O LETRAMENTO POR INTERMÉDIO DAS FÁBULAS · Os teóricos elencados no decorrer deste artigo foram...

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O LETRAMENTO POR INTERMÉDIO DAS FÁBULAS

Milsa Vieira1

Lidia Maria Gonçalves²

RESUMO

O objetivo deste trabalho é divulgar o que o estudo no PDE nos deu a

oportunidade de desenvolver, mais precisamente, expomos uma prática

pedagógica sobre o gênero textual fábula. Trata-se de revelar uma intervenção

pedagógica ocorrida no 6º ano do Ensino Fundamental, em uma turma que traz

enormes dificuldades no trabalho de proficiência linguística, tanto na oralidade,

como na leitura e na escrita. O referencial teórico alicerçou-se no interacionismo

social. Os teóricos elencados no decorrer deste artigo foram de fundamental

importância para direcionar a prática e a formação pedagógica desta docente. E

só mudamos nossa prática quando aprendemos teorias importantes ao

entendimento do nosso objeto de estudo. A aquisição de novas teorias

condicionou a adoção de um olhar bakhtiniano e este fez o espaço escolar tornar-

se um ambiente mais favorável ao processo de letramento, por ser mais

interlocutivo, interativo e aberto às práticas sociais de leitura e escrita. Nesta

linha, com alguns alunos obtivemos resultados positivos e com outros os

resultados foram tímidos, porém, se as dificuldades de proficiência ainda existem,

elas já não parecem ser insuperáveis, pois o processo é contínuo.

Palavras-chave: língua portuguesa; leitura; escrita; análise linguística; gênero

textual; fábula; letramento; valores éticos.

1 Professora da Rede Estadual de Ensino, no Paraná, graduada em Letras (Português/Inglês), Pós Graduada

em Psicopedagogia e em Literatura Brasileira. E-mail: [email protected] ² Orientadora e Professora da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

Este trabalho foi realizado na cidade de Faxinal, localizada na região norte

do estado do Paraná. Município com dezessete mil habitantes. A data da criação

do município é 14/11/1951, lei nº790, tendo como data de instalação 14/12/1952.

É uma cidade de pequeno porte, mas em desenvolvimento. Nela, há uma

biblioteca municipal e como atividades de lazer temos: uma piscina particular

administrada pelos sócios do Clube, diversas cachoeiras, o Lago Saracura e um

hotel fazenda. A principal fonte de renda da população encontra-se na agricultura,

em algumas indústrias e no comércio. O forte da agricultura está centrado no

cultivo do café, soja, cenoura, batata, mandioca e a cidade vem se firmando como

capital do tomate, devido ao crescente número de estufas deste fruto, o que está

levantando a economia do município no qual já houve vários eventos

comemorativos, denominados Festa do Tomate, sempre no aniversário da cidade.

A Escola Maria Muziol Jaroskievicz Ensino Fundamental e Médio, onde o

presente trabalho foi realizado, está localizada no Jardim São Pedro, na área

urbana, atende 568 alunos, conta com 12 funcionários e 44 professores, sendo

todos os docentes pós-graduados em suas respectivas disciplinas. Os

professores relacionam-se muito bem com os alunos, salvo casos extremos,

quando precisamos agir chamando os pais à escola. Porem, os pais dos alunos

com maiores dificuldades dificilmente participam de reuniões e palestras que

servem como orientações para ajudá-los na resolução de alguns problemas

familiares. Temos em andamento o Projeto Xadrez.

Desenvolvemos o projeto sobre Fábulas com duas turmas do sexto ano A e

B, este grupo foi eleito por apresentar muita dificuldade de aprendizagem, sendo

10 alunos avaliados por psicólogos e com laudo médico. Enfrentamos problemas

como: a dislexia e a falta de pré-requisitos para esta série, o que foi uma

constante, além da falta de compromisso da família com a Escola. Tivemos

muitos alunos faltosos e utilizamos a hora atividade para orientar os conteúdos

trabalhados com os alunos assíduos. Muitas vezes, não conseguimos receber de

volta os trabalhos que foram orientados, corrigidos conjuntamente e deixados com

eles somente para passarem a limpo.

Verificamos que estas turmas não tinham o costume de fazer os deveres

de casa, não colaborando com o desenvolvimento do projeto. Se não há

problemas, não há razão para investirmos nossos maiores esforços naquele

contexto em detrimento de outros mais deficitários. O quadro situacional

problemático justificou a realização desta intervenção pedagógica a partir do

gênero fábula.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Koch e Elias (2011) sustentam que a leitura é uma atividade que exige um

conjunto de conhecimentos, pois alem da parte visível, constituída por sua

materialidade linguística (o explícito), o texto possui também a face de visibilidade

mais sutil (o implícito) e este também contribui para a construção do sentido do

texto, por vezes, de forma determinante.

Como assegura Gonçalves (2004), ser formador de leitores requer uma

postura crítica, portanto, envolve reflexão sobre as práticas dos professores em

sala de aula, atitude necessária em todos os níveis escolares; nós educadores

também somos seres em constante processo de letramento e, em distintas fases

de nossas vidas, estamos envolvidos com práticas de leituras em graus distintos,

ora mais e ora menos motivados a realizarmos leituras com frequência. E, para

formar leitores é preciso ser leitor.

O desenvolvimento de uma prática pedagógica atualizada é necessário

para que os nossos alunos conheçam o momento histórico vivido por eles e o

comparem com o contexto vivido pelos personagens daquela época em que se

passa a história lida, capturando os valores divulgados no texto e avaliando-os.

Todos sabem que há diferença entre ver e olhar, ouvir e escutar... Ler não é apenas passar os olhos por algo escrito, não é fazer a versão oral de um escrito. Quem ousaria dizer que sabe ler latim só porque é capaz de pronunciar frases escritas naquela língua? Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa escrita, significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já se é. Um poema ou uma escrita, um jornal ou um romance, provocam questionamentos, exploração do texto e respostas de natureza diferente; mas o ato de ler, em qualquer caso, é o meio de interrogar a escrita e não tolera a amputação de nenhum de seus aspectos (FOUCAMBERT, 1994, p.05).

Bakhtin (1994) concebe a língua como um fenômeno que não pode de

maneira alguma ser desvinculado de seu caráter social. Assim adotando a

perspectiva bakhtiniana devemos utilizar a leitura como ferramenta para

interpretarmos o meio em que vivemos e compreendê-lo com todas as

diversidades inseridas nele; cientes de que todo discurso veicula uma carga

ideológica.

Como alerta Silva (1998) os usos da leitura são variados na sociedade. E

por meio das fábulas, lemos para aprimorar a nossa sensibilidade estética, para

conhecer situações inusitadas e para imaginar como resolveríamos os problemas

narrados. Enfim, desenvolvemos atitudes de questionamento perante os escritos

e possibilitamos a democrática convivência com diferentes pontos de vista. E, no

caso do desenvolvimento de nosso projeto especifico, ao examinarmos as

realidades expostas nos textos, também analisávamos a linguagem utilizada para

elaborar aqueles discursos.

Por exemplo, no final das fábulas surge uma frase chamada de moral da

história, que apresenta uma experiência vivida por animais, plantas ou objetos

que agem como humanos. Ela funciona como um conselho acerca de algo que

pode acontecer na realidade e também para fazer crítica/ironia dos fatos.

Todas as histórias são produzidas de acordo com o que as pessoas de uma determinada época pensam sobre a sua sociedade, sobre o mundo e sobre o modo como vivem. Por meio da leitura e do estudo dessas histórias, podemos conhecer um pouco dos valores dessas sociedades, ou seja, aquilo que as pessoas acreditavam ser o melhor modo de agir para viver em sociedade (GAGLIARDI & AMARAL, 2001, p.17-18).

As fábulas carregam valores ao narrarem: o malandro querendo enganar o

homem honesto e trabalhador; a esperteza de muitos ante a bondade e humilde

de outros; a disputa entre fortes e fracos; a ganância sem se importarem com os

semelhantes; o ser bondoso sempre disposto a ajudar alguém; o não ser tolo etc.

A visualização desses valores pode servir como meio para a análise dos próprios

posicionamentos.

Desde os tempos mais remotos até os dias atuais, existe guerra entre os

povos. Os mais fortes procuram dominar os mais fracos para explorá-los. Mas, no

tempo de Esopo (VI século A.C.), aqueles que perdiam uma guerra tornavam-se

escravos dos vencedores e, como tais, podiam ser vendidos e comprados, como

uma mercadoria.

(...) de tanto livrar seus senhores de embaraços com sua sabedoria, Esopo conquistou a liberdade. Viajou para outras terras e ganhou grande prestígio com os reis, por causa de seus conselhos dados muitas vezes, por meio das fábulas. Em todas as cidades pelas quais passava era muito considerado, recebendo sempre várias homenagens (GAGLIARDI & AMARAL, 2001, p.20-21).

Como vemos, a opressão aos mais fracos sempre existiu apesar de nunca

podermos nos conformar com ela e deixarmos de lutar contra toda a forma de

injustiça. Esopo prestou uma contribuição ao observar o comportamento humano

para criar fábulas e, por meio delas, ensinava as pessoas a se safar de certas

situações injustas.

Evidentemente, com o passar do tempo, os costumes sofrem alterações.

Por exemplo, no período em que Lobato produzia a sua literatura, o Brasil vivia

uma realidade distinta dos dias atuais, a maior parte de seus habitantes morava

na zona rural, as cidades eram menores, o país não era industrializado, a cultura

do povo brasileiro não era tão valorizada e tudo o que vinha da Europa e dos

Estados Unidos era prestigiado. Em contrapartida,

Monteiro Lobato acreditava que devemos valorizar nosso povo e as coisas da nossa terra: nossas riquezas, nossos costumes, nossa arte etc. Em quase todos os seus livros infantis Lobato preocupou-se em preparar as crianças para a vida em sociedade e fez isso misturando fatos que acontecem na vida real à fantasia do mundo das histórias (GAGLIARDI & AMARAL, 2001, p.33-34).

Sabemos que cada autor tem alguma intenção ao enunciar, isto é, o

propósito da enunciação pode ser ensinar, aconselhar, convencer, divertir ou ter

outra função. Lobato e Esopo tiveram a intenção de aconselhar, fizeram isso de

acordo com os respectivos valores da época em que viveram, quiseram também

criticar, satirizar e divertir e persuadir seus interlocutores a compartilharem das

visões por eles defendidas. Ainda hoje, o público infantil pode lê-los para divertir-

se e, simultaneamente, aprendem ensinamentos. Afinal, em todo texto escrito há

uma intenção e cada enunciador escolhe estratégias argumentativas quando

decide como falar com uma pessoa ou como escrever para ela, assim também o

interlocutor - leitor ou ouvinte - escolhe o que irá captar do lido ou escutado. Esta

aceitação depende de diversos fatores como a argumentatividade (presente

também nos textos em que predominam as narrações e descrições) e a

criticidade (que capacita para a análise dos argumentos e repudio de alguns).

Se na vida real os animais não falam, nada festejam e também não

costumam trabalhar, essas atitudes aparecem nas fábulas, para mostrar aquilo

que pode ser vivido pelos homens. Os autores escolhem animais com

características próprias para comparar as atitudes humanas. O leão é forte e

poderoso; a cobra é perigosa e ardilosa; o cordeiro, ingênuo e inocente. Isso

também mostra a visão que os homens têm sobre os animais, e determina a

escolha do personagem para a fábula. Um autor fabulista não diz diretamente que

as pessoas são falsas e ingênuas porque elas poderiam ficar ofendidas, mas as

instiga a pensar e a tomar para si aquilo que lhe serve como carapuça.

Foucambert (1998, p.85) afirma que “ler não exige mais esforço do que

outros modos de comunicação e, portanto, o texto pode ser alternativa de

informação ou distração na ocasião propicia”. Geralmente, as crianças gostam de

desenhar e pintar. As fábulas costumar ser ilustradas com animais que são os

personagens. Por meio delas, podemos viajar por mundos diferentes, aprender

conceitos que nos guiarão para fazer o bem e também nos distrairmos. De acordo

com Gagliari & Amaral (2001, p.78) “a fábula mostra que os homens sensatos,

quando se salvam de algum perigo, por toda a vida tomam cuidado com ele”.

“(...) o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita”. (SOARES, 2000, p. 39-40).

Assim, ao promovermos o acesso aos bens culturais de sociedades

letradas estamos contribuindo para formarmos pessoas letradas, isto é cultas.

Britto (2003) critica a visão de leitura como mera distração, um passatempo

com leveza, um lazer intelectual. O pesquisador aponta para a necessidade de

valorizarmos a leitura como possibilidade de cidadania, ou seja, ler é um trabalho

que permite “ao sujeito, enquanto ser social, a crítica da própria sociedade em

que está inserido, bem como da sua própria condição de existência” (p.114).

Nesse sentido, o estudioso convida-nos a uma experiência estética da leitura,

concebendo a arte como o ato de indagar a condição humana, enquanto

entretenimento supõe esquecimento, apagamento, evasão.

Assim como o autor, consideramos que ler é uma ação cultural, envolve

articulação de valores e posicionamento político diante do mundo. No entanto,

este linguista afirma não haver vínculo necessário entre leitura e comportamentos

positivos, considera um mito acreditar que uma sociedade leitora é sempre uma

sociedade solidária. E nós postulamos que, dependendo do tipo de leitura e das

condições em que ela se dá, as atividades de leitura podem favorecer o

engajamento em movimentos de solidariedade. O desenvolvimento do nosso

projeto exemplifica esta nossa concepção.

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

Concebemos o conhecimento como um processo construído pelo individuo

em interação com o meio e que se dá ao longo de toda sua vida (NASPOLINI,

1996). Inicialmente, observamos o que os alunos conheciam a respeito do gênero

fábula. Começamos o trabalho organizando uma sequencia didática do gênero

fábula, com várias atividades que convergiam para o objetivo de visualizarmos as

características constitutivas do gênero. A produção inicial serviu para fazermos o

diagnóstico sobre o que os alunos conheciam sobre esse tipo de narrativa. O

passo seguinte foi conduzir os estudantes à sala de informática e lá fizemos a

apreciação de algumas fábulas em sala, para que se familiarizassem com o

gênero. Em seguida, orientamos para identificarem os elementos característicos

dos textos desse gênero discursivo, como: o tema (sobre o que se fala

normalmente); estrutura (como é o padrão da escrita) e o estilo (são os recursos

linguísticos que constituem o gênero). Esses conhecimentos são fundamentais

para o reconhecimento do gênero em estudo.

Observamos que o nosso público já conhecia alguns exemplares do gênero

exposto, mas muitos tinham dificuldade para ler em voz alta e para entender as

mensagens mais simples dos textos, pois meramente os decodificavam. Na

busca para alterar este quadro, levamos para sala outras fábulas, fazendo um

trabalho de leitura e entendimento da moral. Durante esse processo, fomos

observando quais eram as capacidades de linguagem que já tinham adquirido e

quais as defasagens existentes para que pudéssemos direcionar e elaborar mais

atividades necessárias a este trabalho de letramento.

A sequência didática organizada tinha como um dos objetivos a produção

de fábulas inéditas, transformando o aluno em autor. Propus mais leitura

enquanto atividade de interpretação, e provoquei reflexões para que juntos

destacássemos as características próprias do gênero em análise. Fizemos

atividades como questionar em que contexto foi escrita a obra, quem é o autor,

qual é o espaço e o tempo da narrativa, onde circulavam e com que finalidade

foram escritas.

Desenvolvemos atividades que exploraram os personagens estudados, o

tipo de linguagem, se havia diálogo ou não, qual a moral da história, e se ela

ainda é válida na perspectiva de cada um de nós, assim, os alunos foram

aprendendo os elementos constitutivos do gênero.

Estudamos diferentes versões de fábulas de época e pesquisamos sobre

seus autores, os alunos puderam verificar os elementos que são repetidos e que

fazem parte da estrutura composicional. Oportunizamos leitura das fábulas de

Esopo, La Fontaine e Monteiro Lobato. Notamos que algumas foram reescritas

por autores contemporâneos sem perder a estrutura das mesmas. Fizemos as

devidas comparações e, nesse processo, os estudantes apropriaram-se de novos

conhecimentos e verificávamos quais categorias já estavam dominadas e quais

ainda apresentavam dificuldades. A partir daí surge à fase de análise linguística

da primeira produção textual e juntos trabalhamos as dificuldades apresentadas: a

falta de pontuação e a repetição de palavras. Mostramos a necessidade de trocar

algumas palavras por outras sinônimas, por pronomes ou outros elementos de

retomada textual, também fizemos a correção das concordâncias nominais e

verbais, além do estudo dos tipos de narradores e do discurso direto e indireto.

Na sequência, fizemos apresentações em sala, colocando alguns alunos

como personagem e pondo em prática o que é o discurso direto: fala dos

personagens. E, logo em seguida, outro aluno contava o que viu, sempre atentos

a colocação dos verbos e as alterações de acordo com a pessoa, tempos verbais

e pronomes utilizados, preparando o aluno para produzir uma melhor versão do

seu próprio texto.

A reflexão sobre os fenômenos linguísticos acompanhou todo o processo

de produção final; antes dos textos serem publicados fizemos revisões. Muitos

alunos viram sentido na retomada de seu texto para reestruturação e, assim,

lapidaram a versão anterior em busca de uma melhor forma de expressão. Outros

ainda resistem ao trabalho de reescrita.

No momento da produção textual, os alunos ficaram a vontade para

escolherem os personagens da história e classificarem as características

humanas dos personagens. Escolheram também a moral defendida naquela

produção. A maioria escolheu o diálogo entre os animais, alguns produziram

narrativas interessantes, outros narrativas simples e também existiram aqueles

que não superaram suas dificuldades e não conseguiram fazer a produção. Dos

49 alunos das turmas, 14 se superaram e conseguiram fazer a fábula conforme as

características pedidas pelo gênero discursivo. A seguir e a título de exemplo,

transcrevemos sete fábulas em sua versão final.

O GATO E O ESQUILO

Certo dia, um gato estava procurando por alimento. Mas, ele acabou preso em uma

armadilha. Quando viu um esquilo, pediu ajuda:

- Senhor esquilo, me ajude! Estou preso em uma armadilha, com seus dentinhos

afiados você pode me ajudar.

O esquilo disse:

- Eu te ajudo sim, pois amigos sempre devem ajudar um ao outro.

O esquilo roeu a rede e libertou o gato. No dia seguinte, o esquilo encontra-se com o

gato e o gato o devora.

MORAL: Falar é fácil, fazer é que é difícil.

AUTORES: Vitor Aparecido Matos Maria e Thiago Vilas Boas

O LOBO E A OVELHA

Certo dia, um lobo estava passeando por um campo gelado e a neve cobria o pasto

inteiro.

O lobo não tinha uma casa para se proteger do frio, ele estava quase congelando. Foi

quando uma ovelha viu a situação do lobo e resolveu ajudá-lo, retirando do seu corpo

um pouco de lã para ele.

- Lobo, vou doar essa lã para você proteger-se do frio - disse a ovelha.

O lobo fez um casaco para se vestir, mas a ovelha começou a ficar com frio, pois,

tinha dado toda a lã de seu corpo para o lobo.

Dias depois, o inverno acabou. O lobo se encontrou com a ovelha, agradecendo-a

muito. Disse o lobo:

- Muito obrigada ovelha, se não fosse por você, eu estaria morto agora, tem algo que

eu possa fazer para te retribuir?

A ovelha fraca disse:

- Sim, por favor me ajude. Estou muito doente e, por favor, leve-me até minha casa e

cuide de mim.

O lobo respondeu:

- Tudo para quem salvou minha vida.

Tempos depois, a ovelha estava forte e saudável. E o lobo e a ovelha nunca mais se

separaram.

MORAL: Quem ajuda, amigo é.

AUTOR: Thiago Villas Bôas da Silva

O LOBO E A CABRA

Um lobo viu uma cabra passeando em cima de um rochedo. E como ele

tinha medo de subir até lá resolveu convencer a cabra a vir para baixo:

- Dona cabra, que perigo. Disse com uma voz amigável. Não seja

imprudente, desça aqui embaixo, pois está cheio de comida deliciosa.

A cabra não conhecia os truques do lobo e desceu tranquila. Cansada,

adormeceu.

Logo em seguida, o lobo pulou em cima dela, e a devorou.

MORAL: Cuidado quando um inimigo dá um conselho amigo.

AUTORA: Sandra Eduarda S. da Silva

O TIGRE E O ALCE

Um dia um alce andava feliz pela floresta em busca de comida. Logo,

apareceu um tigre feroz e também faminto.

O tigre tentou devorá-lo, mas ele fugiu no mesmo instante. O alce, com

medo, refugiou-se numa toca em um vale.

E o tigre, com raiva, o procurou por todos os lugares. Mas, acabou preso por

uma armadilha deixada por um caçador.

Assustado, o Alce, saiu de sua toca e deparou-se com o tigre preso.

- Ajude-me senhor alce, antes que eu vire tapete de caçador - Disse o tigre.

- Por mim, tudo bem, vou soltá-lo e espero ganhar sua amizade - Disse o

alce.

- Por favor, juro que não lhe devorarei - Disse o tigre.

O alce o libertou e o tigre o devorou.

MORAL: Alguns inimigos jamais se tornarão nossos amigos.

AUTOR: Luiz Felipe Cerconi

O CACHORRO E O FILHOTE

Um dia, um filhote conversava com seu pai e disse:

- Pai, eu vi uma casinha muito bonita e gostaria que você comprasse para

mim.

O pai respondeu:

- Está bem filho, só que você vai ter que esperar.

O filhote, decepcionado, respondeu:

- Está bem, pai.

Alguns dias depois, o pai chegou e entregou a casinha ao seu filhote.

MORAL: Quem espera sempre alcança.

AUTOR: Gabriel Alves da Silva

O LEÃO E O LOBO

Certo dia, o leão estava perdido na floresta, pois procurava por um rio,

quando encontrou um lobo que sabia o caminho e o levou até lá.

No outro dia, na floresta, o leão encontrou com o lobo que lhe disse:

- Amigo leão, alguns caçadores estão tentando me pegar, por favor, me ajude.

- Não, lobo. Disse o leão - Assistirei você ser pego e morto.

O lobo saiu correndo e despistou os caçadores que viram o leão e o pegaram.

MORAL: Cada cabeça uma sentença

AUTORA: Ana Paula Costa da Luz

Como vemos, os alunos utilizaram o verbo no pretérito perfeito ao

elaborarem a voz do narrador e fizeram uso do travessão na fala dos

personagens.

Houve muitos erros de pontuação, ortografia e dificuldade na organização

dos parágrafos. Esses aspectos foram trabalhados junto aos alunos e nos textos

produzidos por eles, o que tornou essa aprendizagem mais significativa.

Alguns estudantes da classe em foco não conseguiram colocar a moral da

história, mesmo sendo elaborada uma lista de provérbios para que os inspirassem

no desenvolvimento da história. Mostramos aos estudantes que, em nossa vida

diária, ouvimos muitas frases e expressões que trazem situações do cotidiano, e

que elas transmitem conhecimentos de vida. Listamos alguns provérbios e

exploramos oralmente sua interpretação, a saber:

Daí a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus;

Quem com ferro fere, com ferro será ferido;

Mais vale um pássaro na mão do que dois voando;

A pressa é inimiga da perfeição;

Cavalo dado não se olha os dentes;

A ocasião faz o ladrão;

Quando um não quer, dois não brigam;

Antes calar que mal falar;

Água mole em pedra dura tanto bate até que fura;

Casa de ferreiro, espeto de pau;

Caiu na rede é peixe;

O seguro morreu de velho;

Cada macaco no seu galho;

Quem tudo quer nada tem;

Devagar se vai ao longe;

De grão em grão a galinha enche o papo;

Errar é humano;

Falar é fácil, fazer é que é difícil;

Filho de peixe, peixinho é;

Nada como um dia depois do outro;

Nunca digas que desta água não bebereis;

O barato sai caro;

Onde há fumaça, há fogo;

Pela boca morre o peixe;

Quem ama o feio, bonito lhe parece;

Quem espera sempre alcança.

A primeira versão dos textos apresentados em sua versão final encontra-se

nos anexos deste artigo (Anexo I ao VIII). E revela que houve muitos erros de

ortografia, de pontuação e de paragrafação. Por meio deles, a língua portuguesa

foi sendo trabalhada.

Observamos na produção final que os alunos evoluíram no processo de

escrita de textos deste gênero e demonstraram considerável progresso no

desenvolvimento também da leitura interpretativa e da oralidade.

Vale a pena ressaltar que muitos expressaram grande criatividade, por

exemplo, temos o texto da aluna Maria Eduarda dos Santos, 12 anos.

O GATO BREAD E O RATO JULIO’S

O gato Bread sempre foi muito rico e mesquinho, sempre teve vários amigos e várias

namoradas.

Um certo dia, Bread conheceu um ratinho chamado Julio’s. Julio’s era o contrário de

Bread, pobre e humilhado, de poucos amigos.

Um dia, Julio’s fez um desafio para Bread, o desafio era para que falasse aos seus

amigos que havia ficado pobre, e voltar no final do mês com apenas um amigo.

Com a notícia de que Bread havia ficado pobre, todos os seus amigos e namoradas

afastaram-se.

Quando Bread foi ao final do mês visitar Julio’s, ficou solitário, pois todos haviam lhe

abandonado.

MORAL: Fique sempre atento com certos amigos, pois as aparências enganam.

AUTORA: Maria Eduarda dos Santos

Vários problemas nas produções ainda não foram solucionados, porém

com o tempo, muitos terão melhoria na escrita, pois já houve progresso entre a

produção inicial e a produção final. Finalizamos o trabalho afirmando que a

análise linguística é meio para que os alunos possam desenvolver sua

capacidade de escrita e também para compreenderem que a língua está presente

no âmbito social de nossa existência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a implementação da proposta pedagógica, esta professora foi

tutora GTR. Todas as participantes inscritas no curso tiveram acesso ao material

que ficou disponível via moodle. Os assuntos referentes a produção deste artigo

foram discutidos com os colegas da rede e os mesmos tiveram a oportunidade de

analisar o material selecionado, trocar ideias e sugerir experiências pedagógicas

que fizeram em sala de aula.

Muitos deles observaram que as dificuldades encontradas por esta

educadora eram as mesmas deles e consideraram que o material que elaboramos

é um instrumento de trabalho importante para desenvolvermos uma consciência

crítica em nossos alunos. Gostaram da proposta de trabalho e acharam pertinente

ao nível dos alunos de 6º ano, pois a mesma contemplava a leitura, a oralidade e

a escrita em língua portuguesa. Foi sugerido aos participantes que trabalhassem

um texto da unidade com os alunos e postassem como foi a sua receptividade.

Os participantes do GTR foram muito criativos durante o curso, esse

intercâmbio fortalece ainda mais a prática de todos nós, profissionais

comprometidos com a educação.

Um trabalho didático pedagógico planejado mostra aos alunos que para

aprender a língua não basta só passar pelo processo de escolarização, pois

aprendizado requer construção de sentidos, o que envolve levar em consideração

o contexto social e o histórico do objeto produzido.

Para refletir sobre as relações entre letramento e escolarização, a palavra escolarização é considerada em ambos os sentidos: por um lado, a fim de discutir as relações entre níveis de aprendizado escolar e níveis de letramento, torna-se a palavra com o complemento “pessoa”, considera-se a escolarização da criança, do jovem, do adulto; por outro lado, em busca das relações entre prática sociais e práticas escolares de leitura e de escrita, toma-se a palavra com o complemento “conteúdo”: considera-se a escolarização da escrita como objeto da aprendizagem (RIBEIRO, 2004, p.93).

Como orientam as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, assumimos

o texto como unidade básica, como prática discursiva que se manifesta em

enunciações concretas, cujas formas são determinadas pelos gêneros textuais.

O trabalho desenvolvido levou os alunos a perceberem que os textos de

um mesmo gênero do discurso carregam em si, ao mesmo tempo, uma relativa

estabilidade e um caráter flexível. Alem disso, favoreceu a inserção de alguns dos

nossos alunos à comunidade de leitores e escritores. Outros ainda precisam que

trabalhos nesta perspectiva teórica continuem os iluminando.

As atividades foram desenvolvidas com objetivos claros e com certa

periodicidade, contribuíram para que todos os alunos se familiarizassem com o

gênero fábula e alguns desenvolvessem hábitos de leitura.

Durante todo o desenrolar do processo, adotamos um olhar bakhtiniano, ou

seja, adotamos a linguagem na concepção interacionista, como forma de ação

entre sujeitos histórica e socialmente determinados. E esse ganho teórico,

advindo da participação no Programa de Desenvolvimento Educacional, PDE,

está incorporado em todo nosso fazer docente. A capacitação docente pode não

operar milagres e nem revoluções da noite para o dia, mas ela é caminho

indispensável para construir alternativas na busca por outros rumos para a

educação.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

BONINI, O. Ensino de Gêneros Textuais: a questão das escolhas teóricas e metodológicas. Trabalhos em Linguística Aplicada. Campinas: São Paulo: nº37, p. 7 a 23, 2001.

BRITTO, L. P. L. Contra o consenso: Cultura, escrita, educação e participação. Campinas – SP: Mercado das Letras, 2003 (Coleção idéias sobre linguagem).

FOUCAMBERT, J. A Leitura em Questão. Tradução: Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

FOUCAMBERT, J. A Criança, o Professor e a Leitura. Tradução: Marleine Cohen e Carlos Mendes Rosa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

GAGLIARDI, E.; AMARAL, H. Contos de Fadas. São Paulo: FTD, 2001.

GONÇALVES, L. M. Do Ledor ao Leitor: um estudo de caso sobre as insuficiências na utilização do jornal em sala de aula no ensino de Língua Portuguesa em turmas do último ano do Ensino Fundamental. Tese de Doutorado. UFRGS, Porto Alegre, 2004.

HRYCZYSZYN, A.; Atlas Geográfico do Município de Faxinal. Caderno Temático, Faxinal 2010.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e Compreender: os sentidos do texto. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2011.

KOCH, I. G. V. As tramas do texto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

NASPOLINI, A. T. Didática do português: Tijolo por tijolo: Leitura e Produção Escrita. São Paulo, FTD, 1996.

RIBEIRO, V. M. (Org.) Letramento no Brasil, reflexões a partir do INAF. 2 ed. São Paulo: Global, 2004.

SILVA, E. T. Da. Criticidade e leitura: ensaios. Campinas: Mercado de Letras, 1998 (Coleção Leituras no Brasil).

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo horizonte: Autêntica, 2000.

ANEXOS

ANEXO I

ANEXO II

ANEXO III

ANEXO IV

ANEXO V

ANEXO VI

ANEXO VII

ANEXO VIII