O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A...

16
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 1 O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA IRRIGADA 1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente neces- sária, objetivando-se atribuir à atividade o caráter competitivo, cada vez mais necessário considerando-se a globa- lização sempre presente no cenário produtivo. O conhecimento, o domínio e o manejo dos principais parâmetros relacionados à produção torna-se imprescindível, prin- cipalmente quando se trata de uma cultura perene, irrigada, que exige elevados níveis de investimentos e conseqüentemente de produção, de forma a proporcionar retornos financeiros compatí- veis. O solo, como um componente fundamental da produção, pode imprimir, em níveis variáveis, dependendo de suas característi- cas, facilidades ou dificuldades no sentido da obtenção de produtivi- dades compatíveis com os níveis de investimento da cafeicultura irrigada. Portanto, as características dos solos devem ser bem conheci- das, de forma a permitir que se reti- re o máximo proveito dos seus parâmetros favoráveis ou se con- torne da melhor maneira aqueles que podem atribuir limitações à produtividade agrícola, o que defi- ne o manejo racional, ou seja, a combinação de procedimentos e escolha de tecnologias. Assim, objetiva-se na pre- sente exposição a discussão da va- riabilidade dos atributos dos so- los, principalmente aqueles com elevada influência na produtivida- de da cafeicultura irrigada. Jairo Antonio Mazza 2 Marcelo Melarato Silva 3 Plínio Navarro Prata 4 Alberto Samaia 4 VARIABILIDADE DOS SOLOS NA REGIˆO DE ARAGUARI Os solos são classificados de acordo com as suas caracte- rísticas, e estas resultam da combinação de influências dos fatores e processos de formação. Dependendo da diversidade destes fato- res obtém-se, como produto do intemperismo, áreas com elevada homogeneidade ou heterogeneidade. Assim, observando-se a Foto 1, verifica-se que para a por- ção Oeste de Uberlândia praticamente ocorre apenas um tipo de solo, ou seja, o Latossolo Vermelho Escuro Álico muito argiloso, enquanto no entorno de Araguari são encontrados sete tipos de solos, com características bastante distintas, os quais foram classi- ficados como: Foto 1. Mapa mostrando a variabilidade de solos encontrados na Região de Araguari (EMBRAPA, 1982). 1 Fonte: C.M. dos SANTOS et al. (eds.). Irrigação da Cafeicultura no Cerrado. Uberlândia: UFU, 2001. p.93-124. 2 Professor do Departamento de Ciência do Solo, ESALQ/USP, Piracicaba-SP. Telefone: (19) 3429-4146. E-mail: [email protected] 3 Eng o Agr o D.S., ESALQ/USP, Piracicaba-SP. 4 Eng o Agr o , Horizon Desenvolvimento Tecnológico, Brotas-SP. ENCARTE TÉCNICO

Transcript of O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A...

Page 1: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 1

O MANEJO RACIONAL DOS SOLOSE A SUSTENTABILIDADE NACAFEICULTURA IRRIGADA1

INTRODUÇÃO

Aracionalização da exploração agrícola a caminhoda sustentabilidade torna-se extremamente neces-sária, objetivando-se atribuir à atividade o caráter

competitivo, cada vez mais necessário considerando-se a globa-lização sempre presente no cenário produtivo.

O conhecimento, o domínio e o manejo dos principaisparâmetros relacionados à produção torna-se imprescindível, prin-cipalmente quando se trata de uma cultura perene, irrigada, queexige elevados níveis de investimentos e conseqüentemente deprodução, de forma a proporcionar retornos financeiros compatí-veis.

O solo, como um componente fundamental da produção,pode imprimir, em níveis variáveis,dependendo de suas característi-cas, facilidades ou dificuldades nosentido da obtenção de produtivi-dades compatíveis com os níveisde investimento da cafeiculturairrigada.

Portanto, as característicasdos solos devem ser bem conheci-das, de forma a permitir que se reti-re o máximo proveito dos seusparâmetros favoráveis ou se con-torne da melhor maneira aquelesque podem atribuir limitações àprodutividade agrícola, o que defi-ne o manejo racional, ou seja, acombinação de procedimentos eescolha de tecnologias.

Assim, objetiva-se na pre-sente exposição a discussão da va-riabilidade dos atributos dos so-los, principalmente aqueles comelevada influência na produtivida-de da cafeicultura irrigada.

Jairo Antonio Mazza 2

Marcelo Melarato Silva 3Plínio Navarro Prata 4

Alberto Samaia 4

VARIABILIDADE DOS SOLOS NAREGIÃO DE ARAGUARI

Os solos são classificados de acordo com as suas caracte-rísticas, e estas resultam da combinação de influências dos fatorese processos de formação. Dependendo da diversidade destes fato-res obtém-se, como produto do intemperismo, áreas com elevadahomogeneidade ou heterogeneidade.

Assim, observando-se a Foto 1, verifica-se que para a por-ção Oeste de Uberlândia praticamente ocorre apenas um tipo desolo, ou seja, o Latossolo Vermelho Escuro Álico muito argiloso,enquanto no entorno de Araguari são encontrados sete tipos desolos, com características bastante distintas, os quais foram classi-ficados como:

Foto 1. Mapa mostrando a variabilidade de solos encontrados na Região de Araguari (EMBRAPA,1982).

1 Fonte: C.M. dos SANTOS et al. (eds.). Irrigação da Cafeicultura no Cerrado. Uberlândia: UFU, 2001. p.93-124.2 Professor do Departamento de Ciência do Solo, ESALQ/USP, Piracicaba-SP. Telefone: (19) 3429-4146. E-mail: [email protected] Engo Agro D.S., ESALQ/USP, Piracicaba-SP.4 Engo Agro, Horizon Desenvolvimento Tecnológico, Brotas-SP.

ENCARTE TÉCNICO

Page 2: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 2

• Latossolo Vermelho-Escuro Distrófico ou Álico, muito ar-giloso;

• Latossolo Roxo Eutrófico ou Distrófico;

• Latossolo Vermelho-Amarelo Álico, muito argiloso;

• Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico, textura média/ar-gilosa, com cascalho;

• Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico, textura média/ar-gilosa;

• Cambissolo Latossólico Álico;

• Cambissolo + Litossolos Eutróficos.

Nas Tabelas 1 e 2 podem ser constatadas as variações deparâmetros mais diretamente relacionados à produção agrícola, eatravés das Fotos 2 a 8 são apresentados os perfis representativosdestes solos.

A SATURAÇÃO POR BASES, ODESENVOLVIMENTO DO SISTEMA RADICULARE A NECESSIDADE DE IRRIGAÇÃO

Dentre os Latossolos pode-se verificar a variação da satura-ção por bases em relação ao predomínio do alumínio no complexode troca, se compararmos o Latossolo Roxo Eutrófico (LRe) aosLatossolo Roxo Álico (LRal), Latossolo Vermelho-Escuro Álico(LEal) ou Latossolo Vermelho-Amarelo Álico (LVal).

Em função apenas deste parâmetro, ou seja, V%, pode-seformular a seguinte questão: Como o sistema radicular é o veículode sustentação da planta, ou seja, a parte da planta que promove ainteração entre o solo e a parte aérea, como seria o desenvolvimen-to do sistema radicular no LRe quando comparado ao LRal?

KOFFLER (1986) mostra em seu trabalho, intitulado: “A Pro-fundidade do Sistema Radicular e o Suprimento de Água às Plantasno Cerrado”, cujos resultados encontram-se na Tabela 3, que anecessidade de irrigação variou de acordo com a profundidade efe-tiva do sistema radicular, e ainda que a profundidade do sistemaradicular de três culturas (feijão, cana-de-açúcar e milho), no Brasil,em relação a outros países, era significativamente menor devido àausência de cátions básicos (Tabela 4). Verifica-se, portanto, que osistema radicular se desenvolve de acordo com as característicasdos solos, e que quanto maior o desenvolvimento do sistemaradicular menor a necessidade de irrigação, ou seja, maiores osturnos de rega.

Levando-se em consideração os dados obtidos por KOFFLER(1986), pergunta-se: A resposta da cultura do café apresentaria omesmo potencial de resposta à irrigação quando instalada nosLatossolos dispostos na Tabela 1? Basta observar que o LRe apre-senta-se quimicamente favorável ao desenvolvimento do sistemaradicular até 200 cm de profundidade, enquanto os demais (LRal,LEal e LVal) caracterizam-se por apresentar saturações por basesextremamente baixas. Portanto, os atributos químicos podem in-fluenciar no potencial de resposta da cafeicultura à irrigação.

Tabela 1. Características dos solos relevantes ao manejo na cafeicultura (SNLCS/EMBRAPA, 1982).

Prof. pH Delta Argila Carbono Ca + Mg K S T Al V Ds Poros.1

(cm) H2O KCl pH (%) - - - - - meq/100 g de solo - - - - - (%) (g/cm3) (%)

LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO textura muito argilosa

A1

0-15 4,9 4,0 - 0,9 76 1,81 0,1 0,09 0,2 7,7 3 75 0,95 62A

315-33 5,1 4,1 - 1,0 79 1,50 0,1 0,06 0,2 6,2 3 67 1,06 58

B1

33-56 5,2 4,4 - 0,8 82 1,13 0,1 0,03 0,2 4,8 4 50 0,97 64B

2156-90 5,3 4,7 - 0,6 82 0,90 0,1 0,02 0,1 3,8 3 0 0,92 64

B22

90-125 5,2 5,0 - 0,2 84 0,74 0,1 0,01 0,1 3,3 3 0 1,01 61

LATOSSOLO VERMELHO-ESCURO ÁLICO textura muito argilosa

A1

0-13 4,8 3,9 - 0,9 76 1,95 0,1 0,11 0,2 8,1 2 83 1,00 60A

313-30 5,1 4,1 - 1,0 73 1,42 0,1 0,06 0,2 6,5 3 75 1,01 60

B1

30-55 5,2 4,2 - 1,0 76 1,09 0,1 0,03 0,1 4,8 2 75 1,05 58B

2155-100 5,2 4,6 - 0,6 78 0,78 0,1 0,01 0,1 3,4 3 50 0,98 63

B22

100-150 5,3 5,1 - 0,2 76 0,62 0,1 0,01 0,1 2,8 4 0 0,85 67

LATOSSOLO ROXO ÁLICO textura muito argilosa

A1

0-16 4,4 4,0 - 0,4 61 1,75 0,1 0,06 0,2 9,4 2 85 1,12 60A

316-36 4,7 4,1 - 0,6 68 1,41 0,1 0,04 0,2 7,1 3 75 1,09 62

B1

36-62 4,9 4,2 - 0,7 70 1,13 0,1 0,02 0,1 5,7 2 80 1,02 65B

2162-122 5,1 4,6 - 0,5 71 0,88 0,1 0,01 0,1 4,6 2 50 0,92 69

B22

122-200 + 5,5 5,6 + 0,1 69 0,44 0,1 0,01 0,1 2,7 4 0 0,93 68

LATOSSOLO ROXO EUTRÓFICO textura muito argilosa

A1

0-15 6,7 6,1 - 0,6 62 3,97 17,9 0,29 18,3 22,4 0 82 - -A

315-50 6,5 6,0 - 0,5 69 1,40 6,7 0,12 6,9 10,3 0 67 - -

B1

50-90 6,5 5,9 - 0,6 77 0,96 4,4 0,13 4,6 7,9 0 58 - -B

2190-140 6,8 6,0 - 0,8 74 0,45 2,7 0,10 2,9 5,3 0 55 - -

B22

140-300 + 7,0 6,1 - 0,9 76 0,44 1,7 0,12 1,9 1,9 0 100 - -

1 Porosidade total.

Horiz.

Page 3: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 3

Tabela 2. Características dos solos relevantes ao manejo na cafeicultura (SNLCS/EMBRAPA, 1982).

Prof. pH Delta Argila Carbono Ca + Mg K S T V Al Ds Poros.1

(cm) H2O KCl pH (%) - - - - - meq/100 g de solo - - - - - (%) (g/cm3) (%)

PODZÓLICO VERMELHO-AMARELO EUTRÓFICO textura média/argilosa

Ap

0-16 5,7 4,8 - 0,9 29 1,57 4,1 0,26 4,4 9,3 47 0 1,29 48Bt

116-28 5,8 4,8 - 1,0 35 0,86 3,3 0,11 3,4 5,9 58 0 1,51 42

Bt21

28-56 6,0 5,4 - 0,6 42 0,68 3,9 0,10 4,0 6,1 66 0 1,37 47Bt

2256-110 6,4 5,9 - 0,5 47 0,42 2,5 0,17 2,7 4,2 64 0 1,41 46

Bt3

110-135 6,5 5,9 - 0,6 43 0,31 2,4 0,22 2,6 3,7 70 0 - -

PODZÓLICO VERMELHO-AMARELO EUTRÓFICO textura média cascalhenta/argilosa

A1

0-16 5,8 4,9 - 0,9 26 2,21 6,7 0,37 7,1 11,5 62 0 - -A

316-30 5,5 4,5 - 1,0 30 1,61 5,2 0,20 5,4 10,2 53 2 - -

Bt1

30-55 5,5 4,5 - 1,0 35 0,97 3,4 0,15 3,6 6,4 56 3 - -Bt

255-90 5,8 5,0 - 0,8 50 0,55 2,4 0,13 2,6 4,6 57 0 - -

B3

90-100 6,1 5,5 -0,6 31 0,37 2,5 0,13 2,7 3,8 71 0 - -

CAMBISSOLO ÁLICO LATOSSÓLICO textura argilosa

Ap

0-13 4,9 4,1 - 0,8 29 0,82 0,6 0,21 0,8 3,9 21 43 1,31 48(B)

113-30 5,1 4,0 - 1,1 36 0,76 0,1 0,08 0,2 3,8 5 82 1,30 51

(B)21

30-51 5,1 4,2 - 0,9 42 0,62 0,1 0,07 0,2 2,9 7 60 1,15 55(B)

2251-75 5,2 4,7 - 0,5 44 0,47 0,1 0,06 0,2 2,5 8 33 1,06 59

(B)3

75-125 5,7 5,1 - 0,6 27 0,22 0,1 0,05 0,2 1,3 15 0 - -

CAMBISSOLO EUTRÓFICO textura argilosa

A1

0-20 5,9 5,3 - 0,6 48 2,85 15,7 0,25 16,0 23,3 69 0 - -A

320-40 6,1 5,3 - 0,8 54 1,98 12,9 0,23 13,2 18,2 73 0 - -

(B)2

40-124 6,3 5,5 - 0, 8 56 1,23 11,7 0,29 12,1 15,9 76 0 - -

1 Porosidade total.

Horiz.

Tabela 3. Efeito do sistema radicular no intervalo de fornecimento de água na cultura da cana-de-açúcar (planta de ano-e-meio)1.

Profundidade efetiva (cm)

30 60 90 120

n (dias)2

Março 4,1 0,50 2,1 0,87 + + + +

Abril 4,1 0,60 2,5 0,84 10 + + +

Maio 3,8 0,80 3,0 0,80 8 + + +

Junho 4,1 0,90 3,7 0,73 6 + + +

Julho 4,8 1,00 4,8 0,62 4 8 + +

Agosto 6,0 1,10 6,6 0,52 2 5 7 9

Setembro 6,0 1,25 7,5 0,47 2 4 6 7

Outubro 5,0 1,05 5,3 0,58 3 7 10 +

Novembro 4,0 1,05 4,2 0,68 5 10 + +

Dezembro 3,8 1,05 4,0 0,70 5 10 + +

Janeiro 4,3 1,05 4,5 0,65 4 9 + +

Fevereiro 4,1 1,05 4,3 0,67 5 8 + +

Março 4,1 0,90 3,7 0,73 6 + + +

Abril 4,1 0,70 2,9 0,81 8 + + +

Maio 3,8 0,60 2,3 0,85 + + + +

Junho 4,1 0,50 2,1 0,87 + + + +

Ciclo 4,4 0,88 4,0 - - - - -

1 ET

o = Evapotranspiração de referência; K

c = coeficiente cultural; ET

m = Evapotranspiração máxima; p = fração da água disponível no solo que

possibilita o máximo desenvolvimento vegetal.2 n = turno de rega necessário para pleno desenvolvimento; + = maior que 10 dias.

ETo

Kc ETm

p(mm/dia) (mm/dia)

Período

Page 4: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 4

Foto 5. Perfil de Podzólico Vermelho-Amarelo EutróficoAbrupto, textura arenosa/argilosa (PVea/argilosa).

Foto 2. Perfil de Latossolo Roxo (LR). Foto 3. Perfil de Latossolo Vermelho-Amarelo (LV).

Foto 4. Perfil de Podzólico Vermelho-Amarelo EutróficoAbrupto, textura arenosa/média (PVea/m).

Page 5: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 5

Foto 6. Perfil de Podzólico Vermelho-Amarelo abrupto, textura are-nosa/média, com gleização no Bt devido à má drenagem.

Foto 7. Perfil de Cambissolo Eutrófico derivado de rochas básicas.

Foto 8. Perfil de Cambissolo Álico derivado de argilitos.

ESTRUTURA, POROSIDADE E AVELOCIDADE DE DRENAGEM NOS SOLOS

Pode-se ainda lançar a mesma questão na comparação entreo Cambissolo Álico e o Cambissolo Eutrófico, ou ainda na compa-ração entre Latossolos, Podzólicos e Cambissolos, considerando-se a grande distinção não somente nas características químicascomo também nos parâmetros físicos e físico-hídricos.

Neste sentido, basta observar que os solos da região deAraguari apresentam-se com quantidade e distribuição variáveisdo teor de argila nos perfis. Em relação aos Latossolos, apresentamelevada uniformidade e com teores ao redor de 70 a 80%. Estescolóides (argilas) reúnem-se em microagregados com forte desen-volvimento do tipo granular, resultando numa porosidade muitoelevada, com valores de aproximadamente 65% (Fotos 9, 10 e 11).

Por outro lado, nos Podzólicos Vermelho-Amarelos da re-gião de Araguari, o teor de argila na camada superficial é de 26 a30%, enquanto no horizonte subsuperficial pode chegar a 50%.Aliado a estas variações nos teores de argila, as combinações entreestes colóides podem resultar em agregação (tamanho, grau de coe-são e forma) bastante variáveis, com diversas composições entre amassa sólida e o volume de poros (Fotos 12, 13 e 14). Diante detamanha variação nos tipos e quantidade de poros e suas distribui-ções nos horizontes dos perfis de solos, a velocidade de drenagemou infiltração da água no perfil é bastante variável.

Resultados obtidos com testes de infiltração nos solos atra-vés dos anéis concêntricos apontam para valores entre 150 e400 mm/hora nos Latossolos e entre 15 e 120 mm/hora para osPodzólicos, o que é plenamente compreensível considerando-se aporosidade média de 65% dos Latossolos e de 45% dos Podzólicos,e ainda procedendo-se a um comparativo entre as Fotos 9, 10 e 11 eas Fotos 12, 13 e 14. Em função disto, surge a seguinte questão: odesenvolvimento do sistema radicular nestas distintas porosidadese as respostas da cafeicultura à irrigação, e também os tipos deirrigação (aspersão, gotejamento), não deveriam ser condiciona-dos aos parâmetros físico-hídricos dos solos?

OS REGIMES HÍDRICOS DOS SOLOS E ANECESSIDADE DE IRRIGAÇÃO

Outro parâmetro ainda pouco considerado nos estudosedafoclimáticos desenvolvidos no Brasil é o regime hídrico dos

Tabela 4. Profundidade de enraizamento de diversas culturas.

Profundidade do sistema radicular (cm)

Brasil Outros países

Feijão 20 50-70

Milho 20 100-170

Cana-de-açúcar 60 120-200

Fonte: KOFFLER (1986).

Cultura

Page 6: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 6

Foto 9. Amostra indeformada de horizonte superficial de Latossolo ea elevada quantidade de macroporos resultantes da interaçãodos macroagregados (fração inorgânica) e a matéria orgâni-ca.

Foto 10. Amostra indeformada de horizonte subsuperficial de Latos-solo argiloso (20-40 cm) sem compactação, evidenciando amacroporosidade homogeneamente distribuída.

Foto 11. Amostra indeformada de horizonte subsuperficial de Latosso-lo argiloso com compactação.

Foto 13. Amostra indeformada de horizonte Bt com fraca drenagem(PVa/m). Aumento de aproximadamente 20 a 30 vezes.

Foto 12. Amostra indeformada de horizonte Bt moderadamente dre-nado (PVa/argilosa). Aumento de aproximadamente 20 a30 vezes.

Foto 14. Amostra indeformada mostrando o contato entre dois agre-gados de horizonte Bt, bem drenado. A parte clara mostraum macroporo responsável pela drenagem. Aumento de 20 a30 vezes.

Page 7: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 7

solos, qual seja, a variação da umidade no interior do perfil do soloao longo de todo o ano. Assim, um perfil de solo de drenagem maislenta (solos com B textural ou B incipiente, respectivamente carac-terísticos dos Podzólicos ou Cambissolos), se comparado a um per-fil de drenagem mais acentuada (dos Latossolos, por exemplo) po-derá resultar em um maior residual de umidade, preservando a águadisponível por períodos mais longos, mesmo após o início da es-tiagem. Neste caso, o déficit hídrico previsto pelo cálculo do balan-ço hídrico pode ser bastante minimizado.

Na prática, o senso de observação dos agricultores, motiva-do pelas diferenças na turgidez das plantas, reserva a estes solosde drenagem lenta, de regimes hídricos mais favoráveis, o termo“solo fresco”, enquanto àqueles de regimes hídricos menos fa-voráveis, de drenagem mais acentuada, o termo “solo ressecado”.

Os regimes hídricos dos solos são influenciados pela varia-ção dos tipos (diâmetros) de poros nos perfis. Assim, através daFigura 1 verifica-se no LR uma grande homogeneidade de macroe microporos nos horizontes A e B; portanto, grande drenagem noperfil e conseqüentemente um regime hídrico mais desfavorável.Ainda nesta mesma figura verifica-se que no PVL existe uma sensí-vel redução da macroporosidade entre o horizonte A e B, acompa-nhada de uma proporcional elevação da microporosidade; portan-to, como a drenagem ocorre pelos macroporos, neste perfil ocorreum regime hídrico favorável (verificar pontos de gleização,acinzentamento, no horizonte B do Podzólico Vermelho-Amarelo

abrupto textura arenosa/média (PVa/m, Foto 6). Desta forma, o po-tencial de resposta da cafeicultura à irrigação pode ser sensivel-mente modificado pelo regime hídrico dos solos.

TEOR DE ARGILA DOS SOLOS EÁGUA DISPONÍVEL

Há que se considerar, ainda, eventuais ausências de relaçãoentre a água disponível e o teor de argila. Na Tabela 5, os resultadosobtidos para solos argilosos e de textura média mostram que entredois Latossolos Roxos, LRe e LRd, ambos muito argilosos, no solocom alta saturação por bases, a quantidade de água disponível(expressa em mm) em 30 cm de solo foi de 56 mm, enquanto no solodistrófico foi de 30 mm, praticamente a metade. Ambos os soloscontêm o mesmo teor de argila (solos muito argilosos), no entanto,a presença de cátions básicos no solo eutrófico deve ter propor-cionado um maior desenvolvimento de raízes, e estas, por sua vez,modificaram a estrutura do solo, o que elevou a água disponível. Ainfluência da matéria orgânica é tamanha que no LRe a água dispo-nível decresce com o aumento da profundidade no perfil, passan-do de 40 mm de água disponível, na profundidade de 0 a 20 cm, para32 mm, na de 20 a 40 cm, e para 28 mm, na de 40 a 60 cm.

Ainda na mesma Tabela, comparando o LV muito argilosocom o LV textura média, verifica-se que no segundo, apesar do

Figura 1. Variação dos tipos e quantidades de poros em perfis de solos distintos.

MACROPOROS MICROPOROS

Tabela 5. Variação na água disponível em solos argilosos e de textura média (REICHARDT, 1989).

Espessura CC PMP AD Água disponível

(cm) - - - - - - - (cm3/cm3) - - - - - - - (mm) (mm/30 cm espessura)

Latossolo Roxo Eutrófico (Jaboticabal/SP) 0-20 0,38 0,18 0,20 40 5620-40 0,36 0,20 0,16 3240-60 0,35 0,21 0,14 28

Latossolo Roxo Distrófico (Lençóis Paulista/SP) 0-30 0,29 0,19 0,10 30 30

Latossolo Vermelho-Escuro muito argiloso 0-15 0,23 0,15 0,08 12 24distrófico (Piracicaba/SP) 15-30 0,24 0,16 0,08 12

Latossolo Vermelho-Amarelo textura média 0-30 0,24 0,15 0,09 27 27distrófico (Piracicaba/SP) 30-60 0,28 0,15 0,13 39 29

1 CC = capacidade de campo; PMP = ponto de murcha permanente; AD = água disponível.

Solo/Local

Page 8: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 8

menor teor de argila, a quantidade foi de 27 mm, em 30 cm de solo,enquanto no solo argiloso foi de 24 mm.

Outro exemplo mais pronunciado da falta de relação entre oteor de argila e a água disponível pode ser verificado através daTabela 6, observando-se a água retida a 0,01 atm em três horizontesde um Podzólico Vermelho-Amarelo. Tanto no horizonte A como nohorizonte E o teor de argila é de 7% e os valores de água retida nareferida tensão é de 22% no horizonte E e 35% no horizonte A. Adiferença, bastante significativa, entre ambos está relacionada aoteor de carbono orgânico de 2% no horizonte A contra 1% no hori-zonte E.

Tabela 6. Efeito comparativo do teor de argila e do teor de carbonoorgânico na retenção de umidade dos horizontes princi-pais de um PVe a/m.

Água retida(0,01 atm)

A 0 -18 7 2,0 35

E 18-46 7 1,0 22

Bt 46-70 30 0,9 23

A matéria orgânica e/ou o sistema radicular, principalmentede gramíneas, promove no solo o desenvolvimento de uma estrutu-ra do tipo granular (grumosa) e esta apresenta uma grande capaci-dade de retenção de água na faixa de disponibilidade. Note-se queno horizonte Bt, onde o teor de argila é de 30%, e portanto quatrovezes maior que o conteúdo do horizonte E, a quantidade de águaretida a esta tensão também é baixa, se comparada ao horizonte A,com influência marcante do sistema radicular das plantas.

Também podem ser encontradas proporcionalidades entre oteor de argila e a água disponível, porém trata-se de uma relação in-direta com a matéria orgânica. Os solos argilosos conseguem, atra-vés de uma maior estabilização da matéria orgânica, via interaçãocolóides inorgânicos (argilas) e colóides orgânicos (húmus), prote-ger a matéria orgânica da oxidação e, portanto, possibilitar um maioracúmulo de húmus. Assim, devido aos maiores teores de matériaorgânica estabilizados nos solos argilosos, pode-se desenvolvercom maior intensidade a estrutura granular grande, a qual apresen-ta uma relação diretamente proporcional com a água disponível nossolos.

O MANEJO, A COMPACTAÇÃO E AÁGUA DISPONÍVEL

Deve-se considerar também o efeito da compactação,provocada pelo manejo, na água disponível. Assim, na Tabela 7

encontram-se os valores de densidade, porosidade e água disponí-vel para um Latossolo Roxo sem compactação e outro com com-pactação (Fazenda Baessa, Maurilândia/GO). No solo normal verifi-ca-se que o valor da água disponível está entre 344 e 402 litros/m3 eno solo compactado estes valores encontram-se entre 165 e 256 li-tros/m3, havendo, portanto, uma redução de aproximadamente 50%.Cabe salientar que esta significativa redução encontra proporcio-nalidade na redução da macroporosidade, ou seja, o espaço entreos agregados, que passa de 14 e 24%, nas profundidades respecti-vas de 10 e 30 cm, para valores de 6 e 14%, portanto também redu-zindo-se à razão de 50%.

Também em um Podzólico Vermelho-Amarelo Latossólico(Fazenda Samambaia, Colina/SP) são observados efeitos semelhan-tes, conforme consta da Tabela 8. Neste caso, avaliou-se o efeito dacompactação na entrelinha de um pomar que apresentava sintomasde “seca” em pleno verão, ou seja, com forte compactação nasentrelinhas da cultura. Para efeito comparativo, foram retiradas amos-tras na linha (sem compactação), sob a copa das plantas, e nasentrelinhas (com compactação). Através da Tabela 8 observa-seque a densidade modificou-se de 1,39 g/cm3 para l,80 g/cm3, a macro-porosidade passou de 32% para 10%, reduzindo-se a um terço dovalor original, provocando uma redução de água retida a 0,01 atmde 47% para 32%. Note-se que, para este solo, quantidades de águaa partir de 0,01 atm são muito pequenas e, portanto, a água disponí-vel deve estar relacionada a tensões entre 0,01 e 0,05 atm.

As Fotos 15 e 16 apresentam o sistema radicular da culturacítrica em um talhão que não sofria estresse hídrico a pleno verão,sem compactação, e o sistema radicular do talhão com compactação,avaliado através dos resultados da Tabela 8, e portanto com es-tresse hídrico.

AVALIAÇÃO DO IMPACTO PROVOCADOPOR DOIS SISTEMAS DE MANEJO, SEMIRRIGAÇÃO, NAS CARACTERÍSTICAS DOSOLO E NA CAFEICULTURA

Com o objetivo de avaliar o efeito de dois sistemas de mane-jo adotados durante 12 anos pela cafeicultura no cerrado, sem irri-gação, nas características físico-hídricas, químicas e biológicas deum Latossolo Vermelho-Amarelo Álico argiloso e seus reflexos nanutrição, desenvolvimento e produtividade da cultura do café, pro-cedeu-se a um estudo comparativo no município de São Gotardo,MG. Foram avaliados dois sistemas de manejo de mato nas entre-linhas e arruação: o primeiro (Área 1), que adota o sistema de culti-vo mecânico e uso de arruadores (com cultivo), e o segundo (Área2), cujo controle de mato era feito apenas através de roçadas mecâ-

Horizonte Profundidade % Argila % C

Tabela 7. Valores de retenção de água e água disponível em Latossolo Roxo com e sem compactação (Maurilândia/GO).

Profundidade Densidade do solo Porosidade (%) CC1

PMP AD

(cm) (g/cm3) (kg/cm3) Macro Micro T otal - - - - - - - - - litros/m3 - - - - - - - - -

Solo normal

10 1,00 1.000 14 48 62 355 251 34430 0,97 970 24 46 70 342 281 402

Solo compactado

10 1,17 1.170 6 51 57 396 303 16530 1,12 1.120 14 46 60 322 263 256

1 CC = capacidade de campo; PMP = ponto de murcha permanente; AD = água disponível.

Page 9: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 9

Foto 15. Sistema radicular da cultura cítrica em perfilde PVL, sem compactação.

Foto 16. Sistema radicular da cultura cítrica em perfilde PVL, com compactação.

nicas (sem cultivo) associadas a herbicidas de pós-emergência(arruação química).

Nos dois casos foram verificadas as alterações causadasnos solos pelos sistemas, avaliando-se suas características sobvegetação natural e após três e 12 anos de exploração pela culturado café.

• Características físicas e físico-hídricas

As características físicas e físico-hídricas encontradas nossolos das duas áreas estudadas, antes da implantação da cultura(Tabela 9), revelaram-se muito semelhantes.

Em função dos teores médios de argila encontrados nossolos das duas áreas (85% e 75%, respectivamente para as áreas 1e 2) e da elevada homogeneidade do perfil, ambos foram classifica-dos como Latossolos Vermelho-Amarelos Álicos argilosos. Assim,como características marcantes desses solos pode-se destacar aelevada porosidade total (ao redor de 65%) e a elevada macro emicroporosidade, resultando, respectivamente, em acentuada (e ace-lerada) drenagem e em alta capacidade de armazenamento de água.Os altos teores de argila, matéria orgânica e porosidade total des-ses solos resultaram numa densidade relativamente baixa, ao longodo perfil, corroborando também a alta quantidade de água armaze-nada.

Tabela 8. Efeito da compactação na densidade do solo, na macroporosidade, na porosidade total e na água retida de um Podzólico Vermelho-Amarelo Latossólico (PVL).

Argila Densidade (g/cm3) Porosidade (%)

(%) Solo Partículas Macro Micro T otal

Ap (0-25) - Linha 29 1,39 2,44 32 27 59Ap (0-25) - Entrelinha 29 1,80 2,47 10 29 39Bt (25-53) - Entrelinha 37 1,70 2,56 18 40 58Bw (53-95) - Entrelinha 39 1,37 2,60 26 30 56

Retenção de umidade (% volume) – atm

0,01 0,05 0,1 0,3 1,0 15,0

Ap (0-25) - Linha 47 25 14 10 4 3Ap (0-25) - Entrelinha 32 27 14 11 5 4Bt (25-53) - Entrelinha 37 27 17 12 7 5Bw (53-95) - Entrelinha 48 29 12 8 4 3

Fonte: MAZZA (1994).

Discriminação da amostragem

Discriminação da amostragem

Page 10: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 10

Nas Fotos 9 a 11 estão apresentadas imagens, com grandeaumento, de blocos de solo indeformados, retirados de perfislatossólicos. Pode-se verificar nesta imagem que os espaços clarosreferem-se aos macroporos, enquanto os microporos não podemser observados, já que ocorrem no interior de agregados com diâ-metros menores que 1 mm.

A capacidade de água armazenada inclui o total retido nointerior dos microagregados, a água que os circunda e a situada nointerior dos macroporos, enquanto a água disponível às plantasestá praticamente relacionada à macroporosidade do solo. Assim,considerando-se a elevada macroporosidade e porosidade total doslatossolos, pode-se compreender a sua alta suscetibilidade àcompactação e, conseqüentemente, seus reflexos na redução daquantidade de água disponível.

A implantação de uma cultura perene, como a do café, resul-ta, inevitavelmente, em alteração da porosidade do solo; além dis-so, práticas de cultivo mecânico e o próprio trânsito de máquinasfavorecem a ocorrência de compactação na camada junto à superfí-cie do solo. O efeito da compactação reflete na diminuição dosmacroporos.

Observando-se a Figura 2 (gráfico A), verifica-se em primei-ra instância a significativa redução da macroporosidade após três e12 anos da retirada da vegetação natural (0) e a instalação da cultu-ra. O nível de redução da macroporosidade foi, evidentemente, bemmaior na região do rodado das máquinas em relação ao meio da rua(entre rodado). O incremento da microporosidade, apresentandomaior quantidade nas áreas com a cultura em relação ao solo sobvegetação natural (Figura 2, gráfico B), está diretamente relaciona-do à redução dos macroporos.

Assim, pode-se perceber claramente que a ausência de cul-tivo mecânico e manutenção da cobertura vegetal resultou em efei-to benéfico, uma vez que a recuperação da macroporosidade ten-deu a ser maior após 12 anos de exploração da cultura tanto norodado como na posição do entre rodado, diminuindo a compac-tação.

O desenvolvimento de sistemas radiculares diversificadosna entrelinha do cafezal, obtido no sistema sem cultivo, promoveua criação de poros de diversos diâmetros, geralmente na classe demacroporos, justificando os dados obtidos tanto para o rodadocomo para o entre rodado refletindo significativamente no aumentoda água armazenada e da água disponível, conforme pode ser ob-servado na Figura 3. A maior quantidade de cobertura morta(Foto 17), verificada no sistema sem cultivo, também auxilia na ma-nutenção de água no solo por reduzir as perdas por evaporação.

Tabela 9. Características físicas e físico-hídricas dos LV Álicos argilosos das duas áreas estudadas, previamente à ocupação pela cafeicultura(sob cerrado).

Profundidade Argila Porosidade (%) Densidade do solo Água (mm)

(cm) (%) Macro Micro T otal (g/cm3) Armaz. Disp.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Área 1 (com cultivo) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

0-20 81 29 37 66 0,80 121 5720-40 85 23 39 62 1,02 61 4140-60 85 21 42 63 0,92 80 60

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Área 2 (sem cultivo) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

0-20 73 27 42 69 0,93 91 5720-40 77 24 39 63 0,93 82 5740-60 73 27 39 66 0,83 122 94

Essa maior disponibilidade de água no solo pode implicar,principalmente em regiões sujeitas a déficits hídricos, em maior apro-veitamento de água pelas plantas, seja pelo efeito residual da umi-dade do solo nos períodos secos, seja pela maior absorção de águapor ocasião de pequenas precipitações em períodos de déficits.Além disso, a maior presença de água no solo permite a absorçãodos nutrientes pelas plantas, por um período mais longo.

• O carbono orgânico no sistema

Na Figura 4 estão apresentados os resultados obtidos emrelação ao estoque de carbono orgânico no sistema, ou seja, nosolo, na cobertura do solo (serrapilheira) e nas plantas de café aostrês e 12 anos, nas duas áreas estudadas.

Foi verificado que os níveis de carbono encontrados inicial-mente nos solos (camada de 0-40 cm), eram praticamente iguais (aoredor de 73 t/ha). No entanto, a quantidade de serrapilheira presen-te sob a vegetação natural da Área 1 era muito superior à da Área 2,resultando em teores de C de 30 e 8 t/ha, respectivamente. Com aretirada da vegetação natural e implantação da cultura, o estoquede C do solo foi ligeiramente aumentado na Área 1, e reduzido naÁrea 2. O pequeno aumento do C no solo, verificado após três anosna Área 1, foi acompanhado da drástica redução do C da serrapi-lheira (de 30 t/ha para 3 t/ha). Após 12 anos de cultura, pouca varia-ção foi observada no teor de C do solo, em relação ao solo original.

No entanto, considerando a somatória do C do solo maisserrapilheira, na Área 1, pode-se observar uma redução de 103 para77 t/ha, ou seja, 26%, enquanto na Área 2 a redução foi de apenas10% (81 para 73 t/ha). Além disso, a formação de cobertura mortafavorecida pelo adequado manejo do mato (sem cultivo), da Área 2,promoveu a criação de um sistema mais estável que permitiu a ma-nutenção da quantidade de C na cobertura do solo.

• Atividade microbiológica

Em função da estreita dependência entre a atividademicrobiológica e a quantidade de carbono orgânico no solo (funcio-nando como fonte energética para os microrganismos), os resul-tados quantitativos obtidos para a atividade microbiológica (Figu-ra 5) relacionam-se, portanto, com as flutuações da matéria orgâni-ca, desde a implantação (condições originais) até os 12 anos deexploração da cultura nos dois sistemas de manejo.

Verificou-se que no solo sob vegetação natural da Área 1 aatividade microbiológica apresentou-se maior, em função da maiorquantidade de matéria orgânica. No entanto, após três e 12 anos de

Page 11: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 11

A

B

B

A

C

Figura 2. Porcentagem de macroporos (A), microporos (B) e porosidade total (C) na camada de 0-20 cm do solo, anterior à implantação docafezal e três e doze anos após, na região do rodado e entre rodado da entrelinha da cultura nos dois sistemas de manejo do mato.

Figura 3. Capacidade aproximada de armazenamento de água (A) e água disponível (B), em mm, na camada de 0-20 cm do solo, anterior àimplantação do cafezal e três e 12 anos após, na região do rodado e entre rodado da entrelinha da cultura, nos dois sistemas demanejo do mato.

Page 12: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 12

Figura 4. Estoque de carbono no solo (0-40 cm), na cobertura do solo (mato e serrapilheira) e na planta de café, anterior à implantação docafezal, três e 12 anos após, nos dois sistemas de manejo do mato.

Foto 17. Aspecto da cobertura morta formada na rua do cafezal após 12 anos de manejo de mato sem cultivo (à esquerda), e outro, de mesmaidade, com superfície do solo descoberta devido ao manejo com cultivo e arruação (à direita).

0 3 12

Figura 5. Atividade microbiológica na camada de 0-20 cm do solo, anterior à implantação do cafezal, três e 12 anos após, nos dois sistemas demanejo, medida pela somatória da produção diária de CO

2.

Page 13: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 13

cultivo mecânico, nessa área, a acentuada diminuição da matériaorgânica do sistema, em conseqüência da redução da cobertura ve-getal (mato + serrapilheira), causou queda na atividade biológica.

Por outro lado, com o incremento de matéria orgânica obtidona Área 2, proporcionado pela deposição de material vegetal naentrelinha, pelo sistema sem cultivo mecânico, a atividade biológi-ca retornou, após 12 anos, às condições originais.

• A distribuição dos nutrientes no sistema

Os resultados de saturação por bases encontrados nos perfisdos solos, das duas áreas estudadas, encontram-se na Tabela 10.

Tabela 10. Saturação por bases (V%) na vegetação natural, três edoze anos após a implantação, em amostragens realiza-das na linha e no meio da rua do cafezal, nos dois siste-mas de manejo do mato.

3 anos 12 anos

Linha Meio da rua Linha Meio da rua

Área 1 (com cultivo)

0-20 10 71 68 76 7620-40 20 35 13 15 1540-60 11 12 12 16 680-100 8 11 11 19 7

Área 2 (sem cultivo)

0-20 10 22 59 49 7520-40 18 46 29 71 2440-60 7 38 32 49 23

80-100 10 35 35 51 10

Sob condições naturais, conforme pode ser observado nes-sa Tabela 10, tanto o solo da Área 1 quanto o da Área 2 apresenta-ram, originalmente, baixíssima saturação por bases em todo o perfil,mostrando a primordial necessidade de recondicionamento para aviabilização de produção agrícola econômica. Assim, após três e 12anos de cultivo, um novo “status” foi obtido pelo uso de corretivose/ou pela incorporação da abundante serrapilheira ao solo nas duasáreas.

Comparando-se os dois sistemas de manejo, pode-se obser-var que os resultados de saturação por bases, embora pouco meno-res nas camadas superficiais da área sem cultivo, alcançaram umadistribuição bastante equitativa em todo o perfil do solo, ou seja,tanto no sentido vertical (perfil do solo) como no sentido horizontal(entrelinha da cultura). Desta forma pode-se dizer que, no que serefere à correção da chamada “fertilidade atual”, o perfil do solosem cultivo não apresenta quaisquer limitações químicas ao desen-volvimento tridimensional do sistema radicular do cafeeiro.

Certamente essa maior viabilização de exploração do siste-ma radicular, em volume significativamente superior no sistema semcultivo, interfere no aproveitamento dos nutrientes.

Comparando o aporte de nutrientes pela planta, nos doissistemas de manejo, observou-se que, aos três anos de idade, a au-sência de cultivo proporcionou maior produção de matéria seca emaior estoque de nutrientes na planta (Tabela 11). Aos 12 anos(Tabela 12) esta diferença não foi tão grande em função das podasrealizadas, que tenderam a igualar a parte aérea das plantas.

Esses resultados são indício do maior suprimento de nutrien-tes do solo para a planta no sistema sem cultivo, refletindo os as-pectos positivos deste manejo no estado nutricional da planta.

Tabela 11. Quantidade de matéria seca e macronutrientes (g/planta)da parte aérea de cafeeiros de três anos de idade, cultiva-dos em dois sistemas de manejo de mato: sem cultivo ecom cultivo.

Parte da planta

Tronco Ramos Folhas Frutos Total

- - - - - - - - - - - - - - g/planta - - - - - - - - - - - - - -

M.S. Sem cultivo 4.504 2.207 1.428 4.236 12.375Com cultivo 4.125 3.230 1.325 3.478 12.158

N Sem cultivo 2,44 6,71 18,25 65,92 93,32Com cultivo 1,67 8,29 20,93 34,99 65,88

P Sem cultivo 0,23 0,25 1,56 7,58 9,62Com cultivo 0,08 0,35 0,94 3,51 4,88

K Sem cultivo 2,07 6,40 16,03 133,70 158,20Com cultivo 1,42 8,08 17,41 84,77 116,56

Ca Sem cultivo 1,97 6,46 15,50 16,09 40,02Com cultivo 1,84 7,25 15,87 8,84 33,80

Mg Sem cultivo 0,28 1,18 2,67 6,96 11,09Com cultivo 0,19 1,32 2,66 4,12 8,29

S Sem cultivo 0,19 0,81 1,85 7,58 21,52Com cultivo 0,08 0,70 1,80 4,24 15,11

Tabela 12. Quantidade de matéria seca e macronutrientes (kg/plan-ta) da parte aérea de cafeeiros de 12 anos de idade, culti-vados em dois sistemas de manejo de mato: sem cultivo ecom cultivo.

Parte da planta

Tronco Ramos Folhas Frutos Total

- - - - - - - - - - - - - - kg/planta - - - - - - - - - - - - -

M.S. Sem cultivo 14.075 6.897 4.463 13.238 38.672Com cultivo 12.891 10.094 4.141 10.869 37.994

N Sem cultivo 23,0 20,1 33,7 59,3 136Com cultivo 19,0 25,8 32,7 55,0 132

P Sem cultivo 2,7 1,8 2,6 8,5 16Com cultivo 2,1 1,3 2,8 8,7 15

K Sem cultivo 2,8 7,9 18,4 89,8 119Com cultivo 1,1 5,6 20,2 79,9 107

Ca Sem cultivo 24,3 18,3 22,4 12,7 78Com cultivo 18,6 27,8 27,3 11,5 58

Mg Sem cultivo 3,2 3,1 6,9 7,8 21Com cultivo 2,1 2,9 4,9 5,2 15

S Sem cultivo 1,8 1,5 3,0 5,9 12

Com cultivo 1,2 1,9 3,6 6,3 13

Nesse sentido, verificou-se que, independente dos teoresdo solo, o estoque de nutrientes na planta e na cobertura do solo(mato + serrapilheira) apresentaram valores elevados.

Entre os sistemas de manejo do mato, observou-se que asáreas não cultivadas apresentaram, ao longo do tempo, aumento noestoque de nitrogênio da cobertura do solo, tanto em relação aosolo natural quanto em comparação ao sistema com cultivo, queprovocou sensível redução de nitrogênio na cobertura vegetal (Fi-gura 6).

Prof. Vegetação cm natural

Manejo domato

Manejo domato

Page 14: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 14

A alta deficiência de fósforo, normalmente encontrada nossolos sob cerrado, foi confirmada pelos baixíssimos níveis apresen-tados na implantação da cultura (Figura 7). Deve-se considerar quea Área 1, ao contrário da 2, possuía um alto estoque deste elementono mato e na serrapilheira.

Favorecidas pela baixa movimentação do P no solo, as adu-bações químicas, realizadas nas duas áreas, promoveram aumentonos teores deste elemento no solo, aumentando significativamenteseu estoque no sistema. No entanto, observou-se que o manejo domato sem cultivo possibilitou um grande acúmulo do elemento na

serrapilheira. A presença do P na cobertura vegetal é particular-mente importante por impedir que este nutriente fique sujeito àsreações do solo (fixação).

O potássio, nutriente altamente sujeito a perdas por lixiviação,pode ser considerado um dos mais influenciados pelo sistema demanejo do mato. Assim, ao comparar-se o comportamento do ele-mento nas duas áreas (Figura 8), observa-se que o fornecimento depotássio via fertilizantes, associado ao manejo do mato sem culti-vo, levou a um maior acúmulo do elemento no solo e na coberturavegetal.

Figura 6. Estoque de nitrogênio no solo (0-40 cm), na cobertura do solo (mato e serrapilheira) e na planta de café, antes da implantação docafezal, três e doze anos após, nos dois sistemas de manejo do mato.

Figura 8. Estoque de potássio no solo (0-40 cm), na cobertura do solo (mato e serrapilheira) e na planta de café, antes da implantação docafezal, três e doze anos após, nos dois sistemas de manejo do mato.

Figura 7. Estoque de fósforo no solo (0-40 cm), na cobertura do solo (mato e serrapilheira) e na planta de café, antes da implantação do cafezal,três e doze anos após, nos dois sistemas de manejo do mato.

Page 15: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 15

Fertilizante Área

Este fato está relacionado à utilização do sistema radiculardo mato que, ao absorver o elemento, impede a sua perda porlixiviação passando-o para o interior de seus tecidos, sendo poste-riormente reciclado, ou seja, devolvido à solução do solo e poden-do ser absorvido pela cultura (Foto 18). Esse mecanismo, que poralgum tempo retém o elemento no sistema, poderia ser chamado de“CTC temporária”.

Por outro lado, o sucessivo uso de cultivadores, mantendoo solo sempre no limpo e impedindo ou reduzindo a formação decobertura vegetal (Foto 19), impede o acúmulo do potássio tanto nacobertura vegetal (mato + serrapilheira) quanto no solo, criandomaior dependência das adubações.

Do ponto de vista econômico, o estoque de nutrientes pre-sente na cobertura vegetal do solo age como uma verdadeira reser-va de fertilizantes, tornando-se, pela reciclagem, constante e pron-tamente disponível para a cultura. Para ficar mais claro, a Tabela 13apresenta os equivalentes em uréia, superfosfato simples e cloreto

de potássio presentes na cobertura vegetal do solo, nas duas áreasestudadas.

Tabela 13. Quantidades equivalentes em uréia, superfosfato simplese cloreto de potássio (kg/ha) presentes na cobertura vege-tal do solo aos 0, 3 e 12 anos de exploração da cultura, emdois sistemas de manejo de mato: com cultivo e sem cul-tivo.

Quantidade equivalente(kg/ha)

0 3 12

Uréia 1 (com cultivo) 1.887 273 3562 (sem cultivo) 227 387 687

Superfosfato simples 1 (com cultivo) 2.061 623 1.3472 (sem cultivo) 76 734 1.768

Cloreto de potássio 1 (com cultivo) 384 160 2702 (sem cultivo) 108 332 500

Foto 19. Sistema de manejo com cultivo mecânico (à esquerda) mostrando o solo descoberto e ausência de raízes de mato no perfil do solo daentrelinha (à direita).

Foto 18. Desenvolvimento de vegetação na entrelinha (à esquerda) e sistema radicular uniformemente distribuído no perfil do solo (à direita)até 130 cm de profundidade, no sistema sem cultivo.

Page 16: O MANEJO RACIONAL DOS SOLOS E A SUSTENTABILIDADE … · CAFEICULTURA IRRIGADA1 INTRODU˙ˆO A racionalização da exploração agrícola a caminho da sustentabilidade torna-se extremamente

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - Nº 94 - JUNHO/2001 16

Foto 20. Cafezais com três anos de idade: à esquerda, sob o sistema sem cultivo mostrando melhor coloração, enfolhamento e produtividade(encoberta pelas folhas); à direita, manejado com cultivo mecânico.

Os resultados mostraram que a manutenção da coberturavegetal tem, por várias razões, proporcionado ao produtor melhoraproveitamento dos nutrientes aplicados, e muitas vantagens, den-tre as quais pode-se destacar: melhor distribuição do sistemaradicular da cultura, aumentando sua área de exploração; aprovei-tamento das raízes do mato, reduzindo as perdas dos fertilizantes;maior disponibilidade de água à planta, proporcionando forneci-mento de nutrientes por mais tempo ao longo do ano; e formação deestoque de nutrientes passível de ser utilizado pela cultura.

• Influência do sistema de manejo do mato naprodutividade

Todos os fatores já comentados levam a concluir que a cul-tura do café, quando inserida num sistema mais estável e sustentá-vel, como o proporcionado pelo correto manejo da cobertura vege-tal, deve resultar em maior retorno econômico ao produtor, tantopela redução das perdas quanto pela maior produtividade alcan-çada.

Nesse sentido, foi possível observar que, pelo aspecto vi-sual (Foto 20), as plantas da Área 2, comparadas às da Área 1,apresentavam maior vigor, melhor coloração e quantidade de folhase, em conseqüência, conforme registrado na Figura 13, maior pro-dutividade.

Os resultados encontrados mostraram produções de cafébeneficiado significativamente superiores na Área 2 em relação àÁrea 1 (38% superior aos três anos e 28% aos 12 anos), demons-trando, assim, que o manejo do mato também pode interferir noobjetivo final da cultura, ou seja, no retorno econômico.

CONCLUSÕES FINAIS

Assim, considerando-se:

• a influência positiva das condições químicas favoráveisao desenvolvimento do sistema radicular no perfil do solo;

• a variação da porosidade e conseqüentemente da drena-gem dos diferentes tipos de solos, resultando em diferen-tes regimes hídricos;

• a influência das alterações provocadas na macroporosi-dade em função do manejo e seus reflexos no desenvolvi-mento do sistema radicular e na água disponível; e ainda,

• a significativa influência do crescimento dos sistemasradiculares, proporcionando o desenvolvimento da estru-tura granular grande e sua capacidade de retenção de água;

pode-se concluir que tanto a diversidade das característicasnaturais ou genéticas dos solos como as práticas adotadasno manejo da cafeicultura podem atribuir distintos poten-ciais de resposta da cafeicultura à irrigação, e ainda ao pró-prio tipo de irrigação a ser adotado.

LITERATURA CITADA

EMBRAPA. SNLCS/EPAMIG-DRNR. Levantamento de reconheci-mento de média intensidade dos solos e avaliação das aptidõesagrícolas das terras do Triângulo Mineiro. Rio de Janeiro, 1982.(EMBRAPA. Boletim de Pesquisa Nº 01).

KOFFLER, N.F. A profundidade do sistema radicular e o suprimen-to de água às plantas no cerrado. Informações Agronômicas,n.33, Piracicaba, 1986. 12p.

MAZZA, J.A.; VITTI, G.C.: PEREIRA, H.S.; TAGLIARINI, C.H. In-fluência da compactação no desenvolvimento do sistemaradicular de citros: sugestão de método qualitativo de avalia-ção e recomendações de manejo. Laranja , v.15, n.2, p.263-275,1994.

REICHARDT, K. A Água em Sistemas Agrícolas. Piracicaba, 1989.

Figura 13. Produção de café beneficiado (sacas/ha) obtida em dife-rentes idades, nas duas áreas estudadas.