ações de manuseio de cargas que

envolvem considerável esforço físico.

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Não existem regras para a ordem de colocação dos materiais na betoneira, por isso depende

das propriedades dos componentes e da betoneira. Geralmente, são colocados em pequena

quantidade, seguida de todos os materiais sólidos, de preferência colocados uniforme e

continuamente. Quando possível, a maior parte da água deve ser introduzida

simultaneamente, adicionando-se o restante após a colocação de todos os sólidos.

Na análise da atividade observamos as seguintes situações das atividades do operador de

betoneira que envolve manuseio individual de cargas: colocação de baldes de areia úmida (20

Kg) no carrinho, inserção de areia na betoneira com auxílio de uma pá, adição de água na

betoneira (20 Kg) e a adição de sacas de cimento (50kg).

Na obra estudada os operadores de betoneira incialmente colocam com uma pá a areia em

baldes de plásticos com capacidade de 20Kg e, posteriormente, despejam a areia dos baldes

nos carinhos (Figuras 1 e 2). É possível observar que, nessa etapa, o trabalhador assume

postura de flexão anterior de tronco associado à rotação, causando sobrecarga para as

estruturas musculoesqueléticas da região. Com relação aos equipamentos utilizados, tanto a

pega do balde quanto a da pá apresentam um fator de qualidade considerado ruim para esta

atividade. Estudos evidenciam a associação entre o aumento da amplitude de flexão anterior

da coluna com incremento nos níveis de dor e de desconforto na região do tronco (CHAFFIN,

ANDERSSON, MARTIN, 1991).

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Figura 1 - Manuseio de baldes com areia Figura 2 – Inserção da areia no carrinho

Na aplicação da equação de NIOSH, observamos que o limite de peso recomendável para esta

atividade é de 12,85 o que difere muito do peso do balde que é de aproximadamente 20Kg,

resultando no índice de levantamento em 1,55, considerado de baixo risco.

Após colocar a areia do balde no carrinho, o operador retira a areia do carrinho e adiciona na

betoneira com auxílio da pá. A altura final da betoneira é de 1,50m e a altura da boca da

betoneira é de 1,00m. Observa-se que o cabo da pá tem tamanho adequado, no entanto, há

movimentação de grande amplitude dos membros superiores associado à rotação de tronco

(Figura 3) e um peso de, aproximadamente, 10Kg.

Figura 3- Retirada da areia e inserção na betoneira com auxílio da pá

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da pá

Aplicando a equação de NIOSH, observamos que o LPR resultante para esta atividade é de

6,51 e o IL de 1,53. Fica evidenciado nas duas atividades analisadas a importância da

organização do material e a qualidade ruim da pega tanto do balde como da pá.

Figura 4 - Adição de água na betoneira

Em continuidade à análise das ações do operador de betoneira, foi possível visualizá-lo

pegando uma lata contendo água com apenas uma das mãos e na sequência com ambas as

mãos coloca a água no misturador (Figura 4). Observa-se que novamente o trabalhador realiza

flexão e rotação de tronco sem flexionar os joelhos para pegar o balde no chão. O peso do

balde com água também é de aproximadamente 20kg. Para essa atividade o LPR resultante foi

de 8,10 e o IL de 2,46 (médio risco). Movimentos de rotação e de lateralização do tronco são

considerados de risco quando associados aos manuseios de carga (CHAFFIN, ANDERSSON,

MARTIN, 1991).

Com relação à adição de sacos de cimento na betoneira, na obra estudada, a atividade é

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realizada por dois trabalhadores, motivo esse que restringe a aplicação da equação de NIOSH.

3.1.2 Manipulação de blocos cerâmicos

A manipulação de blocos cerâmicos de 12Kg é uma das ações frequentes no canteiro de obras

estudado, se inicia com a retirada desses do depósito com auxílio de carrinhos e depois são

transportados até os locais nos quais serão utilizados. Os trabalhadores retiram os blocos do

carrinho e os depositam em uma bancada (Figura 5 e 6). Fica evidenciado que os

trabalhadores assumem posturas inadequadas de flexão e de rotação de tronco, salientando-se

que os blocos de 12 Kg são frequentemente manuseados nas várias etapas da obra, mesmo

sendo de alvenaria estrutural. Para essa etapa específica da atividade o LPR resultante foi de

8,28 e o IL de 1,44.

Figura 5 – Retirada dos blocos do carrinho Figura 6 – Posicionamento dos blocos em bancada

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Observou em todas análises que a qualidade das pegas dos materiais e as ferramentas e

materiais utilizados são inadequados, da mesma forma que há necessidade da organização da

matéria prima utilizada no canteiro de obras. As cargas foram consideradas elevadas em todas

as atividades analisadas, porém os índices de levantamento foram considerados como de

baixo risco, com exceção da colocação da água na betoneira em que o índice de levantamento

foi o mais elevado 2,46.

O manuseio de cargas pesadas sem considerar os limites individuais de cada pessoa pode

trazer consequências para a saúde do trabalhador. Iida (2005) relata os malefícios ocasionados

por posturas incorretas no levantamento e transporte de cargas com peso acima do permitido.

Seja esporádico ou cotidianamente, poderá acontecer deformação nas articulações e

incapacidade para o trabalho. Segundo Bridger (2003 apud IIDA, 2005), cerca de 80% dos

problemas musculares dos trabalhadores são causados pelo manuseio de cargas, seja

levantando, puxando ou empurrando.

Dados da Previdência Social mostram que as lesões musculoesqueléticas são as principais

causas pela maior parte dos afastamentos do trabalho, aproximadamente 70% (CARNEIRO,

1997). Mendes (1988) identifica a dor lombar, como um dos agravos à saúde frequentemente

encontrada em trabalhadores da CC, decorrente das atividades que desenvolvem.

4. Considerações finais

A NR 17 não é clara com relação ao peso máximo que um trabalhador pode levantar e

somente indica que não deverá exigido o transporte manual de cargas que comprometa a

saúde e segurança do trabalhador (BRASIL, 2015). Sugere-se que as atividades sejam

executadas por mais de um trabalhador e o estabelecimento de um sistema formal de rodízio

de trabalhadores que evite a sobrecarga física somente sobre um operador e que se estabeleça

um tempo mínimo de intervalo entre cada preparação de concreto e/ou argamassa.

Com relação a análise das atividades, se verificou que todas as situações analisadas

necessitam de mudanças do arranjo físico melhorando assim a qualidade de vida do

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trabalhador no ambiente laboral, a importância da modernização dos equipamentos e

processos utilizados e a capacitação dos trabalhadores. Em relação ao operador de betoneira a

melhor solução para a melhora da qualidade do trabalho e bem estar do trabalhador seria a

aquisição de uma betoneira auto carregável.

No que diz respeito a adição dos componentes, estes poderiam ser armazenados no posto de

trabalho sobre plataformas ou bancadas evitando assim com que o trabalhador se curve

demasiadamente para erguer o peso. Importância da criação de dispositivos de abastecimento

mecânicos para as betoneiras, evitando assim a manipulação de cargas por parte do

trabalhador.

Ressalta-se que deve-se investir em medidas preventivas e de correção da postura do

trabalhador, evitando lesões graves no futuro. Deve-se realizar treinamentos para os

trabalhadores, para que os mesmos aprendam a executar suas atividades com posturas

adequadas.

Existem muitas tarefas na construção que podem ser evitadas pela mecanização. Guindastes,

gruas, dispositivos de elevação de vácuo, sistemas de transporte e outros métodos de

mecanização sempre são preferíveis para a tarefa que está sendo realizada manualmente. Estes

benefícios contribuem não só para a segurança e saúde no trabalho, mas para uma melhor

produtividade.

A Diretiva 90/269/CEE da União Europeia (2015) estabelece as prescrições mínimas de

segurança e saúde com respeito a movimentação manual de cargas, entre elas deve-se evitar

quando possível a movimentação manual das cargas pelos trabalhadores ou tomar as medidas

organizacionais adequadas para reduzir o risco.

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