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11 DANIELA DADALTO AMBROZINE MISSAWA O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia, sob a orientação da Prof.ª Drª Claudia Broetto Rossetti. CAPES UFES, Vitória, Junho de 2006

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DANIELA DADALTO AMBROZINE MISSAWA

O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia, sob a orientação da Prof.ª Drª Claudia Broetto Rossetti.

CAPES

UFES, Vitória, Junho de 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO

Daniela Dadalto Ambrozine Missawa

CAPES

Vitória 2006

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O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO

DANIELA DADALTO AMBROZINE MISSAWA

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da

Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do

grau de Mestre em Psicologia.

Aprovada em 17/07/2006, por:

______________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Claudia Broetto Rossetti – Orientadora - UFES

______________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP

______________________________________________________________

Prof. Dr. Sávio Silveira de Queiroz - UFES

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AGRADECIMENTOS

À Deus, em primeiro lugar, pois é o Autor da minha vida, que me dá forças para

continuar a caminhar;

À minha mãe, Angelina, pelo esforço e dedicação durante todos esses anos para me

dar condições de poder chegar até aqui;

Aos meus avós pelo exemplo de honestidade, honradez e luta na conquista dos

seus ideais;

À Pedro, meu querido, pelo incentivo, amor, pela presença nos momentos de

fragilidade e por ter participado ativamente na conclusão desse trabalho;

À Marilda e Mere pelas orações e pelo cuidado comigo e com o Pedro;

À Claudia, minha orientadora, pela paciência e dedicação com que orientou os meus

passos até aqui;

À Carol e Miriam pelo apoio na coleta e tabulação dos dados;

À CAPES pelo incentivo financeiro, por meio de bolsa, fornecido no primeiro ano de

participação no PPGP – UFES.

Não há aqui espaço suficiente para falar de todas as pessoas que contribuíram e

ainda contribuem para o meu crescimento pessoal e profissional. Gostaria de deixar

então um agradecimento a todos que fizeram e fazem parte da minha vida e dizer

que serei eternamente grata a todos que um dia importou-se com o meu bem-estar e

com a minha formação enquanto pessoa.

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RESUMO

As dificuldades de atenção constituem um tema largamente estudado no decorrer da História. Essas dificuldades têm recebido denominações como: Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA). Torna-se relevante a produção de conhecimento acerca dessas dificuldades no campo da Psicologia, pois grande parte do que foi produzido encontra-se relacionado às bases biológicas desse fenômeno. É importante analisar o papel dos jogos de regras como recursos que auxiliem na avaliação e intervenção dessas dificuldades. O objetivo deste trabalho é pesquisar a possibilidade de utilização de um jogo de regras como instrumento de observação dessas dificuldades, por meio do estudo comparativo do desempenho no jogo Mancala de crianças com e sem dificuldades de atenção. Participaram desse estudo quatro crianças, entre nove e 11 anos (três meninos e uma menina), três crianças estavam cursando a 4ª série e uma a 3ª série do Ensino Fundamental à época em que ocorreu a pesquisa. A escolha foi realizada por indicação de uma das professoras das crianças, sem determinação de gênero. Foram aplicadas: Escala de TDAH – versão para professores e Tabela de Diagnóstico de TDAH- versão para pais. Foram escolhidos nomes fictícios para os participantes e estes foram divididos em dois grupos: Grupo A (André e Antônio) – apresentavam traços de dificuldade de atenção, e não estavam tomando medicamento específico e Grupo B (Beatriz e Bruno) – não apresentavam traços dessa dificuldade. O jogo Mancala foi utilizado como instrumento para coleta dos dados. Estes foram coletados por meio de dez oficinas (50 partidas) que ocorreram na escola. Cada sujeito jogou 20 partidas (5 partidas por oficina). Após as oficinas quatro situações-problema foram apresentadas para cada criança separadamente. Os dados obtidos foram assim analisados: desempenho no decorrer das oficinas (vitórias) e condutas de desatenção às regras do jogo. Considerou-se conduta de desatenção: a) não jogar novamente quando a última semente da distribuição caía no oásis (CDT -1) e b) não capturar as sementes do jogador adversário quando a última semente da distribuição caía em uma cavidade vazia (CDT - 2). Essas condutas são prejudiciais para que o objetivo do jogo (armazenar o maior número de sementes no oásis) seja atingido. Os resultados obtidos apontam para o fato de que há um prejuízo quanto ao desempenho nas partidas dos sujeitos do Grupo B quando comparados aos sujeitos do Grupo A, contrariando a hipótese inicial. Com relação às CDT-1 e CDT-2 as crianças do Grupo A (com dificuldades de atenção) apresentaram um número maior das mesmas quando comparadas às crianças do Grupo B (sem dificuldades de atenção). Em seguida os dados foram confrontados com alguns aspectos da teoria de Piaget, com a questão dos processos de equilibração e a função do erro. Os resultados encontrados permitem a ampliação das discussões acerca do TDAH e a relativização das limitações que as crianças com tais traços possuem.

Palavras-chave: Dificuldade de atenção, TDAH, jogos de regras, Mancala, infância, Piaget

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ABSTRACT The difficulties to focus attention are a theme greatly studied along history. These difficulties have been named: Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), Attention Deficit Disorder (ADD). It is relevant to generate knowledge about these difficulties in the Psychology field because great part of the studies is related to the biological facts of this phenomenon. It is relevant to analyze the role of rule games as a resource to help the evaluation and interference of theses difficulties. The objective of this work is to research the possibility of the use of a rule game as an observation instrument through a comparative study of the performance of children with or without attention disorder, in the Mancala board game. Four children, raging from nine to eleven years old, took part in the study (three boys and one girl). Three children were in the 4th and one in the 3rd grade of elementary school when the research took place. The choice was made by one of the class teacher regardless of gender. It was applied in the scale of ADHD – version for teachers and Table for diagnoses of ADD- version for parents. Ficticious names were choosed to the participants and they were split into two groups: Group A - André and Antônio who showed some signs of attention deficit, but not taking specific medication and Group B- Beatriz and Bruno who didn’t show any sign of deficit. The game Mancala used as an instrument to collect data which were gathered through 10 workshops (50 matches) and took place at the children’s own school. Each individual played 20 matches (five in each workshop). After the workshops four problem-situations were presented for each child separately. The data collected were analyzed: the performance along the workshop (winning) and lack of attention behavior to the rules of the game. The following were considered non-attention behavior: a) not playing again when the last seed of the distribution falls on the oasis (NAB-1), and b) not capturing the seed of the opponent when the last seed of the distribution falls in the in an empty hole (CDT-2). These behaviors are harmful for the goal of the game (gather the greatest number of seed in the oasis) is achieved. The results gained points to the fact that there is a loss concerning the performance of the individuals of Group B when compared the performance of the individuals of Group A, going against the initial hypotheses. In relation to CDT-1 and CDT-2 the children from Group A(with deficit of attention) have shown a greater number compared to the children from Group B (without deficit of attention). Than the data was checked against some aspects of Piaget’s Theory concerning the process of balancing and the function of the error. The results found allow broader discussing about ADHA and related limitation the children, with these traces, have. Key-words: Deficit of attention, ADHD, rule games, Mancala, childhood, Piaget.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante ................60 Gráfico 2 - Desempenho do participante André (Grupo A) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................62 Gráfico 3 - Desempenho do participante Antônio (Grupo A) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................63 Gráfico 4 - Desempenho do participante Bruno (Grupo B) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................65 Gráfico 5 - Desempenho da participante Beatriz (Grupo B) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................67 Gráfico 6 - Vitórias, derrotas e empates dos Grupos A e B.......................................69 Gráfico 7 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante .....................71 Gráfico 8 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo. .............................74 Gráfico 9 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante. ....................75 Gráfico 10 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo. ...........................77 Gráfico 11 – Número de questões corretas e incorretas por sujeito..........................81

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Critérios Diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) ..............................................................................................23 Quadro 2 - História de Pedro – Forma de Explicação do TDAH para Crianças .......26 Quadro 3 - Resumo do Desenvolvimento Cognitivo e Afetivo......Erro! Indicador não definido. Quadro 4 - Divisão dos Participantes por Grupos .....................................................51 Quadro 5 - Percentis de cada participante na escala de TDAH – Versão para Professores ...............................................................................................................55 Quadro 6 - Etapas da Coleta de Dados ....................................................................56 Quadro 7 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante ................59 Quadro 8 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante....................72 Quadro 9 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo. ............................73 Quadro 10 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante. .................75 Quadro 11 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo. ..........................76 Quadro 12 - Questões corretas e incorretas de cada indivíduo nas situações-problema ...................................................................................................................79 Quadro 13 – Número de questões corretas e incorretas por sujeitos nas situações-problema ...................................................................................................................80 Quadro 14 - Situação-problema I ..............................................................................81 Quadro 15 - Situação-problema II .............................................................................82 Quadro 16 - Situação-problema III ............................................................................83 Quadro 17 - Situação-problema IV............................................................................85 Quadro 18 – Número de questões corretas e incorretas dos grupos A e B ..............87

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LISTA DE SIGLAS

TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade DDA – Distúrbio do Déficit de Atenção CID-10 - Classificação Internacional de Doenças DSM-IV - Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais CDT-1 – Conduta de Desatenção Tipo 1 CDT-2 – Conduta de Desatenção Tipo 2 FG – Freqüência Geral

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO .............................................................................................12

2. O CONCEITO DE ATENÇÃO............................................................................15

3. DIFICULDADES DE ATENÇÃO NO CONTEXTO ATUAL................................18

3.1. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DO TDAH............................................20 3.2. ALTERNATIVAS TRADICIONAIS PARA O TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM TDAH ...............................................................................................................27 3.3. O TDAH E A SOCIEDADE.................................................................................30

4. TEORIA PIAGETIANA, COGNIÇÃO E JOGOS DE REGRAS..........................33

4.1. CONCEITOS BÁSICOS PARA ENTENDER PIAGET .......................................33 4.2. O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO NA TEORIA PIAGETIANA ...................41 4.3. O JOGO MANCALA, A ATENÇÃO E A CONCENTRAÇÃO ..............................44

5. POSIÇÃO DO PROBLEMA...............................................................................48

5.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................................48 5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS..............................................................................48

6. MÉTODO ...........................................................................................................50

6.1. PARTICIPANTES...............................................................................................50 6.2. INSTRUMENTOS ..............................................................................................51 6.3. PROCEDIMENTOS ...........................................................................................53 6.4. AVALIAÇÃO ÉTICA DE RISCOS E BENEFÍCIOS.............................................57

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................58

7.1. ANÁLISE DO DESEMPENHO E DAS ESTRATÉGIAS NO DECORRER DAS PARTIDAS ................................................................................................................59

7.1.1. Desempenho do Participante André.........................................................61 7.1.2. Desempenho do Participante Antônio (Grupo A)......................................63 7.1.3. Desempenho do Participante Bruno (Grupo B) ........................................65 7.1.4. Desempenho da Participante Beatriz (Grupo B).......................................66 7.1.5. Desempenho dos Grupos A e B ...............................................................68

7.2. ANÁLISE DAS CONDUTAS DE DESATENÇÃO...............................................70 7.3. ANÁLISE DA RESOLUÇÃO DAS SITUAÇÕES-PROBLEMA............................78

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................89

9. REFERÊNCIAS .................................................................................................93

APÊNDICE I – Quadro de Características do TDAH para Entrevista com os Pais

...........................................................................................................................97

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APÊNDICE II - Protocolo de instrução padrão para apresentação do jogo

Mancala aos participantes da pesquisa ................................................................98

APÊNDICE III – Protocolo de Registro de Jogadas por Partida ........................100

APÊNDICE IV: Respostas dadas pelos participantes às Situações-problema

propostas ...............................................................................................................101

APÊNDICE V – Modelo de Termo de Consentimento dos Participantes da

Pesquisa.................................................................................................................105

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1. APRESENTAÇÃO

As dificuldades de atenção têm sido estudadas e compreendidas de diversas formas

no decorrer dos períodos históricos. Na atualidade, essas dificuldades têm recebido

algumas denominações específicas como Transtorno do Déficit de

Atenção/Hiperatividade (TDAH), Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), entre outras.

As bases biológicas de tais transtornos e distúrbios têm sido largamente

pesquisadas, principalmente no campo da Medicina. Por outro lado, torna-se

relevante a produção de conhecimento e estratégias de intervenção que contribuam

para a ampliação dos estudos acerca de tais dificuldades também no campo da

Psicologia.

Os jogos de regras têm recebido especial atenção no que diz respeito a uma

possível contribuição para o desenvolvimento infantil saudável. A utilização de tais

jogos em diversos contextos (escolar, doméstico, etc) tem sido bastante estudada

pelos pesquisadores dessa área.

O interesse em aliar o estudo das dificuldades de atenção aos jogos de regras

adveio de uma experiência anterior com o TDAH. A participação, por um período de

tempo, como auxiliar em uma pesquisa que utilizava medicamentos para observar a

resposta dos pacientes diagnosticados como possuidores de TDAH suscitou

diversos questionamentos, tais como: os medicamentos são a única alternativa para

o tratamento do TDAH? Será que o TDAH é um transtorno apenas biológico ou é

também uma produção social? Que outras alternativas podem ser construídas para

a avaliação e o tratamento do mesmo?

Essa experiência com o estudo do TDAH produziu inquietações e incertezas. Dessa

forma, surgiu a necessidade em contribuir para a ampliação dos estudos acerca das

dificuldades de atenção, principalmente em crianças. A identificação e familiaridade

com o estudo dos jogos, especialmente os jogos de regras, foi a motivação para

analisar o papel dos mesmos como instrumentos alternativos e potencializadores na

construção dessa visão ampliada.

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Pode-se observar, a partir de programas veiculados pela mídia, que há a

necessidade em compreender de uma forma mais consistente o que vem a ser o

TDAH para evitar um “diagnóstico em massa”. Os transtornos de atenção são muito

complexos visto que muitas variáveis contribuem para que a criança ou o adulto seja

diagnosticado como possuidora de tais características comportamentais e, além

disso, algumas dessas características podem ser apresentadas, por um período de

tempo determinado, devido a outros problemas enfrentados pela criança ou pelo

adulto.

O TDAH tem sido estudado e discutido largamente, visto que é um dos grandes

problemas enfrentados por professores e pedagogos. O desconhecimento de tal

fenômeno faz com que o número de crianças diagnosticadas “informalmente” como

possuidoras de tal transtorno cresça consideravelmente. É importante ressaltar

ainda a dificuldade encontrada pelos profissionais da educação em lidar com essas

crianças em sala de aula e no convívio com os colegas, pois as escolas, geralmente,

não podem contar com a estrutura transdisciplinar necessária para trabalhar com

essas crianças.

A introdução do presente trabalho é composta por três capítulos onde são

apresentados os resultados das pesquisas acerca dos autores e das teorias que

trabalham a questão das dificuldades de atenção. São eles: O conceito de atenção,

Dificuldades de atenção no contexto atual e Teoria Piagetiana, Cognição e Jogos de

Regras onde serão discutidas questões acerca da importância e utilização dos

jogos, especialmente os jogos de regras, para o desenvolvimento infantil.

O capítulo acerca do conceito de atenção tem o intuito de esclarecer os mecanismos

da atenção para assim contribuir na ampliação da compreensão da mesma. O

objetivo deste capítulo será o de apresentar como esse conceito tem sido estudado

por diversos autores da Psicologia e da Filosofia.

Em Dificuldades de atenção no contexto atual são apresentadas, as caracterizações

e as diagnósticas do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), as

alternativas que têm sido utilizadas no tratamento do mesmo e a relação entre o

TDAH e a sociedade.

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No capítulo acerca da teoria Piagetiana e as dificuldades de aprendizagem foram

explicitados os conceitos básicos para entender a teoria de Piaget, especialmente a

questão do erro e a análise dos processos cognitivos. Há ainda a descrição do Jogo

Mancala que foi o jogo escolhido como principal instrumento para coleta dos dados.

Nos capítulos seguintes a presente pesquisa será apresentada de forma detalhada,

tanto em seus aspectos metodológicos, quanto em relação aos resultados obtidos,

bem como a discussão desses.

Espera-se que esse estudo contribua para que novas alternativas de avaliação das

dificuldades de atenção sejam construídas, a fim de que uma análise mais complexa

desse fenômeno possa ser realizada pelos profissionais que trabalham com tais

dificuldades e por aqueles que desejam ampliar conhecimento acerca do mesmo.

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2. O CONCEITO DE ATENÇÃO

O fenômeno da atenção é algo complexo no qual muitas variáveis estão envolvidas.

De acordo com Hallowell e Ratey (1999):

O sistema atencional envolve quase todas as estruturas do cérebro, de uma forma ou de outra. Ele governa nossa consciência, nossa experiência na vigília, nossas ações e reações. É o meio pelo qual interagimos com nosso ambiente, seja esse ambiente composto de problemas de matemática, de outras pessoas ou das montanhas nas quais estamos esquiando (HALLOWELL E RATEY,1999, p.318).

Dessa forma, podemos compreender a importância desse fenômeno, visto que é por

meio dele que nos relacionamos com o mundo em redor. A realidade está subjugada

à forma como a percebemos e a percepção possui uma íntima relação com o

fenômeno atencional, pois percebemos as pessoas ou acontecimentos que nos

interessam, ou seja, que “prendem” a nossa atenção. Cada pessoa direciona a sua

atenção de forma particular de acordo com suas crenças, valores, cultura.

Uma infinidade de estímulos está presente em um mesmo ambiente e, portanto, é

necessário que os classifiquemos de acordo com nossos interesses e prioridades. A

característica de seletividade da atenção torna possível esse processo fazendo com

que consigamos elaborar um sistema lógico e coerente de atuação no mundo.

De acordo com Machado (1993, p.198),

Sabe-se que o sistema nervoso é, até certo ponto, capaz de selecionar as informações sensoriais que lhe chegam, eliminando ou diminuindo algumas e concentrando-se em outras, o que configura um fenômeno de atenção seletiva (grifo do autor). (…) Isto se faz por um mecanismo ativo, envolvendo fibras eferentes ou centrífugas capazes de modular a passagem dos impulsos nervosos nas vias aferentes específicas.

William James (1842-1910), psicólogo americano, “(…) influiu amplamente sobre a

psicologia, em especial como observador da vida mental e como inspiração para

outros” (DAVIDOFF, 2001, p.11), pois

Sua psicologia mais prática tentava captar o “temperamento” da mente em funcionamento. Ao caracterizar a consciência, usava frases como “pessoal e única”, “em mudança contínua” e “modificando-se ao longo do tempo”. Acima de tudo, achava notável como a consciência e outros processos mentais ajudam as pessoas a se ajustar a suas experiências.

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Dentre os processos mentais estudados por James em seu compêndio The

Principles of Psychology (1952), está a atenção. Os itens para os quais a atenção é

direcionada são os responsáveis por modelarem a mente. Sem o interesse seletivo a

consciência seria um “caos”, algo indiscriminado e, portanto, impossível à

compreensão (JAMES, 1952).

De acordo com Davidoff (2001) alguns fatores exercem uma importante influência no

processo de atração da nossa atenção, tais como: dados novos, inesperados,

intensos ou mutantes, assim como necessidades, interesses e valores individuais.

Em um mesmo ambiente duas pessoas podem dirigir a sua atenção para estímulos

diversos, mesmo que estes estejam ocorrendo de forma simultânea. De fato, “O que

chama a atenção? Pessoas e outros animais geralmente voltam a atenção mais ao

ambiente externo do que ao interno. Além disso, focalizamos as informações mais

significativas (…)” (YARBUS, citado por DAVIDOFF, 2001, p.144).

Dessa forma,

A atenção depende de outras variáveis como a motivação, a hiperatividade, a impulsividade, o biorritmo preferencial, a presença de estímulos simultâneos, a função intraneurossensorial da figura-fundo e centro-periférica, a complexidade da tarefa, a sequencialização das operações em causa, a observância de condições que ocorreram antes e durante as situações, o tipo de reforço em causa, o nível da experiência anterior, o estado emocional do momento, etc (FONSECA, 1995, p. 254).

É interessante observar a relação figura-fundo, segundo a Gestalt. Figura é tudo

aquilo que está no foco da atenção em um determinado momento. Fundo é tudo que

está ao redor da figura, o que pode ser chamado de plano de fundo ou plano

secundário. Aquilo que é figura em um determinado momento pode se tornar fundo

em outro, ou seja, a relação entre figura e fundo é dinâmica e mutável segundo as

modificações pelas quais passamos sejam elas temporárias ou permanentes

(BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2001).

Na sociedade atual existe uma infinidade de estímulos sendo apresentados de forma

simultânea. A necessidade de absorver o maior número possível da informação é a

máxima do nosso cotidiano. As pessoas precisam trabalhar, assistir aos telejornais,

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ler os jornais e revistas impressos e saber o que acontece em sua comunidade ao

mesmo tempo para permanecerem no “fluxo social” e não estarem à “margem da

civilização”.

Em nossa sociedade,

A ocorrência de muitos estímulos, como acontece em muitas salas de aula – permanente barulho exterior, proximidade de recreios e ruas agitadas, várias classes a funcionar ao mesmo tempo, quadro repleto de informação visual mal-estruturada espacialmente, salas carregadas de estímulos nas paredes, ausência de rotinas etc. – tendem a desorganizar a criança. Em muitos casos, é necessário minimizar os estímulos competitivos e irrelevantes (FONSECA, 1995, p. 254).

Essa infinidade de estímulos dificulta o processo de concentração da atenção em

algum estímulo, especialmente para as crianças, pois começam a descobrir um

mundo novo cheio de possibilidades, de novas descobertas. As crianças são

impelidas a buscar e descobrir tudo aquilo que para o adulto já não é mais novidade.

Segundo James (1952), nós conseguimos prestar atenção nas coisas que são de

nosso interesse. Segundo o autor a atenção pode ser dividida em vários tipos:

atenção sensorial (objetos dos sentidos); atenção intelectual (representação de

idéias ou objetos); atenção imediata (quando o estímulo é interessante a priori, ou

seja, não precisa ter relação com outra coisa qualquer); atenção derivada ou

“aperceptível” (quando o estímulo se torna interessante ao estar associado à outra

coisa imediatamente interessante); atenção passiva, reflexiva, não-voluntária, sem

esforço e por último, atenção ativa e voluntária. Portanto, enquanto estamos em

estado de vigília a nossa atenção está sendo utilizada por nós para nos

relacionarmos e agirmos diante dos estímulos que chegam até nós.

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3. DIFICULDADES DE ATENÇÃO NO CONTEXTO ATUAL

No contexto atual as dificuldades de atenção têm sido abordadas de maneira

bastante peculiar quando vêm associadas a outras características, tais como a

impulsividade e a hiperatividade. A associação dessas três características tem sido

denominada, por médicos e estudiosos, como constituinte do Transtorno de Déficit

de Atenção/Hiperatividade (TDAH). O estudo deste tem sido feito de forma

sistemática, principalmente no campo da medicina, pois busca-se, prioritariamente,

explicações biológicas para a compreensão de tal fenômeno.

Na sociedade pós-moderna há um aumento expressivo do número de crianças que

estão sendo diagnosticadas como possuidoras das características do TDAH, e,

dessa forma, faz-se necessário entender a complexidade do mesmo para além de

uma explicação biológica de causa-efeito. Desse modo, torna-se imprescindível a

ampliação dos estudos acerca do TDAH no campo da Psicologia.

A nomenclatura do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade vêm sendo

modificadas desde meados do século XIX. A primeira referência foi feita com a

denominação de Transtornos Hipercinéticos. A partir daí surgiram outras

denominações como “lesão cerebral mínima” (década de 40) e “disfunção cerebral

mínima” (1962). No entanto, as características dessa síndrome foram relacionadas

menos a lesões cerebrais do que a disfunções em vias nervosas (ROHDE ET AL,

2000).

No entanto, os estudos realizados nos anos 70 contribuíram de forma significativa

para uma nova visão acerca do déficit de atenção (COES, 1999):

(...) os problemas de atenção passaram a ser vistos como déficits de habilidade de manutenção da atenção, de habilidades de execução tais como o manejo eficiente do tempo e a organização, e de habilidades de auto-regulação do comportamento (COES, 1999, p.65).

Dessa forma, os modernos sistemas classificatórios utilizados em Psiquiatria, como

a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e o Manual de Diagnóstico e

Estatística das Doenças Mentais (DSM-IV), apresentam as seguintes nomenclaturas

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para a síndrome: Transtornos Hipercinéticos e Transtorno de Déficit de

Atenção/Hiperatividade (TDAH), respectivamente. Apesar de utilizarem-se de

nomenclaturas diferenciadas existem muitas similaridades no que diz respeito às

diretrizes diagnósticas (ROHDE ET AL, 2000).

De acordo com Cantwell e Copeland, citados por Coes (1999), houve uma variação

significativa das explicações acerca da natureza e etiologia do problema. “No

entanto, a personagem Fidgety Phil (Phil agitado), de contos infantis, criado pelo

médico alemão Heinrich Hoffman, em 1848, é citado na literatura como exemplo de

preocupação e familiaridade dos estudiosos da época com o problema (COES,

1999, p. 63).

Figura 1 - Fidgety Phil

Fonte: www.mynaleagues.com Segundo Coes (1999) o médico inglês George Still foi um dos primeiros a conceituar

o déficit de atenção e de hiperatividade. O termo a que se referiu foi “déficit de

controle moral” para caracterizar um grupo de crianças que apresentavam

comportamentos de agressividade, de oposição e dificuldades de auto-controle.

Para o médico “(...) tais comportamentos seriam resultantes de fatores biológicos

herdados ou provocados por lesões, pré, peri ou pós-natais no sistema nervoso

central” (COES, 1999, p.64).

O TDAH recebe uma variedade de nomenclaturas de acordo com o manual adotado.

No caso dessa pesquisa adotaremos os critérios utilizados pelo DSM-IV para

caracterização desse transtorno, bem como os critérios que esse manual relaciona

para o diagnóstico do mesmo. No entanto, em alguns momentos será necessária a

alusão a nomenclaturas distintas da que o DSM-IV estabelece. Portanto, termos

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como DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção), Hiperatividade e TDAH serão utilizados

como sinônimos.

3.1. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DO TDAH O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade é um fenômeno complexo e de

difícil diagnóstico. Para identificá-lo faz-se necessário uma avaliação minuciosa, pois

os sintomas do TDAH podem ser decorrentes de comorbidades associadas ao

mesmo ou até mesmo de outra síndrome.

O diagnóstico da hiperatividade não pode ser baseado em estudos superficiais e

fatos isolados encontrados no decorrer do estudo do caso da criança, visto que os

sintomas atribuídos ao TDAH podem estar associados a problemas emocionais e de

ajustamento social. Dessa forma, encontra-se freqüentemente na literatura o TDAH

como um quadro diagnóstico complexo, de início precoce e evolução crônica

(GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003).

Segundo Coes (1999) as pesquisas acerca da natureza neurobiológica do Déficit de

Atenção apontam para diversos fatores causais desse distúrbio, tais como: presença

de excesso de chumbo no sangue, fatores perinatais, alterações metabólicas (como

distúrbios da tireóide), entre outros. Entretanto, a variabilidade das condições

associadas ao Déficit de Atenção indica que não há uma causa única, mas que o

mesmo se dá na interação de diversos fatores biológicos e psicossociais.

De acordo com Goldstein e Goldstein (2003) um número grande de causas é

associado ao aparecimento da hiperatividade. Medicamentos, lesões cerebrais,

epilepsia, envenenamento por chumbo, hereditariedade são alguns exemplos de

situações produtoras do transtorno. Apesar da origem e desenvolvimento do TDAH

ainda serem um pouco obscuras, os autores acima citados consideram a

hereditariedade como a causa mais freqüente da hiperatividade.

Muitos estudos acerca do TDAH buscam encontrar causas biológicas para

explicação do mesmo, no entanto, ainda não foi possível comprovar tal afirmação

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visto que os estudos demonstram cada vez mais a complexidade de tal fenômeno

(ANTONY E RIBEIRO, 2004).

As crianças diagnosticadas como hiperativas geralmente possuem problemas de

socialização, visto que as características comportamentais desse transtorno

concorrem para que tais dificuldades surjam (SILVA, 2003). A criança que apresenta

dificuldades na área da atenção, um dos sintomas componentes da tríade e foco do

presente trabalho, poderá desenvolver problemas nos relacionamentos com amigos

e parentes, principalmente se estes não souberem lidar e ajudá-la a conviver e a

vencer tais obstáculos.

Sob a égide de uma sociedade aberta às diferenças e sem preconceitos esconde-se

uma sociedade em que elas são aceitas desde que você não tenha que conviver

com elas. As crianças que estão fora daquilo que é estabelecido como norma são

rotuladas, limitadas em suas capacidades e vistas como inferiores com relação

àquelas que atendem tal padrão. Questionamentos como “Quem dita tais padrões?

Quem escreveu tais normas?” são imprescindíveis para que os obstáculos que são

colocados à frente das crianças que não atendem ao “perfil desejado” pela

sociedade possam ser transpostos e permitam a construção de uma sociedade em

que o ser humano em sua totalidade seja valorado e não apenas aos seus defeitos e

faltas.

Vivemos em uma sociedade em que é necessário TER para ser participante da

mesma. No entanto, esse TER é restrito àquilo que se considera digno de ser

possuído. Aqueles que possuem “itens fora dessa lista” são colocados à margem da

mesma maneira que aqueles que não possuem tais itens. Por isso, quando uma

criança apresenta dificuldade de atenção ela TEM algo que é inaceitável e que irá

camuflar e relegar a segundo plano todas as características positivas que possua.

Dessa forma, o nosso esforço deve ser direcionado para que o ser humano possa

ser visto enquanto uma pessoa total e indivisível e não seja reduzido a um portador

de doenças e incapacidades. É necessário iniciar um movimento contrário em que o

SER seja colocado no plano principal e definidor de alguém.

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De acordo com o DSM-IV há três sintomas que podemos considerar como

característicos do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade: impulsividade,

desatenção e hiperatividade. Estes não estão presentes com a mesma intensidade

nos casos de TDAH. O DSM-IV subdivide essa síndrome em três tipos: 1. TDAH

com predomínio de sintomas de desatenção; 2. TDAH com predomínio de sintomas

de hiperatividade/impulsividade e 3. TDAH com os três sintomas combinados (DSM

IV, 2000).

O Quadro 1 apresenta a sintomatologia bem como os critérios diagnósticos do

Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) de acordo com o DSM-IV-

TR (2002).

A. Ou (1) ou (2) (1) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram pelo período mínimo de 6 meses, em grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Desatenção: (a) freqüentemente não presta atenção a detalhes ou comete erros por omissão em atividades escolares, de trabalho ou outras (b) com freqüência tem dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (c) com freqüência parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra (d) com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções) (e) com freqüência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (f) com freqüência evita, demonstra ojeriza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) (g) com freqüência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p. ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais) (h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa (i) com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias (2) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram pelo período mínimo de 6 meses, em ¬grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Hiperatividade: (a) freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira (b) freqüentemente abandona sua cadeira na sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado (c) freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações impróprias (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação) (d) com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer (e) está freqüentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor” (f) freqüentemente fala em demasia Critérios Diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (continuação) lmpulsividade: (g) freqüentemente dá respostas precipitadas antes que as perguntas terem sido completamente formuladas (h) com freqüência tem dificuldade para aguardar sua vez (i) freqüentemente interrompe ou se intromete em assuntos alheios (p. ex., em conversas ou

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brincadeiras) B. Alguns sintomas de hiperatividade-impulsividade ou desatenção causadores de comprometimento estavam presentes antes dos 7 anos de idade. C. Algum comprometimento causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (p. ex., na escola [ou trabalho] e em casa). D. Deve haver claras evidências de um comprometimento clinicamente importante no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno Global do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico, nem são melhor explicados por outro transtorno mental (p. ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou Transtorno da Personalidade).

Quadro 1 - Critérios Diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) Fonte: DSM-IV-TR, 2002, pp.118 e 119 Complementando a caracterização do TDAH, Silva (2003) afirma que a alteração da

atenção é considerada o sintoma mais importante para o entendimento do DDA visto

que é condição essencial para que o diagnóstico possa ser realizado. “Uma pessoa

com comportamento DDA pode ou não apresentar hiperatividade física, mas jamais

deixará de apresentar forte tendência à dispersão” (SILVA, 2003, p.20).

O mesmo autor ressalta que a impulsividade “(...) tem um significado próprio: 1) ação

de impelir; 2) força com que se impele; 3) estímulo, abalo; 4) ímpeto, impulsão”

(SILVA, 2003, p.23). Essas definições são importantes para descrever o

comportamento da criança com DDA. Esta poderá ter reações emocionais

desproporcionais frente às situações cotidianas (SILVA, 2003).

Ainda segundo Silva (2003) a hiperatividade poderá apresentar-se na forma física e

mental. A hiperatividade física pode ser facilmente identificada: a criança se mostra

agitada, não consegue ficar quieta e, por isso, move-se constantemente em casa, na

sala de aula e em outros ambientes que freqüenta. A hiperatividade mental

apresenta-se de forma mais sutil do que a física (SILVA, 2003). “Ela pode ser

entendida como um “chiado” cerebral, tal qual o motor de um automóvel desregulado

que acaba por provocar um desgaste bastante acentuado” (SILVA, 2003, p.27). De

acordo com o mesmo autor, essa agitação psíquica é muitas vezes responsável pela

dificuldade que muitas pessoas diagnosticadas como possuidoras das

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características do DDA apresentam em suas relações sociais, principalmente no que

diz respeito a fazer amigos e conservá-los. “O “chiado” de seus cérebros muitas

vezes os impede de interpretar corretamente as “deixas” sociais que são tão

necessárias no estabelecimento e na manutenção das relações humanas” (SILVA,

2003, p.27).

De acordo com Antony e Ribeiro (2004, p.127) o Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade “caracteriza-se por distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e

comportamentais, expressando dificuldades globais do desenvolvimento infantil”.

Pois,

(...) o que fala é o sujeito através do seu corpo, das variações tônico-motoras, do movimento, dos gestos e do esquema corporal que são representantes de uma organização psíquica. Este é o desafio que nos lança a criança hiperativa com o seu corpo em contínuo movimento” (ANTONY E RIBEIRO, 2004, p. 129).

É importante ressaltar que o TDAH é um fenômeno complexo produzido na

interação de diversos fatores biológicos e psicossociais. Essa diversidade também é

encontrada no que diz respeito aos sintomas do transtorno. Portanto, o foco do

presente trabalho é a questão específica do Déficit de Atenção que é um dos três

principais sintomas descritos pelo DSM-IV.

Em alguns casos os sintomas do TDAH não são evidentes em um contato

superficial. Apenas quando há um contato mais profundo esses podem ser

identificados. “Em geral, estes indivíduos têm muitas outras habilidades e uma

capacidade intelectual que permite “driblar” o TDAH na maioria das situações”

(MATTOS, 2005, p. 31).

O TDAH não traz 100% de características negativas, por exemplo,

(...) muitos portadores de TDAH são vistos como intuitivos, com razoável senso de humor e, talvez, criatividade. Imaginam diferentes projetos, conseguem ver ângulos diferentes dos usuais. Muitos são pessoas com sucesso social e profissional, apesar dos sintomas. Podem ser agradáveis no convívio (ao menos num convívio social) e ter muitas idéias divertidas (MATTOS, 2005, p.31).

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Entretanto, as características negativas, como não levar as coisas até o final ou não

conseguir administrar os projetos em longo prazo, estarão presentes “atrapalhando”

a criança ou adulto com TDAH a colocar em prática as idéias e projetos imaginados

(MATTOS, 2005). Dessa forma é necessário que a pessoa diagnostica como

hiperativa encontre estratégias para “burlar” essas dificuldades e, assim, conseguir

adaptar-se satisfatoriamente ao convívio social.

De acordo com Antony e Ribeiro (2004, p.127) “a Gestalt-Terapia é uma abordagem

fenomenológico-existencial com uma visão holística de doença. Compreende o

adoecer como resultante de uma desarmonia relacional entre pessoa e ambiente

que formam uma unidade dialética e indivisível”.

Apesar de o presente estudo não estar fundamentado na Gestalt-Terapia o

entendimento acerca do conceito de doença é compartilhado com essa área de

estudo, visto que a busca que empreendemos é pela ampliação do entendimento do

TDAH e, principalmente a quebra das estereotipias que circundam tal fenômeno.

Tomando por base uma visão holística da hiperatividade entendemo-na aqui como

fruto do contexto social, político, econômico e cultural no qual estamos inseridos e

não como resultado de uma causa única e unilateral seja ela social, política,

econômica, cultural ou genética.

Existe ainda uma grande dificuldade que é explicar para a criança diagnosticada

como possuidora das características do TDAH, o que significa e como isso afetará

em sua vida. Rohde e Benczik (1999) no livro intitulado “Transtorno de Déficit de

Atenção Hiperatividade – O que é? Com ajudar?” descrevem “A história de Pedro”

como uma forma para explicar o TDAH á criança. Um fragmento desta história será

transcrito quadro a seguir:

Meu nome é Pedro e vou contar a minha história para você. Quase nunca me sinto cansado... O mundo é muito grande e tem muita coisa para descobrir, mas tenho que ir para a escola. Lá tenho que fazer coisas que, às vezes, não estou nem um pouco a fim. Prefiro brincar no pátio ou na quadra. Ninguém acredita, mas bem que eu quero e tento fazer as lições bem caprichadas, mas acontece tanta coisa... De repente meu amigo conversa comigo, ou um carro buzina lá fora, ou até se eu escuto alguém conversar, um lápis caindo no chão, eu me distraio e me perco. Quando olho de novo para a lousa, demoro para achar onde parei, confundo tudo, e aí, todos já acabaram a tarefa, só eu que não. Fico muito chateado... De novo não consegui.

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A professora sempre fala: - Pedro, você já terminou sua lição? Eu preciso apagar a lousa! Quase nunca presto atenção ao que minha professora diz, nem às lições. A professora sempre pede que eu seja mais organizado com o meu material e mais caprichoso com as lições. Na verdade, concordo que me mexo muito, levanto da cadeira a toda hora, faço barulho com o lápis e às vezes até com a boca (uns barulhos que só eu sei fazer), falo muito e atrapalho a professora. São dois grandes problemas: eu faço malfeito, pois quero acabar muito depressa, ou então quero fazer tudo muito bem-feito e terminar tudo, mas... não consigo! Aí todos pensam que sou preguiçoso, relaxado e vagabundo, ou ainda que sou bobo e não me esforço.

Parece que ninguém me entende. Por mais que eu tente, não consigo prestar atenção e terminar toda a tarefa tão bem como as outras crianças. Mas bem que eu gostaria... De verdade! Na classe, quando o assunto é lição, as crianças tiram sarro de mim, fazem muitas gozações. Eles me chamam de “minhoca” e de “supertartaruga lerdinha”. Todos acham engraçado, menos eu. Quando estou sentado, ali sozinho, sem perceber, começo a morder o lápis, desmontar meu estojo, rabiscar as folhas no caderno e a mexer com os pés sem parar. Acho que preciso me movimentar mais do que os meus colegas porque assim me sinto mais ligado e esperto. Estou sempre mexendo minhas mãos e balançando os pés. A professora vive me dizendo que parece que tenho o bicho-carpinteiro no corpo. Ela pergunta também se tem formiga ou prego na cadeira, porque não tenho parada nem sossego. Percebo que quando a professora pergunta alguma coisa para mim eu respondo rapidinho. Muitas vezes começo a responder antes de ouvir a pergunta inteira. Só quando estou falando é que me dou conta de que não era nada daquilo... E quando se trata de escrever... Hum! É tão mais complicado... Eu bem que gostaria não precisar escrever tanto. Sabe, acho bem mais interessante ver o que está se passando fora da sala de aula. Pela janela, vejo a árvore a balançar, o passarinho a voar; e, pela porta, sempre vejo quem passa no corredor. Fico triste, irritado e confuso porque sei que as pessoas ficam cansadas de mim. Outro, dia vi minha mãe chorando. Também ouvi meus pais brigando por minha causa. A professora vive mandando bilhetes para minha mãe. Ela avisou que minhas notas estão ruins, que assim não vou passar de ano e que não sabe mais o que fazer comigo. Além do mais, falou que sou distraído, que caminho pela escola sem olhar por onde ando, que derrubo com facilidade as coisas da minha mão. Ela diz que parece que estou sempre voando, como se eu estivesse no mundo da lua. Muitas vezes me chama de “rei do espaço”. Fico triste. Às vezes tento disfarçar, finjo que não ligo, mas não é verdade. Queria que todos dissessem: - Olha, o Pedro foi o melhor! Ah como eu gostaria que a minha tarefa fosse realmente a melhor (Rohde and Benczik, 1999, p. 16-23).

Quadro 2 - História de Pedro – Forma de Explicação do TDAH para Crianças Fonte: Rohde and Benczik (1999) Essa história é uma maneira simplificada de explicar para a criança o TDAH e suas

conseqüências. É importante ressaltar que a mesma não deveria ser contada

apenas para as crianças que possuam tais características, mas também para

aquelas que não as possuam, para pais, professores e todos que mantenham

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contato com essas crianças. Há uma grande necessidade em desnaturalizar o TDAH

e suas implicações, bem como compreendê-lo de forma ampliada, pois, atualmente,

há uma excessiva rotulação das crianças por parte de pais, professores e amigos,

devido ao pouco conhecimento desse fenômeno.

3.2. ALTERNATIVAS TRADICIONAIS PARA O TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM TDAH

De acordo com a literatura revisada, para o tratamento do TDAH faz-se necessário

uma abordagem múltipla que envolva intervenções psicossociais e

psicofarmacológicas. No entanto, o medicamento tem sido o ponto central nos

tratamentos, o que tem ocasionado um excesso de utilização dos mesmos,

principalmente na intervenção em crianças. Atualmente a saída medicamentosa é a

mais utilizada e o conhecimento produzido na área médica com relação à eficácia

dos mesmos é bastante amplo.

A intervenção psicofarmacológica para tratamento do TDAH tem sido realizada com

medicamentos estimulantes, com o intuito de melhorar a concentração e de controlar

o comportamento hiperativo, na maior parte das vezes. Com relação aos

estimulantes,

No Brasil, o único estimulante encontrado no mercado é o metilfenidato. A dose terapêutica normalmente se situa na faixa de 20 a 60 mg/dia. Como a meia-vida do metilfenidato é curta (de 3 a 4 horas), geralmente pode-se utilizar o esquema de administração de três doses por dia: uma de manhã, outra ao meio-dia e uma última ao final da tarde (ROHDE E HALPERN, 2004, p.S68).

De acordo com Rohde and Halpern (2004, p.S68), “cerca de 70% dos pacientes com

TDAH respondem adequadamente aos estimulantes, com redução de pelo menos

50% dos sintomas básicos do transtorno.

Segundo Filho e Pastura (2003), a maioria dos efeitos colaterais do metilfenidato é

transitória, leve e aparecem nos primeiros dias ou semanas de tratamento e pouco

depois desaparecem. Alguns efeitos adversos são: insônia, irritabilidade, ansiedade

e dores abdominais, entre outros.

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Os medicamentos são tratados como a solução rápida e eficaz para todos os

problemas. Os remédios são vistos como o caminho para uma vida mais feliz e

segura em que o sofrimento é banido totalmente. No entanto com relação ao TDAH,

o tratamento medicamentoso agirá nos sintomas de hiperatividade, déficit de

atenção e impulsividade, mas dificilmente irá auxiliar a criança a compreender o que

está acontecendo com ela e a desenvolver estratégias para lidar de uma forma

menos danoso com tais sintomas. Dessa forma, concede-se uma solução para “a

parcela biológica” deixando de lado as questões afetivas e sociais que também

estão envolvidas.

De fato,

As promessas das novas medicações são cada vez mais sedutoras, pois ao invés de anos de tratamentos em um processo psicoterapêutico, as novas substâncias desenvolvidas acenam com a abolição dos sintomas em poucas semanas (RODRIGUES, 2003, p.13).

Dessa forma, houve uma supervalorização da reação clínica às substâncias

farmacológicas de forma que a mesma passou a fazer parte na caracterização do

quadro nosológico de cada doença. Nesse sentido, a compreensão neuroquímica

dos fenômenos psíquicos ganhou significativa importância na definição dos mesmos

(RODRIGUES, 2003).

É importante ressaltar que a medicação torna-se um importante instrumento no

tratamento de doenças e distúrbios, desde que utilizada de forma ética e

responsável. No entanto, a compreensão do ser humano não pode ser reduzida a

uma única abordagem, seja ela biológica, psicológica ou social. O homem é muito

mais amplo e complexo.

Contudo,

(...) a medicação vem sendo utilizada não somente como forma de alívio ou de cura de uma determinada síndrome, mas também como parte de um sistema que produz subjetividades privatizadas, desinvestidas de qualquer cogitação social ou política, alicerçadas na crença de uma suposta natureza humana normal, que ela promete restaurar (RODRIGUES, 2003, p.21).

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É acerca dessa forma de utilização despotencializadora dos medicamentos que

queremos refletir, pois os efeitos dessa prática são danosos para a sociedade como

um todo e, sobretudo, aos indivíduos como sujeitos capazes de positivar modos de

existência que privilegiam a vida e sua capacidade de adaptação e superação dos

obstáculos.

Quando um diagnóstico minucioso é concluído, e a avaliação é de que a criança

apresenta o TDAH, é necessário que intervenções na família e na escola sejam

iniciadas. A intervenção com os pais possui a finalidade de, principalmente, fornecer

informações acerca da hiperatividade para que os mesmos conheçam o transtorno

de forma a poder contribuir potencializando as habilidades da criança e, para que

não apresentem dúvidas e receios ao tratamento prescrito para a criança. O trabalho

desenvolvido na escola tem como objetivo preparar o professor para lidar com a

criança diagnosticada como hiperativa, pois sabendo das dificuldades da mesma o

profissional terá condições de trabalhar efetivamente para desenvolver as

habilidades e competências dessa criança (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003).

A presença dos sintomas básicos (hiperatividade, impulsividade e desatenção) do

TDAH por curtos períodos de tempo apontam para a possibilidade de que estes

estejam associados a outros problemas (emocionais, sociais ou até mesmo um outro

tipo de distúrbio) decorrentes de situações que a criança esteja vivendo. Para que a

possibilidade da criança apresentar o TDAH seja aventada é necessário que esses

sintomas básicos apresentem-se de forma sistemática, contínua e prolongada.

Segundo Rohde e outros (2000), existem algumas pistas que indicam a presença da

hiperatividade: os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade se

apresentam de forma duradoura, sejam freqüentes e intensos, persistam em vários

locais e ao longo do tempo e haja um prejuízo clínico significativo na vida da criança.

De acordo com Andrade e Scheuer (2004), 3% a 5% das crianças em idade escolar

apresentam esse transtorno, e nos EUA, dos encaminhamentos para serviços de

saúde mental, de 30% a 50% são determinados por sintomas de TDAH.

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Considerando as discussões desta seção foi possível perceber que a compreensão,

bem como o tratamento das dificuldades de atenção, especialmente com relação ao

TDAH, estão centralizadas no campo da medicina. Portanto, torna-se necessário a

relativização e ampliação do entendimento acerca das dificuldades de atenção para

que novas estratégias de abordagem sejam construídas no intuito de fornecer

alternativas àqueles que possuem tais dificuldades.

3.3. O TDAH E A SOCIEDADE A aceleração que o mundo globalizado nos impõe, bem como o excesso de

estimulação e o volume de informação a que somos submetidos, contribuem de

forma significativa na produção de tais problemas.

É possível observar em nossa sociedade a diminuição dos espaços públicos e o

conseqüente aumento dos espaços privados. A cada dia os espaços de moradia e

de convivência coletiva são diminuídos e as crianças, bem como os adultos, tem

refletido essa “falta de espaço” em suas condutas cotidianas. Em muitos casos, a

escola é o único lugar de convivência entre as crianças e onde elas podem

extravasar a energia acumulada nos apartamentos.

Se considerarmos tais exemplos como participantes no processo de produção das

dificuldades de atenção, vislumbramos a necessidade de que outras áreas do

conhecimento participem no diagnóstico e, principalmente, na intervenção de tais

problemas. O objetivo não é negar a existência de tais dificuldades e, sim, ampliar a

compreensão e as alternativas de abordagem das mesmas.

O termo estigma foi criado pelos gregos “para se referirem a sinais corporais com os

quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status

moral de quem os apresentava” (GOFFMAN, 1998, p.11). Na Era Cristã dois

significados foram agregados a esse termo: sinais de graça divina, expressos no

corpo com a forma de flores em erupção sobre a pele e sinais corporais de distúrbio

físico (alusão médica a essa alusão religiosa) (GOFFMAN, 1998).

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De acordo com Macedo (2005), para conhecermos o mundo é necessário

transformarmos o desconhecido em algo conhecido e comum, pois este se

apresenta como ameaçador. Esta é a lógica da semelhança que consiste em

organizar as coisas pelo conhecido. Tendemos a organizar aquilo que é

desconhecido em algo conhecido, pois agindo assim temos a impressão de que

podemos controlar o mundo, ao preço de excluirmos ou negarmos o que cai fora ou

escapa.

Cada sociedade estabelece categorias, com seus respectivos atributos, para

classificar as pessoas que dela fazem parte. Em nossa sociedade possuímos uma

série de categorias, tais como: classe média, classe baixa, classe alta,

trabalhadores, desempregados, “normais1“, deficientes físicos, deficientes auditivos,

hiperativos. As pessoas podem ser alojadas em uma, ou mais, dessas categorias a

partir de uma rápida avaliação por meio do observador, o que ocasiona, em algumas

situações, mal-entendidos e situações desagradáveis. O termo estigma é usado em

referência a algum atributo depreciativo. O estigma é uma relação entre o atributo e

o estereótipo, sob duas perspectivas a do desacreditado e a do desacreditável

(GOFFMAN,1998). A do desacreditado enquanto aquele que já deu mostras das

suas limitações e a do desacreditável enquanto aquele que, mesmo sem dar

mostras dessas, deve ser considerado a priori como tal devido a características que

não estão de acordo com o padrão de normalidade da sociedade e, portanto, são

responsáveis por conferir uma parcela de descrédito “natural” àqueles que as

possuam.

Características sociológicas do estigma: “um indivíduo que poderia ter sido

facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor

à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção

para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da

que havíamos previsto” (GOFFMAN, 1998, p.14).

Assim,

1 As aspas são para questionar esse termo, largamente utilizado, pois a normalidade é algo complexo

e que deve ser cautelosamente discutido e utilizado.

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Por definição, é claro, acreditamos que alguém com um estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida. Construímos uma teoria do estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo que ela representa, racionalizando algumas vezes uma animosidade baseada em outras diferenças, tais como as de classe social (GOFFMAN, 1998, p.15).

No entanto, existe uma outra lógica, a da diferença, que se apresenta como

(...) uma forma de organizar as coisas quanto à sua dimensão desconhecida, daquilo que está entre nós e dentro de nós, mas que não reconhecemos ou não sabemos como encaixar. Daí, como conseqüência, às vezes temos o vazio, o pânico, o êxtase que este vazio nos provoca ou produz (MACEDO, 2005, p. 13).

As considerações feitas acerca das crianças que possuem um diagnóstico de TDAH

são muito similares as das crianças que possuem indícios de tal síndrome. Os

professores e pais passam a enxergar essas crianças através da “lente do TDAH”,

limitando suas habilidades, competências e, por fim, as suas perspectivas de vida. O

TDAH se configura, em muitos casos, como um pesado fardo para o portador que o

torna “predestinado” ao fracasso em sua vida social, afetiva, psicológica, familiar.

Dessa forma, a busca neste trabalho é pela compreensão das crianças com

dificuldades de atenção de acordo com a lógica da diferença, ou seja, apreender as

particularidades das mesmas, de modo a construir uma visão menos estigmatizada

e reducionista, no intuito de resgatar a possibilidade de nos surpreendermos,

positivamente, com essas crianças ao olharmos para elas como sujeitos capazes de

vencer os obstáculos que lhe são apresentados pela vida.

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4. TEORIA PIAGETIANA, COGNIÇÃO E JOGOS DE REGRAS

4.1. CONCEITOS BÁSICOS PARA ENTENDER PIAGET De acordo com a pesquisa realizada nas obras de Jean Piaget, não há trabalhos

desse autor que abordem diretamente a questão da atenção. Portanto as

considerações a seguir foram construídas com base nos conceitos mais gerais de

sua obra.

Piaget (1962) explicita a existência de uma íntima relação entre afeto e inteligência.

Pois, para o mesmo

É incontestável que o afeto exerce um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, necessidade, motivação; e conseqüentemente, não haveria inteligência. A afetividade é uma condição necessária na constituição da inteligência, mas, em minha opinião, não é suficiente (PIAGET, 1962, p.01).

Dessa forma, em algumas situações o afeto pode levar ao erro, mas apenas os

fatores cognitivos poderiam corrigir tal estrutura. O afeto participa no

desenvolvimento da inteligência, no entanto, não é a causa da formação da mesma.

Portanto, a afetividade não é a única condição necessária para o desenvolvimento

estrutural (PIAGET, 1962).

A atenção é também regulada pela afetividade, pois a mesma é motivada e

direcionada segundo as necessidades e interesses do indivíduo. Assim, “Não há

atos de inteligência, mesmo de inteligência prática, sem interesse no ponto de

partida e regulação afetiva durante todo o processo de uma ação, sem prazer do

sucesso ou tristeza no caso do fracasso” (PIAGET, 1962, p.03). Até mesmo a

criança diagnosticada como possuidora do TDAH tem a capacidade de direcionar e

focar a atenção naquilo que é do seu interesse.

Dessa maneira,

(...) a construção do conhecimento, segundo a abordagem piagetiana, implica em momentos de equilíbrio – ou seja, de estabilidade provisória no funcionamento intelectual – e momentos de desequilíbrios, onde os esquemas disponíveis ao sujeito não são suficientes para assimilar os objetos” (DAVIS E ESPÓSITO, 1990, p.73).

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Os sucessivos equilíbrios e desequilíbrios fazem com que a relação do sujeito com o

ambiente esteja em constante modificação, pois os esquemas vão sendo

aperfeiçoados a partir da vivência de novas experiências (PIAGET, 1976).

Um conceito importante para entender como Piaget compreende o processo do

desenvolvimento cognitivo é o da Equilibração. Pois, para esse autor esse é um

problema central no desenvolvimento. Para Piaget (1976),

(...) a equilibração progressiva é um processo indispensável do desenvolvimento e um processo cujas manifestações se modificarão, de estágio em estágio, no sentido de um melhor equilíbrio em sua estrutura qualitativa como em seu campo de aplicação, (...) (PIAGET, 1976, p.23).

Na equilibração o indivíduo se encontra em sucessivos equilíbrios e desequilíbrios,

pois é dessa forma que ele conseguirá avançar no que diz respeito ao

desenvolvimento de suas estruturas cognitivas. Portanto, o esse processo é central

para a compreensão das etapas e das estruturas que se formam no decorrer do

desenvolvimento do indivíduo. Esse processo envolverá processos de acomodação

e assimilação.

Os processos de assimilação e acomodação estão dialeticamente relacionados, pois

participam ativamente na construção de novos sistemas de ação. Dessa forma,

define-se assimilação como “(...) incorporação de um elemento exterior (objeto,

acontecimento, etc.) em um esquema sensorimotor ou conceitual do sujeito”

(PIAGET, 1976, p.13). A acomodação é “(...) a necessidade em que se acha a

assimilação de levar em conta as particularidades próprias dos elementos a

assimilar” (PIAGET, 1976, p.14).

Piaget (1976) postula acerca da acomodação e da assimilação: 1) todo esquema de

assimilação tende a incorporar elementos novos e 2) os elementos assimilados

serão acomodados ao esquema de assimilação, ou seja, este irá se modificar em

função desses novos elementos, mas sem perder a sua continuidade. Dessa forma,

Piaget (1976) demonstra a necessidade de que exista um equilíbrio entre os

esquemas de assimilação e acomodação.

A definição do termo conduta é algo complexo, no entanto, entender a conduta como

um recorte de um campo mais amplo que é a afetividade faz com que a importância

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do mesmo seja clarificada. Portanto, a conduta está intimamente relacionada à

afetividade e a compreensão dessa relação é fundamental para a compreensão do

desenvolvimento da inteligência. Com o intuito de esclarecer um pouco mais essa

relação entre conduta, afetividade e inteligência nos remetemos a Queiroz (2000):

Piaget pôde novamente criticar sua hipótese de partida, assim enunciada: se a afetividade constitui a energética da conduta e se a inteligência ou a percepção constituem a estrutura, então muito naturalmente, cada transformação da conduta será simultaneamente uma transformação de estrutura (transformação intelectual) e uma transformação nas regulações energéticas (transformação afetiva) (QUEIROZ, 2000, p. 41).

Dessa forma, a afetividade se constitui enquanto o centro direcionador da conduta e

a relação entre ambas influencia no desenvolvimento das estruturas intelectuais

(inteligência). Portanto, as transformações afetivas culminam na transformação do

comportamento do indivíduo que, por sua vez, reverbera no desenvolvimento

intelectual do mesmo.

De acordo com Piaget (1976) há três tipos de conduta que estão relacionadas ao

nível de desenvolvimento estrutural desenvolvido pelo indivíduo. Essas condutas

são denominadas: alfa, beta e gama.

Na conduta alfa os elementos novos que aparecem não produzem modificações no

sistema ou constituem uma perturbação. No primeiro caso, o indivíduo negligenciará

o fato novo e no segundo caso o mesmo irá rejeitar o elemento novo. Portanto, as

compensações nesse tipo de conduta são parciais e o equilíbrio resultante

permanece instável (PIAGET, 1976).

A conduta beta consiste em modificar o sistema até tornar o fato novo como uma

variável do mesmo. A estrutura é então reorganizada para incorporar o elemento

novo aos que participavam da antiga organização. Nesse tipo de conduta considera-

se a existência de uma forma de compensação ainda parcial, mas bem superior à

conduta alfa (PIAGET, 1976).

A conduta gama, superior às duas primeiras, consiste em antecipar as variações

possíveis para que elas deixem de ser perturbadoras e sejam inseridas nas

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transformações virtuais do sistema. A compensação não tem mais o sentido de

eliminar as perturbarções do sistema e sim o de uma simetria que é inerente à

organização do mesmo (PIAGET, 1976).

Para continuarmos essa discussão é necessário esclarecer um ponto ainda obscuro.

Utilizamo-nos com frequência o termo conduta, mas como defini-la de forma clara?

Para tanto, recorreu-se a um dicionário comum para obter a definição desse que é

um tema bastante utilizado em nossa linguagem cotidiana. De acordo com o Novo

Dicionário da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1986) o termo conduta possui as

seguintes definições: 1. Procedimento moral (bom ou mau); 2. Comportamento.

Tomando como referência essa definição o que podemos apreender do significado

do termo conduta? Será que esse é também o significado do termo conduta na

teoria de Piaget?

Para Piaget (1980/ 1996), o desenvolvimento ocorre de forma dialética, e para

compreendê-lo faz-se necessário aprofundar o conhecimento acerca das

implicações entre ações e operações, pois é por meio de tais implicações que o

processo de transformação é desencadeado. As implicações entre as ações e

operações configuram-se enquanto um processo de construção de significações

para as experiências vividas, ou seja, é como damos significados a tudo aquilo que

se constitui enquanto foco da nossa atenção.

Dessa forma,

(,,,) a dialética consistirá essencialmente em construir novas interdependências entre significações, as mais simples sendo solidárias e indissociáveis desde o início, e o mais geral dos círculos dialéticos sendo, sem dúvida, aquele que liga as implicações e as significações (PIAGET, 1980/ 1996, p. 13).

Portanto, a formação da dialética de se dá a partir da construção de tais

interdependências “(...) que constituem o aspecto inferencial de equilibração e que

procedem por implicações entre ações enquanto portadoras de significações”

(PIAGET, 1980/1996, p. 14). Dessa forma, observa-se a íntima relação entre a

formação da dialética e o processo de equilibração.

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Ainda de acordo com Piaget (1962), o desenvolvimento infantil das estruturas

cognitivas se dá por meio de quatro estádios: sensório-motor, pré-operatório,

operatório-concreto e operatório-formal.

Em cada estádio o indivíduo desenvolverá noções que serão utilizadas pelo

indivíduo nos estádios subseqüentes para que esse avance até o último estádio do

desenvolvimento – o operatório formal. Os estádios não são fixos, ou seja, um

indivíduo não estará totalmente em um único estádio; ele estará prioritariamente em

um estádio, mas poderá apresentar condutas referentes a estádios anteriores.

De acordo com Piaget (1973), o desenvolvimento intelectual é dividido em três

grandes períodos: período da inteligência sensório-motor, período de preparação e

de organização das operações concretas de classes, relações e números e o

período das operações formais. A seguir os períodos serão explicitados de forma

mais detalhada. O período mais importante para presente pesquisa é o período das

operações concretas, visto que os participantes da pesquisa encontram-se na faixa

etária dos nove aos onze anos.

A principal noção desenvolvida no período sensório-motor é a de objeto permanente.

Pois, “O estado inicial é caracterizado pela ausência de objetos permanentes. O

universo consiste numa série de figuras momentâneas e em movimento” (PIAGET,

1962, p.5).

Portanto, se um chaveiro, ou até mesmo uma pessoa, for retirada da frente da

criança deixará de existir para a mesma. Dessa forma, a cada vez que um brinquedo

for apresentado à criança é como se ela o visse, novamente, pela primeira vez. No

início do estádio sensório-motor é como se a criança visse os objetos sempre pela

primeira vez. No entanto, “No final, acontece a descentração, onde há um universo

de objetos permanentes, de um espaço e uma causalidade entre os objetos”

(PIAGET, 1962, p.5).

De acordo com Piaget (1973) o período sensório-motor vai do nascimento ao

aparecimento da linguagem e é subdividido em seis estágios. Estes estão descritos

no Quadro 3.

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O período de preparação e de organização das operações concretas de classes,

relações e número é subdividido em duas partes: subperíodo das representações

pré-operatórias ( 2 a 7- 8 anos) e subperíodo das operações concretas ( 7- 8 a 11 –

12 anos). São consideradas

operações concretas as que se dirigem sobre objetos manipuláveis (manipulações efetivas ou imediatamente imagináveis), por oposição ás operações se dirigindo sobre hipóteses ou enunciados simplesmente verbais (lógica das proposições) (PIAGET, 1973, p.55).

No subperíodo das representações pré-operatórias ocorre o aparecimento da função

simbólica (linguagem, jogo simbólico (ou de imaginação) em oposição aos jogos de

exercício do período sensório-motor e o começo da interiorização dos esquemas de

ações em representações, ou seja, “Plano de representação nascente: dificuldades

de aplicação ao espaço não próximo e ao tempo não presente dos esquemas de

objeto, de espaço, de tempo e de causalidade já utilizados na ação efetiva (PIAGET,

1973, p. 56).

De acordo com Piaget (1973), o subperíodo das operações concretas é formado por

várias estruturas em vias de consolidação: “tais são as classificações, as seriações,

as correspondências termo a termo, as correspondências simples ou seriais, as

operações multiplicativas (matrizes), etc” (PIAGET, 1973, p.57). Portanto, nesse

subperíodo a criança desenvolve tais noções, pois é uma preparação para chegar

ao último estádio – o operatório formal.

Ainda com relação a esse subperíodo das operações concretas,

(...) pode ser subdividido e dois estágios: um, das operações simples e o outro, do acabamento de certos sistemas de conjunto no domínio do espaço e do tempo, em particular. No domínio do espaço, é o período onde a criança atinge, aos 9-10 anos somente, os sistemas de coordenadas ou de referências (representação das verticais e das horizontais em relação a essas referências (PIAGET, 1973, p.57).

Portanto, neste subperíodo a criança desenvolve a capacidade de resolver

problemas, entretanto, essa capacidade encontra-se limitada ao concreto, ou seja,

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ela precisa que as situações sejam apresentadas concretamente (ou representadas)

para que consiga resolvê-las.

O período das operações formais é marcado por diversas transfomações e pela

consolidação das estruturas necessárias para o desenvolvimento do raciocínio

lógico-matemático. O que aparece, principalmente nesse nível “é a lógica das

proposições, a capacidade de raciocinar sobre enunciados, sobre hipóteses e não

mais somente sobre objetos postos sobre a mesa ou imediatamente representados”

(PIAGET, 1973 p.59).

Esse é período em que a criança desenvolve o pensamento abstrato e,

diferentemente do subperíodo das operações concretas, não e resolução de

problemas não está restrita à representação concreta do mesmo, pois ela

desenvolveu a capacidade de representar mentalmente os problemas, bem como os

objetos e as situações a serem resolvidas.

De acordo com Piaget, os estágios são interdependentes e indispensáveis para o

desenvolvimento, ou seja, a criança não poderá “pular” os mesmos. A ordem

apresentada de sucessão é fixa, no entanto, um estágio não desaparece

completamente quando a criança passa para o seguinte, eles se interpenetram em

uma relação dialética. Pois, de acordo com Piaget (1980/ 1996, p.12)

(...) toda dialética comporta processos circulares entre os passos proativos e retroativos, e são estes que dão conta da formação das aparências de necessidades pré-formadas, enquanto a necessidade autêntica só se constitui ao longo e no final de todo desenvolvimento dialético.

Dessa forma, há um contínuo movimentar da criança pelos estágios que acompanha

as experiências que vão sendo experimentadas a cada instante da vida, ou seja,

enquanto há vida, há movimento e desenvolvimento e vice-versa.

Para finalizar, de acordo com Piaget (1973, p. 59),

(...) esses três grandes períodos, com seus estágios particulares, constituem processos de equilibração sucessivos, marchas para o equilíbrio. Desde que o equilíbrio seja atingido num ponto, a estrutura está

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integrada num novo sistema em formação, até um novo equilíbrio sempre mais estável e de campo sempre mais extenso.

Portanto, durante todo o desenvolvimento o indivíduo passará por sucessivos

equilíbrios e desequilíbrios, pois apenas dessa forma é que novas estruturas e

novos esquemas serão construídos e incorporados possibilitando um

desenvolvimento permanente. Esses novos esquemas que serão construídos não

estão pré-determinados e, portanto, estão passíveis de se configurarem de forma

diferente do esperado. O diferente é muitas vezes considerado com errado e na

sociedade em que vivemos não há espaço para o que “sai da norma”, pois o intuito é

padronizar os indivíduos nos modos de agir, de pensar, enfim, de existir.

Em nossa sociedade erro é o contrário de acerto e, portanto, precisa ser castigado

para que não venha a ocorrer novamente. É fonte de culpa, sofrimento, angústia,

especialmente no contexto escolar. Neste o erro é sinônimo de fracasso. No entanto,

para Piaget, citado por Macedo (1994, p.64), o erro deve ser interpretado de uma

outra forma, pois para a teoria construtivista “(...) a questão é a de invenção e

descoberta e não necessariamente de acerto ou erro, como considera, muitas

vezes, uma visão formal ou do adulto”. O erro pode ser considerado como uma

alternativa que não se enquadra na visão padronizada ou formal, mas isso não

significa que, necessariamente, será algo ruim ou negativo.

Contudo, em nossa sociedade há uma forma paradoxal de lidar com o erro, pois

este é expurgado na linguagem escrita e aceito na linguagem coloquial. Existe um

verdadeiro abismo entre essas duas formas de linguagem no que tange à aceitação

do erro.

De acordo com Davis e Espósito (1990) para uma proposta de ensino-aprendizagem

derivada da teoria psicogenética a conduta apropriada deveria ser a seguinte:

(...) partir dos conhecimentos que os alunos já possuem, ou seja, de seus sistemas de significação; apresentar problemas que gerem conflitos cognitivos; dar ênfase à maximização do desenvolvimento e não apenas à busca de resultados, centrando-se no processo de construção do conhecimento; aceitar soluções “erradas” como pertinentes, desde que indicadoras de progressos na atividade cognitiva; fazer com que os alunos tomem consciência dos erros cometidos, percebendo-os como problemas a

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serem enfrentados, sem que se lhes imponham caminhos previamente traçados (p.73).

Dessa forma o erro seria uma fonte de novas possibilidades e de aprendizado e não

um símbolo do fracasso individual. O erro é tido como algo que pertence,

intrinsecamente, a alguém, ou seja, é fruto da incapacidade da própria pessoa. No

entanto, para que o erro seja estuda de forma construtiva faz-se necessário analisá-

lo em toda a sua complexidade, buscando a compreensão dos múltiplos fatores que

estão envolvidos nesse processo.

4.2. O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO NA TEORIA PIAGETIANA Atualmente, o brincar tem sido considerado de fundamental importância para o

desenvolvimento da criança.

Dessa forma,

Fatores como a entrada da mulher no mercado de trabalho, alterações nas concepções de família e o ritmo frenético da vida nas grandes cidades contribuíram para realçar a importância do lúdico no contexto do desenvolvimento humano, na medida em que cada vez mais, nos dias atuais, o tempo e o espaço do brincar encontram-se ameaçados, acarretando conseqüências funestas para o desenvolvimento da criança, tais como o isolamento e a falta de solidariedade, que sinalizam uma diminuição exacerbada da dimensão humana, a qual floresce nas relações com o outro” (VECTORE, 2003, p.106).

As características dos jogos em geral permitem a construção de uma situação

prazerosa para a criança, fazendo com que ela se sinta à vontade para partilhar o

seu universo com os demais. O jogo motiva a criança e a torna receptiva com

relação à colaboração na situação de pesquisa. É necessário ressaltar que “o jogo

proporciona o treino das capacidades deficitárias das crianças hiperativas e,

conseqüentemente, conduz a resultados satisfatórios em outras habilidades de

desenvolvimento” (BARROS, 2002, p. 74).

Os conceitos de Jogo, Brinquedo e Brincadeira são muitas vezes confundidos, pois

possuem uma relação muito próxima, no entanto, faz-se necessário diferenciá-los

para que possam ser entendidos de forma mais aprofundada. “No Brasil, termos

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como jogo, brinquedo e brincadeira ainda são empregados de forma indistinta,

demonstrando um nível baixo de conceituação deste campo”(KISHIMOTO, 1997,

p.17).

Definir o conceito de jogo é algo complexo, pois pode ser entendido de diversas

formas por diferentes pessoas. Há vários tipos de jogos: amarelinha, faz-de-conta,

xadrez, dama, jogos políticos. Apesar de todos serem denominados como jogo, cada

um possui a sua especificidade (KISHIMOTO, 1997).

Portanto,

Uma mesma conduta pode ser jogo ou não-jogo em diferentes culturas, dependendo do significado a ela atribuído. Por tais razões fica difícil elaborar uma definição de jogo que englobe a multiplicidade de suas manifestações concretas. Todos os jogos possuem peculiaridades que os aproximam ou distanciam (KISHIMOTO, 1997, p.15).

Dessa forma, podemos considerar o jogo como algo variável e que o significado que

receberá está intimamente relacionado com os valores e os costumes de cada

sociedade. Algumas atividades podem ser consideradas como jogo em uma

determinada cultura e como não-jogo em uma outra.

De acordo com Huizinga, citado por Rossetti (2001),

(...)para ser jogo, uma atividade tem que ser não-séria, livre (no sentido de que só joga quem quer jogar), diferente e separada da vida cotidiana, desvinculada de qualquer interesse material, tem que apresentar regras que sejam partilhadas por todos os jogadores, tem que ser uma atividade fictícia e com começo meio e fim (ROSSETTI, 2001, p.24).

Diferentemente do jogo, “o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e

uma indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras

que organizam sua utilização” (KISHIMOTO, 1997, p.18). O brinquedo permite à

criança representar a realidade em que ela vive (KISHIMOTO, 1997). É uma forma

de a criança exercitar os valores e as regras que ela terá que apreender no decorrer

da sua vida em sociedade.

A brincadeira,

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É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Desta forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo (KISHIMOTO, 1997, p.2, grifo do autor).

Segundo Piaget (1978) os jogos são caracterizados em três grupos principais: os

jogos de Exercício, os Jogos Simbólicos e os Jogos de Regras. Os dois primeiros

grupos surgem em um período anterior ao do terceiro grupo. Cada tipo aparece em

período determinado do desenvolvimento. Estes são assim caracterizados:

Os Jogos de Exercício, “(...) não supõem qualquer técnica particular: simples

exercícios, põem em ação um conjunto variado de condutas, mas sem modificar as

respectivas estruturas, tal como se apresentam no estado de adaptação atual”

(PIAGET, 1978, p.144).

Portanto, os jogos de exercício proporcionam à criança o prazer da repetição. É

como se essa repetição a ajudasse a fixar as estruturas que estão em fase de

consolidação. A criança executa a tarefa que se propõe não por necessidade, mas

por mero divertimento (PIAGET, 1978).

Os Jogos de Exercício são atividades lúdicas típicas do período sensório-motor (0 a

2 anos) em que as ações são repetidas pelo prazer funcional que proporcionam

(ROSSETTI, 2001). É um período em que a criança está conhecendo a si e ao

mundo que a cerca, portanto é uma atividade que visa a exploração com a finalidade

de conhecer os mesmos.

Quanto aos Jogos Simbólicos,

Ao invés do jogo de exercício, que não supõe o pensamento nem qualquer estrutura representativa especificamente lúdica, o símbolo implica a representação de um objeto ausente, visto ser comparação entre um elemento dado e um elemento imaginado, e uma representação fictícia, porquanto essa comparação consiste numa assimilação deformante (PIAGET, 1978, p. 146).

Portanto, os Jogos Simbólicos são típicos do período pré-operatório (2 a 7 anos) e

caracteriza-se pela capacidade de presentificar coisas, pessoas e objetos por meio

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da representação dos mesmos. São exemplos destes os jogos de faz-de-conta, as

fantasias, entre outros (ROSSETTI, 2001).

E os Jogos de Regras que

(...) caracterizam a atividade lúdica da criança a partir do período de desenvolvimento cognitivo operatório concreto, que se inicia, em geral, entre sete ou oito anos, tendo como particularidade principal a presença e a utilização de regras que regulam as ações durante o jogo. Em lugar do símbolo que é puramente individual e específico para cada criança, as regras supõem, necessariamente, relações sociais ou interindividuais. Assim, a regra é uma regularidade imposta pelo grupo e a sua violação representa uma falta (ROSSETTI, 2001, p.29-30).

O jogo de regras pode ter os mesmos componentes do jogo de exercício e do jogo

simbólico, no entanto, apresenta um elemento novo que é a regra (PIAGET, 1978).

“A regra é uma regularidade imposta pelo grupo, e de tal sorte que a sua violação

representa uma falta” (PIAGET, 1978, p. 148), portanto, ela é responsável pelo

desenvolvimento do senso de limites, tão imprescindível para a convivência em

sociedade.

Dessa forma, a importância do jogo é ressaltada constantemente, tanto pela sua

fonte de divertimento, descontração, integração como pelo seu importante papel no

desenvolvimento cognitivo não só do indivíduo no período da infância, mas durante

toda sua vida.

4.3. O JOGO MANCALA, A ATENÇÃO E A CONCENTRAÇÃO De acordo com Ribeiro (2001),

O jogo e a brincadeira têm sido tema de reflexão de vários pensadores por sua importância para o ser humano e para o desenvolvimento da criança. Na área das disciplinas aplicadas, têm sido propostos como recursos pedagógicos, de diagnóstico psicológico ou psicopedagógico e como forma de psicoterapia (RIBEIRO, 2001, p.28).

Portanto, a escolha do jogo como instrumento de intervenção se deve,

principalmente, ao seu importante papel na produção de “(...) uma experiência

significativa para as crianças tanto em termos de conteúdos escolares como do

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desenvolvimento de competências e de habilidades.” (MACEDO, PETTY E

PASSOS, 2000, p.06). Dessa maneira, o jogo pode tornar-se um instrumento

bastante eficaz no trabalho com crianças que apresentam traços de déficit de

atenção, em ambiente escolar, pois podem ajudar a controlar os sintomas típicos

com esforço voluntário ou em atividades de interesse (ROHDE ET AL, 2000).

Considerando que os participantes do presente trabalho estarão na faixa etária que

corresponde ao período operatório-concreto o jogo escolhido como forma de

intervenção será o jogo de regra denominado Mancala.

Segundo Retschitzki, Assandé e Loesch-Berger (1986), no Mancala,

No que concerne à natureza das atividades colocadas em ação quando de uma partida, podemos afirmar que são os aspectos intelectuais que dominam. Com efeito, o acaso não tem qualquer influência sobre o desenrolar do jogo” (RETSCHITZKI, ASSANDÉ E LOESCH-BERGER, 1986, p. 308).

O Mancala é um jogo de regra que possui cerca de 200 diferentes modalidades de

realização. Estima-se que o Mancala tenha entre 3500 e 7000 anos e que seja

originário do antigo Egito já que vestígios de tabuleiros foram encontrados na

pirâmide de Keops, nos templos de Luxor e Kamak e nos desertos da Arábia e que

tenha sido jogado por diversas culturas ao longo dos anos. Cada cultura possui uma

forma particular de jogar o Mancala e concede ao mesmo uma significação social

específica.

A particularidade comum do Mancala,

(...) é de se jogar com grãos (ou pedregulhos ou pequenas conchas) que são semeados nas casas escavadas geralmente num tabuleiro de madeira (às vezes no solo). Essas casas são dispostas em várias fileiras e um, sentido de percurso das sementes é fixado. O objetivo do jogo é colher o máximo de grãos segundo as regras que se referem à repartição numérica dos grãos nas casas (RETSCHITZKI; ASSANDÉ E LOESCH-BERGER, 1986, p .308).

O Mancala recebe diferentes denominações de acordo com a região em que é

jogado. No Sudão, Gâmbia, Senegal e Haiti é conhecido como Wari, na Nigéria

como Ayo e no Brasil era chamado de Adi pelos escravos que o trouxeram da África

(Neto,1989). Além disso, “Existem múltiplas variantes que se apresentam com

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nomes muito diversos: Kalah, Mancala, Serata, Palankuli, Wari, Solo, etc...”

(RETSCHITZKI; ASSANDÉ E LOESCH-BERGER, 1986, p.308).

Segundo Retschitzki (1990), a particularidade dos jogos de sementes está no fato de

que as peças (sementes) não pertencem a nenhum dos jogadores. A posição das

mesmas (o território do jogador em que ela se encontra) é que determinará quem

poderá manipulá-las.

Como o Mancala é uma reunião de diversos jogos (com regras e tabuleiros distintos)

faz-se necessário que uma das diferenciadas formas de jogar seja escolhida. A

descrição do jogo que será utilizado, bem como as regras do mesmo serão

apresentadas nos tópicos que se seguem (MACEDO, PETTY E PASSOS, 2000;

ZASLAVSKY, 2000).

Na modalidade escolhida o jogo é composto por um tabuleiro retangular de madeira

com 14 cavidades divididas em duas fileiras de 6 casas cada uma em que as duas

casas restantes serão utilizadas como reservatório (denominado oásis) e 36

sementes que serão distribuídas no mesmo.

Figura 2 – Tabuleiro e Peças do Jogo Mancala Podemos descrever as suas regras da seguinte forma: é um jogo para apenas dois

jogadores; são colocadas 3 sementes em cada uma das 12 cavidades, com exceção

dos oásis; a área de cada jogador é composta por uma fileira e o oásis que está à

sua direita (que só será utilizado pelo proprietário); para jogar o participante deverá

distribuir todas as sementes, de uma de suas 6 casas (exceto o oásis), uma a uma

nas casas subseqüentes, em sentido anti-horário; o jogador nunca colocará

sementes no oásis adversário; toda vez que o jogador passar pelo seu próprio oásis

uma semente será colocada no mesmo, sendo que as sementes que forem

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colocadas não poderão ser utilizadas novamente no jogo; quando a última semente

da distribuição (semeadura) parar em uma casa vazia pertencente ao jogador, ele

poderá capturar todas as sementes que estiverem na casa adversária em frente,

colocando-as em seu oásis; ao terminar a semeadura o jogador passa a vez, exceto

quando a última semente distribuída for colocada no próprio oásis (nesse caso, ele

poderá jogar novamente, selecionando uma casa do próprio campo para realizar a

distribuição); o jogo será encerrado quando todas as casas estiverem vazias, ou

quando o número de sementes não for suficiente para alcançar o lado do adversário;

o vencedor será aquele que tiver um maior número de sementes em seu oásis; as

sementes que restarem no tabuleiro não participarão na contagem final.

A simplicidade das regras apresentadas acima possibilita uma rápida aprendizagem

das mesmas. O bom desempenho no jogo é adquirido por meio da experiência

prática do jogador com o mesmo. Essas facilidades fazem com que o estudo das

práticas de crianças com dificuldades de atenção em comparação com crianças que

não possuem indícios das mesmas no que diz respeito a estratégias e condutas no

decorrer do jogo sejam possíveis e repletos de ensinamentos (RETSCHITZKI;

ASSANDÉ E LOESCH-BERGER, 1986).

O Jogo Mancala é um instrumento que possibilitará a análise dos elementos:

atenção nas próprias jogadas e nas jogadas do adversário, construção de

estratégias, observação das estratégias do outro jogador, antecipação e

relacionamento interpessoal. A possibilidade de observação desses elementos no

jogo Mancala torna-o adequado para a utilização no presente trabalho, visto que são

essas características, ou a ausência delas, que objetivamos observar nos

participantes com indícios de déficit de atenção.

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5. POSIÇÃO DO PROBLEMA

Diante do exposto, torna-se pertinente o questionamento: As crianças com indícios

de dificuldade de atenção têm um desempenho geral inferior às crianças que não

possuem tais indícios com relação ao desempenho no Jogo Mancala?

Para tanto, foi realizado um estudo comparativo entre crianças com indícios de

dificuldades de atenção e crianças que não possuem os mesmos, com respeito ao

desempenho no jogo Mancala. O presente trabalho visa avaliar se traços referentes

à dificuldade de atenção são apresentados, no decorrer do jogo Mancala, pelas

crianças apontadas pelos professores como possuidoras de tais indícios no contexto

escolar e se o desempenho das crianças que possuem tais indícios é discrepante

com relação ao desempenho das crianças ditas “normais”.

5.1. OBJETIVO GERAL

Esse trabalho tem como objetivo avaliar a possibilidade de utilização do jogo

Mancala, como uma forma de ampliar a compreensão acerca das dificuldades de

atenção, seus sintomas e efeitos e para favorecer a construção de estratégias de

diagnóstico dessa dificuldade.

5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Discutir questões teóricas acerca do Transtorno de Déficit de Atenção/

Hiperatividade (TDAH);

b) Identificar especificidades acerca da prática dos Jogos de regras, em especial

o Jogo Mancala;

c) Identificar, no contexto escolar, crianças que possuem indícios do TDAH e

crianças que não possuem tais indícios;

d) Realizar um estudo comparativo entre essas crianças por meio de oficinas,

utilizando o Jogo Mancala para observar as diferenças no desempenho das

mesmas, bem como as condutas de desatenção ocorridas durante a prática

do jogo;

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e) Observar o desempenho dos dois grupos de crianças quando expostas a

situações-problema relacionadas ao Jogo Mancala;

f) Verificar a possibilidade de utilizar o jogo Mancala como alternativa para

avaliação de crianças com dificuldades de atenção.

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6. MÉTODO

6.1. PARTICIPANTES Para que a presente pesquisa fosse viabilizada duas escolas foram contatadas: uma

de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Vitória e uma Escola Privada de

Ensino Fundamental, ambas em Vitória, ES. O contato foi realizado no intuito de que

as mesmas participassem e colaborassem com a pesquisa. Foi solicitado, à Escola

da Rede Pública, permissão para que as oficinas entre os participantes das duas

escolas fossem realizadas em suas dependências.

Não houve resistência por parte da escola em permitir a realização das oficinas e,

portanto, a maior parte da coleta de dados foi realizada na escola de ensino

fundamental da rede pública, e na escola da rede privada foi realizado o contato com

a professora. Os participantes foram indicados pelas professoras das mesmas. As

crianças que participaram da pesquisa se encontravam na faixa etária de 09 – 11

anos, três crianças estavam cursando a 4a. série e uma cursava a 3a. série à época

em que a pesquisa foi realizada. Três dos participantes estudavam na mesma

escola, portanto, apenas uma professora, que lecionava nas duas classes, participou

da seleção. O outro participante foi selecionado pela professora da escola onde

estudava.

A escolha dessa faixa etária baseou-se nos escritos de Piaget (1978) sobre a

evolução dos jogos infantis, no que diz respeito ao período de constituição dos jogos

de regras. Segundo esse autor, os jogos de regras só se constituem no decorrer da

fase II (dos quatro (4) aos sete (7) anos), mas principalmente no decorrer da fase III

(sete (7) aos onze (11) anos).

O gênero não foi utilizado como critério para a seleção dos participantes. A escolha

dos participantes deu-se de acordo com a indicação da professora. Os participantes

dos dois grupos passaram pelas mesmas etapas para que a seleção fosse

efetivada.

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Para a seleção dos participantes foi utilizado o método da escolha “cega”, ou seja, a

pesquisadora não teve conhecimento acerca de quais eram as crianças que

possuíam os traços de TDAH e quais as que não possuíam tais traços. As

entrevistas com a professora e com os pais foram realizadas por duas monitoras,

sem a participação da pesquisadora. Esse método foi utilizado no decorrer de toda

coleta de dados a fim de que conceitos e expectativas não fossem construídos antes

do contato com os participantes. A pesquisadora foi informada acerca do grupo (com

ou sem dificuldades de atenção) das crianças apenas ao final da coleta de dados.

Os participantes foram divididos em dois grupos: os do Grupo A foram indicados

pelas professoras como possuidores de traços de TDAH. Portanto, essas crianças

não possuem um diagnóstico fechado e, conseqüentemente, não estavam fazendo

uso de medicação no decorrer da coleta de dados. Essa medida visa eliminar a

variável medicamento, pois a mesma poderia interferir de forma significativa no

resultado final da pesquisa. Há ainda um Grupo B formado por crianças que também

foram indicadas pelas professoras como não possuidoras de traços de TDAH. Cada

grupo foi formado por 02 participantes, dessa forma a pesquisa foi realizada com um

total de 04 participantes. Para garantir o anonimato dos participantes os nomes

originais foram trocados por nomes fictícios.

Grupo A Fem/Masc Idade Grupo B Fem/Masc Idade André M 10 Bruno M 9 Antônio M 9 Beatriz F 10

Quadro 3 - Divisão dos Participantes por Grupos

6.2. INSTRUMENTOS Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram o jogo Mancala, a Escala

de TDAH – versão para professores (BENCZIK, 2000) e a tabela de diagnóstico

utilizada para pais. A confirmação das indicações das professoras foi efetivada por

meio da aplicação da escala de TDAH – versão para professores (BENCZIK, 2000).

Após essa etapa uma tabela2 diagnóstica para pais foi utilizada.

2 A escala encontra-se disponível em: www.tdah.org.br. Acesso em 12/08/2004. Página eletrônica da

Associação Brasileira do Déficit de Atenção - ABDA.

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O Jogo Mancala foi descrito na seção introdutória (VER PÁG.44) do presente

trabalho.

A Escala de TDAH – versão para professores foi construída, validada e padronizada

no Brasil e, portanto, considera questões sociais e políticas da nossa realidade.

Essa é composta por 49 itens agrupados em três fatores: déficit de

atenção/problemas de aprendizagem; hiperatividade/impulsividade e comportamento

anti-social. O número de itens ficou assim distribuído: déficit de atenção (itens 1 a 16

da escala, sendo que 6 são positivos para o TDAH e 10 negativos);

hiperatividade/impulsividade (itens 17 a 28, sendo 9 positivos e 3 negativos);

problemas de aprendizagem (itens 29 a 42, sendo 6 positivos e 8 negativos) e

comportamento anti-social (itens 43 a 49, sendo 4 positivos e 3 negativos). Os itens

positivos o são para a presença do TDAH e os negativos para ausência do TDAH. A

escala é do tipo Likert de 6 pontos em que a professora deve assinalar: DT (discordo

totalmente), D (discordo), DP (discordo parcialmente), CP (concordo parcialmente),

C (concordo) e CT (concordo totalmente) de acordo com as afirmações

apresentadas em cada item (BENCZIK, 2000).

O objetivo dessa escala é avaliar sintomas comportamentais do TDAH em ambiente

escolar considerando, para tanto, as informações apresentadas pelo professor

(BENCZIK, 2000). Não se pretende traçar um quadro completo das condutas da

criança, mas sim obter informações relativas às impressões dos professores acerca

da mesma já que “Certamente, há outros métodos para avaliar a resposta da criança

ao tratamento, mas as escalas de verificação de comportamentos são uma

ferramenta de valor na identificação e na avaliação da eficácia das intervenções”

(BENCZIK, 2000, p. 22).

A tabela utilizada com os pais possui 18 itens em que 09 estão relacionados ao

déficit de atenção e 09 a hiperatividade/impulsividade. Essa está organizada para

que os pais assinalem: Nunca ou raramente, Pouco, Bastante ou Quase sempre, de

acordo com a freqüência em que os filhos apresentam os comportamentos descritos

na tabela. Essa tabela pode ser visualizada no APÊNDICE I.

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6.3. PROCEDIMENTOS Após a permissão por parte das escolas para efetivação da coleta em seus

respectivos espaços físicos e com seus alunos, foi realizada uma entrevista com as

professoras de crianças na faixa etária de 09 a 11 anos de idade, no intuito de que

os possíveis participantes fossem identificados. Assim, solicitou-se à professora que

identificasse dois alunos com indícios de dificuldade de atenção e dois alunos que

não possuíssem tais indícios. Após a indicação dos participantes, as professoras

responderam à Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – versão

para professores, com a finalidade de confirmar as indicações feitas. As professoras

preencheram uma escala para cada criança, analisando-as individualmente.

Após essa etapa inicial, foi realizada uma entrevista de anamnese com os

responsáveis pelos participantes. Nesse encontro foi aplicada uma outra tabela de

diagnóstico TDAH – versão para pais e um termo de consentimento informado foi

assinado pelos mesmos.

Portanto, antes que as oficinas fossem iniciadas realizou-se uma reunião com as

professoras para identificar os possíveis participantes e, posteriormente, com os pais

para que pudessem assinar o termo de consentimento e, dessa forma, permitir a

participação do filho na coleta de dados.

Os dados foram coletados por meio de oficinas de jogos que ocorreram nas de

pendências da própria escola. As oficinas iniciais ocorreram no primeiro tempo de

aula e as finais, por solicitação da própria escola, ocorreram no horário do recreio.

Cada criança participou de um total de 04 (quatro) oficinas, sendo que em cada uma

foram jogadas cinco (05) partidas, totalizando vinte partidas para cada participante.

A primeira oficina foi realizada com a participação da criança, do pesquisador e de

um monitor (para auxiliar no registro das informações coletadas), e teve como

objetivo apresentar, por meio de um protocolo de instrução padrão (APÊNDICE II),

as regras do jogo Mancala, utilizado como instrumento no presente trabalho. Esse

protocolo tem como finalidade padronizar a forma de apresentação das regras do

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jogo para os participantes fazendo com que isso não se converta em variável capaz

de modificar significativamente o resultado final desse trabalho.

Durante o processo de seleção dos participantes foi utilizado como instrumento

principal a Escala de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – versão

para professores (BENCZIK, 2000). Nesse período, doze (12) crianças foram

indicadas pelas professoras. Portanto, esta preencheu doze (12) escalas – uma para

cada criança. O número elevado de crianças no processo de seleção foi necessário,

pois a indicação da professora deveria ser confirmada na referida Escala por meio

da apresentação de, no mínimo, um percentil 95 no item “Déficit de Atenção”. De

acordo com o manual da referida Escala no percentil 95 encontra-se a região onde

há maior probabilidade de ocorrer esse transtorno (BENCZIK, 2000, p.56). Houve

ainda um caso em que os pais não autorizaram a participação da criança na

pesquisa. Em um outro caso, a mãe revelou, previamente, para a experimentadora

que a criança possuía tais problemas. Devido a técnica da “experimentação cega” os

dados, acerca desse participante, não foram utilizados.

A correção da Escala de TDAH – versão para professores (BENCZIK, 2000) se dá

por meio de um somatório entre os sub-itens de cada grupo (Déficit de atenção,

Hiperatividade/Impulsividade, Problemas de Aprendizagem e Comportamento Anti-

social), após faz-se a correspondência desses números em uma tabela contendo

percentis. Estes são os responsáveis pela localização do indivíduo que está sendo

avaliado em uma das quatro regiões descritas como: abaixo da expectativa –

apresenta menos problemas que a maioria das crianças (até percentil 25); média

e/ou dentro da expectativa (percentis de 26 a 75); acima da expectativa – apresenta

mais problemas que a maioria das crianças (percentis de 76 a 94) e região onde há

maior probabilidade de apresentar o transtorno (percentil 95) (BENCZIK, 2000). Os

percentis apresentados por cada participante de acordo com a escala preenchida

pela professora serão apresentados no quadro a seguir:

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Participante Déficit de Atenção

Hiperatividade/ Impulsividade

Problemas de aprendizagem

Comportamento anti-social

André 95 65 80 40 Antônio 99 95 99 85 Bruno 5 45 10 1 Beatriz 5 10 10 35

Quadro 4 - Percentis de cada participante na escala de TDAH – Versão para Professores O critério de seleção adotado foi de que o participante, com dificuldade de atenção,

deveria apresentar um percentil 95 no item “Déficit de Atenção” na Escala de TDAH

– versão para professores. Para os participantes que não possuíssem tais

dificuldades o percentil deveria estar classificado como “abaixo da expectativa ou

média e/ou dentro da expectativa” (até o percentil 75).

Assim, após o processo de seleção apenas três crianças puderam participar da

coleta de dados, pois cumpriram os requisitos da escala. Devido a essa dificuldade

foi necessário buscar uma outra escola para que o último participante fosse

selecionado. Dessa forma foi estabelecido contato com uma escola de ensino

fundamental do setor privado e o número de participantes foi então completado.

Ao final do processo de seleção, das 12 crianças indicadas inicialmente pelas

professoras, apenas quatro participantes atenderam aos critérios preestabelecidos.

Realizou-se então uma entrevista com os pais para confirmação da indicação das

professoras. Nas entrevistas, os pais corroboraram a avaliação da professora por

meio do preenchimento da tabela de TDAH – versão para pais.

De acordo com os dados apresentados no quadro acima, os participantes ficaram

assim organizados: André e Antônio no grupo das crianças com dificuldade de

atenção e Bruno e Beatriz no grupo das crianças sem dificuldade de atenção. Por

meio dessa análise pode-se concluir que o preenchimento da Escala pelas

professoras foi o instrumento-chave para a seleção dos participantes.

Após a certificação de que cada participante havia compreendido as regras do jogo,

na primeira oficina que foi realizada apenas com o participante e o pesquisador, as

oficinas em que os participantes jogariam em duplas foram iniciadas. Nenhum

participante apresentou dificuldade significativa com relação ao entendimento das

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regras do jogo e, portanto, não foi necessário repetir o procedimento inicial de

explicação do mesmo.

As demais oficinas ocorreram com a presença de dois participantes, o pesquisador e

o monitor, com exceção da última oficina de cada participante que foi realizada de

forma semelhante a primeira com a finalidade de possibilitar uma análise mais

aprofundada, por parte do pesquisador, da evolução do participante durante a

intervenção. Na última oficina foram apresentadas às crianças situações-problema

relacionadas ao Mancala, a fim de observar a evolução dos participantes no que diz

respeito à busca da melhor jogada possível para cada situação. As situações-

problema utilizadas foram propostas por Macedo; Petty e Passos (2000). Foi

realizado um rodízio entre os jogadores de forma que todos jogaram contra todos.

As oficinas foram filmadas, com o prévio assentimento dos pais dos participantes, a

fim de possibilitar uma análise mais detalhada dos dados coletados e as partidas

foram registradas por meio de um protocolo de registro, como um instrumento

complementar de fornecimento de informações acerca das partidas. O protocolo de

registro das partidas encontra-se no APÊNDICE III. A análise do desempenho dos

participantes, bem como as condutas de desatenção foram analisadas por meio das

filmagens. No entanto, as situações-problema foram registradas em protocolo e os

dados de cada participante encontram-se no APÊNDICE IV.

Portanto, a coleta de dados foi realizada em seis etapas que se encontram descritas

de forma resumida no Quadro 6.

Etapas Participantes Atividade 1a Pesquisador e Diretor ou

Coordenador Contato com a escola.

2a Pesquisador e Professores Entrevista com as professoras para indicação dos participantes e aplicação da Escala de TDAH – versão para professores.

3a Pesquisador e Pais Entrevista com os pais para assinatura do Termo de Consentimento e aplicação da tabela de TDAH – versão para pais.

4a Pesquisador, um Participante e o monitor

1a Oficina – apresentação do Mancala para cada participante em particular.

5a Pesquisador, dois participantes

e o monitor

2a a 6a oficinas – os participantes jogarão entre si (haverá um rodízio para que todos joguem com todos) e o pesquisador participará como observador.

6a Pesquisador, um participante e o monitor

7a oficina e apresentação das situações-problema para cada participante em particular.

Quadro 5 - Etapas da Coleta de Dados

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6.4. AVALIAÇÃO ÉTICA DE RISCOS E BENEFÍCIOS A Resolução Nº 196/96 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde e

a Resolução Nº 016/2000 de 20 de dezembro de 2002 do Conselho Federal de

Psicologia estabelecem uma série de normas para que se possam realizar

pesquisas que envolvem seres humanos no Brasil.

De acordo com as regras firmadas nessas resoluções, a presente pesquisa é de

risco mínimo, já que os procedimentos realizados não representam riscos físicos ou

psíquicos, além dos já existentes na vida cotidiana dos participantes. Entre os

procedimentos adotados junto aos participantes e responsáveis pelos mesmos,

nenhum contém assunto de foro íntimo que pudesse expor o indivíduo a alguma

situação desconfortável. Todo o material utilizado ficará a cargo da pesquisadora, e

quaisquer outros custos advindos da pesquisa são de sua responsabilidade.

Como a pesquisa foi realizada com crianças entre 09 e 11 anos, foi proposto ao

responsável legal pelas mesmas, como condição para participação, que assinem um

termo de consentimento, visando deixar claros os fins da pesquisa e a livre vontade

do indivíduo em colaborar com o presente trabalho. O modelo desse termo consta

no APÊNDICE V.

A análise dos dados coletados nas entrevistas será divulgada por meio de

participação em congressos e publicação de artigos em periódicos especializados,

contribuindo para a ampliação do corpo de conhecimentos acerca da temática em

questão. Contudo fica assegurado aos participantes o anonimato.

O questionário e as escalas a que se respondeu, bem como o relatório solicitado,

depois de analisados, serão guardados por um prazo mínimo de cinco anos pela

pesquisadora.

No caso de os participantes desejarem ter conhecimento dos resultados, estes serão

fornecidos de acordo com a disponibilidade de ambos – pesquisadora e participante.

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7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com Piaget, citado por Ribeiro (2001),

(...) toda conduta cognitiva comporta sempre dois aspectos solidários e aparentemente antitéticos, os procedimentos e as estruturas. Ambos implicam transformações na atividade cognitiva. Nos procedimentos, essas transformações visam alcançar objetivos particulares ou variáveis, como, por exemplo, os envolvidos na tentativa de resolução de um problema prático e, nesse sentido, tem um caráter temporal (RIBEIRO, 2001, p. 23).

Os aspectos da conduta dos participantes estudados no presente trabalho foram os

procedimentos, ou seja, as ações de cada um com vistas a atingir o objetivo

principal que é o de vencer o jogo. Dessa forma, os dados foram analisados

buscando-se um aprofundamento na compreensão das condutas dos participantes

com indícios de dificuldades de atenção por meio de um estudo comparativo entre

estes e participantes sem tais indícios e por meio do estudo das estratégias

utilizadas pelos mesmos no jogo Mancala, visando apreender as transformações

ocorridas na atividade cognitiva, na tentativa de resolução do problema colocado

pelo mesmo. Assim, duas categorias denominadas “condutas de desatenção” foram

formuladas com a finalidade de que tais análises pudessem ser realizadas.

Portanto, os estilos de jogar de cada participante foram analisados de forma a

fornecer dados para que um estudo inter-grupos e inter-participantes fosse

realizado, no que concerne ao estudo das dificuldades de atenção.

Para tanto, os dados obtidos por meio da coleta de dados foram analisados sob três

aspectos: desempenho no decorrer das partidas, as condutas de desatenção nas

regras do jogo e as principais estratégias utilizadas no jogo.

A análise do desempenho no decorrer das partidas foi realizada por meio da

observação do resultado final das oficinas (sendo considerado como vencedor

aquele que obteve o maior número de vitórias sob o número total de partidas de

cada oficina), também da observação do participante que mais venceu sob o número

total de partidas (somando-se todas as oficinas). A análise das estratégias

construídas pelos participantes para vencerem o jogo foi realizada por meio do

estudo das situações-problema apresentadas ao participante ao final das oficinas.

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59

Após esse levantamento foi realizada uma comparação entre os participantes dos

dois grupos (A e B), bem como entre os quatro participantes.

7.1. ANÁLISE DO DESEMPENHO E DAS ESTRATÉGIAS NO DECORRER DAS PARTIDAS

A análise do desempenho dos participantes foi realizada a partir da tabulação do

número de vitórias, derrotas e empates: a) dos jogadores; b) de cada jogador com

os demais participantes e c) entre o Grupo A (participantes com dificuldade de

atenção) e o Grupo B (participantes sem dificuldade de atenção).

Os dados de cada jogador encontram-se no Quadro 7 e serão discutidos a seguir.

GRUPO PARTICIPANTE VITÓRIAS DERROTAS EMPATES TOTAL DE PARTIDAS

Abs. 12 7 1 20 André

% 60,00 35,00 5,00 100 Abs. 6 13 1 20

A Antônio

% 30,00 65,00 5,00 100 Abs. 9 10 1 20 Bruno % 45,00 50,00 5,00 100 Abs. 4 15 1 20

B Beatriz

% 20,00 75,00 5,00 100 Quadro 6 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante O jogador André foi o que obteve a maior percentagem de vitórias (60%), e a

jogadora Beatriz foi a que obteve a maior percentagem de derrotas (75%). A

percentagem de empates foi a mesma para todos os quatro participantes (5%). É

importante ressaltar que os valores foram medidos para cada jogador em particular e

não inter-jogadores.

Considerando uma ordem decrescente da percentagem de vitórias ficaria assim

configurado: André (60%), Bruno (45%), Antônio (30%) e Beatriz (20%). A ordem

decrescente de derrotas seria a seguinte: Beatriz (75%), Antônio (65%), Bruno

(50%) e André (35%). Considerando esses dados pode-se perceber que houve um

intercalamento entre os participantes dos Grupos A e B, com uma pequena

vantagem para os participantes que possuem dificuldades de atenção.

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60

Observa-se que o jogador que obteve o melhor desempenho no decorrer das

oficinas foi o André, participante do grupo com indícios de TDAH, e o que obteve o

pior desempenho foi a Beatriz, participante do grupo que não possuía traços de

TDAH. Diante dessas informações podemos observar que a questão de possuir ou

não dificuldades de atenção não pode ser entendida enquanto garantia de fracasso

ou de sucesso a priori. Todos os seres humanos possuem limitações, a questão é

que as de alguns são mais evidentes e menos compreendidas do que a de outros.

Para uma melhor visualização da relação entre vitórias, empates e derrotas de cada

jogador será apresentado a seguir o Gráfico 1.

12

7

1

6

13

1

910

1

4

15

10

2

4

6

8

10

12

14

16

André Antônio Bruno Beatriz

VITÓRIAS

DERROTAS

EMPATES

Gráfico 1 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante

O Gráfico 1 explicita que apesar de Beatriz ter apresentado uma percentagem

superior de derrotas com relação aos demais jogadores, em números absolutos,

este não foi significativamente superior ao número de derrotas apresentados por

Antônio. É válido ressaltar que a mesma diferença, em números absolutos, existente

entre o número de derrotas apareceu com relação ao número de vitórias, só que em

ordem inversa, ou seja, Antônio apresentou um número superior de vitórias.

Antônio e Beatriz foram os dois jogadores que apresentaram o número de derrotas

maior do que o número de vitórias. É importante ressaltar que eles possuíam

características diferentes durante o jogo. Antônio foi um jogador mais agitado, falava

bastante enquanto Beatriz jogava em silêncio, aparentemente mais centrada no

jogo.

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61

Pode-se observar que houve uma significativa discrepância entre os números de

vitórias e derrotas de Beatriz. O que não ocorreu com Bruno, pois apresentou uma

diferença mínima (igual a 1, em números absolutos) entre vitórias e derrotas.

É importante ressaltar que o menor número de vitórias foi igual a 4, ou seja, nenhum

participante perdeu todas as 20 (vinte) partidas disputadas. Esse é um resultado

importante, pois demonstra que as diferenças com relação à presença ou ausência

das dificuldades de atenção não afetaram de forma significativa o desempenho dos

jogadores.

Em seguida serão analisados os números de vitórias, derrotas e empates de cada

jogador em particular.

7.1.1. Desempenho do Participante André (Grupo A) O participante André mostrava-se bastante tranqüilo, falava pouco e aparentava

estar concentrado no jogo como um todo no decorrer das oficinas. Mostrou-se

competitivo apenas quando jogou contra Antônio, pois este competia o tempo todo

com os adversários e chegava a incitá-los a competirem também. Durante essa

oficina André e Antônio ficavam apontando os erros alheios e este, mesmo quando

estava perdendo criticava as jogadas de André. Em determinado momento André

começou a apresentar comportamento semelhante ao de Antônio.

O Gráfico 2 apresenta o desempenho do jogador André no decorrer das oficinas

com a experimentadora e com os demais participantes.

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1

4

0

5

0 0

4

1 0

2 2

10

1

2

3

4

5

DANIELA BRUNO ANTÔNIO BEATRIZ

VITÓRIAS

DERROTAS

EMPATES

Gráfico 2 - Desempenho do participante André (Grupo A) com relação à experimentadora e aos

demais participantes.

Com relação aos jogadores Bruno e Antônio, André obteve um número de vitórias

significativas, perdendo apenas uma partida para o jogador Antônio. Nas oficinas

com a participante Beatriz, ambos apresentaram o mesmo número de vitórias e

derrotas. A única vez em que o jogador André empatou também foi com Beatriz. O

pior desempenho de André foi quando jogou com a experimentadora, no entanto, é

válido ressaltar que foi nessa oficina em que ele aprendeu as regras do jogo, pois

não possuía conhecimento prévio acerca do mesmo. Essa foi oficina de

apresentação do Mancala e, portanto, o número elevado de derrotas não deve ser

considerado tão expressivo tendo em vista o objetivo da mesma.

Deve-se ainda ressaltar que o jogador André, que obteve um desempenho superior

aos demais, encontrou maiores dificuldades na oficina que participou com Beatriz,

jogadora que obteve o menor desempenho dos quatro participantes.

Durante a coleta de dados, em que a pesquisadora não tinha conhecimento de

quem eram as crianças com dificuldades de atenção, em nenhum momento foi

cogitada a possibilidade do jogador André pertencer a esse grupo. Pelo contrário, o

pensamento foi de que ele pertencia ao grupo das crianças sem dificuldades de

atenção devido à forma segura e à ampla visão que demonstrava possuir do jogo no

decorrer das oficinas. Essa visão mostra como os julgamentos a priori baseados em

conceitos pré-concebidos, ou seja, baseado naquilo que a sociedade considera

como normal pode gerar uma série de erros de análise e dificultar o relacionamento

com os demais.

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63

7.1.2. Desempenho do Participante Antônio (Grupo A) Antônio apresentou uma certa dificuldade em apreender as regras do jogo quando

este lhe foi apresentado pela pesquisadora. Mostrou-se impaciente ao escutar as

regras do mesmo e se distraiu algumas vezes, durante a explicação, com as peças

do jogo. Fazia erros de distribuição das peças no tabuleiro regularmente. Este foi o

jogador que apresentou mais claramente os “sintomas” da dificuldade de atenção.

O Gráfico 3 apresenta o desempenho do jogador Antônio no decorrer das oficinas.

0

5

0 0

4

1

1

4

0

5

0 0

0

1

2

3

4

5

DANIELA BRUNO ANDRÉ BEATRIZ

VITÓRIAS

DERROTAS

EMPATES

Gráfico 3 - Desempenho do participante Antônio (Grupo A) com relação à experimentadora e

aos demais participantes.

De acordo com a sua forma de jogar aparentava não possuir uma estratégia definida

para vencer o jogo. Ele repetia freqüentemente que tinha conhecimento da jogada

do outro, no entanto, nunca fazia as mesmas jogadas. Aparentemente a sua

estratégia de jogo estava ligada à desestabilização do jogador adversário muito mais

do que à construção de estratégias no tabuleiro do mesmo. Ele fazia um “jogo

psicológico” com os adversários, muito mais do que prático. Em alguns momentos

Antônio tenta burlar algumas regras do jogo para capturar sementes. Ele mostrava-

se impaciente, conversava muito durante o jogo dando a impressão de que a sua

estratégia era incomodar o jogador adversário para tirar a sua concentração.

No decorrer das oficinas foram observadas duas situações bastante peculiares:

quando jogou com a experimentadora perdeu todas as partidas e quando jogou com

Beatriz venceu todas as partidas. Antônio perdeu o mesmo número de partidas para

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o jogador André e para Bruno – quatro partidas para cada adversário. Ainda com

relação ao Bruno ele empatou uma partida e venceu uma partida do jogador André.

Na oficina em que jogou contra Beatriz, Antônio mostrou-se mais competitivo do que

nas outras. Fez comentários em quase todas as jogadas de Beatriz. Ela parecia tão

incomodada e irritada que começou a jogar rapidamente sem parar para pensar no

que estava fazendo. É importante ressaltar que Beatriz era a que demorava mais a

efetivar suas jogadas. Nessa oficina, ela fazia as suas jogadas quase que

instantaneamente após as jogadas de Antônio. Foi uma oficina bastante peculiar,

pois até mesmo a monitora e a pesquisadora sentiram-se incomodadas com a

situação.

Portanto, Antônio demonstrou uma estratégia muito peculiar ao jogar. Estratégia

essa que nem sempre estava ligada diretamente ao jogo propriamente dito. A

relação entre afetividade e inteligência pode ser observada de forma mais simples

ao analisar a conduta de Antônio. Pois, considerando que esse “jogo psicológico” é

fruto de uma grande dificuldade em lidar com perdas e fracassos, pode-se observar

o nível elevado de influência que a mesma exerceu na determinação das

estratégias, ligadas à movimentação das peças no tabuleiro, para vencer o jogo,

dificultando ainda mais a concentração desse participante no mesmo e se

sobrepondo à construção de estratégias mais efetivas. No caso de Antônio percebe-

se que a afetividade exerceu uma influência muito significativa sobre a inteligência.

Dessa forma, deve-se ressaltar a importância da afetividade no desenvolvimento

cognitivo, inclusive, no desenvolvimento da inteligência, da capacidade de

concentração e da implementação dos conhecimentos adquiridos nas estratégias

construídas.

A análise do desempenho de cada participante mostrou que Antônio não foi o que

apresentou o pior desempenho, apesar das dificuldades acima discutidas, no

entanto, o seu desempenho poderia ter sido superior se essa relação entre

afetividade e inteligência estivesse mais equilibrada, no que diz respeito ao papel de

cada uma na determinação da conduta do indivíduo. De acordo com as

considerações realizadas, observa-se o que a afetividade não é o único fator de

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65

determinação da inteligência, entretanto, é um fator que influencia significativamente

no desenvolvimento da mesma.

7.1.3. Desempenho do Participante Bruno (Grupo B)

No decorrer das oficinas Bruno demonstrou uma característica muito peculiar:

chamar a atenção do jogador adversário quando ele esquecia de jogar novamente

após colocar a última semente da distribuição no oásis e para capturar as suas

próprias sementes quando o jogador adversário colocava a última semente da

distribuição em uma casa vazia. Ele ainda “concerta” as jogadas do adversário

quando esse esquece uma semente na casa que foi escolhida para a distribuição.

Bruno foi o único jogador que apresentou esse comportamento de cooperação com

os jogadores adversários.

O Gráfico 4 apresenta o desempenho do jogador Bruno com relação ao número de

vitórias, derrotas e empates no decorrer das oficinas.

1

4

0 0

5

0

4

0

1

4

1

00

1

2

3

4

5

DANIELA ANDRÉ ANTÔNIO BEATRIZ

VITÓRIAS

DERROTAS

EMPATES

Gráfico 4 - Desempenho do participante Bruno (Grupo B) com relação à experimentadora e aos

demais participantes. Quando indagado acerca da melhor forma de jogar respondeu que era “tapar os

buracos dele (jogador adversário) e esvaziar o meu, pra poder capturar”. Ele ainda

verbalizou que “observa os erros do outro jogador pra aproveitar”. Bruno disse a

Antônio: - “Você tem que prestar mais atenção na minha estratégia”.

O jogador Bruno apresentou um desempenho significativamente superior ao de

Antônio e Beatriz – venceu quatro partidas de cada um, empatou uma com Antônio e

perdeu uma para Beatriz. Nas partidas com a experimentadora e com André o

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66

jogador Bruno perdeu a maior parte das partidas – quatro para Daniela e cinco para

André. Ainda com relação à experimentadora, Bruno venceu uma partida.

O desempenho de tal jogador foi equilibrado no que diz respeito ao número de

vitórias e derrotas, sendo a diferença de apenas uma partida – oito partidas vencidas

e nove perdidas.

Bruno demonstrou possuir a habilidade de cooperar em um ambiente de competição

(ambiente do jogo). Em nenhum momento ele demonstrou a vontade de perder o

jogo, pelo contrário ele desenvolvia suas estratégias com o intuito de ganhá-lo. No

entanto, isso não o impedia de mostrar ao jogador adversário os erros que este

estava cometendo.

Bruno aparentava estar bastante concentrado no jogo, não verbalizava muito

durante as partidas e demonstrou tranqüilidade ao efetivar as jogadas escolhidas.

Foi um dos jogadores que, aparentemente, possuía estratégias bem delimitadas

para vencer o jogo, direcionando suas jogadas de acordo com tais estratégias.

A conduta, apresentada por Bruno, cooperar com o aprendizado e com a construção

de estratégias do jogador adversário é algo que pode ser analisado considerando a

questão do erro, descrito na seção introdutória deste trabalho, pois observa-se que,

nos momentos em que apresentou tal comportamento, Bruno estava transformando

o erro em algo construtivo, ou seja, fazendo com que este passasse de sinônimo de

fracasso para tornar-se fonte de aprendizagem.

Esse comportamento apresentado por Bruno é muito interessante, visto ser uma

conduta não esperada em um ambiente de competição como o do jogo proposto,

pois esta ação implicava em um prejuízo direto (perdendo peças do jogo) ou indireto

(chamando a atenção do jogador adversário para as regras do jogo).

7.1.4. Desempenho da Participante Beatriz (Grupo B)

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67

Durante as primeiras oficinas, Beatriz cometeu erros de movimentação das

sementes no tabuleiro, geralmente, movimentava as sementes para trás e não na

direção do seu oásis. Tentava burlar algumas regras quando percebia que estava

perdendo o jogo. Demorava em jogar e aparentava analisar as possibilidades de

jogadas. A oficina em que jogaram Beatriz e Antônio foi bastante conturbada, pois

ele falou durante toda oficina, o que tornou o ambiente bastante desagradável até

mesmo para a pesquisadora e a monitora. Nas últimas partidas dessa oficina,

Beatriz estava visivelmente incomodada e pareceu jogar de qualquer maneira como

que para terminar logo a mesma.

Apesar de Beatriz apresentar uma grande aversão pela possibilidade de perder no

jogo, à medida em que isso se concretizava ela parecia “desestabilizada” não

conseguindo construir estratégias que surtissem efeito no sentido de reverter a

situação que se configurava, nesse momento ela passava a burlar algumas regras

do jogo. Não tentava fazer isso constantemente, apenas esporadicamente. Dessa

forma, novamente percebe-se a relação entre afetividade e desenvolvimento

cognitivo. Desse modo pode-se observar como os sentimentos desestabilizam os

indivíduos a ponto de influenciar significativamente o comportamento que será

apresentado. Portanto, no momento em que isso acontece mesmo que o indivíduo

esteja em uma determinada fase do desenvolvimento cognitivo poderá apresentar

um comportamento não condizente com tal fase, pois ligado a uma fase anterior.

Os dados acerca das vitórias, derrotas e empates estão apresentados no Gráfico 5.

1

4

0

1

4

0 0

5

0

2

2

1

0

1

2

3

4

5

DANIELA BRUNO ANTÔNIO ANDRÉ

VITÓRIAS

DERROTAS

EMPATES

Gráfico 5 - Desempenho da participante Beatriz (Grupo B) com relação à experimentadora e

aos demais participantes.

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68

O desempenho da jogadora Beatriz foi significativamente inferior se considerado aos

demais participantes, pois a mesma não venceu nenhuma oficina. A oficina em que

apresentou o melhor desempenho foi contra André, em que obteve duas vitórias,

duas derrotas e um empate. Com relação aos demais jogadores: uma vitória e

quatro derrotas contra Daniela, o mesmo resultado quando jogou com Bruno e cinco

derrotas quando jogou contra Antônio. Apesar do desempenho negativo Beatriz

apresentava uma grande necessidade de vencer.

Dois jogadores apresentaram desempenho que podem ser considerados

surpreendentes: Beatriz (do Grupo B – crianças sem dificuldades de atenção) e

André pertencente ao grupo das crianças com dificuldades de atenção (Grupo A).

Beatriz apresentou o pior desempenho dos quatro participantes enquanto André

apresentou o melhor desempenho. De acordo com a hipótese inicial os

desempenhos esperados seriam os opostos. O outro jogador do Grupo A, Antônio,

obteve um desempenho inferior a Bruno e André e superior apenas à Beatriz.

Diante das informações até aqui apresentadas pode-se perceber um equilíbrio entre

as crianças que possuem dificuldades de atenção e as que não possuem tais

dificuldades. O que pôde ser observado é que a dificuldade de atenção não foi o

único fator responsável pela derrota da criança que possuía as mesmas. O resultado

do jogo não estava definido a priori. As oficinas mistas, entre crianças com

dificuldades de atenção e crianças sem estas dificuldades, foram importantes

momentos de superação de barreiras, de obstáculos e de estereótipos.

Em seguida, serão apresentados dados relativos às vitórias, derrotas e empates dos

Grupos A (com dificuldade de atenção) e B (sem dificuldade de atenção).

7.1.5. Desempenho dos Grupos A e B Observa-se no gráfico 6 que o desempenho dos participantes do Grupo A (crianças

com dificuldades de atenção) foi superior ao desempenho dos participantes do

Grupo B (crianças sem indícios de dificuldade de atenção), pois o primeiro grupo

venceu um número maior de partidas do que o segundo. Importante ressaltar que a

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69

diferença entre o número de vitórias (18 – Grupo A e 13 – Grupo B) e o número de

derrotas (20 – Grupo A e 25 – Grupo B) foi igual a cinco, em ambos os casos. Cada

grupo apresentou o mesmo número de empates (dois).

18

13

20

25

2 20

5

10

15

20

25

VITÓRIAS DERROTAS EMPATES

A

B

Gráfico 6 - Vitórias, derrotas e empates dos Grupos A e B

Os números acerca das vitórias, derrotas e empates dos Grupos A e B apresentados

no Gráfico 6 explicitam dados surpreendentes que alimentam a reabertura das

discussões acerca da conduta e das limitações dos indivíduos considerados

hiperativos. Pois o Grupo A que, teoricamente, deveria apresentar um desempenho

inferior, demonstrou o contrário. Em contrapartida, o Grupo B que, teoricamente,

seria mais apto, por não possuir dificuldades de atenção, apresentou um

desempenho inferior ao primeiro grupo.

O ser humano possui uma capacidade impressionante de se adaptar às situações

mais adversas encontradas no decorrer da vida. Desde os primórdios a sociedade,

sob a ótica da exclusão, vem produzindo identidades e catalogando pessoas. Essa

produção é incorporada por nós durante todo o processo educacional. São inúmeras

as categorias: os pobres e os ricos, os feios e os bonitos, os normais e os

deficientes, os que possuem dificuldades de atenção e aqueles que não possuem. A

utilização dessas categorias como se fossem naturais faz com que as pessoas

esqueçam da impressionante capacidade de adaptação citada no início do

parágrafo. Nesse ínterim, a pessoa como um todo é secundarizada e reduzida

àquela parte ou capacidade que está ausente.

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70

Os resultados apresentados até aqui nos fazem refletir acerca da hipótese que nós

mesmos construímos (de que as crianças com dificuldades de atenção

apresentariam um desempenho inferior àquelas que não possuem tais dificuldades),

pois o que nos fez acreditar que as crianças apresentariam um desempenho inferior

somente pelo fato de possuírem dificuldades de atenção, senão a crença de que

aqueles que não possuem tais dificuldades são superiores, a priori? Está claro que

não podemos negar que a existência de tais dificuldades exige uma capacidade de

adaptação e superação muito maior do indivíduo que a possui. No entanto, isso não

o faz melhor ou pior do que os outros e, sim, diferente, ou seja, os métodos que ele

precisará utilizar serão diferentes dos que aqueles que não possuem tais

dificuldades utilizam. Tais sujeitos poderão encontrar barreiras maiores, mas isso

não significa que serão inferiores ou menos capazes.

Os resultados apresentados remetem-nos novamente à teoria de Piaget, quando

este afirma que os estágios de desenvolvimento não são fixos e que há um

constante movimento de inda e vinda nos processos cognitivos. Portanto, o fato de

não possuir dificuldade de atenção não significa que essa criança estará em uma

fase mais adiantada do desenvolvimento com relação àquela que possui tal

dificuldade. O desenvolvimento cognitivo é complexo e envolve uma combinação de

diferentes aspectos a qual ainda não foi totalmente desvendada.

7.2. ANÁLISE DAS CONDUTAS DE DESATENÇÃO Para analisar as diferenças com relação à atenção dos participantes com indícios de

TDAH (Grupo A) e aqueles sem indícios de TDAH (Grupo B) foram construídas duas

categorias denominadas “Condutas de Desatenção Tipo-1 e Tipo-2”.

Considerou-se conduta de desatenção a não execução de duas regras do jogo: a)

jogar novamente quando a última semente da distribuição cair no oásis (Conduta de

Desatenção Tipo 1 – CDT-1) e b) capturar as sementes do jogador adversário

quando a última semente da distribuição cair em uma cavidade vazia – serão

capturadas as sementes que estiverem na casa em frente à que estava vazia e que

recebeu a última semente da distribuição – (Conduta de Desatenção Tipo 2 – CDT-

2). As regras acima descritas foram consideradas como as mais eficientes, no que

concerne ao alcance do objetivo final do jogo, que é o de armazenar o maior número

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71

de sementes no oásis. As condutas descritas foram prejudiciais para o alcance da

meta estabelecida pelas regras do jogo. Realizou-se uma análise da freqüência em

que esses episódios foram apresentados pelos sujeitos em particular, e em seguida,

uma comparação inter-grupos.

Cada uma dessas categorias foi confrontada com o número de vezes em que o

participante poderia ter apresentado a Conduta de Desatenção, tal possibilidade foi

denominada de “Freqüência Geral”. Na CDT-1 a Freqüência Geral significa o

número de vezes em que a última semente da distribuição caiu no oásis; na CDT-2 a

Freqüência Geral representa o número de vezes em que a última semente da

distribuição caiu em uma casa vazia. Portanto, a Freqüência Geral em ambos os

casos representa a possibilidade de exibição das Condutas de Desatenção (Tipos 1

e 2).

O Gráfico 7 apresenta a relação entre a Freqüência Geral e a CDT-1 de cada

participante.

3

115

8

84

2

91

1

94

0

20

40

60

80

100

120

ANDRÉ BRUNO

CDT-1

FREQUÊNCIA GERAL

Gráfico 7 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante

Considerando a freqüência geral pode-se observar que a freqüência do CDT-1 não

foi significativa. O jogador Antônio (Grupo A) foi o que apresentou o menor número

relativo à freqüência geral (número de vezes em que a última semente da

distribuição caiu no oásis) e o maior número relativo ao CDT-1.

A simples visualização do Gráfico 07 permite observar que nenhum dos quatro

participantes apresentou um número elevado de Condutas de Desatenção Tipo1

quando comparados à freqüência geral.

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72

Abaixo (Quadro 8) estão explicitadas as porcentagens entre a freqüência geral e a

freqüência do CDT-1.

CDT-1 GRUPO SUJEITO

Abs. %

FREQÜÊNCIA GERAL

André 3 2,61 115 A

Antônio 8 9,52 84

Bruno 2 2,20 91 B

Beatriz 1 1,06 94

Quadro 7 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante.

A partir dos dados apresentados acima, pode-se perceber que os dois jogadores do

Grupo A (crianças com dificuldades de atenção), Antônio e André apresentaram a

maior porcentagem do CDT-1 (9,52% e 2,61%, respectivamente) com relação à

freqüência geral. Apesar de que a porcentagem apresentada por Bruno (2,20%)

esteve bem próxima à apresentada por André (2,61%). Beatriz apresentou a menor

porcentagem (1,06%) de apresentação do CDT-1.

A Conduta de Desatenção Tipo 1 – esquecer de jogar novamente quando a última

semente da distribuição cair no oásis – é algo que pode vir a prejudicar o alcance do

objetivo do jogo – acumular o maior número de sementes no oásis. Dessa forma, é

válido ressaltar que a participante que obteve a menor porcentagem de

apresentação do CDT-1 (Beatriz – 1,06%), ou seja, a que menos esqueceu de jogar

novamente quando a última semente da distribuição caiu no oásis foi a que

apresentou o pior desempenho com relação ao número de vitórias (venceu apenas

quatro em um total de 20 partidas) no decorrer das oficinas.

Com isso, percebe-se que apesar dos participantes do Grupo A terem apresentado

um número maior de CDT-1, que era de se esperar visto que ambos possuem

indícios de dificuldade de atenção, o jogador André conseguiu superar essa

dificuldade apresentando um desempenho superior aos demais participantes.

Apesar de o jogador Antônio não ter tido um desempenho tão bom quanto o do outro

jogador do seu grupo, também não apresentou o pior desempenho com relação aos

demais.

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73

Considerando os dados apresentados acima pode-se observar que a estratégia de

jogar a última semente da distribuição no oásis para jogar novamente foi bastante

utilizada pelos quatro participantes, sendo que André (115) e Beatriz (94) foram os

que mais se utilizaram de tal estratégia, seguidos por Bruno (91) e Antônio (84).

Grupo A, Grupo B, Grupo B e Grupo A, respectivamente O jogador que utilizou essa

estratégia o maior número de vezes (André) e o que apresentou a mesma o menor

número de vezes (Antônio) pertencem ao Grupo A. A seqüência de apresentação da

freqüência geral explicita um equilíbrio entre os grupos com relação à mesma.

Dessa forma, percebe-se que não houve uma discrepância significativa no que diz

respeito à utilização dessa estratégia entre os quatro participantes.

Entretanto, o Quadro 9 apresenta um diferença significativa quanto à apresentação

da CDT-1 entre os Grupos A e B, apesar de a freqüência geral não ter sido tão

discrepante. Esse resultado vem confirmar a idéia inicial de que as crianças com

dificuldades de atenção apresentariam um maior número de condutas de

desatenção no jogo. Considerando que a situação de jogo como um momento

agradável, descontraído e de divertimento, em que a pressão sobre a criança é

menor esse resultado vem fortalecer a idéia de que os jogos de regras, nesse caso o

Mancala, são importantes e eficazes na avaliação das dificuldades de atenção em

crianças. As dificuldades apresentadas pelas crianças continuaram aparecendo só

que de uma forma menos frustrante para as mesmas.

CDT-1 GRUPO

Abs. %

FREQÜÊNCIA

GERAL

A 11 5,53 199

B 3 1,62 185

Quadro 8 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo.

O Quadro 9 explicita a relação entre os números absolutos de apresentação da

CDT-1 e as porcentagens de cada grupo. O Grupo A obteve uma maior número de

freqüência geral, ou seja, teve o maior número de possibilidades de apresentar a

estratégia de jogar a última semente da distribuição mais vezes no oásis, no intuito

de vencer o jogo. Percentualmente o Grupo A apresentou 5,53% de vezes o CDT-1,

enquanto o Grupo B apresentou 1,62% das vezes tal comportamento. Pode-se

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perceber que mesmo tendo apresentado uma freqüência geral maior do que o Grupo

B, o Grupo A apresentou a porcentagem de CDT-1 superior.

11 3

199185

0

50

100

150

200

CDT-1 FREQUÊNCIAGERAL

A

B

Gráfico 8 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo.

Observando o Gráfico 8 pode-se perceber que o número de CDTs-1 apresentado

pelos participantes do Grupo A foi maior do que o apresentado pelos participantes

do Grupo B. No entanto, faz-se necessário ressaltar que o Grupo A obteve uma

maior freqüência geral, ou seja, da possibilidade de apresentar o comportamento de

jogar novamente quando a última semente da distribuição cair no oásis.

O grupo de crianças que possuem indícios de dificuldade de atenção (Grupo A)

apresentou um maior número de Condutas de Desatenção Tipo 1 do que as

crianças que não possuem tais indícios (Grupo B). Apesar de André (Grupo A) ter

sido o segundo a apresentar o maior número do CDT-1, ele obteve o melhor

desempenho dos quatro participantes. O participante Antônio que obteve um número

bem elevado de CDT-1 se comparado aos demais (8 ou 9,52%) não foi o que

apresentou o pior desempenho, pois este foi apresentado por Beatriz que, em

contrapartida, apresentou o menor número de CDT-1(apenas uma vez). Portanto,

podemos perceber que a CDT-1 não foi a causa determinante para o sucesso ou

fracasso dos jogadores.

Quanto a Conduta de Desatenção Tipo 2 (CDT-2) a apresentação da mesma pelos

quatro participantes está explicitada no Quadro 10.

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CDT-2 GRUPO SUJEITO

Abs. %

FREQÜÊNCIA GERAL

André 5 4,63 108 A

Antônio 10 8,06 124

Bruno 3 2,56 117 B

Beatriz 2 1,74 115

Quadro 9 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante.

A ordem decrescente de apresentação da CDT-2 foi a seguinte: Antônio, André,

Bruno e Beatriz. Esta foi exatamente igual à ordem de apresentação da CDT-1. O

participante que apresentou o maior número absoluto da CDT-2, bem como a

porcentagem da mesma (8,06%) foi, novamente, Antônio. No entanto, o número de

CDT-2 apresentado por André foi mais elevado se considerado ao CDT-1 e a

porcentagem com relação à freqüência geral também se apresentou mais elevada.

Diferentemente da CDT-1, Antônio foi quem teve o maior número de possibilidades

de apresentar tal comportamento. A seguir, o Gráfico 11 será apresentado para uma

melhor visualização da relação de apresentação da CDT-2 de cada participante.

5

108

10

124

3

117

2

115

0

20

40

60

80

100

120

140

ANDRÉ ANTÔNIO BRUNO BEATRIZ

CDT-2

FREQUÊNCIA GERAL

Gráfico 9 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante.

Apesar de os participantes Antônio e André, pertencentes ao Grupo A – de crianças

com dificuldade de atenção, apresentarem o maior número de CDT-2, pode-se

observar que a freqüência geral, ou seja, as possibilidades de apresentação de tal

comportamento foram significativamente superiores do que o comportamento

efetivamente apresentado (Antônio: FG=124 e CDT-2=10 e André FG=108 e CDT-

2=05).

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O número absoluto apresentado por André (05) não foi significativamente superior

aos apresentados por Bruno (03) e Beatriz (02), ambos pertencentes ao Grupo B de

crianças que não possuem dificuldade de atenção. A freqüência geral, ou seja,

possibilidade de apresentação da CDT-2, do participante André foi a menor quando

relacionada aos demais participantes.

O Quadro 11 explicita a apresentação da CDT-2 dos Grupos A e B.

CDT-1 GRUPO

Abs. %

FREQÜÊNCIA

GERAL

A 15 6,47 232

B 5 2,16 232

Quadro 10 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo.

Analisando o quadro acima se pode observar que o número absoluto de

apresentações da CDT-2 foi três vezes maior para o Grupo A com relação ao Grupo

B. Quanto à porcentagem o Grupo A também demonstrou um número mais elevado,

6,47% contra 2,16% do Grupo B. É válido ressaltar que a freqüência geral foi igual

para ambos os grupos.

Esses resultados novamente confirmam a idéia inicial de que as crianças com

dificuldades de atenção apresentariam um número maior de tais condutas do que as

crianças que não possuem tais indícios. No entanto, é válido ressaltar que tais

condutas não foram apresentadas apenas pelas crianças do Grupo A. Todas as

crianças apresentaram um certo índice tanto da CDT-1 como da CDT-2. Dessa

forma, percebe-se que um certo limiar de desatenção é “normal” em todas as

pessoas, visto que a manutenção da atenção concentrada consome bastante

energia dos indivíduos. Isso nos faz pensar que os períodos de desatenção

poderiam ser uma forma de “descansar” o cérebro do excesso de informações a que

somos expostos.

Se todos possuímos um certo grau de desatenção a diferença entre as crianças que

possuem tais dificuldades das que não possuem será quantitativa e não qualitativa.

Os que não são considerados como possuidores de dificuldade de atenção

conseguem lidar com o limiar de desatenção como algo natural, portanto, isso nos

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leva a crer que para as crianças que possuem um limiar de desatenção em um nível

que prejudica a convivência e a realização de tarefas a questão é encontrar

alternativas de superar tais dificuldades.

O Gráfico 10 explicita a relação entre os dois grupos de forma a facilitar a

visualização.

15 5

232 232

0

50

100

150

200

250

CDT-2 FREQUÊNCIAGERAL

A

B

Gráfico 10 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo.

Dessa forma, conclui-se que com relação às condutas de desatenção tanto nos

participantes considerados individualmente quanto no desempenho por grupo quem

obteve maior índice de apresentação de tais condutas foram os participantes com

dificuldade de atenção (Grupo A). Confirmando, portanto, a hipótese inicial de que

os participantes com dificuldades de atenção apresentariam um número superior de

condutas de desatenção. No entanto, é importante ressaltar que essas condutas não

prejudicaram significativamente o desempenho de André (Grupo A), pois foi quem

obteve o melhor desempenho dos quatro participantes.

A freqüência geral total dos Grupos (A e B) na CDT-1 e na CDT-2 ficou assim

definida: CDT-1=384 e CDT-2=464. Esses resultados dão pistas acerca da

estratégia montada pelos jogadores no decorrer das oficinas, pois observando os

resultados apresentados pode-se perceber que a estratégia de jogar uma semente

na casa vazia para capturar as sementes do adversário foi preferida por todos eles

se comparada com a utilização da estratégia de jogar novamente quando a última

semente da distribuição cair no oásis.

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A análise das condutas de desatenção (CDT-1 e CDT-2) é senão a análise dos erros

apresentados pelos participantes no decorrer das oficinas. É importante ressaltar

que o participante Bruno lidou de forma diferenciada com relação ao erro

apresentado pelo jogador adversário. Enquanto alguns torciam para que o outro

cometesse algum tipo de erro no jogo, em alguns momentos o Bruno mostrava o

erro que havia sido apresentado e permitia que o mesmo fosse corrigido.

É importante ressaltar que o erro não foi o único responsável pelo sucesso ou

fracasso dos jogadores, como pôde ser observado nos índices de conduta de

desatenção apresentados pelos mesmos. O maior exemplo disso foi o jogador

André, pois apesar de ter apresentado o segundo maior número de condutas de

desatenção (CDT-1 e CDT-2) foi o que apresentou o melhor desempenho no que diz

respeito ao número de vitórias, derrotas e empates quando comparado aos demais

jogadores.

7.3. ANÁLISE DA RESOLUÇÃO DAS SITUAÇÕES-PROBLEMA As situações-problema foram apresentadas a cada sujeito individualmente, ao final

das oficinas. Portanto, participou dessa etapa apenas um dos sujeitos por vez, a

pesquisadora e a monitora. Nesta, as crianças foram questionadas acerca de qual

seria a melhor jogada para cada uma das sete situações apresentadas, ou seja, foi

requerido dos mesmos pensar acerca da melhor estratégia a ser utilizada em cada

situação proposta. As questões utilizadas foram propostas por Macedo, Petty e

Passos (2000), as quais serão apresentadas durante a exposição dos resultados.

Os sujeitos não apresentaram dificuldade em compreender e responderam com

certa velocidade às questões propostas. Pressupõe-se que cada criança adote

estratégias para resolver as situações-problema que são colocadas. Essas

estratégias envolvem,

Dois aspectos centrais: uma idéia a respeito do objetivo a ser alcançado e uma noção acerca dos meios para atingi-lo. A resolução da tarefa envolve, assim, de um lado, compreensão do problema e, de outro, procedimentos para resolvê-lo. O nível estrutural fixa os limites dentro dos quais a criança pode assimilar a situação problema e oferece a gama de procedimentos possíveis de serem empregados para resolvê-la (DAVIS E ESPÓSITO, 1990, p.73).

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Dessa forma, os três níveis de conduta propostos por Piaget (1976) e apresentados

na seção introdutória do presente trabalho serão utilizados no intuito de identificar o

nível e, portanto, o limite dentro do qual a criança se encontra para que haja uma

maior compreensão das respostas apresentadas pela mesma. No entanto, fez-se

necessário uma adaptação dessas condutas para o jogo Mancala, especialmente

para a análise das situações-problema. Portanto, as condutas foram assim

adaptadas:

• Alfa: respostas incorretas às situações-problema (ressaltando que as

respostas consideradas corretas foram as descritas por Macedo; Petty e

Passos (2000);

• Beta: respostas corretas, que não infringiam as regras do jogo, mas que não

estavam de acordo com a resposta proposta por Macedo; Petty e Passos

(2000);

• Gama: repostas e justificativas de acordo com o proposto por Macedo; Petty e

Passos (2000).

As questões apresentadas nas situações-problema possuíam um nível crescente de

dificuldade, sendo as últimas (IVA e IVB) as que exigiam um maior nível de atenção

no território do jogador e do adversário. Em todas as situações apresentava-se uma

determinada configuração do jogo e, em seguida, fazia-se perguntas ao participante.

Nenhum dos quatro participantes acertou a questão IV por completo, o que implica

em que nenhum dos participantes acertou a todas as questões propostas.

Inicialmente foi realizado um levantamento acerca de quais questões foram

respondidas de forma correta por cada sujeito e quantas questões cada sujeito

acertou. Os dados dessa análise estão explicitados a seguir (Quadro 12).

SITUAÇÕES I IIA IIB IIIA IIIB IVA IVB Beatriz CORRETA INCORRETA CORRETA INCORRETA INCORRETA INCORRETA INCORRETA Antônio CORRETA INCORRETA CORRETA INCORRETA INCORRETA CORRETA INCORRETA Bruno CORRETA INCORRETA CORRETA INCORRETA INCORRETA INCORRETA CORRETA André CORRETA CORRETA CORRETA CORRETA CORRETA INCORRETA INCORRETA

Quadro 11 - Questões corretas e incorretas de cada indivíduo nas situações-problema

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Todos os quatro participantes acertaram as questões I e IIB. Antônio (Grupo A) foi o

único participante que acertou a questão IVA. Bruno (Grupo B) foi o único que

acertou a questão IVB. André (Grupo A) foi quem apresentou melhor desempenho

na resolução das questões, apresentou apenas dois erros (questões IVA e IVB) e foi

o único jogador que acertou as questões IIA, IIIA e IIIB.

A seguir será apresentado, no Quadro 13, o total de questões corretas e incorretas

de cada sujeito, bem como o percentual de erros e acertos de cada um.

GRUPO SUJEITO N° DE

QUESTÕES CORRETAS

N° DE QUESTÕES

INCORRETAS TOTAL

Abs.. 5 2 7 André

% 71,43 28,57 100

Abs.. 3 4 7 A

Antônio % 42,86 57,14 100

Abs.. 3 4 7 Bruno

% 42,86 57,14 100

Abs.. 2 5 7 B

Beatriz % 28,57 71,43 100

Quadro 12 – Número de questões corretas e incorretas por sujeitos nas situações-problema Beatriz (Grupo B) obteve 28,57% de acertos e 71,43% de erros, foi a participante

com a maior porcentagem de respostas incorretas e a menor de respostas corretas.

André (Grupo A) obteve números exatamente contrários aos de Beatriz, ou seja,

71,43% de acertos e 28,57% de erros. Dessa forma, ele foi o participante com o

maior número de respostas corretas e com o menor número de respostas incorretas.

Os participantes Antônio (Grupo A) e Bruno (Grupo B) obtiveram a mesma

porcentagem de questões corretas (42,86%) e incorretas (57,14%).

O Gráfico 11 demonstra de forma mais clara a relação entre erros e acertos de cada

participante que foi discutida acima.

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81

2

5

3

4

3

4

5

2

0

1

2

3

4

5

BEATRIZ ANTÔNIO BRUNO ANDRÉ

QUEST.CORRETAS

QUEST.INCORRETAS

Gráfico 11 – Número de questões corretas e incorretas por sujeito

A seguir serão apresentadas as situações-problema individualmente, de acordo com

o modelo proposto por Macedo; Petty e Passos (2000, pgs. 74 e 75). A situação-

problema I está apresentada no Quadro 14.

1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique.

12 11 10 9 8 7 A

(3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3)

B (0)

1 2 3 4 5 6

(0)

Quadro 13 - Situação-problema I Fonte: Macedo, 2000, p.74

Como observado no Quadro 14, nessa situação-problema apresentava-se o

tabuleiro pronto para iniciar uma partida e era dada a seguinte instrução “Observe a

situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para

começar o jogo? Justifique”. De acordo com Macedo; Petty e Passos (2000, p.115) a

resposta correta para essa situação seria: “começar pela casa 10, porque permite

mais uma jogada”. Os quatro participantes não tiveram dúvidas para responder e

justificar corretamente à questão.

Diante de tal resultado pode-se perceber que nessa situação-problema todos os

participantes puderam analisar de maneira bastante eficaz a configuração geral do

jogo para poder tomar a decisão mais vantajosa quanto ao início do mesmo. Dessa

forma, observa-se que os jogadores apresentaram a conduta gama, descrita por

Piaget (1976), pois realizaram as antecipações e análises necessárias para

equilibrar a situação que lhes foi proposta.

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A seguir será apresentada a situação-problema II no Quadro 15.

2. O jogo está como mostra a situação ao lado.

a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê?

b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez?

12 11 10 9 8 7 A

(4) (4) (0) (3) (3) (3)

(3) (3) (3) (3) (3) (3) B

(1)

1 2 3 4 5 6

(0)

Quadro 14 - Situação-problema II Fonte: Macedo, 2000, p.75

Na situação-problema II (Figura 4) havia duas questões IIA e IIB. Apenas André

(Grupo A) respondeu corretamente a questão IIA “Se você fosse o jogador A, em

qual casa mexeria? Por quê?”, no entanto, a resposta estava incompleta

considerando que a resposta esperada seria: “Mexeria as casas 9 ou 11 para se

defender de B” (MACEDO; PETTY E PASSOS, 2000, p.115). André respondeu

apenas a casa 11. Os demais jogadores dirigiram a atenção para a possibilidade

imediata de capturar sementes, ou seja, de atacar o adversário, enquanto a resposta

correta seria a de movimentar as sementes de uma forma defensiva, pois de outra

maneira o número de sementes perdidas seria superior ao de sementes adquiridas.

É importante ressaltar que a resposta desses jogadores não infringia nenhuma das

regras do jogo, a questão é que foi uma resposta isolada, baseada apenas no

momento presente e não uma resposta visando um resultado positivo no jogo em

longo prazo. Portanto, a noção de implicação entre as ações, essencial para o

desenvolvimento do pensamento dialético, já pode ser observada, embora

acompanhada pelas limitações estruturais de cada participante.

Considerando as condutas alfa, beta e gama com relação ao jogador André (Grupo

A) a conduta apresentada foi do tipo gama, visto que ele continua incorporando ao

sistema todas as informações necessárias para resolver o problema que lhe foi

proposto. Ele apresenta um equilíbrio no momento de resolver o mesmo, apesar de

não responder a questão de forma completa. A questão foi considerada correta, pois

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na pergunta proposta ao jogador se faz referência a apenas uma casa (Se você

fosse o jogador A, em qual casa mexeria?)

O tipo de conduta dos demais participantes (Beatriz (Grupo B), Antônio (Grupo A) e

Bruno (Grupo B) pode ser classificado como beta, visto que eles conseguem

incorporar o novo ao sistema, no entanto, não apresentam a resposta mais

equilibrada para o jogo, estando limitados a algumas percepções imediatistas.

A questão IIB era a seguinte: “Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou,

portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de

sementes já na próxima vez?” Os quatro participantes responderam a questão como

esperado: “Deve mexer a casa 4 e jogar novamente saindo da casa 1 para capturar

4 sementes que estão na casa 9 do adversário” (MACEDO; PETTY E PASSOS,

2000, p.115). No entanto, Beatriz e Bruno (Grupo B) e André (Grupo A)

apresentaram o número total de sementes que seriam colocadas no oásis (1- que foi

colocada no oásis para jogar novamente + 4 da casa 9 = 5 sementes), enquanto

Antônio (Grupo A) se limitou a contar as 4 sementes adquiridas na casa 9.

Nessa questão podemos observar que os quatro participantes apresentaram a

conduta do tipo gama ao resolverem o problema proposto, no entanto, apesar de

todos terem respondido corretamente à questão o jogador Antônio apresentou uma

resposta diferenciada, no sentido de menos abrangente, que os demais.

O Quadro 16 ilustra a situação-problema n°III.

3. Observe a figura ao lado.

a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis.

b) Quantas sementes ganhou?

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (3) (0) (0) (0)

(0) (0) (0) (1) (3) (4) B

(9)

1 2 3 4 5 6

(13)

Quadro 15 - Situação-problema III Fonte: Macedo, 2000, p.75

Na situação III também havia duas questões: na IIIA foi solicitado ao jogador que

descrevesse a seqüência de movimentos que o jogador A deveria fazer para colocar

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o maior número de sementes em seu oásis. A resposta esperada: “A sequência de

movimentos é 12, 11, 12, 10, 12” (MACEDO; PETTY E PASSOS, 2000, p.115). Os

jogadores que ficaram mais longe da resposta correta foram Antônio (Grupo A) e

Bruno (Grupo B). Beatriz (Grupo B) conseguiu resolver a questão após três

tentativas e André (Grupo A) foi o único que conseguiu descrever a seqüência

corretamente. Para responder corretamente a essa questão era necessário ter uma

visão geral do próprio tabuleiro e antecipar as jogadas, pois era necessário contar o

número de sementes que havia em cada casa (principalmente as que ficam

próximas ao seu oásis) e contar quantas haveria após a movimentação; só assim

seria possível realizar toda a seqüência.

Com relação aos tipos de conduta Beatriz (Grupo B) e André (Grupo A)

apresentaram a conduta gama, no entanto, a primeira necessitou de um tempo

maior para equilibrar os elementos necessários para a resolução do problema. Os

demais jogadores, Antônio (Grupo A) e Bruno (Grupo B), apresentaram uma conduta

do tipo alfa, pois não conseguiram equilibrar os elementos propostos na situação-

problema para resolvê-la corretamente e, além disso, não puderam perceber aonde

estava a incoerência.

A questão IIIB é continuação da IIIA, nessa pede-se para que a criança conte

quantas sementes ganhou após a resolução da questão anterior (IIIA). Mais uma vez

apenas André (Grupo A) respondeu corretamente (“O jogador ganhará 5 sementes”),

pois Beatriz mesmo tendo conseguido resolver a questão IIIA corretamente, após

algumas tentativas, não conseguiu contar de forma correta as sementes que haviam

sido colocadas no oásis.

Considerando essa questão em particular apenas o jogador André (Grupo A)

apresentou a conduta do tipo gama, enquanto os demais apresentaram uma

conduta do tipo alfa. No entanto, analisando a situação-problema III como um todo a

conduta de Beatriz (Grupo B), que havia inicialmente sido classificada como gama e

alfa, respectivamente, seria classificada como conduta beta, pois como não

apresentou a justificativa correta para a questão inicial, respondida corretamente,

pode significar que o acerto foi por acaso e não fruto de uma equilibração dos

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elementos. Isso leva a considerar que ela percebeu os novos elementos e os

incorporou, de maneira parcial, ao sistema.

O Quadro 17 apresenta a situação-problema IV.

4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir: a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada.

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (10) (3) (0) (0)

(1) (1) (0) (2) (1) (7) B

(5)

1 2 3 4 5 6

(3)

Quadro 16 - Situação-problema IV Fonte: Macedo, 2000, p.75

A quarta e última situação-problema foi a que exigiu uma visão mais completa do

tabuleiro, tanto do território próprio quanto do território do adversário. Na questão

IVA perguntava-se ao participante qual jogador ele gostaria de ser, sendo

necessário justificar a resposta. De acordo com Macedo; Petty e Passos (2000,

p.115) a resolução correta seria: “O jogador A, porque resgata 12 sementes. O

jogador B consegue, no máximo, 10 sementes, movimentando sua semente de 2

para 3”. Os participantes Bruno (Grupo B), Beatriz (Grupo B) e André (Grupo A)

responderam da mesma forma, e a resposta esta estava ligada à visualização da

captura imediata de sementes no território do jogador B. Apenas Antônio (Grupo A)

observou os dois territórios e percebeu que no território do jogador A ele poderia

primeiramente jogar a última semente da distribuição no oásis, para jogar

novamente, e então poderia capturar mais sementes do que o jogador B. É

importante ressaltar que o jogador Antônio (Grupo A) que até então não havia

demonstrado um grande desempenho na resolução das situações-problema

conseguiu resolver corretamente, esta que foi considerada a questão mais difícil,

pois exigia mais atenção, abstração e percepção do jogo.

Na primeira parte dessa situação-problema pôde-se observar resultados bastante

peculiares, visto que apenas o jogador Antônio (Grupo A) apresentou conduta do

tipo gama, enquanto André (Grupo A), que até então só havia apresentado esse tipo

de conduta, apresentou uma conduta beta, da mesma forma Beatriz e Bruno (ambos

do Grupo B). Esses três participantes conseguiram equilibrar os elementos apenas

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de forma parcial, pois não apresentaram as antecipações necessárias para perceber

a melhor forma de combinar os elementos para que o sistema fosse equilibrado de

forma total.

Apenas Bruno (Grupo B) respondeu corretamente a questão IVB “Suponhamos que

A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12

sementes nesta jogada” – resposta esperada “seqüência de movimentos 12-11-12-

10” (MACEDO; PETTY E PASSOS, 2000, p.115). Esta pode ser considerada a

questão com maior grau de dificuldade e de antecipação, raciocínio e atenção nos

dois territórios. Beatriz (Grupo B) realizou quatro tentativas, mas o maior número de

sementes que conseguiu reunir foram quatro. André (Grupo A) realizou três

tentativas e conseguiu reunir o mesmo número de sementes que Beatriz (quatro).

Antônio (Grupo A) chegou bem próximo, conseguiu reunir 10 sementes nas duas

tentativas que realizou.

Nessa questão todos os participantes apresentaram uma conduta do tipo alfa, pois

não conseguiram equilibrar os elementos que foram propostos para resolução

correta da situação-problema proposta.

Analisando as condutas apresentadas pelos sujeitos ao longo das quatro situações

apresentadas pode-se perceber a dialética do desenvolvimento cognitivo, pois não

há uma seqüência linear na apresentação das condutas, da menos equilibrada, alfa,

para a mais equilibrada, beta, o que podemos perceber é que estas vão se

alternando no decorrer do desenvolvimento das estruturas cognitivas.

No entanto, comparando-se os dois grupos (A e B) observa-se que o grupo A,

especialmente o jogador André, apresentou um número maior de condutas do tipo

gama do que os demais. Com isso pode-se observar a complexidade que envolve o

desenvolvimento cognitivo, pois o Grupo A, de crianças com dificuldades de atenção

obteve o melhor desempenho com relação ao número de vitórias, derrotas e

empates, em contrapartida apresentou o maior índice de condutas de desatenção e,

por último, apresentou o maior número de condutas gama. No Mancala a conduta

gama significa que o jogador apresentou o nível mais elevado de desenvolvimento

no jogo. Dessa forma observa-se que a dialética do desenvolvimento envolve uma

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sucessão contínua de equilíbrios e desequilíbrios, de idas e vindas. Para que o

desenvolvimento não recue ao invés de progredir existem os processos de

compensação que buscam restaurar o equilíbrio momentaneamente perdido. A

existência de tais processos torna possível ao indivíduo superar-se e evoluir

constantemente no seu processo de desenvolvimento, percebendo as implicações

entre as ações e, dessa forma, o significado das mesmas para o alcance dos

objetivos desejados; é por isso que os indivíduos do Grupo A, mesmo apresentando

condutas aparentemente contraditórias, puderam apresentar um desempenho geral

superior, com relação ao número de vitórias, derrotas e empates e resolução das

situações-problema, ao desempenho do Grupo B (crianças que não apresentam

dificuldade de atenção).

A seguir será realizada análise acerca das questões corretas e incorretas

apresentadas no decorrer da resolução das situações-problema com relação aos

Grupos A e B. As questões corretas e incorretas encontram-se no Quadro 18.

GRUPO N° DE

QUESTÕES CORRETAS

N° DE QUESTÕES INCORRETAS TOTAL

Abs. 8 6 14 A

% 57,14 42,86 100

Abs. 5 9 14 B

% 35,71 64,29 100

Quadro 17 – Número de questões corretas e incorretas dos grupos A e B

De acordo com Quadro 18 pode-se observar que o Grupo A obteve o maior número

absoluto de questões corretas (8) e o menor número absoluto de questões

incorretas (6). Com relação Grupo B, este obteve cinco questões corretas e nove

incorretas. Dessa forma, o Grupo A obteve desempenho superior na resolução das

situações-problema com relação ao Grupo B. Portanto, assim corroborando o melhor

desempenho com relação ao número de vitórias, derrotas e empates no decorrer

das oficinas o Grupo A atingiu um melhor índice geral, com relação ao número de

questões corretas e incorretas nas situações-problema, do que o Grupo B. Mais uma

vez podemos perceber que as dificuldades de atenção apresentadas pelos sujeitos

do Grupo A não foram suficientes para prejudicar significativamente o raciocínio, a

percepção e a antecipação necessários para atingir o êxito no jogo.

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Por meio da análise das situações-problema, bem como das condutas de

desatenção e do desempenho dos participantes observa-se as significações que

cada um vai construindo no decorrer do jogo. Dessa forma, a relação dialética entre

as implicações entre as ações e a construção de significados é explicitada quando

se observa a construção das estratégias para vencer o jogo e quando a criança

fornece uma justificativa para as mesmas.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Dificuldade de Atenção é um tema complexo e inquietante, visto que possui muitas

variáveis a serem consideradas. Para entender com maior profundidade a mesma

faz-se necessário considerar tanto questões de ordem biológica como questões

relacionadas às produções na sociedade capitalista em que vivemos.

Espera-se que os questionamentos levantados pelas discussões aqui iniciadas

sejam úteis para a quebra de paradigmas excludentes e limitantes e para a mudança

das posturas preconceituosas com relação às pessoas que apresentam

características do TDAH nos diversos ambientes em que elas estiverem inseridas.

Com relação à escola,

(...) é importante que o professor faça uso, em sua prática docente, dos desequilíbrios3 apresentados por seus alunos, de forma a lhes propiciar condições para construírem novas estruturas cognitivas e chegar a novos estados de equilíbrios, maiores e superiores aos precedentes (DAVIS E ESPÓSITO, 1990, p.74).

A forma como o TDAH é abordado, especialmente nas escolas, precisa ser revista,

pois a educação recebida pelas crianças na escola tem um papel muito importante,

no que diz respeito, a como elas enxergarão e enfrentarão o mundo. O sistema de

ensino precisa tornar-se menos excludente e limitante para que as diferenças sejam

aceitas, respeitadas e devidamente trabalhadas.

O processo educacional é longo e cheio de percalços, em que

O ideal da educação, não é aprender ao máximo, maximalizar os resultados, mas é antes de tudo aprender a aprender; é aprender a se desenvolver e aprender a continuar a se desenvolver depois da escola (PIAGET, 1973, p.32).

Portanto, o maior desafio para a criança com dificuldade de atenção é desenvolver a

sua forma particular de aprender e é nesse momento em que ela precisa do

educador para apontar as possibilidades. No entanto, o processo de formatação do

3 Os termos desequilíbrios e equilíbrios são utilizados segundo a teoria piagetiana

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conhecimento e da forma de conhecer impetrado pela escola tem feito com que esta

seja transformada em um ambiente de exclusão onde quem não se adapta é

marginalizado e desrespeitado em sua singularidade. A lógica adaptativa não

permite que as diferenças sejam expostas e trabalhadas; essa lógica tem produzido

“indivíduos em série”, programados para atender ao regime capitalista vigente.

De acordo com Piaget (1962) o afeto é essencial na constituição da inteligência, no

entanto, não é a única causa dessa constituição. Pois,

(...) o afeto explica a aceleração ou retardamento da formação das estruturas – a aceleração no caso de referir-se ao interesse e necessidade; retardamento quando os estados afetivos atuam como obstáculos para o desenvolvimento intelectual (PIAGET, 1962, p.02).

Considerando essa íntima participação da afetividade no processo de constituição

da inteligência, bem como sua importância no que diz respeito à produção e

manutenção dos interesses e necessidades de cada indivíduo, é necessário

ressaltar que cada pessoa possui interesses e necessidades diferenciadas e que,

portanto, elas poderão responder de forma diferenciada a um mesmo estímulo.

Dessa forma as crianças que possuem traços de TDAH poderão responder aos

estímulos, tanto em casa como na escola ou em outro ambiente em que esteja, de

forma diferenciada daqueles que não possuem traços de tais dificuldades. Não

significa dizer que as primeiras são inferiores ou menos capazes e, sim que

necessitarão de estímulos e alternativas, em alguns momentos diferentes das que

não possuem tais dificuldades, que as toquem afetivamente.

Construindo um paralelo entre a utilização das escalas para diagnóstico do TDAH e

a utilização do jogo Mancala para observação das características do mesmo, pode-

se observar, novamente, a complexidade de tal processo diagnóstico e, além disso,

que tal diagnóstico não deve ser visto como um “limitador natural” das capacidades

da criança ou do adulto. Fato que pode ser visualizado pelo desempenho das

crianças com traços de TDAH, segunda as escalas utilizadas, nas oficinas

realizadas. Dessa forma, a partir dos dados obtidos possibilitaram a produção de

um novo olhar sobre o TDAH, olhar mais amplo, menos limitador, menos

estigmatizado. E também a necessidade de construção de meios mais dinâmicos

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para realizar o diagnóstico, visto que as escalas não são detentoras de verdades

absolutas e inquestionáveis. Portanto, é necessário repensar o TDAH, bem como o

processo diagnóstico realizado correntemente.

O TDAH tem sido utilizado para produzir um rótulo permanente para a pessoa que

possui tais características. No entanto, faz-se necessário que essa limitação

impetrada pela sociedade seja desnaturalizada, possibilitando à criança a

construção do conhecimento de forma ativa e responsável.

Para que isso se torne possível é necessário que seja realizada uma flexibilização

dos sistemas de avaliação para que estes passem a procurar e trabalhar com os

erros construtivos que possibilitam um desenvolvimento mais participativo e menos

doloroso para o indivíduo.

Considerando os resultados das análises do desempenho dos participantes, das

CDT-1, da CDT-2 e das situações-problema pode-se observar que houve um relativo

equilíbrio entre o Grupo A (crianças com indícios de dificuldade de atenção) e o

Grupo B (crianças que não possuem tais indícios). Dessa forma, os resultados

encontrados possibilitam a desnaturalização das limitações e incapacidades

atribuídas previamente às pessoas diagnosticadas como TDAH. O intuito não é

negar que existam algumas particularidades e, sim dar a essas crianças o direito de

ultrapassarem as barreiras, vencendo os desafios que lhe são colocados pelas suas

dificuldades para que, dessa forma, possam lutar pelos seus sonhos e construírem

uma vida de satisfação pessoal. Portanto, a busca aqui é para que as crianças com

dificuldades de atenção não sejam vistas apenas pela lente do estereótipo, mas

como pessoas com qualidades e defeitos aptas a aprender a lidar com eles da

melhor forma possível.

As discussões acerca desse tema não serão encerradas aqui, pois este trabalho é

apenas o ponto de partida para que novos conhecimentos sejam produzidos

contribuindo, dessa forma, para uma compreensão menos limitada acerca das

dificuldades de atenção e do próprio TDAH. Esse é apenas o início de uma longa

jornada em busca de uma visão mais positiva acerca da vida e de suas

peculiaridades, em que a superação deve ser a palavra-chave.

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De acordo com os resultados apresentados, pode-se considerar que o objetivo

principal da pesquisa de investigar a possibilidade de utilização do jogo Mancala

como instrumento de avaliação de crianças com dificuldade de atenção foi

alcançado, visto que as condutas de desatenção das crianças que haviam sido

diagnosticadas como possuidoras de tal dificuldade puderam ser observadas no

decorrer das oficinas com o referido jogo. Os resultados aqui apresentados não

devem ser considerados verdades absolutas, mas um direcionador de novos

caminhos a serem percorridos.

No entanto, no estudo comparativo entre crianças com dificuldades de atenção e

crianças sem tais dificuldades observou-se que os dois grupos de crianças

apresentaram condutas de desatenção. Entretanto, o número de tais condutas

apresentadas pelas primeiras foi superior ao apresentado pelas do segundo grupo.

Esses resultados exprimem a complexidade e dificuldade quanto ao diagnóstico de

tais dificuldades, pois, como pôde ser observado, não existe uma separação radical

entre os indivíduos que, teoricamente, possuem tais dificuldades e aqueles que não

as possuem.

Dessa forma, faz-se necessário buscar novos instrumentos para o diagnóstico para

que este propicie uma visão ampliada das dificuldades de atenção. É importante

ressaltar que o diagnóstico de tais dificuldades é complexo e deve ser realizado

apenas por profissionais qualificados, pois dessa forma evita-se o rótulo e o excesso

de crianças e adultos diagnosticados, de forma assistemática, como possuidoras

dessas dificuldades. A promoção de discussões e de informação acerca dessa tema

para a sociedade como um todo seria de grande valia na busca por uma melhor

convivência com as diferenças apresentadas pelas pessoas que possuem

dificuldades de atenção.

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93

9. REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

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APÊNDICE I – QUADRO DE CARACTERÍSTICAS DO TDAH PARA ENTREVISTA COM OS PAIS

Nu

nca

ou

R

aram

ente

Po

uco

Bas

tan

te

Qu

ase

Sem

pre

Ele presta pouca atenção em detalhes e faz erros por falta de atenção nos deveres?

Ele mexe com as mãos e pés quando está sentado ou se mexe muito na cadeira?

Ele tem dificuldade de ficar concentrado nos deveres e também nos jogos?

Ele sai do lugar na sala de aula ou em outras situações (ex: mesa de jantar) quando deveria ficar sentado?

Ele parece estar prestando atenção em outras coisas quando se fala com ele?

Ele corre ou sobe nas coisas quando deveria ficar tranqüilo?

Ele tem dificuldade em seguir instruções até o fim ou deixa os deveres sem terminar?

Ele tem dificuldade de ficar em silêncio enquanto brinca?

Ele é desorganizado com os deveres e outras atividades no dia-a-dia?

Ele é "elétrico" e fica "a mil por hora"?

Ele evita ou antipatiza com deveres ou atividades que exijam concentração?

Ele fala demais?

Ele perde material da escola ou coisas do dia-a-dia?

Ele responde às perguntas antes dos outros terminarem de falar?

Ele se distrai com facilidade com coisas fora daquilo que está fazendo?

Ele tem dificuldade de esperar a vez?

Ele se esquece de coisas que deveria fazer no dia-a-dia?

Ele interrompe os outros ou se mete na conversa dos outros?

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APÊNDICE II - PROTOCOLO DE INSTRUÇÃO PADRÃO PARA APRESENTAÇÃO DO JOGO MANCALA AOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

“Você conhece esse jogo? Já jogou alguma vez?

O nome desse jogo é Mancala. Como você pode ver ele possui um tabuleiro com 14

cavidades – buracos - (6 em cada lado e um, que chamamos oásis, em cada

extremidade e essas 36 peças para jogarmos). Apenas dois jogadores participam do

jogo. Para aprendermos a jogar o Mancala vamos fazer o seguinte: eu vou falar uma

regra de cada vez e toda vez em que eu falar uma regra nova vamos jogar uma

partida para entendermos melhor como funciona esse jogo. As seis cavidades

(buracos) que estão na sua frente e mais o oásis que está à sua direita são o seu

território. Só você poderá utilizar o seu oásis. O restante das cavidades e o outro

oásis fazem parte do meu território. Colocaremos 3 sementes em cada uma das 12

cavidades, com exceção dos oásis. Para jogarmos devemos distribuir todas as

sementes, de uma de suas 6 casas (exceto o oásis), uma a uma nas casas

subseqüentes, em sentido anti-horário. Você sabe o que é sentido anti-horário? Ë

quando nos movimentamos da esquerda para a direita. Outra regra importante: toda

vez que terminarmos de distribuir as sementes de uma de nossas cavidades

passaremos a vez para o jogador adversário. Vamos movimentar um pouco nossas

sementes!!

Agora que você já entendeu as primeiras regras vou ensinar mais algumas: toda vez

que passar pelo oásis você vai colocar uma semente nele, e essa semente não

poderá ser utilizada novamente no jogo. O vencedor é o jogador que conseguir

colocar o maior número de sementes do adversário em seu oásis. Agora uma regra

importante: o jogador nunca colocará sementes no oásis do adversário. Vamos jogar

mais uma partida para ver se você entendeu as novas regras.

Muito bem... preste bastante atenção: quando a última semente da distribuição

(semeadura) parar em uma casa sua que estiver vazia, você poderá capturar todas

as sementes que estiverem na casa adversária em frente, colocando-as em seu

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oásis. Vou lhe mostrar um exemplo... . Agora quero que você me mostre um

exemplo.

Vamos agora aprender as últimas regras do Mancala. Quando a última semente que

você distribuir for colocada em seu oásis, você poderá jogar novamente,

selecionando uma de suas casas para fazer uma nova distribuição. Por exemplo...

entendeu? Então me mostre um exemplo.

O jogo termina quando todas as casas, as minhas e as suas, estiverem vazias, ou

quando o número de sementes não for suficiente para chegar até o lado do

adversário. As sementes que restarem no tabuleiro não participarão na contagem

final.

Você entendeu todas as regras? Então vamos recapitular. Quantas sementes você

coloca em cada cavidade? Como distribui as suas sementes no tabuleiro? Qual é o

seu território no tabuleiro? Quando você passa a vez para o adversário? Como

captura sementes para o seu oásis? Quando você poderá jogar novamente? Você

pode colocar sementes no oásis do adversário? Como termina a partida? Como os

pontos são contados? Quem vence o jogo? (Macedo; Petty e Passos, 2000)

Agora que você entendeu as regras vamos jogar uma partida com todas as regras

que aprendemos...

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100

APÊNDICE III – PROTOCOLO DE REGISTRO DE JOGADAS POR PARTIDA

Partida nº ___________ Data da partida _____/_____/______ Jogadores: (A) _________________, (B) ________________ Pesquisador atuou como _____________________________

12 11 10 9 8 7 Jogador B ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Jogador A ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

1 2 3 4 5 6

JOGADAS JOGADOR A JOGADOR B 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17

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101

APÊNDICE IV: RESPOSTAS DADAS PELOS PARTICIPANTES ÀS SITUAÇÕES-PROBLEMA PROPOSTAS Jogador: André

1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique. R. Casa 10. Pode jogar novamente.

12 11 10 9 8 7 A

(3) (3) (3) (3) (3) (3)

(3) (3) (3) (3) (3) (3) B

(0)

1 2 3 4 5 6

(0)

2. O jogo está como mostra a situação ao lado.

a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê? R. Na casa 11. Para se defender.

b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez? R. Jogar com as sementes da casa 4 e depois com as sementes da casa 1 para ganhar 5 sementes.

12 11 10 9 8 7 A

(4) (4) (0) (3) (3) (3)

(3) (3) (3) (3) (3) (3) B

(1)

1 2 3 4 5 6

(0)

3. Observe a figura ao lado. a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis. R. Casa 12, casa 11, casa 12, casa 10 e casa 12.

b) Quantas sementes ganhou? R. 5 sementes

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (3) (0) (0) (0)

(0) (0) (0) (1) (3) (4) B

(9)

1 2 3 4 5 6

(13)

4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir:

a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. R. O jogador B. Jogando da casa 2 para a casa 3 posso ganhar 10 peças.

b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada. R. 1ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 09; 2ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 10; 3ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 09;

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (10) (3) (0) (0)

(1) (1) (0) (2) (1) (7) B

(5)

1 2 3 4 5 6

(3)

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102

Jogador: Antônio

1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique. R. Casa 10. Joga novamente.

12 11 10 9 8 7 A

(3) (3) (3) (3) (3) (3)

(3) (3) (3) (3) (3) (3) B

(0)

1 2 3 4 5 6

(0)

2. O jogo está como mostra a situação ao lado.

a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê? R. Na casa 7. Para capturar 3 sementes do jogador B.

b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez? R. Jogar com as sementes da casa 4 e depois com as sementes da casa 1 para ganhar 4 sementes.

12 11 10 9 8 7 A

(4) (4) (0) (3) (3) (3)

(3) (3) (3) (3) (3) (3) B

(1)

1 2 3 4 5 6

(0)

3. Observe a figura ao lado. a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis. R. Casa 10 e casa 12.

b) Quantas sementes ganhou? R. 4 sementes

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (3) (0) (0) (0)

(0) (0) (0) (1) (3) (4) B

(9)

1 2 3 4 5 6

(13)

4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir:

a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. R. O jogador A. Porque vai poder jogar de novo e ficar com mais peças do que o B.

b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada. R. 1ª tentativa: casa 11 e casa 10; 2ª tentativa: casa 11 e casa 10;

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (10) (3) (0) (0)

(1) (1) (0) (2) (1) (7) B

(5)

1 2 3 4 5 6

(3)

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103

Jogador: Bruno

1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique. R. Casa 10. Porque você pode repetir a jogada.

12 11 10 9 8 7 A

(3) (3) (3) (3) (3) (3)

(3) (3) (3) (3) (3) (3) B

(0)

1 2 3 4 5 6

(0)

2. O jogo está como mostra a situação ao lado.

a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê? R. Na casa 7. Para capturar 3 sementes do jogador B.

b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez? R. Jogar com as sementes da casa 4 e depois com as sementes da casa 1 para ganhar 5 sementes.

12 11 10 9 8 7 A

(4) (4) (0) (3) (3) (3)

(3) (3) (3) (3) (3) (3) B

(1)

1 2 3 4 5 6

(0)

3. Observe a figura ao lado. a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis. R. 1ª tentativa: Casa 11, casa 10 e casa 12; 2ª tentativa: Casa 11, casa 10 e casa 12.

b) Quantas sementes ganhou? R. 3 sementes

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (3) (0) (0) (0)

(0) (0) (0) (1) (3) (4) B

(9)

1 2 3 4 5 6

(13)

4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir:

a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. R. O jogador B. Porque pode capturar 10 sementes do Jogador A. b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada. R. Casa 12, casa 11, casa 12 e casa 10.

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (10) (3) (0) (0)

(1) (1) (0) (2) (1) (7) B

(5)

1 2 3 4 5 6

(3)

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104

Jogador: Beatriz

1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique. R. Casa 10. Porque vai colocar no oásis e vai poder jogar de novo.

12 11 10 9 8 7 A

(3) (3) (3) (3) (3) (3)

(3) (3) (3) (3) (3) (3) B

(0)

1 2 3 4 5 6

(0)

2. O jogo está como mostra a situação ao lado.

a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê? R. Na casa 7. Porque vai capturar as sementes da Casa 10.

b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez? R. Jogar com as sementes da casa 4 e depois com as sementes da casa 1 para ganhar 5 sementes.

12 11 10 9 8 7 A

(4) (4) (0) (3) (3) (3)

(3) (3) (3) (3) (3) (3) B

(1)

1 2 3 4 5 6

(0)

3. Observe a figura ao lado. a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis. R. 1ª tentativa: casa 10 e casa 12; 2ª tentativa: casa 11, casa 10 e casa 12; 3ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12, casa 10, casa 12 e casa 11.

b) Quantas sementes ganhou? R. 4 sementes

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (3) (0) (0) (0)

(0) (0) (0) (1) (3) (4) B

(9)

1 2 3 4 5 6

(13)

4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir:

a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. R. O jogador B. Porque pode capturar 10 sementes do Jogador A.

b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada. R. 1ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 12; 2ª tentativa: casa 10 e casa 07; 3ª tentativa: casa 12, casa 11 e casa 09; 4ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 09.

12 11 10 9 8 7 A

(1) (2) (10) (3) (0) (0)

(1) (1) (0) (2) (1) (7) B

(5)

1 2 3 4 5 6

(3)

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105

APÊNDICE V – MODELO DE TERMO DE CONSENTIMENTO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA “Concordo que meu filho participe do projeto de pesquisa abaixo discriminado, nos seguintes termos:

Projeto: O jogo Mancala como instrumento de ampliação da compreensão das

dificuldades de atenção.

Responsável: Daniela Dadalto Ambrozine Missawa

Orientadora: Profa. Dra. Claudia Broetto Rossetti

Instituição: Universidade Federal do Espírito Santo – UFES – Programa de Pós-

graduação em Psicologia

Justificativa e objetivo da pesquisa:

Tendo em vista a ampliação dos estudos acerca do Transtorno de Déficit de

Atenção/ Hiperatividade (TDAH), principalmente em crianças, e a necessidade em

pesquisar instrumentos que auxiliem no tratatamento desse transtorno, torna-se

importante estudar e analisar o papel do jogo Mancala como instrumento de

intervenção e diagnóstico das dificuldades de atenção. O presente trabalho visa

avaliar a possibilidade de utilização de jogos de regras como uma forma de

intervenção e diagnóstico das dificuldades de atenção, em crianças que apresentem

indícios de tais dificuldades. Para tanto, participarão da pesquisa crianças que

possuam indícios do Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH).

Descrição dos procedimentos a que o participante será submetido:

Considerando que o sujeito da presente pesquisa possui entre 09 e 11 anos de

idade, será realizada uma entrevista de anamnese com os pais ou responsável, uma

escala de TDAH para pais será aplicada e será realizada uma entrevista com o

professor do sujeito em que uma escala de TDAH – versão para professores, será

aplicada. O responsável dará as devidas instruções, e cada pai/ responsável ou

professor preencherá os campos destinados a esse fim, sempre tendo em vista os

limites impostos pelo trabalho ou pelo estudo dos (as) respondentes. Após essa

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106

etapa os sujeitos participarão de 08 oficinas em que realizarão partidas do jogo

Mancala. Finalizando, haverá nova entrevista com pais e professores para re-

aplicação dos respectivos instrumentos de coleta de informações para avaliação dos

resultados da intervenção. Todos os dados obtidos deverão ser analisados e

utilizados somente para fins acadêmicos. As oficinas serão filmadas para a obtenção

de dados complementares. Fica assegurado o anonimato.

Benefícios esperados:

Os resultados da pesquisa serão divulgados em congressos e artigos em periódicos

especializados, contribuindo para a ampliação do corpo de conhecimentos que se

têm produzido sobre os instrumentos utilizados na intervenção das dificuldades de

atenção. Espera-se que os resultados possam gerar subsídios, contribuindo para

que se confira a devida importância aos jogos de regras como instrumento na

intervenção das mesmas.

Análise de Riscos:

Fica assegurado à criança o direito de desistir de participar da pesquisa, em

qualquer momento, e acompanhamento em caso de problemas decorrentes da sua

participação nas mesmas.

Identificação do responsável legal do sujeito:

Nome:______________________________________________________________

RG:____________________________________Órgão Emissor:______________

Estando assim de acordo, assinam o presente termo de compromisso em duas vias.”

_________________________________ ______________________________

Responsável Legal Daniela Dadalto Ambrozine Missawa

_______________________, _______ de _________________________ de 2005.